Luis Washington Vita - Curso Independente de Filosofia
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direi a Metafísica, mas esse quer que seja além do puramente experimental, a que se dá<br />
o nome <strong>de</strong> metempírica.”<br />
À Escola do Recife pertence, <strong>de</strong> certo modo, Eucli<strong>de</strong>s da Cunha (1866-1909),<br />
temperamento inquieto e torturado, sempre incitado para o alto, mas sem se <strong>de</strong>cidir por<br />
qualquer sistema ou doutrina na interpretação da vida e da realida<strong>de</strong> objetiva. Tendo<br />
uma visão do mundo profundamente impregnada <strong>de</strong> positivismo (é ele próprio quem<br />
<strong>de</strong>clara que sofrera “o domínio cativante <strong>de</strong> Augusto Comte”), tinha Eucli<strong>de</strong>s da Cunha<br />
como unida<strong>de</strong> metodológica um evolucionismo spenceriano que, através dos tempos,<br />
vai se modificando à medida que a ele se agregam outras correntes correlatas que surgem<br />
paralelamente a Spencer. Todavia, jamais fôra um spenceriano ortodoxo e impermeável,<br />
pois seu pensamento estava influenciado por outras teorias, hipóteses e concepções<br />
que se mesclavam e fundiam-se a esse evolucionismo mecanicista. Ao pensador<br />
inglês se soma Comte, o filósofo e matemático e não o político e religioso. Portanto,<br />
metodologicamente pesa menos a influência comtiana, enquanto que a spenceriana é<br />
mais profunda e duradoura, marcando todo o pensamento <strong>de</strong> Eucli<strong>de</strong>s da Cunha. No fim<br />
<strong>de</strong> sua vida, porém, surge uma nova influência, Ernst Mach, a seu ver “lúcido e genial”.<br />
Por isso foi constante sua irredutível atitu<strong>de</strong> anti-metafísica: em carta a Oliveira Lima, a<br />
respeito da Lógica, <strong>de</strong>clara-se seguidor da “direção extremamente lúcida que lhe traçou<br />
Stuart Mill [que] está <strong>de</strong> todo a cavaleiro das in<strong>de</strong>cifráveis divagações metafísicas”. E,<br />
no concurso à cátedra <strong>de</strong> Lógica do Colégio Pedro II (que, à época do “terror” republicano,<br />
se chamava Colégio Nacional), afirmara: “Não se compreen<strong>de</strong> nenhuma ciência<br />
das coisas em si, nenhuma ciência do Ser. Compreen<strong>de</strong>m-se ciências <strong>de</strong> relações...”,<br />
consi<strong>de</strong>rando a Metafísica “falsa ciência, toda feita <strong>de</strong> hipóteses arrojadíssimas, <strong>de</strong>senvolvendo-se<br />
sob o influxo exclusivo do método reflexivo”.<br />
Um dos problemas mais controvertidos do pensamento euclidiano é o do seu<br />
“socialismo”, afirmado por uns e negado por outros. Para um intérprete marxista, Clóvis<br />
Moura, “Eucli<strong>de</strong>s da Cunha sempre se manifestou <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> vigamentos que oscilavam<br />
entre um positivismo superficial e um socialismo impreciso”, ou seja: “Desbastados,<br />
porém, os elementos acrescidos pela simpatia dos socialistas e acrescidos os elementos<br />
injustamente retirados pelos anti-socialistas, não se po<strong>de</strong> afirmar, em sã consciência,<br />
haver sido Eucli<strong>de</strong>s da Cunha um socialista, muito menos um marxista”, pois o que ele<br />
entendia por socialismo (era “um amálgama <strong>de</strong> solidarismo humanitarista e utópico”,<br />
sendo “sua inclinação — pelo menos sentimental — pelo anarquismo”. Seja como for,<br />
Eucli<strong>de</strong>s da Cunha foi um pensador engajado e participante das exigências <strong>de</strong> seu País e<br />
<strong>de</strong> seu tempo, <strong>de</strong> nítida consciência crítica ainda que contraditória e trágica, como sua<br />
biografia.<br />
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