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Guardados da Memória - Academia Brasileira de Letras

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Clóvis Beviláqua<br />

Quem assim <strong>de</strong>butava não podia tar<strong>da</strong>r muito em escrever essa obra formidável<br />

que um crítico julgou ser “o mais profundo estudo <strong>de</strong> psicologia criminal<br />

que já foi escrito <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Macbeth”. A aproximação do Crime e Castigo<br />

com a tragédia shakespeareana, é preciso reconhecê-lo, não é uma aventurosa<br />

associação <strong>de</strong> idéias.<br />

As duas obras geniais se valem pelo vigor e a mestria com que são executa<strong>da</strong>s;<br />

porém o que é mais, passagens se <strong>de</strong>stacam em que o escritor russo parece<br />

querer disputar em superiori<strong>da</strong><strong>de</strong> com o trágico inglês, entranhando-se por<br />

um assunto por ele explorado nas condições mais vantajosas.<br />

Não direi que o sobrepuje, seria extremado exagero; mas afirmo que não<br />

fica muito distanciado o gran<strong>de</strong> russo.<br />

Nesta ocasião me ocuparei principalmente <strong>de</strong>ste vigoroso produto do naturalismo<br />

russo e do magistral estudo <strong>de</strong> tipos criminosos intitulado Recor<strong>da</strong>ções<br />

<strong>da</strong> Casa dos Mortos, que po<strong>de</strong> figurar numa estante <strong>de</strong> antopologia criminal ao<br />

lado <strong>de</strong> Craniologie <strong>de</strong>s assassins <strong>de</strong> Ardouin e dos Carattere <strong>de</strong>i <strong>de</strong>linquenti <strong>de</strong> Marro.<br />

III<br />

O que, logo à primeira abor<strong>da</strong>gem, se nota em Le crime et le châtiment, 3 é a <strong>de</strong>ssemelhança<br />

com o naturalismo francês, muito embora a mo<strong>de</strong>rna escola russa<br />

(particularmente este e os mais romances do Dostoievski), tenham uma origem<br />

comum com essa boa escola parisiense que se pren<strong>de</strong> a Balzac, Flaubert e Beyle.<br />

Não se po<strong>de</strong> mesmo dizer que Le crime et le châtiment seja um romance naturalista<br />

no sentido em que tomamos hoje esta palavra.<br />

Pelo contrário, um doce perfume i<strong>de</strong>alista está a ressumar dos tratos em que<br />

mais cruamente é exposta a tenebrosa psicologia humana.<br />

Por sobre to<strong>da</strong> a obra plaina uma idéia superior que vemos irromper por todos<br />

os rasgões <strong>da</strong> contextura realista, que parece por <strong>de</strong>mais estreita para envolvê-la.<br />

É o amor, não o amor fisiologicamente entendido, não o amor instin-<br />

3 Tradução francesa por Victor Derely.<br />

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