14.04.2013 Views

amálgama de mitos - Facom - Universidade Federal da Bahia

amálgama de mitos - Facom - Universidade Federal da Bahia

amálgama de mitos - Facom - Universidade Federal da Bahia

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

seria uma <strong>da</strong>s mais “briguentas” e “intransigentes” cantoras brasileiras no meio sócio-<br />

existencial do qual faz parte.<br />

Em uma <strong>da</strong>s canções feitas a partir <strong>de</strong> poemas <strong>de</strong> Fernando Pessoa, no disco<br />

Imitação <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> (1997), Maria Bethânia canta: “Os <strong>de</strong>uses são <strong>de</strong>uses porque não se<br />

pensam”. 1 É justamente o contrário que a tornou uma estrela musical em nosso país. A<br />

auto-consciência do seu talento e dos seus limites garantem a ela os elementos<br />

necessários para a construção <strong>de</strong> uma carreira peculiar. A valorização <strong>da</strong> sua força<br />

interpretativa, a sua postura <strong>de</strong> atriz no palco, a marcação dramática sobre os textos<br />

literários e a “aura mística” soma<strong>da</strong> à voz possante, a fazem minimizar algumas <strong>da</strong>s<br />

suas limitações, como por exemplo as circunstanciais <strong>de</strong>safinações, e, no início <strong>da</strong><br />

carreira, a excessiva gravi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> voz. Ain<strong>da</strong> assim, ela trilha seu caminho sem<br />

preocupar-se com outros mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> cantoras a exemplo <strong>de</strong> Elis Regina e Gal Costa,<br />

donas <strong>de</strong> vozes mais técnicas, cristalinas e agu<strong>da</strong>s. Portanto, Bethânia cônscia <strong>de</strong> sua<br />

alteri<strong>da</strong><strong>de</strong>, a usou (inteligentemente) em nome <strong>da</strong> sua auto-representação diante dos<br />

“olhos” do público e <strong>da</strong> mídia brasileira, consoli<strong>da</strong> uma personagem artística sem par na<br />

história do cancioneiro nacional.<br />

A cantora exemplifica na história <strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong>, o conceito <strong>de</strong> mito individual<br />

construído por Carl Gustav Jung:<br />

OIÁ<br />

BETHÂNIA: <strong>amálgama</strong> <strong>de</strong> <strong>mitos</strong><br />

“Aquilo que somos segundo nossa visão interior e aquilo que o homem parece<br />

ser sub specie aeternitatis só po<strong>de</strong> ser expresso por meio do mito. O mito é mais<br />

individual e exprime a vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> forma mais precisa do que a ciência. Ela trabalha<br />

com médias como conceitos, e estas são <strong>de</strong>masia<strong>da</strong>mente gerais para fazer<br />

justiça à varie<strong>da</strong><strong>de</strong> subjetiva <strong>de</strong> uma vi<strong>da</strong> individual”. 2<br />

Desdobrando analiticamente este conceito junguiano, Edward Whitmont afirma:<br />

“Jung sentia que o significado central <strong>da</strong>s nossas vi<strong>da</strong>s po<strong>de</strong> ser apreendido<br />

apenas através <strong>de</strong> uma conscientização dos nossos próprios <strong>mitos</strong> individuais.<br />

1<br />

Segue teu <strong>de</strong>stino, poema do heterônimo Ricardo Reis, musicado por Sueli Costa especialmente para o<br />

disco Imitação <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, em 1997.<br />

2<br />

WHITMONT, Edward C. A busca do símbolo: conceitos básicos <strong>de</strong> psicologia analítica. São Paulo:<br />

Cultrix, 2001.<br />

Created with novaPDF Printer (www.novaPDF.com). Please register to remove this message.<br />

48

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!