Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />
vantagem do apoio europeu, que a ASP é constituída, em 1964, por si, Ramos da Costa e Tito <strong>de</strong><br />
Morais. A acto sobrevive ao cepticismo <strong>de</strong> alguns, principalmente os membros do interior, como<br />
“Salgado Zenha, Magalhães Godinho, Gustavo Soromenho”, que preferiam continuar nos mol<strong>de</strong>s da<br />
Resistência Republicana e Socialista. 57 Soares forçou a constituição da ASP pela oportunida<strong>de</strong> da<br />
conjuntura internacional, “altamente favorável ao aparecimento <strong>de</strong> uma organização socialista em<br />
Portugal, dada a vitória dos trabalhistas ingleses e a circunstância dos socialistas estarem no po<strong>de</strong>r em<br />
quase todos os países da Europa Oci<strong>de</strong>ntal. 58<br />
Enquanto Tito <strong>de</strong> Morais e Ramos da Costa, no exílio, ficaram responsáveis por <strong>de</strong>senvolver<br />
contactos com estruturas partidárias e movimentos políticos internacionais, Soares assegura o<br />
funcionamento da ASP no interior, recebendo em Lisboa, em 1966, dois anos após a sua constituição, o<br />
Secretário-geral da Internacional Socialista (IS), Albert Carthy. 59 Clan<strong>de</strong>stinamente, o núcleo português<br />
da ASP organizou uma conferência <strong>de</strong> imprensa, “quebrando assim um isolamento <strong>de</strong> décadas,” 60 o que<br />
constitui um marco importante na história das relações externas da oposição à ditadura, pois além do<br />
PCP, a acção dos restantes movimentos <strong>de</strong> oposição estava confinada ao país.<br />
É também um marco para Mário Soares, que irá iniciar uma jornada <strong>de</strong> projecção internacional da<br />
sua imagem, que vai progredindo, até ao 25 <strong>de</strong> Abril, como referência credível da oposição socialista<br />
portuguesa para a Europa. Ter assumido o papel <strong>de</strong> advogado da família <strong>de</strong> Humberto Delgado, na<br />
sequência do seu assassinato, alavancou também a sua internacionalização. Entre 1965 e 1968, as<br />
frequentes <strong>de</strong>slocações ao estrangeiro permitiram-lhe o contacto “com <strong>de</strong>stacadas personalida<strong>de</strong>s do<br />
movimento socialista europeu” 61 , através do qual começou a <strong>de</strong>stronar a campanha <strong>de</strong> Salazar no<br />
exterior, em como o comunismo era a única força opositora ao regime.<br />
Foi o próprio Salazar que lhe <strong>de</strong>u mais uma oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> projecção internacional, com a<br />
<strong>de</strong>portação para S. Tomé, criando a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> um mártir, que <strong>de</strong>spertou a indignação internacional. Tito<br />
<strong>de</strong> Morais, a partir <strong>de</strong> Itália, com o apoio <strong>de</strong> dois advogados italianos, forma o Conselho Internacional<br />
<strong>de</strong> Juristas e Advogados que apelaram à sua libertação, realizando conferências <strong>de</strong> imprensa e dirigindo<br />
uma carta a Marcelo Caetano. Para Soares, foi esse movimento internacional que esteve na base da sua<br />
libertação. 62<br />
Com o regresso a Portugal e a expectativa ante a “Primavera Marcelista”, Soares incrementa a<br />
sua estratégia <strong>de</strong> consolidar uma oposição <strong>de</strong>marcada do PCP, <strong>de</strong> inspiração i<strong>de</strong>ológica socialista, que<br />
aglutinasse os vários sectores oposicionistas não comunistas. Fruto <strong>de</strong>ste esforço, elabora o “Manifesto<br />
à Nação, aprovado por vários signatários, assumidos “como socialistas”, que ambicionam apresentar ao<br />
país “um programa <strong>de</strong> alternativa que estará presente na sua plataforma eleitoral”, que “não aceitam o<br />
57<br />
“Apostavam na luta interna e eram cépticos em relação à importância dos apoios internacionais. (…) Ninguém morreu <strong>de</strong><br />
entusiasmo pela ASP, no início. Foi preciso fazer um trabalho difícil e lento. Mas, enfim, eu forcei e consegui.” In I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p.<br />
142,143.<br />
58<br />
Acta da Reunião da Fundação da ASP em Portugal, 22 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1964, Arquivo Fundação Mário Soares, 0524 000,<br />
imagem 39.<br />
59<br />
B. Diaz Nosty, Mário Soares, o Chanceler Português, Queluz <strong>de</strong> Baixo, Liber, s/d, p. 80.<br />
60<br />
Mário Soares, Portugal […] cit., p. 539.<br />
61<br />
I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p. 533.<br />
62<br />
In Maria João Avillez, Soares, Ditadura […] cit., p. 201.<br />
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