Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />
Uma das frentes <strong>de</strong> estratégia será, ao mesmo tempo que afirmar a ASP como uma<br />
representante da social-<strong>de</strong>mocracia na oposição em Portugal, angariar apoio para a própria organização,<br />
para que se possa criar uma verda<strong>de</strong>ira estrutura partidária. Em 1967, num artigo para uma publicação<br />
inglesa, já revela que a melhor “‟chance‟” para as várias forças <strong>de</strong> oposição portuguesas “seria<br />
conseguirem, com o apoio internacional das correntes congéneres europeias, o direito a uma existência<br />
legal.” 100 O exílio será o tempo <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iro da busca <strong>de</strong> apoios. A estratégia consistia simultaneamente<br />
em construir um partido <strong>de</strong> credibilida<strong>de</strong> aos olhos do mo<strong>de</strong>lo político oci<strong>de</strong>ntal e tentar retirar a base<br />
<strong>de</strong> apoio dos aliados ao regime português, que beneficiava da con<strong>de</strong>scendência proporcionada pela<br />
Guerra-Fria. “Para <strong>de</strong>rrubar o salazarismo, nós precisávamos <strong>de</strong> isolá-lo dos movimentos políticos<br />
dominantes na Europa <strong>de</strong>mocrática e nos EUA (…).” 101<br />
4.3.1 – Os contactos com a Internacional Socialista e o apoio das congéneres europeias –<br />
da ASP ao PS<br />
Até 1970, a ASP vai tentando solidificar-se, ganhar notorieda<strong>de</strong> internacional, com as<br />
dificulda<strong>de</strong>s inerentes a uma organização cuja maioria dos membros está enclausurada num regime que<br />
lhes anula a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão. Ainda assim, e graças aos membros então no exílio, a organização<br />
consegue ir estabelecendo alguns contactos com o exterior. 102<br />
Apesar dos manifestos apoios, a ASP não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser ainda uma estrutura politicamente frágil,<br />
sobrevivendo com <strong>de</strong>ficiências organizativas e a falta <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> membros que lhe dêem suporte<br />
humano e expressão política, para que não se resumisse a uma mera agremiação <strong>de</strong> intelectuais que,<br />
embora com i<strong>de</strong>ias políticas estruturadas e aceitáveis para as instâncias europeias, não alcançariam<br />
assim só a credibilida<strong>de</strong> e a força exigíveis para virem a tornar-se num forte grupo <strong>de</strong> oposição interna<br />
ao Estado Novo. A situação começa a dar sinais <strong>de</strong> se alterar com a notorieda<strong>de</strong> que Mário Soares<br />
começa a ter no estrangeiro, com o processo Humberto Delgado e a <strong>de</strong>portação. As eleições <strong>de</strong> 1969,<br />
com a CEUD, projectam a ASP na Europa, mas já antes os colegas <strong>de</strong> Soares, Tito <strong>de</strong> Morais e Ramos<br />
da Costa, vinham fazendo um trabalho <strong>de</strong> angariação <strong>de</strong> membros, constituição <strong>de</strong> núcleos e<br />
estabelecimento <strong>de</strong> relações europeias, nomeadamente com a Internacional Socialista. 103<br />
100 Mário Soares, “A Oposição e o Governo em Portugal”, artigo escrito para a revista inglesa Government and Opposition, a<br />
Quartely of Comparative Politics, a pedido do professor Leonard Schapiro, da London School of Economics and Politics.<br />
Redigido em Novembro <strong>de</strong> 1967, chegou a ser traduzido para inglês, mas, ao que parece, não foi publicado em virtu<strong>de</strong> da<br />
consequente prisão do autor e <strong>de</strong>vido à escrupulosa amiza<strong>de</strong> do citado professor, in Mário Soares, Escritos Políticos, cit., pp. 73-<br />
98.<br />
101 “Conservadores e Neoliberais não têm soluções para o futuro”, entrevista a Mário Soares, realizada por Mário Mesquita,<br />
Diário <strong>de</strong> Notícias, 19.04.1993; in Mário Soares, Intervenções 8, cit., pp. 513-538.<br />
102 Descrevem-se contactos com europeus, mas também com a América do Norte, Canadá, África, Ásia e Jugoslávia. Ver “A<br />
Situação Política Portuguesa e a ASP”, in Para Uma Democracia Socialista em Portugal, Textos ASP, 1970, Centro <strong>de</strong><br />
Documentação 25 <strong>de</strong> Abril, <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, 329 (469) “1960/1970” ACC.<br />
103 Em 1965, Tito <strong>de</strong> Morais muda-se para Itália, assegurando aí a representação da ASP e assumindo funções no Partido<br />
Socialista Italiano (PSI), que passa a financiar a publicação “Portugal Socialista”, a partir <strong>de</strong> 1967. Em 1969, responsáveis do PSI<br />
vêm a Portugal para contactar com os socialistas portugueses. Em 1966 começam os contactos com o Partido Social-Democrata<br />
Sueco e, no ano seguinte, o secretário internacional do partido visita Portugal. Posteriormente, Mário Soares, Ramos da Costa e<br />
Tito <strong>de</strong> Morais retribuem a visita, sendo recebidos pelo presi<strong>de</strong>nte do partido, Tage Erlan<strong>de</strong>r, e pelo Ministro das Comunicações,<br />
Olof Palm, numa visita que resulta na concessão <strong>de</strong> apoio financeiro à ASP, o que se efectiva no ano seguinte. Também em<br />
26