1 Processo de Formação de Estratégia em Tempos de Crise - Anpad
1 Processo de Formação de Estratégia em Tempos de Crise - Anpad
1 Processo de Formação de Estratégia em Tempos de Crise - Anpad
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Os estudos sobre a gestão <strong>de</strong> transportes com enfoque nas <strong>em</strong>presas operadoras ainda<br />
são raros, estando inseridos <strong>em</strong> pesquisas que reflet<strong>em</strong> o fenômeno apenas sob dimensões<br />
relacionadas ao sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> transporte, papel dos movimentos sociais e produtivida<strong>de</strong><br />
(GOUVÊA, 1992; CANÇADO, 1996). Percebe-se a carência, especialmente <strong>em</strong> questões<br />
acerca da administração estratégica e como os momentos <strong>de</strong> crise, originados na <strong>em</strong>presa ou<br />
setor, culminariam <strong>em</strong> estratégias <strong>de</strong> recuperação. Diante do cenário <strong>de</strong>scrito, <strong>de</strong>corre que o<br />
propósito central <strong>de</strong>ste artigo é analisar aspectos do processo <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> estratégias, com<br />
ênfase às estratégias <strong>de</strong> recuperação b<strong>em</strong> sucedidas diante <strong>de</strong> crises, no período<br />
intencionalmente estabelecido entre os anos <strong>de</strong> 2000 e 2004. Buscou-se i<strong>de</strong>ntificar<br />
comportamentos diante <strong>de</strong> reorientações provocadas por agentes no ambiente externo,<br />
idiossincrasias internas, b<strong>em</strong> como impl<strong>em</strong>entação e resultados das estratégias. Para tanto,<br />
<strong>de</strong>staca-se que tal objetivo foi alcançado mediante estudo <strong>de</strong> caso qualitativo realizado na<br />
Itamaracá Transportes, <strong>em</strong>presa tradicional da Região Metropolitana do Recife, no mercado<br />
há 48 (quarenta e oito) anos, disponibilizando o perfil e critérios necessários à realização da<br />
pesquisa.<br />
2 <strong>Estratégia</strong>s Deliberadas e Emergentes: Extr<strong>em</strong>os <strong>de</strong> um Continuum<br />
Diversos são os autores na literatura que discut<strong>em</strong> o conceito <strong>de</strong> estratégia<br />
(MINTZBERG, 1973, 2001; ANSOFF, 1973; PORTER, 1986, 1989, 1999; CHANDLER,<br />
1998; HENDERSON, 1998; ANDREWS, 2001; BARNEY, 2002).<br />
De caráter claramente <strong>de</strong>liberado, Chandler (1998, p. 163) afirma que a “estratégia é a<br />
<strong>de</strong>finição dos principais objetivos a longo prazo da <strong>em</strong>presa, b<strong>em</strong> como a adoção <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong><br />
ação e alocação <strong>de</strong> recursos, tendo <strong>em</strong> vista esses objetivos”. Nesse sentido, a estrutura ou<br />
mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> organização pelo qual se administra a <strong>em</strong>presa, garantiria a coor<strong>de</strong>nação, a<br />
avaliação e a articulação da impl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> metas, políticas básicas e pessoas.<br />
Concebendo estratégia como o relacionamento entre a <strong>em</strong>presa e o ambiente, Ansoff<br />
(1973, p. 27) argumenta que gestores cada vez mais <strong>de</strong>v<strong>em</strong> voltar-se para encontrar maneiras<br />
racionais e passíveis <strong>de</strong> previsibilida<strong>de</strong> para explorar e ajustar-se às mudanças ambientais,<br />
s<strong>em</strong> <strong>de</strong>sprezar, contudo, a relevância e potencial da criativida<strong>de</strong> <strong>em</strong> momentos <strong>de</strong> reorientação<br />
estratégica. Acrescenta ainda que o processo completo <strong>de</strong> mudança <strong>de</strong>va ser planejado e<br />
guiado pela gestão da <strong>em</strong>presa. Em linha consonante, Hen<strong>de</strong>rson (1998, p. 5) argumenta que a<br />
estratégia po<strong>de</strong> ser vista como um plano <strong>de</strong> ação <strong>de</strong>liberado que se <strong>de</strong>senvolve e ajusta-se à<br />
vantag<strong>em</strong> competitiva <strong>de</strong> uma <strong>em</strong>presa, a partir do reconhecimento das capacida<strong>de</strong>s<br />
organizacionais e dos objetivos pretendidos. Decorre que a estratégia, sob a perspectiva<br />
clássica <strong>de</strong>sses autores, passou a ser então reconhecida como um plano ou um curso <strong>de</strong> ação<br />
conscient<strong>em</strong>ente engendrado <strong>em</strong> uma diretriz, composta por dois el<strong>em</strong>entos essenciais: (1)<br />
preparação prévia; e (2) <strong>de</strong>senvolvimento consciente e <strong>de</strong>liberado (MINTZBERG, 2001).<br />
O processo <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> estratégias competitivas po<strong>de</strong> ser categorizado naqueles<br />
<strong>de</strong>liberados, <strong>em</strong>ergentes ou <strong>em</strong> uma combinação ótima entre estas duas vertentes<br />
(MINTZBERG, 1978, 1998; MINTZBERG; WATERS, 1985, MINTZBERG; MCHUGH,<br />
1985; MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000). De fato, estratégias <strong>de</strong>liberadas e<br />
<strong>em</strong>ergentes po<strong>de</strong>m ser concebidas como dois extr<strong>em</strong>os <strong>de</strong> um continuum on<strong>de</strong> resi<strong>de</strong> o mundo<br />
real das estratégias (MINTZBERG, 1978; MITZBERG; WATERS, 1985). As puramente<br />
<strong>de</strong>liberadas admit<strong>em</strong> como pressuposto um comportamento pretendido tal como realizado,<br />
graças às intenções precisas, estabelecidas previamente pela li<strong>de</strong>rança da organização e<br />
realizadas s<strong>em</strong> maiores interferências ambientais. Por outro lado, estratégias perfeitamente<br />
<strong>em</strong>ergentes são aquelas realizadas ausentes <strong>de</strong> uma intenção explícita. Uma estratégia<br />
<strong>em</strong>ergente é essencialmente uma estratégia não planejada (MINTZBERG; 1978), no sentido<br />
que <strong>de</strong>terminada ação só é percebida como estratégica pela <strong>em</strong>presa na medida <strong>em</strong> que se<br />
<strong>de</strong>senvolve, ou mesmo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter acontecido.<br />
2