2. Breve dicionário de trabalhos agrícolas característicos dos ...

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Questar – Hoje a apicultura é quase uma ciência, só praticada por especialistas, mas tempos houve em que quase todos os agricultores tinham a sua colmeia (cortiço), com o seu enxame e eram eles que tiravam os favos de mel das suas abelhas a que chamavam questar. Todas as crianças gostavam de ver o seu pai ou irmão mais velho fazer essa tarefa, uma vez que tinham de se vestir como mascarados, não usavam, como hoje, fatos próprios. Dessa indumentária, fazia parte a cara e as mãos tapadas, de forma que as abelhas não picassem e ainda usavam um repelente de insectos muito característico: Um púcaro velho com brasas a queimar, em cima delas excremento de vaca seco, o fumo que deitava fazia as abelhas se afastarem. Rabiscar (ou ir ao rabisco) – Depois das vindimas, o agricultor voltava novamente às vinhas colher alguns cachos que tinham ficado para trás por estarem verdes demais, ou ficado esquecidos, ou ainda pequeninas esgalhas que ficaram por não terem qualidade para fazer bom vinho. Com este rabisco faziam um vinho, de inferior qualidade, que o saloio bebia para poupar o outro que lhe rendia algum dinheiro para a sua subsistência. Ir ao rabisco era, muitas vezes, tarefa de mulheres ou crianças. Rachar lenha – Uma ocupação do saloio agricultor, durante o Inverno, quando o tempo não permitia ir para os campos, era rachar lenha, isto é, fazer em pedaços pequenos toros que tinham ficado da poda das árvores, ou do arranque de alguma que estivesse seca, que depois colocavam em montes muito bem ajeitados a que chamavam: medas ou pilhas. Se fossem de achas, isto é, de curtos troncos de pinheiros com uma racha que o dividiam mas não os separava totalmente, chamavam gaiolas. Os troncos para serem rachados eram colocados em cima de um grosso toro já preparado para o efeito. A lenha miúda não era rachada mas sim partida à mão, isso já era trabalho de mulheres. Toda esta lenha, tanto grossa como miúda, formava o gás desses tempos. Regar – A rega, outrora, não tinha nada a ver com a que hoje se faz. A água era tirada dos poços, utilizando-se para isso processos artesanais: picotas ou cambões, noras (na Freguesia de Mafra não havia muitas), até com baldes puxados através de rondanas (roldanas). Essa água, tirada dos poços, servia para regar as hortas, através de estreitos regos (ou caleiras ) feitos junto aos pés das plantas, como por exemplo, o feijão verde. Quando a água chegava ao fim do rego, era cortada, isto é, levada para outro rego através dum corte na terra feito com um sacho ou enxada. No 528
Verão, que era a época em que mais regas havia, não era raro ouvirem-se sair das hortas, como que um lamento ou um gemido, que vinha do movimentar das picotas. Nos locais onde havia a nora, esta girava puxada, normalmente por um burro, que, de olhos vendados, para não entontecer, andava sempre à roda do poço. Retanchar – Retanchar vinha. Repor nas vinhas os bacelos já enxertados, no sítio onde algumas cepas já morreram. Tarefa realizada nos meses de Janeiro e Fevereiro. Surribar - Cava muito profunda, com cerca de 1 metro de profundidade e estrumada, sempre feita, pelo menos, por dois homens, embora, normalmente, fossem mais e sempre emparelhados: um esquerdo e outro direito, porque na cava havia homens que cavavam à direita e outros à esquerda, o que dava jeito para que a terra fosse levantada em grandes lêvedas (postas de terra). O terreno cavado dessa maneira era destinado à plantação de vinha. Vindimar – Trabalho agrícola dos mais alegres, embora não tanto como noutras zonas do nosso país. Dava gosto ver os vindimadores, homens, mulheres, rapazes e raparigas tagarelando, enquanto cortavam os cachos roxos ou dourados, para colocarem nos cestos que transportavam às costas (no caso do homem) ou à cabeça (no caso da mulher) para encher as dornas que se encontravam em cima de carros de bois, ou directamente para as adegas, se estas se localizassem perto. A meio da manhã havia uma pausa para o almoço 1 e a meio da tarde uma outra para a merenda, observando-se, nessa altura, os cestos virados ao contrário para servir de assentos e de mesas. Só cortavam os cachos bons, os outros ficavam para o rabisco. De vez em quando levavam uma picada de alguma abelha mais gulosa. Além destes trabalhos agrícolas, muitos mais se podiam aqui mencionar. Estes são aqueles que se fazem normalmente durante o ano. Outros houveram que devido ao desuso caíram no esquecimento. Todos, ou quase todos, ainda se fazem hoje, com a grande diferença de serem as máquinas a realizá-los, substituindo o homem em quase tudo. Apesar do homem controlar a máquina, já não domina uns quantos saberes ancestrais que garantiam o bom resultado de qualquer tarefa. Ao 1 Entre as 9h 30m e as 10h, uma vez que às 12h era o jantar. 529
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