wecisley ribeiro do espirito santo-dissertaçao mestrado-ppgas-ufrj ...
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“padrão de vida” 6 . As estruturas temporais socialmente produzidas no encontro entre<br />
diversos aspectos da vida das costureiras, especialmente entre as relações de produção e as<br />
relações <strong>do</strong>mésticas, têm por característica fundamental a pressa e a urgência. A este<br />
respeito é bastante expressivo <strong>do</strong> universo social investiga<strong>do</strong> o fato de eu não ter<br />
consegui<strong>do</strong> em um primeiro momento, em que pese minhas inumeráveis tentativas,<br />
estabelecer interações com as operárias. E, em um segun<strong>do</strong> momento, obter interações<br />
muito curtas. A pressa talvez seja a marca mais perceptível da maneira como agem as<br />
costureiras de lingerie de Nova Friburgo, especialmente aquelas que trabalham nas grandes<br />
empresas <strong>do</strong> município. O trecho seguinte faz parte de minhas anotações em caderno de<br />
campo, no primeiro dia da investigação, 1 de Abril de 2008. Por esta ocasião, eu ainda não<br />
tinha entabula<strong>do</strong> conversa com nenhuma das costureiras. O trecho refere-se ao horário <strong>do</strong><br />
fim <strong>do</strong> expediente da Filó S.A., a maior empresa de lingerie da região.<br />
“Pareceu-me que as operárias que possuem filhos na creche da<br />
fábrica apressam-se de um mo<strong>do</strong> mais vigoroso que as demais operárias,<br />
por ocasião <strong>do</strong> fim <strong>do</strong> expediente. Elas são amiúde as primeiras a sair<br />
pelo portão, caminhan<strong>do</strong> a passos largos, em direção ao la<strong>do</strong> oposto da<br />
rua, onde se encontra o prédio que reúne vários <strong>do</strong>s “benefícios”<br />
ofereci<strong>do</strong>s pela empresa – o refeitório, as quadras esportivas, o salão de<br />
jogos e, evidentemente, a creche, de fundamental importância para os<br />
operários tanto quanto para os patrões (por motivos diferentes<br />
certamente). As funcionárias da creche procuram facilitar ao máximo a<br />
tarefa das operárias de encontrar seus respectivos filhos, em meio ao<br />
grande número de crianças. De mo<strong>do</strong> que auxiliam as mães indican<strong>do</strong> as<br />
crianças com o de<strong>do</strong> ou mesmo conduzin<strong>do</strong>-as pelo braço. Parece existir<br />
um acor<strong>do</strong> tácito entre costureiras e trabalha<strong>do</strong>ras da creche no senti<strong>do</strong> da<br />
máxima agilização da retirada das crianças.<br />
no contexto específico da exploração da força-de-trabalho feminina ver Cottereau, Alain. 1983, “Usure au<br />
travail, destins masculins et destins féminins dans les cultures ouvrières, en France, au XIX siècle.” In Le<br />
moviment sociale. Número 124. Paris.<br />
6 Sobre as controvérsias em torno <strong>do</strong> caráter subjetivo da noção de “padrão de vida” ver Thompson, E.P.<br />
1987. A formação da classe operária inglesa. A maldição de Adão (Vol.2) Rio de Janeiro: Paz e Terra.<br />
Diferentemente da acepção positivista da expressão, calcada em uma matriz estatística, que Thompson<br />
critica emprego-a aqui como uma mera variação da expressão antropológica “mo<strong>do</strong> de vida”.<br />
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