18.04.2013 Views

As Meninas por Lygia Fagundes Telles

As Meninas por Lygia Fagundes Telles

As Meninas por Lygia Fagundes Telles

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

acabou? Aí é que está. Não acabou? Não tem mais fazenda nem<br />

governante nem nada. Acabou. Do resto do oriehnid o moço da<br />

mãezinha se incumbe. Bem feito.<br />

— Dinheiro de dar com o pau. Descobri uma coisa, é fácil ou ter<br />

muito dinheiro ou não ter nada, ahn? Não é fabuloso? Huuuupi!<br />

— Quando bota aqueles óculos fica um inseto de óculos. E nem<br />

precisa deles, enjoamento. Nnhem-nhem nhem-nhem. Você se lembra<br />

dela? Responde, Max, você se lembra? Aquela bem magrinha. <strong>As</strong> duas<br />

têm inveja de mim <strong>por</strong>que sou bonita, elegante. Capa de revista. Então.<br />

A nhem-nhem compra milhares de vestidos, a mãe manda malas de<br />

roupas. E daí. Não veste nenhum, anda só com aquelas calças e<br />

blusinhas de nnhem-nhem. Fala assim fininho, nhem-nhem-nhem. O<br />

irmão é diplomata. Manda milhares de coisas. Adianta? Pomba, se eu<br />

tivesse a metade daquele guarda-roupa. Chiquérrimo.<br />

— É a comunista?<br />

— Você está trocando tudo, comunista é a gorda bossa retirante.<br />

Essa é a magrinha, aquela meio cabeçuda. Sobre o inseto.<br />

— Você está triste, Coelha? Fica contente, amor, fica contente. Eu<br />

queria tanto que as pessoas todas fossem mais contentes, é tão bom ficar<br />

contente. A gente vê na rua todo mundo tão triste, <strong>por</strong> que as pessoas<br />

estão tristes? Ahn? Queria tanto sair <strong>por</strong> aí alegrando as pessoas, olha,<br />

não fique triste, segura minha mão e vem comigo que te mostro o jardim<br />

da alegria com Deus lá dentro, vem. . .<br />

— Acho que estou grávida, está me ouvindo? Grávida.<br />

— Ahn?<br />

Ela encostou a boca no ouvido dele:<br />

— Grávida grávida grávida.<br />

Ele arqueou as sobrancelhas inocentes. Metade do uísque que tinha<br />

no copo escorreu-lhe pelo peito. Pousou o copo no chão e inclinou-se<br />

sobre ela. Procurou-lhe as mãos debaixo do lençol, Estavam fortemente<br />

fechadas. Abriu-as devagar e beijou a palma de uma mão. Beijou a outra.<br />

— Vamos ter esse filho, Coelha. Vamos deixar ele nascer. vamos<br />

ficar bem alegres e ele nasce alegre. . .<br />

— Alegríssimo. Podiam ser gêmeos.<br />

— Isso mesmo, gêmeos! A gente cria eles naquele carrinho duplo,<br />

ahn? Os dois passeando no carrinho duplo, a gente chama Mademoiselle e<br />

ela vem correndo, tique-taque tique-taque et alors mon petit choux? Se for

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!