sugestões de textos para subsidiar o trabalho do professor
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SUGESTÕES DE TEXTOS PARA SUBSIDIAR O TRABALHO DO PROFESSOR DE<br />
ENSINO RELIGIOSO<br />
EIXO: CULTURAS E TRADIÇÕES<br />
GEOGRAFIA DAS RELIGIÕES MUNDIAIS<br />
Cada religião ocupa uma área <strong>de</strong>terminada no espaço geográfico. Aliás, o lugar é um<br />
<strong>de</strong>terminante fundamental das características <strong>do</strong> grupo religioso. Depen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> o país, o<br />
próprio cristão vai ter crenças e costumes diferentes. O catolicismo brasileiro, por exemplo,<br />
é diferente <strong>do</strong> catolicismo italiano, norte-americano, ou chinês. Dentro <strong>do</strong> próprio país a<br />
religiosida<strong>de</strong> varia <strong>de</strong> região <strong>para</strong> região. É o que acontece com os <strong>de</strong>votos <strong>do</strong> padre<br />
Cícero, que estão mais concentra<strong>do</strong>s no Nor<strong>de</strong>ste, enquanto que a maioria <strong>do</strong>s <strong>de</strong>votos <strong>de</strong><br />
Santa Paulina estão no Sul.<br />
Um outro exemplo é o homem da cida<strong>de</strong> em com<strong>para</strong>ção com o interior. Sua fé é diferente<br />
justamente pelas características da vida urbana, principalmente o critério <strong>de</strong> novida<strong>de</strong>,<br />
enquanto o interior apresenta maior apego às tradições e resistência ao diferente. Em<br />
gran<strong>de</strong>s centros como São Paulo e Rio <strong>de</strong> Janeiro os novos movimentos religiosos erguem<br />
enormes edifícios <strong>para</strong> acomodar seu público. O apelo <strong>de</strong> religiosos no rádio e tv é outra<br />
característica muito comum <strong>do</strong> meio urbano, apesar <strong>de</strong> que no interior o rádio é bastante<br />
utiliza<strong>do</strong>. Só em São Paulo os religiosos <strong>de</strong>têm mais da meta<strong>de</strong> das emissoras <strong>de</strong> rádio.<br />
Há religiões, entretanto, que só existem num <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> lugar. O hinduísmo concentra-se<br />
quase que totalmente na Índia e o judaísmo em Israel. Isso acontece porque <strong>para</strong> seguir o<br />
hinduísmo precisa <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>r <strong>do</strong> povo hindu, habitantes da índia, da mesma forma que no<br />
judaísmo só se admitem ju<strong>de</strong>us, filhos <strong>de</strong> israelitas ou nasci<strong>do</strong>s em Israel.<br />
Em relação à composição geográfica das religiões há curiosida<strong>de</strong>s. O Islamismo, que<br />
nasceu no Oriente Médio, apresenta maior crescimento justamente no Continente Africano<br />
em países como Marrocos, Egito, Líbia, entre outros. E nem se fala <strong>de</strong> Turquia,<br />
Afeganistão, Iraque, Emira<strong>do</strong>s Árabes, Arábia Saudita, Irã, entre outros, que apresentam<br />
quase cem por cento da população professan<strong>do</strong> a fé islâmica.<br />
O próprio Budismo, que nasceu na Índia, também se espalhou e hoje pre<strong>do</strong>mina mais em<br />
países orientais como Japão, China, Tibete, Nepal, Coréia, Tailândia. A China e a Rússia,<br />
que com seu comunismo tentaram impor um ateísmo <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>para</strong> a população e resistir<br />
pessimistamente à religião, hoje convivem com o enraizamento <strong>do</strong> Confucionismo e <strong>do</strong><br />
Catolicismo Orto<strong>do</strong>xo, respectivamente.<br />
Por fim, as religiões tribais, presentes em bom número na América, África, Ásia e Oceania<br />
amargam a imposição das outras religiões que, aos poucos, vai toman<strong>do</strong> conta <strong>do</strong>s países.<br />
Os índios brasileiros e os aborígines da Austrália e Nova Zelândia são exemplos disso.<br />
Hoje <strong>do</strong>s milhões que habitavam o país, restam pouco mais <strong>de</strong> 300 mil índios no Brasil e a<br />
população aborígine <strong>do</strong> continente australiano também está bem reduzida. A explicação <strong>do</strong><br />
conquista<strong>do</strong>r europeu era clara: os indígenas são um povo inferior e atrasa<strong>do</strong>, portanto,<br />
sua cultura precisa ser eliminada.<br />
Questões: (1) Como o lugar po<strong>de</strong> ser fundamental <strong>para</strong> <strong>de</strong>terminar as características <strong>do</strong><br />
grupo religioso? (2) Que diferença po<strong>de</strong> haver entre a religiosida<strong>de</strong> expressa pelo homem<br />
da cida<strong>de</strong> e <strong>do</strong> campo? (3) Por que hinduísmo e judaísmo estão concentra<strong>do</strong>s mais num<br />
único lugar? (4) Qual foi o grupo religioso que mais expandiu sua área <strong>de</strong> abrangência<br />
mundial? Justifique. (5) Que problemas enfrentam as religiões tribais?
A CULTURA AFRO-BRASILEIRA<br />
Os negros foram trazi<strong>do</strong>s ao Brasil poucas décadas <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> <strong>de</strong>scobrimento <strong>para</strong> trabalharem<br />
como escravos entre 1600 e 1900. Com eles o país cresceu mundialmente na extração <strong>de</strong> minérios<br />
e como produtor <strong>de</strong> café e cana <strong>de</strong> açúcar. Com a Lei Áurea, publicada em 1888, a escravidão<br />
acabou, mas os <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes africanos não tinham como voltar ao seu país <strong>de</strong> origem. Por causa<br />
<strong>do</strong> preconceito, também não compravam terras, nem conseguiam empregos. Foi a partir <strong>de</strong> 1920,<br />
na periferia das gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s, que os brasileiros conheceram melhor a religiosida<strong>de</strong> que os<br />
negros praticavam quan<strong>do</strong> eram escravos. Entre elas estão a Umbanda, Can<strong>do</strong>mblé e Quimbanda.<br />
O Can<strong>do</strong>mblé é o mais original culto africano no Brasil. As cerimônias acontecem em terreiros e em<br />
língua africana com cantos e ritmos <strong>de</strong> tambores. Usam jogos <strong>de</strong> adivinhação como cartas e búzios.<br />
Principalmente por conta da perseguição, houve o sincretismo <strong>do</strong> Can<strong>do</strong>mblé com o catolicismo no<br />
qual se colocavam nomes africanos em santos católicos como Iemanjá (N. S. da Conceição) e Iansã<br />
(Santa Bárbara). O principal <strong>de</strong>us é Olodumaré, cria<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s orixás.<br />
Já a Umbanda é praticada em Centros Espíritas e é conhecida como Magia Branca, o que significa<br />
fazer o bem e combater a magia negra. É uma mistura <strong>de</strong> rituais africanos e europeus feita por<br />
brancos no Rio <strong>de</strong> Janeiro. Acreditam na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> contato entre vivos e mortos e na<br />
evolução espiritual após sucessivas vidas na terra, quer dizer, a reencarnação.<br />
Algum tempo <strong>de</strong>pois nasceu a Quimbanda, que pratica rituais <strong>de</strong> magia negra, e é uma ramificação<br />
da Umbanda. Magia negra significa missa negra ou magia e feitiçaria. É conhecida por realizar<br />
oferendas com animais como gatos e galinhas pretas. Cultua os mesmos orixás da Umbanda e<br />
Can<strong>do</strong>mblé.<br />
Depois <strong>de</strong> conhecer a cultura afro, o cristianismo da América não foi mais o mesmo. Nos cultos<br />
protestantes é forte a presença e influência negra nos ritmos musicais <strong>do</strong>s cultos, alegres e<br />
agita<strong>do</strong>s. Outro aspecto que surgiu no culto das tradições afro-brasileiras é o movimento li<strong>de</strong>ra<strong>do</strong><br />
pelos cristãos <strong>de</strong> transformar os orixás e guias em <strong>de</strong>mônios que “possuem” o corpo das pessoas.<br />
O exorcismo, assim, ganhou força e já se constitui num importante ingrediente da religiosida<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />
povo brasileiro, tanto entre os católicos carismáticos como entre os evangélicos pentecostais e<br />
neopentecostais. Ama<strong>do</strong> ou odia<strong>do</strong> o culto afro é o centro das atenções <strong>para</strong> as religiões <strong>do</strong> Brasil.<br />
Questões: (1) Quem é o negro? Como chegou ao Brasil? (2) De que forma o negro expressava sua<br />
religiosida<strong>de</strong>? (3) Como se percebe a presença da cultura africana no cotidiano da socieda<strong>de</strong><br />
brasileira? (4) O que é sincretismo religioso? O que a religiosida<strong>de</strong> afro-brasileira tem a ver com<br />
isso? (5) Quais são os principais <strong>de</strong>uses da religiosida<strong>de</strong> afro-brasileira? (6) Que contribuições o<br />
culto afro trouxe <strong>para</strong> o cristianismo?
O Ethos que Unifica<br />
Isaias Silva<br />
Rita <strong>de</strong> Cássia Marques Kleinke<br />
Viviane Mayer Dal<strong>de</strong>gan<br />
Introdução<br />
Vivemos em um momento precioso, on<strong>de</strong> as relações humanas e as instituições que contribuem ao<br />
convívio entre as pessoas passam por um processo <strong>de</strong> revisão e reelaboração, em função das<br />
aspirações que nossa humanida<strong>de</strong> exige nestes tempos <strong>de</strong> transformação tecnológica, econômica,<br />
política e social: a cada dia, graças à tecnologia que nos cerca, ficamos mais próximos uns <strong>do</strong>s<br />
outros. Mas, será que estamos pre<strong>para</strong><strong>do</strong>s <strong>para</strong> conviver com esta proximida<strong>de</strong>?<br />
Um olhar mais atento sobre a realida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> nos dar uma resposta pessimista sobre isso. Na<br />
realida<strong>de</strong>, nestes tempos marca<strong>do</strong>s pela aproximação graças às mo<strong>de</strong>rnas tecnologias, precisamos<br />
apreen<strong>de</strong>r uma nova prática: olhar com carinho <strong>para</strong> o outro, compreen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> o valor <strong>de</strong> suas<br />
peculiarida<strong>de</strong>s e perceben<strong>do</strong> a riqueza que há nas diversas culturas que convivem em nosso<br />
planeta, buscan<strong>do</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> la<strong>do</strong> o preconceito que vem <strong>do</strong> <strong>de</strong>sconhecimento e que acaba nos<br />
afastan<strong>do</strong> uns <strong>do</strong>s outros, levan<strong>do</strong>-nos ao isolamento ou até mesmo à violência.<br />
Para que essa mudança <strong>de</strong> olhar possa ocorrer, muitas ações po<strong>de</strong>m ser propostas. E entre tantas,<br />
uma parece ser essencial: reavaliar o papel da escola, passan<strong>do</strong> a percebê-la como um instrumento<br />
importante <strong>para</strong> a construção <strong>de</strong> uma nova consciência individual, pautada pelo respeito às<br />
diferenças e pela preocupação em superar as barreiras impostas pelo preconceito. Na medida em<br />
que ela mesma se transforme e busque uma prática mais integra<strong>do</strong>ra e unifica<strong>do</strong>ra, mais eficiente
será em sua missão <strong>de</strong> contribuir à formação <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> mais fraterna, porquanto possa<br />
contribuir à formação <strong>de</strong> pessoas cada vez melhores.<br />
O viés da gratuida<strong>de</strong><br />
Toda pessoa tem suas características pessoais, que variam quanto ao seu aspecto físico, as suas<br />
competências individuais, a sua origem familiar e o meio social em que vive. Essa soma <strong>de</strong><br />
elementos constrói a gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> agentes sociais que convivem neste mun<strong>do</strong>, cada qual<br />
porta<strong>do</strong>r <strong>de</strong> diversas obrigações e muitos direitos.<br />
Ao discutirmos a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma nova postura frente às diferenças com que convivemos em<br />
nossos dias, uma merece especial atenção pelo peso que impõe às relações entre os diferentes: a<br />
opção religiosa <strong>de</strong> cada um. Segun<strong>do</strong> afirma a Organização das Nações Unidas (ONU), no artigo<br />
número <strong>de</strong>zoito da Declaração Universal <strong>do</strong>s Direitos Humanos, datada <strong>de</strong> 1948, “Toda pessoa tem<br />
o direito à liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> mudar<br />
<strong>de</strong> religião ou crença e a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática,<br />
pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular” (ONU, 2007).<br />
Ten<strong>do</strong> por base tal direito assegura<strong>do</strong> a to<strong>do</strong>s os indivíduos e pensan<strong>do</strong> no papel da escola como<br />
espaço <strong>de</strong> transformações nas relações entre os indivíduos, po<strong>de</strong>mos afirmar que o Ensino<br />
Religioso, enquanto área <strong>de</strong> conhecimento, acaba ten<strong>do</strong> como um <strong>de</strong> seus objetivos fundamentais<br />
contribuir à vigência <strong>de</strong>sse artigo da Declaração Universal <strong>do</strong>s Direitos Humanos. Para isso, é<br />
necessária uma outra profunda transformação, agora um tanto mais localizada: trata-se <strong>de</strong> rever a<br />
concepção e a forma como se <strong>de</strong>senvolve o Ensino Religioso em nossas escolas, tornan<strong>do</strong>-o mais<br />
afina<strong>do</strong> com os tempos em que vivemos e, sobretu<strong>do</strong>, com suas necessida<strong>de</strong>s, principalmente<br />
quanto ao respeito às diferenças.<br />
Assim, é mister questionar sobre como se <strong>de</strong>senvolve a sua proposta <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>, levan<strong>do</strong> em conta<br />
tratar-se <strong>de</strong> uma área que necessita <strong>do</strong> entendimento <strong>de</strong> outras disciplinas como a História, a<br />
Geografia, a Arte e a Filosofia, <strong>para</strong> que possa ser melhor compreendida, fundamentada e<br />
abordada. O Ensino Religioso é uma disciplina que dialoga <strong>de</strong> perto com outras disciplinas e, por<br />
isso, não é tão simples <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r ou <strong>de</strong> aplicar, ao contrário daquilo que pensam tantos que<br />
<strong>de</strong>sconhecem os eixos que norteiam tal área <strong>de</strong> conhecimento, muitas vezes por não estar inseri<strong>do</strong><br />
no contexto pedagógico da mesma ou por não compreen<strong>de</strong>r suas premissas.<br />
Pensan<strong>do</strong> nisso, torna-se pertinente estudar a proposta <strong>do</strong> Ensino Religioso fundamentan<strong>do</strong>-se em<br />
um ethos4 que dialoga com o outro, e que por isso po<strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar à “necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um verda<strong>de</strong>iro<br />
reconhecimento da dimensão religiosa, como um saber. A palavra ethos significava <strong>para</strong> os gregos<br />
antigos a morada <strong>do</strong> homem, isto é, a natureza, uma vez processada mediante a ativida<strong>de</strong> humana<br />
sob a forma <strong>de</strong> cultura. Cf.: JAEGER, Werner. Paidéia. A formação <strong>do</strong> homem grego. São Paulo:<br />
Martins Fontes / Brasília:DF: UNB, 1989. Necessário <strong>para</strong> que o ser humano possa ter um<br />
conhecimento integral <strong>de</strong> si mesmo” (FERNANDES, 2000), ou seja, dan<strong>do</strong> espaço <strong>para</strong> que o outro<br />
se <strong>de</strong>scubra enquanto ser religioso e permitin<strong>do</strong>-lhe po<strong>de</strong>r estruturar o senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> sua existência.<br />
O ethos no Ensino Religioso é o convite à reflexão, não como imposição i<strong>de</strong>ológica e sim <strong>para</strong> uma<br />
transvaloração da paz enquanto bem supremo. É resgatan<strong>do</strong> a essência <strong>de</strong>ste bem supremo que se<br />
resgata a questão da humanida<strong>de</strong>, fundamentan<strong>do</strong>-se na Pedagogia da Alterida<strong>de</strong>, que nada mais é<br />
<strong>do</strong> que o princípio da substituição, <strong>do</strong> colocar-se no lugar <strong>do</strong> outro, <strong>de</strong> “apreen<strong>de</strong>r o outro na<br />
plenitu<strong>de</strong> da sua dignida<strong>de</strong>, <strong>do</strong>s seus direitos e, sobretu<strong>do</strong>, da sua diferença” (FREI BETTO, 2007).<br />
Aqui se encontra um <strong>do</strong>s princípios da educação que é o <strong>de</strong> humanizar o ser humano. A<br />
universalização da ética po<strong>de</strong> partir <strong>de</strong>ste princípio <strong>de</strong> educação pois, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com Heerdt,<br />
“Vivemos, hoje, uma situação que reflete algumas das conseqüências vivas <strong>de</strong> uma crise <strong>de</strong><br />
civilização, on<strong>de</strong> os valores fundamentais acabam abafa<strong>do</strong>s ou relega<strong>do</strong>s a uma dimensão bem<br />
rara.<br />
O que mais impressiona é a indiferença diante das necessida<strong>de</strong>s mais simples <strong>do</strong> dia-a-dia. Diante<br />
<strong>de</strong> um futuro consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> incerto, há uma tendência das pessoas voltarem-se <strong>para</strong> si mesmas, num<br />
egoísmo que rompe os laços <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> com o próximo” (HEERDT, 2005, p. 11).<br />
Não entendamos, porém, diante <strong>de</strong>ssas colocações, uma concepção <strong>de</strong> Ensino Religioso<br />
fundamenta<strong>do</strong> simplesmente na reflexão sobre valores, mesmo porque é um engo<strong>do</strong> refletir sobre<br />
valores em momentos estanques e <strong>de</strong>scontextualiza<strong>do</strong>s. O que se propõe é um repensar o outro,<br />
esse outro que possui experiências diferentes, que possui escolhas diferentes, que possui uma<br />
cultura diferente e que, por ser diferente, tem em si uma riqueza pessoal imensurável. Somente o<br />
conhecimento <strong>do</strong> outro a partir <strong>de</strong>le mesmo, lembran<strong>do</strong> que ele é diferente <strong>de</strong> mim em to<strong>do</strong>s os
aspectos, po<strong>de</strong> garantir um Ensino Religioso que contemple a Declaração Universal <strong>do</strong>s Direitos<br />
Humanos, principalmente em seu artigo <strong>de</strong>zoito.<br />
Nesse aspecto, qual o melhor caminho <strong>para</strong> um ethos no Ensino Religioso? Seria mesmo a<br />
reciprocida<strong>de</strong>? A economia po<strong>de</strong> estar fundamentada na reciprocida<strong>de</strong>. Já o ethos no Ensino<br />
Religioso <strong>de</strong>ve estar basea<strong>do</strong> na gratuida<strong>de</strong>: é esta a mentalida<strong>de</strong> a ser difundida no fazer<br />
pedagógico <strong>de</strong>ssa área <strong>de</strong> conhecimento. Este ethos só po<strong>de</strong> existir quan<strong>do</strong> se pensa na existência<br />
<strong>do</strong> outro como um outro, respeitan<strong>do</strong>-o como tal, ou seja, quan<strong>do</strong> se busca apoio numa Pedagogia<br />
da Alterida<strong>de</strong>.<br />
“[...] o princípio da ética da alterida<strong>de</strong> é o respeito pelo diferente. O rosto <strong>do</strong> outro nos convoca, nos<br />
interpela e nos convida. A ética da alterida<strong>de</strong> no rosto <strong>do</strong> outro revela o seu infinito. Esta ética<br />
quebra os <strong>para</strong>digmas tradicionais estabeleci<strong>do</strong>s por outras éticas. O que i<strong>de</strong>ntifica o outro é o seu<br />
rosto, e é muitas vezes no rosto <strong>do</strong> outro que eu encontro a minha própria i<strong>de</strong>ntificação. Cada rosto<br />
é diferente, mas me dá o senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> respeito, face a face, olho no olho (alterida<strong>de</strong>), eu me vejo no<br />
outro, pois há uma interpelação quan<strong>do</strong> estamos diante <strong>do</strong> rosto <strong>do</strong> outro” (SCHEMES, 2005, p. 22-<br />
23).<br />
Sen<strong>do</strong> assim, a tolerância, apesar <strong>de</strong> ser um gran<strong>de</strong> passo <strong>para</strong> a promoção da paz, acaba não<br />
fazen<strong>do</strong> muita diferença, pois está calcada na reciprocida<strong>de</strong>. O ethos no Ensino Religioso vai além,<br />
pois está alicerça<strong>do</strong> no ouvir, que é o princípio da gratuida<strong>de</strong>. Para tanto, surge um questionamento:<br />
como respeitar as pessoas <strong>de</strong> tradições religiosas diferentes saben<strong>do</strong> que posso encontrar o<br />
<strong>de</strong>srespeito e a violência por parte <strong>do</strong> outro em relação àquelas crenças que trago comigo mesmo?<br />
Se o meu pensamento estiver fundamenta<strong>do</strong> no princípio da reciprocida<strong>de</strong>, isso po<strong>de</strong> ser muito<br />
<strong>do</strong>loroso pois o que espero po<strong>de</strong> não chegar porque baseiase nos meus anseios. É por isso que<br />
tolerar não é o suficiente, pois a tolerância po<strong>de</strong> estar acompanhada pela indiferença. A tolerância<br />
po<strong>de</strong> até contribuir <strong>para</strong> a liberda<strong>de</strong> religiosa, assegurada como um direito humano fundamental,<br />
mas ela não abre, necessariamente, espaço <strong>para</strong> o saber ouvir: “Como é estranho esse<br />
companheirismo <strong>do</strong>s busca<strong>do</strong>res <strong>de</strong> Deus em todas as terras, elevan<strong>do</strong> suas vozes, das mais<br />
diferentes maneiras possíveis, até o Deus cria<strong>do</strong>r <strong>de</strong> toda a vida. Como soarão elas, vistas <strong>de</strong> cima?<br />
Uma Babel confusa ou vozes se misturan<strong>do</strong> em estranha e etérea harmonia? Será que uma fé<br />
li<strong>de</strong>ra as outras ou as muitas partes se distribuem em contraponto e antífona, ou mesmo formam um<br />
coro a plenos pulmões? Não temos como saber. Tu<strong>do</strong> o que po<strong>de</strong>mos fazer é tentar ouvir cada voz,<br />
com cuida<strong>do</strong> e plena atenção, quan<strong>do</strong> ela se dirige ao divino”. (SMITH, 1986, p. 20).<br />
Desta maneira, o ethos no Ensino Religioso vai, paulatinamente, transforman<strong>do</strong> o tolerar em ouvir:<br />
daí surgir a Pedagogia da Alterida<strong>de</strong>, foco central <strong>do</strong> ethos no Ensino Religioso, porque parte <strong>do</strong><br />
princípio da aceitação e da gratuida<strong>de</strong>. O princípio da alterida<strong>de</strong> está centraliza<strong>do</strong> no outro, pois é a<br />
partir <strong>do</strong> outro que nós <strong>de</strong> fato apren<strong>de</strong>mos. É a partir <strong>do</strong> outro que se promove a liberda<strong>de</strong>, que se<br />
promove a valorização da diferença enquanto tal, porque, segun<strong>do</strong> Jacquard, apud Heerdt, “É claro<br />
que a pessoa em que me transformei foi mo<strong>de</strong>lada pelo conjunto das informações fornecidas pelo<br />
meu patrimônio genético e pelo conjunto das regras, comportamentos, opiniões emitidas pelos<br />
homens que me ro<strong>de</strong>iam. Sou o produto <strong>de</strong> encontro <strong>de</strong> mecanismos concretos e <strong>de</strong> influências<br />
psíquicas. Mas acontece que este produto apresenta tal complexida<strong>de</strong> que é capaz <strong>de</strong> participar na<br />
sua própria construção. Essa auto-estruturação nos permite dar nossa contribuição <strong>para</strong> o que<br />
somos e, sobretu<strong>do</strong>, <strong>para</strong> aquilo em que nos transformamos”. (JACQUARD, 1998, p. 97 apud<br />
Heerdt,2005, p.48).<br />
Esse futuro <strong>de</strong> paz aparentemente po<strong>de</strong> parecer bastante utópico, principalmente num mun<strong>do</strong> tão<br />
agita<strong>do</strong> por guerras em nome da fé. No entanto, as coisas po<strong>de</strong>m ser diferentes, isso se for inicia<strong>do</strong><br />
um processo transforma<strong>do</strong>r. Po<strong>de</strong>mos pensar um pouco mais nessas idéias propostas acima on<strong>de</strong><br />
se re<strong>de</strong>scobrem os valores no Ensino Religioso enquanto ethos, não por eles mesmos,<br />
<strong>de</strong>svincula<strong>do</strong>s <strong>do</strong> ser humano, como se fossem simplesmente uma espécie <strong>de</strong> caixinha que se<br />
retira <strong>do</strong> armário e se contempla, mas sim como elementos inerentes à pessoa, ao outro. E, nessa<br />
construção <strong>de</strong> uma cultura <strong>de</strong> paz on<strong>de</strong> as diferenças religiosas são vistas com respeito pelos<br />
diferentes, po<strong>de</strong>mos pensar como Huston Smith, <strong>para</strong> quem “As pessoas que escutam trabalham<br />
pela paz, uma paz que não é construída sobre hegemonias eclesiásticas ou políticas, mas sobre a<br />
compreensão e o interesse mútuo. Pois a compreensão, pelo menos em áreas tão inerentemente<br />
nobres como as gran<strong>de</strong>s fés da humanida<strong>de</strong>, traz o respeito; e o respeito pre<strong>para</strong> o caminho <strong>para</strong><br />
um po<strong>de</strong>r mais eleva<strong>do</strong>, o único po<strong>de</strong>r que apaga as chamas <strong>do</strong> me<strong>do</strong> da suspeita e <strong>do</strong> preconceito,<br />
oferecen<strong>do</strong> os meios <strong>para</strong> que os povos <strong>de</strong>sta pequena, porém preciosa terra, se unam uns aos<br />
outros [...]. Assim, precisamos ouvir <strong>para</strong> compreen<strong>de</strong>r, [...] porque é impossível amar o outro sem<br />
ouvi-lo. Se quisermos ser fiéis a essas religiões, <strong>de</strong>vemos escutar os outros com tanta profundida<strong>de</strong><br />
e atenção quanto <strong>de</strong>sejamos que eles nos escutem; Thomas Merton afirmou que Deus fala conosco
em três lugares: nas escrituras, no mais íntimo <strong>do</strong> nosso ser e na voz <strong>do</strong> estranho. Devemos ter a<br />
cortesia <strong>de</strong> receber, além <strong>de</strong> dar, porque não há melhor maneira <strong>de</strong> <strong>de</strong>spersonalizar o outro <strong>do</strong> que<br />
falar sem também ouvir” (SMITH, 1986, p. 366).<br />
Assim, o ouvir enquanto fazer pedagógico <strong>do</strong> Ensino Religioso perpassa por toda uma teoria<br />
fundamentada no cuida<strong>do</strong> com o outro. Portanto, este saber epistemológico requer estu<strong>do</strong> e<br />
conhecimento <strong>do</strong> fenômeno religioso, bem como o entendimento <strong>do</strong> seu objeto <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>, que é o<br />
entendimento a respeito <strong>do</strong> sagra<strong>do</strong>. É nisso que se coloca um profun<strong>do</strong> <strong>de</strong>safio <strong>para</strong> a prática<br />
pedagógica <strong>do</strong> Ensino Religioso: estar disposto a superar o senso comum que perpassa o coletivo<br />
humano.<br />
O viés da educação<br />
Para a compreensão da razão <strong>de</strong> ser <strong>do</strong> Ensino Religioso, é preciso partir <strong>de</strong> uma concepção <strong>de</strong><br />
educação que o entenda como um processo global, que reúne to<strong>do</strong>s os níveis <strong>de</strong> conhecimento,<br />
<strong>de</strong>ntre os quais está o fenômeno religioso. Nesse senti<strong>do</strong>, essa área <strong>de</strong> conhecimento, cujo enfoque<br />
é justamente trabalhar a dimensão religiosa que habita em cada ser, legalmente am<strong>para</strong>da pelo<br />
artigo 33 da Lei <strong>de</strong> Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) 9394/96, po<strong>de</strong>rá contribuir <strong>para</strong><br />
a formação integral <strong>do</strong> indivíduo educan<strong>do</strong>-o à alterida<strong>de</strong>, ou seja, <strong>para</strong> uma cultura escolar e social<br />
inclusiva, mais humana e menos preconceituosa, preocupada em contribuir <strong>para</strong> formar cidadãos<br />
conscientes e atuantes em seu meio.<br />
Pensan<strong>do</strong> nisso, é pertinente ter a clareza <strong>de</strong> que toda socieda<strong>de</strong> possui um ethos cultural que lhe<br />
confere um caráter particular e fundamenta a sua organização, seja ela política, social ou religiosa.<br />
E não é senão a partir da compreensão <strong>de</strong>sse ethos que po<strong>de</strong>remos contribuir com as novas<br />
gerações, no seu relacionamento com novas realida<strong>de</strong>s que nos são propostas como, por exemplo,<br />
o individualismo e o contexto da era <strong>do</strong> <strong>de</strong>scartável. Sen<strong>do</strong> assim, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com Dalai Lama, “[...]<br />
viver uma vida verda<strong>de</strong>iramente ética, em que colocamos em primeiro lugar as necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s<br />
outros e cuidamos <strong>de</strong> sua felicida<strong>de</strong>, é algo que tem extraordinárias implicações <strong>para</strong> nossa<br />
socieda<strong>de</strong>.<br />
[...] Por meio da bonda<strong>de</strong>, da afeição, da honestida<strong>de</strong>, por meio da verda<strong>de</strong> e da justiça <strong>para</strong> com<br />
to<strong>do</strong>s os outros é que asseguramos nossos próprios benefícios. [...] Não há como negar que a<br />
nossa felicida<strong>de</strong> está inextricavelmente entrelaçada à felicida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s outros. Não há como negar<br />
que, se a socieda<strong>de</strong> sofre, nós também sofremos. Nem há como negar que quanto mais<br />
animosida<strong>de</strong> há em nossos corações, mais infelizes nos tornamos. Por isso, po<strong>de</strong>mos rejeitar tu<strong>do</strong> o<br />
mais: religião, i<strong>de</strong>ologia, toda a sabe<strong>do</strong>ria recebida. Mas não po<strong>de</strong>mos escapar à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
amor e compaixão” (LAMA, 2000, p. 94 e 251).<br />
Refletin<strong>do</strong> sobre estas colocações é que se torna necessário superar as errôneas e muitas vezes<br />
limitadas <strong>de</strong>finições <strong>de</strong> ética e propor uma ética da consciência e da liberda<strong>de</strong>, em lugar da ética da<br />
lei e da obrigação. Para ilustrar essa idéia recorremos ao <strong>professor</strong> Álvaro Vals, que afirma ser a<br />
ética uma “daquelas coisas que to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> sabe que são, mas que não são fáceis <strong>de</strong> explicar<br />
quan<strong>do</strong> alguém pergunta” (VALS, 1994, p.7).<br />
Na raiz da ética, como a contempla o Ensino Religioso, está a busca da transcendência que dá<br />
senti<strong>do</strong> à vida, que proporciona a plena realização <strong>do</strong> ser humano pessoal e socialmente. Sen<strong>do</strong><br />
assim, é plausível o entendimento <strong>de</strong> que comumente se simplifica ou se confun<strong>de</strong> ética com<br />
expressões como liberda<strong>de</strong>, justiça, verda<strong>de</strong> ou norma; ou, ainda, com o cumprimento ou não <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>terminadas leis ou regras da socieda<strong>de</strong>: são distorções e ambigüida<strong>de</strong>s que po<strong>de</strong>m ocorrer.<br />
Porém, a função da ética seria mais refletir, problematizar e nortear a conduta humana <strong>do</strong> que<br />
<strong>de</strong>finir termos. Se ela monopolizasse a tarefa <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir as coisas, como uma guardiã <strong>de</strong> plantão<br />
<strong>para</strong> julgar o que é certo ou erra<strong>do</strong>, não po<strong>de</strong>ria ser chamada <strong>de</strong> ética, pois seu senti<strong>do</strong> ficaria<br />
abrevia<strong>do</strong>. Portanto, quan<strong>do</strong> em uma <strong>de</strong>terminada situação recorre-se à ética, <strong>de</strong>veríamos sempre<br />
lembrar que ela não é simpática à afirmação <strong>de</strong> idéias imutáveis, <strong>de</strong>finitivas, circulares ou _ o que é<br />
pior _ inquestionáveis.<br />
Por isso, é a partir <strong>do</strong>s princípios, e não <strong>do</strong>s rigorismos, que as normas práticas<br />
<strong>de</strong>veriam ser discutidas e estruturadas. O ethos no Ensino Religioso tem muito a contribuir com a<br />
mudança <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s <strong>do</strong> ser humano. Ao <strong>de</strong>sejarmos uma educação integral, <strong>de</strong>veríamos pensar a<br />
ética como um princípio verda<strong>de</strong>iramente transversal, isto é, que permeia com flexibilida<strong>de</strong> todas as<br />
outras preocupações da comunida<strong>de</strong> educativa. Pela abertura ética muitas são as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
ganhos educacionais: <strong>de</strong>staca-se, sobretu<strong>do</strong>, a promoção da processualida<strong>de</strong>, e não a simples<br />
adaptação às normas categóricas; consi<strong>de</strong>ram-se as biografias individuais, o que é um excelente
meio motiva<strong>do</strong>r, pois to<strong>do</strong>s nós carregamos nossa história, temos um projeto <strong>de</strong> vida e apren<strong>de</strong>mos<br />
quan<strong>do</strong> o conhecimento se torna significativo <strong>para</strong> nós; surgem muitas aprendizagens e atitu<strong>de</strong>s<br />
novas, pois passamos a praticar a interdisciplinarida<strong>de</strong>, a avaliação e a auto-avaliação sincera.<br />
Tu<strong>do</strong> isso leva ao engran<strong>de</strong>cimento <strong>do</strong> processo educativo e passamos a perceber com mais<br />
concretu<strong>de</strong> que na educação ética to<strong>do</strong>s são participantes. É por isso que ela é revolucionária:<br />
requer constante discussão e atualização <strong>de</strong> princípios e valores, teorias e práticas. A escola,<br />
envolvida com o seu entorno social, tem to<strong>do</strong>s os materiais e, portanto, uma tarefa fundamental na<br />
educação ética das novas gerações: faz parte da tradição pedagógica a formação <strong>do</strong> caráter das<br />
pessoas. Também nas novas teorias sobre a escola está presente a função da escola, enquanto<br />
forma<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> normas e <strong>de</strong> valores, sobretu<strong>do</strong> numa perspectiva crítica. A escola é parte da<br />
socieda<strong>de</strong> e a educação sofre sua influência e a influencia, daí a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que ela utilize<br />
to<strong>do</strong>s os seus recursos <strong>para</strong> influenciar a socieda<strong>de</strong> no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> sua reconstrução, procuran<strong>do</strong><br />
favorecer a ocorrência <strong>de</strong> harmonia entre as pessoas, sua preocupação com a felicida<strong>de</strong> <strong>do</strong> outro e<br />
sua ação cuida<strong>do</strong>sa e positiva no complica<strong>do</strong> enre<strong>do</strong> das relações sociais.<br />
O viés da ética<br />
Nossa realida<strong>de</strong>, tanto no âmbito global como local, caracteriza-se por uma profunda assimetria, por<br />
uma <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social muito aguda. Além das questões sociais, o mun<strong>do</strong> sofre uma<br />
multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> riscos ecológicos, atômicos, armas químicas, engenharia genética a serviço <strong>do</strong>s<br />
interesses nem sempre muito bem explica<strong>do</strong>s <strong>de</strong> grupos econômicos, entre tantos outros que nos<br />
atemorizam a cada dia. A mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> agonizante, fruto das patologias da razão da consciência, <strong>de</strong><br />
uma razão tecnificada <strong>para</strong> favorecer o mun<strong>do</strong> sistêmico, por um la<strong>do</strong> fez explodir uma aceleração<br />
fantástica <strong>de</strong> invenções tecnológicas e <strong>de</strong> um <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> e, por outro, sufocou a<br />
idéia <strong>de</strong> alterida<strong>de</strong>.<br />
Neste contexto, percebe-se um retorno <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> oci<strong>de</strong>ntal ao sagra<strong>do</strong> e, em contrapartida, vê-se<br />
um mun<strong>do</strong> cada vez mais competitivo, em que aquele que não se atualiza per<strong>de</strong> o emprego.<br />
Vivemos em um mun<strong>do</strong> on<strong>de</strong> o i<strong>do</strong>so não tem voz e nem vez, precisan<strong>do</strong> esperar horas em uma fila<br />
<strong>de</strong> posto <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, em um mun<strong>do</strong> que vive em conflitos e guerras, on<strong>de</strong> um quer ser melhor <strong>do</strong> que<br />
o outro <strong>para</strong> <strong>do</strong>miná-lo. Enfim, vivemos em um mun<strong>do</strong> no qual pessoas morrem ou matam em nome<br />
da religião, em nome <strong>de</strong> um <strong>de</strong>us.<br />
É por tu<strong>do</strong> isso _ e por muito mais, ainda! _ que a educação <strong>de</strong>ve estar comprometida com a vida e<br />
com a construção <strong>de</strong> seres humanos transforma<strong>do</strong>res <strong>de</strong> sua realida<strong>de</strong>, não po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> permanecer<br />
alheia às catástrofes sociais que têm ocorri<strong>do</strong> envolven<strong>do</strong> a práxis religiosa e sem continuar se<br />
esquivan<strong>do</strong> <strong>de</strong> um <strong>do</strong>s aspectos que fazem parte <strong>de</strong> sua tarefa enquanto instituição educa<strong>do</strong>ra:<br />
educar <strong>para</strong> a convivência harmoniosa, socializan<strong>do</strong> o saber religioso como conhecimento<br />
historicamente acumula<strong>do</strong>, e <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong>, assim, <strong>de</strong> manter tantas pessoas <strong>de</strong>sinformadas<br />
reproduzin<strong>do</strong> preconceitos que geram intolerância.<br />
Nesta realida<strong>de</strong>, o ethos no Ensino Religioso é um processo essencialmente coletivo no qual a<br />
aprendizagem e a construção <strong>do</strong> conhecimento se efetivam através <strong>do</strong>s relacionamentos entre os<br />
sujeitos, cada qual com suas diferenças e, também, semelhanças, e com o to<strong>do</strong> da vida. Nessa<br />
realida<strong>de</strong>, a educação torna-se um processo <strong>de</strong> conquistas que engendra a humanização e a<br />
libertação <strong>do</strong> ser humano.<br />
A eticida<strong>de</strong> da educação compreen<strong>de</strong> um processo aberto e <strong>de</strong> construção e reconstrução <strong>do</strong><br />
conhecimento diante das necessida<strong>de</strong>s que a vida humana e seu ambiente <strong>de</strong>terminarem<br />
superan<strong>do</strong>, assim, os <strong>de</strong>terminismos <strong>do</strong> cognitivismo <strong>do</strong> <strong>para</strong>digma da consciência. Trata-se <strong>de</strong> uma<br />
eticida<strong>de</strong> implícita em to<strong>do</strong> o processo educativo, seja ele formal ou informal. Da mais tenra ida<strong>de</strong><br />
até o fim da vida, to<strong>do</strong> o processo <strong>de</strong> aprendizagem e construção <strong>do</strong> conhecimento traz no seio <strong>de</strong><br />
sua realização um <strong>de</strong>senvolvimento humano ético preocupa<strong>do</strong> com a universalida<strong>de</strong> da vida <strong>de</strong><br />
to<strong>do</strong>s os seres humanos. Esta ética pergunta, constantemente, acerca <strong>de</strong> como <strong>de</strong>vemos agir sobre<br />
as normas e conjuntos <strong>de</strong> valores, sem implicar em nenhum prejuízo <strong>para</strong> nenhum ser humano e<br />
<strong>para</strong> nenhuma forma <strong>de</strong> vida, todas necessárias <strong>para</strong> o bem estar <strong>de</strong> toda a humanida<strong>de</strong>. Para<br />
Paulo Freire,<br />
“Aceitar e respeitar a diferença é uma <strong>de</strong>ssas virtu<strong>de</strong>s sem o que a escuta não se po<strong>de</strong> dar. Se<br />
discrimino o menino ou menina pobre, a menina ou o menino negro, o menino índio, a menina rica;<br />
se discrimino a mulher, a camponesa, a operária,[as diferentes religiões], não posso evi<strong>de</strong>ntemente<br />
escutá-las e se não as escuto, não posso falar com eles, mas a eles, <strong>de</strong> cima <strong>para</strong> baixo.
Sobretu<strong>do</strong>, me proíbo <strong>de</strong> entendê-los. Se me sinto superior ao diferente, não importa quem seja,<br />
recuso-me escutá-lo, ou escutá-la”. (FREIRE, 1996, p. 120)<br />
A reflexão que nos propõe o Ensino Religioso, incluin<strong>do</strong> mesmo aqueles que fazem sua opção por<br />
negar uma religião, permite esclarecer posições diferentes e garante uma autenticida<strong>de</strong> na busca da<br />
integrida<strong>de</strong> humana, além <strong>de</strong> colaborar à construção <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> melhor respeitan<strong>do</strong>, em<br />
grau máximo, a alterida<strong>de</strong> _ qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> que é o outro. Fernan<strong>do</strong> Savater afirma que a “vida <strong>de</strong><br />
cada ser humano é irrepetível e insubstituível. [...]<br />
Para sermos plenamente humanos temos <strong>de</strong> viver entre humanos, isto é, não apenas como os<br />
humanos, mas também com os humanos. Ou seja, em socieda<strong>de</strong>” (SAVATER, 1996, p. 15-16).<br />
Uma vez que, contemporaneamente, a diversida<strong>de</strong> é vista, na escola e no mun<strong>do</strong>, como ponto<br />
chave <strong>para</strong> a divisão ao invés <strong>de</strong> ser um elemento capaz <strong>de</strong> servir <strong>para</strong> a soma, Gruen sinaliza: “eis<br />
que a escola, que <strong>de</strong>veria educar à convivência e ao respeito mútuo, se veria (e às vezes se vê)<br />
transformada em campo <strong>de</strong> batalha” (GRUEN, 1995, p. 45).<br />
Por isso o Ensino Religioso na escola <strong>de</strong>ve estar a serviço da transformação social, da aceitação<br />
das diferenças, da construção <strong>de</strong> seres humanos abertos ao diálogo, à escuta, ao cuida<strong>do</strong>, pois<br />
conforme dizia Paulo Freire, a educação não muda o mun<strong>do</strong>, ela muda as pessoas. Para tanto, os<br />
educan<strong>do</strong>s precisam, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a mais tenra ida<strong>de</strong>, apren<strong>de</strong>r a conviver com o outro e a conhecer a<br />
riqueza que o outro tem a lhe oferecer, evitan<strong>do</strong> incompreensões gera<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> ódio e violência.<br />
Partin<strong>do</strong>-se <strong>de</strong>ssa premissa, po<strong>de</strong>-se afirmar que “a <strong>de</strong>scoberta <strong>do</strong> outro é fundamental <strong>para</strong> a<br />
re<strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> si mesmo. Isto só acontece num diálogo fecun<strong>do</strong> entre o eu e o tu, sem<br />
preeminência <strong>de</strong> um sobre o outro, mas <strong>de</strong> forma interativa, recíproca, generosa. Essa atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
autêntico diálogo abre espaço <strong>para</strong> a localização e o reconhecimento <strong>de</strong> um<br />
ponto <strong>de</strong> convergência” (VELOSO, 2001, p. 81).<br />
Para que se <strong>de</strong>scubra, <strong>de</strong> fato, quem é o outro, se faz necessário ensinar às pessoas a arte <strong>de</strong><br />
observar, <strong>de</strong> olhar <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> <strong>para</strong> o outro ven<strong>do</strong>-o e perceben<strong>do</strong> a riqueza que ele traz em si.<br />
Além disso, o <strong>de</strong>scobrimento <strong>do</strong> outro se faz ouvin<strong>do</strong> o que ele tem a dizer, com toda a atenção que<br />
ele mereça, dan<strong>do</strong>-lhe a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> se expressar e, sobretu<strong>do</strong>, tratan<strong>do</strong>-o com o maior respeito,<br />
sem qualquer preconceito. Por fim, essa relação <strong>de</strong> respeito mútuo cria um caminho em que se fala<br />
e se ouve, estabelecen<strong>do</strong> uma relação dialógica entre os diferentes:<br />
“No processo da fala e da escuta a disciplina <strong>do</strong> silêncio a ser assumi<strong>do</strong> com rigor e a seu tempo<br />
pelos sujeitos que falam e escutam é um “sine Qua” da comunicação dialógica. O primeiro sinal <strong>de</strong><br />
que o sujeito que fala sabe escutar é a <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> controlar não só a<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dizer a sua palavra, que é um direito, mas também o gosto pessoal, profundamente<br />
respeitável, <strong>de</strong> expressá-la. Quem tem o que dizer tem igualmente o direito e o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> dizê-lo. É<br />
preciso porém que quem tem o que dizer saiba, sem sombra <strong>de</strong> dúvida, não ser o único ou a única<br />
a ter o que dizer” (FREIRE, 1996, p. 116, grifos <strong>do</strong> autor).<br />
Conclusão<br />
Nosso momento histórico é singular: ao mesmo tempo em que vivemos um salto quantitativo no<br />
volume <strong>de</strong> conquistas empreendidas nos campos científico e tecnológico, assistimos a um<br />
<strong>de</strong>créscimo qualitativo nas relações entre os seres humanos, num processo marca<strong>do</strong> pelo<br />
individualismo e pela valorização <strong>do</strong> padrão <strong>de</strong> vida _ quanto mais se pu<strong>de</strong>r comprar, quan<strong>do</strong> mais<br />
se pu<strong>de</strong>r ter, melhor! Nessa lógica consumista e individualizante, vive-se o <strong>para</strong><strong>do</strong>xo <strong>de</strong> um<br />
isolamento num mun<strong>do</strong> marca<strong>do</strong> pelo que já houve <strong>de</strong> mais mo<strong>de</strong>rno na história das comunicações:<br />
graças às mo<strong>de</strong>rnas tecnologias <strong>de</strong> informação, o planeta Terra está cada vez menor, e nessa<br />
vizinhança planetária, as diferenças entre as culturas se torna cada vez mais visível aos olhares <strong>de</strong><br />
to<strong>do</strong>s.<br />
Nesse mun<strong>do</strong> em que a tecnologia nos aproxima, as diferenças culturais têm nos afasta<strong>do</strong>, e esse<br />
afastamento, muitas vezes, reflete em atos <strong>de</strong> preconceito e intolerância que <strong>de</strong>scambam <strong>para</strong> a<br />
violência pura e simples. Nestes nossos tempos, muita gente mata por dinheiro, por i<strong>de</strong>ologias<br />
políticas, por terras, por petróleo e até pela fé.<br />
Vivemos em um momento on<strong>de</strong> é preciso buscar as bases <strong>para</strong> um mun<strong>do</strong> melhor. E cabe a cada<br />
um, em seu cotidiano, trabalhar <strong>para</strong> construir esse novo mun<strong>do</strong>, a partir <strong>de</strong> uma nova consciência.<br />
Uma das bases a essa nova consciência está no respeito à diversida<strong>de</strong>, à riqueza que existe no<br />
diferente, e está na educação uma das chaves <strong>para</strong> levar cada pessoa a refletir criticamente sobre<br />
seu papel no mun<strong>do</strong> e sobre o valor <strong>do</strong> outro, em sua inteireza.
Nesse senti<strong>do</strong>, e levan<strong>do</strong> em conta o sentimento religioso que marca a existência da humanida<strong>de</strong>,<br />
ten<strong>do</strong> presente a clareza sobre as dificulda<strong>de</strong>s que perpassam as relações sociais quan<strong>do</strong> as<br />
discussões giram em torno das crenças <strong>de</strong> cada um, ou <strong>de</strong> cada grupo, é que se coloca ao Ensino<br />
Religioso um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio: o <strong>de</strong> agir como uma área <strong>de</strong> conhecimento inserida nesse universo<br />
em transformação, que tanto exige da escola como um to<strong>do</strong>, e o <strong>de</strong> perceber e valorizar as<br />
diferenças, levan<strong>do</strong> os indivíduos a compreen<strong>de</strong>r, respeitar e conviver com as diferenças,<br />
conhecen<strong>do</strong> a partir <strong>de</strong>las a riqueza que há nos outros.<br />
“[nosso] planeta necessita, em to<strong>do</strong>s os senti<strong>do</strong>s, <strong>de</strong> compreensões mútuas. Dada a importância da<br />
educação <strong>para</strong> a compreensão, em to<strong>do</strong>s os níveis educativos e em todas as ida<strong>de</strong>s, o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento da compreensão necessita da reforma planetária das mentalida<strong>de</strong>s; esta <strong>de</strong>ve ser<br />
a tarefa da educação <strong>do</strong> futuro” (MORIN, 2001, p. 104).<br />
Por fim, ten<strong>do</strong> a clareza <strong>de</strong> que o ser humano é religioso por natureza, e <strong>de</strong> que ele possui a<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, é preciso resgatar essa dimensão <strong>do</strong> educan<strong>do</strong> <strong>para</strong> além <strong>do</strong> intelecto,<br />
educan<strong>do</strong> <strong>para</strong> a vida, educan<strong>do</strong> <strong>para</strong> o cuida<strong>do</strong>, educan<strong>do</strong> <strong>para</strong> a paz, enfim educan<strong>do</strong> <strong>para</strong> a<br />
pedagogia da alterida<strong>de</strong>!<br />
Referências Bibliográficas<br />
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VALLS, Álvaro. O que é ética. São Paulo: Brasiliense, 1994.<br />
VELOSO, Dom Eurico <strong>do</strong>s Santos. Fundamentos filosóficos <strong>do</strong>s valores no Ensino Religioso.<br />
Subsídios pedagógicos. Petrópolis: Vozes, 2001.<br />
O Ethos no Ensino Religioso<br />
Miguel Longhi<br />
A preocupação com o Ethos no Programa <strong>de</strong> Ensino Religioso justifica-se pela estreita relação<br />
existente entre comportamento e tradição religiosa. Se educar é o processo <strong>de</strong> abertura <strong>do</strong> ser<br />
humano <strong>para</strong> se compreen<strong>de</strong>r, então torna-se impossível pensar o humano se<strong>para</strong>n<strong>do</strong>-o <strong>de</strong> sua<br />
dimensão <strong>de</strong> transcendência; pois, o conhecimento que emancipa o ser humano não é apenas <strong>de</strong><br />
natureza científica. É no interior da experiência religiosa que o ethos, mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> ser das coisas e das<br />
pessoas, teci<strong>do</strong> vivo <strong>de</strong> relações e inter-relações entre elementos da cultura, da tradição e da<br />
religião que formam e constituem a estrutura explicitativa e significativa <strong>do</strong> ser, e como fonte <strong>do</strong><br />
<strong>de</strong>ver <strong>para</strong> o agir moral <strong>do</strong> ser humano, encontra sua expressão mais autêntica, antiga e universal.<br />
Cada cultura apresenta uma forma (interior) particular, própria e característica <strong>de</strong> ver o<br />
comportamento humano e conceber o mun<strong>do</strong>. Diferentes cosmovisões representam formas diversas<br />
<strong>de</strong> conceber, ser e agir segun<strong>do</strong> o âmbito em que cada um se move.
Assim, as várias maneiras <strong>de</strong> ser e as formas diversas <strong>de</strong> se pôr constituem os diferentes ethos<br />
existentes. Tanto nos sistemas culturais quanto nas tradições religiosas existem diferentes verda<strong>de</strong>s<br />
e diferentes caminhos <strong>de</strong> salvação.<br />
Caso o ethos não venha a ser acolhi<strong>do</strong> e respeita<strong>do</strong> como tal, o Ensino Religioso po<strong>de</strong>rá oscilar<br />
entre o moralismo e o espiritualismo, isto é, ou se aplicará o código moral <strong>de</strong> uma tradição ou se<br />
anulará a experiência histórica das tradições. O ethos é, assim, a um tempo, meta e méto<strong>do</strong>, fim e<br />
meio. Ou seja, o ethos constitui tanto ponto <strong>de</strong> partida quanto ponto <strong>de</strong> chegada. Desse mo<strong>do</strong>, as<br />
expressões religiosas concretas existentes emergem como valor constituinte e ação significante da<br />
condição humana.<br />
Sem uma perspectiva ética a vida humana carece <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>, torna<strong>do</strong>-se conflituosa em relação à<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se estabelecer uma or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> se organizar a prática <strong>do</strong> bem<br />
comum. Por isso, conforme a tradição aristotélica, a prática das virtu<strong>de</strong>s torna-se fundamental.<br />
Inexiste, pois, processo educacional que não comporte transmissão <strong>de</strong> valores, <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />
atitu<strong>de</strong>s, alargamento da consciência a respeito <strong>de</strong> direitos e <strong>de</strong>veres <strong>para</strong> consigo e <strong>para</strong> com os<br />
<strong>de</strong>mais, isto é, <strong>de</strong>veres <strong>para</strong> com a humanida<strong>de</strong>.<br />
EIXO: RITOS<br />
ENSINO RELIGIOSO: O MITO COMO CONTRIBUIÇÃO NA EDUCAÇÃO HUMANA<br />
Elizandra <strong>do</strong>s Santos Brasil1<br />
Ivone <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Dmengeon²<br />
O que é mito?<br />
Des<strong>de</strong> os primórdios da humanida<strong>de</strong> estamos em meio e contribuímos com as evoluções. As<br />
<strong>de</strong>scobertas, as criações e invenções sempre foram uma constante na vida das pessoas. Parece<br />
que isso é uma prova que o ser humano quer buscar algo que ao mesmo tempo parece estar ao<br />
seu alcance pela sua inteligência e em contrapartida através das suas busca anseia pelo não<br />
<strong>de</strong>svenda<strong>do</strong> como se fosse a resposta sobre as indagações a respeito <strong>do</strong> mistério <strong>de</strong> estar e<br />
permanecer vivo. O <strong>de</strong>sconheci<strong>do</strong> interpela, incita, provoca a ação em favor <strong>de</strong> uma resposta que<br />
seja a<strong>de</strong>quada às inspirações mais íntimas que cada ser traz em seu interior. On<strong>de</strong> está a origem<br />
da vida, então? Qual o significa<strong>do</strong> que ela tem <strong>para</strong> cada pessoa? Daí a importância <strong>de</strong> que to<strong>do</strong>s<br />
aqueles que são compromissa<strong>do</strong>s com a educação façam o esforço <strong>de</strong> trabalhar a partir da sua<br />
formação, <strong>para</strong> que as diversas matizes a respeito da significação <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> da vida seja abarca<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong> maneira a valorizar o que todas a Tradições Religiosas dizem.<br />
O mito é fantasia, porém é concretu<strong>de</strong>. Mito é a extensão <strong>do</strong> anseio, <strong>do</strong> <strong>de</strong>sejo <strong>do</strong> ser humano <strong>de</strong><br />
explicar e ser explica<strong>do</strong>, <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r e <strong>de</strong> ser entendi<strong>do</strong>. Para ELÍADE (P.17 1972), “... conhecer os<br />
mitos é apren<strong>de</strong>r o senti<strong>do</strong> da origem das coisas... Apren<strong>de</strong>m-se não somente como as coisas<br />
vieram à existência, mas também on<strong>de</strong> encontrá-las e como fazer com que reapareçam quan<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong>saparecerem”.Daí a importância <strong>de</strong> procurar conhecer o senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> diferentes mitos, e <strong>de</strong> aplicálos<br />
no cotidiano abrin<strong>do</strong> oportunida<strong>de</strong> <strong>para</strong> que o respeito entre o diferente seja estabeleci<strong>do</strong> e<br />
caminhe <strong>para</strong> uma permanência sempre maior e eficaz; e <strong>para</strong> que to<strong>do</strong>s sejam privilegia<strong>do</strong>s da<br />
fonte <strong>de</strong> enriquecimento que as diversas tradições religiosas existentes têm a oferecer a partir das<br />
suas estruturas, <strong>do</strong>utrinas, ritos. “O erro mais trágico e persistente <strong>do</strong> pensamento humano é o<br />
conceito <strong>de</strong> que as idéias são mutuamente exclusivas”.(PCNs, p.20). Neste senti<strong>do</strong>, caminha-se<br />
<strong>para</strong> o fechamento em si mesmo e alargam-se as chances <strong>para</strong> o empobrecimento acresci<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
uma ignorância sovina e <strong>de</strong>strutiva. Um verda<strong>de</strong>iro senti<strong>do</strong> da importância <strong>do</strong> outro no curso das<br />
coisas, vem da <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> cada ser a respeito <strong>de</strong> seus próprios conceitos enquanto participante<br />
<strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> religiosa e/ou mesmo como ser religioso; isso possibilita, (supõe-se) um<br />
caminho <strong>para</strong> a alterida<strong>de</strong> e o abrir-se <strong>para</strong> enriquecer e ser enriqueci<strong>do</strong> pelo <strong>de</strong>sconheci<strong>do</strong> que<br />
advém <strong>de</strong> outrem não como ameaça mas como partilha benéfica e como companheiros <strong>de</strong> jornada<br />
a procura <strong>do</strong> mesmo fim: o senti<strong>do</strong> da existência.<br />
O mito, segun<strong>do</strong> a ENCICLOPÉDIA BRITÂNICA DO BRASIL, “constitui uma realida<strong>de</strong> antropológica<br />
fundamental, pois ele não só representa uma explicação sobre as origens <strong>do</strong> homem e <strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />
em que se vive, como traduz por símbolos ricos <strong>de</strong> significa<strong>do</strong> o mo<strong>do</strong> como um povo ou civilização<br />
enten<strong>de</strong> e interpreta a existência.” (p. 85, 1997) O ser humano anseia por <strong>de</strong>svendar o seu fim<br />
último, indaga-se <strong>de</strong> on<strong>de</strong> veio, o que faz aqui neste mun<strong>do</strong> e <strong>para</strong> on<strong>de</strong> vai, essas perguntas são<br />
pertinentes durante sua breve vida. Sua busca é em prol <strong>do</strong> seu <strong>de</strong>senvolvimento cultural, social,
psicológico. Começa neste mun<strong>do</strong> e vai <strong>para</strong> além <strong>de</strong>sta vida, fecho <strong>de</strong> sua crença e procura. E o<br />
interessante é que cada pessoa busca <strong>do</strong> seu jeito, segun<strong>do</strong> a crença na qual foi inicia<strong>do</strong> ou na qual<br />
fez a opção. O que importa é o senti<strong>do</strong> da vida, almeja<strong>do</strong>, ansia<strong>do</strong> por to<strong>do</strong>s in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da<br />
condição étnica, social ou cultural.<br />
De acor<strong>do</strong> com VIESSER (p. 85. 2005), mi to-mythos – advém <strong>do</strong> grego, que significa<br />
etimologicamente fábula. Significan<strong>do</strong> fábula, torna-se algo que é transmiti<strong>do</strong> oralmente por nossos<br />
antepassa<strong>do</strong>s, ten<strong>do</strong> como base a fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> <strong>do</strong> repasse na transmissão das narrativas; <strong>para</strong> que o<br />
ser humano possa compreen<strong>de</strong>r a realida<strong>de</strong> na qual vive e assim, <strong>para</strong> que construa seu<br />
conhecimento acerca <strong>do</strong> que acredita. A existência humana em sua essência é uma fábula, on<strong>de</strong> o<br />
que se é, não está escrito. Po<strong>de</strong>-se prever alguma coisa, mas nunca <strong>de</strong>limitar em certezas<br />
estáticas, pois o ser humano é dinâmico, ativo. Com o passar <strong>do</strong> tempo faz parte da historicida<strong>de</strong><br />
<strong>do</strong>s outros e vai construin<strong>do</strong> a sua <strong>de</strong> maneira criativa, única, peculiar.<br />
Já temos nos <strong>de</strong><strong>para</strong><strong>do</strong> com inúmeras ferramentas que explicitam experiências que vêm tentar<br />
ajudar o ser humano a construir-se como pessoa. Esse é o <strong>de</strong>safio e o propósito da das buscas<br />
ininterruptas que este realiza por toda a sua existência. O mito é, seguin<strong>do</strong> esta idéia, mais uma<br />
<strong>de</strong>las que, diga-se <strong>de</strong> passagem, alargam <strong>de</strong> maneira extraordinária as opções <strong>para</strong> o fim busca<strong>do</strong>.<br />
Ele materializa o que não é concreto. Tem a função <strong>de</strong> explicar algo que não se vê, mas que se<br />
acredita. Com este intuito, busca-se aqui oferecer, através <strong>de</strong>sta abordagem a quem lê, uma<br />
oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interpretar <strong>de</strong> maneira rica e criativa como o mito se aplica na vida humana, a partir<br />
é claro, da atuação nas entrelinhas feita por inferência <strong>do</strong> Ensino Religioso. Ele está aí como uma<br />
ferramenta que auxilia a <strong>de</strong>strinchar, a clarificar, a trazer à tona, ao alcance das pessoas, com a<br />
precisão mais eficiente possível, o que está implícito na cultura religiosa na qual está inseri<strong>do</strong> e ou<br />
mesmo o que há em outras culturas. Não dá <strong>para</strong> fechar os olhos ou recusar-se a perceber que as<br />
crenças que envolvem o que é o campo <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> <strong>do</strong> ER, é exclusivamente matéria <strong>para</strong> que ele<br />
se <strong>de</strong>senvolva, se aperfeiçoes e contribua <strong>para</strong> a harmonia entre as culturas e religiões.<br />
É na tradição oral <strong>de</strong> matriz africana que vamos buscar inspiração <strong>para</strong> o artigo. Apontan<strong>do</strong> através<br />
<strong>do</strong> exemplo que “... em cada indivíduo, em cada povo, em cada cultura existe algo que é relevante<br />
<strong>para</strong> os <strong>de</strong>mais, por mais diferentes entre si” (PCNs, p. 20) E isso precisa ser assimila<strong>do</strong> e visto <strong>de</strong><br />
maneira a criar admiração pelo que ajuda e contribui no encontro da pessoa com sua essência.<br />
O mito colabora quan<strong>do</strong> se trata também da religiosida<strong>de</strong> das pessoas, ele está incuti<strong>do</strong> na mente<br />
humana, é fato indispensável na existência humana. Diante das diversas maneiras <strong>de</strong> como o viver<br />
e a vida se apresentam, como o ser humano conduz sua reflexão? Como ele interpreta a realida<strong>de</strong><br />
que o cerca mesmo sem enten<strong>de</strong>r, ou ter alusões lógicas sobre suas dúvidas e anseios?<br />
O mito da criação <strong>de</strong> matriz afro, segun<strong>do</strong> a CARTILHA DIVERSIDADE RELIGIOSA E DIREITOS<br />
HUMANOS:<br />
“... no principio havia uma única verda<strong>de</strong> no mun<strong>do</strong>. Entre Orun (mun<strong>do</strong> invisível, espiritual) e o Aivê<br />
(mun<strong>do</strong> natural) existia um gran<strong>de</strong> espelho, assim tu<strong>do</strong> que estava no Orun se materializava e se<br />
mostrava no Aiyê. Ou seja, tu<strong>do</strong> que estava no mun<strong>do</strong> espiritual se refletia exatamente no mun<strong>do</strong><br />
material. Ninguém tinha menor dúvida em consi<strong>de</strong>rar to<strong>do</strong>s os acontecimentos como verda<strong>de</strong>s. E<br />
to<strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> era pouco <strong>para</strong> não se quebrar o espelho da Verda<strong>de</strong>, que ficava perto <strong>do</strong> Orun e bem<br />
perto <strong>de</strong> Aiyê. Neste tempo, vivia no Aiyê uma jovem chamada Mahura, que trabalhava muito,<br />
ajudan<strong>do</strong> sua mãe. Ela passava dias inteiros a pilar inhame. Um dia, inadvertidamente, per<strong>de</strong>n<strong>do</strong> o<br />
controle <strong>do</strong> movimento ritma<strong>do</strong> que repetia sem <strong>para</strong>r, a mão <strong>do</strong> pilão tocou no espelho, que se<br />
espatifou pelo mun<strong>do</strong>, Mahura correu <strong>de</strong>sesperada <strong>para</strong> se <strong>de</strong>sculpar com Olorum (o Deus<br />
Supremo) Qual não foi a surpresa da jovem quan<strong>do</strong> encontrou Olorum calmamente <strong>de</strong>ita<strong>do</strong> à<br />
sombra <strong>de</strong> um iroko (planta sagrada, guardiã <strong>do</strong>s terreiros). Olorum ouviu as <strong>de</strong>sculpas <strong>de</strong> Mahura<br />
com toda atenção, e <strong>de</strong>clarou que, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à quebra <strong>do</strong> espelho, a partir daquele dia não existiria<br />
mais uma verda<strong>de</strong> única. E concluiu Olorum: ‘De hoje em diante, quem encontrar um pedaço <strong>de</strong><br />
espelho em qualquer parte <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> já po<strong>de</strong> saber que está encontran<strong>do</strong> apenas uma parte da<br />
verda<strong>de</strong>, porque o espelho espelha sempre a imagem <strong>do</strong> lugar on<strong>de</strong> ele se encontra.”<br />
Assim, como este, existem inúmeros outros mitos que trazem ao entendimento indagações a<br />
respeito <strong>do</strong> novo, da criação, da <strong>de</strong>scoberta. É o ser humano queren<strong>do</strong> explicar-se e buscan<strong>do</strong><br />
explicação acerca <strong>do</strong> que não conhece, mas <strong>de</strong>seja conhecer e por que não tocar e ser toca<strong>do</strong>?<br />
Sim, o E.R. dará e será oportunida<strong>de</strong> ao educan<strong>do</strong> (a) <strong>para</strong> que este se encontre e busque o que<br />
po<strong>de</strong> saciar sua se<strong>de</strong> infindável <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> da vida, <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> a si mesmo e a tu<strong>do</strong> que o ro<strong>de</strong>ia,<br />
forman<strong>do</strong> conceitos e ten<strong>do</strong> explicações <strong>para</strong> os seus questionamentos.
Sobre o prisma da Enciclopédia Britânica <strong>do</strong> Brasil, vemos que o “mito como uma narrativa<br />
tradicional, contu<strong>do</strong> religioso, que procura explicar os principais acontecimentos da vida das<br />
pessoas por meio <strong>do</strong> sobrenatural” (p.85. 1997) conduz a um entendimento da realida<strong>de</strong> à altura da<br />
capacida<strong>de</strong> humana <strong>para</strong> tal. Já que a<strong>de</strong>ntramos com isso, no plano metafísico, on<strong>de</strong> com nossa<br />
inteligência alcança-se parte da verda<strong>de</strong> que se mescla <strong>de</strong> conclusões e<br />
expectativas...<br />
Mas que características, então, o mito traz, que <strong>de</strong> certa forma materializa e ajuda e assimilar<br />
situações <strong>para</strong> além <strong>do</strong>s fatos corriqueiros? O mito envolve o ser humano em sua teia e faz com<br />
que os fatos <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> sejam parte <strong>do</strong> seu presente, mostra que a ação e a vida humana está<br />
interligada. O mito “envolve acontecimentos supostos, relativos a épocas primordiais, ocorri<strong>do</strong>s<br />
antes <strong>do</strong> surgimento <strong>do</strong>s homens. (história <strong>do</strong>s <strong>de</strong>uses) ou com os “primeiros” homens (história<br />
ancestral)”. (ENCICLOPÉDIA BRITÂNICA DO BRASIL, p.86. 1997).<br />
Parafrasean<strong>do</strong> Elia<strong>de</strong>, o mito relata uma história sagrada, um acontecimento que teve lugar num<br />
momento primordial, o tempo chama<strong>do</strong> “<strong>do</strong>s começos”. O mito conta sobre as obras <strong>do</strong>s seres<br />
sobrenaturais, e que <strong>de</strong> repente passa a existir no plano natural; é sempre uma forma <strong>de</strong> narração<br />
<strong>de</strong> uma criação, <strong>de</strong>screve-se como algo foi produzi<strong>do</strong>, como começou a existir.<br />
E continuan<strong>do</strong> ainda, o objeto <strong>do</strong> mito são as diversas situações em que se procura dar senti<strong>do</strong> ao<br />
mun<strong>do</strong>. É mediação entre o sagra<strong>do</strong> e o profano. É verda<strong>de</strong> escatológica e tem o ser humano como<br />
o ponto <strong>de</strong> ligação entre a realida<strong>de</strong> e o seu senti<strong>do</strong> último, a sua transformação última. O mito<br />
transcen<strong>de</strong> a experiência <strong>do</strong> hic et nunc, o senso comum, e a razão. O mito não precisa <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>monstração. Por isso, é uma linguagem apropriada à religião. Abrange maior amplitu<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
mensagens, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s antropológicas muito imprecisas, até conteú<strong>do</strong>s religiosos, précientíficos,<br />
tribais, folclóricos ou simplesmente anedóticos.<br />
O papel <strong>do</strong> mito <strong>para</strong> o ser humano<br />
O ser humano na busca incessante em <strong>de</strong>svendar o mistério <strong>de</strong> sua existência tenta compreen<strong>de</strong>r<br />
esta realida<strong>de</strong> através <strong>do</strong>s mitos que lhe são apresenta<strong>do</strong>s <strong>de</strong>s<strong>de</strong> seu nascimento; ou pelo menos,<br />
convencer-se <strong>de</strong> que o existir não é um acaso. As interrogações pertinentes estão sempre em seu<br />
percalço: De on<strong>de</strong> viemos? Quem somos? Para on<strong>de</strong> vamos? Esses questionamentos permeiam o<br />
mito da origem humana; que <strong>para</strong> Campbell (p.05, 1990) todas as pessoas procuram “uma<br />
experiência <strong>de</strong> estar vivos, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que nossas experiências <strong>de</strong> vida no plano puramente físico,<br />
tenham ressonância no interior <strong>de</strong> nosso ser e <strong>de</strong> nossa realida<strong>de</strong> mais íntimos, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que<br />
realmente sintamos o enlevo <strong>de</strong> estar vivos...” portanto, estar vivo é estar em sintonia com o interior<br />
<strong>de</strong> si próprio e, assim, procurar fazer o melhor fisicamente <strong>para</strong> que interiormente sinta-se bem e em<br />
paz.<br />
Realizan<strong>do</strong>-se isso, ter-se-á uma experiência <strong>de</strong> vida, on<strong>de</strong> os significa<strong>do</strong>s estarão se movimenta<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong> maneira a construir o que se almeja enquanto resposta <strong>para</strong> a existência. Vejamos como um<br />
pouco disso se dá: segun<strong>do</strong> Campbell (p.09.1990), os a<strong>do</strong>lescentes criam os mitos por iniciativa<br />
própria, ou seja, “... tem suas próprias gangues, suas próprias iniciações, sua própria moralida<strong>de</strong>.<br />
(... ) Eles não foram inicia<strong>do</strong>s na socieda<strong>de</strong>”. Eis a importância <strong>de</strong> conduzir, <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r <strong>para</strong> po<strong>de</strong>r<br />
ensinar, ou seja, se educar ethos aos a<strong>do</strong>lescentes e aos jovens, <strong>para</strong> que <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> seus costumes<br />
conheçam seus mitos e tornem-se pessoas que respeitam e adquiram sabe<strong>do</strong>ria <strong>de</strong> vida, <strong>para</strong> que<br />
não abarquem a tendência <strong>de</strong> estarem entre os jovens que não crêem em mais nada, on<strong>de</strong> suas<br />
vidas tornam-se um abismo, um vazio sem significa<strong>do</strong>; <strong>do</strong>n<strong>de</strong>, então emerge as drogas, procuradas<br />
pelas soluções rápidas que oferecem <strong>do</strong>s problemas que talvez nem sejam problemas, mas sim<br />
confusões e mal-entendi<strong>do</strong>s.<br />
Atualmente, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com Campell (p. 10. 1990), “... as escolas visam somente à especialização”,<br />
<strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> <strong>de</strong> la<strong>do</strong> as “histórias sobre a sabe<strong>do</strong>ria <strong>de</strong> vida”, à qual o público <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes e<br />
jovens mostra-se interessa<strong>do</strong> em apren<strong>de</strong>r. Portanto, é importante ressaltar que se <strong>de</strong>ve levar ao<br />
conhecimento <strong>do</strong>s jovens a introdução <strong>do</strong>s conhecimentos não-formais, a fim <strong>de</strong> lhes propor novas<br />
alternativas <strong>de</strong> vida.<br />
Para CAMPBELL (p.74. 1990), “... o mito precisa servir a <strong>do</strong>is propósitos, induzir o jovem a<br />
participar da vida <strong>de</strong> seu mun<strong>do</strong>, e <strong>de</strong>pois, <strong>de</strong>senganjá-lo.”, ou seja, faz-se necessário que conheça<br />
e atue sob seus costumes, <strong>para</strong> então, conseguir o que realmente quer atingir. Numa entrevista<br />
concedida a Moyers, Campbell quan<strong>do</strong> indaga<strong>do</strong>, diz: “Quan<strong>do</strong> criança, você é educa<strong>do</strong> num
mun<strong>do</strong> <strong>de</strong> disciplina, <strong>de</strong> obediência, e é <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>do</strong>s outros. Tu<strong>do</strong> isso ten<strong>de</strong> ser supera<strong>do</strong><br />
quan<strong>do</strong> você atinge a maturida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que possa viver não em <strong>de</strong>pendência, mas com uma<br />
autorida<strong>de</strong> auto-responsável. Se você não for capaz <strong>de</strong> cruzar essa barreira, po<strong>de</strong>rá se tornar um<br />
neurótico. Depois <strong>de</strong> ter conquista<strong>do</strong>, produzi<strong>do</strong> o seu mun<strong>do</strong>, vem a crise <strong>de</strong> ser dispensa<strong>do</strong>, a<br />
crise <strong>do</strong> <strong>de</strong>sengajamento.’<br />
MOYERS: E finalmente a morte?<br />
Campbel: E finalmente a morte. É o <strong>de</strong>sengajamento <strong>de</strong>finitivo. Assim, o mito precisa servir aos <strong>do</strong>is<br />
propósitos, induzir o jovem a participar da vida <strong>do</strong> seu mun<strong>do</strong> e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>sengajá-lo. A idéia<br />
folclórica <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ia a idéia elementar, que guia você na direção da sua própria vida interior.”<br />
(p.74. 1990)<br />
Sen<strong>do</strong> o ser humano repleto <strong>de</strong> questionamento a respeito <strong>de</strong> tu<strong>do</strong> que o cerca, cabe a ele se<br />
envolver na complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua vida, não em suas complicações, buscan<strong>do</strong> as inúmeras<br />
alternativas que enobrecem e valorizam sua existência. Pois, conhecen<strong>do</strong> a existência da<br />
diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> culturas e que há uma infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mitos através <strong>do</strong>s quais a pessoas se apóiam e<br />
ele se direciona <strong>para</strong> um itinerário que remete a compreensão e o pre<strong>para</strong> <strong>para</strong> que se adapte ao<br />
mun<strong>do</strong> em que vive <strong>de</strong> maneira pessoal e coletiva.<br />
Segun<strong>do</strong> ELÍADE (p.11, 1972) “o homem é um ser mortal, sexua<strong>do</strong> e cultural” <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> as “irrupções<br />
<strong>do</strong> sagra<strong>do</strong> (ou <strong>do</strong> sobrenatural)”, exemplo disso é Simba <strong>de</strong> O Rei Leão, que volta à “luta” da vida<br />
<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à interferência <strong>do</strong> sobrenatural, ou seja, a aparição <strong>de</strong> seu pai é que o faz ver quem ele é<br />
realmente e lhe encoraja a voltar ao Reino; isso po<strong>de</strong> ser aplica<strong>do</strong> analogicamente ao ser humano:<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre procura formas <strong>de</strong> encontrar-se consigo mesmo, vai a procura das diversas religiões,<br />
a fim <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar-se buscan<strong>do</strong> mesmo sem saber o <strong>de</strong>svendar <strong>do</strong> mistério <strong>de</strong> si mesmo; procura<br />
algo que o aju<strong>de</strong> a preencher o vazio no qual sente que está imerso. Nesse caso o mito, se refere a<br />
busca <strong>do</strong> verda<strong>de</strong>iro eu, à i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> pessoal, única, irrepetível; e às mais diversas realida<strong>de</strong>s que<br />
faz com que o ser humano coloque um porquê às suas ativida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> cotidiano. A tarefa <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>svendar a sua origem é árdua, sem a qual não há compreensão nem <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> pessoal, quanto<br />
mais <strong>do</strong> coletivo e <strong>do</strong> sobrenatural.<br />
Para ELÍADE (p.16, 1972) o homem arcaico, “é resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> um número <strong>de</strong> eventos míticos... que<br />
constituem uma história sagrada”, ou seja, é o que é, porque entes sobrenaturais permitiram que<br />
fosse assim; já <strong>para</strong> o homem mo<strong>de</strong>rno, ainda segun<strong>do</strong> ELÍADE, é como é hoje, porque houve<br />
contribuição <strong>de</strong> toda a socieda<strong>de</strong>; <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o <strong>de</strong>scobrimento <strong>do</strong> fogo até os acontecimentos maléficos<br />
ou benéficos ocorri<strong>do</strong>s com a humanida<strong>de</strong> o fazem ser um sujeito que está à mercê <strong>de</strong> tu<strong>do</strong> o que<br />
ocorre no passa<strong>do</strong> e presente e que isso contribuirá <strong>para</strong> os que futuramente passarem por aqui, ou<br />
seja, a vida está repleta da rica característica da história.<br />
O ser humano <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> sua perspectiva <strong>de</strong> ser em relação, busca o auto-conhecimento, interage e<br />
interfere no meio em que vive. Portanto, busca um envolvimento com o Transcen<strong>de</strong>nte como forma<br />
<strong>de</strong> encontrar e assumir sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>; por isso a compreensão <strong>do</strong>s mitos presente na vida humana<br />
é relevante: <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com ELÍADE (p.18, 1972) “conhecer os mitos é apren<strong>de</strong>r o segre<strong>do</strong> da<br />
origem das coisas”, é i<strong>de</strong>ntificar <strong>de</strong> maneira inteligível como o senti<strong>do</strong> existe e como encontrá-lo no<br />
cotidiano. Desse mo<strong>do</strong>, o conhecimento torna-se claro, passa da mente <strong>para</strong> o coração, a partir <strong>do</strong><br />
momento que realmente se vivencia e conhece o que é busca<strong>do</strong>, encontra-se o que se procura.<br />
As ações humanas são reflexos <strong>de</strong>ssa busca diante <strong>de</strong> todas as situações que surgem no seu<br />
cotidiano. Cada solução almejada perante o que é aparentemente inexplicável ou sem nexo, revela<br />
seu <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> estar a procura <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> <strong>para</strong> sua existência. Com isso, a transcendência, o querer<br />
ir além <strong>do</strong> natural torna-se companheiro na jornada terrena <strong>do</strong> ser humano: em suas ações e<br />
utopias, mesmo sem que ele próprio o saiba; daí as crenças, superstições, mitos incuti<strong>do</strong>s e<br />
mescla<strong>do</strong>s em sua existência.<br />
Respeito ao diferente<br />
De acor<strong>do</strong> com o PCNER p. 20: “... pelo espírito <strong>de</strong> reverência às crenças alheias (e não só pela<br />
tolerância) <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ia-se o profun<strong>do</strong> respeito mútuo que po<strong>de</strong> conduzir a paz.” Sob a perspectiva<br />
<strong>do</strong> ser em relação, abre-se campo <strong>para</strong> uma miscelânea <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobertas; faz-se necessário<br />
conhecer as mais diferentes crenças que surgem e conseqüentemente abrir-se <strong>para</strong> o novo que<br />
<strong>de</strong>sponta em cada pessoa e aqui, em cada aluno oriun<strong>do</strong> das mais diversas realida<strong>de</strong>s, sobretu<strong>do</strong><br />
quan<strong>do</strong> se fala a nível <strong>de</strong> Brasil. O E.R., na escola, ten<strong>de</strong> a unir as mais diferentes culturas, ou<br />
dimensões religiosas, a fim <strong>de</strong> que haja entendimento mútuo e a aquisição <strong>de</strong> novos conhecimentos<br />
a respeito das diversas religiões existentes.
A reverência e o respeito à maneira <strong>do</strong> outro acreditar e manifestar sua fé, é um <strong>para</strong>digma a ser<br />
estuda<strong>do</strong> com comprometimento, sem preconceitos, pois que este vem enfatizar não a visão sob<br />
<strong>de</strong>termina<strong>do</strong> ângulo, mas sim, vem “<strong>de</strong>smistificar” o que foi se construin<strong>do</strong> no senti<strong>do</strong> negativo em<br />
relação às tradições religiosas, enquanto ponto <strong>de</strong> partida <strong>para</strong> um entendimento mais harmonioso<br />
entre as pessoas.<br />
Até aqui, se fizermos uma análise, to<strong>do</strong>s os fatores contribuem <strong>para</strong> a diversida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o fato <strong>do</strong><br />
ser humano em contato climático quanto às questões regionais, nacionais, continentais, <strong>de</strong><br />
ascendência ou <strong>de</strong>scendência. Mas se a diversida<strong>de</strong> é ponto <strong>de</strong> <strong>para</strong>da, sem o esforço <strong>de</strong> ir, além<br />
disso, o E.R. como área <strong>de</strong> conhecimento está incompleto. É o E.R. que “costura” o mito que cada<br />
um cria, expan<strong>de</strong> e alarga horizontes, motiva <strong>para</strong> o respeito. Se cada um é forma<strong>do</strong> <strong>para</strong> viver com<br />
proprieda<strong>de</strong> sua crença, este acaba respeitan<strong>do</strong> o diferente <strong>do</strong> outro, porque acaba compreen<strong>de</strong>n<strong>do</strong><br />
que to<strong>do</strong>s buscam respostas iguais que supram sua necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transcen<strong>de</strong>r, mas é claro, <strong>de</strong><br />
maneira diferente e este é um direito que não po<strong>de</strong> ser nega<strong>do</strong> a ninguém.<br />
Para ELÍADE (p.123, 1972), “... a religião mantém a ‘abertura’ <strong>para</strong> o mun<strong>do</strong> sobre-humano”, ou<br />
seja, a religião contém valores absolutos <strong>para</strong> todas as ativida<strong>de</strong>s humanas, nas quais o ser<br />
humano se confronta com o mistério compreen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a linguagem que o mun<strong>do</strong> lhe oferece. Para<br />
tal explicação, é imprescindível que se i<strong>de</strong>ntifique os mo<strong>de</strong>los que os mitos lhe revelam, a fim <strong>de</strong><br />
que se construa significação ao mun<strong>do</strong>, levan<strong>do</strong>-se em conta que o que se busca é <strong>de</strong>spontar <strong>para</strong><br />
as idéias <strong>de</strong> “realida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> valor e <strong>de</strong> transcendência” (p.128,1972).<br />
O mito que envolve o ser humano precisa ser realmente “<strong>de</strong>smistifica<strong>do</strong>”: nada <strong>de</strong> complicação e<br />
sim buscar enten<strong>de</strong>r a complexida<strong>de</strong> impossível <strong>de</strong> se ignorar. Implantar ao invés da hegemonia <strong>de</strong><br />
uma tradição religiosa a harmonia e o enriquecimento mútuo. É difícil tal caminho, mas o encontro<br />
com o Transcen<strong>de</strong>nte perpassa pela experiência com o outro, portanto é caminho necessário. Toda<br />
ação transcen<strong>de</strong>ntal interpele e possibilita refletir e agir em prol <strong>do</strong> outro: a alterida<strong>de</strong> também tem a<br />
ver com respeito, com valorização <strong>do</strong> diferente. Essa é uma das missões <strong>do</strong> E.R. na vida das<br />
pessoas, inseri<strong>do</strong> na vida <strong>do</strong>s alunos (as).<br />
É nesta finitu<strong>de</strong>, neste mun<strong>do</strong> da precarieda<strong>de</strong>, <strong>do</strong> efêmero que o fenômeno religioso se<br />
fundamenta, se avoluma e se faz imprescindível ser reconheci<strong>do</strong> - sutilmente como a ação mítica<br />
entre as pessoas. Trabalhan<strong>do</strong>-o, dá-se oportunida<strong>de</strong> <strong>para</strong> que a construção da liberda<strong>de</strong> na prática<br />
da sua fé seja cada vez mais incentivada e valorizada. To<strong>do</strong>s têm direito <strong>de</strong> ter ou optar pela religião<br />
que quiserem, pois segun<strong>do</strong> CAMPBELL (p.59,1990), “toda religião é verda<strong>de</strong>ira, <strong>de</strong> um mo<strong>do</strong> ou <strong>de</strong><br />
outro”, mas faz-se necessário compreendê-la em sua essência, não crian<strong>do</strong> suas próprias<br />
metáforas. O E.R. diz em sua prática que é muito bom que o conhecimento a respeito seja<br />
externa<strong>do</strong> <strong>para</strong> outras pessoas: to<strong>do</strong> “conhecimento é patrimônio da humanida<strong>de</strong>”, logo, a<br />
socialização só trará benefícios <strong>para</strong> to<strong>do</strong>s.<br />
A função da escola, além <strong>do</strong> conhecimento sistematiza<strong>do</strong> é contribuir <strong>para</strong> que o conhecimento<br />
religioso esteja ao alcance <strong>do</strong>s alunos. A escola é forma<strong>do</strong>ra, portanto sua participação no cotidiano<br />
das pessoas é um marco importante <strong>para</strong> a abertura às novas conquistas nesse campo. Quan<strong>do</strong> a<br />
aprendizagem é <strong>de</strong>senvolvida <strong>de</strong> maneira integral, a criança conhece a si, reconhece-se e conhece<br />
o outro, nisto consiste a educação <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> que trabalha a partir <strong>do</strong> seu próprio mito. Cabe à<br />
escola conduzir o E.R. sob uma reflexão crítica, na qual se estabelece significa<strong>do</strong>s, faz-se<br />
com<strong>para</strong>ções... orienta-se <strong>para</strong> a compreensão da dimensão religiosa na qual o educan<strong>do</strong> (a) está<br />
inseri<strong>do</strong> e subsidian<strong>do</strong>-o em sua concepção <strong>de</strong> mun<strong>do</strong>, ajudará <strong>para</strong> que haja comprometimento<br />
com a construção <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> da vida que terá como <strong>de</strong>sfecho a experiência concreta com o<br />
Transcen<strong>de</strong>nte .<br />
To<strong>do</strong>s falam <strong>de</strong> uma fraternida<strong>de</strong> universal. Como aconteceria na prática educativa? Para tanto,<br />
cabe aos educa<strong>do</strong>res trabalhar com varieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> meto<strong>do</strong>logias que <strong>de</strong>spertem e auxiliem a<br />
motivação interna <strong>do</strong> educan<strong>do</strong> <strong>para</strong> o conhecimento. Despertan<strong>do</strong> neles o interesse por saber o<br />
porquê <strong>do</strong>s diferentes mitos existentes na vida das pessoas e o porquê ela <strong>de</strong>votam a eles tanta<br />
importância. Faz-se necessário também, que o educa<strong>do</strong>r (a) esteja seguro, <strong>para</strong> que consiga atingir<br />
os objetivos com os alunos; visan<strong>do</strong> assim, a aquisição <strong>de</strong> novos conhecimentos e fortalecimento e<br />
ênfase ao que já se sabe a respeito <strong>do</strong> <strong>de</strong>sconheci<strong>do</strong> que está sen<strong>do</strong> ofereci<strong>do</strong> sob um novo<br />
prisma.
Façamos uma analogia com o mito afro: quan<strong>do</strong> existe uma única verda<strong>de</strong> absoluta, há a<br />
exclusivida<strong>de</strong> que mata, empobrece e sufoca. Logo, to<strong>do</strong>s caminhariam <strong>para</strong> tal fraternida<strong>de</strong> a partir<br />
da aceitação da verda<strong>de</strong> <strong>do</strong> outro, seus princípios religiosos também são relevantes. A importância<br />
<strong>de</strong> estabelecer o diálogo entre os (as) educan<strong>do</strong>s (as) se faz imprescindível, o referencial religioso<br />
precisa ser aprofunda<strong>do</strong> sem restrições, sem resistência é o bem comum que se quer alcançar.<br />
To<strong>do</strong> mistério humano está encerra<strong>do</strong> num vaso <strong>de</strong> barro. É preciso cautela, cuida<strong>do</strong>, <strong>para</strong> não<br />
magoar ou insinuar qualquer postura que venha ferir a maneira que cada um tem <strong>de</strong> buscar e refletir<br />
sobre os mitos que envolvem a origem <strong>de</strong> sua vida, <strong>de</strong> sua morte e <strong>para</strong> além da morte: o encontro<br />
com o Ser Superior.<br />
Consi<strong>de</strong>rações finais:<br />
“Enquanto cada grupo, preten<strong>de</strong>r ser o <strong>do</strong>no da verda<strong>de</strong>, enquanto perdurar essa estreiteza <strong>de</strong><br />
visão, a paz mundial permanecerá um sonho inatingível.” (PCNs, p.20)<br />
O mito enquanto fato da vida diária da humanida<strong>de</strong> traz e sempre trará <strong>de</strong>safios a serem<br />
<strong>de</strong>svenda<strong>do</strong>s e trabalha<strong>do</strong>s na educação das pessoas. O E.R. é a área que vai conduzir, reger a<br />
ação a fim <strong>de</strong> conseguir harmonizar os anseios religiosos que estão guarda<strong>do</strong>s no âmago <strong>de</strong> cada<br />
ser; o conhecimento das diferentes tradições religiosas só ten<strong>de</strong> a trazer benefícios. O mito<br />
queenvolve o que parece ser inatingível sob o olhar humano é o segre<strong>do</strong> que motiva e apela <strong>para</strong> a<br />
busca da felicida<strong>de</strong> e conseqüentemente <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> da vida humana.<br />
Não há humanida<strong>de</strong> sem crença, sem uma fé. Não há humanida<strong>de</strong> sem o mito, sem ser ou estar<br />
inserida num mito. Pois a verda<strong>de</strong> se veste <strong>de</strong> muitas caras e assim a visão é mais ampla que a<br />
compreensão natural. O sonho pela paz será alcança<strong>do</strong> à medida que os passos são da<strong>do</strong>s com<br />
consciência e clareza <strong>do</strong> que se procura apresentar e assimilar. O mito enquanto reflexo da<br />
“certeza” sobre <strong>de</strong>sconheci<strong>do</strong> abre portas <strong>para</strong> a <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> si e <strong>do</strong> outro como participante<br />
indispensável na gran<strong>de</strong> jornada da vida rumo a realização plena.<br />
Referências Bibliográficas:<br />
Cartilha Diversida<strong>de</strong> Religiosa e Direitos humanos<br />
CAMPBELL, Joseph. O Po<strong>de</strong>r <strong>do</strong> Mito. São Paulo: ed. Palas Athena.1990.<br />
ELIADE, Mircea. Aspectos <strong>do</strong> Mito, Edições 70, Lisboa<br />
ELÍADE, Mircea. Mito e Realida<strong>de</strong> Debate e Filosofia. São Paulo: Ed. Perspectiva. 1972.<br />
Enciclopédia Britânica <strong>do</strong> Brasil. Publicações Ltda. Rio <strong>de</strong> Janeiro, São Paulo, v. 10, 1997.<br />
Parâmetros Curriculares Nacionais – Ensino Religioso Edições AM São Paulo, 1997.<br />
VIESSER, Lizete Carmem. Fundamentos Pedagógicos <strong>do</strong> Ensino Religioso. IESDE, Curitiba:<br />
2005.<br />
LUGARES SAGRADOS<br />
Declaração universal <strong>do</strong>s direitos humanos<br />
“Toda pessoa tem o direito à liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> pensamento<br />
consciência e religião; este direito inclui a liberda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> mudar <strong>de</strong> religião ou crença e a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela<br />
prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente,<br />
em público ou em particular.”<br />
(Art. 18)<br />
Os lugares sagra<strong>do</strong>s compõem a dimensão da materialida<strong>de</strong> <strong>do</strong> sagra<strong>do</strong>, pois reúnem aspectos<br />
físicos que orientam a paisagem religiosa. Assim, <strong>para</strong> se continuar a construir as idéias propostas<br />
nas Diretrizes Curriculares <strong>de</strong> Ensino Religioso no que se reporta a posição <strong>de</strong>sta disciplina<br />
enquanto transmissora <strong>de</strong> conhecimento científico, que procura efetivar um estu<strong>do</strong> crítico <strong>do</strong>s<br />
princípios, hipóteses e resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> conhecimento já constituí<strong>do</strong> a respeito da cultura (<strong>do</strong> culto)<br />
social e <strong>de</strong> sua ampla diversida<strong>de</strong> e que visa a <strong>de</strong>terminar os fundamentos lógicos, o valor e o<br />
alcance <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> fenômeno religioso <strong>para</strong><br />
o ser humano. Neste tópico, buscar-se-á mostrar alguns exemplos que possam aferir a dimensão <strong>do</strong><br />
entendimento <strong>do</strong> que possa vir a ser um lugar sagra<strong>do</strong>.<br />
Para tanto, po<strong>de</strong>-se observar que muitas pessoas, <strong>de</strong> diferentes religiões, estabelecem lugares<br />
como sagra<strong>do</strong>s. Sen<strong>do</strong> o sagra<strong>do</strong> reconheci<strong>do</strong> em suas manifestações, os lugares on<strong>de</strong> esta<br />
manifestação se <strong>de</strong>u ou se dá é consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> como um lugar especial, um lugar <strong>de</strong> profunda e<br />
intensa emanação espiritual ou, ainda, po<strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r um lugar on<strong>de</strong> o indivíduo realiza práticas
<strong>de</strong> cunho religioso e busca o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> sua espiritualida<strong>de</strong>. Certas culturas religiosas, tais<br />
como, por exemplo, as indígenas, têm uma relação cotidiana com o que é sagra<strong>do</strong>. Já <strong>para</strong> outras<br />
tradições religiosas, o sagra<strong>do</strong> está em oposição ao profano. Tem-se aqui uma relação <strong>de</strong> opostos.<br />
O cristianismo, por exemplo, é uma religião que aponta constantemente <strong>para</strong> a existência <strong>de</strong><br />
polarida<strong>de</strong>s: Deus e diabo, lugares sagra<strong>do</strong>s e lugares profanos, santida<strong>de</strong> e peca<strong>do</strong>, etc. Há muitas<br />
possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> compreensão e <strong>de</strong> classificação <strong>do</strong>s lugares sagra<strong>do</strong>s. De maneira sintética,<br />
po<strong>de</strong>-se dizer que se divi<strong>de</strong>m em: lugares construí<strong>do</strong>s pelo ser humano e lugares da natureza.<br />
Todas as casas <strong>de</strong> reza da população indígena, igrejas <strong>do</strong>s cristãos, mesquitas islâmicas,<br />
sinagogas <strong>do</strong>s ju<strong>de</strong>us, terreiros <strong>de</strong> can<strong>do</strong>mblé e umbanda, Ashrams e templos hinduístas, entre<br />
outros, são exemplos <strong>de</strong> lugares sagra<strong>do</strong>s construí<strong>do</strong>s pela mão humana. Em suma, o traça<strong>do</strong>, a<br />
configuração física religiosa, transmite mensagens sobre o entendimento que <strong>de</strong>terminada cultura<br />
religiosa faz <strong>do</strong> culto ao transcen<strong>de</strong>nte e ao sagra<strong>do</strong>. Percebe-se que este traça<strong>do</strong> <strong>de</strong> arquitetura<br />
religiosa transmite, através <strong>de</strong> suas formas, o que está <strong>para</strong> além <strong>de</strong>las, configuran<strong>do</strong> uma<br />
passagem <strong>para</strong> que se estabeleça, religue, o contato entre o mun<strong>do</strong> humano e o divino. Também<br />
são ti<strong>do</strong>s como lugares sagra<strong>do</strong>s algumas cida<strong>de</strong>s. Sabe-se, entre outros casos, que to<strong>do</strong> islâmico<br />
<strong>de</strong>ve fazer o possível <strong>para</strong>, pelo menos uma vez em sua vida, visitar a cida<strong>de</strong> sagrada <strong>de</strong> Meca.<br />
Jerusalém também se configura nos mol<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> sagrada, como também a cida<strong>de</strong> inca,<br />
construída com pedras, <strong>de</strong>nominada Machu Picchu (Peru), entre outras. Além das cida<strong>de</strong>s,<br />
apresentam-se como lugares sagra<strong>do</strong>s construções como capelinhas, certas casas, alguns túmulos,<br />
etc. Existem verda<strong>de</strong>iras peregrinações a certos túmulos, consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s como lugares privilegia<strong>do</strong>s<br />
<strong>de</strong> contato entre os vivos e uma <strong>de</strong>terminada pessoa que já faleceu e que, crê-se, é capaz <strong>de</strong> agir<br />
sobre a vida <strong>do</strong>s vivos, ajudan<strong>do</strong>-os em suas dificulda<strong>de</strong>s; ou, mesmo, por se tratar <strong>de</strong> um túmulo<br />
<strong>de</strong> um ser humano que é ti<strong>do</strong> como um exemplo em vida a ser segui<strong>do</strong> e, por isso, a ser venera<strong>do</strong>,<br />
logo se tornan<strong>do</strong> sagra<strong>do</strong> o monumento, a construção, que intenta eternizar a memória <strong>de</strong>ssa<br />
pessoa.<br />
Neste mesmo senti<strong>do</strong>, a casa <strong>de</strong> algumas pessoas, tidas como seres <strong>de</strong> alta evolução espiritual,<br />
po<strong>de</strong> também ser local sagra<strong>do</strong>, como, por exemplo, a casa <strong>de</strong> Aurobin<strong>do</strong> (sul da Índia), um Guru<br />
que viveu uma vida <strong>de</strong>dicada à orientação espiritual <strong>de</strong> seu povo. Consi<strong>de</strong>rada como um lugar<br />
sagra<strong>do</strong>, sua casa é visitada diariamente por pessoas que acreditam que a meditação realizada em<br />
contemplação e em contato com a interiorida<strong>de</strong> da habitação <strong>do</strong> mestre po<strong>de</strong>rá trazer-lhes enlevo<br />
espiritual e cura.<br />
Por outro la<strong>do</strong>, também são consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s lugares sagra<strong>do</strong>s aquelesque se encontram na natureza<br />
e que <strong>para</strong> existir não sofreram a intervenção humana. O rio Ganges, por exemplo, <strong>para</strong> os<br />
hinduístas é um rio sagra<strong>do</strong>, no qual as pessoas se banham e realizam suas <strong>de</strong>voções a fim <strong>de</strong><br />
receber a energia espiritual que lhes facultará uma vida <strong>de</strong> evolução.<br />
A pajelança, ritual indígena, também é outra manifestação religiosa humana que se vale <strong>do</strong>s lugares<br />
sagra<strong>do</strong>s da natureza. Certa cura ou certa passagem <strong>de</strong> estágio da vida po<strong>de</strong> advir <strong>do</strong> fato <strong>de</strong> a<br />
pessoa ficar em <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> lugar na natureza, on<strong>de</strong> receberá ensinamentos necessários e on<strong>de</strong><br />
se realizará o seu processo <strong>de</strong> transformação.<br />
Também há lugares sagra<strong>do</strong>s configura<strong>do</strong>s a partir da presença <strong>de</strong> certas coisas consi<strong>de</strong>radas<br />
sagradas. Um exemplo disto é a árvore Baobá, árvore que os negros trouxeram <strong>para</strong> o Brasil no<br />
tempo da escravidão, é uma árvore sagrada <strong>para</strong> os can<strong>do</strong>mblecistas. Esta árvore é consi<strong>de</strong>rada<br />
“planta da vida”, pois vive entre 700 a mil anos. Assim, <strong>para</strong> os can<strong>do</strong>mblecistas, o espaço que ela<br />
ocupa se torna sagra<strong>do</strong> por conta <strong>de</strong> sua existência, pois adquire um significa<strong>do</strong> sagra<strong>do</strong>, já que os<br />
remetem à consciência histórica <strong>de</strong> seus antepassa<strong>do</strong>s.<br />
Até mesmo alguns caminhos ou trilhas po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s sagra<strong>do</strong>s, como é o caso da<br />
peregrinação na Espanha rumo à Santiago <strong>de</strong> Compostela. Conforme alguns relatos, este po<strong>de</strong> ser<br />
um percurso sagra<strong>do</strong>, pois muitos peregrinos relatam uma transformação interior intensa. O<br />
caminho <strong>de</strong> Santiago <strong>de</strong> Compostela é consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> pelos historia<strong>do</strong>res uma das rotas mais antigas<br />
<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> no quesito peregrinação. Localiza-se no norte da Espanha, na região <strong>de</strong> fronteira próxima<br />
à França, e o trajeto possui cerca <strong>de</strong> 700 quilômetros. O caminho leva esse nome em homenagem<br />
ao padroeiro religioso da Espanha: Tiago, um <strong>do</strong>s <strong>do</strong>ze apóstolos <strong>de</strong> Jesus Cristo. Os peregrinos,<br />
que refizeram o caminho <strong>de</strong> São Tiago, consi<strong>de</strong>ram que o mais importante não é percorrer to<strong>do</strong> o<br />
trajeto <strong>de</strong> cerca 700 quilômetros, mas, sim, estar nele. Segun<strong>do</strong> os historia<strong>do</strong>res, foi essa região <strong>do</strong><br />
globo que Tiago escolheu <strong>para</strong> levar a palavra <strong>de</strong> Cristo após sua morte. Possui<strong>do</strong>r <strong>de</strong> um espírito<br />
aventureiro, Tiago teria leva<strong>do</strong> sua mensagem <strong>de</strong> fé <strong>do</strong> interior <strong>do</strong> país ao litoral, <strong>de</strong>pois retornan<strong>do</strong><br />
à Palestina. Tiago foi <strong>de</strong>capita<strong>do</strong> pelo rei judaico Hero<strong>de</strong>s Agripa, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cesaréia, o qual
proibiu que o corpo fosse enterra<strong>do</strong>; assim, seu corpo foi joga<strong>do</strong> <strong>para</strong> fora <strong>do</strong>s muros da cida<strong>de</strong>.<br />
Porém, antes <strong>de</strong> morrer, Tiago havia pedi<strong>do</strong> a <strong>do</strong>is discípulos que gostaria <strong>de</strong> ser enterra<strong>do</strong> na<br />
região da Ibéria, uma das províncias <strong>do</strong> Império Romano. Desta forma, seus discípulos, Teo<strong>do</strong>ro e<br />
Atanásio, recolheram seu corpo e prosseguiram viagem com o intento <strong>de</strong> realizar o <strong>de</strong>sejo <strong>do</strong><br />
mestre. O corpo <strong>do</strong> apóstolo Tiago foi enterra<strong>do</strong> em um bosque <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> Libredón, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Iria Flavia, hoje Padrón. O local caiu no esquecimento até o ano <strong>de</strong> 813, quan<strong>do</strong> um eremita<br />
chama<strong>do</strong> Pelayo, que, segun<strong>do</strong> a lenda, guia<strong>do</strong> pelas estrelas chegou ao exato local no bosque <strong>de</strong><br />
Libredón on<strong>de</strong> estava enterra<strong>do</strong> Tiago. O percurso trilha<strong>do</strong> pelos <strong>do</strong>is discípulos é o hoje conheci<strong>do</strong><br />
caminho <strong>de</strong> Santiago <strong>de</strong> Compostela.<br />
Em Bali (In<strong>do</strong>nésia) as montanhas e os vulcões são consi<strong>de</strong>radas como “Lar <strong>do</strong>s Deuses”. Também<br />
no Brasil algo semelhante acontece. Em Goiás, por exemplo, existe uma montanha consi<strong>de</strong>rada por<br />
certos místicos como um lugar privilegia<strong>do</strong> <strong>de</strong> concentração <strong>de</strong> energia transcen<strong>de</strong>nte. A montanha<br />
recebe a visita <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> pessoas que, ao subi-la, acreditam estar trilhan<strong>do</strong> uma jornada<br />
espiritual que as levará a um maior contato consigo mesmas e com a “Divina Mãe”, que é a<br />
natureza, fonte sublime <strong>de</strong> toda vida.<br />
A disciplina <strong>de</strong> Ensino Religioso intenciona a compreensão epistêmica <strong>do</strong>s aspectos espaciais que<br />
configuram a cultura das tradições religiosas. A partir da percepção e reconhecimento <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s<br />
que estabelecem pontos <strong>de</strong> contato entre o humano e as suas idéias sobre o divino, caracteriza a<br />
forma específica <strong>de</strong> cada religião sacralizar o espaço.<br />
ENCAMINHAMENTO METODOLÓGICO<br />
A fim <strong>de</strong> que se possa <strong>de</strong>senvolver um encaminhamento meto<strong>do</strong>lógico pertinente ao conteú<strong>do</strong> <strong>de</strong>ste<br />
tópico, Lugares Sagra<strong>do</strong>s, é importante consi<strong>de</strong>rar a possibilida<strong>de</strong> inicial <strong>de</strong> um <strong>trabalho</strong> concreto<br />
sobre o conceito <strong>de</strong> sagra<strong>do</strong>. Lembran<strong>do</strong>, sempre, que o mesmo é aponta<strong>do</strong> nas Diretrizes<br />
Curriculares <strong>para</strong> o Ensino Religioso como o objeto <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> da disciplina, como o foco <strong>do</strong><br />
fenômeno religioso, uma das facetas da diversida<strong>de</strong> das manifestações humanas.<br />
Neste senti<strong>do</strong>, <strong>para</strong> compreen<strong>de</strong>r o que sejam lugares sagra<strong>do</strong>s é essencial o processo pedagógico<br />
<strong>de</strong> clarificação <strong>do</strong>s conceitos. Sugere-se, <strong>para</strong> tal, que se apresente aos estudantes, ou que estes<br />
tentem lembrar, alguma música que tenha a palavra “sagra<strong>do</strong>” no texto <strong>de</strong> sua letra. Como exemplo,<br />
veja-se a música “Amor <strong>de</strong> Índio”, <strong>de</strong> Beto Gue<strong>de</strong>s e Ronal<strong>do</strong> Bastos, a qual a idéia <strong>de</strong> que tu<strong>do</strong><br />
aquilo que se move no mun<strong>do</strong> é sagra<strong>do</strong>, apontan<strong>do</strong>, <strong>de</strong>ste mo<strong>do</strong>, <strong>para</strong> uma concepção <strong>de</strong> sagra<strong>do</strong><br />
bastante ampla, que compreen<strong>de</strong> a vida em todas as suas formas.<br />
A partir <strong>do</strong> texto da letra da música, o <strong>professor</strong> po<strong>de</strong>rá conduzir a uma reflexão acerca <strong>do</strong>s<br />
conceitos <strong>de</strong> sagra<strong>do</strong> e <strong>de</strong> profano. Os educan<strong>do</strong>s po<strong>de</strong>m citar lugares sagra<strong>do</strong>s construí<strong>do</strong>s pelo<br />
ser humano, como igrejas, templos, cemitérios, etc. e lugares sagra<strong>do</strong>s da natureza, como um rio<br />
sagra<strong>do</strong>, uma montanha, etc. Po<strong>de</strong>rão também, mais tar<strong>de</strong>, elaborar um cartaz no qual coloquem<br />
exemplos, sob a forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho e pintura ou recortes, <strong>de</strong> lugares sagra<strong>do</strong>s construí<strong>do</strong>s e <strong>de</strong><br />
lugares sagra<strong>do</strong>s da natureza.<br />
Outro encaminhamento po<strong>de</strong> ser a apresentação da seguinte questão: “Você sabia que as<br />
Cataratas <strong>do</strong> Iguaçu formam um lugar não apenas muito belo mas também sagra<strong>do</strong>?”. Para se<br />
dimensionar esta reflexão se po<strong>de</strong> mostrar aos alunos a estória da lenda indígena brasileira<br />
UM IMPOSSÍVEL AMOR: AS CATARATAS DO IGUAÇU<br />
No mun<strong>do</strong> há a constante luta entre o Bem e o Mal e <strong>para</strong> garantir a vitória <strong>do</strong> Bem na primavera<br />
uma bela jovem da al<strong>de</strong>ia era oferecida <strong>para</strong> casar com o Mal. Um dia Naipi, a lindíssima filha <strong>do</strong><br />
cacique, foi a escolhida. Quan<strong>do</strong> os pre<strong>para</strong>tivos <strong>do</strong> casamento iam avançan<strong>do</strong>, Naipi conheceu<br />
Tarobá, um valente guerreiro, também muito bonito. Os <strong>do</strong>is se apaixonaram imediatamente e não<br />
pu<strong>de</strong>ram controlar este amor.<br />
Fizeram juras <strong>de</strong> amor e fugiram em uma canoa na véspera da festa <strong>do</strong> casamento <strong>de</strong> Naipi com o<br />
Mal. Mas o Mal, com to<strong>do</strong> o seu po<strong>de</strong>r, sabia <strong>de</strong> tu<strong>do</strong> e se vingou. Quan<strong>do</strong> os <strong>do</strong>is estavam<br />
<strong>de</strong>scen<strong>do</strong> pelo rio, felizes em sua canoa, viram o Mal na forma <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> serpente que se<br />
retorcia no espaço e se lançava com força no meio <strong>do</strong> rio. O estrago da ira <strong>do</strong> Mal foi enorme e uma<br />
cratera se abriu no fun<strong>do</strong> <strong>do</strong> rio. As águas todas se precipitaram<br />
nesta cratera, inclusive Naipi, Tarobá e a canoa. Foi assim que se formaram as cataratas <strong>do</strong> rio<br />
Iguaçu.<br />
O Mal ainda fez mais, transformou Tarobá numa palmeira no alto das quedas e Naipi numa pedra<br />
no fun<strong>do</strong> das águas, na mesma direção <strong>de</strong> Tarobá. Assim, pensava o Mal, cada um <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is ficará
eternamente a se contemplar sem po<strong>de</strong>r chegar perto um <strong>do</strong> outro ou trocar um abraço. Porém, a<br />
história provou que o Bem sempre triunfa sobre o Mal, pois o amor venceu, <strong>de</strong> alguma forma.<br />
Quan<strong>do</strong> o vento minuano vem assobian<strong>do</strong> <strong>do</strong> la<strong>do</strong> sul, ele saco<strong>de</strong> a copa da palmeira e Tarobá<br />
aproveita <strong>para</strong> enviar a Naipi sussurros <strong>de</strong> amor. Quan<strong>do</strong> chega a primavera, lança flores <strong>de</strong> seu<br />
cacho <strong>para</strong> saudá-la com ternura. Naipi tem um véu forma<strong>do</strong> pelas águas limpas e brilhantes que<br />
lhe a<strong>do</strong>rna a fronte e a consola. O arco-íris, <strong>de</strong> tempos em tempos, une a palmeira com a pedra e<br />
este é o momento sagra<strong>do</strong> da realização <strong>do</strong> amor <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is. O fogo eterno da paixão que vive em<br />
Tarobá e Naipi se realiza a cada arco–íris que surge.<br />
(BOFF, Leonar<strong>do</strong>. O casamento entre o céu e a terra: contos indígenas <strong>do</strong> Brasil, Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro:Salamandra, 2001).<br />
As cataratas <strong>do</strong> Iguaçu formam um lugar sagra<strong>do</strong> e os lugares sagra<strong>do</strong>s contam histórias sobre<br />
Deus ou <strong>de</strong>uses, sobre pessoas especiais, sobre sentimentos <strong>de</strong> bonda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> amor, entre outros<br />
sentimentos. Sugere-se que o <strong>professor</strong> proponha aos alunos <strong>para</strong> i<strong>de</strong>ntificar na comunida<strong>de</strong> os<br />
lugares sagra<strong>do</strong>s existentes. Esta pesquisa po<strong>de</strong>rá ser feita por meio <strong>de</strong> entrevistas com as<br />
pessoas que moram no bairro e também com o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> meio, pois <strong>de</strong>vem existir templos, igrejas<br />
ou outros espaços sagra<strong>do</strong>s que po<strong>de</strong>m ser vistos pelos alunos. Po<strong>de</strong>rá, ainda, haver a<br />
sociabilização <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesquisa a partir da reflexão sobre as seguintes<br />
questões:<br />
• Qual é o tipo <strong>de</strong> comportamento que <strong>de</strong>vemos ter quan<strong>do</strong> estamos circulan<strong>do</strong> em espaços<br />
sagra<strong>do</strong>s, mesmo que este espaço se refira a uma tradição religiosa completamente diferenteda<br />
qual se pertence?<br />
• Quais são os símbolos sagra<strong>do</strong>s i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s e o que eles significam?<br />
• Quais as características, a sua organização e normas, i<strong>de</strong>ntificadas em cada um <strong>de</strong>sses lugares<br />
sagra<strong>do</strong>s?<br />
Para dar continuida<strong>de</strong> a esse conteú<strong>do</strong>, outra possibilida<strong>de</strong> é apresentar e refletir, em forma <strong>de</strong><br />
questões ou produção <strong>de</strong> texto, os seguintes <strong>textos</strong>:<br />
CASA DE CANDOMBLÉ<br />
O Ilê é a casa <strong>de</strong> can<strong>do</strong>mblé, também conhecida como roça ou terreiro. É o lugar sagra<strong>do</strong> que está<br />
sob os cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> um Babalorixá (homem) ou <strong>de</strong> uma Yalorixá (mulher) e sob a proteção principal<br />
<strong>de</strong> um orixá. Os orixás são elementos <strong>de</strong> ligação entre os can<strong>do</strong>mblecistas e Oxalá. Os orixás se<br />
relacionam diretamente com as energias da natureza.<br />
Em Curitiba aconteceu uma reunião na qual segui<strong>do</strong>res <strong>do</strong> can<strong>do</strong>mblé se encontraram <strong>para</strong> discutir<br />
problemas específicos <strong>de</strong> suas comunida<strong>de</strong>s. Em certo momento, um homem se levantou e disse<br />
que em sua cida<strong>de</strong> eles estavam trabalhan<strong>do</strong> em um projeto <strong>de</strong> recuperação da natureza,<br />
principalmente na <strong>de</strong>spoluição <strong>do</strong>s rios. Afirmava que se a natureza estiver morta, os orixás também<br />
estarão e com isto a religião afro-brasileira também. Po<strong>de</strong>-se perceber aqui a relação <strong>do</strong> espaço<br />
sagra<strong>do</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> religiões como esta, que se situa <strong>para</strong> além da casa <strong>de</strong> can<strong>do</strong>mblé e que se<br />
esten<strong>de</strong> por toda a natureza. Cuidar e proteger a natureza significa honrar os seus ancestrais e os<br />
seus orixás.<br />
O RIO GANGES: UM RIO SAGRADO DA ÍNDIA<br />
Há, em um país <strong>do</strong> oriente, chama<strong>do</strong> Índia, um rio bastante importante: o rio Ganges. Segun<strong>do</strong> uma<br />
das histórias mitológicas sobre o surgimento <strong>de</strong>ste rio, conta-se que se originou nos céus. São<br />
águas que <strong>de</strong>scem <strong>do</strong> céu e correm <strong>para</strong> terra. Conforme o mito, acredita-se que seja um lugar <strong>de</strong><br />
travessia, <strong>de</strong> ligação <strong>de</strong> um ponto com o outro, <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> terreno com o divino. O rio Ganges é<br />
então consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> o media<strong>do</strong>r entre essas duas dimensões, o mun<strong>do</strong> material e o mun<strong>do</strong> espiritual.<br />
Por isso, muitos mortos são crema<strong>do</strong>s em suas margens e as cinzas entregues ao rio. O rio Ganges<br />
não é o único rio sagra<strong>do</strong> <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, existem muitos outros, porém, este rio conquistou fama<br />
mundial e não são poucos os turistas que vão até a Índia <strong>para</strong> conhecê-lo. Acreditan<strong>do</strong> nos po<strong>de</strong>res<br />
misteriosos <strong>do</strong> rio, muitos hinduístas, segui<strong>do</strong>res da antiga religião nativa, procuram fazer suas<br />
<strong>de</strong>voções enquanto se banham em suas águas, as quais acreditam serem capazes <strong>de</strong> trazer<br />
purificação espiritual e física.
MITO E RELIGIÃO<br />
Tão importante quanto <strong>de</strong>finir o mito é dizer o que ele não é. Existe quem confun<strong>de</strong> essa forma <strong>de</strong><br />
explicação da realida<strong>de</strong> com idéias <strong>do</strong> tipo fábula, lenda, invenção, ficção, fantasia, etc. Também<br />
pelo fato das culturas primitivas não terem acesso às facilida<strong>de</strong>s que possuímos atualmente, as<br />
pessoas acham-se na condição <strong>de</strong> impor uma imagem inferior aos mitos <strong>de</strong>sse perío<strong>do</strong> como coisa<br />
arcaica, ultrapassada.<br />
Na verda<strong>de</strong> mito é apenas um relato <strong>de</strong> um acontecimento, uma história verda<strong>de</strong>ira ligada a uma<br />
experiência religiosa. Mito é ainda uma representação coletiva, transmitida através <strong>de</strong> várias<br />
gerações e que relata uma explicação <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. O ritual religioso surge, assim, da ação <strong>de</strong> um<br />
conjunto <strong>de</strong> mitos.<br />
Inconscientemente os a<strong>de</strong>ptos das religiões reconhecem cinco características nos mitos: (a) Ele é<br />
real - apresenta-se como uma revelação; (b) Eterno - está no tempo sagra<strong>do</strong>; (c) Sagra<strong>do</strong> - relata<br />
obras divinas; (d) Exemplar - traz mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> comportamentos humanos; (e) Transpessoal - não tem<br />
autor.<br />
Os mitos respon<strong>de</strong>m, portanto, às perguntas mais básicas das pessoas como origem e morte, o<br />
mun<strong>do</strong> e as forças naturais, a sexualida<strong>de</strong>, a guerra e o <strong>de</strong>stino humano. Eles estão presentes nas<br />
religiões, pois servem <strong>para</strong> expressar o senti<strong>do</strong> da existência em forma imaginária, indireta. A<br />
profundida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas respostas equivale à filosofia e à poesia.<br />
Antes da filosofia, ciência e arte, o mito era a única forma <strong>de</strong> explicar a realida<strong>de</strong>. A profundida<strong>de</strong><br />
das narrativas exige capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interpretação, <strong>de</strong> sair das aparências <strong>para</strong> buscar os<br />
significa<strong>do</strong>s das coisas. Em outras palavras, o mito é uma verda<strong>de</strong> que escon<strong>de</strong> outra verda<strong>de</strong>.<br />
Questões: (1) Por que mito não é fantasia? (2) Que relações existem entre mito e religião? (3)<br />
Como se explicam as cinco características <strong>de</strong> um mito? (4) Qual a importância <strong>do</strong>s mitos <strong>para</strong> a<br />
ciência? (5) O que quer dizer "verda<strong>de</strong> que escon<strong>de</strong> outra verda<strong>de</strong>”?<br />
UNIVERSO SIMBÓLICO RELIGIOSO<br />
Os símbolos formam um sistema complexo <strong>de</strong> significa<strong>do</strong>s estruturantes das linguagens pelas quais<br />
se expressam as diferentes manifestações humanas, entre elas as tradições religiosas. As religiões<br />
se organizam por intermédio <strong>de</strong> códigos que <strong>de</strong>sempenham papel importante no campo da vida<br />
espiritual-imaginativa.<br />
Esses códigos, os símbolos, são a base da comunicação – que é uma instância racional, no caso<br />
humano – <strong>do</strong>s sentimentos e sensações humanas retira<strong>do</strong>s <strong>do</strong> movimento da existência da vida no<br />
mun<strong>do</strong> (sujeito – objeto, espírito – matéria, interior – exterior, etc.).<br />
Comunicação esta tanto <strong>do</strong> homem com o mun<strong>do</strong> quanto <strong>do</strong> homem consigo mesmo. E a função<br />
fundamental da comunicação é a cooperação, a coexistência, <strong>do</strong>s diversos fenômenos inseri<strong>do</strong>s<br />
(cria<strong>do</strong>s) na natureza, sobretu<strong>do</strong>, a vida. Assim, os homens, enquanto seres que têm em sua<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> maior (mas não única) o pensamento, necessitam harmonizarem-se com o senti<strong>do</strong> das<br />
coisas, já que o pensamento é a conclusão abstraída <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> das coisas.<br />
Veja-se, na seguinte citação <strong>de</strong> Debray (1993, p.61), a idéia original <strong>de</strong> símbolo:<br />
O símbolo é um objeto convencional que tem como razão <strong>de</strong> ser o acor<strong>do</strong> <strong>do</strong>s espíritos e a reunião<br />
<strong>do</strong>s sujeitos. Mais <strong>do</strong> que uma coisa é uma operação e uma cerimônia: não a <strong>do</strong> a<strong>de</strong>us, mas sim <strong>do</strong><br />
reencontro (entre velhos amigos que se per<strong>de</strong>ram <strong>de</strong> vista). Simbólico e fraterno são sinônimos: não<br />
se fraterniza sem alguma coisa <strong>para</strong> partilhar, não se simboliza sem unir o que era estranho. Em<br />
grego, o antônimo exato <strong>do</strong> símbolo é o diabo: aquele que se<strong>para</strong>. Dia-bólico é tu<strong>do</strong> que divi<strong>de</strong>, simbólico<br />
tu<strong>do</strong> o que aproxima.<br />
Seguin<strong>do</strong> essa linha <strong>de</strong> compreensão, po<strong>de</strong>r-se-ia dizer que o similar latino <strong>de</strong>sse entendimento<br />
etimológico <strong>do</strong> simbólico, com sua origem grega, é a religião: a ação, o movimento, que faz o<br />
‘religar’; a ‘re ligação’. Isso toma senti<strong>do</strong> ao se pensar que a origem da religião, em suas primeiras<br />
manifestações, preconizava o elo entre a vida e a morte – entre os viventes e os ancestrais; entre a<br />
finitu<strong>de</strong> e o eterno; entre a matéria e a energia. E, esse senti<strong>do</strong>, no <strong>de</strong>senvolvimento mais<br />
institucionaliza<strong>do</strong> da religiões, com o advento da socieda<strong>de</strong>, apenas tomou uma extensão maior,<br />
coletiva e subsistente.
Contu<strong>do</strong>, <strong>de</strong>ve-se evitar, nesse rumo <strong>de</strong> pensamento, equívocos. Por exemplo, po<strong>de</strong>-se incorrer na<br />
idéia <strong>de</strong> que a existência das diversas religiões é um sinal da divisão (‘dia-bólico’) <strong>do</strong>s homens que<br />
impossibilitaria a ‘re-união’ <strong>de</strong> toda as pessoas num senti<strong>do</strong> único <strong>de</strong> existência. Pelo contrário, a<br />
diversida<strong>de</strong> não implica necessariamente divisão, fragmentação, mas, sim, que existem coisas, e<br />
muitas, no mun<strong>do</strong>.<br />
Assim, a importância da disciplina <strong>de</strong> Ensino Religioso po<strong>de</strong> ser dimensionada pela sua<br />
possibilida<strong>de</strong> educacional <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar que o conhecimento da diversida<strong>de</strong>, no caso <strong>do</strong> tema da<br />
religião, que é algo tão marcante e historicamente construí<strong>do</strong>, po<strong>de</strong> marcar o contato <strong>do</strong> humano<br />
com as diversas possibilida<strong>de</strong>s humanas. Esse contato po<strong>de</strong> unir, pois é a ‘inter-ação’ <strong>de</strong>ssas<br />
possibilida<strong>de</strong>s, a ‘inter-relação’ das diversas pessoas e suas culturas que formam a socieda<strong>de</strong>.<br />
Desta feita, a interação das diversas tradições religiosas também po<strong>de</strong> ser a ‘re ligação’ das<br />
diversida<strong>de</strong>s, e além da atitu<strong>de</strong> religiosa: a cultural, social, étnica, <strong>de</strong> idéias, etc.<br />
Em suma, esse contato to<strong>do</strong> com a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve incitar os educan<strong>do</strong>s ao conhecimento da<br />
alterida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> que o contato, como o físico, o tato, une-o à coisa ‘tocada’; forman<strong>do</strong>, assim, uma<br />
unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> consciência, mesmo que simbólica, no senti<strong>do</strong> da imagem, <strong>do</strong> imaginário.<br />
Para tanto, é preciso, ainda, <strong>de</strong>monstrar aos educan<strong>do</strong>s a fundamental diferença entre informação e<br />
saber. Não basta ter posse da informação, ela só se tornará conhecimento <strong>de</strong> ato ao se saber lidar,<br />
usar, utilizar, agir, com essa informação. Enfim, ter a informação da diversida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> suas várias<br />
nuanças, não basta, é urgente se saber lidar com a diversida<strong>de</strong>. E o conhecimento da idéia <strong>do</strong><br />
simbólico, <strong>do</strong> Sagra<strong>do</strong> que une os homens, po<strong>de</strong>rá ser o elo <strong>de</strong> ligação <strong>do</strong>s agentes da diversida<strong>de</strong>,<br />
as pessoas. Por isso, precisamente, os símbolos constituem-se em linguagens, processos <strong>de</strong><br />
aproximação e união entre os seres, que assumem diferentes aspectos, dada a sua clara função <strong>de</strong><br />
comunicar.<br />
Os símbolos não se restringem apenas às formas, mas também às cores, aos gestos, aos sons, aos<br />
cheiros, aos sabores, enfim, nas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> percepção. Cabe salientar que qualquer coisa<br />
po<strong>de</strong> funcionar como veículo <strong>de</strong> uma concepção, algo que <strong>de</strong>man<strong>de</strong> uma unida<strong>de</strong> comum<br />
perceptiva, ou seja, po<strong>de</strong> se tornar símbolo, como, por exemplo, uma notação matemática, uma<br />
obra <strong>de</strong> arte, enfim, coisas que comportem um conceito exprimível e compreensível por to<strong>do</strong>s.<br />
Conforme Karlson (1961), os a<strong>de</strong>ptos <strong>de</strong> Pitágoras, os chama<strong>do</strong>s pitagóricos, elevaram o número à<br />
categoria <strong>de</strong> divinda<strong>de</strong> e chegavam a castigar, por meio da morte, quem traísse seus segre<strong>do</strong>s.<br />
Karlson <strong>de</strong>screve que, certa vez, um matemático afirmou que somente os números inteiros foram<br />
cria<strong>do</strong>s por Deus, to<strong>do</strong> o resto era obra <strong>do</strong> diabo. O que ganha senti<strong>do</strong>, pelo que se vê pela<br />
<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> simbólico e diabólico, pelo senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> união no to<strong>do</strong> e da divisão que dispersa e faz<br />
per<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vista o senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> to<strong>do</strong>.<br />
Para as diferentes culturas religiosas, muitos elementos naturais foram incorpora<strong>do</strong>s enquanto<br />
símbolos, como é o caso da água. Sabe-se que, <strong>para</strong> os povos andinos, a água era consi<strong>de</strong>rada<br />
sagrada. O oceano pacífico era conheci<strong>do</strong> como a mãe-mar. Mares e rios eram ti<strong>do</strong>s como <strong>de</strong>uses<br />
na Grécia antiga; já no Brasil, no dia <strong>do</strong>is <strong>de</strong> fevereiro, acontecem as gran<strong>de</strong>s festas <strong>de</strong> Yemanjá, a<br />
rainha das águas, <strong>para</strong> o culto afro-brasileiro. Não só a água, mas também outros elementos<br />
naturais são ti<strong>do</strong>s como símbolos importantes <strong>para</strong> muitas religiões <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />
símbolos naturais existem aqueles construí<strong>do</strong>s pela humanida<strong>de</strong>.<br />
Porém, conforme classificação dada pela psicologia analítica <strong>de</strong> Carl Gustav Jung (1977), é preciso<br />
diferenciar o símbolo <strong>do</strong>s sinais. Os sinais apresentam significa<strong>do</strong>s fixa<strong>do</strong>s por meio <strong>de</strong> uma<br />
<strong>de</strong>claração, não possuem outros significa<strong>do</strong>s, não há nada encoberto, enquanto que o símbolo é<br />
enigmático e encobre uma multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interpretações. Se bem que, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um grupo –<br />
po<strong>de</strong>-se dizer, uni<strong>do</strong> por um símbolo ou códigos, como uma tradição religiosa – uma interpretação<br />
é, em geral, compartilhada por to<strong>do</strong>s os componentes, segui<strong>do</strong>res, da base ou i<strong>de</strong>al <strong>de</strong>sse grupo.<br />
Segue-se disso que, em contrapartida, as diferentes interpretações vêm, também em geral, <strong>de</strong> fora<br />
<strong>de</strong>sse grupo.<br />
Vê-se, portanto, que convencionalmente um sinal representa apenas um senti<strong>do</strong>, é algo fixo, rígi<strong>do</strong>,<br />
como, por exemplo, o sinal <strong>de</strong> adição em uma operação matemática; enquanto que no símbolo<br />
coexistem inúmeros senti<strong>do</strong>s, por exemplo: o preto po<strong>de</strong> ser símbolo da obscurida<strong>de</strong> das origens, o<br />
esta<strong>do</strong> inicial e não ainda manifesto,
mas também po<strong>de</strong> significar a morte, a passivida<strong>de</strong>, etc.<br />
Jung se <strong>de</strong>bruçou sobre o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s símbolos, inclusive <strong>do</strong>s símbolos<br />
religiosos. Por meio <strong>de</strong> uma pesquisa sobre o funcionamento da psique humana, percebeu que as<br />
manifestações <strong>do</strong> inconsciente, que po<strong>de</strong>riam se expressar por meio <strong>do</strong>s símbolos, traziam uma<br />
quantida<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> energia psíquica em forma con<strong>de</strong>nsada.<br />
Na busca da interpretação <strong>de</strong>stes símbolos, o indivíduo po<strong>de</strong>ria traçar<br />
um percurso <strong>de</strong> maior expansão (<strong>do</strong> que antes estava con<strong>de</strong>nsa<strong>do</strong>) e, <strong>de</strong>sta feita, <strong>de</strong> compreensão<br />
<strong>de</strong> si mesmo.<br />
O símbolo, em suas múltiplas possibilida<strong>de</strong>s interpretativas, sempre mostrará uma face enquanto<br />
escon<strong>de</strong> a outra. Para<strong>do</strong>xalmente aparente, às vezes une e outras se<strong>para</strong> os indivíduos. Afinal,<br />
não são to<strong>do</strong>s que vêm ao encontro <strong>do</strong> mesmo senti<strong>do</strong> das coisas.<br />
Isso se dá porque a distinção entre aquilo que um símbolo é em si, numa conceitualização dada por<br />
uma convenção, geralmente construída<br />
historicamente, e aquilo que é <strong>para</strong> alguém, na subjetiva e unilateral interpretação <strong>do</strong> sujeito, <strong>de</strong>strói<br />
a ‘paz’ da comunicação.<br />
Isto, em certa medida, po<strong>de</strong>ria explicar a <strong>de</strong>struição da paz entre as religiões, pois aquilo que é<br />
crença em si é distinto nos diferentes cultos, nas diferentes tradições religiosas, à idéia <strong>de</strong> sagra<strong>do</strong>.<br />
Ou seja, aquilo que é a fé <strong>para</strong> uma tradição religiosa, o sagra<strong>do</strong> em si <strong>de</strong>ste grupo, é <strong>de</strong>scrito por<br />
cada religião <strong>de</strong> forma peculiar e, <strong>para</strong> esta religião, o que ela <strong>de</strong>screve é o que simboliza o sagra<strong>do</strong><br />
em si. E, na observância da visão <strong>de</strong> outra religião, o sagra<strong>do</strong> é como que subjetivo, já humano,<br />
imperfeito e não sensível a todas as significações outorgadas como sagra<strong>do</strong> que esta <strong>de</strong>terminada<br />
organização religiosa, autoritariamente, prescreveu (revelou). Assim, mais <strong>do</strong> que conhecer os<br />
símbolos das tradições religiosas (dar informações), é importante enten<strong>de</strong>r o que são os símbolos (o<br />
saber), <strong>para</strong> se dirimir essas distinções <strong>de</strong> significações <strong>do</strong>s símbolos, logo po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> aproximar a<br />
diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> culto (cultural).<br />
Des<strong>de</strong> muito ce<strong>do</strong>, o ser humano simboliza. Ao relacionar-se com imagens vai gradativamente<br />
atribuin<strong>do</strong>-lhes significações e construin<strong>do</strong> seus mitos particulares e coletivos. A humanida<strong>de</strong> serviuse<br />
sempre <strong>de</strong> representações, sejam como sinais apenas ou como símbolos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a mais remota<br />
antigüida<strong>de</strong>, como, por exemplo, as figuras rupestres.<br />
Para enten<strong>de</strong>r o universo simbólico presente na humanida<strong>de</strong> não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> la<strong>do</strong> o<br />
conhecimento das culturas espalhadas em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> e que fizeram, a seu mo<strong>do</strong>, um amplo e<br />
complexo <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> estruturas simbólicas, logo da sensibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s motivos que unem<br />
os grupos na motivação <strong>de</strong> uma causa, por exemplo, na fé, na esperança da concretização <strong>do</strong> bem<br />
<strong>para</strong> o bem viver, enfim, das diversas dimensões da idéia <strong>de</strong> sagra<strong>do</strong>.<br />
Para as diferentes culturas, houve construções históricas traçadas <strong>de</strong> formas diversas no<br />
<strong>de</strong>senvolvimento da linguagem simbólica, permean<strong>do</strong> esta linguagem com significações especiais,<br />
peculiares, e completamente enredadas na cultura, no nicho, da qual provém e on<strong>de</strong> se especifica e<br />
se configura a edificação daquela forma <strong>de</strong> conduzir a vida, a existência.<br />
Desta feita, por meio <strong>do</strong> entendimento simbólico, chega-se ao ethos, fundamento, <strong>de</strong> uma cultura e,<br />
assim, é possível se compreen<strong>de</strong>r sua realida<strong>de</strong> mítica, que, por meio da ação ritualística, completa-<br />
se em um senti<strong>do</strong>. Por conseguinte, uma das características <strong>do</strong>s símbolos se evi<strong>de</strong>ncia em sua<br />
complexida<strong>de</strong>, na qual são estabelecidas relações inseparáveis com os ritos, os comportamentos,<br />
os preceitos, as imagens <strong>do</strong> sagra<strong>do</strong>, etc<br />
No símbolo está presente algo particular que aponta <strong>para</strong> algo maior, geral, como sen<strong>do</strong> uma<br />
revelação <strong>do</strong> impenetrável, que, ao ser aborda<strong>do</strong>, lança novas perspectivas <strong>de</strong> conhecimento. Por<br />
sua abundante significação, o símbolo convida a instância psíquica da consciência a se relacionar<br />
com ele, não somente aceitar uma significação usualmente constituída mas <strong>de</strong>scon<strong>de</strong>nsar-se em<br />
uma consciência mais ampla; isto po<strong>de</strong> ser feito pela contemplação, pela representação, pela<br />
interpretação, entre outras formas <strong>de</strong> se interrelacionar com os símbolos.<br />
Entre tantos exemplos, po<strong>de</strong>-se dar o simbólico <strong>do</strong> feminino, que nas diversas tradições religiosas<br />
se manifesta <strong>de</strong> diversas formas. Neste senti<strong>do</strong>, foram encontradas pequenas estatuetas <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>usas, chamadas pelos historia<strong>do</strong>res <strong>de</strong> Vênus. Eram representações <strong>de</strong> mulheres que<br />
<strong>de</strong>monstrariam o po<strong>de</strong>r feminino, já que eram as <strong>de</strong>usas muito veneradas. Atualmente, encontram-
se segui<strong>do</strong>res <strong>de</strong>sta chamada velha religião representa<strong>do</strong>s nos movimentos <strong>de</strong> Wicca, também<br />
conheci<strong>do</strong>s como bruxos, “bruxos bons”, os quais trabalham apenas pela preservação da natureza e<br />
<strong>de</strong> todas as formas <strong>de</strong> vida.<br />
Os wiccanos acreditam que o universo foi cria<strong>do</strong> e que todas as coisas vivas foram geradas em um<br />
momento <strong>de</strong> êxtase, a partir <strong>do</strong> corpo/mente da Gran<strong>de</strong> Deusa. Wicca se propõe a buscar o<br />
Sagra<strong>do</strong> Feminino, recuperan<strong>do</strong> o papel das mulheres na religião. São elas, então, as sacer<strong>do</strong>tisas<br />
da Gran<strong>de</strong> Mãe. Os homens também participam <strong>de</strong>ste movimento, pois se consi<strong>de</strong>ram os <strong>do</strong>is<br />
aspectos polares a fim <strong>de</strong> se encontrar o equilíbrio e a complementarida<strong>de</strong> que constituem as<br />
energias da vida e não dissociam as coisas que configuram a humanida<strong>de</strong>, são todas um único<br />
fenômeno da criação.<br />
Muitas religiões <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> avançam significativamente <strong>para</strong> o equilíbrio entre o feminino e o<br />
masculino, são exemplos disto: as mulheres que exercem o rabinato no Judaísmo; e a valorização<br />
<strong>de</strong> monjas budista, como é o caso da monja Cohen, brasileira que tem divulga<strong>do</strong> o Zen Budismo por<br />
to<strong>do</strong> o país; tem-se também no catolicismo a presença <strong>de</strong> Zilda Arns, que criou e coor<strong>de</strong>na a<br />
pastoral da criança. Estes exemplos <strong>de</strong> mulheres têm mostra<strong>do</strong> ao mun<strong>do</strong> a força feminina por meio<br />
<strong>de</strong> um <strong>trabalho</strong> <strong>de</strong> espiritualida<strong>de</strong> vivida no social.<br />
Historicamente, via <strong>de</strong> regra apenas os homens estudavam e discutiam <strong>textos</strong> como a Bíblia.<br />
Atualmente, mulheres estudam e acrescem um prisma feminino à interpretação <strong>do</strong>s <strong>textos</strong><br />
sagra<strong>do</strong>s. E, incrementan<strong>do</strong> os exemplos, algumas igrejas evangélicas já admitem pastoras na<br />
hierarquia da igreja, como no caso <strong>de</strong> igrejas luteranas, metodistas, <strong>do</strong> Evangelho Quadrangular,<br />
entre outras.<br />
Nas religiões afro-brasileiras, também, a importância da mulher vem sen<strong>do</strong> afirmada e <strong>de</strong>monstrada<br />
por muitos pesquisa<strong>do</strong>res, nas suas diferentes manifestações: can<strong>do</strong>mblé, umbanda, batuque,<br />
xangô, tambor <strong>de</strong> mina, etc.<br />
Encontramos, ainda, muitas divinda<strong>de</strong>s femininas no Hinduísmo, como é o caso <strong>de</strong> Kali, a <strong>de</strong>usa<br />
a<strong>do</strong>rada e temida, que possui um colar <strong>de</strong> crânios humanos em torno <strong>de</strong> seu pescoço. Parvati é<br />
esposa <strong>de</strong> Shiva e representa a Paz, Lakshmi, esposa <strong>de</strong> Vishnu é a representação <strong>do</strong> Amor, entre<br />
muitas outras divinda<strong>de</strong>s femininas com diferentes significa<strong>do</strong>s.<br />
No Budismo, hoje, as mulheres po<strong>de</strong>m ser monjas. Na tradição Zen, as monjas têm cabelos<br />
raspa<strong>do</strong>s e usam quimonos sem enfeites, iguais aos <strong>do</strong>s homens. A idéia é tornar o visual <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is<br />
sexos semelhante e, com isto, evitar a discriminação. Porém, na escola budista Terra Pura, as<br />
mulheres não precisam cortar os cabelos e po<strong>de</strong>m até pintar unhas <strong>de</strong> cores claras e usar jóias.<br />
Esta escola não se exige o celibato e as monjas po<strong>de</strong>m se casar.<br />
Diz uma segui<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> judaísmo: “Aos poucos, as pessoas percebem que Deus não é masculino ou<br />
feminino. Há muito mais possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> expansão <strong>para</strong> nosso espírito, nossa consciência, se<br />
abraçarmos a totalida<strong>de</strong> das experiências humanas”.<br />
Enfim, nas diversas culturas religiosas se po<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar símbolos pre<strong>do</strong>minantes, os símbolos <strong>do</strong><br />
masculino, <strong>do</strong> feminino, <strong>do</strong>s animais, <strong>do</strong>s objetos, entre tantos outros. O mais importante é que os<br />
símbolos são o caminho <strong>para</strong> as pessoas se unirem e se representarem em torno <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas<br />
crenças, que, invariavelmente, convergem o humano à sua existência no mun<strong>do</strong>, <strong>de</strong>ntro das<br />
contingências que o grupo ao qual pertencem se encontra. Queren<strong>do</strong>, como to<strong>do</strong>s os <strong>de</strong>mais, existir<br />
com dignida<strong>de</strong>, o que <strong>de</strong>ve, acima <strong>de</strong> qualquer coisa, ser respeita<strong>do</strong>.<br />
ENCAMINHAMENTO METODOLÓGICO<br />
Para o <strong>trabalho</strong> pedagógico com este conteú<strong>do</strong>, sugere-se que, paulatinamente, sejam<br />
apresenta<strong>do</strong>s aos educan<strong>do</strong>s diferentes formas <strong>de</strong> simbolização e significa<strong>do</strong>s, aproveitan<strong>do</strong> o<br />
ensejo <strong>para</strong> introduzir o senti<strong>do</strong> e o conceito <strong>de</strong> símbolo, além <strong>de</strong> sua importância <strong>para</strong> as tradições<br />
religiosas e <strong>para</strong> o ser humano em geral – como é o caso da linguagem, o exemplo maior <strong>de</strong><br />
símbolo <strong>para</strong> os homens.<br />
Inicialmente, o <strong>professor</strong> po<strong>de</strong> repassar em sala <strong>de</strong> aula o seguinte texto:
AS MÁSCARAS NO MUNDO RELIGIOSO<br />
As máscaras, em diferentes culturas, muitas vezes revestem-se <strong>de</strong> um po<strong>de</strong>r mágico, algumas<br />
pessoas acreditam que elas po<strong>de</strong>m proteger aqueles que as usam contra coisas ruins ou ainda<br />
po<strong>de</strong>m assustar e mostrar po<strong>de</strong>r. Po<strong>de</strong>m também captar a força vital <strong>de</strong> outro ser e torná-la<br />
presente no corpo <strong>de</strong> quem a usa.<br />
Enfim, muitas vezes as pessoas utilizam as máscaras na crença <strong>de</strong> que po<strong>de</strong>rão <strong>do</strong>minar e<br />
controlar forças <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> espiritual.<br />
MÁSCARAS: bastante utilizadas em rituais, evocam características e energias <strong>do</strong>s seres que<br />
representam. Para alguns povos, o espírito <strong>do</strong> elemento representa<strong>do</strong> ali se encarna em quem<br />
utiliza a máscara, estabelecen<strong>do</strong>, naquele momento, uma sagrada relação <strong>de</strong> participação mística.<br />
A partir da reflexão coletiva sobre este texto, os educan<strong>do</strong>s po<strong>de</strong>m:<br />
Confeccionar máscaras. Cada educan<strong>do</strong> escolhe um animal <strong>de</strong> sua preferência e elabora a sua<br />
máscara. Neste momento, o <strong>professor</strong> po<strong>de</strong> conduzir a reflexão acerca da significação animal na<br />
religião indígena. Cada animal trás um tipo <strong>de</strong> energia diferente no ritual.<br />
Texto <strong>para</strong> leitura:<br />
É possível, neste momento, mostrar aos educan<strong>do</strong>s trechos <strong>de</strong> filmes que evi<strong>de</strong>nciem algum ritual<br />
no qual os participantes aparecem usan<strong>do</strong> máscaras. Exemplo: um ritual indígena no qual a pintura<br />
<strong>de</strong> rosto e corpo se torne evi<strong>de</strong>nte. Existe, como exemplo, um <strong>do</strong>cumentário sobre os índios <strong>do</strong> Alto<br />
Xingu – <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> Xingu –, que po<strong>de</strong> ser aqui utiliza<strong>do</strong>.<br />
Além das máscaras existem também outras formas <strong>de</strong> os símbolos se apresentarem. Neste senti<strong>do</strong>,<br />
sugere-se que o <strong>professor</strong> propicie um momento <strong>de</strong> reflexão sobre a temática <strong>do</strong> breve texto que<br />
segue, sobre a simbologia da vestimenta:<br />
VESTUÁRIO<br />
Os teci<strong>do</strong>s com os quais se confeccionam as roupas utilizadas nas cerimônias religiosas possuem<br />
uma representação simbólica. A seda po<strong>de</strong> representar a <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za, o refinamento... O algodão<br />
po<strong>de</strong> querer <strong>de</strong>monstrar a simplicida<strong>de</strong>, a humilda<strong>de</strong>, o <strong>de</strong>sapego... A pele po<strong>de</strong> ser símbolo da<br />
força preservada <strong>do</strong> animal... O véu utiliza<strong>do</strong> pelas mulheres, como, por exemplo, as islâmicas,<br />
po<strong>de</strong> ser entendi<strong>do</strong> como símbolo <strong>de</strong> distanciamento <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> exterior, modéstia e virtu<strong>de</strong>.<br />
O manto, ao envolver o corpo, po<strong>de</strong> significar proteção e po<strong>de</strong>r, entre outras coisas.<br />
A roupa po<strong>de</strong> ser símbolo exterior <strong>de</strong> uma ativida<strong>de</strong> espiritual. A vestimenta <strong>do</strong>s monges chineses<br />
não evoca simplesmente o <strong>de</strong>sapego ao mun<strong>do</strong> material. “Os sábios chineses anunciam, através <strong>do</strong><br />
seu chapéu re<strong>do</strong>n<strong>do</strong>, que sabem das coisas <strong>do</strong> céu; por meio <strong>de</strong> seus sapatos quadra<strong>do</strong>s, que<br />
sabem as coisas da terra; por meio <strong>de</strong> seus sonoros pingentes, que sabem se pôr em harmonia em<br />
to<strong>do</strong> o lugar.” (Huang-tsé, sábio chinês).<br />
Ativida<strong>de</strong>s a se propor <strong>para</strong> os educan<strong>do</strong>s:<br />
• A partir <strong>de</strong>sta leitura o que você pensa sobre a importância simbólica<br />
das vestimentas no cotidiano e nos cultos religiosos?<br />
• Após leitura reflexiva, sugere-se ainda que os educan<strong>do</strong>s construam em papelão o contorno <strong>do</strong><br />
corpo <strong>de</strong> uma figura masculina e <strong>de</strong> uma figura feminina. Depois, po<strong>de</strong>rão <strong>de</strong>senhar e pintar o rosto.<br />
Se<strong>para</strong>damente, em papel, confeccionar a vestimenta <strong>de</strong> diferentes tradições religiosas e que os<br />
bonecos contorna<strong>do</strong>s sejam vesti<strong>do</strong>s. Exemplo: O hábito <strong>de</strong> uma freira, a túnica <strong>de</strong> um monge<br />
budista, as roupas <strong>de</strong> um pajé, <strong>de</strong> uma segui<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> Wicca (religião <strong>do</strong> culto à Deusa), <strong>de</strong> um<br />
can<strong>do</strong>mblecista...<br />
AS ROUPAS RELIGIOSAS E SEUS SIGNIFICADOS<br />
Na religião católica, a vestimenta po<strong>de</strong> muitas vezes i<strong>de</strong>ntificar a or<strong>de</strong>m a que o monge pertence.<br />
Por exemplo, os capuchinhos utilizam um manto simples <strong>para</strong> simbolizar a simplicida<strong>de</strong> e um capuz<br />
conheci<strong>do</strong> por tonsura <strong>para</strong> proteger a cabeça, muitas vezes raspada. A tonsura representa o<br />
aban<strong>do</strong>no <strong>de</strong> toda a vaida<strong>de</strong> e uma vida consagrada a Deus. Po<strong>de</strong>m também utilizar como cinto um<br />
cordão apresentan<strong>do</strong> vários nós, como símbolo da fé, esperança, carida<strong>de</strong> e penitência.<br />
Na hierarquia da igreja católica se percebe que na medida em que o grau hierárquico aumenta<br />
também a pomposida<strong>de</strong> e exuberância da vestimenta cresce, simbolizan<strong>do</strong>, assim, a riqueza e a<br />
nobreza <strong>do</strong> espírito.
Já <strong>para</strong> o costume religioso muçulmano, a presença <strong>do</strong> véu <strong>para</strong> as mulheres é <strong>de</strong> suma<br />
importância. Este véu, conheci<strong>do</strong> como hijab, <strong>de</strong>ve cobrir to<strong>do</strong> o corpo da mulher com exceção <strong>do</strong><br />
rosto, mãos e, eventualmente, também os pés. Tal comportamento significa que elas estão em<br />
acor<strong>do</strong> com o que diz o Alcorão, livro sagra<strong>do</strong> <strong>do</strong>s islâmicos, <strong>de</strong>monstran<strong>do</strong>, assim, sua submissão<br />
a Alá.<br />
Cabe aqui lembrar que algumas igrejas evangélicas cristãs, substituíram o uso <strong>do</strong> véu <strong>para</strong> as<br />
mulheres, símbolo <strong>de</strong> respeito a Deus, pelos cabelos compri<strong>do</strong>s.<br />
Os homens ju<strong>de</strong>us usam sobre a cabeça um kipá. A palavra kipá significa arco e serve como uma<br />
lembrança constante da presença <strong>de</strong> Deus, que, como um arco, protege e guia. O kipá também<br />
significa que acima da pessoa existe Deus e Deus está acima das pessoas, observan<strong>do</strong>-as em<br />
to<strong>do</strong>s os momentos. Desta maneira, associa-se à humilda<strong>de</strong>.<br />
Como se viu, as vestimentas utilizadas no ambiente religioso possuem significa<strong>do</strong>s e não são<br />
apenas a<strong>do</strong>rnos ou questão <strong>de</strong> gosto pessoal. Deste mo<strong>do</strong>, vale a pena ficar atento <strong>para</strong> observar<br />
como se vestem as pessoas que representam organizações religiosas, a fim <strong>de</strong> conhecer um pouco<br />
mais sobre suas crenças.<br />
FOGO<br />
O fogo é um elemento que parece ter vida, consome e ilumina, aquece e também causa <strong>do</strong>r e<br />
morte.<br />
Muitas vezes, é ti<strong>do</strong> como sagra<strong>do</strong>, simbolizan<strong>do</strong>, por exemplo, no cristianismo, o Espírito Santo,<br />
que, em forma <strong>de</strong> línguas <strong>de</strong> fogo, inspirou os apóstolos durante a primeira festa <strong>de</strong> Pentecostes<br />
(festa em que os cristãos comemoram a <strong>de</strong>scida <strong>do</strong> Espírito Santo e tem sua comemoração<br />
cinqüenta dias após a Páscoa). Em seu aspecto negativo tem-se, no catolicismo, a simbolização <strong>do</strong><br />
inferno e da <strong>de</strong>struição.<br />
O ato <strong>de</strong> acen<strong>de</strong>r o fogo, no início <strong>do</strong> ano novo, era um ato sagra<strong>do</strong> no antigo México.<br />
Na <strong>do</strong>utrina Hinduísta, o fogo é fundamental, pois Agni, Indra e Surya são fogos <strong>do</strong>s mun<strong>do</strong>s<br />
terrestre, intermediário e celeste.<br />
Segun<strong>do</strong> o texto sagra<strong>do</strong> <strong>do</strong>s hinduístas, Atharva Veda, o Deus Agni escalou os cimos celestiais e,<br />
ao libertar-se <strong>do</strong> peca<strong>do</strong>, também libertou o povo da maldição.<br />
No livro sagra<strong>do</strong> <strong>do</strong>s chineses, o I - Ching, o fogo correspon<strong>de</strong> ao sul, à cor vermelha, ao verão e ao<br />
coração.<br />
A antiga Roma ritualizava a guarda <strong>do</strong> fogo sagra<strong>do</strong>.<br />
A liturgia católica <strong>do</strong> fogo novo é celebrada na noite <strong>de</strong> Páscoa.<br />
No Xintoísmo (Japão), a celebração <strong>do</strong> fogo coinci<strong>de</strong> com a renovação <strong>do</strong> ano.<br />
Algumas culturas costumam cremar os seus mortos – queimá- los –, pois acredita-se que o fogo se<br />
torna elo <strong>de</strong> ligação e mensageiro entre o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s mortos e <strong>do</strong>s vivos.<br />
O sol e seus raios também simbolizam o fogo e suas chamas são tidas como purifica<strong>do</strong>ras e<br />
ilumina<strong>do</strong>ras. Em seu aspecto negativo, ele obscurece e sufoca, por causa da fumaça.<br />
O fogo é símbolo <strong>de</strong> purificação, <strong>de</strong> renovação e da presença <strong>do</strong> divino em diferentes religiões.<br />
Sugestão:<br />
• Em posse <strong>do</strong> texto, os educan<strong>do</strong>s po<strong>de</strong>rão elaborar um álbum com imagem <strong>do</strong> uso <strong>do</strong> elemento<br />
fogo nas diferentes religiões, com <strong>de</strong>senhos ou gravuras. Exemplo: uma dança ritual <strong>do</strong> fogo<br />
indígena, uma vela acesa em uma igreja, uma pira funerária hinduísta...<br />
Outra proposta <strong>para</strong> encaminhamento meto<strong>do</strong>lógico é o <strong>trabalho</strong> com alguns símbolos que<br />
i<strong>de</strong>ntificam as diferentes religiões <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. O <strong>professor</strong> po<strong>de</strong> mostrar o símbolo e fazer o seguinte<br />
esclarecimento:<br />
• Um <strong>do</strong>s símbolos da antiga religião chinesa <strong>de</strong>nominada taoísmo é este. Ele representa o<br />
equilíbrio entre duas forças opostas, que precisam estar em harmonia, são forças inerentes a tu<strong>do</strong><br />
que existe no universo. Um la<strong>do</strong> precisa <strong>do</strong> outro <strong>para</strong> existir. Expressa duas polarida<strong>de</strong>s:<br />
escuro/claro, positivo/ negativo, quente/frio, masculino/feminino. O Yin está liga<strong>do</strong> a terra, o frio, o<br />
feminino. O Yang está liga<strong>do</strong> ao céu, ao calor, ao masculino. As forças opostas <strong>do</strong> Yin e <strong>do</strong> Yang<br />
são inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e cada uma contém em si a semente ou potencial da outra.
Para continuar esta ativida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>-se sugerir que os educan<strong>do</strong>s <strong>de</strong>senhem este símbolo em seus<br />
ca<strong>de</strong>rnos.<br />
• A seguir, apresentar a imagem da lua e comentar que:<br />
A Lua po<strong>de</strong> representar a figura feminina, e também o aspecto maternal e cria<strong>do</strong>r da vida. A lua<br />
cheia lembra um ventre que contem uma pequena vida. Para as tradições <strong>de</strong> Wicca, a lua é um<br />
símbolo importante <strong>de</strong> fertilida<strong>de</strong> e representa a própria <strong>de</strong>usa.<br />
Sugere-se que, ao trabalhar com o simbólico da lua, o <strong>professor</strong> enfatize a questão <strong>do</strong>s símbolos <strong>do</strong><br />
feminino nas diferentes manifestações <strong>do</strong> sagra<strong>do</strong>, como, por exemplo, Gaia, Vênus, Iemanjá, etc.<br />
• Para seguir com o <strong>trabalho</strong> <strong>de</strong> apresentação <strong>do</strong>s símbolos religiosos, po<strong>de</strong>m ser apresenta<strong>do</strong>s<br />
símbolos, contan<strong>do</strong> a história que lhe originou.<br />
CRUZ: O cristianismo tem a cruz como um <strong>do</strong>s principais símbolos, lembran<strong>do</strong> a morte <strong>de</strong> Jesus<br />
<strong>para</strong> salvar a humanida<strong>de</strong>. A cruz vazia simboliza a ressurreição e a ascensão <strong>de</strong> Jesus. A cruz<br />
com o Cristo crucifica<strong>do</strong> po<strong>de</strong> simbolizar que Jesus morreu crucifica<strong>do</strong> <strong>para</strong> salvar o homem, dan<strong>do</strong><br />
sua vida por amor a to<strong>do</strong>s.<br />
ESTRELA DE DAVI: É um <strong>do</strong>s símbolos <strong>do</strong> Judaísmo, estampada no centro da ban<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Israel.<br />
A estrela <strong>de</strong> Davi tem seis pontas; formada por <strong>do</strong>is triângulos entrelaça<strong>do</strong>s. Os <strong>do</strong>is triângulos<br />
também simbolizam o equilíbrio <strong>do</strong> universo. Este é o principal símbolo <strong>do</strong> Judaísmo e <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
Israel, os triângulos representam o entrelaçamento <strong>do</strong> sol, fogo e energia masculina com a lua, água<br />
e energia feminina.<br />
LUA CRESCENTE : Tornou-se o símbolo a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> pelo islamismo. Possui uma antiga relação com a<br />
realeza, e, entre os muçulmanos, guarda ressonância com o calendário lunar, que or<strong>de</strong>na suas<br />
vidas religiosas. A lua crescente está se plenifican<strong>do</strong> e espalhan<strong>do</strong> luz, aumentan<strong>do</strong> paulatinamente<br />
seu tamanho, <strong>do</strong> mesmo mo<strong>do</strong> um fiel em sua busca por Alá.<br />
OM: É o símbolo mais importante <strong>para</strong> o hinduísmo e também <strong>para</strong> o budismo. É o som primordial,<br />
o som cria<strong>do</strong>r a partir <strong>do</strong> qual tu<strong>do</strong> se manifesta. O OM é a reunião <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os sons. O som OM<br />
po<strong>de</strong> representar a trinda<strong>de</strong> <strong>do</strong>s <strong>de</strong>uses da criação (Bhrama, Vishnu e Shiva. Crê-se que esta sílaba<br />
sagrada seja a “semente” <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os mantras (palavras ou sons po<strong>de</strong>rosos e divinos). O som OM<br />
seria o único eterno, em que o passa<strong>do</strong>, o presente e o futuro coexistem.<br />
CHAVE: É um <strong>do</strong>s símbolos utiliza<strong>do</strong>s pela umbanda, que é uma das religiões <strong>do</strong>s<br />
afro<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes. Simboliza a abertura <strong>do</strong>s caminhos.<br />
São Pedro é o guardião da chave, que <strong>para</strong> os umbandistas é o Xangô Agodô O po<strong>de</strong>r das chaves<br />
é o que faculta ligar e <strong>de</strong>sligar, abrir ou fechar o céu.<br />
NATUREZA: Muitas nações indígenas se <strong>de</strong>senvolveram na arte <strong>de</strong> leitura <strong>do</strong>s sinais, encontra<strong>do</strong>s<br />
no vôo <strong>do</strong>s pássaros, na direção <strong>do</strong>s ventos, raios, no crepitar <strong>do</strong> fogo, na posição das estrelas...<br />
Para os povos <strong>de</strong> floresta, há uma comunicação incessante entre tu<strong>do</strong> o que existe na natureza: a<br />
Terra pulsa e seu coração ensina cânticos aos seres humanos. Segun<strong>do</strong> um índio guarani,<br />
chama<strong>do</strong> Jecupé, nenhum movimento <strong>de</strong> pássaro é realiza<strong>do</strong> sem conexão, nenhum pouso<br />
acontece em vão, quan<strong>do</strong> alguma pessoa vislumbra um pássaro sagra<strong>do</strong>, como, por exemplo, o<br />
gavião-real, a águia, a pomba, entre outros, ela está sen<strong>do</strong> solicitada a agir com o po<strong>de</strong>r <strong>do</strong><br />
coração, on<strong>de</strong> se localiza a morada <strong>do</strong> espírito <strong>do</strong> ser. Se algum animal aparecer em seus sonhos<br />
ali está representada uma mensagem importante.<br />
O beija-flor, por exemplo, po<strong>de</strong> inspirar boas idéias e seu surgimento aponta <strong>para</strong> o momento da<br />
concretização <strong>de</strong>stas idéias, o beija-flor é a primeira forma que Namandu, o Gran<strong>de</strong> Mistério,<br />
assumiu <strong>para</strong> revelar-se. Ainda, conforme a cultura Guarani, a segunda forma que Namandu<br />
assumiu foi a <strong>de</strong> coruja, que, durante o nada da noite, empoleirou- se sobre si mesma e criou a<br />
sabe<strong>do</strong>ria e, ao bater <strong>de</strong> suas asas, o vento passa a existir como mensageiro. Se soprarem <strong>do</strong> sul,<br />
po<strong>de</strong> significar uma aventura inesperada; se soprarem <strong>do</strong> oeste, po<strong>de</strong>m anunciar que o que tem <strong>de</strong><br />
morrer, morrerá; se soprarem <strong>do</strong> norte, é a clareza da jornada com a proteção <strong>de</strong> ancestrais; e se<br />
soprarem <strong>do</strong> leste, significa que algo está <strong>para</strong> ser inicia<strong>do</strong>.
SHIVA: Uma divinda<strong>de</strong> importante <strong>para</strong> o hinduísmo, religião que nasceu na Índia. Nesta imagem o<br />
Deus Shiva dança, a mão direita toca um tambor pequeno que marca o ritmo <strong>de</strong> sua dança. Na mão<br />
esquerda apresenta uma língua <strong>de</strong> fogo na palma. Dança pisan<strong>do</strong> o corpo <strong>de</strong> um pequeno anão que<br />
representa o homem mergulha<strong>do</strong> na ignorância. A auréola <strong>de</strong> chamas que o ro<strong>de</strong>ia representa a<br />
vitalida<strong>de</strong> inesgotável bem como a luz <strong>do</strong> conhecimento.<br />
Apresentou-se, apenas algumas <strong>sugestões</strong> <strong>de</strong> símbolos e seus respectivos significa<strong>do</strong>s. Existem,<br />
ainda, outros símbolos importantes <strong>de</strong> diversas tradições religiosas que aqui não foram<br />
contempla<strong>do</strong>s. Sugere-se que o <strong>professor</strong> proponha aos educan<strong>do</strong>s a pesquisa <strong>de</strong> novos símbolos<br />
e seus significa<strong>do</strong>s. Ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem, pintura e a criação <strong>de</strong> jogos <strong>de</strong> memória (conten<strong>do</strong><br />
cartões com o <strong>de</strong>senho <strong>do</strong> símbolo e cartões com o nome das religiões) são algumas, entre muitas<br />
ativida<strong>de</strong>s, que o <strong>professor</strong> po<strong>de</strong>rá <strong>de</strong>senvolver em suas aulas.<br />
EIXO: TEXTOS SAGRADOS E TRADIÇÕES ORAIS<br />
TEXTOS SAGRADOS<br />
Apesar da escrita só surgir há cerca <strong>de</strong> seis mil anos, segun<strong>do</strong> o que dizem os arqueólogos,<br />
acredita-se que bem antes (aproximadamente 150 mil anos) o homem já encontrava recursos <strong>de</strong><br />
linguagem <strong>para</strong> se comunicar e, conseqüentemente, viver melhor. Essa crença <strong>de</strong> uma<br />
comunicação tão antiga <strong>do</strong> homem alimenta outra discussão no campo da ciência da religião: os<br />
<strong>textos</strong> sagra<strong>do</strong>s.<br />
Escreven<strong>do</strong> ou não, o homem precisa representar <strong>de</strong> algum mo<strong>do</strong> sua ligação com o transcen<strong>de</strong>nte.<br />
Disso vai <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r a orientação da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> homens mais primitivos sobre a vida espiritual,<br />
social, pessoal, etc. Por exemplo, há 17 mil anos, avaliam os arqueólogos, foram feitas pinturas<br />
rupestres (animais, setas, etc.) na caverna francesa <strong>de</strong> Lascaux por homens que, entre outras<br />
coisas, se organizavam com vistas ao <strong>de</strong>senvolvimento das técnicas <strong>de</strong> sobrevivência e relação<br />
com o seu meio. Des<strong>de</strong> essa época já se po<strong>de</strong> comprovar que o homem tinha inteligência <strong>para</strong> uma<br />
comunicação artística, simbólica.<br />
Mas, apensar <strong>de</strong> ser mais difícil <strong>de</strong> comprovar, uma tradição oral também é previsível em casos <strong>de</strong><br />
sistemas religiosos muito antigos, ou primitivos. Uma projeção faz crer que os cultos religiosos<br />
foram por muito tempo completamente fala<strong>do</strong>s. Isso acontece com os índios, por exemplo, e até<br />
mesmo no cristianismo <strong>do</strong> início da era cristã, quan<strong>do</strong> os primeiros cristãos se reuniam.<br />
Na tradição oral não há regras rígidas e sua durabilida<strong>de</strong> é relativa, pois está baseada na memória<br />
<strong>do</strong>s participantes e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> muito da pessoa que fala. O processo que segue a tradição oral é a<br />
tendência <strong>de</strong> institucionalização <strong>do</strong> culto com a criação das igrejas, templos, religiões e os <strong>textos</strong> ou<br />
livros sagra<strong>do</strong>s. No judaísmo há a Tora, no cristianismo a Bíblia Sagrada e no islamismo foi escrito<br />
o Alcorão, os mais conheci<strong>do</strong>s no Brasil. Além <strong>de</strong>les há os Vedas, <strong>do</strong> hinduísmo, e muitos outros.<br />
A Tora está escrita em hebraico e aramaico e é o mais antigo em relação à Bíblia (hebraico,<br />
aramaico e grego) e ao Alcorão (árabe). Seus livros correspon<strong>de</strong>m e <strong>de</strong>ram origem ao Antigo<br />
Testamento da Bíblia. O livro <strong>do</strong>s cristãos, por sua vez, apresenta duas versões, a católica e a<br />
protestante. A primeira é sete livros maior que a segunda. Por isso a verão protestante contém 66<br />
livros, 39 no Antigo Testamento e 27 no Novo Testamento. Em relação à divinda<strong>de</strong> das escrituras,<br />
tanto os cristãos como os ju<strong>de</strong>us afirmam que seu livro tem Deus por autor e que esses escritos têm<br />
por finalida<strong>de</strong> a salvação <strong>do</strong>s homens e por conteú<strong>do</strong> a verda<strong>de</strong>.<br />
Já o Alcorão, ou simplesmente Corão, é o livro mais recente. Essa palavra po<strong>de</strong> ser traduzida<br />
literalmente por "recitação", "lição", "leitura". O livro compõe-se <strong>de</strong> 114 suratas (capítulos) e foi<br />
revela<strong>do</strong> pelo anjo Gabriel, que teria dita<strong>do</strong> palavra por palavra ao profeta Mohamed (Maomé). Para<br />
quem é islâmico, o Alcorão não é apenas religioso, mas serve como orientação <strong>para</strong> as instituições<br />
civis e inspiração <strong>para</strong> os governos e a política como um to<strong>do</strong>.<br />
Questões: (1) Por que a comunicação é tão importante <strong>para</strong> o homem? (2) Como os primeiros<br />
homens expressavam sua ligação com o transcen<strong>de</strong>nte? (3) Quais as principais características da<br />
tradição religiosa oral? (4) O que leva as religiões a escreverem seus livros? (5) Que semelhanças<br />
há entre o livro sagra<strong>do</strong> cristão e o judaico? (6) Que diferença há entre a bíblia católica e<br />
protestante? (7) Como surgiu o Alcorão e qual a sua importância <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> islamismo?
TEXTOS ORAIS E ESCRITOS – SAGRADOS<br />
“A regra <strong>de</strong> ouro consiste em sermos amigos<br />
<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e em consi<strong>de</strong>rarmos toda família humana<br />
como uma só família. Quem faz distinção<br />
entre os fiéis da própria religião e os <strong>de</strong> outra,<br />
<strong>de</strong>seduca os membros da sua religião e abre caminho<br />
<strong>para</strong> o aban<strong>do</strong>no, a irreligião”.<br />
Mahatma Gandhi<br />
Os <strong>textos</strong> sagra<strong>do</strong>s são uma forma <strong>de</strong> expressar e disseminar os ensinamentos das diversas<br />
tradições/manifestações religiosas. Ao articular os <strong>textos</strong> sagra<strong>do</strong>s, por exemplo, aos ritos, às festas<br />
religiosas e às situações <strong>de</strong> nascimento e morte, as diferentes tradições/manifestações religiosas<br />
visam criar mecanismos <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>do</strong> seu grupo <strong>de</strong> segui<strong>do</strong>res, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a<br />
assegurar que os ensinamentos sejam consolida<strong>do</strong>s e transmiti<strong>do</strong>s às novas gerações e aos novos<br />
a<strong>de</strong>ptos. Po<strong>de</strong>m ser retoma<strong>do</strong>s em momentos coletivos e individuais <strong>para</strong> respon<strong>de</strong>r às<br />
problemáticas <strong>do</strong> cotidiano, bem como <strong>para</strong> orientar a conduta <strong>de</strong> seus segui<strong>do</strong>res.<br />
Diversificadamente, todas as pessoas, particularmente ou em socieda<strong>de</strong>, procuram, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> suas<br />
possibilida<strong>de</strong>s e contingências, caminhos <strong>para</strong> bem conduzir a vida.<br />
Por isso é que se <strong>de</strong>ve ter em mente a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se respeitar os rumos encontra<strong>do</strong>s por cada<br />
um. Os <strong>textos</strong> sagra<strong>do</strong>s <strong>de</strong>ntro da disciplina <strong>de</strong> Ensino Religioso <strong>de</strong>vem ser aborda<strong>do</strong>s <strong>de</strong> forma a<br />
fazer claro esta realida<strong>de</strong>; fomentan<strong>do</strong>, assim, a prática da diversida<strong>de</strong> cultural e religiosa.<br />
Enten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> esta perspectiva, os <strong>textos</strong> sagra<strong>do</strong>s registram os fatos relevantes da<br />
tradição/manifestação religiosa: as orações, os sermões, a <strong>do</strong>utrina, a história, etc. Constituin<strong>do</strong>-se,<br />
<strong>de</strong>sta feita, o fundamento no substrato social, tanto no cotidiano coletivo como na orientação das<br />
práticas religiosas, da crença <strong>de</strong> seus segui<strong>do</strong>res.<br />
Assim, o que caracteriza um texto como sagra<strong>do</strong> é o reconhecimento, pelo grupo que o acolhe, <strong>de</strong><br />
que transmite uma mensagem ou, ainda, <strong>de</strong> que favorece uma aproximação, uma religação, entre<br />
os a<strong>de</strong>ptos e o sagra<strong>do</strong>.<br />
A compreensão, a interpretação e a significação <strong>do</strong> texto po<strong>de</strong>m ser modificadas, conforme a<br />
passagem <strong>do</strong> tempo <strong>para</strong> correspon<strong>de</strong>r às <strong>de</strong>mandas <strong>do</strong> tempo presente, contextualizan<strong>do</strong>-se a<br />
cada momento. Po<strong>de</strong>, também, sofrer alterações <strong>de</strong> juízo, <strong>de</strong> conceitualização, causadas pelas<br />
diversas interpretações secundárias, diferentes das intenções <strong>do</strong> texto original. Pesquisa<strong>do</strong>res das<br />
tradições religiosas, como Luiz Alberto Souza Alves, Silvyo Fausto e outros, <strong>de</strong>finem que texto<br />
sagra<strong>do</strong> é, também, a tradição e a natureza <strong>do</strong> sagra<strong>do</strong> enquanto fenômeno. Neste senti<strong>do</strong>, o<br />
sagra<strong>do</strong> é reconheci<strong>do</strong> por meio das Escrituras Sagradas, das Tradições Orais Sagradas.<br />
Igualmente, <strong>de</strong>fine-se como Texto Sagra<strong>do</strong> aquele concebi<strong>do</strong> por inspiração, por “intervenção<br />
divina”, e que represente o sagra<strong>do</strong>. Um texto sagra<strong>do</strong>, enfim, po<strong>de</strong> ser o resulta<strong>do</strong> da revelação <strong>de</strong><br />
uma mensagem <strong>do</strong> sagra<strong>do</strong> <strong>para</strong> a humanida<strong>de</strong>, ou seja, a manifestação <strong>do</strong> Transcen<strong>de</strong>nte ou<br />
Imanente transmitida <strong>de</strong> forma sensivelmente humana: objetiva, em certa medida, pois o homem é,<br />
entre tantas qualida<strong>de</strong>s, um ser racional, mas comportan<strong>do</strong>, ao mesmo tempo, alto grau <strong>de</strong><br />
subjetivida<strong>de</strong>, já que, igualmente, é um ser emocional.<br />
O sagra<strong>do</strong> expresso e comunicável está presente nas mais diferentes tradições religiosas,<br />
apresenta<strong>do</strong> sob muitas formas. Culturas ágrafas, por exemplo, possuem o texto oral, que, pela<br />
chegada da escrita, foi ou não registra<strong>do</strong>.<br />
Os <strong>textos</strong> sagra<strong>do</strong>s nascem <strong>do</strong> mito, pois, nesta forma simbólica <strong>de</strong> expressão, as pessoas buscam<br />
encontrar explicações <strong>para</strong> a sua realida<strong>de</strong>, orientações <strong>para</strong> a vida e <strong>para</strong> o pós-morte.<br />
Ainda hoje, há algumas tradições religiosas que se utilizam da oralida<strong>de</strong>, como, por exemplo, as<br />
culturas nativas, as indígenas, as australianas (aborígines), as africanas, entre outras. Nestas, a<br />
oralida<strong>de</strong> é o meio utiliza<strong>do</strong> <strong>para</strong> repassar os ensinamentos revivi<strong>do</strong>s em diferentes rituais. Apesar<br />
<strong>de</strong> algumas <strong>de</strong>ssas culturas <strong>do</strong>minarem a escrita, preferem preservar o texto oral <strong>para</strong> que a<br />
mensagem divina não perca a sua essência.<br />
Outras tradições religiosas, com o advento da invenção da escrita, fizeram a opção <strong>de</strong> escrever os<br />
seus <strong>textos</strong> sagra<strong>do</strong>s, como forma <strong>de</strong> garantir a preservação <strong>de</strong> seu conteú<strong>do</strong>. Entre as tradições<br />
com registro escrito <strong>do</strong>s <strong>textos</strong> sagra<strong>do</strong>s tem-se, por exemplo, a judaica, a cristã, a muçulmana, etc.
Essencialmente, os <strong>textos</strong> sagra<strong>do</strong>s <strong>de</strong>senvolvem os pressupostos básicos da vida em comunida<strong>de</strong><br />
e colocam o homem diante da interpretação da manifestação <strong>do</strong> sagra<strong>do</strong> que seu grupo incorpora,<br />
<strong>de</strong> forma institucionalizada, organizada. São nos <strong>textos</strong> sagra<strong>do</strong>s que são preserva<strong>do</strong>s to<strong>do</strong>s os<br />
princípios <strong>do</strong>utrinários que orientam as tradições religiosas e as culturas, a socieda<strong>de</strong>, que<br />
pertencem.<br />
Estes fundamentos <strong>do</strong>s <strong>textos</strong> sagra<strong>do</strong>s não nascem prontos e acaba<strong>do</strong>s. São, invariavelmente,<br />
uma construção histórica <strong>de</strong> um povo, <strong>de</strong> uma civilização, conforme o juízo crítico <strong>de</strong> sua forma <strong>de</strong><br />
vida na concretu<strong>de</strong> da vida terrena. Vêm, inicialmente, da experiência e são transmiti<strong>do</strong>s <strong>de</strong> maneira<br />
oral ou escrita (pergaminhos e papéis, etc). Muitas tradições religiosas, ao realizarem essa<br />
transferência <strong>para</strong> a escrita, elaboram as normas e critérios <strong>para</strong> se preservar a fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> à<br />
originalida<strong>de</strong> <strong>do</strong> texto, <strong>para</strong> não serem <strong>de</strong>scaracteriza<strong>do</strong>s.<br />
Entre as funções <strong>do</strong>s <strong>textos</strong> sagra<strong>do</strong>s, está também a tentativa <strong>de</strong> se manter os sonhos e utopias<br />
das pessoas. Os <strong>textos</strong> sagra<strong>do</strong>s fazem com que elas mantenham vivas suas esperanças, seus<br />
i<strong>de</strong>ais, acreditan<strong>do</strong> ser possível realizar suas expectativas <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> uma existência o<br />
melhor possível, enfim, <strong>de</strong> um mun<strong>do</strong> melhor.<br />
A palavra escrita, ao ser interpretada, po<strong>de</strong> trazer um único senti<strong>do</strong> ou múltiplos senti<strong>do</strong>s, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong><br />
ou não estar disponível a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interpretação por parte <strong>do</strong>s fiéis ou segui<strong>do</strong>res. Para<br />
aquelas que argumentam que o texto não po<strong>de</strong> ser interpreta<strong>do</strong> pelos fiéis, a revelação <strong>do</strong> divino é<br />
tida como única e inquestionável.<br />
As diversas ciências que se <strong>de</strong>dicam a estudar as tradições religiosas, como um sustentáculo à<br />
ciência da religião, como a antropologia e a história, argumentam que, mesmo sen<strong>do</strong> inspira<strong>do</strong> pelo<br />
sagra<strong>do</strong>, o texto é escrito por mãos humanas, e esse humano pensa e reflete a sua cultura, a sua<br />
história, o meio social <strong>de</strong> seu tempo; transmitin<strong>do</strong>, assim, <strong>para</strong> o texto sagra<strong>do</strong> essas expectativas e<br />
sentimentos, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que se po<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar uma certa “contaminação” humana na “inspiração<br />
divina”. Por isso, ao ler os <strong>textos</strong> sagra<strong>do</strong>s, muitas pessoas o analisam sob essa ótica: sem<br />
esquecer que, no texto sagra<strong>do</strong>, há também o sentimento humano <strong>de</strong> seu tempo, <strong>de</strong> seu contexto<br />
histórico e <strong>de</strong> crítica.<br />
A essência <strong>do</strong> texto <strong>de</strong>ve ser mantida, não se <strong>de</strong>ve tirar esse preceito <strong>do</strong> foco <strong>de</strong> leitura, ou seja, ler<br />
enten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> o texto, ten<strong>do</strong> consciência que o texto reflete a expressão e interpretação <strong>do</strong> escritor,<br />
<strong>do</strong> mensageiro <strong>do</strong> divino, em seu tempo. Contu<strong>do</strong>, fielmente, os objetivos <strong>do</strong>s <strong>textos</strong> sagra<strong>do</strong>s são<br />
sempre os mesmos: primeiramente, ser um alicerce da <strong>do</strong>utrina <strong>de</strong> fé, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>do</strong> pensamento<br />
da tradição religiosa; e, como segun<strong>do</strong> objetivo, firmar o senti<strong>do</strong> da vida e não per<strong>de</strong>r o eixo <strong>de</strong><br />
condução da existência. É a manutenção <strong>do</strong>s sonhos e esperanças <strong>do</strong>s homens em bem viver.<br />
Há também o fato <strong>de</strong> que os <strong>textos</strong> sagra<strong>do</strong>s são representa<strong>do</strong>s e manifesta<strong>do</strong>s, em algumas<br />
culturas, em comunicações expressadas nas pinturas <strong>de</strong> corpos (tatuagem), nas pare<strong>de</strong>s das<br />
construções, nos quadros, nos vitrais, nos ícones, na combinação <strong>de</strong> sons e <strong>de</strong> ritmos, na harmonia<br />
das músicas, nas danças, na disposição <strong>do</strong>s objetos <strong>de</strong> culto e no rito. Enfim, os <strong>textos</strong> sagra<strong>do</strong>s<br />
po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>rivar em diferentes formas <strong>de</strong> linguagens, além daquelas tradicionais: escritas ou<br />
transmitidas pela forma oral.<br />
A seguir, apresentam-se alguns <strong>textos</strong> sagra<strong>do</strong>s <strong>de</strong> diversas tradições religiosas e suas<br />
características, como referência <strong>para</strong> o <strong>professor</strong>:<br />
Corão: é o livro sagra<strong>do</strong> <strong>do</strong> Islã. Os muçulmanos acreditam que o Corão é a palavra <strong>de</strong> Deus<br />
revelada ao profeta Mohamed, comumente conheci<strong>do</strong> como Maomé, em Meca, quan<strong>do</strong> estava<br />
meditan<strong>do</strong>. Conta a história que, ao lhe ser revela<strong>do</strong> um verso da palavra <strong>de</strong> Deus, ele recitava as<br />
palavras exatas e seus segui<strong>do</strong>res escreviam on<strong>de</strong> podiam: pergaminhos, pedras e cascas <strong>de</strong><br />
árvores. Para os muçulmanos, o Sagra<strong>do</strong> Corão é o mais importante livro <strong>de</strong> Alá (o Deus, segun<strong>do</strong><br />
a nomenclatura muçulmana), já que acreditam conter as palavras exatas <strong>de</strong> Alá.<br />
Este Livro, inicialmente, aborda a unicida<strong>de</strong> divina, o papel <strong>de</strong> Alá na história, o papel <strong>de</strong> Mohamed<br />
como seu profeta, o Juízo Final e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ajudar ao próximo. Para os muçulmanos, o<br />
Corão é a maior dádiva <strong>de</strong> Alá à humanida<strong>de</strong> e a sua sabe<strong>do</strong>ria é privilegiada. A escrita <strong>do</strong> texto é<br />
exposta em termos breves e o seu propósito sagra<strong>do</strong> consiste em preservar as revelações divinas,<br />
as quais restauram a eterna Verda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Alá, como guia <strong>para</strong> a humanida<strong>de</strong> ao caminho certo.
Páli Tripitakan: é conheci<strong>do</strong> como o principal Texto Sagra<strong>do</strong> budista, que significa o “Cesto Triplo”<br />
ou “Os Três Cestos da Sabe<strong>do</strong>ria”. Conta a vida <strong>de</strong> Buda, o “Ilumina<strong>do</strong>”, o príncipe Sidharta<br />
Gautama, e reúne seus sermões. Páli é a língua na qual foram escritos os ensinamentos <strong>do</strong> Buda.<br />
Existem também outros livros sagra<strong>do</strong>s, conheci<strong>do</strong>s como Sutras, com suas parábolas e histórias<br />
<strong>para</strong> explicar os ensinamentos <strong>do</strong> Buda e <strong>para</strong> falar <strong>de</strong> sua vida.<br />
Durante aproximadamente 500 anos após a morte <strong>de</strong> Buda, os seus ensinamentos eram passa<strong>do</strong>s<br />
oralmente, <strong>de</strong> geração a geração. Somente mais tar<strong>de</strong> os <strong>textos</strong> foram escritos, quan<strong>do</strong>, então,<br />
passaram a ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s sagra<strong>do</strong>s.<br />
O budismo se espalhou pelo mun<strong>do</strong>. Por isso, os seus respectivos <strong>textos</strong> sagra<strong>do</strong>s tiveram <strong>de</strong> ser<br />
traduzi<strong>do</strong>s <strong>para</strong> vários idiomas. Trabalho árduo realiza<strong>do</strong> pelos monges, que o estudavam e que se<br />
encarregaram <strong>de</strong> os retransmitirem. Eles entoam, discutem e praticam os <strong>textos</strong> sagra<strong>do</strong>s, o que<br />
perfaz uma característica importante da vida <strong>de</strong> to<strong>do</strong> monge budista.<br />
Vedas: <strong>para</strong> os hinduístas, religião que nasceu na Índia, há muitos <strong>textos</strong> sagra<strong>do</strong>s, e, entre tantos,<br />
estão estes, os quais contêm preceitos relativos à sua organização social, coletiva e individual. São<br />
quatro coleções <strong>de</strong> hinos, orações e fórmulas mágicas, chama<strong>do</strong>s Vedas ou Escrituras Védicas. O<br />
mais antigo e mais sagra<strong>do</strong> é o Rig Veda, o “Filho <strong>do</strong> Saber”, com mais <strong>de</strong> mil hinos. Consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s<br />
os mais antigos livros sagra<strong>do</strong>s <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, com aproximadamente 4000 anos. Os outros <strong>textos</strong><br />
hindus <strong>de</strong> maior importância são as Upanixa<strong>de</strong>s e <strong>do</strong>is outros extensos poemas, o Mahabharata e<br />
o Ramayana.<br />
Os Vedas e os Upanixa<strong>de</strong>s são chama<strong>do</strong>s <strong>textos</strong> Shruti, “ouvi<strong>do</strong>s”.<br />
Os hinduístas acreditam que um grupo <strong>de</strong> homens sábios os ouviram diretamente <strong>de</strong> Bhahma, o<br />
“Cria<strong>do</strong>r”, há muito tempo. Os outros <strong>textos</strong> são conheci<strong>do</strong>s como Shmiriti, “lembra<strong>do</strong>s”. Foram<br />
compostos por pessoas e passa<strong>do</strong>s adiante durante milhares <strong>de</strong> anos. Nenhum <strong>de</strong>stes <strong>textos</strong><br />
sagra<strong>do</strong>s foi escrito, foram <strong>de</strong>cora<strong>do</strong>s e passa<strong>do</strong>s adiante oralmente.<br />
Bíblia: é o livro sagra<strong>do</strong> <strong>do</strong>s cristãos. Os cristãos acreditam que a Bíblia seja o ensinamento <strong>de</strong><br />
Deus, escrito <strong>para</strong> orientá-los. A Bíblia inicia com o livro <strong>do</strong> Gêneses que narra a criação <strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />
e termina com o livro <strong>do</strong> Apocalipse, que narra o fim <strong>do</strong>s tempos. É formada por uma coleção <strong>de</strong><br />
vários livros, que hoje são utiliza<strong>do</strong>s por católicos e evangélicos, e foram escritos por diversas<br />
pessoas e em épocas diferentes. Os livros contêm cartas, mandamentos e histórias sobre as vidas<br />
das pessoas.<br />
A Bíblia está dividida em duas partes principais, o Velho Testamento e o Novo Testamento. A<br />
palavra testamento significa aliança ou promessa. O Velho Testamento foi redigi<strong>do</strong> em hebraico.<br />
Trata da história <strong>de</strong> Abraão e seus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes, da história <strong>do</strong> povo ju<strong>de</strong>u. O Novo testamento<br />
narra a vida e os ensinamentos <strong>de</strong> Jesus, sua morte e ressurreição.<br />
Tao Te Ching: o mais famoso e influente texto chinês da tradição taoísta, que significa o “Livro <strong>do</strong><br />
Tao” (“Or<strong>de</strong>m <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>”). É tradicionalmente atribuí<strong>do</strong> a Lao-Tsé, um velho sábio. Todavia, é<br />
impossível i<strong>de</strong>ntificar com precisão a autoria da obra ou a data <strong>de</strong>sse texto, mas, provavelmente,<br />
data <strong>do</strong> século VI a.C.<br />
Tanach: é o nome da coleção <strong>do</strong>s livros que constituem o texto sagra<strong>do</strong> da religião judaica, dividi<strong>do</strong><br />
em três partes ou seções. Tora (Orientações ou Leis), o Neviim (Profetas) e Kituvim (Escritos). O<br />
rolo da Torá é usa<strong>do</strong> com muita reverência e respeito e permanece na sinagoga <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um<br />
tabernáculo em um local <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque.<br />
Livro <strong>do</strong>s Espíritos, Livro <strong>do</strong>s Médiuns, Evangelho Segun<strong>do</strong> o Espiritismo, Céu e Inferno e A<br />
Gênese: estas são as cinco obras básicas <strong>de</strong> Allan Kar<strong>de</strong>c, que foi o codifica<strong>do</strong>r da <strong>do</strong>utrina<br />
espírita. O conhecimento <strong>do</strong> espiritismo <strong>de</strong>ve partir <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> <strong>de</strong>stas obras. Os espíritas não têm<br />
seus livros ti<strong>do</strong>s como sagra<strong>do</strong>s, mas <strong>de</strong>les se servem <strong>para</strong> estu<strong>do</strong> e aperfeiçoamento individual.<br />
Kitáb-i-Aqdas: o “Mais Sagra<strong>do</strong> Livro” ou “Livro Sacratíssimo”, é a principal obra <strong>de</strong> Bahá’i’u’llah,<br />
que contém as leis que guiam a comunida<strong>de</strong> Bahá’í. A literatura sagrada da Fé Bahá’í inclui a<br />
totalida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s escritos <strong>de</strong> Bahá’i’u’llah, que constam mais <strong>de</strong> cem obras e os escritos <strong>do</strong> Báb, o<br />
precursor da Reveleção Bahá’í, e Abdu ‘I-l-Bahá, o intérprete autoriza<strong>do</strong> das escrituras.
Muitas tradições religiosas não têm os <strong>textos</strong> sagra<strong>do</strong>s <strong>de</strong> forma escrita, como foi menciona<strong>do</strong><br />
anteriormente. Seus <strong>textos</strong> se mantêm na forma oral, entre elas po<strong>de</strong>mos mencionar as indígenas e<br />
as afro-brasileiras (as principais são o Can<strong>do</strong>mblé e a Umbanda).<br />
Nas Tradições religiosas Afro-Brasileiras, nas quais a mensagem sagrada é transmitida <strong>de</strong> maneira<br />
oral, encontram-se mitos, lendas, canções, contos, danças, provérbios, adivinhações e ritos <strong>para</strong><br />
explicar, vivenciar e perpetuar suas crenças e tradições.<br />
Como estes exemplos mostram, o cerne principal <strong>do</strong>s <strong>textos</strong> sagra<strong>do</strong>s são os seus ensinamentos,<br />
exemplifica<strong>do</strong>s e estrutura<strong>do</strong>s em mantras, hinos, encantos, magias e as fórmulas rituais, entre<br />
outros. Em suma, é assim que as inúmeras tradições religiosas se expressam e se colocam diante<br />
<strong>de</strong> suas comunida<strong>de</strong>s, orientan<strong>do</strong>-as e proporcionan<strong>do</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> que estabelece coesão e<br />
sentimento <strong>de</strong> pertença ao grupo.<br />
ENCAMINHAMENTO METODOLÓGICO<br />
Conforme orientações das Diretrizes Curriculares <strong>do</strong> Ensino Religioso,é importante também o<br />
<strong>professor</strong> ter sempre em vista a correlação entre os conteú<strong>do</strong>s estruturantes, que são: os Símbolos,<br />
a Paisagem Religiosa e o Texto Sagra<strong>do</strong>. Isto é, apresentar os conteú<strong>do</strong>s <strong>de</strong>ste tópico mostran<strong>do</strong>,<br />
como em qualquer outro, que este também faz parte <strong>do</strong> Conteú<strong>do</strong> Símbolos e <strong>do</strong> Conteú<strong>do</strong><br />
Paisagem Religiosa; já que, neste caso os Textos Sagra<strong>do</strong>s, em boa medida, explicam os Símbolos<br />
e se referem à Paisagem Religiosa.<br />
Inicialmente, <strong>para</strong> este tópico, po<strong>de</strong>-se propor como encaminhamento meto<strong>do</strong>lógico uma pesquisa<br />
bibliográfica sobre os <strong>textos</strong> sagra<strong>do</strong>s <strong>de</strong> diferentes tradições religiosas, procuran<strong>do</strong> contemplar o<br />
maior número possível <strong>de</strong> <strong>textos</strong> sagra<strong>do</strong>s, relacionan<strong>do</strong> os nomes das tradições religiosas aos<br />
seus respectivos <strong>textos</strong> sagra<strong>do</strong>s.<br />
Posteriormente, po<strong>de</strong>rão ser elabora<strong>do</strong>s cartazes, murais, colagens ou outras formas <strong>para</strong> expor na<br />
sala <strong>de</strong> aula e na escola o resulta<strong>do</strong> da pesquisa. A pesquisa po<strong>de</strong>rá ser elaborada toman<strong>do</strong> como<br />
base os exemplos <strong>de</strong> <strong>textos</strong> sagra<strong>do</strong>s menciona<strong>do</strong>s na fundamentação <strong>de</strong>ste conteú<strong>do</strong>. Ainda,<br />
po<strong>de</strong>r-se-ia relacionar, nesta mesma idéia, algumas frases ou idéias importantes <strong>do</strong>s <strong>textos</strong><br />
sagra<strong>do</strong>s que são significativas em sua tradição religiosa e disponibilizá-las <strong>para</strong> toda escola. O<br />
<strong>professor</strong> po<strong>de</strong> propor também a leitura das frases <strong>do</strong>s <strong>textos</strong> sagra<strong>do</strong>s, pois a oralida<strong>de</strong> é a base<br />
<strong>de</strong> sua origem, enfatizan<strong>do</strong>-se, com isso, o quanto é importante nas tradições religiosas a<br />
expressão oral da mensagem sagrada.<br />
A seguir, apresentam-se frases ou idéias <strong>de</strong> tradições religiosas que orientam os seus segui<strong>do</strong>res<br />
quanto à forma <strong>de</strong> se viver, que, fundamentalmente, são frutos <strong>do</strong> mesmo sentimento, o humano, e,<br />
por isso, estas orientações são muito próximas umas das outras.<br />
Observa-se que o conteú<strong>do</strong> <strong>de</strong>stas idéias é da esfera da alterida<strong>de</strong>, da importância <strong>do</strong> respeito ao<br />
próximo, que <strong>de</strong>ve ser a base das inter-relações sociais. Por meio disto se po<strong>de</strong> dimensionar aos<br />
alunos a necessida<strong>de</strong> <strong>do</strong> respeito à diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> culto (cultural), à diversida<strong>de</strong> religiosa.<br />
Hinduísmo: “Não faça aos outros aquilo que, se a você fosse feito, causar-lhe-ia <strong>do</strong>r”.<br />
Budismo: “De cinco maneiras um verda<strong>de</strong>iro lí<strong>de</strong>r <strong>de</strong>ve tratar os seus amigos e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes: com<br />
generosida<strong>de</strong>, cortesia, benevolência, dan<strong>do</strong> o que <strong>de</strong>les espera receber e sen<strong>do</strong> fiel à sua própria<br />
palavra”.<br />
Judaísmo: “Não faça ao seu semelhante aquilo que <strong>para</strong> você é <strong>do</strong>loroso.”<br />
Taoísmo: “Consi<strong>de</strong>ra o lucro <strong>do</strong> seu vizinho como seu próprio e o prejuízo <strong>de</strong>le como se também<br />
fosse seu”.<br />
Na prática pedagógica, ainda, po<strong>de</strong>-se organizar um cartaz, no qual os educan<strong>do</strong>s po<strong>de</strong>rão<br />
<strong>de</strong>senhar uma estante com vários livros, sen<strong>do</strong> que cada um <strong>de</strong>les constará o nome <strong>do</strong>s livros<br />
sagra<strong>do</strong>s pesquisa<strong>do</strong>s pela turma.<br />
Na conclusão <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong>, em sala <strong>de</strong> aula, o <strong>professor</strong> po<strong>de</strong>rá pedir que os educan<strong>do</strong>s escrevam<br />
no quadro negro frases ou palavras relacionadas ao estu<strong>do</strong> sobre os <strong>textos</strong> sagra<strong>do</strong>s. Logo após,<br />
quan<strong>do</strong> o quadro estiver repleto <strong>de</strong> frases e palavras, solicitar que produzam, em seus ca<strong>de</strong>rnos,<br />
<strong>textos</strong> a partir <strong>do</strong> que estiver exposto.
Posteriormente, alguns alunos po<strong>de</strong>rão compartilhar com toda turma algumas <strong>de</strong>stas produções,<br />
expandin<strong>do</strong>, <strong>de</strong>sta feita, uma das bases <strong>do</strong>s propósitos postula<strong>do</strong>s pelas Diretrizes Curriculares<br />
<strong>para</strong> o Ensino Religioso: o respeito à diversida<strong>de</strong> das expressões da sensibilida<strong>de</strong> humana sobre o<br />
sagra<strong>do</strong>.