Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />
4.3.2 – Os Contactos com o Movimento Fe<strong>de</strong>ralista e o Movimento Europeu, mas a<br />
ausência da i<strong>de</strong>ia fe<strong>de</strong>ralista<br />
A ASP iniciou contactos com organizações ligadas à unificação da Europa <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo, ainda<br />
muito antes do exílio <strong>de</strong> Mário Soares, nomeadamente com os movimentos entusiastas da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />
unida<strong>de</strong> europeia, que a partir do fim da II Guerra Mundial começaram a germinar na Europa. Tais<br />
organizações veiculavam para a esfera política uma i<strong>de</strong>ologia supranacional, apresentando soluções<br />
para os problemas do velho continente apoiadas não em lógicas nacionalistas, mas em esquemas <strong>de</strong><br />
união dos estados europeus. 140 Agrupando estes movimentos figuras influentes dos meios políticos<br />
europeus, as várias posições relativamente à i<strong>de</strong>ia do futuro da Europa reúnem-se no Congresso da<br />
Haia, em 1948, a partir do qual nasce o Movimento Europeu. 141 Soares e os companheiros socialistas no<br />
exílio iam acompanhando as activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>stes movimentos, o que, à luz da época, em que se davam os<br />
primeiros passos <strong>de</strong> integração europeia, não <strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> conferir uma certa vanguarda política aos<br />
portugueses, ainda para mais quando a informação lhes era vedada pela censura do Estado Novo. O<br />
primeiro contacto efectuado com o Movimento Europeu (ME) é feito por Ramos da Costa, que tenta<br />
negociar a criação <strong>de</strong> uma secção portuguesa do movimento em Portugal.<br />
Em 1963, Soares recebe uma carta, supostamente <strong>de</strong> Ramos da Costa, na qual é informado<br />
sobre um encontro tido em Bruxelas, para tratar da criação da “secção portuguesa <strong>de</strong>ntro daquele<br />
movimento, para que os <strong>de</strong>mocratas portugueses ali assentem arraias e possam <strong>de</strong> direito <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r uma<br />
posição justa para um Portugal livre.” 142 Esta não terá sido a primeira mensagem enviada, pois o autor<br />
refere-se a outra prévia, na qual pedia diligências para a criação da secção portuguesa, nomeadamente,<br />
contactar personalida<strong>de</strong>s indicadas para subscreverem a carta <strong>de</strong> pedido da criação da secção ao<br />
presi<strong>de</strong>nte do ME. Realça-se o facto <strong>de</strong> se tencionar reunir personalida<strong>de</strong>s ligadas a vários quadrantes<br />
políticos da oposição portuguesa. 143 Num documento manuscrito, sem data, 144 estão listados vários<br />
140<br />
Os <strong>de</strong>stroços da guerra impeliram as consciências políticas europeias da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> união, sentimento impulsionado<br />
pelo discurso <strong>de</strong> Churchill, em 1946, em Zurique. A diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> movimentos europeus que aparecem repartia-se<br />
essencialmente em fe<strong>de</strong>ralistas e unionistas. Aqueles concebiam “uma organização europeia com base numa estrutura fe<strong>de</strong>ral”,<br />
enquanto os outros <strong>de</strong>fendiam “laços menos fortes <strong>de</strong> associação europeia, no quadro essencial da cooperação entre Estados<br />
que preservariam o essencial das suas prerrogativas soberanas.” Os fe<strong>de</strong>ralistas, cujos movimentos chegam à meia centena,<br />
agrupam-se em torno da União Europeia dos Fe<strong>de</strong>ralistas, e os unionistas juntam-se à volta do Movimento Europa Unida. Ver<br />
António Martins da Silva, História da Unificação Europeia. A Integração Comunitária (1945-2010), <strong>Coimbra</strong>, Imprensa da<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, 2010, pp. 26-31.<br />
141<br />
O Movimento Europeu foi formalmente criado em 25 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1948, na sequência da realização do Congresso da<br />
Europa, em Haia, em 1948, no qual participaram figuras políticas importantes da Europa, como Churchill, François Miterrand,<br />
Paul-Henry Spaak, Albert Coppé e Altiero Spinelli. Os vários movimentos europeus coor<strong>de</strong>naram-se através da constituição <strong>de</strong><br />
um comité internacional, que impulsionou a organização do Congresso <strong>de</strong> Haia. Após a realização do congresso, este comité<br />
converter-se-á no Movimento Europeu. Ver I<strong>de</strong>m. Ibi<strong>de</strong>m. pp. 31.<br />
142<br />
Carta, sem autor expresso, dirigida a Mário Soares, sob o pseudónimo <strong>de</strong> Carlos, Arquivo Fundação Mário Soares, pasta<br />
026000 017, imagens 3-5.<br />
143<br />
“Pois bem, é preciso dar andamento prático ao assunto e para isso basta, tão-somente, escrever uma pequena carta<br />
assinada por essas personalida<strong>de</strong>s, do teor seguinte: Monsieur Robert van Schen<strong>de</strong>l, Secrétaire général du Mouvement<br />
Européen (…), Les personnalités sou-signées toutes portugaises, démocrates et antitotalitaires, représentant différents courants<br />
politiques: Libéraux, démo-chrétientés et socialistes on pris la décision collective <strong>de</strong> créer une section portugaise du Mouvement<br />
Européen, pour faire la propagan<strong>de</strong> <strong>de</strong> l‟idée et <strong>de</strong> L‟institution d‟une communauté européenne livre et démocratique (…). Carta<br />
sem autor expresso, dirigida a Mário Soares, Arquivo Fundação Mário Soares, pasta 026000 017, imagens 3-5.<br />
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