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Notários, tabeliães, escreventes e escrivães - uma longa história de ...

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Coleção Ars Notariae<br />

Quinta Editorial 12/01/2008<br />

Na ida<strong>de</strong> média, já perdida a distinção entre <strong>tabeliães</strong> e tabulários, a palavra notarii (ou<br />

escribæ) servirá para <strong>de</strong>signar todo aquele que se <strong>de</strong>dicava a redigir documentos jurídicos ou<br />

administrativos. “Esta confusão se fazia em prejuízo da dignida<strong>de</strong> dos notários, que não eram<br />

escravos, mas livres” registra D´Ors.<br />

Finalizo esse parêntese com <strong>uma</strong> nota pitoresca. No século XIII, nos países <strong>de</strong> influência do<br />

direito romano, os termos notário e tabelião eram consi<strong>de</strong>rados sinônimos, <strong>de</strong> acordo com Paul<br />

Fournier, citado por Gama Barros (História da Administração Pública em Portugal nos séculos<br />

XII a XV. Lisboa: Livraria Sá da Costa, 2ª ed., 1950, p. 363, nota 2). A divulgação do Direito <strong>de</strong><br />

Justiniano na península favoreceu a circulação e difusão <strong>de</strong> ambos os termos, mas em<br />

Portugal, especificamente, o <strong>de</strong> tabelião radicou-se <strong>de</strong> tal modo que acabou por singularizar a<br />

própria ativida<strong>de</strong>, quedando o <strong>de</strong> notário reservado quase exclusivamente aos notários<br />

apostólicos.<br />

E como essa <strong>de</strong>nominação era anelada pelos nossos antecessores!<br />

Vamos dar voz a um <strong>de</strong>les, no pleito dirigido nas Cortes <strong>de</strong> Lisboa <strong>de</strong> 1439:<br />

“Senhor: geralmente, em todos os reinos e senhorios os <strong>escrivães</strong> das notas chamam-se<br />

notarios, salvo nos vossos reinos que lhes chamam tabelliães, nome não conveniente ao po<strong>de</strong>r<br />

e fé que lhes por vós é dada, e segundo se mostra por <strong>uma</strong> carta d‟el-rei D. João, vosso avô,<br />

que proveu isto e mandou que para fóra dos vossos reinos que se chamassem „notayros’.<br />

Pe<strong>de</strong>m-vos, senhor, os ditos tabelliães por mercê, porque é nome fremoso e apropriado a seus<br />

officios que são <strong>de</strong> notas, e ainda por todos os ditos senhorios fazem festa com tal nome<br />

porque não convem a tal officio, porém, senhor, os ditos tabelliães <strong>de</strong> notas vos pe<strong>de</strong>m mercê<br />

que man<strong>de</strong>is que d‟aqui em <strong>de</strong>ante geralmente, em todas as escripturas que fizerem, se<br />

chamem „notayros’.”<br />

Resposta do rei:<br />

“Mandamos que se guar<strong>de</strong> a carta <strong>de</strong> meu avô; que quando fizerem escripturas para fóra se<br />

chamem „notayros’; e <strong>de</strong> outra guisa, não” (Chancelaria <strong>de</strong> D. Afonso V, livro XX, f. 151,<br />

transcrito por Gama Barros, op. cit. p. 365).<br />

Enfim, essas confusões, pontos <strong>de</strong> conexão, inversões, enfim, toda a série fluida <strong>de</strong><br />

significados que vamos encontrar ao longo do tempo, procurando fixar os contornos <strong>de</strong> <strong>uma</strong><br />

função que consistia basicamente na arte da escrita, <strong>de</strong>monstra que além <strong>de</strong> tradicional, a<br />

ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tabelião ou notário permeia todo curso da <strong>história</strong> do direito e representa <strong>uma</strong><br />

verda<strong>de</strong>ira necessida<strong>de</strong> social.<br />

O Escrevente e o Tabelião<br />

Por ocasião do transcurso dos trabalhos do XXVIII Encontro dos Oficiais <strong>de</strong> Registro <strong>de</strong><br />

Imóveis do Irib, realizado em Foz do Iguaçu em 2001, tivemos a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer <strong>uma</strong><br />

breve referência à existência <strong>de</strong> <strong>escreventes</strong> secundando e auxiliando o tabelião nas suas<br />

ativida<strong>de</strong>s próprias (o texto figura na exposição <strong>de</strong>nominada publicida<strong>de</strong> imobiliária na<br />

antiguida<strong>de</strong> oriental, Boletim do Irib, edição especial <strong>de</strong> 20/9/2001).<br />

A ligeira referência que naquela oportunida<strong>de</strong> se fez ao tema procurou pôr em relevo os traços<br />

nítidos que nos ligam a <strong>uma</strong> larga tradição do notariado português, reminiscências que assim<br />

explicitadas <strong>de</strong>notavam o veio profundo da instituição notarial e a nec essida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recolher a<br />

tradição e seguir adiante, aprofundando o sentido original do notariado do tipo latino e<br />

aperfeiçoando-o no que fosse cabível. Afinal, a instituição continua a se <strong>de</strong>senvolver em todo o<br />

mundo e nós, notários brasileiros, <strong>de</strong>veríamos estar plenamente conscientes <strong>de</strong>sse movimento.<br />

“Vamos aos clássicos!” – diria meu mestre R. Dip. Muito bem, tenho um livro fundamental para<br />

conhecer a <strong>história</strong> do tabeliado português medieval, já referido logo acima: História da<br />

http://arisp.wordpress.com/ars-notariae/ 6 Editor: Sérgio Jacomino<br />

sergiojacomino@gmail.com

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