confrarias portuguesas da época moderna - Universidade Católica ...
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Tudo indica que a supressão e o aparecimento de determina<strong>da</strong>s<br />
invocações confraternais não foi obra do acaso, mas antes acções que<br />
se sujeitaram a uma intencionali<strong>da</strong>de que urge estu<strong>da</strong>r. Não nos restam<br />
dúvi<strong>da</strong>s que a Igreja intervinha no estabelecimento do quadro de<br />
<strong>confrarias</strong> ao nível paroquial. A intervenção clerical fazia-se no sentido<br />
de controlar o aparecimento de heresias e de difundir os princípios<br />
básicos <strong>da</strong> crença católica, de incutir maiores níveis de interiorização<br />
devocional e de consoli<strong>da</strong>r o enquadramento paroquial<br />
dos leigos, através dos espaços e tempos de culto promovidos pelas<br />
irman<strong>da</strong>des.<br />
Mas a Igreja foi mais longe, ao promover o estabelecimento duma<br />
hierarquia dos cultos, a qual encontrou tradução ao nível <strong>da</strong> diferenciação<br />
de <strong>confrarias</strong>. Esta diferenciação, quantas vezes reflexo <strong>da</strong><br />
intenção eclesiástica de privilegiar determina<strong>da</strong>s associações e formas<br />
de religiosi<strong>da</strong>de, pode desenvolver-se no contexto <strong>da</strong> estruturação<br />
duma geografia do sagrado. Desde a I<strong>da</strong>de Média que os cultos<br />
mais importantes se situavam no altar principal e nos altares do lado<br />
do Evangelho. É, pois, necessário estu<strong>da</strong>r a disposição dos altares e<br />
capelas <strong>da</strong>s <strong>confrarias</strong> no interior dos templos, de modo a apurar<br />
alguns índices de um escalonamento de devoções e até <strong>da</strong>s próprias<br />
associações de leigos. A Irman<strong>da</strong>de do Santíssimo Sacramento <strong>da</strong><br />
Igreja de São Lourenço de Carnide, que o visitador considerava a<br />
«principal de to<strong>da</strong>s», foi claramente distingui<strong>da</strong> por este, ao proibir os<br />
peditórios de <strong>confrarias</strong> antes <strong>da</strong> Irman<strong>da</strong>de do Santíssimo fazer os<br />
seus e ao man<strong>da</strong>r integrar as «pessoas, cabe<strong>da</strong>l e promessas» <strong>da</strong> Confraria<br />
de São Valentim naquela Irman<strong>da</strong>de, em 1613-1614 47 .<br />
É preciso, no entanto, ter a noção de que a graduação de importância<br />
<strong>da</strong>s <strong>confrarias</strong> duma comuni<strong>da</strong>de dependia de outros factores e<br />
variava de região para região. Em Setúbal, por exemplo, as <strong>confrarias</strong><br />
paroquiais do Santíssimo tinham um poder económico e social menos<br />
forte que o <strong>da</strong> Irman<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Santa Casa <strong>da</strong> Misericórdia. Mas, no concelho<br />
<strong>da</strong> Pederneira, a opulência <strong>da</strong> Misericórdia não se comparava<br />
com a <strong>da</strong> Confraria de Nossa Senhora de Nazaré, a qual administrava<br />
o importante santuário mariano do Sítio. A graduação de importância<br />
<strong>da</strong>s irman<strong>da</strong>des podia-se medir de várias formas, entre as quais a<br />
41 António de Sousa Araújo, Visitações a S. Lourenço de Carnide de 1600 a<br />
1740 (Para o Estudo <strong>da</strong> Pastoral e <strong>da</strong> História Social de Lisboa). Braga: Ed.<br />
Franciscana. 1979. pp. 18-19.