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Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />

palestras em clubes políticos e comissões <strong>de</strong> fábricas. 14 O facto <strong>de</strong> o PCP continuar a ser o único pólo<br />

organizado <strong>de</strong> resistência antifascista angariava as simpatias estudantis e operárias, e o clima<br />

internacional, com a União Soviética a insurgir-se frente a Hitler, acalentava o sentimento <strong>de</strong> se estar do<br />

lado certo e a esperança na revolução <strong>de</strong> valores <strong>de</strong>mocráticos a leste. No ano da vitória dos aliados<br />

sobre o nazismo, Soares é escolhido para a direcção académica das JC. Entusiasmado com uma<br />

atmosfera internacional <strong>de</strong>sfavorável a Salazar, respondia, essencialmente, ao apelo à acção, emergindo<br />

aqui a vertente pragmática comum a toda a sua carreira política. As dúvidas sobre o movimento<br />

comunista internacional, que lhe acercavam a mente, dissipavam-se com o clima geral <strong>de</strong> enaltecimento<br />

a Staline, que salvara a Europa do nazismo, e a aliança com Roosevelt e Churchill, a agoirar o <strong>de</strong>rrube<br />

da ditadura portuguesa. As incógnitas relativas às questões <strong>de</strong> base comunistas “passavam para segundo<br />

plano, perante as exigências da luta contra a Ditadura.” E era nisso que “os comunistas eram únicos:<br />

combatiam sem medo e <strong>de</strong>dicadamente.” 15<br />

Assolado pelas incertezas, Soares não chegou sequer a preconizar uma solução para o futuro <strong>de</strong><br />

Portugal assente numa base teórica dos valores políticos da Europa <strong>de</strong> Leste. É lógico que, enquanto<br />

militante do PCP, não se encontre nos seus escritos uma partilha dos valores políticos da Europa<br />

Oci<strong>de</strong>ntal, que dava os primeiros passos para a futura Comunida<strong>de</strong> Económica Europeia (CEE), mas<br />

tão-pouco se observa uma i<strong>de</strong>ia alternativa comunista. Mário Soares limitava-se a seguir um caminho já<br />

traçado por outros, que mais tar<strong>de</strong> vem a conceber como <strong>de</strong>sacertado.<br />

Enquanto jovem comunista, é movido pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acção antifascista, o que o leva a<br />

respon<strong>de</strong>r aos <strong>de</strong>safios do PCP e a ter <strong>de</strong>clinado, à última hora, ce<strong>de</strong>ndo ao apelo <strong>de</strong> Cunhal para<br />

permanecer em Portugal, a proposta do pai – que o tentava afastar da militância comunista - para ir<br />

estudar na Suíça. Mas os argumentos e o carisma do lí<strong>de</strong>r do PCP prevaleceram. “Era a Personificação<br />

do partido da classe operária. (…) O facto <strong>de</strong> ser ele a dizer-me o que disse, fez crescer o meu sentido<br />

<strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>. Galvanizou-me!” 16 , admitiu Soares.<br />

Contudo, emergia nele o impulso para uma certa in<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> acção, olhando<br />

estrategicamente para os campos on<strong>de</strong> podia diferenciar e intensificar as suas intervenções<br />

oposicionistas. Foi nesse ímpeto que, em 1945, se alistou, à revelia do partido, no MUD. 17 Esta<br />

14<br />

Teresa <strong>de</strong> Sousa, Os Gran<strong>de</strong>s Lí<strong>de</strong>res, Mário Soares, São Paulo, Editora Nova Cultural, 1988, p. 26<br />

15<br />

In Maria João Avillez, Soares, Ditadura […] cit., p. 64.<br />

16<br />

I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p. 70.<br />

17<br />

O MUD surge após a II Guerra Mundial, numa altura <strong>de</strong> crise interna do regime salazarista, que, em prevenção <strong>de</strong> represálias<br />

diplomáticas dos regimes <strong>de</strong>mocráticos vencedores da guerra, conce<strong>de</strong> uma folga <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> aos movimentos <strong>de</strong> oposição,<br />

permitindo a realização <strong>de</strong> uma reunião no Centro Republicano Almirante Reis, levando à criação formal e legalização do<br />

movimento, que constituiu comissões distritais, concelhias e até <strong>de</strong> freguesias. Numa altura em que o PCP pulverizava as<br />

acções antifascistas, nenhum dos 11 fundadores do MUD era comunista. A isto, não é alheio o facto <strong>de</strong> o movimento ter nascido<br />

das manifestações <strong>de</strong> <strong>de</strong>sagrado da ala não comunista do MUNAF (ver nota 19), que queria contrariar a hegemonia do PCP na<br />

oposição, propondo como alternativa, para chegar ao po<strong>de</strong>r, a disputa eleitoral com o governo. Todavia, à entrada <strong>de</strong> Soares no<br />

MUD, segue-se a <strong>de</strong> outros comunistas, que reforçam a presença do PCP no movimento. Perante a popularida<strong>de</strong> do MUD,<br />

Salazar resolve não correr riscos por uma mera <strong>de</strong>monstração aparente <strong>de</strong> abertura do regime e volta à carga repressiva, com<br />

<strong>de</strong>tenções e a ilegalização do movimento, alegando ligações ao PCP, o que <strong>de</strong>termina o fim do MUD em 1948. Ver Alfredo<br />

Ribeiro Santos, “A Oposição Democrática e a Política Colonial do Estado Novo”, in Nova Renascença, nº 52/53, 1994, pp.113-<br />

130; Ver também Fernando Rosas; J.M. Brandão <strong>de</strong> Brito (dir.), Dicionário <strong>de</strong> História do Estado Novo, volume II, Venda Nova,<br />

Bertrand Editora, 1996, pp. 634-637.<br />

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