À «Illustração Brasileira» continúa, hoje, a publicação das «Regras Práticas para bem hecrever», o paciente e erudito trabalho inédito do professor Laudelino Freire, do qual bem se pode dizer que é um pequeno mas perfeito breviário de quantos tenham em conta o culto do vernáculo. X L V Quando numa proposição <strong>com</strong> um só sujeito, houver mais que um verbo, e a forma verbal regente estiver distante da forma regida, a ponto que a distancia entre elas traga obscuridade ou ambigüidade; ou a forma verbal regida vier antes da forma regente — será preferívei o emprego do infinito pessoal. Ex: "Possas tu, descendente maldito de uma tríbu de nobres guerreiros, implorando cruéis forasteiros, seres presa de vis Aimorés" (G. Dias) — "Não te espantes de Baco nos teus reinos receberes . (Camões). Nota — Tão frequentes são as exceções que sofrem estas regras referentes ao emprêgo do infinito pessoal ou impessoal, que não seria absurdo resumi-las num só preceito, consoante apenas à harmonia e à clareza: — "Empregar-se-á indiferentemente o infinito pessoal ou impessoal" —, visto que "de uma e outra forma, realmente se valem, a seu alvedrio, os melhores escritores". X L V I Quando um dos verbos depender de outro, que ího seja auxiliar de modo, será mantido na forma impessoal. Ex: "Pudesses ouvir — Sabes dar — Queres crer". XLVII Nas orações em que o objeto direto, precedido imediatamente do verbo regente, vem imediatamente seguido do verbo regido <strong>com</strong> a prep. a — é facultativo empregar o verbo regido na forma pessoal ou impessoal do infinitivo. A clareza e eufonia, contudo, reclamam as mais das véses a forma do infinito pessoal, <strong>com</strong>o mostram estes exemplos: M Exortando-os a usarem". (F. de Castro) — Levouos a apinharem-se". (Herculano) — "Convidou-os a irem". (Camilo) — "Forçou-os a deixarem os armamentos". — "Obrigou-os a respeitarem a mãe". XLVIII Nas fráses que são ao mesmo tempo negativas o interrogativas, e nas interrogativas que <strong>com</strong>eçam por que, qual, onde, em que, o sujeito sucede ao verbo. Ex: "A Inglaterra não discutiu sempre livremente a guerra <strong>com</strong> os Estados Unidos ?" — Não é boa esta construção. Deve dizer-se: "Não discutiu a Inglaterra, sempre livremente, a guerra...?" "Que livros posso eu escolher ? — Em que consiste a virtude ? — Que razões há para que esteja um indivíduo preso ?" — X L I X Usar sempre do adjetivo todo seguido do art. o, menos quando todo é distributivo, ou tenha a significação de qualquer, cada, isto é, empregar todo o quando se quer exprimir a inteireza do uma coisa, e empregar todo (sem o o) quando se quer significar o total de muitas. A distinção entre os dois casos é inconfundível. Quan do se diz "toda a casa foi dostruida polo incêndio", deve entender-se que a casa inteira foi queimada: quando, porém, se diz toda casa deve pagar impostos, quer dizer que todas as casas são obrigadas ao pagamento do imposto. No exemplo de <strong>Dami</strong>ão de Góes: Laranjeira que todo ano tern fruto", devo entenderse que aquela árvore dá fruto todos os anos; ao passo que se a frase estivesse escrita: "Laranjeira que todo o ano tom fruto", significaria que ela frutifica durante o ano inteiro. L Só escrever porque (numa só palavra) quando porque represente uma simples conjunção causal, <strong>com</strong> a significação de por causa de, pela razão que, pelo motivo do que, visto que. Ex.: 'Não fui porquo não pude", ou "Mas, porquo me não oojetou <strong>com</strong> a indelicadeza do ouvido clássico,desçamos aos modernos". (Rui: Réplica, 118). Nos demais casos, quando em lugar da conjunção porquo, se tom a loc. por que, formada da prep. por e do pronome re ! ativo ou interrogativo que, deve escreverse separadamente. Na loc. por que, este que referese sempre a um substantivo, quer subentendido quer exprosso, o qual, nesto caso, podo vir antes dele. ou depois, passando aquela locução a significar — por qual, pelo qual, pelos quais, isto é, o motivo pelo qual, por quai motivo, etc. Nas fráses interrogativas escreve-se sempre a locução por que, e não a conjunção porque. Lx.: "Por que (motivo) não conseguiremos enxergar?" (Rui: Oração aos Moços). — "E por que não as expurgar?" (Id. Répl., 58). — E por que? Porque o primeiro a se do<strong>com</strong>põe na preposição mais o artigo .. . M (Ibid., 233). Tenha o leitor atenção paro estoutro passo de Rui: "Semelhantemente ninguém diria: Pelo que tardas? Pelo que roubas? Pelo que matas? A construção portuguesa é: Por que matas? Por que roubas? Por que tardas?" (Répl., 199). LI A intercalação do i no organismo dos vocábulos devo sor feiia segundo o que em seguida se indica: Tenha-se em primeiro lugar conceito exato do que seja este metaplasmo: "Em português só há um ditongo que se pode dizer móvel: é o que se forma peia inserção de um i oufônico nas terminações em que se dá o encontro do e <strong>com</strong> o ou a, <strong>com</strong>o em passeio, receio, leio, croio, feio, meio, cadeia, etc. Êsse i suprime-se, desde que se desloca o acento, nos derivados e nas variações verbais. Assim: passeata, passeava, passeando, receoso, receamos, recearam, etc." (Franco de Sá: A Ling. Portuguesa, 37). Na conjugação dos verbos terminados em oar — atoar, passear, manusear, pleitear, estrear, etc. — a intercalação do i só tem cabimento quando, na flexão do verbo, o acento lônico cai na raiz; ex.: ateio, ateias passeio, manuseiam, etc. Em outras palavras: a epéntese do i só se taz nos tres pessoas do singular o terceira do plurai do presente do indicativo, nas mesmas pessoas do subjuntivo, o na segunda do singular do imperativo, <strong>com</strong>o se passa a ver: Formas do indicativo: ate-i-o, ate-i-as, a-te-i-a ... ate-i-am Formas do subjuntivo: ate-i-e, ate-i-es, ate-i-e ... ate-i-em Forma do imperativo: ate-i-a (tú). Em que pese à simplicidade desta regra, depara-sonos a cada momento a sua inobservância, que é de espantar os mais tolerantes <strong>com</strong> as negligências no escrever, irobservãncia praticada até por escritores exomplaríssimos, inadvertidos de que o caso está submetido à norma determinada. Embora encontradiças em Rui, Herculano, Castilho, e outros de igual tomo, não são admissíveis ostas grafias: enleiou, ateiado, peior peiorar, esteiando, branqueiada, grangeiaram, odeiavam, rodeiara, hasteiou, desenfreiada, pranteiará, baqueiar, saqueiado, aformoseiavam, recheiado, encandeiaram, aceiada, clareiou, semeiar, etc., porque nao <strong>com</strong>poriam o i. A intercalação do i, portanto, só ocorre nas formas rizotônicas, isto é, aquelas cuja acentuação tônica cai sobre a raiz ou radica!. (Rhizo, raiz; tono, acento). L I I Em todas as formas rizotônicas, em que se dá o encontro do e <strong>com</strong> a ou o, isto é, nas formas cuja acentuação tônica cai na raiz ou radical, há forçosamente a intercalação do i. Em português, diz Franco de Sá, so há um ditongo que se pode dizer movei: é o que se forma pela inserção de um i eufônico nas terminações em que se dá o encontro de e <strong>com</strong> o ou a, <strong>com</strong>o em passeio, receio, leio, creio, feio, meio, cadeia, etc. Deve ter-se em atenção que quando, <strong>com</strong> a deslocação do acento, as formas passam a arrizotônicas, não ocorre a epêntese do i. Assim, escreve-se passeio, mas passeata, passear, passeando, passeamos, etc; receio, mas receando, reosar, recearam, etc; meio, mas mea- da, meação, etc; cadeia, mas cadeado; idéia mas ideal; aldeia, mas aldeamento, etc. LIN Nas frases construídas <strong>com</strong> as expressões ainda que, bem que, posto que, conquanto e outras equivalentes, o verbo da oração subordinada tan to pode estar no subjuntivo <strong>com</strong>o no indicativo. Do emprêgo do verbe no subjuntivo, <strong>com</strong>o se vê nos te passo de Vieira — "E ainda que pareça matéria de riso ... é matéria de toda a tentação" — dispen sam-se abonaçoos, por ser a forma mais usual. Com o verbo no indicativo: — "ainda que Deus era imenso e invisive!" (Vieira) — "posto que o mesmo Espirito desceu sobre todos" (Id.) — "posto que parece fundado em igualdade." (Id.) — E, bom que os acoiheu parte dos olhos" (Castilho). L I V Nas frases em que o verbo haver vem seguido de infinitivo, ó facultativo interpor entre ambos — auxiliar e infinitivo — a partícula de. Ex.: — Por que... havia preferir eu (ou havia de proferi» ) a de cunho talvez espúrio à de genuíno cunho? (Rui) — "Nem sua alteza havia de crer tal palavra, nem se havia fiar de tal seguro" (Vieira). — "Foi sabor o conhecer o fim onde havia parar 1 (Id.). — "Nessa opinião o na contrária se havia prosseguir o assunto" (Id.). — "Exéquias havia ter quinze anos". — "Haviam os grandes viver à custa dos poquenos" — "Havias ver o fogo" (Castilho)*. L V No uso da expressão haver mister, que tem força do vorbo transitivo, significando precisar, necessitar, desejar, é licito, sem mudar-lhe o sentido, fazê-la a<strong>com</strong>panhar da prep. de, ou interpor esta mesma partícula entre haver e mister. Os exempios em seguida transcritos mostram o emprego da expressão haver mister e das suas variantes haver de mister e haver mister de: "Muitos dos enfermos bem haviam mister um hospital ' — "êstes são os que hão mister o remédio" — "essa esplêndida... filha de Satã que havia mister domar". (Vieira). "Mas o seu amor da ciência e da pátria não havia mister de outros incentivos". (Rui). "Hei mister de falar a linguagem débil e defeituosa dos homens". (Castilho). "Haveis de mister favor alheio" — "Hoide mister o teu conselho". (Morais). LVI A expressão haja vista, que equivale a veja, pe- de <strong>com</strong>plemento direto. Ex>: — "Haja vista os acontecimentos — Haja vista as fábulas. — Haja vista Plutarco e Xonefonte". LVII Empregar o adv. onde, que significa no lugar em que, no qual lugar, <strong>com</strong> os verbos ditos de quietação, e o adv. aonde, que significa para o lugar que, para o qual lugar, para que parte, para que lugar, <strong>com</strong> os verbos que exprimem movimento. Não escreveria correto quem não discriminasse, diz Rui, nitidamente, no uso dêsse advérbio, o lugar donde, o lugar onde, o lugar aonde ou para onde, <strong>com</strong>o Alexandre Horculano os discriminou noste passo: "Lò no céu, aonde eia subiu, e onde nosso pai acolheu no soio a sua filha". Som embargo do que diz Rui, pode admitir-se que é hoje quási indistinto o emprêgo do onde e do aonde. LVI II E' indiferente, nas frases <strong>com</strong>parativas, usar a simples conj. que ou a loc. do que. A escolha ficará apenas na dependência do bom ou- vido, ou necessidade de tornar mais clara a expres- são. Ex. de Vieira: — "ainda há outro juizo mais estreito que o juizo do Deus". — "Davi era mais valente que Saui". — "Muito mais disso S. João só nestas duas regras do que disse em todo o livro" — "deu mais heroicamente a vida a seu pai do que dêle a rece- bera". Ex. do Rui: "ninguém duvidaria mais da minha <strong>com</strong>- petência que eu mesmo". — "sem mais bandeira que a do seu apetite". — "Fazer menos do que fiz... não mo não consentia o meu natural". — "Mais alta coisa do quo um código em elaboração legislativa é um código em uso". LIXA <strong>com</strong>binação da prep. em <strong>com</strong> os demonstra- tivos este, esta, êstes, estas não pode dar as for- mas n'este, n'esta, etc, o sim, neste, nesta, etc. O apóstrofo indica geralmente a supressão da vogal, de modo que escrevendo n'este, etc, parece que se teria escrito ne este, o quo mostra que a forma exa- ta é neste, etc, <strong>com</strong>o escrevemos no, na, nos, nas. ^Conclue no proximo numero)
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