wecisley ribeiro do espirito santo-dissertaçao mestrado-ppgas-ufrj ...
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deve haver uma objeção (note-se que esta palavra tem a mesma raiz de “objeto”), um<br />
“princípio de estranhamento” 42 entre o antropólogo e seu informante, esta perspectiva não é<br />
consensual no interior <strong>do</strong> campo da antropologia. Mintz nota, com certo espanto, que<br />
curiosamente a perspectiva de um estranhamento supõe, sem nenhum indício sóli<strong>do</strong>, que<br />
relações sem afeto conduzem necessariamente a resulta<strong>do</strong>s mais objetivos, porquanto delas<br />
decorrem maior honestidade <strong>do</strong> que nas relações afetivas.<br />
“Por trás disso há, a meu ver, a suposição de que qualquer<br />
movimento de igualdade entre informante e etnógrafo não tem senti<strong>do</strong>.<br />
Certamente, se partimos da crença de que o etnógrafo esta para o<br />
informante assim como o psicanalista esta para o analisa<strong>do</strong>, então o nível<br />
de estranhamento deve ser alto”. (Ibidem:52).<br />
Segun<strong>do</strong> esse ponto de vista, o fato de ser filho de costureira (isto é, de uma nativa<br />
<strong>do</strong> grupo social investiga<strong>do</strong>) e, mais que isso, o fato de considerá-la uma informante<br />
privilegiada no processo de investigação anularia a pretensão de verossimilhança de meu<br />
relato etnográfico. De fato, é ainda Mintz quem corrobora o caráter equívoco desta<br />
premissa:<br />
“A grande insistência quanto á utilidade de não se criar amizades<br />
numa situação desse tipo – como se isso fosse um princípio primeiro e<br />
inviolável – surpreendeu-me quan<strong>do</strong> a li pela primeira vez e ainda hoje<br />
minha reação é a mesma. (...) De fato, a perspectiva <strong>do</strong> estranhamento<br />
excluiria, certamente, parentes e amigos – e talvez fosse mais próxima da<br />
relação entre psiquiatra e paciente”. (Ibidem:52).<br />
Compartilhan<strong>do</strong> <strong>do</strong> mesmo espanto de Sidney Mintz não vejo porque um<br />
empreendimento científico, especialmente no caso das ciências sociais, possa ser<br />
prejudica<strong>do</strong> <strong>do</strong> ponto de vista de seu potencial interpretativo pelo estabelecimento de<br />
vínculos emocionais com membros <strong>do</strong> grupo investiga<strong>do</strong>. Não há a meu ver nenhum<br />
critério objetivo pelo qual se possa supor a existência de um obstáculo epistemológico em<br />
relações desta natureza.<br />
Não desconheço, todavia, que uma pesquisa etnográfica seja algo diferente de um<br />
panfleto político em defesa da categoria profissional de eventuais parentes <strong>do</strong> etnógrafo.<br />
42 Para uma crítica ao chama<strong>do</strong> “princípio de estranhamento” ver Mintz (op. cit).<br />
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