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A Criança Eterna - Faap

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do sempre mutante, trabalho que lhe permitirá o<br />

consumo de que se arvora o direito; e constituirá<br />

família, quase sempre mutante também, reconfigurada<br />

sucessivamente, em que ambos os cônjuges,<br />

de sexualidades mais ou menos variadas,<br />

quase sempre dividem a tarefa provedora e educadora<br />

da prole.<br />

A partir daí, instaura-se um efeito inédito: a ausência<br />

simbólica da função patriarcal clássica<br />

abre a questão sobre uma rede de identificações<br />

perdidas: os órfãos da lógica patriarcal, agora<br />

elevados à categoria de indivíduos, devem inventar<br />

um destino e buscar inscrevê-lo no caldeirão<br />

intrincado da cultura cada vez mais complexa.<br />

E detalhe, toda ela submetida ao comprar<br />

e vender do mercado que gerencia também as<br />

imagens desses indivíduos e seus valores matematizados<br />

na bolsa de citações midiáticas. Em<br />

suma, tudo ficou muito mais difícil. Livre, porém<br />

complicado. Nesta brecha se inscreve a recusa<br />

do despertar mais radical para a vida adulta,<br />

embrenhada então, necessariamente, no individualismo<br />

narcísico e exigente que convida o<br />

sujeito a carregar o peso de um “eu” de sucesso<br />

e da luta para alcançá-lo. Luta cruel, mesmo<br />

Divulgação<br />

1º Semestre de 2009 Revista FACOM<br />

Nº21<br />

que vitoriosa; e eventualmente em outra<br />

ordem da mesma crueldade, se compreendida<br />

como fracassada – para focarmos<br />

nos dois extremos das categorias superegóicas<br />

que ajuízam o desempenho desse<br />

fragilizado eu.<br />

Assim sendo, não parece tão díspar o<br />

impulso, cada vez mais facilmente decifrável<br />

nos movimentos da mídia ou nos<br />

discursos de nossos consultórios de um<br />

número crescente de sujeitos em crise<br />

diante de uma existência propriamente<br />

adulta, permanecentes na posição de<br />

puer aeternus, e tudo fazendo para daí<br />

não sair, alimentando assim a era do entrenimento<br />

blindante, mantendo-se nas<br />

narrativas estéreis de infindáveis séries<br />

audiovisuais (cinematográficas, televisivas,<br />

cibernéticas ou móbiles, pouco importa<br />

a superfície) ou na ironicamente<br />

chamada ‘realidade aumentada’ e virtual<br />

dos games (que, não à toa, consistem o<br />

domínio que mais cresce entre todas as<br />

mídias). Preguiça? Tédio? Depressão?<br />

Nomes moralistas ou psicologizantes<br />

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