sugestões de textos para subsidiar o trabalho do professor
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em três lugares: nas escrituras, no mais íntimo <strong>do</strong> nosso ser e na voz <strong>do</strong> estranho. Devemos ter a<br />
cortesia <strong>de</strong> receber, além <strong>de</strong> dar, porque não há melhor maneira <strong>de</strong> <strong>de</strong>spersonalizar o outro <strong>do</strong> que<br />
falar sem também ouvir” (SMITH, 1986, p. 366).<br />
Assim, o ouvir enquanto fazer pedagógico <strong>do</strong> Ensino Religioso perpassa por toda uma teoria<br />
fundamentada no cuida<strong>do</strong> com o outro. Portanto, este saber epistemológico requer estu<strong>do</strong> e<br />
conhecimento <strong>do</strong> fenômeno religioso, bem como o entendimento <strong>do</strong> seu objeto <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>, que é o<br />
entendimento a respeito <strong>do</strong> sagra<strong>do</strong>. É nisso que se coloca um profun<strong>do</strong> <strong>de</strong>safio <strong>para</strong> a prática<br />
pedagógica <strong>do</strong> Ensino Religioso: estar disposto a superar o senso comum que perpassa o coletivo<br />
humano.<br />
O viés da educação<br />
Para a compreensão da razão <strong>de</strong> ser <strong>do</strong> Ensino Religioso, é preciso partir <strong>de</strong> uma concepção <strong>de</strong><br />
educação que o entenda como um processo global, que reúne to<strong>do</strong>s os níveis <strong>de</strong> conhecimento,<br />
<strong>de</strong>ntre os quais está o fenômeno religioso. Nesse senti<strong>do</strong>, essa área <strong>de</strong> conhecimento, cujo enfoque<br />
é justamente trabalhar a dimensão religiosa que habita em cada ser, legalmente am<strong>para</strong>da pelo<br />
artigo 33 da Lei <strong>de</strong> Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) 9394/96, po<strong>de</strong>rá contribuir <strong>para</strong><br />
a formação integral <strong>do</strong> indivíduo educan<strong>do</strong>-o à alterida<strong>de</strong>, ou seja, <strong>para</strong> uma cultura escolar e social<br />
inclusiva, mais humana e menos preconceituosa, preocupada em contribuir <strong>para</strong> formar cidadãos<br />
conscientes e atuantes em seu meio.<br />
Pensan<strong>do</strong> nisso, é pertinente ter a clareza <strong>de</strong> que toda socieda<strong>de</strong> possui um ethos cultural que lhe<br />
confere um caráter particular e fundamenta a sua organização, seja ela política, social ou religiosa.<br />
E não é senão a partir da compreensão <strong>de</strong>sse ethos que po<strong>de</strong>remos contribuir com as novas<br />
gerações, no seu relacionamento com novas realida<strong>de</strong>s que nos são propostas como, por exemplo,<br />
o individualismo e o contexto da era <strong>do</strong> <strong>de</strong>scartável. Sen<strong>do</strong> assim, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com Dalai Lama, “[...]<br />
viver uma vida verda<strong>de</strong>iramente ética, em que colocamos em primeiro lugar as necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s<br />
outros e cuidamos <strong>de</strong> sua felicida<strong>de</strong>, é algo que tem extraordinárias implicações <strong>para</strong> nossa<br />
socieda<strong>de</strong>.<br />
[...] Por meio da bonda<strong>de</strong>, da afeição, da honestida<strong>de</strong>, por meio da verda<strong>de</strong> e da justiça <strong>para</strong> com<br />
to<strong>do</strong>s os outros é que asseguramos nossos próprios benefícios. [...] Não há como negar que a<br />
nossa felicida<strong>de</strong> está inextricavelmente entrelaçada à felicida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s outros. Não há como negar<br />
que, se a socieda<strong>de</strong> sofre, nós também sofremos. Nem há como negar que quanto mais<br />
animosida<strong>de</strong> há em nossos corações, mais infelizes nos tornamos. Por isso, po<strong>de</strong>mos rejeitar tu<strong>do</strong> o<br />
mais: religião, i<strong>de</strong>ologia, toda a sabe<strong>do</strong>ria recebida. Mas não po<strong>de</strong>mos escapar à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
amor e compaixão” (LAMA, 2000, p. 94 e 251).<br />
Refletin<strong>do</strong> sobre estas colocações é que se torna necessário superar as errôneas e muitas vezes<br />
limitadas <strong>de</strong>finições <strong>de</strong> ética e propor uma ética da consciência e da liberda<strong>de</strong>, em lugar da ética da<br />
lei e da obrigação. Para ilustrar essa idéia recorremos ao <strong>professor</strong> Álvaro Vals, que afirma ser a<br />
ética uma “daquelas coisas que to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> sabe que são, mas que não são fáceis <strong>de</strong> explicar<br />
quan<strong>do</strong> alguém pergunta” (VALS, 1994, p.7).<br />
Na raiz da ética, como a contempla o Ensino Religioso, está a busca da transcendência que dá<br />
senti<strong>do</strong> à vida, que proporciona a plena realização <strong>do</strong> ser humano pessoal e socialmente. Sen<strong>do</strong><br />
assim, é plausível o entendimento <strong>de</strong> que comumente se simplifica ou se confun<strong>de</strong> ética com<br />
expressões como liberda<strong>de</strong>, justiça, verda<strong>de</strong> ou norma; ou, ainda, com o cumprimento ou não <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>terminadas leis ou regras da socieda<strong>de</strong>: são distorções e ambigüida<strong>de</strong>s que po<strong>de</strong>m ocorrer.<br />
Porém, a função da ética seria mais refletir, problematizar e nortear a conduta humana <strong>do</strong> que<br />
<strong>de</strong>finir termos. Se ela monopolizasse a tarefa <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir as coisas, como uma guardiã <strong>de</strong> plantão<br />
<strong>para</strong> julgar o que é certo ou erra<strong>do</strong>, não po<strong>de</strong>ria ser chamada <strong>de</strong> ética, pois seu senti<strong>do</strong> ficaria<br />
abrevia<strong>do</strong>. Portanto, quan<strong>do</strong> em uma <strong>de</strong>terminada situação recorre-se à ética, <strong>de</strong>veríamos sempre<br />
lembrar que ela não é simpática à afirmação <strong>de</strong> idéias imutáveis, <strong>de</strong>finitivas, circulares ou _ o que é<br />
pior _ inquestionáveis.<br />
Por isso, é a partir <strong>do</strong>s princípios, e não <strong>do</strong>s rigorismos, que as normas práticas<br />
<strong>de</strong>veriam ser discutidas e estruturadas. O ethos no Ensino Religioso tem muito a contribuir com a<br />
mudança <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s <strong>do</strong> ser humano. Ao <strong>de</strong>sejarmos uma educação integral, <strong>de</strong>veríamos pensar a<br />
ética como um princípio verda<strong>de</strong>iramente transversal, isto é, que permeia com flexibilida<strong>de</strong> todas as<br />
outras preocupações da comunida<strong>de</strong> educativa. Pela abertura ética muitas são as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
ganhos educacionais: <strong>de</strong>staca-se, sobretu<strong>do</strong>, a promoção da processualida<strong>de</strong>, e não a simples<br />
adaptação às normas categóricas; consi<strong>de</strong>ram-se as biografias individuais, o que é um excelente