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8. É TOLA A AMBIÇÃO.<br />
HORÁCIO<br />
Nem marfim e nem teto de ouro brilha na minha casa,<br />
nem traves de mármore do Himeto (30) apoiam-se em colunas<br />
talhadas nos extremos da África, nem, como um herdeiro ignorado,<br />
ocupei o palácio de Átalo (31); e as honradas espôsas dos<br />
clientes não fiam para mim lãs tintas com a púrpura lacônica.<br />
Mas tenho a lealdade e uma copiosa veia de talento e o rico<br />
procura a mim, que sou pobre. Nada mais rogo aos deuses e<br />
não peço ao amigo potente (32) maiores dádivas; sou bastante<br />
feliz com minha única vila, na Sabina.<br />
Um dia expulsa o outro e depressa termina o novo mês. E<br />
tu, não obstante, pouco antes do teu próprio funeral, contratas<br />
empreiteiros para talhar os mármores e, esquecido da morte,<br />
levantas palácios e, te empenhas em construir sôbre o mar que<br />
estrepita junto de Baias (33), crendo-te pouco rico se não podes<br />
passar além das bordas. E mais ainda: estás sempre a alargar<br />
os confins do teu campo e invades, ambicioso, as terras dos<br />
clientes; expulsas a mulher e o marido, que leva no colo as<br />
imagens dos deuses paternos e os esquá,lidos filhos. Contudo,<br />
nenhum palácio destinado a um rico senhor o espera com maior<br />
certeza que o reino do ávido arco (34). A terra se abre, imparcial,<br />
para o pobre e para os filhos dos reis; e o ouro não<br />
fêz que o servidor do arco (35) transportasse de volta o astuto<br />
Prometeu (36). O arco retém o orgulhoso Tântalo (37) e. os<br />
(30) Monte da Grécia.<br />
(31) Rico rei de PérgaD10 (Ásia), que deixou seus haveres a Roma.<br />
(32) Mecenas.<br />
(33) Baias era uma célebre estância balnear ao sul da Itália; ali havia·<br />
suntu0sas residências.<br />
(34) Outro nome de Plutão, o deus. dos mortos.<br />
(35) O "servidor do Orco" é Caronte, barqueiro que transportava as<br />
almas dos mortos através do Estige, rio dos infernos.<br />
(36) Gigante mitológico que roubou o fogo do céu para dá-Io ao<br />
homem.<br />
(37) Rei da Lfdia (Ásia Menor) condenado a terrível suplício no<br />
reino dos mortos': o de sofrer fome e sêde, tendo junto de si frutos e<br />
água, que não consegue tocar.<br />
ODES<br />
filhos ·de Tântalo; chamado ou não, êle .acorre para aliviar o<br />
pobre que já chegou ao têrmo dos trabalhos. (Carm. 11, 18)<br />
9. ODE A BACO<br />
Crede-me, ó pósteros: eu vi Baco, que, sôbre, uma rocha<br />
distante, ensinava canções; e as Ninfas e os Sátiros, com os<br />
seus pés de cabra, de ouvidos atentos, aprendiam. Ev.oé!(38)<br />
Minha alma estremece de súbito mêdo e meu peito, cheio de Baco,<br />
se entrega a uma ale,gria turbulenta. Evoé! Tem piedade de<br />
mim, ó Baco, temível por teu potente tirso (39), tem piedade de<br />
mim! É lícito que eu celebre as bacantes obstinadas no seu<br />
furor (40), que eu celebre a fonte do vinho e os arroios cheios<br />
'de leite. e os meles que correm dos troncos cavados (41). É lícito<br />
que eu cante .o ornamento da tua feliz espôsa (42) ajuntado às<br />
estrêlas, e a casa de Penteu (43) abatida por grande desgraça<br />
e a morte do trácio Licurgo (44). Tu domas os rios e o bárbaro<br />
mar e, ébrio, sôbre longínquos montes, sem perigo enlaças com<br />
víboras a cabeleira das bacantes. Quando a Ímpia coorte dos<br />
Gigantes subia pelo áspero caminho aos reinos de teu pai, tu,<br />
transformado em leão, com as unhas e os terríveis dentes lançaste<br />
Reto para trás. (45) Embora te julgassem muito hábil nas<br />
(38) Grito de alegria das bacantes, sacerdotisas de Baco, deus do vinho.<br />
(39) Bastão enfeitado de hera e pâmpanos, que servia de cetro a Baco.<br />
(40) As sacerdotisas, quando tomadas por Baco, ficavam em delirio.<br />
(41) Por ordem' de Baco nasciam da terra, para as bacantes, riachos<br />
de vinho e de leite, e as árvores destilavam mel.<br />
(42) A coroa de Ariadna, espôsa de Baco, foi posta no .céu entre as<br />
constelações.<br />
(43) Penteu, rei de Tebas, zombou do culto de Baco e, como castigo<br />
foi dilacerado pela mãe e pelas irmãs enlouquecidas.<br />
(44) Rei da Trácia (região da Eüropa, próxima da Macedônia) que, por<br />
se ter oposto ao culto de Baco, foi tornado cego e depois morto pelo deus.<br />
(45) Os Gigantes, filhos da Terra, revoltaram-se contra Júpiter - pai<br />
de Baco - e colocando o monte Ossa sôbre o Pélio (montes da Grécia),<br />
tentaram escalar o monte Olimpo, onde moravam os deuses. Mas foram<br />
vencidos por JÚpiter. Reto era um dêsses Gigantes.<br />
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