16.04.2013 Views

RESENHA DE “O BAILE DO JUDEU” 1 (Inglês de Sousa) Raphael ...

RESENHA DE “O BAILE DO JUDEU” 1 (Inglês de Sousa) Raphael ...

RESENHA DE “O BAILE DO JUDEU” 1 (Inglês de Sousa) Raphael ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

No auge da festa, às onze horas da noite, surge<br />

(...) um sujeito baixo, feio, <strong>de</strong> casacão comprido e chapéu <strong>de</strong>sabado,<br />

que não <strong>de</strong>ixava ver o rosto, escondido também pela gola levantada do<br />

casaco. Foi direto a D. Mariquinhas, <strong>de</strong>u-lhe a mão, tirando-a para uma<br />

contradança que ia começar. (IBID., p. 107)<br />

O sujeito maltrapilho acaba se tornando a atração do baile, causando risos e<br />

exclamações gerais. Os convidados achavam que tudo não passava <strong>de</strong> uma troça,<br />

tamanho o atrevimento do grotesco <strong>de</strong>sconhecido ao tirar uma senhora <strong>de</strong> classe para<br />

dançar. A própria Dona Mariquinhas exibia um largo sorriso quando a música começou<br />

e até mesmo seu marido achava graça da situação, <strong>de</strong>sconfiando que talvez o estranho<br />

indivíduo fosse Lulu Valente, “um bom moço, apesar <strong>de</strong> português” (IBID. p. 108).<br />

O sujeito conduzia uma dança bizarra, com passos <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nados, saltos e<br />

trejeitos sinistros, além <strong>de</strong> “guinchos estúrdios” (IBID., p. 108) enquanto segurava a<br />

dama “nuns quase-abraços lascivos” (IBID., p. 107), <strong>de</strong>monstrando muito entusiasmo.<br />

No meio da dança, a própria dona Mariquinhas começou a <strong>de</strong>sfalecer <strong>de</strong> cansaço,<br />

parando imediatamente <strong>de</strong> rir.<br />

Os músicos ficaram muito alvoroçados com o caso insólito e com os aplausos<br />

dos convidados, fazendo uma balbúrdia geral com o som estri<strong>de</strong>nte e <strong>de</strong>sconexo <strong>de</strong><br />

seus instrumentos, <strong>de</strong>stroçando os ouvidos e superexcitando os nervos <strong>de</strong> todos, que<br />

já pareciam estar sob uma espécie <strong>de</strong> encanto ou possessão. Novos espectadores<br />

chegavam e o povo se acotovelava para assistir o acontecimento, rindo cada vez mais<br />

e soltando ruidosas exclamações, enquanto dona Mariquinhas parecia já não<br />

experimentar qualquer prazer naquela dança <strong>de</strong>senfreada, e soltava gemidos surdos,<br />

abafados pelos “grunhidos sinistramente burlescos” (IBID. p. 109), dados pelo sujeito<br />

<strong>de</strong> chapéu <strong>de</strong>sabado.<br />

Foi quando os músicos resolveram, após tocar seis vezes uma quadrilha, lançar<br />

mão da melodia varsoviana, que recebeu aplausos gerais. Os pares que ainda<br />

dançavam se retiraram do centro do salão para melhor apreciar o <strong>de</strong>sconhecido, que<br />

estreitou a dama em seu peito côncavo e rompeu numa valsa vertiginosa, enquanto<br />

que a moça<br />

(...) não sentiu mais o soalho sob os pés, milhares <strong>de</strong> luzes ofuscavamlhe<br />

a vista, tudo rodava em torno <strong>de</strong>la; o seu rosto exprimia uma

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!