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Antropofagia e Alteridade - CFH

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Revista Virtual de Ciências Humanas - IMPRIMATUR - Ano 1 - Dezembro de 1999 Nº. 4<br />

uma aquarela. Nossa atmosfera será como um fenômeno atmosférico úmido e em suspensão.”<br />

(idem, p.341).<br />

E em cada um de nossos artistas, a cor torna-se a marca do contágio pela antropofagia. Mesmo<br />

que não se possa afirmar a redutibilidade do Brasil a um único sistema de cor. Afinal “o carnaval<br />

tem outra pauta cromática, bem como o barroco remete a um pathos próprio. [...] A cor caipira,<br />

mesmo não dando conta do país, ao idealizar uma mescla envolvendo interior paulista, cidades<br />

mineiras e subúrbios paulistanos e cariocas, certifica a existência de uma cor viva do Brasil. O<br />

Brasil é, pois, um leque de cores para além disso. A melancolia de Goeldi, a simplicidade de<br />

Guignard e a solidez de Segall constituem a paisagem moral do Brasil e o fundo artístico mais<br />

espesso do nosso modernismo, em que a cor encontra um repouso inquietante em sua navegação<br />

com muitas bússolas.” (idem, p.345).<br />

Através da cor, consolidávamos finalmente nossa identidade artística. Mas como, felizmente, a<br />

antropofagia implica numa resignificação constante do outro e num esfacelamento e<br />

reagrupamento contínuo do eu, nossas problematizações plásticas se redesenharam em resposta<br />

aos novos desafios. Principalmente com o neoconcretismo, onde “livre das demandas ideológicas<br />

do nacionalismo oficial e da busca de uma mítica identidade cultural, a obra neoconcreta<br />

empreendia uma profunda reforma lingüistica na arte brasileira. Envolvia-se numa especulação<br />

radical sobre as possibilidades emancipatórias da arte numa sociedade regida pelo mercado, e<br />

acabava constituindo (sem quaisquer agendas a priori) um marcante ponto de vista brasileiro no<br />

universo da arte contemporânea.” (Salzstein, 1998, p.361).<br />

<strong>Antropofagia</strong> e alteridade na arte brasileira<br />

diálogos com nosso eu<br />

Nessa nova fase de nossa problemática plástica, se a idéia era alcançar o caráter emancipatório da<br />

arte, inevitavelmente a arte não mais iria definir apenas um novo eu brasílico, mas,<br />

principalmente, passaria a afetar o eu individual, o qual se pretendia emancipar das limitações<br />

impostas pelo modo de vida do capital. Reformular o conceito de arte significaria explorar<br />

vivências que libertassem o indivíduo da rigidez estética e dos condicionamentos culturais.<br />

Por certo que a preocupação com o eu individual não é exclusiva do neoconcretismo. Já em<br />

Maria Martins, sua arte é crivada por uma sensibilidade marcadamente feminina. Cada uma de<br />

suas obras articula um discurso sobre o erótico e o feminino. Como diz Katia Canton, “o desenho<br />

de suas esculturas são metonímias do desejo” (1998, p.290). E moldada numa miríade de<br />

conteúdos, apropriando-se de símbolos já repletos de um pré-significado (como as cobras,<br />

retiradas de uma mitologia da floresta amazônica), a obra de Maria Martins termina por nos<br />

passar “sinistros e atraentes comentários sobre a condição humana.” (idem, p.294). A obra de<br />

Maria Martins procura alcançar o mais profundo de nosso íntimo, num amalgama onde captam-se<br />

e sintetizam-se aspectos da vida em sua carnalidade, dor, solidão, erotismo e evanescência.<br />

IMPRIMATUR - Ano 1 - Nº 4 - Página 6

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