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O vermelho e o negro: raça e gênero na universidade brasileira

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autonomia mais completa de criação de vagas para docentes e cursos para as<br />

<strong>universidade</strong>s até a mais restrita para IES.<br />

3.1 A MULHER E O ENSINO SUPERIOR NO BRASIL 4<br />

A reversão do hiato de <strong>gênero</strong> <strong>na</strong> educação é uma conquista femini<strong>na</strong> recente <strong>na</strong><br />

história do Brasil. Durante o período colonial as mulheres <strong>brasileira</strong>s foram<br />

simplesmente excluídas da parca educação formal existente no país. Foi ape<strong>na</strong>s a<br />

partir da primeira metade do século XIX que começaram a surgir as primeiras<br />

instituições desti<strong>na</strong>das, especificamente, à educação femini<strong>na</strong>, em um quadro de<br />

ensino dual, com claras especializações de <strong>gênero</strong>. Ao sexo feminino coube, em geral,<br />

a educação primária, com forte conteúdo moral e social, dirigido para o<br />

fortalecimento dos papéis de mãe e esposa. A educação secundária femini<strong>na</strong> ficava<br />

restrita, em grande medida, ao magistério, isto é, formação de professoras para os<br />

cursos primários. As mulheres continuaram excluídas dos graus mais elevados de<br />

instrução durante o século XIX. A tônica permanecia <strong>na</strong> agulha, não <strong>na</strong> caneta. A<br />

primeira escola foi criada em Niterói, no ano de 1835, seguida pela da Bahia, em<br />

1836. Mas as escolas normais permaneceram em número pequeno e insignificante em<br />

matrículas, até os últimos anos do Império [Hahner (1981)].<br />

Se o sexo feminino tinha dificuldades de acesso ao ensino elementar, a educação<br />

superior era eminentemente masculi<strong>na</strong>, ficando as mulheres excluídas dos primeiros<br />

cursos de Medici<strong>na</strong> (1808), Engenharia (1810) e Direito surgidos no país. O decreto<br />

imperial que facultou à mulher a matrícula em curso superior data de 1881. Todavia,<br />

os estudos secundários eram caros e essencialmente masculinos. Os cursos normais<br />

não habilitavam as mulheres para as faculdades. A primeira mulher a obter o título de<br />

médica no Brasil foi Rita Lobato Velho Lopes, em 1887. O importante a notar é que,<br />

durante o século XIX e a primeira metade do século XX, a exclusão femini<strong>na</strong> dos<br />

cursos secundários inviabilizou a entrada das mulheres nos cursos superiores. Assim, a<br />

dualidade e a segmentação de <strong>gênero</strong> estiveram, desde sempre, presentes <strong>na</strong> gênese do<br />

sistema educacio<strong>na</strong>l brasileiro, e as mulheres tinham menores taxas de alfabetização e<br />

acesso restrito nos graus mais elevados de instrução [Romaneli (2001)].<br />

As mulheres <strong>brasileira</strong>s aumentaram a entrada no ensino secundário e superior<br />

ape<strong>na</strong>s no início do século XX, ainda assim em proporção muito menor do que os<br />

homens. Dados sobre o número de inscritos por sexo nos ensinos secundário e<br />

superior entre 1907 e 1912 [IBGE (2003)] mostram que ape<strong>na</strong>s 25% do total de<br />

estudantes dos cursos secundários eram mulheres e, nos cursos superiores, não mais<br />

do que 1,5%.<br />

Não podemos esquecer que foi só com a LDB, promulgada em 1961,<br />

equiparando os cursos de nível médio (normal, clássico e científico), que as mulheres<br />

que tinham seguido o curso normal (até então um curso termi<strong>na</strong>l) puderam concorrer<br />

nos vestibulares às carreiras de ensino superior.<br />

Trigo (1994) diz que:<br />

4 O início desta seção faz parte de uma discussão mais extensa sobre a questão de <strong>gênero</strong> e educação em Beltrão e<br />

Alves (2004).<br />

10 texto para discussão | 1052 | out 2004

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