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A presença das ligas camponesas na região nordeste - USP

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XIX ENGA, São Paulo, 2009 SILVA, T. M. M.<br />

problemas sociais da classe, neste caso do campesi<strong>na</strong>to, a atuação de levianos,<br />

geradores de caos, constituindo-se assim em uma ameaça a ordem estabelecida.<br />

Como reflexo dessa resistência camponesa é que <strong>na</strong>scem os movimentos<br />

sociais no campo, a SAPPP fundada por trabalhadores rurais do Engenho Galiléia, de<br />

acordo com a versão mais conhecida tinha como intenção adquirir recursos para a<br />

construção de uma escola local que receberia seus moradores; a obtenção de fundos<br />

para um auxílio funerário, bem como de insumos agrícolas para o trabalho no campo.<br />

Para Azevêdo (1982), essa versão inocente e desvinculada a interesses<br />

políticos no que concerne a relação da terra pode ser aceita ape<strong>na</strong>s em parte,<br />

considerando-se o fato de que a partir dos anos cinqüenta já se havia a intenção por<br />

parte de integrantes do PCB, em rearticular a partir de novas denomi<strong>na</strong>ções as Ligas<br />

Camponesas.<br />

Segundo José dos Prazeres 1 , <strong>na</strong>quele momento fundar qualquer associação<br />

com a denomi<strong>na</strong>ção de sindicato seria motivo para forte repressão, não podendo o<br />

movimento tomar corpo em função dessa oposição oriunda <strong>das</strong> autoridades locais, e<br />

dos proprietários de engenho. 2 Diante disto se propõe estabelecer o quadro<br />

administrativo da SAPPP junto aos moradores e de convidar o proprietário do engenho<br />

Oscar Beltrão, a assumir a presidência de honra a fim de não despertar suspeitas ou<br />

intrigas, entre os moradores e o proprietário, tendo este último aceito o convite.<br />

Logo em seguida, no entanto, o proprietário foi alertado pelo seu<br />

próprio filho e por alguns fornecedores e usineiros, como Sadir Pinto do<br />

Rego (engenho Suribim) e Constâncio Maranhão (engenho<br />

Tamatamirim) que a organização dos foreiros representava uma<br />

ameaça potencial à “paz agrária” <strong>na</strong> área, e que a iniciativa “era obra<br />

dos comunistas”. Oscar Beltrão recusa, então, o cargo honorífico e<br />

orde<strong>na</strong> a dissolução da sociedade agrícola..., ameaçando represálias<br />

policiais, o aumento do foro anual e a expulsão em massa dos foreiros<br />

do engenho. (AZEVÊDO 1982, p. 61).<br />

A partir deste momento os membros da SAPPP se viram em situação de<br />

desamparo, pois estavam prestes a serem expulsos do engenho tendo que deixar a<br />

terra, suas moradias, e todo seu trabalho de lavouras para trás sem direito a<br />

indenização, situação comum nos engenhos nordestinos, haja vista que “a<br />

Consolidação <strong>das</strong> Leis do Trabalho, de 1943, não tinham nenhuma preocupação<br />

especial com o trabalhador agrícola”. (IANNI, 1971, p. 142). Devido a essa falta de<br />

respaldo, o camponês não dispunha de indenização sendo prejudicado por essas<br />

1 Antigo membro do PCB, agora dedicado a contatar camponeses em litígio com os proprietários.<br />

2 Entrevista concedida por José dos Prazeres a Eduardo Coutinho, em uma <strong>das</strong> ce<strong>na</strong>s que compõe o filme “Cabra<br />

Marcado para morrer”.

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