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Junho de 2006 - UFRJ

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Rodrigo Ricardo<br />

A partir <strong>de</strong> 2008, os milhares <strong>de</strong> candidatos<br />

a uma vaga na <strong>UFRJ</strong> po<strong>de</strong>rão<br />

contar com mais uma disciplina durante<br />

a maratona <strong>de</strong> estudos. Traduzida do<br />

grego como “amor pela sabedoria”, a<br />

Filosofia vem interrogando a aca<strong>de</strong>mia<br />

sobre a sua participação nos exames <strong>de</strong><br />

acesso à universida<strong>de</strong>. Decisão aprovada,<br />

anteriormente, pelas próprias instâncias<br />

universitárias, esbarrou em entraves no<br />

momento <strong>de</strong> ser colocada em prática.<br />

Há dúvidas, por exemplo, se haverá<br />

uma prova específica <strong>de</strong> Filosofia ou se<br />

seus conteúdos serão alocados em outras<br />

disciplinas. A Comissão <strong>de</strong> Vestibular<br />

do Conselho <strong>de</strong> Ensino <strong>de</strong> Graduação<br />

(CEG) busca, por seu turno, a diminuição<br />

do tempo <strong>de</strong> aplicação <strong>de</strong> provas<br />

Jornal da<br />

<strong>UFRJ</strong><br />

Universida<strong>de</strong><br />

Filosofia<br />

a espera do diálogo<br />

Debate sobre a inclusão da Filosofia no Concurso <strong>de</strong> Acesso aos Cursos <strong>de</strong> Graduação da<br />

<strong>UFRJ</strong> – o Vestibular – continua, e disciplina po<strong>de</strong>rá virar prova em 2008<br />

(quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dias, principalmente), o<br />

que dificulta mudanças mais profundas<br />

no vestibular.<br />

Na sessão do Conselho Universitário<br />

(Consuni), <strong>de</strong> 22 <strong>de</strong> junho, a relatora do<br />

processo, professora Belkis Valdman,<br />

propôs a criação <strong>de</strong> uma comissão mista,<br />

composta por integrantes do CEG e<br />

do Consuni. A medida visa harmonizar<br />

as divergências, mas ainda precisa ser<br />

votada pelo colegiado.<br />

Marcelo Corrêa e Castro, presi<strong>de</strong>nte<br />

da Comissão <strong>de</strong> Vestibular do CEG avalia<br />

que “essa é uma história que não po<strong>de</strong><br />

ser feita <strong>de</strong> gestos bruscos. Qualquer mudança<br />

implica muita análise e discussão.<br />

Da primeira vez, isso não aconteceu nem<br />

no próprio Departamento <strong>de</strong> Filosofia do<br />

Instituto <strong>de</strong> Filosofia e Ciências Sociais<br />

(IFCS). Agora já houve um certo avanço,<br />

mas o assunto, novamente, não passou<br />

pelo Centro <strong>de</strong> Filosofia e<br />

Ciências Humanas (CFCH)”.<br />

O professor indaga, também:<br />

“qual o problema <strong>de</strong><br />

se reconhecer a inviabilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> uma questão na<br />

hora <strong>de</strong> sua implementação?”<br />

Marcelo Corrêa pon<strong>de</strong>ra,<br />

ainda, que “as<br />

provas <strong>de</strong> acesso<br />

à <strong>UFRJ</strong> já avaliam<br />

a capacida<strong>de</strong><br />

do candidato<br />

em refletir e<br />

argumentar – práticas<br />

da Filosofia – apesar<br />

das <strong>de</strong>ficiências do<br />

sistema educacional<br />

em formar cidadãos<br />

com raciocínio abstrato.<br />

Agora, incluir uma<br />

nova disciplina que, <strong>de</strong><br />

certa forma já é abordada,<br />

seria caminhar na<br />

contramão.”<br />

Ricardo Jardim: o ponto <strong>de</strong> partida <strong>de</strong> Filosofia “é interrogar a vida”<br />

Espírito crítico<br />

A inclusão da Filosofia nos vestibulares<br />

não é novida<strong>de</strong> no Brasil. Na<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais<br />

(UFMG), <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2000, a disciplina consta<br />

do conjunto das provas. Em 2002, a resolução<br />

2453/02 da Secretaria <strong>de</strong> Estado<br />

<strong>de</strong> Educação do Rio <strong>de</strong> Janeiro também<br />

constituiu a obrigatorieda<strong>de</strong> do ensino<br />

<strong>de</strong> Filosofia e <strong>de</strong> Sociologia para as 1ª e<br />

3ª séries do Ensino Médio. Na <strong>UFRJ</strong>, a<br />

reivindicação, aprovada pelo CEG e pelo<br />

Consuni, era para começar a vigorar já no<br />

concurso <strong>de</strong> 2005.<br />

Ricardo Jardim, chefe do Departamento<br />

<strong>de</strong> Filosofia do IFCS, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong><br />

que exista uma prova específica da<br />

disciplina, sob pena dos conteúdos<br />

filosóficos serem diluídos pelas outras<br />

matérias. O professor enten<strong>de</strong><br />

que a medida vem contribuir para o<br />

<strong>de</strong>spertar do espírito crítico e na formação<br />

ética do futuro universitário.<br />

“Apesar do aparente distanciamento,<br />

a Filosofia está mais próxima do que a<br />

própria Ciência. O seu ponto <strong>de</strong> partida<br />

é interrogar a vida. Ela oferece uma<br />

perspectiva <strong>de</strong> totalida<strong>de</strong>, contrariando<br />

a excessiva especialização, um dos<br />

riscos do mundo mo<strong>de</strong>rno”, afirma o<br />

professor<br />

<strong>Junho</strong>•<strong>2006</strong><br />

foto Juliano Pires<br />

Inércia existencial<br />

O argumento <strong>de</strong> que esse esforço, em<br />

verda<strong>de</strong>, busca garantir uma reserva <strong>de</strong> mercado<br />

<strong>de</strong> trabalho para os profissionais da<br />

área é rebatido categoricamente por Jardim.<br />

“Quem pensa em dinheiro não escolhe ser<br />

filósofo. Não é o que move a sua existência.<br />

No meu caso, a partir <strong>de</strong> um professor é que<br />

me <strong>de</strong>cidi por essa profissão. A Filosofia<br />

nunca foi e nunca será um fenômeno <strong>de</strong><br />

massa. Aparentemente, refletir e se autoconhecer<br />

são tarefas fáceis. Entretanto, as<br />

questões filosóficas são raramente colocadas.<br />

O que falta ao homem comum é esse<br />

estranhamento, que acaba apontando numa<br />

acomodação que <strong>de</strong>semboca numa inércia<br />

existencial”, <strong>de</strong>staca o professor.<br />

Para o estudante do sétimo período, Igor<br />

Tkaczenko – membro do Centro Acadêmico<br />

<strong>de</strong> Filosofia (Cafil) – a questão do mercado<br />

também tem relevância e não vê vergonha<br />

em pleitear emprego. “O ganho será <strong>de</strong> todos<br />

ao valorizarmos uma disciplina que se<br />

distancia do mo<strong>de</strong>lo tecnicista. No início,<br />

até havia uma divergência interna entre os<br />

estudantes, que pensavam que ministrar<br />

aula não era tarefa <strong>de</strong> filósofo. Mas, esse<br />

elitismo barato ficou para trás, já temos o<br />

conteúdo programático e até um mo<strong>de</strong>lo<br />

<strong>de</strong> prova. Não entendo porque tanta relutância?”,<br />

pergunta o estudante.

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