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Interpretando o espaço na literatura de temática ... - ppgel/ileel/ufu

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O <strong>espaço</strong> ficcio<strong>na</strong>l: discutindo e <strong>de</strong>limitando conceitos<br />

Revista Eletrônica <strong>de</strong> Ciências Huma<strong>na</strong>s, Letras e Artes<br />

Espaço (físico, social, psicológico), ambiente e ambientação, são termos utilizados<br />

pelos estudos literários para referir-se aos locais ficcio<strong>na</strong>is, sobretudo <strong>na</strong>s <strong>na</strong>rrativas.<br />

Antonio Dimas (1987), em obra que trata especificamente <strong>de</strong>ssa <strong>temática</strong> no romance,<br />

faz referência ao <strong>espaço</strong> e à ambientação distintamente. O autor, ao discutir esse elemento a<br />

partir <strong>de</strong> estudo <strong>de</strong> Lins (1976 apud DIMAS, 1987), afirma que o <strong>espaço</strong> é <strong>de</strong>scrito como<br />

fazendo referência a dados da realida<strong>de</strong>; já ambientação/ambiente faz menção aos significados<br />

simbólicos que po<strong>de</strong>m ser estabelecidos a partir dos filtros <strong>de</strong> cada texto. Ainda divi<strong>de</strong><br />

ambientação em franca, reflexa e dissimulada, categorias sobre as quais não nos <strong>de</strong>teremos.<br />

Concordando com Dimas (1987), Gancho (2006, p. 27) afirma que “O termo <strong>espaço</strong>, <strong>de</strong> um<br />

modo geral, só dá conta do lugar físico on<strong>de</strong> ocorrem os fatos da história; para <strong>de</strong>sig<strong>na</strong>r um<br />

‘lugar’ psicológico, social, econômico etc., empregamos o termo ambiente”.<br />

Os <strong>de</strong>mais autores não fazem distinção entre <strong>espaço</strong> e ambiente, tomando-os como<br />

sinônimos. Santos & Oliveira (2001) abordam o conceito <strong>de</strong> <strong>espaço</strong> a partir da perspectiva<br />

<strong>de</strong>terminista – que concebe ape<strong>na</strong>s os componentes físicos e psicológico-social – <strong>na</strong> qual os<br />

<strong>espaço</strong>s são referentes aos lugares sociais representados e/ou à configuração <strong>de</strong> cenários<br />

íntimos das mentes das perso<strong>na</strong>gens, embora aconselhem não reduzir o <strong>espaço</strong> a essas duas<br />

perspectivas (uma, <strong>de</strong>terminista; a outra, psicológica e social) que, por vezes, funcio<strong>na</strong>m como<br />

camisas-<strong>de</strong>-força, inflexibilizando, portanto, um maior aproveitamento do termo, uma vez que<br />

ambas as perspectivas po<strong>de</strong>m estar imbricadas ou até mesmo configurar como inseparáveis.<br />

(SANTOS; OLIVEIRA, 2001, p. 81)<br />

Assim, semelhante à <strong>de</strong> Soares (1993), adotamos como <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> <strong>espaço</strong> ficcio<strong>na</strong>l o<br />

conjunto <strong>de</strong> elementos paisagísticos em um texto literário, quer se apresente exterior e físico ou<br />

interior e psicológico, on<strong>de</strong> são situadas as ações das perso<strong>na</strong>gens. Aqui, o conceito <strong>de</strong> <strong>espaço</strong> é<br />

entendido <strong>de</strong> maneira generalizada e, partindo <strong>de</strong> uma percepção do <strong>espaço</strong> físico mediada por<br />

valores, projetamos significados por meio <strong>de</strong> impressões culturais no intuito <strong>de</strong>, assim, tentar<br />

inferir em que medidas os cenários guardam tocaias3 <strong>na</strong> construção das obras <strong>de</strong> <strong>temática</strong><br />

homoerótica, estudadas neste ensaio.<br />

As funções <strong>de</strong>sse elemento, <strong>de</strong> maneira geral, para os autores consultados, são situar as<br />

perso<strong>na</strong>gens no tempo, no <strong>espaço</strong>, no grupo social; ser a projeção dos conflitos vividos pelos<br />

sujeitos ficcio<strong>na</strong>is ou estar em conflito com os mesmos; bem como fornecer indícios para o<br />

andamento do enredo, principalmente em <strong>na</strong>rrativas policiais (Cf. GANCHO, 2006, p. 29).<br />

Todavia, Dimas (1987) adverte que toda tipologia literária <strong>de</strong>ve ser vista com extremo<br />

relativismo, uma vez que po<strong>de</strong>mos encontrar várias modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> apresentação espacial, às<br />

vezes dispersas ao longo das pági<strong>na</strong>s, às vezes <strong>de</strong> modo contíguo, quando não mesclado,<br />

cabendo a nós, leitores, <strong>de</strong>tectá-las e avaliá-las em sua funcio<strong>na</strong>lida<strong>de</strong> (DIMAS, 1987, p. 32).<br />

Sabemos que a geografia literária é discutida com relevância <strong>na</strong>s <strong>na</strong>rrativas. Na poesia,<br />

não há, a rigor, a preocupação a<strong>na</strong>lítica com esse marcador “típico” da prosa, salvo quando este<br />

aparece como “a <strong>na</strong>tureza”, e <strong>na</strong> poesia épica, segundo Moisés (1981, p. 44-5). Esse mesmo<br />

crítico ainda afirma que “A poesia não remete para lugar algum, nem se situa em <strong>espaço</strong> algum:<br />

3 Termo utilizado por Dimas (1987) para <strong>de</strong>sig<strong>na</strong>r o que ele também chama <strong>de</strong> “armadilhas virtuais <strong>de</strong> um texto”.<br />

A MARgem - Estudos, Uberlândia - MG, ano 2, n. 3, p. 45-55, jan./jun. 2009<br />

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