LOPES, João Marcos de Almeida ; RIZEK, Cibele Saliba. O ... - Usina
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o fato <strong>de</strong> que o caráter político do planejamento da ação estatal é inalienável<br />
e na medida em que um programa se estrutura como plano <strong>de</strong> provisão<br />
<strong>de</strong>scolado <strong>de</strong> uma política que realmente estruture o planejamento da produção<br />
habitacional no Brasil, segue que, ao se instalar o mutirão autogerido<br />
como sinônimo <strong>de</strong> política habitacional, <strong>de</strong>sfaz-se a própria possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
existência <strong>de</strong> uma política pública nesta área. Além disso, é nessa lacuna que<br />
surge a rearticulação dos mecanismos clientelistas <strong>de</strong> provisão estatal <strong>de</strong><br />
moradias – o sorteio, a venda <strong>de</strong> vagas nos mutirões, o atrelamento das<br />
li<strong>de</strong>ranças pelo regime do escambo eleitoral, etc. –, só que, <strong>de</strong>sta vez, legitimados<br />
por uma “política habitacional participativa”.<br />
1.2 Sobre o objeto<br />
Ajustando a proposta <strong>de</strong> abordagem às suas especificida<strong>de</strong>s, a pesquisa<br />
propunha i<strong>de</strong>ntificar e analisar os principais programas e projetos alternativos<br />
<strong>de</strong> habitação popular baseados em mutirão e autogestão já <strong>de</strong>senvolvidos<br />
no Brasil. Dessa forma, era necessário circunscrever muito claramente o<br />
objeto, focando-o em relação ao todo e <strong>de</strong>stacando-o do conjunto da produção<br />
habitacional promovida mais recentemente no país. Além disso, era imprescindível<br />
construir uma matriz <strong>de</strong> referência que localizasse esse objeto<br />
em relação a um <strong>de</strong>terminado contexto, político, social e crítico.<br />
Para isso, fazia-se necessária a constituição <strong>de</strong> um pano <strong>de</strong> fundo,<br />
resgatando algumas referências, textos, trabalhos, informações e dados<br />
quanto aos programas e ações que previam, além da aplicação da mão-<strong>de</strong>obra<br />
dos futuros moradores, também o repasse dos recursos para construção<br />
das moradias e sua administração autônoma, promovida por formas<br />
jurídicas <strong>de</strong> organização dos mutirantes2 .<br />
2 Uma observação importante: se a idéia <strong>de</strong> “autonomia” dá como pressuposto o exercício <strong>de</strong> existência sem a regulação<br />
coercitiva <strong>de</strong> estruturas jurídicas exógenas, é aparentemente paradoxal como justamente, para o exercício <strong>de</strong> alguma<br />
autonomia no processo <strong>de</strong> produção da casa pelo mutirão autogerido, faz-se imprescindível o estabelecimento <strong>de</strong><br />
alguma forma jurídica <strong>de</strong> organização dos mutirantes: associações comunitárias, associações habitacionais, clube <strong>de</strong><br />
mães, fe<strong>de</strong>rações, confe<strong>de</strong>rações, etc. que, se acabam correspon<strong>de</strong>ndo a variações sobre o mesmo tema (o estatuto<br />
jurídico é quase sempre o mesmo: associação sem fins lucrativos), também permitem formas diversas <strong>de</strong> organização<br />
funcional dos grupos. No entanto, coube melhor precisarmos, ao longo do <strong>de</strong>senvolvimento da pesquisa, qual era essa<br />
noção <strong>de</strong> autonomia: um outro termo que gera uma polissemia bastante semelhante àquela resultante da livre aplicação<br />
dos termos “mutirão” ou “autogestão”.<br />
Coletânea Habitare - Vol. 5 - Procedimentos <strong>de</strong> Gestão Habitacional para População <strong>de</strong> Baixa Renda