Andreucci Pereira Gomes, Maria Cecilia Conheci-a através do ...
Andreucci Pereira Gomes, Maria Cecilia Conheci-a através do ...
Andreucci Pereira Gomes, Maria Cecilia Conheci-a através do ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
“Sonha” sempre que está rodeada por pessoas amadas, e,de repente, o<br />
sonho se interrompe.Quan<strong>do</strong> acorda, fica confusa, mas ainda feliz, não<br />
perceben<strong>do</strong> se está realmente acordada, ou se está ainda sonhan<strong>do</strong>.<br />
Quan<strong>do</strong> percebe a diferença, ela se deprime. Esse artifício S.tem usa<strong>do</strong>,<br />
após algum tempo de análise, no intervalo entre as sessões e penso ser<br />
distinto da proposta anterior onde, a cada separação da analista ou de uma<br />
pessoa próxima, entrava em pânico, dizen<strong>do</strong>-me sentir-se cain<strong>do</strong> no vazio.<br />
Penso que S., está escolhen<strong>do</strong> entre mergulhar na “lógica<br />
dadesesperança” (Green, 1979), onde o seio ou a analista seriam<br />
eternamente destruí<strong>do</strong>s, e, portanto, eternamente maus e persecutórios,<br />
expon<strong>do</strong>-a à angústia de aniquilamento, ou na “lógica daesperança”<br />
(Green), na qual ela busca o re-encontro com o objeto, mesmo que no<br />
momento ainda seja o objeto alucina<strong>do</strong>, esboço da capacidade de sonhar,<br />
ou de fantasiar.<br />
Questiono como construir a possibilidade de trabalhar analiticamente<br />
com pacientes como S., em situações em que a questão é a sobrevivência<br />
física e mental.Como construir um limite mais flexível, capaz de conter a<br />
oscilação entre o princípio <strong>do</strong> prazer/desprazer e o princípio de realidade,<br />
entre PSDPD (Bion, 1962/1991), em pacientes que utilizam defesas<br />
preponderantemente narcisistas, diante de vivencias de catástrofe mental.<br />
Como lidar com pacientes que buscam anular toda a tensão gerada pelo<br />
desejo, o desejo <strong>do</strong> não-desejo, o “narcisismo de morte” (Green, 1988),<br />
verdadeira anorexia <strong>do</strong> viver e construir, na transferência, a possibilidade<br />
dessas mentes se movimentarem em busca <strong>do</strong> prazer, mesmo que seja<br />
<strong>através</strong> <strong>do</strong> desejo alucina<strong>do</strong>. Com esses pacientes, nesse momento de sua<br />
análise, seria uma condição vital. Diz-me: Você não me ligou, e quan<strong>do</strong> saí<br />
daqui tu<strong>do</strong> sumiu da minha cabeça. Ou: Porque eu não posso ser só o meu<br />
centro se é isso que consigo aguentar ainda?<br />
Recentemente observo em S., um movimento, de apreensão da sua<br />
realidade psíquica, a descriminação entre o fantasiar e a realidade. Diz-me<br />
sorrin<strong>do</strong> ao voltar da dentista, que ela era gentil,experiente, diferente <strong>do</strong><br />
“terrível” que havia imagina<strong>do</strong>.<br />
O que tenho aprendi<strong>do</strong> com pacientes como esses, no decorrer <strong>do</strong>s<br />
anos em que investigo e trabalho em psicanálise, seriaevoluir a minha<br />
capacidade de respeitá-los, quan<strong>do</strong> esses assinalam “seu limite” naquele<br />
momento de sua análise, e também evoluir minha condição de compaixão e<br />
paciência, para aguardar o desenvolvimento <strong>do</strong> processo analítico, até onde<br />
ele consiga chegar, ou mesmo alcançar níveis mais simbólicos, quan<strong>do</strong> a<br />
dupla, analista e paciente tem sorte, e não perdem a esperança.