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16<br />
Rodrigo Ricardo<br />
A partir <strong>de</strong> 2008, os milhares <strong>de</strong> candidatos<br />
a uma vaga na <strong>UFRJ</strong> po<strong>de</strong>rão<br />
contar com mais uma disciplina durante<br />
a maratona <strong>de</strong> estudos. Traduzida do<br />
grego como “amor pela sabedoria”, a<br />
Filosofia vem interrogando a aca<strong>de</strong>mia<br />
sobre a sua participação nos exames <strong>de</strong><br />
acesso à universida<strong>de</strong>. Decisão aprovada,<br />
anteriormente, pelas próprias instâncias<br />
universitárias, esbarrou em entraves no<br />
momento <strong>de</strong> ser colocada em prática.<br />
Há dúvidas, por exemplo, se haverá<br />
uma prova específica <strong>de</strong> Filosofia ou se<br />
seus conteúdos serão alocados em outras<br />
disciplinas. A Comissão <strong>de</strong> Vestibular<br />
do Conselho <strong>de</strong> Ensino <strong>de</strong> Graduação<br />
(CEG) busca, por seu turno, a diminuição<br />
do tempo <strong>de</strong> aplicação <strong>de</strong> provas<br />
Jornal da<br />
<strong>UFRJ</strong><br />
Universida<strong>de</strong><br />
Filosofia<br />
a espera do diálogo<br />
Debate sobre a inclusão da Filosofia no Concurso <strong>de</strong> Acesso aos Cursos <strong>de</strong> Graduação da<br />
<strong>UFRJ</strong> – o Vestibular – continua, e disciplina po<strong>de</strong>rá virar prova em 2008<br />
(quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dias, principalmente), o<br />
que dificulta mudanças mais profundas<br />
no vestibular.<br />
Na sessão do Conselho Universitário<br />
(Consuni), <strong>de</strong> 22 <strong>de</strong> junho, a relatora do<br />
processo, professora Belkis Valdman,<br />
propôs a criação <strong>de</strong> uma comissão mista,<br />
composta por integrantes do CEG e<br />
do Consuni. A medida visa harmonizar<br />
as divergências, mas ainda precisa ser<br />
votada pelo colegiado.<br />
Marcelo Corrêa e Castro, presi<strong>de</strong>nte<br />
da Comissão <strong>de</strong> Vestibular do CEG avalia<br />
que “essa é uma história que não po<strong>de</strong><br />
ser feita <strong>de</strong> gestos bruscos. Qualquer mudança<br />
implica muita análise e discussão.<br />
Da primeira vez, isso não aconteceu nem<br />
no próprio Departamento <strong>de</strong> Filosofia do<br />
Instituto <strong>de</strong> Filosofia e Ciências Sociais<br />
(IFCS). Agora já houve um certo avanço,<br />
mas o assunto, novamente, não passou<br />
pelo Centro <strong>de</strong> Filosofia e<br />
Ciências Humanas (CFCH)”.<br />
O professor indaga, também:<br />
“qual o problema <strong>de</strong><br />
se reconhecer a inviabilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> uma questão na<br />
hora <strong>de</strong> sua implementação?”<br />
Marcelo Corrêa pon<strong>de</strong>ra,<br />
ainda, que “as<br />
provas <strong>de</strong> acesso<br />
à <strong>UFRJ</strong> já avaliam<br />
a capacida<strong>de</strong><br />
do candidato<br />
em refletir e<br />
argumentar – práticas<br />
da Filosofia – apesar<br />
das <strong>de</strong>ficiências do<br />
sistema educacional<br />
em formar cidadãos<br />
com raciocínio abstrato.<br />
Agora, incluir uma<br />
nova disciplina que, <strong>de</strong><br />
certa forma já é abordada,<br />
seria caminhar na<br />
contramão.”<br />
Ricardo Jardim: o ponto <strong>de</strong> partida <strong>de</strong> Filosofia “é interrogar a vida”<br />
Espírito crítico<br />
A inclusão da Filosofia nos vestibulares<br />
não é novida<strong>de</strong> no Brasil. Na<br />
Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais<br />
(UFMG), <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2000, a disciplina consta<br />
do conjunto das provas. Em 2002, a resolução<br />
2453/02 da Secretaria <strong>de</strong> Estado<br />
<strong>de</strong> Educação do Rio <strong>de</strong> Janeiro também<br />
constituiu a obrigatorieda<strong>de</strong> do ensino<br />
<strong>de</strong> Filosofia e <strong>de</strong> Sociologia para as 1ª e<br />
3ª séries do Ensino Médio. Na <strong>UFRJ</strong>, a<br />
reivindicação, aprovada pelo CEG e pelo<br />
Consuni, era para começar a vigorar já no<br />
concurso <strong>de</strong> 2005.<br />
Ricardo Jardim, chefe do Departamento<br />
<strong>de</strong> Filosofia do IFCS, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong><br />
que exista uma prova específica da<br />
disciplina, sob pena dos conteúdos<br />
filosóficos serem diluídos pelas outras<br />
matérias. O professor enten<strong>de</strong><br />
que a medida vem contribuir para o<br />
<strong>de</strong>spertar do espírito crítico e na formação<br />
ética do futuro universitário.<br />
“Apesar do aparente distanciamento,<br />
a Filosofia está mais próxima do que a<br />
própria Ciência. O seu ponto <strong>de</strong> partida<br />
é interrogar a vida. Ela oferece uma<br />
perspectiva <strong>de</strong> totalida<strong>de</strong>, contrariando<br />
a excessiva especialização, um dos<br />
riscos do mundo mo<strong>de</strong>rno”, afirma o<br />
professor<br />
<strong>Junho</strong>•<strong>2006</strong><br />
foto Juliano Pires<br />
Inércia existencial<br />
O argumento <strong>de</strong> que esse esforço, em<br />
verda<strong>de</strong>, busca garantir uma reserva <strong>de</strong> mercado<br />
<strong>de</strong> trabalho para os profissionais da<br />
área é rebatido categoricamente por Jardim.<br />
“Quem pensa em dinheiro não escolhe ser<br />
filósofo. Não é o que move a sua existência.<br />
No meu caso, a partir <strong>de</strong> um professor é que<br />
me <strong>de</strong>cidi por essa profissão. A Filosofia<br />
nunca foi e nunca será um fenômeno <strong>de</strong><br />
massa. Aparentemente, refletir e se autoconhecer<br />
são tarefas fáceis. Entretanto, as<br />
questões filosóficas são raramente colocadas.<br />
O que falta ao homem comum é esse<br />
estranhamento, que acaba apontando numa<br />
acomodação que <strong>de</strong>semboca numa inércia<br />
existencial”, <strong>de</strong>staca o professor.<br />
Para o estudante do sétimo período, Igor<br />
Tkaczenko – membro do Centro Acadêmico<br />
<strong>de</strong> Filosofia (Cafil) – a questão do mercado<br />
também tem relevância e não vê vergonha<br />
em pleitear emprego. “O ganho será <strong>de</strong> todos<br />
ao valorizarmos uma disciplina que se<br />
distancia do mo<strong>de</strong>lo tecnicista. No início,<br />
até havia uma divergência interna entre os<br />
estudantes, que pensavam que ministrar<br />
aula não era tarefa <strong>de</strong> filósofo. Mas, esse<br />
elitismo barato ficou para trás, já temos o<br />
conteúdo programático e até um mo<strong>de</strong>lo<br />
<strong>de</strong> prova. Não entendo porque tanta relutância?”,<br />
pergunta o estudante.