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danças, nos folguedos, no jôgo, os deuses não te achavam bastante<br />
apto para o combate; entretanto, na paz e na guerra, tinhas<br />
igual valor. Cérbero(46), manso, docemente esfregando em ti<br />
a cauda, viu-te ornado de um chifre (47) de ouro e, ao partires,<br />
lambeu, com a bôca de três línguas, teus pés e pernas.<br />
(Carm. 11, 19)<br />
10. A AUGUSTO.<br />
HORACIO<br />
Nem o furor dos cidadãos que impõem injustiças nem o<br />
rosto de um ameaçador tirano nem o Austro, tempestuoso senhor<br />
do agitado Adriático, nem a mão poderosa de Iúpiter, que lança<br />
os raios, perturba o homem justo e firme nos propósitos da<br />
mente inabalável; se, feito em pedaços, o mundo desabasse, as<br />
ruínas o haveriam de atingir impávido. Com tal virtude,<br />
Pólux (48) e o errante Hércules chegaram às esferas celestes; e<br />
Augusto, deitado entre êles (49) há de beber o néctar com a<br />
bôca purpurea. A ti, ó Baco, que, por tal virtude bem o mereceste,<br />
os tigres conduziram ao céu, puxando o jugo com o indócil<br />
pescoço. Por tal virtude, Quirino(50) escapou ao Aqueronte(51),<br />
após ter Iuno proferido, ante os deuses reunidos em conselho,<br />
agradável discurso:<br />
(46) Cão que guardava os infernos. Baco foi ao reino dos mortos<br />
para buscar sua mãe, Sêmele.<br />
(47) Baco é representado com um chifre, símbolo da fecundidade, da<br />
qual é o deus.<br />
(48) Os heróis mitológicos Pólux e Cástor eram filhos de Júpiter e<br />
irmãos de Helena de Tróia; transportados ao céu, formaram a constelação<br />
dos Gêmeos.<br />
(49) O sentido da passagem é o seguinte: Augusto, pela virtude da<br />
justiça e da perseverança, deitar-se-á um dia nos banquetes dos deuses e<br />
tomará a bebida dos deuses, que é o néctar, com a bôca sempre vermelha,<br />
isto é, sempre jovem; em suma, tornar-se-á um deus.<br />
(50)<br />
Quirino.<br />
Foi dado a Rômulo, divinizado depois de morto, o nome de<br />
(51) Rio dos infernos.<br />
ODES<br />
- "Um juiz fatal e adúltero (52) e uma forasteira (53) redu<br />
ziram a pó a cidade de Tróia, da Tróia condenada por mim e<br />
peja casta Minerva com seu povo e seu rei desonesto (54), desde<br />
quando Laomedonte de.fraudou os deuses do pagamento combinado.<br />
Agora, nem o famoso hóspede (55) da adúltera espartana<br />
brilha em sua beleza nem a perjura família de Príamo rechaça,<br />
com as fôrças de Heitor (56), os belicosos gregos; e a guerra<br />
prolongada por nossas divergências (57) cessou. Agora eu sacrificarei<br />
a Marte as· minhas graves iras e perdoarei ao odioso<br />
neto (58) que a sacerdotisa troiana pariu; consentirei que êle<br />
entre nestas luminosas moradas, que beba os sucos do néctar<br />
e seja inscrito na tranqüila ordem dos deuses. Que. os exilados (59)<br />
reinem felizes em todo o mundo enquanto o vasto oceano se<br />
agitar entre Tróia e: Roma; que o Capitólio se erga fulgurante<br />
e a belicosa Roma possa dar leis aos medos subjugados, enquanto<br />
os rebanhos saltarem sôbre a tumba de PrÍamo e de Páris e<br />
as feras aí esconderem, seguras, os filhotes. E se Roma fôr<br />
(52) Páris, filho de Príamo - rei de Tróia -, foi juiz no certame de<br />
beleza estabelecido entre Juno, Minerva e Vénus e deu a vitória a esta<br />
última, que prometera casá-Io com a mulher mais bela do mundo: Helena,<br />
espôsa do rei de Esparta, Menelau. Daí a guerra de Tróia, na qual Juno<br />
e Minerva combateram pelos gregos.<br />
(53) Helena.<br />
(54) O rei a que Juno se refere, é Laomedonte, pai de Priíamo; aquêle<br />
recusou-se a pagar a ApoIo e a Netuno, que lhe haviam construído os<br />
muros da cidade ..<br />
(55) Páris, que fôra hóspede de Helena em Esparta e a levara consigo<br />
para Tróia.<br />
(56) Filho de Príamo, que chefiou a resistência contra os gregos; foi<br />
morto pelo grego Aquiles.<br />
(57) Alguns deuses favoreciam os gregos, outros os troianos; e êles<br />
próprios tomavam parte nos combates.<br />
(58) O "odioso neto" é Rômulo, filho de Marte e da sacerdotisa Rea<br />
Sílvia, que descendia de Enéias e, por isso, é chamada "troiana"; Rômulo<br />
é dito "neto' não de Marte mas dos troianos, dos quais descendia por parte<br />
da mãe; Juno a princípio transferira a Rômuio o ódio que tinha dos<br />
troianos.<br />
(59) Maneira de aludir aos romanos, que se criam descendentes dos<br />
exilados troianos estabelecidos na Itália sob o comando de Enéias.<br />
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