De luto pela morte da mãe, MARIA ELISA diz-se magoada com a saída da RTP, onde era “incómoda”, e aponta o dedo a falhas na política atual “Este Governo devia ter ido mais longe em relação aos ricos„ Nesta fase complicada, a jornalista apoia-se no marido norte-americano, com quem casou em junho Nos últimos meses, Maria Elisa saiu da RTP, casou-se com o norte-americano Sanford Hartman, perdeu a mãe, que lutava contra um cancro da mama, e lançou “Amar e Cuidar”, um manual para cuidadores e doentes oncológicos, que escreveu durante a doença da progenitora. Todos estes temas marcaram a entrevista da jornalista, de 62 anos, à <strong>Lux</strong>, interrompida por momentos emotivos. <strong>Lux</strong> – O livro fala muito da relação que mantinha com a sua mãe. Como era a vossa relação na sua adolescência? Maria Elisa – Tensa. Quer com a minha mãe, quer com o meu pai. Ainda não tinha havido 25 de abril, e as meninas não podiam fazer nada. Então, passávamos a vida a brigar com os pais. Só jantei fora umas duas vezes sem os meus pais, até me casar, aos 19 anos. Era um ambiente muito austero, mas afetivo, parecíamos uma família italiana. <strong>Lux</strong> – E quando transitou para a idade adulta, ia resolvida? M.E. – Não. Num ambiente destes, só se resolve a parte racional, não a emocional. Não tínhamos relacionamento com rapazes. Eu andei no Liceu Filipa de Lencastre, onde, se fôssemos vistas com um rapaz a menos de 500 metros da escola, tínhamos uma falta de castigo. Ao fi m de três, éramos expulsas. <strong>Lux</strong> – Sentiu o choque depois? M.E. – Senti. Casei-me aos 19 anos, e foi certamente por falta de preparação que me divorciei oito anos depois. <strong>Lux</strong> – Casou-se apaixonada? M.E. – Ah, sim! Apaixonada e com um homem que ainda admiro imenso. Só tive o meu fi lho quatro anos depois, e com a certeza de que, acontecesse o que acontecesse, ele seria um bom pai. <strong>Lux</strong> – Voltando à relação com a sua mãe, recorria a ela se precisava de um conselho? M.E. – Não. Não podíamos ser abertos com os pais. A aproximação com a minha mãe só passou a ser total quando ela enviuvou, há 19 anos. <strong>Lux</strong> – Apesar dessa ligação, diz no livro que, até ela descobrir que tinha cancro, não dizia “gosto de ti”. M.E. – Dávamos imensos beijinhos, mas nunca disse “gosto de ti”. Creio que nunca o disse ao meu pai [emociona-se]. <strong>Lux</strong> – E resolveu isso depois? M.E. – Resolvi, porque as coisas mudaram. A minha mãe tornou- -se muito dependente de mim, muito frágil. Ela era um ser doce, e tornou-se ainda mais doce [tenta controlar as lágrimas]. <strong>Lux</strong> – Mesmo sabendo que a morte seria o desfecho provável, foi um choque? M.E. – Para mim, ainda não foi choque. Ainda nem comecei a fazer o luto [emociona-se]. Fugi logo! A seguir ao funeral, fui para os EUA com o meu marido. Fugi de casa. Não queria estar no sítio onde tínhamos estado as duas. Para mim, ainda não é real. Acordava todos os dias nos EUA a pensar se já seria tarde para ligar à minha mãe. <strong>Lux</strong> – Este livro foi uma forma de afogar a dor? M.E. – De a canalizar. Foi uma forma de me sentir útil. Grande parte da minha vida trabalhei em jornalismo, numa coisa que se chama “serviço público”. E é engraçado, porque a minha editora gostava que eu escrevesse fi cção e eu não me sinto de todo capaz. Espero mudar, um dia, até porque acho que a minha história com o meu marido daria um livro engraçado. <strong>Lux</strong> – Como é essa história? M.E. – É difícil uma pessoa que vive em Lisboa casar com outra que vive em São Francisco. Nem a decisão de casar foi fácil, mas a nossa história teve algumas peripécias. <strong>Lux</strong> – Pode partilhar algumas? M.E. – Dizemos que vivemos coisas que pareciam trechos de sit com. Ele tem muita coisa dos estereótipos dos judeus norte- -americanos. Embora aqui também haja uma partilha de valores, somos de culturas muito diferentes. Para mim, esta relação não teria sido possível aos 30 anos. Nem para ele. Tem de se ter uma grande maturidade para gerir as coisas a esta distância. <strong>Lux</strong> – Foi essa maturidade que a levou a sair da RTP? Foi uma saída dolorosa? M.E. – Muito. Tenho coisas para lá ir buscar e ainda não consegui.
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