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3. O Penedo do Lexim: Uma leitura paleoambiental - Câmara ...

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<strong>3.</strong> O <strong>Pene<strong>do</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>Lexim</strong>: <strong>Uma</strong> <strong>leitura</strong> <strong>paleoambiental</strong><br />

João Araújo Gomes *<br />

Porquê aplicar a Leitura Geoarqueológica<br />

ao estu<strong>do</strong> arqueológico <strong>do</strong> sítio?<br />

Um estu<strong>do</strong> arqueológico, seja ele de que ordem for, inicia sempre<br />

a investigação com uma série de da<strong>do</strong>s que advêm da recolha de<br />

materiais da superfície terrestre, encontran<strong>do</strong>-se, estes, “intimamente<br />

liga<strong>do</strong>s com as componentes físicas da paisagem, como são, por exemplo,<br />

o relevo, ou a organização estratigráfica <strong>do</strong>s depósitos” (Angelucci, 2003:<br />

p. 35; Renfrew e Bahn, 2004). Talvez seja esta, a pertinência principal da<br />

Geoarqueologia ou, que é o mesmo que dizer, das Ciências da Terra<br />

contribuintes para a complementarização interpretativa da Arqueologia 1 .<br />

Assim sen<strong>do</strong>, e assumin<strong>do</strong> a importância <strong>do</strong>s testemunhos<br />

geoarqueológicos naquela conformidade, um <strong>do</strong>s objectivos mais<br />

importantes deste trabalho sobre a Geoarqueologia <strong>do</strong> sítio <strong>do</strong> <strong>Pene<strong>do</strong></strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Lexim</strong> residiu na tentativa de compreensão da área envolvente desse sítio<br />

arqueológico, através <strong>do</strong>s contributos da Geologia, da Geomorfologia, da<br />

Sedimentologia e da Pe<strong>do</strong>logia. Isto é, esta análise foi realizada com as<br />

premissas de ordem paisagística, ambiental e de implantação <strong>do</strong> sítio<br />

através da acção praticada de méto<strong>do</strong>s científicos que possibilitem a<br />

compreensão de uma determinada área.<br />

Procuramos, pois, responder às questões que se nos levantaram<br />

no princípio interpretativo da abordagem geoarqueológica <strong>do</strong> sítio,<br />

através das recolhas de matérias-primas locais, esboços geomorfológicos<br />

* Licencia<strong>do</strong> em Arqueologia e História, pela Faculdade de Letras (Universidade de Lisboa).<br />

Bolseiro da Fundação da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.<br />

O presente trabalho de investigação foi desenvolvi<strong>do</strong> no âmbito de um seminário de final de<br />

curso e quer constituir-se como contributo para o desenvolvimento da Geoarqueologia,<br />

enquanto ciência multidisciplinar.<br />

1 O universo da Geoarqueologia debate-se com temas muito mais complexos sob o ponto de<br />

vista <strong>do</strong> objectivo, <strong>do</strong> que aqueles que complementarizam a interpretação arqueológica.<br />

360


de uma área envolvente <strong>do</strong> <strong>Pene<strong>do</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>Lexim</strong> (± 20 km 2 ) e interpretação<br />

desses mesmos da<strong>do</strong>s: É possível definir um território pertinente ao sítio?<br />

A paisagem actual é a mesma que houve durante a ocupação <strong>do</strong> sítio, ou<br />

ter-se-á altera<strong>do</strong>? Qual é a proveniência das matérias-primas utilizadas no<br />

<strong>Pene<strong>do</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>Lexim</strong>? Terá ti<strong>do</strong>, a implantação deste sítio arqueológico, uma<br />

consciencialização intrínseca de estratégia de fixação (localização,<br />

visibilidade, recursos hídricos, fontes de matéria-prima...)? Terá, o <strong>Pene<strong>do</strong></strong><br />

<strong>do</strong> <strong>Lexim</strong>, enquanto sítio de habitat, ofereci<strong>do</strong> qualidades de implantação<br />

suficientemente estáveis para o homem?<br />

2. Meto<strong>do</strong>logia <strong>do</strong> Trabalho<br />

A abordagem geoarqueológica como chave para o conhecimento da<br />

arqueologia territorial <strong>do</strong> <strong>Pene<strong>do</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>Lexim</strong><br />

2.1. Geoarqueologia<br />

É desde os anos 70 <strong>do</strong> século XX que o termo Geoarqueologia tem<br />

si<strong>do</strong> recorrentemente utiliza<strong>do</strong>. Embora a carga semântica da palavra<br />

tenha vin<strong>do</strong> a alargar os seus conteú<strong>do</strong>s científicos (recentes aplicações<br />

interdisciplinares entre neotectónica e arqueologia e avanços nos estu<strong>do</strong>s<br />

micromorfológicos <strong>do</strong>s solos arqueológicos; etc.), a Geoarqueologia,<br />

tratan<strong>do</strong> da interligação entre as Ciências da Terra e a Arqueologia e<br />

complementan<strong>do</strong> as interpretações históricas com “geo-da<strong>do</strong>s” e “geodefinições”,<br />

procura compreender as “interacções existentes entre os<br />

grupos humanos <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> e o ambiente à sua volta” (Angelucci, 2004:<br />

p. 36). Mas não nos preocupemos com a definição da disciplina, até<br />

porque o seu conteú<strong>do</strong> não é assim tão linear como o acima proposto.<br />

Acrescentan<strong>do</strong>, porém, nunca é demais ressalvar que a definição<br />

inequívoca e consensual de Geoarqueologia não existe, nem é aplicável – ou<br />

não funcionassem as inúmeras Ciências geológicas como a Petrologia, a<br />

Sedimentologia, a Estratigrafia, etc., como argumentos independentes nas<br />

diferentes possibilidades da interpretação geoarqueológica. Por outras, e<br />

finais, palavras, tentar univocamente definir geoarqueologia como<br />

ciência, seria o mesmo que englobar os diferentes tempos arqueológicos<br />

num só conceito.<br />

Nesta conformidade, acresce-nos apenas dizer que esta ciência<br />

(inter/multi-disciplinar) se cinge ao intervalo de tempo referente à<br />

presença <strong>do</strong> Homem na Terra (Angelucci, 2004).<br />

361


2.2. O <strong>Pene<strong>do</strong></strong> e a geoarqueologia<br />

Neste trabalho, e como já foi referi<strong>do</strong> na introdução, o objectivo<br />

foi traça<strong>do</strong> com o intuito de compreender a área envolvente <strong>do</strong> <strong>Pene<strong>do</strong></strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Lexim</strong> em todas as suas linhas de incisão. Isto é, ao abordarmos o conceito<br />

de área envolvente, queremos tentar fazer com que as premissas de ordem<br />

paisagística, ambiental e de estratégia de povoamento <strong>do</strong> sítio<br />

arqueológico <strong>do</strong> <strong>Pene<strong>do</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>Lexim</strong> sejam entendidas. Para isso, e<br />

recorren<strong>do</strong> a análises geoarqueológicas, tentar-se-á compreender o<br />

território envolvente <strong>do</strong> sítio arqueológico, interpretan<strong>do</strong> um tempo e um<br />

espaço em que o homem moderno habitou e viveu.<br />

Embora já tenham si<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s geoarqueológicos para<br />

a interpretação da área <strong>do</strong> rio Sizandro (um pouco mais a Norte da área<br />

envolvente <strong>do</strong> <strong>Pene<strong>do</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>Lexim</strong> foram abertas sanjas de onde se retiram<br />

amostras para datação absoluta) a região costeira da Ericeira, onde o<br />

<strong>Pene<strong>do</strong></strong> de <strong>Lexim</strong> se insere, não possui estu<strong>do</strong>s deste tipo. E apesar deste<br />

trabalho não se debruçar especificamente sobre análises baseadas em<br />

recolhas de amostras sedimentares para análise micromorfológica e<br />

datação, achamos que a abordagem interpretativa <strong>do</strong> território será um<br />

bom ponto de partida para uma futura investigação geoarqueológica<br />

detalhada.<br />

2.<strong>3.</strong> Os materiais e as técnicas<br />

Para esta investigação, e num plano inicial de trabalhos de<br />

campo, usou-se uma bússola, uma carta militar de Mafra 1:25 000, um<br />

mapa geológico (folha 34-A Sintra – Almeida, 1991) 1:50 000, blocos de<br />

folhas A4 quadriculadas, lapiseira 0,3 mm, fotocópias de excertos da carta<br />

militar de Mafra 1:25 000 (onde se fizeram directamente os esboços<br />

geomorfológicos) 2 , um martelo de geólogo, um colherim, e duas<br />

máquinas fotográficas (uma semi-automática e outra automática digital).<br />

2<br />

O esboço geomorfológico foi efectua<strong>do</strong> numa cópia da carta militar ampliada, a uma escala<br />

de 1:10000.<br />

362


O início da pesquisa para este trabalho, começou com uma<br />

interpretação <strong>do</strong> relevo envolvente <strong>do</strong> <strong>Pene<strong>do</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>Lexim</strong>, definin<strong>do</strong> uma<br />

área de ± 20 km 23 .<br />

Num plano de trabalho de investigação em gabinete, usou-se o<br />

computa<strong>do</strong>r (trabalhan<strong>do</strong> com os programas A<strong>do</strong>be Photoshop CS 2 – 9.0,<br />

A<strong>do</strong>be Illustrator CS – 11.0.0, A<strong>do</strong>be Acrobat Reader 6.0, Microsoft Office<br />

Word 2003, Microsoft Office PowerPoint 2003, Golden Software Surfer –<br />

Surfer 8 (2002), ArcGIS 9.1 – 2005), o mapa topográfico militar de Mafra<br />

1:25 000, um mapa geológico (folha 34-A Sintra – Almeida, 1991) 1:50 000<br />

para interpretação, confirmação e/ou refutação <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s gradualmente<br />

investiga<strong>do</strong>s, juntamente com a notícia explicativa (Ramalho et al, 1993).<br />

2.4. As etapas<br />

Este estu<strong>do</strong>, que procura enfatizar as noções das ciências da<br />

Terra, talvez possa ser caracteriza<strong>do</strong> por uma só etapa de realização – a<br />

vontade de complementar o estu<strong>do</strong> arqueológico <strong>do</strong> sítio <strong>do</strong> <strong>Pene<strong>do</strong></strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Lexim</strong> (<strong>do</strong>ravante PL) com uma abordagem geoarqueológica. Se assim for<br />

considera<strong>do</strong>, este contínuo trabalho terá começa<strong>do</strong> há um ano com a<br />

interpretação <strong>do</strong> relevo envolvente <strong>do</strong> <strong>Pene<strong>do</strong></strong>, através de um esboço<br />

geomorfológico (vide Anexo). Porém, e sacudin<strong>do</strong> a partir de agora<br />

devaneios linguísticos para ser mais científico, foram várias as fases pelas<br />

quais o trabalho que aqui se apresenta teve de passar.<br />

Geoarchaeological work is now often broken up into several phases, with desktop<br />

investigation, fieldwork survey, excavation, sample assessment, and laboratory<br />

study, all being likely precursors to full analysis and final publication. This is all<br />

part of modern funding and operational procedures.<br />

(Goldberg e Macphail, 2006, p. 4).<br />

A primeira delas, como já se referiu, recaiu justamente na<br />

interpretação geomorfológica da área envolvente <strong>do</strong> PL, e demorou cerca<br />

de três semanas a concluir. Utilizan<strong>do</strong> a legenda de Lausanne (Institut de<br />

Géographie de l’Université de Lausanne - IGUL), o esboço consistiu na<br />

3 Ver mapa <strong>do</strong> percurso geoarqueológico em anexo.<br />

363


caracterização de todas as formas de relevo existentes à roda <strong>do</strong> PL, numa<br />

área de ± 20 km 2 .<br />

Paralelamente, ainda numa primeira fase e durante essas três<br />

semanas de intenso trabalho de campo, realizou-se um inventário <strong>do</strong>s<br />

afloramentos que se encontraram durante a elaboração <strong>do</strong> esboço<br />

geomorfológico, bem como <strong>do</strong>s sítios arqueológicos que estavam<br />

incluí<strong>do</strong>s naquela área envolvente pré-estabelecida 4 .<br />

Numa segunda fase, promoveu-se a recolha bibliográfica 5<br />

necessária para este estu<strong>do</strong>, bem como a elaboração de um primeiro<br />

relatório sobre o trabalho desenvolvi<strong>do</strong> naquelas semanas de campo.<br />

Numa terceira etapa, foi feita uma lista daquilo que vinha a<br />

constar nos anexos <strong>do</strong> trabalho final – mapas, esboço geomorfológico,<br />

relatório <strong>do</strong> percurso geoarqueológico, ficha <strong>do</strong> sítio inédito encontra<strong>do</strong> na<br />

área envolvente <strong>do</strong> <strong>Pene<strong>do</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>Lexim</strong> e respectivos materiais líticos, etc.<br />

Numa quarta e última fase, procedeu-se à escrita <strong>do</strong> texto, à<br />

transposição <strong>do</strong>s desenhos e fotografias para suporte informático e à<br />

elaboração <strong>do</strong> esboço geomorfológico, também em suporte informático,<br />

que consta em anexo – Esboço Geomorfológico.<br />

<strong>3.</strong> Geologia e Geomorfolgia<br />

[...] The landmark is a spectacular, nearly symmetrical cylinder of basalt; a<br />

black shiny rock that looks almost otherworldly.<br />

<strong>3.</strong>1. Contextualização geológica <strong>do</strong> <strong>Pene<strong>do</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>Lexim</strong><br />

<strong>3.</strong>1.1. Formação e composição litológicas da região<br />

(Repcheck, 2004, p. 46-47)<br />

A região em que o PL se insere faz parte da Extremadura<br />

Portuguesa pertencente, <strong>do</strong> ponto de vista geográfico, à Orla Meso-<br />

Cenozóica. As rochas pertencentes à parte ocidental dessa Orla Meso-<br />

Cenozóica e que afloram ao longo daquele eixo orienta<strong>do</strong><br />

aproximadamente NNE-SSW, forman<strong>do</strong> assim o esqueleto da faixa litoral<br />

4 Ver mapa <strong>do</strong> percurso geoarqueológico em anexo.<br />

5 Grande parte da bibliografia referente à geomorfologia da área estudada foi<br />

disponibilizada pela Mestre Ana Catarina Sousa.<br />

364


e perilitoral de Portugal central – em particular das regiões da<br />

Estremadura Portuguesa, de parte da Beira litoral e da Península de<br />

Setúbal – são de origem litoral, e ter-se-ão formada em perío<strong>do</strong>s pós-<br />

Hercínicos, depositan<strong>do</strong>-se posteriormente na Bacia Mesozóica<br />

Lusitaniana – bacia marinha resultante da abertura e das primeiras fases<br />

de expansão <strong>do</strong> que viria a ser o actual Oceano Atlântico (Angelucci, 2005).<br />

Progressivamente transforma<strong>do</strong>s e deforma<strong>do</strong>s pelas distintas<br />

fases de orogenia <strong>do</strong> ciclo Alpino, os materiais foram cobrir<br />

estratigraficamente o “soco cristalino” que constitui o sector central da<br />

Península Ibérica (Ribeiro et al., 1979; Manuppella et al., 1985; Ramalho et<br />

al., 1993).<br />

A acção conjunta entre a fase de activação de famílias de diáclases<br />

com orientação variável, da deformação frágil e dúctil durante a<br />

Orogénese Alpina, fenómenos de diapirismo e também actividade<br />

vulcânica durante o Cenozóico e o Quaternário, configuraram a actual<br />

morfologia da região e explicam a razão de existência das serras<br />

moderadamente deformadas ou tabulares que caracterizam esta região<br />

(Angelucci, 2005).<br />

À situação geodinâmica complexa desta região, acrescentam-se<br />

os fenómenos de magmatismo mesozóicos <strong>do</strong> Maciço Eruptivo de Sintra<br />

e meso-cenozóicos <strong>do</strong> Complexo Vulcânico de Lisboa. O Maciço Eruptivo<br />

de Sintra é um complexo intrusivo que penetrou os calcários margosos e<br />

calcários <strong>do</strong> Jurássico Superior e Cretácico e que é constituí<strong>do</strong> por um<br />

núcleo sienítico envolvi<strong>do</strong> por um anel granítico e um outro gabrodiorítico<br />

descontínuo (Ramalho et al., 1993). Por outro la<strong>do</strong>, O Complexo<br />

Vulcânico de Lisboa (antigamente denomina<strong>do</strong> “Complexo Vulcânico de<br />

Lisboa-Mafra”) formou-se durante o Cretácico Superior (na Idade/Andar<br />

<strong>do</strong> Senoniano), e a sua génese relaciona-se com o conjunto de fenómenos<br />

geológicos que caracterizaram esta região nas fases finais <strong>do</strong> Mesozóico e<br />

no início <strong>do</strong> Terciário, mais concretamente com as manifestações<br />

eruptivas que deram origem ao Maciço Eruptivo de Sintra, com uma série<br />

de fenómenos associa<strong>do</strong>s de metamorfismo de contacto nas rochas<br />

encaixantes e com a geração de vulcanismo de uma intrincada rede<br />

filoniana. Esta última é principalmente representada, na região de Mafra,<br />

por materiais de composição basáltica e <strong>do</strong>lerítica, com presença<br />

ocasional de traquitos e traqui-basaltos (Ribero & Ramalho, 1997;<br />

Angelucci, 2005).<br />

365


<strong>3.</strong>1.2. – A litologia envolvente <strong>do</strong> <strong>Pene<strong>do</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>Lexim</strong><br />

Datadas <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> cretácico, as rochas que circundam o <strong>Lexim</strong><br />

são essencialmente carbonatadas, ou mistas – carbonatada-terrígena<br />

(Ramalho et al, 1993). Se quisermos enumerar, em sequência litológica<br />

descendente, as diferentes rochas que circundam a chaminé basáltica,<br />

deparamo-nos com a seguinte ordem estratigráfica: Calcários com<br />

Rudistas e com Neolobites vibrayeanus, <strong>do</strong> Cenomaniano superior (C3C);<br />

Calcários compactos e nodulares, com abundantes fósseis, bem<br />

estratifica<strong>do</strong>s e com margas ocasionais – daqui são extraí<strong>do</strong>s os calcários<br />

utiliza<strong>do</strong>s para construção e ornamento (Lioz); Calcários e margas <strong>do</strong><br />

Albiano-Cenomaniano inferior e médio (“Belasiano” - C2AC); Camadas<br />

de Almargem com argilas e arenitos (Aptiano superior - C1AS) –<br />

formação detrítica continental constituída por argilas, arenitos<br />

conglomera<strong>do</strong>s de cor variável (grés superiores) 6 .<br />

<strong>3.</strong>1.<strong>3.</strong> O <strong>Pene<strong>do</strong></strong> basáltico <strong>do</strong> <strong>Lexim</strong><br />

Se simplificássemos a explicação morfológica <strong>do</strong> PL, e lhe<br />

quiséssemos arranjar uma curta definição geológica, podíamos<br />

perfeitamente chamar-lhe chaminé vulcânica de basalto, estrutura<strong>do</strong> em<br />

disjunções colunares prismáticas – correctamente, o termo de disjunção<br />

colunar prismática deve ser utiliza<strong>do</strong> para referir formações de prismas<br />

hexagonais ou pentagonais – derivadas da contracção térmica da massa<br />

rochosa durante o seu arrefecimento (Brilha et al, 1998) 7 . Mas a realidade<br />

transcende essa simples classificação. <strong>Uma</strong> das características que confere<br />

ao PL a particularidade geológica própria é o facto da sua composição<br />

vulcânica estar rodeada de materiais calcários. Esta diferença oferece à<br />

elevação basáltica <strong>do</strong> <strong>Lexim</strong>, não uma personalidade distinta – como<br />

outros autores experimentam arriscar – mas, seguramente, um papel de<br />

destaque no meio-ambiente em que se insere, e no meio <strong>do</strong> relevo<br />

preferencialmente aplana<strong>do</strong> que a rodeia. É esta característica litológica,<br />

que particulariza o <strong>Pene<strong>do</strong></strong>, que determina a sua maior resistência aos<br />

elementos erosivos (dureza <strong>do</strong> basalto e sua insolubilidade) e o torna<br />

capaz de conservar a sua morfologia sobressaliente. Embora o basalto,<br />

6 Ver excerto de mapa geológico 1:50000 (Almeida, 1986) em anexo.<br />

7 As análises geo-químicas evidenciam que “o afloramento <strong>do</strong> <strong>Pene<strong>do</strong></strong> de <strong>Lexim</strong> representa<br />

[...] uma porção <strong>do</strong> preenchimento da conduta vertical <strong>do</strong> antigo aparelho vulcânico (com 30 m<br />

de diâmetro) que terá solidifica<strong>do</strong> em profundidade (2000 m)” (Brilha et al, 1998: 1).<br />

366


desde a altura da sua formação, tenha si<strong>do</strong> entretanto erodi<strong>do</strong>, perden<strong>do</strong><br />

grande parte da sua altitude original, a erosão actuou de mo<strong>do</strong> diferencial<br />

nos componentes geológicos da região e assegurou o destacamento<br />

altimétrico <strong>do</strong> PL em relação à paisagem envolvente 8 .<br />

Fig. 1 – Pormenor da disjunção colunar proismática <strong>do</strong> PL (Foto: João A. Gomes).<br />

Se formos criteriosos na definição <strong>do</strong>s componentes <strong>do</strong> material<br />

rochoso, então temos de dizer que o material que compõe o PL é uma<br />

basalto alcalino ou mais precisamente um tefrito, que possui uma textura<br />

“porfirítica com fenocristais de olivina, piroxena e ulvospinela, com uma<br />

matriz de microcristais de olivina, piroxena, ulvospinela e plagioclase aos<br />

quais se associam minerias hidrata<strong>do</strong>s nas fases finais <strong>do</strong> processo de<br />

cristalização fraccionada” (Brilha et al, 1998: 1).<br />

O <strong>Pene<strong>do</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>Lexim</strong>, a par de outros outeiros da área que se<br />

originaram a partir de antigos vulcões (por exemplo, o Cabeço <strong>do</strong> Cartaxo<br />

e a Serra <strong>do</strong> Funchal perto de Alcainça) corresponde a um resíduo de uma<br />

antiga chaminé vulcânica. Este afloramento basáltico <strong>do</strong> <strong>Lexim</strong> faz parte<br />

de um grupo de outros afloramentos, elementos vulcânicos mais ou<br />

menos homogéneos, presentes na região de Mafra, Malveira, Alcainça e<br />

Cheleiros, com disposição radiada em volta da massa de rocha gabroide<br />

8<br />

Segun<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s actuais, o <strong>Pene<strong>do</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>Lexim</strong> terá perdi<strong>do</strong> cerca de 2000 metros da sua<br />

altitude original.<br />

367


(já definida na bibliografia como “mafraito”) de Mafra (Zbyszewski &<br />

Moitinho de Almeida, 1961). Das datações radiométricas que se fizeram<br />

para o basalto <strong>do</strong> <strong>Pene<strong>do</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>Lexim</strong>, sabe-se que a sua idade é de 55 ± 18<br />

milhões de anos (Matos Alves et al, 1980).<br />

Os prismas <strong>do</strong> <strong>Pene<strong>do</strong></strong> são geralmente verticais ou sub-verticais e<br />

a disjunção prismática é descontínua e alternada com sectores da massa<br />

rochosa maciça que apresenta outra organização e/ou estrutura.<br />

No próprio PL e nas vertentes que ligam o afloramento basáltico<br />

à peneplanície circundante não foram observadas litologias diferentes da<br />

<strong>do</strong> basalto.<br />

<strong>3.</strong>2. Contextualização geomorfológica <strong>do</strong> <strong>Pene<strong>do</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>Lexim</strong><br />

<strong>3.</strong>2.1. A Plataforma Litoral<br />

A Plataforma Litoral a Norte da Serra de Sintra, também<br />

conhecida com “Plataforma de S. João das Lampas” (Ribeiro et al., 1979) é<br />

de uma forma geral, e <strong>do</strong> ponto de vista morfológico, aplanada. A zona<br />

envolvente <strong>do</strong> <strong>Pene<strong>do</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>Lexim</strong>, <strong>Pene<strong>do</strong></strong> esse inseri<strong>do</strong> nessa Plataforma de<br />

S. João das Lampas, apresenta uma ampla superfície de aplanamento. Esta<br />

superfície está inserida na região da Estremadura. Essa plataforma é<br />

interpretada como ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> derivada das acções de abrasão marinha<br />

(Ribero & Ramalho, 1997) é afeiçoada em rochas sedimentares. Considerase<br />

que a plataforma é erosiva por ser uma superfície de aplanamento:<br />

observa-se a discordância angular existente entre as camadas de rocha<br />

inferiores e a própria superfície (enquanto, nas superfícies estruturais, a<br />

topografia é paralela às rochas debaixo da superfície).<br />

Esta característica litológica insere-se na composição geral da<br />

Cobertura detrítica da Plataforma Litoral Portuguesa a norte de Sintra.<br />

Caracterizada por sedimentos de cobertura “essencialmente arenosos e<br />

conglomeráticos” (Azeve<strong>do</strong>, Freitas, e Figueiras, 1992, p. 1) de constituição<br />

deposicional detrítica, a Plataforma Litoral Portuguesa a norte de<br />

Sintra terá, em tempos, si<strong>do</strong> uniforme e contínua – agora só se encontram<br />

vestígios detríticos nos interflúvios de elevação mais alta, uma vez que o<br />

progressivo encaixe da rede fluvial deverá ter desgasta<strong>do</strong> a anterior<br />

cobertura, e erodi<strong>do</strong> os seus componentes detríticos ao longo <strong>do</strong>s cursos<br />

fluviais.<br />

De uma forma muito genérica, a plataforma litoral a norte de<br />

Sintra é aplanada – contu<strong>do</strong>, aquan<strong>do</strong> da comparação de cotas <strong>do</strong>s<br />

interflúvios na plataforma (entenda-se Plataforma Litoral Portuguesa a<br />

368


norte de Sintra), observam-se disparidades nos seus valores só explicáveis<br />

através de movimentos tectónicos recentes (está ainda sujeita, actualmente<br />

a levantamento tectónico regional, a fenómenos de actividade<br />

neotectónica e a actividade sísmica – Cabral, 1995), e de fenómenos de<br />

erosão diferencial <strong>do</strong>s cursos de água que actuam, de forma distinta,<br />

consoante a resistência ao processo de erosão das litologias componentes<br />

da região.<br />

As praias marinhas, “representadas actualmente pelos níveis 50-<br />

80m de Magoito...”, que, para além de bem vincadas, contém “calhaus de<br />

quartzito [...] com o córtez de alteração inexistente nos calhaus da<br />

superfície superior” (Azeve<strong>do</strong> et al, 1992, p. 7), ter-se-ão forma<strong>do</strong> depois<br />

da súbita dissecação e consequente erosão da cobertura detrítica da<br />

Plataforma. Ao passo que as principais ribeiras que drenam a região – rio<br />

Sizandro e ribeira de Alcabrichel – instalam-se depois, com a formação de<br />

terraços fluviais nos quais estavam calhaus de quartzito<br />

sedimentologicamente idênticos aos da plataforma litoral.<br />

Fig. 2 – Perfil topográfico com orientação NNE-SSW<br />

da Plataforma Litoral a Norte de Sintra, segun<strong>do</strong> Dias, 1980.<br />

<strong>3.</strong>2.2. O relevo circundante <strong>do</strong> <strong>Pene<strong>do</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>Lexim</strong><br />

Como já referimos anteriormente, a morfologia circundante <strong>do</strong><br />

PL é tendencialmente aplanada. Se não contarmos com os <strong>Pene<strong>do</strong></strong>s<br />

basálticos que se erguem acima <strong>do</strong>s 200 metros, poderemos ver uma<br />

dispersão uniforme de altimetrias num relevo pouco variável, só<br />

interrompida pelas linhas de água.<br />

Esses cursos de água, que nunca devem ter ti<strong>do</strong> uma erosão e um<br />

transporte de sedimentos muito competentes, apresentam, de um mo<strong>do</strong><br />

geral, um caudal estreito em talvegues pouco profun<strong>do</strong>s.<br />

Consequentemente, as vertentes que confluem para as linhas de água, são<br />

369


também elas pouco inclinadas, e, à excepção de um ou outro valeiro que<br />

possa ter o fun<strong>do</strong> de vale em [V], nunca impossibilitam a passagem<br />

pedestre para margens opostas.<br />

Os interflúvios, por sua vez, e embora possuam nos seus topos<br />

alguma planimetria, são ligeiramente convexos. Esta característica é<br />

assegurada pelas vertentes pouco inclinadas que se desenvolvem de uma<br />

maneira suave e gradual até à sua base, apresentan<strong>do</strong> de um mo<strong>do</strong> geral<br />

um perfil que alterna entre o rectilíneo-côncavo e o côncavo-rectinlíneo.<br />

<strong>3.</strong><strong>3.</strong> Interpretações paisagísticas e territoriais<br />

A Ribeira de Cheleiros [...] é uma horrível linha da água [...] A sua utilidade em<br />

irrigação é anedótica, a benfeitoria que provoca aos terrenos é mínima [...].<br />

<strong>3.</strong><strong>3.</strong>1. Utilização pré-histórica <strong>do</strong>s solos e <strong>do</strong> território<br />

(Gonçalves, 1998, in Sousa, 1998, p. 4)<br />

Apesar de ser complica<strong>do</strong> definir um espaço natural de há 5000<br />

anos atrás para a zona de Mafra, e mais concretamente para a zona<br />

envolvente <strong>do</strong> PL, o que podemos afirmar é que esse espaço não possuiria<br />

certamente uma morfologia muito diferente da actual. E embora a<br />

dispersão e distribuição fluvial actual naquele espaço geomorfológico não<br />

seja também ela muito diferente da altura, se pensarmos que já tínhamos<br />

passa<strong>do</strong> pela máxima transgressão flandriana e que o nível médio <strong>do</strong> mar<br />

teria fica<strong>do</strong> aproximadamente estável (Daveau, 1980), a situação climática<br />

não terá sofri<strong>do</strong> grandes alterações, embora “[...] o espaço da Península de<br />

Lisboa no <strong>3.</strong>º milénio [tenha si<strong>do</strong>] provavelmente marca<strong>do</strong> por um clima<br />

mais húmi<strong>do</strong> e mais quente que o actual [...]” (Sousa, 1998, p. 39).<br />

Mas porque razão podemos nós afirmar que a morfologia desta<br />

região não terá si<strong>do</strong> muito diferente da actual? O que podemos constatar,<br />

como veremos de seguida, é que não encontrámos razões que indiciassem<br />

o contrário. “No entanto, a paisagem de Portugal [e consequentemente da<br />

região da Península de Lisboa] transformou-se, sem dúvida, muito<br />

nalguns milhares de anos pela intervenção humana se ter torna<strong>do</strong> cada<br />

vez mais profunda e generalizada. (Daveau, 1980, p. 18).<br />

Assim, terá si<strong>do</strong> a cobertura vegetal modificada pela acção<br />

humana, e não esqueçamos que já estávamos perante comunidades que<br />

370


desempenhavam actividades agrícolas, que contribuiu para algum tipo<br />

de mudança <strong>do</strong> ambiente em que se inseria – influencian<strong>do</strong> a trajectória<br />

de cursos de água, procedeu, indirectamente, a novos ritmos de<br />

sedimentação e erosão e, por conseguinte, os climas e microclimas da<br />

região (Daveau, 1980). Mas será essa uma razão suficiente para afirmar<br />

que houve de facto alteração da paisagem?<br />

Os solos em volta <strong>do</strong> <strong>Pene<strong>do</strong></strong>, localiza<strong>do</strong>s na plataforma de S. João<br />

das Lampas, apresentam, actualmente, uma capacidade agrícola<br />

relativamente boa, com uma composição química favorável para o<br />

cultivo. Os declives das vertentes são pouco acentua<strong>do</strong>s, e, embora os<br />

recursos hídricos nem sempre estejam disponíveis (observámos no campo<br />

que muitos deles só estão activos na altura das chuvas), os cursos de água<br />

permanentes correm em vales encaixa<strong>do</strong>s de altitude marcadamente<br />

inferior. Assim sen<strong>do</strong>, os solos situa<strong>do</strong>s nos fun<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s vales terão si<strong>do</strong>,<br />

seguramente, mais apropria<strong>do</strong>s para a exploração agrícola, ten<strong>do</strong> maior<br />

disponibilidade de água e, consequentemente, de matéria orgânica.<br />

Poder-se-á dizer que, em princípio, parte <strong>do</strong>s terrenos da<br />

Plataforma de S. João das Lampas terão verifica<strong>do</strong> uma maior exploração<br />

pecuária e/ou pastorícia, e que, por outro la<strong>do</strong>, as actividades agrícolas e<br />

hortícolas deverão ter encontra<strong>do</strong> a sua actividade em solos mais aptos<br />

nos fun<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s vales.<br />

Julgamos, por isso, que a organização actual da paisagem<br />

envolvente <strong>do</strong> PL é semelhante à que existiu durante a ocupação préhistórica<br />

<strong>do</strong> sítio. No entanto, os tipos de solos actuais não reflectem a<br />

organização em idade pré-histórica, porque uma parte significativa <strong>do</strong>s<br />

solos terá si<strong>do</strong> erodida a partir <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> da ocupação <strong>do</strong> <strong>Pene<strong>do</strong></strong> até<br />

hoje. Os da<strong>do</strong>s ainda são incompletos para reconstituir quan<strong>do</strong> e como<br />

actuou esta erosão, mas o que se pode afirmar é que parte dela tenha si<strong>do</strong><br />

o resulta<strong>do</strong> da acção humana no território e <strong>do</strong> impacto subsequente, que<br />

se intensificou a partir <strong>do</strong> Neolítico final. Com os novos hábitos de<br />

exploração <strong>do</strong>s solos, estas comunidades notável e progressivamente<br />

mais agrícolas, terão contribuí<strong>do</strong>, voluntáriamente ou não, para um certo<br />

tipo de erosão da paisagem.<br />

Ainda assim esse processo erosivo não terá si<strong>do</strong> muito<br />

significativo, julgamos nós. “Os flancos mais íngremes <strong>do</strong>s vales terão<br />

si<strong>do</strong> manti<strong>do</strong>s na sua condição original - ocupa<strong>do</strong>s por vegetação natural<br />

e com intervenções humanas limitadas - garantin<strong>do</strong> assim refúgio às<br />

espécies terrestres selvagens que constituíam um recurso básico alimentar<br />

através da caça. O mesmo seja dito pela recolecção de frutos, rebentos,<br />

371


aízes, bagas, etc.” (Angelucci, 2005 – Texto da exposição arqueológica <strong>do</strong><br />

Complexo Cultural Quinta da Raposa).<br />

<strong>3.</strong><strong>3.</strong>2. Da<strong>do</strong>s observa<strong>do</strong>s: Constatações ou rejeições?<br />

A região litoral da Estremadura Sul para Norte da Serra de Sintra<br />

apresenta, à escala pequena, uma situação relativamente simples,<br />

representada por uma ampla superfície de erosão que degrada para o<br />

Oceano Atlântico.<br />

A “Plataforma de S. João das Lampas” (Ribeiro et al., 1979) é,<br />

como já vimos, uma superfície muito ampla, de origem erosiva (como se<br />

pode averiguar pela discordância angular existente entre as camadas de<br />

rocha e a própria superfície), que foi interpretada, como estan<strong>do</strong><br />

relacionada com a acção de abrasão marinha. Para leste, a plataforma<br />

apresenta-se mais articulada pela existência de relevos residuais de<br />

origem vulcânica (como o próprio <strong>Pene<strong>do</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>Lexim</strong>) e cristas convexas<br />

em calcário ou arenito.<br />

<strong>3.</strong><strong>3.</strong>2.1. Observações para o caso da morfologia <strong>do</strong> <strong>Pene<strong>do</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>Lexim</strong><br />

Foi no campo que pudemos observar aquilo que já tinhamos<br />

estuda<strong>do</strong> anteriormente. Isto é, que o <strong>Pene<strong>do</strong></strong> basáltico <strong>do</strong> <strong>Lexim</strong> se<br />

apresentava como forma de relevo residual, uma vez que apesar de ter<br />

si<strong>do</strong> fortemente erodi<strong>do</strong> na altura da formação da Plataforma de S. João das<br />

Lampas, sobreviveu à erosão total e manteve a sua saliência.<br />

O <strong>Pene<strong>do</strong></strong> basáltico <strong>do</strong> <strong>Lexim</strong>, sen<strong>do</strong> muito mais resistente à<br />

erosão que os restantes componentes litológicos envolventes, é<br />

considera<strong>do</strong> uma forma de relevo estrutural não activo (aquilo que os<br />

Geomorfólogos frequentemente apelidam de morfolitologia construtiva). É<br />

por isso uma forma de relevo estrutural passiva de erosão selectiva.<br />

<strong>3.</strong><strong>3.</strong>2.2. Observações para o caso da morfologia envolvente<br />

Também já referimos que os interflúvios se apresentam como<br />

cristas de forma convexa, com vertentes pouco inclinadas. O que ainda<br />

não interpretámos foi a razão dessa formação.<br />

Ao longo <strong>do</strong>s diversos dias em que andámos a caracterizar o<br />

relevo da área referida, tivemos oportunidade de compreender que a<br />

morfologia que se manifesta em torno <strong>do</strong> <strong>Pene<strong>do</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>Lexim</strong> reflete um<br />

372


processo de erosão claramente evidencia<strong>do</strong> que foi o perío<strong>do</strong> de formação<br />

da Plataforma litoral. Por outro la<strong>do</strong>, pudemos observar a morfologia<br />

convexa <strong>do</strong>s interflúvios, facto que nos surpreendeu ligeiramente.<br />

Fig. 3 – Crista calcária convexa <strong>do</strong> belasiano. (Foto de João A. Gomes).<br />

Alguns estu<strong>do</strong>s que falam sobre o fenómeno marinho erosivo que<br />

terá forma<strong>do</strong> a Plataforma de S. João das Lampas, sugerem que depois desse<br />

episódio o clima terá estabiliza<strong>do</strong> e os processos erosivos terão perdi<strong>do</strong><br />

grande parte da sua acção. Na verdade, e segun<strong>do</strong> as nossas observações<br />

no campo, essa informação está parcialmente correcta, pelo menos no que<br />

concerne ao clima.<br />

No entanto, se atendermos aos processos erosivos actuantes na<br />

região, posteriores à formação da superfície de aplanamento que é a<br />

Plataforma de S. João das Lampas, já não se pode dizer que eles não se<br />

tenham feito sentir. Senão vejamos: se o processo de erosão de vertentes<br />

não se tivesse verifica<strong>do</strong>, a convexidade das cristas calcárias analisadas<br />

não existiria, e estaríamos perante interflúvios achata<strong>do</strong>s, com vertentes<br />

mais inclinadas, e, possivelmente de perfil rectilíneo-côncavo. Contu<strong>do</strong>, e<br />

373


uma vez que o que pudemos constatar nessas vertentes foi a sua<br />

configuração de perfil côncavo-rectilíneo que conferem um aspecto geral<br />

côncavo aos interflúvios, deduzimos justamente o contrário – houve de<br />

facto erosão de vertentes, e o tempo que separa esse processo erosivo não<br />

terá si<strong>do</strong> muito longínquo <strong>do</strong> actual.<br />

Nessa conformidade, e ten<strong>do</strong> a erosão das vertentes funciona<strong>do</strong><br />

num mecanismo de afeiçoamento, podemos afirmar que embora o<br />

processo erosivo desta região não se tenha feito sentir de maneira tão<br />

intensa nunca ele terá deixa<strong>do</strong> de actuar nas vertentes.<br />

Para além disso, o facto da convexidade das cristas calcárias se<br />

orientar em direcção da rede hidrográfica actual, e não em direcção à<br />

linha de costa – como seria de esperar se estivessemos perante um estágio<br />

de erosão mais antigo 9 – faz com que concluamos que a erosão de<br />

vertentes não tenha si<strong>do</strong> feita há tanto tempo como se pensava. Talvez até<br />

possamos afirmar que terá si<strong>do</strong> feita numa fase muito próxima da actual.<br />

Fig 4 – Esquema de processo de erosão regressiva da foz para a cabeceira e nivelamento de<br />

perfil longitundinal da linha de curso de água. Adapta<strong>do</strong> de Strahler(1969) por J.A.Gomes.<br />

[...] En general, el perfil longitudinal típico es cóncavo hacia arriba y el gradiente<br />

se aplana tanto más gradualmente cuanto mayor<br />

es la proximidad a la desembocadura del río.<br />

374<br />

(Strahler, 1969, p. 416)<br />

9 O perfil longitudinal da linha de curso de água acompanha o nível médio <strong>do</strong> mar, e vai<br />

sen<strong>do</strong> nivela<strong>do</strong> à medida que o processo de erosão regressiva da foz para a cabeceira vai<br />

evoluin<strong>do</strong>.


Se porventura o nível médio <strong>do</strong> mar tivesse desci<strong>do</strong>, os cursos de<br />

água tê-lo-iam acompanha<strong>do</strong> e teriam acelera<strong>do</strong> o processo erosivo das<br />

vertentes 10 . Se assim fosse, estaríamos hoje a abordar morfologias de<br />

vertente bastante diferentes destas, com uma inclinação seguramente<br />

mais pronunciada. Para além disso, outra realidade que provavelmente<br />

confirmaríamos seria a orientação da inclinação <strong>do</strong>s declives em direcção<br />

à costa (Coque, 1977).<br />

Mas como o nível médio <strong>do</strong> mar se manteve estável até agora, e<br />

essa manutenção terá si<strong>do</strong> assegurada, certamente, por uma estabilização<br />

climática, o perfil longitudinal da linha de curso de água ter-se-á<br />

processa<strong>do</strong> de uma maneira gradual e lenta e não terá ti<strong>do</strong>, até agora,<br />

razões para intensificar o seu nivelamento.<br />

Claro que hoje em dia não observamos quaisquer formas de<br />

erosão activas, pelo que podemos afirmar que essas tais cristas estão<br />

estáveis – ou não fossem os factores de estabilidade climática, que dão<br />

origem a uma cobertura vegetal quase contínua às vertentes, a ausência<br />

de movimentações tectónicas, e o actual e limita<strong>do</strong> impacte de acção<br />

antrópica, funcionar como mecanismos de estabilização daquelas<br />

realidades geomorfológicas<br />

Posto isto, e de acor<strong>do</strong> com o que pudemos inferir das<br />

observações de campo, arriscamo-nos na interpretação paisagística e<br />

<strong>paleoambiental</strong> de que a área envolvente <strong>do</strong> <strong>Pene<strong>do</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>Lexim</strong> não terá<br />

sofri<strong>do</strong> uma grande alteração, nem a sua expressão geomorfológica terá<br />

si<strong>do</strong> afectada por uma mudança manifestamente evidente.<br />

4. A questão <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio visual da paisagem<br />

Por diversas ocasiões pudemos ter o privilégio de usufruír das<br />

vistas panorâmicas que os topos <strong>do</strong>s pene<strong>do</strong>s por onde passamos tinham<br />

para oferecer. Foi daí que apreciámos a paisagem geral e comprovámos<br />

aquele termo frequentemente utiliza<strong>do</strong> em manuais de arqueologia<br />

referentes aos perío<strong>do</strong>s Neolítico Final e Calcolítico – o conceito de<br />

estratégia de visibilidade.<br />

Nunca quisemos, verdade seja dita, abordar esse tema de uma<br />

forma sistemática, até porque estávamos mais empenha<strong>do</strong>s na descrição<br />

da paisagem <strong>do</strong> que propriamente na interpretação de uma eventual<br />

10<br />

Temos que atender para o facto de que a Gravidade é a principal força de energia desse<br />

mecanismo pertencente ao Sistema Morfogenético Fluvial.<br />

375


escolha voluntária de estabelecimento em elevações naturais, por parte<br />

<strong>do</strong>s povos que possam ter habita<strong>do</strong> os locais cimeiros de uma região<br />

tendencialmente aplanada. Sen<strong>do</strong> assim, não entraremos em discussões<br />

de razão interpretativa.<br />

4.1. O conceito de visibilidade<br />

“O conceito ‘estratégia de visibilidade’ (Cria<strong>do</strong> Boa<strong>do</strong>, 1998) não<br />

se aplica uniformemente à globalidade <strong>do</strong> registo arqueológico, já que<br />

depreende a existência de uma escolha deliberada e/ou presença de<br />

atitudes reconhecíveis” (Gonçalves et al, 1996, p. 25).<br />

O que, no entanto, podemos afirmar é que os sítios mais altos<br />

desta região dispõem de um <strong>do</strong>mínio visual panorâmico, e, em dias de<br />

melhor visibilidade, de qualquer um <strong>do</strong>s pene<strong>do</strong>s que já referimos<br />

(Funchal, Cartaxos, Alcaínça, Jarmeleira, <strong>Lexim</strong>...) se pode observar os<br />

outros, e até mesmo a Serra de Sintra.<br />

Fig. 5 – Vista panorâmica para SW, a partir <strong>do</strong> <strong>Pene<strong>do</strong></strong> da Alcaínça.<br />

Foto de Diego Angelucci.<br />

Destes sítios cimeiros são também constatáveis os<br />

escalonamentos de percepção visual referi<strong>do</strong>s em diversas obras que se<br />

debruçam sobre o tema: até 500 metros – curta distância; de 500 a 1000<br />

metros – média distância; + de 1000 metros – longa distância. “Este<br />

escalonamento é aplica<strong>do</strong> às áreas vistas, mas poderão ter existi<strong>do</strong><br />

elementos que as alterassem no que se refere ao reconhecimento de um<br />

ponto concreto: a colocação de sinais [...]” (Gonçalves et al, 1996, p. 26).<br />

376


Sem querer enveredar por caminhos de estu<strong>do</strong> extrapaisagísticos,<br />

devemos, porém, concordar com os autores que afirmam<br />

que o <strong>Pene<strong>do</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>Lexim</strong> não há-de ter si<strong>do</strong> habita<strong>do</strong> por uma razão<br />

meramente casual. A escolha ponderada <strong>do</strong> sítio eleva<strong>do</strong>, terá<br />

necessáriamente pesa<strong>do</strong> na decisão...<br />

...Houve certamente uma razão estratégica de opção de<br />

implantação, mesmo que o motivo tenha si<strong>do</strong> força<strong>do</strong> por factores<br />

exógenos mais fortes que aqueles puramente opcionais.<br />

5. A questão <strong>do</strong>s recursos naturais disponíveis<br />

Outra das nossas preocupações residiu na inventariação <strong>do</strong>s<br />

principais focos de matérias-primas que sabemos terem si<strong>do</strong> utilizadas no<br />

sítio <strong>do</strong> <strong>Pene<strong>do</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>Lexim</strong>, devi<strong>do</strong> às referências nos relatórios<br />

arqueológicos e às publicações <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s interpretativos <strong>do</strong> sítio.<br />

As matérias-primas encontradas no sítio arqueológico <strong>do</strong> <strong>Pene<strong>do</strong></strong><br />

<strong>do</strong> <strong>Lexim</strong> que eram normalmente utilizadas para o fabrico de artefactos e<br />

utensílios (o sílex e o quartzo, o anfibolito, a fibrolite, etc.), não se<br />

inseriram nesta pesquisa, uma vez que sabemos que não são de origem<br />

local. “ O carácter exógeno desta matéria-prima, e o valor funcional <strong>do</strong>s<br />

artefactos fabrica<strong>do</strong>s sobre esta, tem si<strong>do</strong> uma das mais óbvias provas das<br />

importantes trocas supra-regionais entre a Península de Lisboa e o<br />

Alentejo” (Sousa, 1998, p. 75). Por outro la<strong>do</strong>, embora o chert possa ter<br />

origem regional, nenhuma destas matérias-primas pode ser encontrada<br />

na área envolvente <strong>do</strong> <strong>Pene<strong>do</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>Lexim</strong>, num plano local, portanto 11 .<br />

Procurámos, isso sim, registar as fontes de material rochoso<br />

diferente <strong>do</strong> basalto que compõe o <strong>Pene<strong>do</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>Lexim</strong>, que foram<br />

utilizadas na complementarização <strong>do</strong>s suportes construtivos de<br />

estruturas (o calcário com rudistas conheci<strong>do</strong> como “Lioz”) e na utilização<br />

de suportes de apoio aos hábitos quotidianos de alimentação (<strong>do</strong>rmente<br />

de micro-conglomera<strong>do</strong>).<br />

Assim, registámos <strong>do</strong>is locais de afloramento daquelas matériasprimas<br />

que procurávamos. O micro-conglomera<strong>do</strong> constatámos que<br />

aflorava ± a 3,5 km <strong>do</strong> <strong>Pene<strong>do</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>Lexim</strong>, e o calcário <strong>do</strong> Lioz aflorava<br />

justamente na vertente sul <strong>do</strong> <strong>Pene<strong>do</strong></strong> (ver anexos – Localização <strong>do</strong>s<br />

afloramentos de matéria-prima).<br />

11 Segun<strong>do</strong> João Zilhão, as jazidas de Sílex na Extremadura Portuguesa mais próximas <strong>do</strong><br />

<strong>Pene<strong>do</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>Lexim</strong> são as de Caixeiros e Campolide (Zilhão, 1995). No entanto, recentes<br />

prospecções levadas a cabo por Aubry e por Shokler, detectaram diversos outros locais de<br />

afloramento na região de Lisboa e Rio Maior.<br />

377


6. Discussão<br />

Estamos convenci<strong>do</strong>s que para realizar um estu<strong>do</strong> interpretativo<br />

de arqueologia pré-histórica, seja ela antiga ou recente, são necessárias<br />

inúmeras premissas de análise. É necessária uma abordagem que incida<br />

sobre várias vertentes e distintas problemáticas – chegan<strong>do</strong> a ser<br />

fundamental que uma interligação desses vários aspectos seja<br />

assegurada. Queremos com isto dizer que, na nossa opinião, a melhor<br />

solução para uma interpretação abrangente de um sítio arqueológico será<br />

aquela que reunir da<strong>do</strong>s sobre o sítio arqueológico propriamente dito,<br />

sobre a possível interligação local com outros pólos de povoamento e /ou<br />

habitat, e sobre o papel que esse sítio possa ter desempenha<strong>do</strong> num plano<br />

regional alarga<strong>do</strong>. Não podemos estudar a Pré-história ofuscan<strong>do</strong> a<br />

necessidade de relacionar várias visões, e, para sermos mais precisos,<br />

vários locais e regiões.<br />

Grande parte <strong>do</strong>s sítios de habitat, seja ela de que ordem for, é<br />

caracterizada por elementos singulares de estabelecimento, por funções<br />

particulares e definidas, que poderão ter desempenha<strong>do</strong> papéis concretos<br />

consoante a estação. O que não se deve é elaborar um estu<strong>do</strong> de préhistória<br />

partin<strong>do</strong> da análise de um só sítio para querer alcançar uma<br />

interpretação geral sobre uma rede de povoamentos. Isso seria o mesmo<br />

que encontrar uma moeda, e inferir um tesouro.<br />

Relacionar e generalizar demasia<strong>do</strong> a <strong>leitura</strong> global,<br />

desvalorizan<strong>do</strong> as características que possam conferir a um sítio a sua<br />

característica fundamental – o ambiente envolvente em que se insere –<br />

também pode ser, por outro la<strong>do</strong>, um erro precipita<strong>do</strong>. Há que relacionar<br />

semelhanças, caracterizan<strong>do</strong> as diferenças.<br />

Foi com base nestas premissas, e porque tivemos oportunidade<br />

de poder abordar um sítio cujos trabalhos arqueológicos nunca<br />

descuidaram tais pressupostos meto<strong>do</strong>lógicos, que a Leitura<br />

Geoarqueológica <strong>do</strong> <strong>Pene<strong>do</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>Lexim</strong> se desenvolveu.<br />

Muito longe de querer ser um estu<strong>do</strong> interpretativo de<br />

Arqueologia pré-histórica, este trabalho quer reconhecer a necessidade de<br />

existência simbiótica de temáticas multi-disciplinares e constituir-se como<br />

um váli<strong>do</strong> contributo na visão panorâmica da arqueologia.<br />

Com este estu<strong>do</strong>, procuramos complementar e enriquecer o<br />

estu<strong>do</strong> arqueológico <strong>do</strong> <strong>Pene<strong>do</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>Lexim</strong>, fazen<strong>do</strong> uso da <strong>leitura</strong><br />

geoarqueológica.<br />

378


Os problemas<br />

“A utilização ‘clássica’ de uma delimitação de um território<br />

teórico com um raio de 5 km resulta aqui apenas num dispositivo de<br />

análise da área envolvente, não pretenden<strong>do</strong> naturalmente revestir-se de<br />

valor interpretativo” (Gonçalves et al, 1996, p. 37). Foi precisamente esta,<br />

uma das linhas que mais influenciou a nossa investigação. Não quisemos<br />

interpretar o sítio arqueológico. Quisemos enriquecer o seu estu<strong>do</strong>.<br />

Um <strong>do</strong>s problemas iniciais deste trabalho, incidiu justamente na<br />

definição da área a ser coberta sob o ponto de vista de levantamento e<br />

recolha de da<strong>do</strong>s.<br />

Quan<strong>do</strong>, ao longo deste trabalho, falámos de área envolvente<br />

quisémo-nos referir ao espaço utiliza<strong>do</strong> quotidianamente pelo Homem<br />

que habitou o <strong>Pene<strong>do</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>Lexim</strong>. Isto é, à área teoricamente explorada<br />

pelos indivíduos locais que asseguravam a manutenção <strong>do</strong>s recursos<br />

básicos diários da comunidade – pesca, caça, recolha de matéria-prima<br />

local, agricultura, etc.<br />

Não quisemos, de mo<strong>do</strong> algum, abordar áreas de maior extensão,<br />

até porque, e aqui surgia outro <strong>do</strong>s problemas que pudemos constatar, o<br />

espaço que os habitantes <strong>do</strong> <strong>Pene<strong>do</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>Lexim</strong> <strong>do</strong> 5.º milénio BP<br />

utilizariam, num plano mais alarga<strong>do</strong> de trocas e intercomunicações<br />

regionais, passaria muito para além <strong>do</strong>s limites <strong>do</strong> actual concelho de<br />

Mafra. Nem o tempo nem os recursos de que dispusemos foram<br />

suficientes para tal interpretação, nem o objectivo desta investigação<br />

almejava tal <strong>leitura</strong>.<br />

Se tomarmos o exemplo da Área de Influência proposta por Ana<br />

Catarina Sousa (1998) para o <strong>Pene<strong>do</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>Lexim</strong>, concluímos que o espaço<br />

utiliza<strong>do</strong> pelos antigos habitantes <strong>do</strong> povoa<strong>do</strong> seria muito mais<br />

abrangente <strong>do</strong> que aquele por nós apelida<strong>do</strong> de área envolvente. Ao definir<br />

uma área de análise de ± 20km 2 , tencionou-se interpretar os locais teórica<br />

e provavelmente mais imediatos, que assegurassem os recursos básicos<br />

diários, e nunca os locais que abrangessem as trajectórias de exploração<br />

de recursos mais específicos (busca de matéria-prima inexistente como o<br />

sílex ou o anfiblito), e/ou trocas comerciais extra-regionais e extracomunitárias.<br />

379


Geoarchaeology is practiced at different scales [...] Furthermore, its use and practice<br />

vary according to the training of people involved and the goal of their study.<br />

(Goldberg e Macphail, 2006, p. 2).<br />

Ao optar por uma <strong>leitura</strong> geoarqueológica de um sítio arqueológico,<br />

soube-se, desde logo, que iriam surgir muitos factores adversários que<br />

poderiam comprometer o objectivo primeiro de intenção: a intepretação<br />

paisagística e <strong>paleoambiental</strong> <strong>do</strong> sítio <strong>do</strong> <strong>Pene<strong>do</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>Lexim</strong>. Talvez o<br />

primeiro desses obstáculos fosse a parca formação em geomorfologia e<br />

geologia que eu tinha (e tenho ainda). Contu<strong>do</strong>, e depois de me obrigar a<br />

aprender muitas das bases necessárias para continuar o processo de análise<br />

geoarqueológica, o obstáculo foi fican<strong>do</strong> cada vez mais transponível.<br />

Outro <strong>do</strong>s aspectos que se sabia custoso, seria o tempo disponível<br />

para elaborar o esboço geomorfológico e registar os principais<br />

afloramentos de matéria-prima utilizada no sítio arqueológico em causa.<br />

Finalmente, refere-se ainda o outro assunto que se revelou<br />

igualmente desconfortável, que foi o facto deste trabalho se constituir<br />

como estreia científica pessoal, ainda por cima elabora<strong>do</strong> num sítio de tão<br />

grande importância arqueológica.<br />

Justificadas que estão as ocasionais falhas de acuidade científica,<br />

que provavelmente figuram neste trabalho audacioso, passemos à...<br />

...Súmula das constatações<br />

O principal da<strong>do</strong> concludente que devemos afirmar, incide na<br />

interpretação <strong>paleoambiental</strong> <strong>do</strong> sítio. Por outras palavras, foi a<br />

averiguação <strong>do</strong> relevo envolvente, que nos permitiu atingir o objectivo<br />

inicial da pesquisa: a reconstituição paisagística.<br />

Temos de compreender que essa “reconstituição” <strong>paleoambiental</strong><br />

advém de um resulta<strong>do</strong> somatório de da<strong>do</strong>s exclusivamente interpreta<strong>do</strong>s<br />

no campo. Caso contrário poderíamos ter fala<strong>do</strong>, por exemplo, da flora da<br />

região naquela altura, basea<strong>do</strong>s na consulta de da<strong>do</strong>s já estuda<strong>do</strong>s e<br />

publica<strong>do</strong>s. Mas não o fizemos e essa atitude foi consciente.<br />

Assim, depois da definição exacta <strong>do</strong>s locais de afloramento de<br />

matéria-prima de calcário com rudistas e de micro-conglomera<strong>do</strong>, da<br />

descrição <strong>do</strong> litologia existente no território que definimos para este<br />

estu<strong>do</strong>, e da reconstrução em esboço geomorfológico <strong>do</strong> relevo desse<br />

espaço, concluímos que terá havi<strong>do</strong> uma estabilização climática desde o<br />

5.º milénio BP até agora.<br />

380


Para que tal afirmação pudesse ser feita, foi necessário recorrer-se<br />

a vários estu<strong>do</strong>s de evolução de relevo, uma vez que, só a partir daí é que<br />

se poderia chegar a uma conclusão de interpretação <strong>paleoambiental</strong>.<br />

Não se realizaram análises micromorfológicas de sedimentos, e<br />

<strong>do</strong>s poucos cortes estratigráficos que se puderam analisar ao longo <strong>do</strong><br />

processo de investigação de campo (e não fizemos referência à sua análise<br />

preliminar porque efectivamente não houve recursos para que o<br />

pudessemos efectuar convenientemente), só um mostrou vestígios de um<br />

paleosolo. Mas mesmo esse era pouco concludente para qualquer espécie<br />

de mais valia interpretativa.<br />

Fig. 6 – Ciclo de erosão, segun<strong>do</strong> Gilsanz, 1996.<br />

Ao observarmos a figura 7, podemos ficar com uma ideia <strong>do</strong> tipo<br />

de erosão de vertentes que actuou na área envolvente <strong>do</strong> PL, desde a<br />

formação da Plataforma de S. João das Lampas (letra A na figura), até à<br />

estabilização climática já existente nos perío<strong>do</strong>s Neolítico Final e<br />

Calcolítico (letra C na figura).<br />

Se pudessemos acrescentar ao esquema acima representa<strong>do</strong> uma<br />

letra D, que por conseguinte representaria a actualidade, o tipo de<br />

morfologia que aí estaria representa<strong>do</strong> seria sensívelmente igual, talvez<br />

com as excepções da morfologia das vertentes interfluviais, que seriam<br />

um pouco mais convexas, e da deposição de um maior número de<br />

sedimentos no fun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s vales e valeiros na zona de confluência de<br />

cursos de água.<br />

381


7. A Terminar...<br />

(... ou de como a geoarqueologia<br />

também é um meio de descoberta de novos sítios)<br />

7.1. O novo sítio arqueológico de Casal Marreiros<br />

7.1.1. Apresentação <strong>do</strong> sítio arqueológico<br />

O Sítio de Casal Marreiros, até agora desconheci<strong>do</strong>, é um sítio<br />

arqueológico inédito e foi descoberto no decurso da elaboração da<br />

primeira etapa desta investigação.<br />

Situa<strong>do</strong> na margem direita da ribeira da Laje, antes <strong>do</strong> início da<br />

inclinação da vertente, junto a um campo de lapiás, o sítio não<br />

apresentava, aparentemente, estruturas visíveis e só foi reconheci<strong>do</strong><br />

através de acha<strong>do</strong>s de superfície (indústria lítica que reunia um conjunto<br />

de três núcleos para lamelas em sílex, duas lascas também de sílex, e um<br />

percutor de quartzito).<br />

7.1.2. A descoberta <strong>do</strong> sítio e a sua localização geográfica<br />

À medida que fomos elaboran<strong>do</strong> o esboço geomorfológico para<br />

este trabalho, pusemos várias vezes a hipótese de poderem existir sítios<br />

arqueológicos que ainda não tivessem si<strong>do</strong> identifica<strong>do</strong>s.<br />

Num <strong>do</strong>s dias de saída de campo, deparámo-nos com a existência<br />

de um campo de lapiás localiza<strong>do</strong> junto ao cabeço de Marreiros. Aí, ao<br />

parar para interpretar a morfologia da paisagem e continuar a elaboração<br />

<strong>do</strong> esboço, constatámos que havia um terreno lavra<strong>do</strong> situa<strong>do</strong> justamente<br />

numa interrupção daqueles afloramentos calcários, interrupção essa que<br />

usufruía da protecção, a Leste, <strong>do</strong>s lapiás. Por outro la<strong>do</strong>, a Oeste, o facto<br />

da vertente ainda não estar suficientemente inclinada, fazia com que os<br />

processos erosivos de vertente não funcionassem competentemente sobre<br />

o terreno 12 .<br />

Assim, motiva<strong>do</strong>s pela constatação de eventuais inexistências de<br />

processos erosivos ali incidentes, prospectámos o terreno (numa área<br />

pouco maior que 10m 2 ) e pudemos confirmar a existência de materiais<br />

12 Ver Localização Geográfica <strong>do</strong> sítio no Mapa <strong>do</strong> Percurso Geoarqueológico em Anexo.<br />

382


líticos de superfície. Depois de encontrarmos três núcleos para lamelas<br />

em sílex, duas lascas também em sílex, e um percutor de quartzito,<br />

soubemos que estávamos perante um novo sítio arqueológico.<br />

7.2. O contributo da geoarqueologia para a descoberta <strong>do</strong> sítio<br />

A descoberta <strong>do</strong> sítio de Casal Marreiros, devemos dizê-lo, deve-se<br />

única e exclusivamente ao tipo de abordagem que desenvolvemos<br />

aquan<strong>do</strong> da interpretação da paisagem e <strong>do</strong> relevo envolvente <strong>do</strong> <strong>Pene<strong>do</strong></strong><br />

<strong>do</strong> <strong>Lexim</strong>.<br />

Devi<strong>do</strong> às peculiaridades da constituição geológica e geomorfológica<br />

da região, cada fase de construção <strong>do</strong> esboço de campo era<br />

caraterizada por pausas na marcha, de forma a assegurar que to<strong>do</strong>s os<br />

aspectos individualiza<strong>do</strong>s da topografia não eram despreza<strong>do</strong>s. Era com<br />

essas interrupções de caminhada, que usufruíamos <strong>do</strong> tranquilidade<br />

suficiente para ponderar eventuais acções de erosão e de acumulação de<br />

sedimentos de vertente, sedimentos esses que tão bem nós queríamos<br />

retratar no desenho da geomorfologia.<br />

Ora, foi precisamente numa dessas pausas de caminhada para<br />

interpretação detalhada <strong>do</strong> relevo que, longe de intentar práticas de<br />

prospecção, pudemos ter tempo necessário para sugerir e equacionar<br />

prováveis locais de estabelecimento, ainda que fossem de curta duração.<br />

Aprazivelmente, mas não de uma forma surpreendente,<br />

encontrámos um sítio arqueológico inédito no único local que, em toda a<br />

fase de elaboração daquele esboço, resolvemos prospectar, motiva<strong>do</strong>s, lá<br />

está, pelo alerta que a constituição geomorfológica da vertente da<br />

margem direita da ribeira da Laje tinha lança<strong>do</strong> – uma zona relativamente<br />

plana que não sofria acções relevantes de erosão de vertente (quanto<br />

muito, pequenos movimentos de reptação com pouca competência),<br />

abrigada da acção erosiva <strong>do</strong> vento e da chuva pela estrutura calcária<br />

onde o sítio de Casal Marreiros se encostava.<br />

Por isso, estamos convictos ao afirmar que este sítio arqueológico<br />

só foi descoberto devi<strong>do</strong> ao sobreaviso da <strong>leitura</strong> paisagística a que<br />

estávamos sensibiliza<strong>do</strong>s. Se não, qual seria a probilidade de encontrar<br />

um novo sítio arqueológico, numa área tão reduzida e que ainda por cima<br />

já tinha si<strong>do</strong> anteriormente prospectada por outros arqueólogos.<br />

383


Ao contrário de algumas prospecções normalmente praticadas,<br />

nas quais se aproveita o facto de um terreno estar lavra<strong>do</strong> para procurar<br />

materiais de superfície (e relembro que a maior parte delas têm uma<br />

planificação intencional subsequente), esta prospecção – se é que lhe<br />

podemos chamar prospecção, uma vez que nem era essa a nossa intenção<br />

de análise – pautou-se por acto de aproveitamento interpretativo<br />

imediato <strong>do</strong> relevo.<br />

Sublinhamos, todavia, <strong>do</strong>is aspectos muito importantes: um<br />

desses aspectos é que, verdade seja dita, aquela constatação só foi<br />

possível devi<strong>do</strong> às favoráveis condições de visibilidade <strong>do</strong> terreno que,<br />

relembramos, tinha si<strong>do</strong> lavra<strong>do</strong> há muito pouco tempo; outro aspecto a<br />

ressalvar, é o de não querermos acusar ninguém de não ter encontra<strong>do</strong> o<br />

sítio arqueológico de Casal Marreiros há mais tempo. Não esqueçamos<br />

que estamos a tratar de uma região coordenada sob o ponto de vista<br />

científico por um departamento de arqueologia extremamente sensível às<br />

questões paleoambientais e importância das abordagens geoarqueológicas.<br />

Ou não fosse este trabalho apoia<strong>do</strong> pela arqueóloga da <strong>Câmara</strong> Municipal<br />

de Mafra.<br />

Fig. 7 – Campo de Lapiás em Casal Marreiros e imagem de núcleo de sílex soterra<strong>do</strong>.<br />

(Foto: João A. Gomes).<br />

384


No que toca à possível cronologia para este sítio arqueológico,<br />

não se podem ainda promover grandes análises, até porque não se<br />

estudaram os materiais encontra<strong>do</strong>s. “A análise geoarqueológica<br />

preliminar levanta também umas questões que se prendem tanto com<br />

aspectos geomorfológicos e estratigráficos como com temas mais<br />

propriamente arqueológicos e que, em falta de análises mais<br />

aprofundadas, não é possível desvendar” (Angelucci et al, 2006). Porém, e<br />

devi<strong>do</strong> ao aparente paralelismo morfológico entre os núcleos que se<br />

encontraram em Marreiros e os que foram sen<strong>do</strong> encontra<strong>do</strong>s no <strong>Pene<strong>do</strong></strong><br />

<strong>do</strong> <strong>Lexim</strong>, pensamos que talvez possa ter si<strong>do</strong> um sítio contemporâneo<br />

das ocupações neolíticas-finais da região.<br />

Para além disso, a localização <strong>do</strong> sítio arqueológico de Casal<br />

Marreiros poderá ser também um factor preponderante na interpretação<br />

cronológica <strong>do</strong> sítio. “[...] A descoberta mais recente de modelos para o<br />

povoamento neolítico, em nichos onde era possível uma apropriação<br />

imediata de recursos aquíferos para uso quotidiano, em ligeiras<br />

plataformas ideais para as drenagens das águas de Inverno e Primavera,<br />

surgiu, porém, como um novo elemento [...]” (Gonçalves, 1996, p. 7).<br />

8. Fim<br />

Quero portanto, neste final , explicar a razão de escolha <strong>do</strong> título<br />

<strong>do</strong> trabalho – Leitura Paleoambiental. Para lhe ter chama<strong>do</strong> análise, teria<br />

que ter ti<strong>do</strong> meios de investigação muito mais alarga<strong>do</strong>s (análises<br />

micromorfológicas seriam um exemplo bastante váli<strong>do</strong> neste contexto).<br />

Mas não justifiquemos insuficiências, até porque o tema (e o título)<br />

estavam já estipula<strong>do</strong>s.<br />

Podia ter-lhe chama<strong>do</strong> Geoarqueologia <strong>do</strong> <strong>Pene<strong>do</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>Lexim</strong>. Mas<br />

aqui estaria, ainda mais, a remeter o leitor para um pressuposto muito<br />

mais alarga<strong>do</strong> de padrões e vertentes de análises muito mais complexas.<br />

Chamei-lhe Leitura Paleoambiental, porque disso mesmo se tratou:<br />

uma <strong>leitura</strong> de uma área, efectuada com os meios e os recursos<br />

disponíveis, desempenhada através de uma aborgadem muito mais<br />

versada para a interpretação paisagística e morfológica <strong>do</strong> que para uma<br />

visão abrangente e complexa da utlização de todas as ciências da Terra<br />

possíveis para investigar a fun<strong>do</strong> este sítio arqueológico.<br />

385


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388


Anexos<br />

Fig. 8 – Mapa <strong>do</strong> percurso geoarqueológico.<br />

389<br />

[Extra-texto XV]


Fig. 9 – Reprodução tridimensional da paisagem envolvente <strong>do</strong> <strong>Pene<strong>do</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>Lexim</strong>.<br />

Fig. 10 –Vista isométrica da paisagem envolvente <strong>do</strong> <strong>Pene<strong>do</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>Lexim</strong>.<br />

390


\<br />

Fig. 11 – Excerto de Mapa Geológico da folha 34-A Sintra.<br />

391<br />

[Extra-texto XVI]


Fig. 12 – Esboço geomorfológico da área envolvente <strong>do</strong> <strong>Pene<strong>do</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>Lexim</strong>.<br />

392

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