sumário - Eletronorte
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4<br />
Caratinga<br />
“Cheguei ao Rio de Janeiro pela primeira vez em<br />
1948, quando terminei o científi co e fui procurar<br />
saber o que ia fazer da minha vida. Em 51 tive que<br />
servir o exército e me alistei como pára-quedista,<br />
tava doido pra saltar de pára-quedas. Meu pai me<br />
chamou: ‘Você já se alistou?’ ‘Já e tal’. ‘Você não<br />
quer fazer o tiro de guerra em Caratinga, não?’ Papai<br />
era amoroso, mas um superpai. Eu já gostava muito<br />
do Rio, mas tinha arrumado uma namorada em<br />
Caratinga e já tava doido pra voltar. Aí quando foi de<br />
tarde papai me disse: ‘Olha, você já tá alistado lá<br />
em Caratinga, tem um sargento amigo meu e tal’. Aí<br />
eu voltei pra Caratinga e foi o ano mais feliz da minha<br />
vida. O tiro de guerra era uma festa, uma farra,<br />
uma coisa maravilhosa. Eu era presidente do Centro<br />
de Estudantes e tinha baile o tempo todo. E tinha<br />
um time de basquete que disputava campeonatos<br />
no interior de Minas. Um time entusiasmadíssimo<br />
chamado Vigapepizi: era formado por cinco amigos<br />
da infância e adolescência: Viggiano (Alan), Galileu,<br />
Pedro Vieira, Pimentel e Ziraldo: Vigapepizi. Bom de<br />
nome, ruim de basquete. Um vexame!”<br />
Primeiros passos<br />
“Eu comecei desenhando meus colegas de colégio,<br />
mas nos dois anos que passei no Rio já tinha<br />
publicado numa porrada de revistas. Com 16 anos<br />
fui chegando e publicando, eram histórias em quadrinhos<br />
infanto-juvenis. De volta a Caratinga, mandava<br />
meus desenhos pra revista Cigarra, que era mensal,<br />
e pra Cruzeiro, que era semanal. Mas em Caratinga<br />
a gente só queria saber de festa e de namorar, íamos<br />
à cidade vizinha namorar as moças de lá e elas<br />
também vinham namorar a gente. Aí dava nove, dez<br />
horas da noite, a gente entregava as namoradas em<br />
casa e ia todo mundo pra zona. Aliás, hoje lá no cais<br />
do Xingu vi uma menina de calça roxa igualzinha à<br />
minha primeira namorada na zona. Naquela época<br />
era assim, os garotos se iniciavam ali e eu tinha até<br />
ciúme dessa menina, chamada Neide, era muito<br />
bonitinha, tinha uma cicatriz na boca. E tinha um<br />
corpo monumental, muito parecido com a menina<br />
que vimos hoje, eu olhei e pensei: gente, a Neide<br />
não morreu! (risos)”.<br />
Belo Horizonte<br />
“Saí de Caratinga de novo e fui para Belo Horizonte,<br />
antes de voltar pro Rio. A Nacional Transportes<br />
Aéreos inaugurou a linha BH/Caratinga e o pessoal<br />
tomou conhecimento de Belo Horizonte, que a gente<br />
não conhecia, ninguém sabia escalar o Cruzeiro ou o<br />
Atlético, não sabíamos nada de BH. O relacionamento<br />
de Caratinga era muito maior com o Rio e Vitória (ES).<br />
Todos os viajantes, todas as compras de armazém,<br />
era tudo com Vitória. Em BH, como bom mineiro, eu<br />
conheci, de cara, o Paulinho Mendes Campos. Tinha<br />
um grupo de intelectuais e a gente lia Manchete, assinávamos<br />
revistas americanas e líamos o Millôr na<br />
Cruzeiro. A diferença entre nós, naquele momento,<br />
e o pessoal que fi cou em Caratinga, é que o pessoal<br />
de lá lia Seleções Readers Digest e a gente em BH lia<br />
Manchete, uma revista que era moderna e instigante<br />
e para a qual o Paulo Mendes Campos já escrevia.<br />
Além disso, as namoradas de Belo Horizonte eram<br />
lindas e eu passei no vestibular e comecei a fazer<br />
Direito, ao mesmo tempo em que continuei a desenhar<br />
e fui trabalhar em agência de publicidade. Fazia<br />
uma página na Folha de Minas. O Borjalo foi pro Rio<br />
trabalhar na Manchete e eu fi quei no lugar dele. Tinha<br />
uma página semanal de humor que fazia o maior<br />
sucesso. Engraçado como o cartum e a caricatura<br />
faziam sucesso naquela época”.<br />
Rio de Janeiro<br />
“Não tinha mais Careta,<br />
nem O Malho, já tinham passado,<br />
essas revistas todas.<br />
Mas tava todo mundo vivo, o<br />
J. Carlos, o Aquarone, o Raul<br />
Pederneiras, o Mendez, esse<br />
povo todo tava vivo. Através<br />
do Millôr comecei a tomar<br />
contato com o mundo e não<br />
perdi meus contatos com<br />
a revista Cigarra. Aí criei<br />
uma série de cartuns tendo<br />
como personagem o canguru.<br />
Peguei cento e tantos<br />
cartuns do canguru e levei<br />
na Cruzeiro, no Rio. Foi um<br />
impacto, todo mundo veio<br />
ver o menino de Belo Horizonte.<br />
Eu comecei a comprar<br />
revistas americanas e aprender o mecanismo de fazer<br />
cartum com os caras mais famosos do mundo. Fiz<br />
um cartum do canguru que o pessoal riu demais: o<br />
canguruzinho na bolsa da mãe e um toldo por cima.<br />
Saiu até uma matéria: “Ziraldo veio pro Rio na bolsa<br />
do canguru!” Fui trabalhar na Cruzeiro e seis meses<br />
depois escolhia a capa da revista. Fui morar em Copacabana<br />
e no meu primeiro aniversário do Rio, eu<br />
já casado, o cara da Colombo (a Confeitaria) soube<br />
e quis fazer a festa. Perguntou quantas pessoas,<br />
eu disse: ‘umas cinqüenta’! ele, ‘vou arranjar umas<br />
coisinhas’.Parecia mais uma festa pra rainha da Inglaterra.<br />
Tinha tanta comida e garçons que as coisas<br />
fi caram espalhadas pelo corredor, uma loucura que<br />
eu nunca tinha visto”.