18.04.2013 Views

Junho de 2006 - UFRJ

Junho de 2006 - UFRJ

Junho de 2006 - UFRJ

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

8<br />

Os motivos são<br />

a proximida<strong>de</strong>, o<br />

preço menor e até<br />

mesmo a relação<br />

afetiva. Afinal, não<br />

há dúvidas entre os<br />

especialistas sobre o<br />

fato <strong>de</strong> que comprar<br />

é também<br />

um gesto emocional.<br />

Mas, no mundo<br />

dos negócios, nenhuma<br />

tendência<br />

é <strong>de</strong>finitiva.<br />

A força do pequeno<br />

varejo<br />

tem sido evi<strong>de</strong>nciada<br />

por meio<br />

<strong>de</strong> pesquisas,<br />

como<br />

explica Victor Almeida, professor e<br />

coor<strong>de</strong>nador do Programa <strong>de</strong> Aperfeiçoamento<br />

em Gestão do Varejo, do<br />

Instituto Coppead <strong>de</strong> Pós-Graduação em<br />

Administração, da <strong>UFRJ</strong>: <strong>de</strong> acordo com<br />

um trabalho realizado pela AC Nielsen<br />

(empresa <strong>de</strong> pesquisas <strong>de</strong> mercado), o<br />

formato <strong>de</strong> pequeno varejo no auto-serviço<br />

apresentou altas taxas no volume <strong>de</strong><br />

vendas. Em 2004, aumentou 8% em relação<br />

a 2003, quando já havia apresentado<br />

um crescimento <strong>de</strong> 8,5% em comparação<br />

com 2002.<br />

Segundo ele, em outro levantamento<br />

realizado pela mesma empresa, em 2005,<br />

49% dos entrevistados <strong>de</strong>clararam gastar<br />

pelo menos 50% do seu orçamento<br />

<strong>de</strong>stinado à alimentação com reposições<br />

mensais. O público respon<strong>de</strong>u que o<br />

principal motivo para freqüentar o mesmo<br />

supermercado é a proximida<strong>de</strong> (60%)<br />

e que o segundo é o preço atrativo (55%).<br />

Ainda <strong>de</strong> acordo com a mesma pesquisa,<br />

69% das 162 categorias <strong>de</strong> produtos analisadas<br />

no estudo, apresentaram preços<br />

menores no pequeno varejo.<br />

Economia <strong>de</strong> bazar e Saara<br />

Práticas como o pregão e a pechincha<br />

apenas acontecem nesse tipo <strong>de</strong> comércio.<br />

Nos shoppings ou nos supermercados,<br />

as coisas são mais impessoais,<br />

Jornal da<br />

<strong>UFRJ</strong><br />

Economia<br />

Economia <strong>de</strong> bazar faz sucesso<br />

Rodrigo Ricardo<br />

ilustração Anna Carolina Bayer<br />

frias, higiênicas e assépticas, analisa<br />

Paulo Thiago <strong>de</strong> Mello, antropólogo do<br />

grupo <strong>de</strong> pesquisadores do Laboratório<br />

<strong>de</strong> Etnografia Metropolitana (Lemetro),<br />

do Instituto <strong>de</strong> Filosofia e Ciências Sociais<br />

(IFCS), da <strong>UFRJ</strong>. Entre os objetos<br />

<strong>de</strong> estudo <strong>de</strong> Paulo Thiago, está a Saara<br />

(Socieda<strong>de</strong> dos Amigos e das Adjacências<br />

da Rua da Alfân<strong>de</strong>ga), no Centro do Rio,<br />

que é um sítio comercial, marcado pela<br />

presença <strong>de</strong> grupos étnicos como sírios,<br />

libaneses e ju<strong>de</strong>us sefarditas (expulsos da<br />

Península Ibérica, principalmente Espanha,<br />

e que <strong>de</strong>pois migram para o Oriente),<br />

que atuavam no atacado para suprir os<br />

chamados mascates. Em 1962, quando<br />

esses comerciantes se associam e fundam<br />

a Saara para barrar uma reforma urbana<br />

que <strong>de</strong>moliria suas lojas, tem início uma<br />

mudança <strong>de</strong> comportamento. Entre elas,<br />

o contato direto com o freguês para a<br />

venda a varejo, praticada no Oriente e<br />

por muitos outros povos, <strong>de</strong>nominada <strong>de</strong><br />

economia <strong>de</strong> bazar.<br />

O antropólogo afirma ainda que na<br />

hora da compra se estabelece um laço<br />

íntimo que vai além do aspecto econômico,<br />

passando pela troca <strong>de</strong> confiança<br />

que apóiam relações econômicas como<br />

as <strong>de</strong> crédito. No início dos anos 1990,<br />

com o advento dos shopping centers, há<br />

um baque nos negócios da Saara que, in-<br />

Aquela lojinha <strong>de</strong> esquina ou armazém do bairro,<br />

salvação nas horas difíceis quando falta algo em<br />

casa, vem conquistando fatias <strong>de</strong> mercado, antes<br />

ocupadas pelas gran<strong>de</strong>s corporações<br />

clusive, sofre um processo <strong>de</strong> atualização<br />

ao aceitar compras via cheque ou cartão.<br />

Esses comerciantes superam o período e,<br />

mesmo hoje, continuam a fazer da venda<br />

uma relação, ao mesmo tempo, comercial<br />

e social, <strong>de</strong>staca Paulo Thiago, para quem<br />

o dado novo vem da classe média que<br />

<strong>de</strong>scobriu e a<strong>de</strong>riu fortemente ao comércio<br />

popular. Certas resistências ruíram,<br />

mas o símbolo <strong>de</strong> status e <strong>de</strong> formação <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> no ato da compra permanece.<br />

Para muitos, você é o que consome.<br />

Consumidor surfista e o real mercado<br />

brasileiro<br />

Para Letícia Cassoti, professora <strong>de</strong><br />

Comportamento do Consumidor do<br />

Instituto Coppead, não existem dúvidas<br />

<strong>de</strong> que a compra é sempre carregada <strong>de</strong><br />

emoção e <strong>de</strong> que o mercado brasileiro<br />

real encontra-se nas classes C, D e E. “Esses<br />

sentimentos fogem ao plano racional<br />

estrito e são difíceis <strong>de</strong> serem entendidos<br />

apenas por perguntas diretas. O alimento,<br />

por exemplo, apresenta significado<br />

apreendido na família”, aponta a professora.<br />

As empresas, no Brasil, segundo<br />

ela, estão, em geral, afastadas do consumidor<br />

<strong>de</strong> baixa renda: “elas chegavam a<br />

eles por acaso e não por uma intenção.<br />

Embora possa parecer que esse consumidor,<br />

individualmente, tenha pouco po<strong>de</strong>r<br />

aquisitivo, ele <strong>de</strong>tém uma enorme capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> agregar renda, através <strong>de</strong> seus<br />

familiares. Além do mais, as classes mais<br />

baixas preocupam-se em honrar seus<br />

compromissos, como mostra a dissertação<br />

<strong>de</strong> mestrado <strong>de</strong> Cecília Mattoso (Me<br />

empresta seu nome? Um estudo sobre os<br />

consumidores pobres e seus problemas<br />

financeiros) realizada entre os moradores<br />

da Favela da Rocinha e transformada em<br />

livro (Mauad, 2005).”<br />

Outra análise parte <strong>de</strong> que, hoje, o<br />

consumidor é “multicanal” ou “surfis-<br />

<strong>Junho</strong>•<strong>2006</strong><br />

ta”, po<strong>de</strong>ndo usar a loja da vizinhança<br />

por uma conveniência <strong>de</strong> tempo ou até<br />

por um relacionamento. Mas, ainda<br />

assim, freqüenta outros meios como o<br />

comércio on-line pela Internet. “Não é<br />

possível olhar o consumidor em apenas<br />

uma <strong>de</strong>terminada situação. As pessoas<br />

querem promoções, entrega em domicílio.<br />

Esse fenômeno acontece em todas as<br />

classes sociais. A população pobre, que<br />

está excluída digitalmente, também vai<br />

comprar na localida<strong>de</strong>, no supermercado,<br />

pelo catálogo ou telefone”, <strong>de</strong>staca<br />

Letícia Cassoti.<br />

Exemplo internacional e mercado para<br />

todos<br />

Citada por especialistas <strong>de</strong> marketing,<br />

as Casas Bahia são vistas como – e <strong>de</strong> fato<br />

tornaram-se – a maior re<strong>de</strong> varejista <strong>de</strong><br />

eletrodomésticos, eletro-eletrônicos e<br />

móveis do país, com mais <strong>de</strong> 500 lojas<br />

e um faturamento <strong>de</strong> R$ 11,5 bilhões<br />

no último ano. “Eles revolucionaram o<br />

varejo com as prestações em doze vezes<br />

e <strong>de</strong>senvolveram uma nova percepção do<br />

crédito, eliminando certas burocracias<br />

e levando em consi<strong>de</strong>ração a capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> pagamento das pessoas”,<br />

comenta Letícia, apontando que não<br />

existem regras ou fórmulas <strong>de</strong> sucesso<br />

para a administração das empresas:<br />

“<strong>de</strong> fato, o po<strong>de</strong>r do varejo cresceu pela<br />

proximida<strong>de</strong> com o consumidor e pela<br />

expansão do setor <strong>de</strong> serviços. Embora<br />

não veja o gran<strong>de</strong> varejo per<strong>de</strong>ndo ou o<br />

pequeno ganhando. É um momento <strong>de</strong><br />

negócio. Discordo do conceito ‘small<br />

is beautifully’, já que, atualmente, tudo<br />

po<strong>de</strong> ser bonito e há espaço para todos os<br />

tamanhos. Na verda<strong>de</strong>, existe uma avi<strong>de</strong>z<br />

por novida<strong>de</strong>s e inovações. Agora, nesse<br />

público, encontra-se quem tem fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong><br />

e quem não tem nenhuma.”<br />

Outros números<br />

De acordo com a edição <strong>de</strong> 2005 do<br />

ranking da Abras (Associação Brasileira<br />

<strong>de</strong> Supermercados), as lojas <strong>de</strong> até 250<br />

metros quadrados foram as que mais<br />

expandiram em participação sobre o<br />

número total <strong>de</strong> lojas <strong>de</strong> auto-serviço. Em<br />

faturamento, as <strong>de</strong> até quatro check-outs<br />

(com saída <strong>de</strong> produtos da prateleira)<br />

evoluíram <strong>de</strong> 34,1% <strong>de</strong> participação<br />

sobre o faturamento total, em 2002, para<br />

37,1%, em 2004.<br />

Victor Almeida lembra que a sétima<br />

edição da pesquisa Lí<strong>de</strong>res <strong>de</strong> Vendas,<br />

realizada pela AC Nielsen, publicada em<br />

março <strong>de</strong> <strong>2006</strong>, mostrou que as lojas com<br />

20 ou mais check-outs, voltaram a ter<br />

mais importância nas vendas em volume<br />

dos produtos. Algumas das gran<strong>de</strong>s re<strong>de</strong>s<br />

tem optado por operar em multiformato,<br />

ou seja, realizam trabalhos e operações<br />

com lojas menores, avalia o professor.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!