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O vermelho e o negro: raça e gênero na universidade brasileira

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1 INTRODUÇÃO<br />

Esta pesquisa parte dos estudos de Bourdieu e Passeron (1992), que procuraram<br />

desmistificar, a partir dos anos 1970, a democratização do ensino demonstrando,<br />

entre outras questões relativas à educação, que escolhas de carreira universitária<br />

possuem determi<strong>na</strong>ntes sociais.<br />

O interesse por esse tema surgiu a partir da constatação de que tanto as mulheres<br />

quanto os <strong>negro</strong>s estão presentes <strong>na</strong> <strong>universidade</strong> de forma desigual aos homens<br />

brancos no que se refere às carreiras. Tudo indica que estes últimos domi<strong>na</strong>m as<br />

carreiras de mais alto prestígio e status social. Assim, pretendeu-se verificar até que<br />

ponto esse mercado universitário coloca mulheres e <strong>negro</strong>s em patamares próximos de<br />

escolha e possibilidades.<br />

Embora Bourdieu faça referência em seus estudos mais especificamente à questão<br />

de <strong>gênero</strong> no livro A domi<strong>na</strong>ção masculi<strong>na</strong>, ele também mencio<strong>na</strong> que os <strong>negro</strong>s,<br />

tanto como as mulheres quanto ao sexo, trazem <strong>na</strong> cor da pele o estigma que afeta<br />

negativamente tudo o que são ou fazem [Bordieu (1999, p. 111)]:<br />

“Por um lado, qualquer que seja a sua posição no espaço social, as mulheres<br />

têm em comum o fato de estarem separadas dos homens por um coeficiente<br />

simbólico negativo que, tal como a cor da pele para os <strong>negro</strong>s, ou qualquer<br />

outro si<strong>na</strong>l de pertencer a um grupo social estigmatizado, afeta<br />

negativamente tudo que elas são e fazem e está <strong>na</strong> própria base de um<br />

conjunto sistemático de diferenças homólogas.”<br />

E complementa, afirmando quanto à questão racial (1999, p. 8):<br />

“Essa relação extraordi<strong>na</strong>riamente ordinária oferece também uma ocasião<br />

única de apreender a lógica da domi<strong>na</strong>ção, exercida em nome de um<br />

princípio simbólico conhecido e reconhecido tanto pelo domi<strong>na</strong>nte como<br />

pelo domi<strong>na</strong>do, de uma língua (ou uma maneira de falar), de um estilo de<br />

vida (ou uma maneira de pensar, de falar ou de agir) e mais geralmente, de<br />

uma propriedade distintiva, emblema ou estigma, dos quais o mais eficiente<br />

simbolicamente é essa propriedade corporal inteiramente arbitrária e não<br />

predicativa que é a cor da pele.”<br />

Bourdieu identifica, ainda, o que denomi<strong>na</strong> carreiras femini<strong>na</strong>s, numa listagem<br />

de 335 carreiras segundo a percentagem de seus membros, que são mulheres, que<br />

conduziriam a profissões cujo eixo principal seria o cuidado de crianças (professora<br />

primária), de doenças (enfermagem e nutrição), de casas (empregadas domésticas) e<br />

de pessoas (secretárias, recepcionistas). Seriam três os eixos principais que<br />

orientariam, segundo sua análise, as escolhas das mulheres: as funções que lhes<br />

conviriam seriam aquelas que sugerem o prolongamento das funções domésticas —<br />

ensino, cuidado e serviços, uma vez que uma mulher não pode ter autoridade sobre<br />

homens e, por último, ao homem deve caber o monopólio da manutenção dos<br />

objetos técnicos e das máqui<strong>na</strong>s (1999, p. 113).<br />

Recentemente no país, teses universitárias [Teixeira (1998) e Queiroz (2000)] de<br />

censos de estudantes de terceiro grau realizados em algumas <strong>universidade</strong>s <strong>brasileira</strong>s<br />

(UFBA, USP, Uerj, UFF, UFMT, Unicamp) têm constatado que a presença negra <strong>na</strong><br />

<strong>universidade</strong>, além de reduzida, é desigual e restrita a algumas áreas de menor<br />

texto para discussão | 1052 | out 2004 1

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