KARLA DANIELE DE SOUZA ARAÚJO GULART A ... - UFPE PPGL
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Finalizamos o capítulo anterior destacando os benefícios de se aliar a perspectiva dos<br />
gêneros discursivos à prática de Análise Linguística, dentro da premissa de que esse eixo de<br />
ensino precisa estar articulado à prática de leitura e/ou produção de textos. A ideia de<br />
trabalhar com gêneros no ensino de língua já circula nas salas de aula: ao tomá-los como<br />
objeto de ensino, os PCN (BRASIL, 1998) trouxeram oficialmente à escola uma discussão<br />
que vinha se intensificando no meio acadêmico desde a década de 80 do século XX e que<br />
ganhou fôlego na década de 90 (COSTA-HUBES, 2007). Associar o trabalho com os gêneros<br />
à prática de Análise Linguística exige, entretanto, uma sólida fundamentação para os dois<br />
conceitos por parte do professor, para que possa transformar noções teóricas em propostas<br />
práticas. Como já discorremos sobre os pressupostos que envolvem uma reflexão sobre os<br />
fatos da língua, resta-nos apresentar uma concepção de gênero que se coadune com a<br />
fundamentação sobre língua adotada e com os princípios que guiam a AL.<br />
Na verdade, é possível remontar a Platão e Aristóteles se quisermos seguir o histórico<br />
dos estudos sobre gêneros, e mesmo se restringindo às últimas décadas de estudos a<br />
multiplicidade de perspectivas é grande, o que exige um recorte de acordo com as premissas<br />
de nossa pesquisa. Como lembra Marcuschi (2008: 147), a escolha por uma determinada<br />
forma de entender os gêneros ―engloba uma análise do texto e do discurso e uma descrição de<br />
língua e visão de sociedade‖. Pensando nisso, optamos por definir a noção de gênero a partir<br />
da perspectiva dialógica, elaborada por Bakhtin e seu Círculo de estudos 2 , para fundamentar<br />
nossa análise de textos mais adiante.<br />
Tentar fazer um recorte da teoria de Bakhtin e de seu Círculo é tarefa difícil, tamanha<br />
a conexão que seus temas estabelecem entre si. Como fazer um recorte entre gênero e<br />
enunciado, se aquele é a formatação cotidiana, concreta deste? Por sua vez, como falar de<br />
enunciado sem entender a enunciação, a compreensão responsiva, a entonação, a situação, as<br />
2 Nesse caso representado pelos textos cuja autoria atribui-se a Voloshinov e/ou a Bakhtin, e que serão aqui<br />
utilizados fazendo menção a um ou aos dois autores, de acordo com as referências do texto consultado.<br />
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