sumário - Eletronorte
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Miller descreve em poucas linhas a<br />
grandeza de detalhes do seu trabalho: “É<br />
escrever uma enciclopédia em cima de<br />
um caco de cerâmica que está no solo,<br />
de tanto dado que aparece”. No entanto,<br />
lembra que uma pesquisa não é feita por<br />
uma pessoa apenas: “O arqueólogo tem<br />
de ser mais onisciente que Deus. Se não<br />
puder, tem que levar sua equipe” brinca.<br />
Geoglifos - Em se tratando de arqueologia,<br />
a natureza também é sábia em apresentar<br />
novas descobertas. Na construção da linha<br />
de transmissão entre Rio Branco e Epitaciolândia,<br />
no Acre, a <strong>Eletronorte</strong> se deparou<br />
com uma dessas maravilhas envolvendo o<br />
homem e a natureza: os geoglifos. Os técnicos<br />
explicam de maneira simples: se você estiver<br />
caminhando por uma pastagem e entrar<br />
numa grande vala, veja por onde ela segue. Se<br />
for muito regular, isso vai chamar a atenção.<br />
Uma vala tão regular foi feita por alguém, pois<br />
a natureza não deve ter feito tão certinha,<br />
redonda ou com ângulos tão retos.<br />
Essas formas geométricas, chamadas<br />
geoglifos, bem como demais sinais arqueológicos<br />
encontrados nos solos, são<br />
estudados e preservados cuidadosamente,<br />
como se cada pedacinho de cerâmica ou<br />
carvão encontrado fosse único no mundo.<br />
Mas como um geoglifo aparece? No<br />
Brasil existem há pelo menos seiscentos<br />
anos, como estruturas de terra formadas<br />
pelas escavações de sulcos de grandes<br />
dimensões que podem ter diversas formas.<br />
No deserto de Nazca, no Peru, foram encontrados<br />
geoglifos em forma de animais,<br />
datados de mais de dois mil anos. Os do<br />
Brasil, encontrados no Acre, caracterizam-se<br />
por serem valas de dois metros de<br />
profundidade e dez de largura, construídas<br />
por índios com as mãos, por meio de vasos<br />
de cerâmica ou com machadinhas de<br />
pedra. O resultado são fi guras geométricas<br />
fascinantes, que aparecem em conjuntos<br />
ou isoladamente, em forma de círculos,<br />
quadrados ou octógonos.<br />
Os geoglifos brasileiros ainda são uma<br />
incógnita para os pesquisadores, pois<br />
eles só começaram a ser descobertos nos<br />
anos setenta do século passado, em conseqüência<br />
do aumento da devastação da<br />
fl ora acreana. E apesar de sua importância<br />
para a humanidade, ainda não se sabe<br />
ao certo como nem por que essas fi guras<br />
construídas por índios antes da chegada de<br />
A linha de<br />
transmissão<br />
que dá frutos<br />
Tiago Araújo da Silva é um menino que tem uma vida<br />
que muitos de nós tivemos, ou que gostaríamos de ter<br />
tido. Numa manhã de sol de sábado ele, juntamente com<br />
os amiguinhos da comunidade, vai à nascente chamada<br />
“Olho d’Água”, que dá nome ao povoado situado na zona<br />
rural vizinha do município de Coelho Neto, no Maranhão.<br />
Ele chega no lugar que, por pura obra divina, chora sem<br />
parar e sobrevive bravamente em meio a um canavial<br />
a perder de vista, e com isso abastece todo o povoado<br />
e entorno, desembocando no Rio Parnaíba. Lá, Tiago<br />
mata sua sede numa água deliciosamente refrescante,<br />
para depois nadar na água limpa e gelada que teima<br />
em contrastar com o calor do sol que não hesita em sair<br />
dali. No entanto, essa realidade poderia também não ser<br />
a dele. Mas graças aos programas de conscientização<br />
ambiental, a água que mata a sede de Tiago continua<br />
pura e fresca, e ele, agradecido, também faz sua parte.<br />
Aluno da 6ª série, ele sabe da importância da preservação<br />
do meio ambiente. “É preciso que as pessoas<br />
se sensibilizem e não destruam as nascentes de água,<br />
porque um dia elas podem secar e aí acabar e nós morreremos<br />
também junto com elas”, diz o garoto, enquanto<br />
conversa agachado à beira da fonte e, entre um pausa e<br />
outra, bebe um pouco de água: “Aqui é que a gente vem<br />
buscar água, onde matamos a nossa sede”.<br />
Quem também se preocupa com a preservação da<br />
nascente é Francisca de Moraes. Naquele mesmo sábado<br />
ela seguia para o banho da tarde juntamente com<br />
seus fi lhos, e falava sobre o que nós já sabíamos: caso<br />
não preservássemos o meio ambiente, esses riachos em<br />
pouco tempo acabariam. “Nós temos que nos juntar com<br />
a comunidade, discutir sobre isso. Há 34 anos, que é<br />
a minha idade - e eu não sou tão velha assim - sorri -<br />
esse rio era bem mais afl uente e mais fundo. Em outros<br />
lugares ele já está seco, pois desmataram toda a sua<br />
margem”, desabafa.<br />
O programa de educação ambiental da <strong>Eletronorte</strong> tem<br />
ajudado a manter a água que Tiago e Francisca tanto<br />
Cabral eram usadas. “Talvez para rituais<br />
religiosos, usos residenciais, cerimoniais e<br />
defensivos, podendo ser uma combinação<br />
de duas ou de todas essas hipóteses”, diz<br />
Solange Bezerra Caldarelli, doutora em<br />
Ciências Humanas pela Universidade de<br />
São Paulo - USP, especializada em préhistória<br />
e em Arqueologia. Ela é diretora da<br />
consultoria científi ca Scientia, contratada