wecisley ribeiro do espirito santo-dissertaçao mestrado-ppgas-ufrj ...
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estruturas sociais sob a forma de estruturas cognitivas” (Bourdieu, 2001), <strong>do</strong> que a dupla<br />
jornada de trabalho feminina é apenas o exemplo mais conheci<strong>do</strong>. Há nesse senti<strong>do</strong>, casos<br />
particulares (mas particularmente freqüentes, como diz Bourdieu) de triplas jornadas de<br />
trabalho femininas. Exemplificarei isso com o caso <strong>do</strong> sistema de “facção” que é, de um<br />
la<strong>do</strong>, uma atividade profissional com caráter de complemento salarial, invariavelmente<br />
informal e, de outro, uma espécie de “Travail à-côté” (Weber, op. cit); uma atividade que<br />
confere senti<strong>do</strong> à vida das operárias. O terceiro capítulo ainda aborda a divisão sexual da<br />
“autoridade” e <strong>do</strong> “governo” (Schwartz, op. cit.) no interior da casa, sob um formato local<br />
cujas especificidades decorrem da relativa (e ambígua) estabilidade profissional das<br />
costureiras de moda íntima na região. Bem como a centralidade que os filhos assumem na<br />
vida destas trabalha<strong>do</strong>ras.<br />
A memória como objeto da história, ou confissões de um nativo aprendiz de etnógrafo.<br />
Compreender é primeiro compreender o campo<br />
com o qual e contra o qual cada um se fez. 37<br />
Por puro me<strong>do</strong> da acusação de narcisismo ou “complacência” 38 – além <strong>do</strong> receio em<br />
relação às críticas próprias <strong>do</strong> campo antropológico referentes a uma tradição prescritiva <strong>do</strong><br />
“exotismo antropológico” 39 que certamente não se coaduna com uma etnografia at home,<br />
como é o caso aqui – eu relutei em inserir este tópico que poderia ser precariamente<br />
compara<strong>do</strong> a um exercício de auto-objetivação. Por fim, ao cabo de uma série de<br />
considerações críticas à versão preliminar desta dissertação, feitas por um grupo de quatro<br />
37<br />
Bourdieu, Pierre. 2005. Esboço de auto-análise. São Paulo: Companhia das Letras.<br />
38<br />
Na nota à edição francesa de “Esboço de auto-análise” é possível ler o seguinte acerca de Bourdieu:<br />
“Ele sabia que, toman<strong>do</strong> a si mesmo como objeto, corria o risco não apenas de ser acusa<strong>do</strong> de<br />
complacência, mas também de dar armas a to<strong>do</strong>s os que ficam só aguardan<strong>do</strong> a ocasião para negar,<br />
justamente em nome de sua posição e de sua trajetória, o caráter científico de sua sociologia...” (p. 22).<br />
Talvez minha relutância deva-se também ao me<strong>do</strong> de revogar, com minhas confissões, “o caráter científico”<br />
de meu relato – possivelmente marca inconsciente de um habitus encarna<strong>do</strong>, lega<strong>do</strong> a mim por uma<br />
epistemologia positivista, por ocasião de minha graduação.<br />
39<br />
A este respeito eu sempre me lembro de uma passagem de Nicholas Thomas na qual ele, de maneira<br />
contundente, coloca este exotismo em questão:<br />
“... the presentation of other cultures retains canonical status within the discipline. That is, despite a<br />
plethora of topics and approaches, there are still strong prescriptions that certain anthropological projects<br />
(such as those dealing with tribal religions) are more anthropological than others. The arguments here<br />
deploy this stereotypic construct, even thought it is partly a misunderstanding prevalent outside the<br />
discipline, and partly something that practitioners continue to impose upon themselves and most<br />
particularly their graduate students”. (Thomas, 1991: 308).<br />
36