trabalho escravo nas Freguesias do Espírito - Programa de Pós ...
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Em relação ao episódio <strong>de</strong> Queima<strong>do</strong>s, segun<strong>do</strong> Cláudio, tratou-se <strong>de</strong> uma<br />
insurreição li<strong>de</strong>rada por <strong>escravo</strong>s que atuavam na construção <strong>de</strong> uma igreja, sob a<br />
orientação <strong>do</strong> Frei Gregório <strong>de</strong> Bene. Não é imprescindível neste momento<br />
especificar os <strong>de</strong>s<strong>do</strong>bramentos da revolta, cabe ape<strong>nas</strong> <strong>de</strong>monstrar aqui algumas<br />
questões abordadas acerca <strong>do</strong> episódio. Apesar <strong>de</strong> atribuir aos <strong>escravo</strong>s a iniciativa<br />
da revolta Cláudio consi<strong>de</strong>rou esse fato o causa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> inevitável fracasso <strong>do</strong><br />
acontecimento. Adriana Pereira Campos, em um estu<strong>do</strong> sobre a obra <strong>de</strong> Afonso<br />
Cláudio, afirma:<br />
49<br />
Tornan<strong>do</strong> os negros como vítimas <strong>do</strong>s equívocos da socieda<strong>de</strong> escravista e<br />
achan<strong>do</strong>-os incapazes <strong>de</strong> lutar contra o julgo que os submetia, o autor<br />
propagava a idéia <strong>de</strong> que somente os homens livres estavam habilita<strong>do</strong>s a<br />
dirigir o futuro, fato que revela sua visão romântica e preconceituosa das<br />
iniciativas escravas. 78<br />
Em consonância com as idéias abolicionistas da época, Afonso Cláudio negou a<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> luta <strong>do</strong>s <strong>escravo</strong>s <strong>de</strong> mudarem sua condição e prefere que a<br />
liberda<strong>de</strong> seja conquistada na legalida<strong>de</strong>, evitan<strong>do</strong> os excessos das revoltas<br />
escravistas. De acor<strong>do</strong> com Campos,<br />
A obra <strong>de</strong> Afonso Cláudio combatia a escravidão no país, ao mesmo tempo<br />
que difundia o preconceito racial, através <strong>de</strong> conclusões <strong>de</strong>preciativas sobre<br />
a condução <strong>do</strong> movimento pelos negros. O fato é que a “tese” <strong>do</strong> <strong>escravo</strong><br />
como sujeito incapaz é fruto <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ologia muito antiga, colocada a<br />
serviço <strong>de</strong> uma classe (que não mais existe) e ainda presente no imaginário<br />
popular. 79<br />
A obra <strong>de</strong> Cláudio, contu<strong>do</strong>, transformou-se em um <strong>do</strong>s primeiros esforços <strong>de</strong><br />
recuperar a história da escravidão capixaba.<br />
O <strong>de</strong>spertar para a preservação e uso das fontes históricas existentes no Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
<strong>Espírito</strong> Santo, que possibilitaram as produções regionais capixabas, todavia, se <strong>de</strong>u<br />
com a realização <strong>do</strong> “I Simpósio <strong>de</strong> História” pelo Departamento <strong>de</strong> História da<br />
Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> <strong>Espírito</strong> Santo, no ano <strong>de</strong> 1972. Essa iniciativa, <strong>de</strong> alguns<br />
professores, levou ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> vários projetos visan<strong>do</strong> o levantamento e<br />
catalogação das fontes históricas em vários municípios. Po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>stacar, por<br />
exemplo, a figura <strong>de</strong> Renato Pacheco 80 como importante participante nesses<br />
78 CAMPOS, 2002, p.38.<br />
79 CAMPOS, 2002, p.43.<br />
80 Renato José da Costa Pacheco foi Bacharel em Direito e em História, mestre em Ciências pela<br />
Escola <strong>de</strong> Sociologia e Política <strong>de</strong> São Paulo e livre-<strong>do</strong>cente da UFES. Dedicou mais <strong>de</strong> 40 anos ao<br />
magistério e quase vinte à magistratura estadual. Nasceu em Vitória/ES, em 16 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong>