Guardados da Memória - Academia Brasileira de Letras
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José Mario Pereira<br />
O GLOBO – Pedro Nava não gostava <strong>de</strong> dizer “80 anos”. Preferia “oitentão”, que achava<br />
mais alegre. E o senhor, como está se sentindo?<br />
MIGUEL REALE – Graças a Deus sinto-me na plena posse <strong>de</strong> minha capaci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> trabalho, o que penso ter <strong>de</strong>monstrado com os livros que venho publicando.<br />
É claro que, como professor, não posso ter o mesmo ritmo do jornalista<br />
que fui, no fim <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 30.<br />
Ao completar 70 anos, o senhor <strong>de</strong>clarou que o gran<strong>de</strong> esforço do pensamento nestas últimas<br />
déca<strong>da</strong>s era uma volta à pesquisa sobre o indivíduo, numa tentativa <strong>de</strong> “reconquista <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>”.<br />
O século XX, que eu vivi intensamente, foi marcado por várias tentativas <strong>de</strong><br />
subordinação do indivíduo aos valores coletivos, a ponto <strong>de</strong> se chegar ao totalitarismo,<br />
que representa sempre a supressão total <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Os últimos 30<br />
anos, ao contrário, têm assinalado a progressiva reconquista do “espírito subjetivo”.<br />
Essa reafirmação <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> foi a raiz <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as transformações políticas,<br />
sociais e estéticas <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>a<strong>da</strong>s no Mundo contemporâneo, <strong>de</strong> tal modo<br />
que os acontecimentos do Leste europeu não representam senão uma ramificação<br />
<strong>da</strong> reconquista dos valores do indivíduo perante o Estado.<br />
Que leituras foram <strong>de</strong>cisivas na sua formação?<br />
Minha formação inicial sofreu uma forte influência dos gran<strong>de</strong>s marxistas e<br />
hegelianos italianos, nota<strong>da</strong>mente <strong>de</strong> Antonio Labriola e <strong>de</strong> Bertrando Spaventa<br />
– e, num segundo momento, <strong>de</strong> Bene<strong>de</strong>tto Croce. E também Carlos<br />
Rosselli, cujas idéias foram revaloriza<strong>da</strong>s por Norberto Bobbio. Nasceu <strong>de</strong>sse<br />
convívio o liberalismo social, ou social-liberalismo, que é a minha posição<br />
hoje. Isso é que explica eu ter levado para o integralismo essa experiência socializante.<br />
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