confrarias portuguesas da época moderna - Universidade Católica ...
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espécie de «família alarga<strong>da</strong>», a partir duma valorização do sentimento<br />
cristão de fraterni<strong>da</strong>de e de amor ao próximo. Por outro lado,<br />
esta ligação a uma comuni<strong>da</strong>de mais abrangente era uma forma de<br />
garantir o direito a um funeral cristão com o acompanhamento <strong>da</strong> irman<strong>da</strong>de.<br />
Numa boa parte dos casos, as irman<strong>da</strong>des tinham também a<br />
obrigação de rezar um determinado número de missas pela salvação<br />
<strong>da</strong>s almas dos irmãos defuntos. Contudo, nem sempre o dever de<br />
acompanhamento dos membros falecidos ou de celebração de missas<br />
em sua intenção era cumprido pelas irman<strong>da</strong>des, <strong>da</strong>ndo origem a<br />
constantes intervenções <strong>da</strong>s autori<strong>da</strong>des eclesiásticas no sentido de<br />
fazerem respeitar estas obrigações 23 . Seria interessante apurar até que<br />
ponto estas intervenções no sentido de disciplinar as associações<br />
religiosas não eram uma forma de assegurar o seu normal funcionamento<br />
e de <strong>da</strong>r aos fiéis as garantias necessárias ao seu ingresso nas<br />
irman<strong>da</strong>des.<br />
É, pois, necessário averiguar até que ponto estas organizações representavam<br />
uma maior espiritualização do quotidiano e um aumento<br />
<strong>da</strong> prática religiosa. Talvez à primeira vista se possa afirmar que as<br />
<strong>confrarias</strong> permitiam um maior acesso aos sacramentos <strong>da</strong> Igreja, uma<br />
manutenção mais cui<strong>da</strong><strong>da</strong> dos locais de culto, um aumento <strong>da</strong> devoção<br />
aos Santos e à Virgem, ou ain<strong>da</strong> um acréscimo do número de peregrinações.<br />
Mas seria importante constatar qual a percentagem de<br />
novos irmãos para quem esses aspectos eram os mais relevantes no<br />
momento do ingresso, contribuindo deste modo para uma hierarquização<br />
dos referidos factores motivacionais. Por outro lado, constata-se<br />
a necessi<strong>da</strong>de de identificar o grupo social em que esses membros<br />
se situavam, de forma a apurar eventuais relações entre as élites<br />
sociais e as fórmulas mais interioriza<strong>da</strong>s de religiosi<strong>da</strong>de.<br />
Entre os múltiplos aspectos que impulsionaram os indivíduos para<br />
o seio destas associações, um dos mais relevantes foi a procura duma<br />
maior integração e identi<strong>da</strong>de social por parte dos confrades e a busca<br />
21 Na déca<strong>da</strong> de 1780, no Arcebispado de Lisboa, na Igreja Nova (Mafra), onde<br />
existia uma irman<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s Almas, era necessário pagar a quem conduzisse um<br />
cadáver à sepultura porque os irmãos escapavam-se a esta e a outras práticas cari-<br />
tativas. E em Almargem do Bispo (Sintra), na mesma <strong>época</strong>, os irmãos do Santís-<br />
simo Sacramento não se dignavam a acompanhar à cova os irmãos falecidos e nem<br />
sequer seguiam o Santíssimo nas suas saí<strong>da</strong>s em procissão (cf. Isaías <strong>da</strong> Rosa Pe-<br />
reira, Subsídios para a História <strong>da</strong> Diocese de Lisboa no Século XV111. Lisboa.<br />
1980, pp. 231 e 235).