Luis Washington Vita - Curso Independente de Filosofia
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III<br />
O PENSAMENTO COLONIAL<br />
As famosas Constitutiones Societatis Jesu, parte IV, capítulo XIV, <strong>de</strong>terminavam:<br />
“In Theologia legetur vetus et Novum Testamentum et doctrina scholastica divi<br />
Thomae... In logica et philosophia naturali et morali, et metaphysica, doctrina Aristotelis<br />
sequenda est.” Assim, com certa liberalida<strong>de</strong> na interpretação dos textos e incorporando<br />
as conquistas do Humanismo, <strong>de</strong> acordo aliás com a imposição das circunstâncias<br />
históricas, criaram os jesuítas nas suas escolas, do velho e do novo mundo, uma constante<br />
<strong>de</strong> pensamento, uma nova tradição filosófica a que já se <strong>de</strong>u o nome <strong>de</strong> tomismo<br />
mo<strong>de</strong>rado. Orientação esta que encontrou nos problemas políticos e jurídicos o assunto<br />
em que eles exerceram com maior originalida<strong>de</strong>, conforme reconhece o historiador da<br />
Segunda Escolástica, o jesuíta Carlo Giacon.<br />
Os inacianos preferiram Aristóteles a Platão, porque a doutrina do estagirita, na<br />
sua opinião, atendia melhor às exigências <strong>de</strong> uma concepção católica do mundo e do<br />
homem. Não era, entretanto, apenas o Aristóteles da tradição escolástica, mas o Aristóteles<br />
do Humanismo, renovado pelos comentadores que não <strong>de</strong>sprezavam sequer a lição<br />
<strong>de</strong> alexandristas e averroístas. Nesse sentido, informa Carlo Giacon que “à Segunda<br />
Escolástica cabia o problema <strong>de</strong> conciliar o valor real do pensamento aristotélico com<br />
impelentes exigências da nova cultura humanística”. Estribando-se, <strong>de</strong>sta forma, na autorida<strong>de</strong><br />
dos textos aristotélicos, que eram examinados em função dos interesses da religião<br />
católica, este ensino, sem renovar-se em sua estrutura e processos, logo <strong>de</strong>scambou<br />
para o aparato das disputas verbais. Os esforços isolados, entre os quais o do jesuíta<br />
Borri, não foram suficientemente eficazes para modificar a força dos hábitos pedagógicos<br />
então vigentes. Aliás, a formalística do regime universitário, com os seus atos e oposições,<br />
favorecia muito mais as exigências <strong>de</strong> um saber verbal — próprio <strong>de</strong> canonistas,<br />
teólogos e legistas — do que as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> um conhecimento amparado na<br />
experiência e nas Matemáticas.<br />
Graças a um manuscrito publicado por Fi<strong>de</strong>lino <strong>de</strong> Figueiredo em 1921, dispomos<br />
hoje <strong>de</strong> uma informação segura sobre o tipo <strong>de</strong> estudos filosóficos ministrados pelos<br />
jesuítas. Depois <strong>de</strong> passar pelos cursos <strong>de</strong> Gramática, Humanida<strong>de</strong>s e Retórica, os<br />
estudantes ingressavam nas aulas <strong>de</strong> <strong>Filosofia</strong>, das quais havia quatro na Universida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Évora: “Na primeira se faziam tristes e enfadonhas Postilas, nas quais se gastavam<br />
cada dia duas horas, uma <strong>de</strong> manhã, e uma <strong>de</strong> tar<strong>de</strong>, e eram as Postilas <strong>de</strong>ste primeiro<br />
ano <strong>de</strong> Universais e sinais somente, a que se ajuntavam algumas lições ru<strong>de</strong>s e frívolas<br />
dos termos lógicos, pelos conhecidos livros <strong>de</strong> Barreto, Soares, Teles, Aranha, Macedo,<br />
dos quais faziam comprar aos estudantes.” Na segunda, havia Postilas iguais às do ano<br />
anterior, nas quais se continham assuntos da Física “reduzida à pueril curiosida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>scobrir os princípios dos corpos tanto in fieri [em processo <strong>de</strong> realização], como in<br />
facto esse [acabado]; a sutilizar, e supor os apetites da matéria-prima; e tratar muito<br />
abstratamente da forma substancial, da união <strong>de</strong>stas duas substâncias e da provação <strong>de</strong>sta<br />
mesma união”. No terceiro ano <strong>de</strong> <strong>Filosofia</strong>, “se não postilava nada, porque as lições<br />
<strong>de</strong> Metafísica indispensavelmente eram pelo livro do Pe. Silvestre Aranha, e por outro<br />
do mesmo autor se ensinavam Intelecgões, Tópicos e Notícias que eram as matérias do<br />
ato <strong>de</strong> bacharel que necessariamente haviam <strong>de</strong> fazer neste ano os estudantes com outras<br />
três, que lhe precediam, tiradas das lições do primeiro ano, que eram os Termos Lógicos<br />
ou como diziam Dialéticos e rematava este ato com uma questão <strong>de</strong> Metafísica, e muita<br />
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