Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />
europeias, aprendia e retirava o que <strong>de</strong> útil consi<strong>de</strong>rava para a sua estratégia oposicionista. Em resultado<br />
<strong>de</strong>ssa experiência, tornava-se premente transformar a ASP em partido, uma intenção que já <strong>de</strong>spontara<br />
com a a<strong>de</strong>são à IS. Os critérios que vieram impulsionar os socialistas portugueses para a entrada na IS<br />
eram, segundo Diaz Nosty, “fundamentalmente (…) operativos”, com “a ASP” a reiterar “a sua<br />
posição, cada vez mais <strong>de</strong>finida e próxima da formação <strong>de</strong> um verda<strong>de</strong>iro Partido Socialista,<br />
i<strong>de</strong>ologicamente um dos mais consequentes da Europa.” 123<br />
Com vivências políticas completamente diferentes dos membros do interior, Soares percebeu,<br />
<strong>de</strong>pois do exílio, o que talvez não concebesse tão rapidamente se tivesse continuado em Portugal: a<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> um partido, a autorida<strong>de</strong>, a credibilida<strong>de</strong> e a margem <strong>de</strong> manobra<br />
institucional que um PS, em vez <strong>de</strong> uma ASP, lhe iria dar, essencialmente, para o aperfeiçoamento da<br />
sua campanha <strong>de</strong> oposição na Europa. Os sete votos <strong>de</strong>sfavoráveis, contra 20 favoráveis à<br />
transformação da ASP em Partido Socialista, discordam da “oportunida<strong>de</strong> da data,” 124 com Piteira<br />
Santos à cabeça a revelar o hiato entre interior e exterior. 125 Foram a sua saída do país e a particular<br />
vivência europeia que vieram aprumar a estratégia política <strong>de</strong> Soares, dando-lhe a perceber “que, como<br />
representante do partido, disporia <strong>de</strong> um instrumento para falar <strong>de</strong> igual para igual com os restantes<br />
<strong>de</strong>legados da Internacional Socialista e que teria outros apoios.” 126 Estava em causa adquirir um estatuto<br />
pleno <strong>de</strong> lí<strong>de</strong>r socialista europeu, crucial para a construção da diplomacia partidária. Depois <strong>de</strong> eleito<br />
secretário-geral do PS, Soares elaborou “três relatórios – para os suecos, os ingleses e os alemães –<br />
pedindo maior ajuda para acções concretas da Oposição ofensivas ao regime.” 127 Era premente ter uma<br />
estrutura partidária reconhecida na Europa para po<strong>de</strong>r elevar a sua credibilida<strong>de</strong> como alternativa ao<br />
Estado Novo.<br />
Contudo, não era suficiente um esforço partidário centrado na exploração da personalida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Mário Soares. Tornava-se necessário criar e estruturar a máquina partidária, para que se começasse a<br />
actuar nos vários organismos da comunida<strong>de</strong> internacional e no interior. O Congresso <strong>de</strong> criação do PS,<br />
lança as bases para a constituição da orgânica partidária, com a presença <strong>de</strong> <strong>de</strong>legados vindos <strong>de</strong><br />
Portugal e representantes <strong>de</strong> núcleos da ASP em vários países europeus, para traçarem as áreas e<br />
estratégias <strong>de</strong> actuação.<br />
Urgia começar a doutrinar os seus membros em consonância com o que os lí<strong>de</strong>res, com<br />
vivência política europeia, preconizavam para o Partido. Perante o <strong>de</strong>sfasamento entre o interior e<br />
exterior, era necessário homogeneizar a atitu<strong>de</strong> e o pensamento do partido. No relatório lido ao<br />
Congresso, Soares insere a <strong>de</strong>finição i<strong>de</strong>ológica do PS num ambiente europeu “favorável à renovação<br />
123 B. Diaz Nosty, cit., p. 89.<br />
124 “No dia 19 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1973, o Congresso da Acção Socialista Portuguesa reunido (…) <strong>de</strong>liberou transformar a ASP em<br />
Partido Socialista.” Acta da reunião <strong>de</strong> fundação do PS, Arquivo Fundação Mário Soares, pasta 0022 0000, imagem 3.<br />
125 “No estrangeiro, à medida que participávamos nas organizações internacionais, cada vez tínhamos mais consciência do<br />
partido, enquanto, no interior (…) essa consciência era menor (…).”, “Conservadores e Neoliberais não têm soluções para o<br />
futuro”, entrevista <strong>de</strong> Mário Mesquita a Mário Soares, Diário <strong>de</strong> Notícias, 19.04.1993; in Mário Soares, Intervenções 8, cit., pp.<br />
513-538.<br />
126 In Maria João Avillez, Soares, Ditadura […] cit., p. 256.<br />
127 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p. 257.<br />
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