Interpretando o espaço na literatura de temática ... - ppgel/ileel/ufu
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Revista Eletrônica <strong>de</strong> Ciências Huma<strong>na</strong>s, Letras e Artes<br />
Descartando a primeira hipótese <strong>de</strong> interpretação, como ficou evi<strong>de</strong>nte em todo este<br />
trabalho, foi sobre os aspectos estéticos vinculados às <strong>temática</strong>s do universo gay, mais<br />
precisamente a categoria estético-literária do <strong>espaço</strong> ficcio<strong>na</strong>l, que orientamos nosso estudo.<br />
Como constatamos, os ambientes configurados nos permitem inferir que as relações<br />
homoeróticas das perso<strong>na</strong>gens acontecem às escondidas, em <strong>espaço</strong>s reclusos, que, por vezes,<br />
caracterizados ba<strong>na</strong>lmente, transferem seus sentidos para as relações gays dos sujeitos<br />
ficcio<strong>na</strong>is, sutilmente <strong>de</strong>finindo-as como transgressoras, sujas, proibidas, e que, portanto, <strong>de</strong>vem<br />
acontecer secretamente, longe dos olhares da “normalida<strong>de</strong>” sexual; quando não são fechados,<br />
como é o caso <strong>de</strong> O segredo <strong>de</strong> Brokeback Mountain, refletem o intuito das perso<strong>na</strong>gens em se<br />
distanciarem, <strong>de</strong> se moverem para lugares isolados, on<strong>de</strong> possam adquirir liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
manifestar o <strong>de</strong>sejo homoafetivo, fora da repressão social vigente, numa falsa ou aparente<br />
in<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> viver “o amor que não ousa dizer o nome”.<br />
A configuração do <strong>espaço</strong> <strong>na</strong> <strong>literatura</strong> gay, a partir das obras aqui discutidas, revelou<br />
que as relações homoafetivas são representadas <strong>de</strong> maneira recorrente em <strong>espaço</strong>s fechados ou<br />
que possam escon<strong>de</strong>r o <strong>de</strong>sejo gay. Assim como Silva (2007b) apontou a <strong>temática</strong>, nessas obras,<br />
como uma marca para a compreensão <strong>de</strong> um gênero literário novo (a <strong>literatura</strong> gay), o <strong>espaço</strong><br />
como categoria estético-literária aparece <strong>de</strong> forma semelhante nos mesmos textos, seja <strong>na</strong>s<br />
<strong>de</strong>scrições, seja no significado que o marcador <strong>de</strong>nota, convergindo para as consi<strong>de</strong>rações do<br />
autor, que a <strong>literatura</strong> gay po<strong>de</strong> constituir um gênero literário, levando-se em conta os valores<br />
estético-poéticos <strong>de</strong> cada texto estudado.<br />
Acreditamos que o breve estudo <strong>de</strong>ste ensaio amplia a discussão da representação dos<br />
sujeitos <strong>de</strong> orientação homoafetiva <strong>na</strong> <strong>literatura</strong> em seus <strong>espaço</strong>s <strong>de</strong> movência, apesar <strong>de</strong><br />
superficialmente percebermos uma construção “limpa” e sem estereótipos negativos <strong>de</strong>sses<br />
sujeitos <strong>na</strong>s obras estudadas. Ao voltarmos nossa percepção, em especial para o marcador<br />
espacial, notamos que os locais on<strong>de</strong> as relações sexuais acontecem muito as caracterizam<br />
negativamente, refletindo, assim, no plano da cultura, a repressão e o tabu <strong>de</strong> que o <strong>de</strong>sejo gay<br />
é transgressor e <strong>de</strong>ve permanecer recluso. O <strong>espaço</strong> ficcio<strong>na</strong>l, então, <strong>na</strong> chamada <strong>literatura</strong> gay,<br />
parece fechar campos <strong>de</strong> interpretação para os perso<strong>na</strong>gens que habitam as ficções aqui<br />
discutidas, corroborando a prática “abusiva” e “discrimi<strong>na</strong>tória” <strong>de</strong> que o gay po<strong>de</strong> ser uma<br />
espécie <strong>de</strong> projeção do ambiente por on<strong>de</strong> circula.<br />
REFERÊNCIAS:<br />
BACHELARD, Gaston. A gaveta, os cofres e os armários. In: BACHELARD, Gaston. A poética do <strong>espaço</strong>. Trad.<br />
Antonio <strong>de</strong> Pádua Danesi. São Paulo: Martins Fontes, 1988. p. 87-101.<br />
BARCELLOS, José Carlos. Literatura e homoerotismo em questão. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Dialogarts, 2006. (Coleção Em<br />
Questão)<br />
CAMINHA, Adolfo. Bom-crioulo. São Paulo: Martin Claret, 2002.<br />
DIMAS, Antonio. Espaço e romance. 2. ed. São Paulo: Ática, 1987. (Coleção Princípios)<br />
GANCHO, Cândida Vilares. Como a<strong>na</strong>lisar <strong>na</strong>rrativas. 9. ed. São Paulo: Ática, 2006. (Coleção Princípios)<br />
MOISÉS, Massaud. A análise literária. 6. ed. São Paulo: Cultrix, 1981.<br />
A MARgem - Estudos, Uberlândia - MG, ano 2, n. 3, p. 45-55, jan./jun. 2009<br />
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