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Concepção e imortalidade da alma em Platão ... - Mirabilia

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COSTA, Ricardo <strong>da</strong> (coord.). <strong>Mirabilia</strong> 11<br />

T<strong>em</strong>po e Eterni<strong>da</strong>de na I<strong>da</strong>de Média<br />

Ti<strong>em</strong>po y Eterni<strong>da</strong>d en la E<strong>da</strong>d Media – Time and Eternity in the Middle Ages<br />

Jun-Dez 2010/ISSN 1676-5818<br />

A virtude natural <strong>da</strong> asa consiste <strong>em</strong> levar o que é pesado para as alturas onde<br />

habita a geração dos deuses, sendo ela, de tudo que se relaciona com o corpo,<br />

o que <strong>em</strong> mais alto grau participa do divino. [...] Zeus, o guia supr<strong>em</strong>o, abre a<br />

marcha no céu com o seu carro alado, ordenando tudo e de tudo cui<strong>da</strong>ndo,<br />

seguido por um exército de deuses e d<strong>em</strong>ônios, repartidos <strong>em</strong> onze grupos. [...]<br />

S<strong>em</strong>pre que vão banquetear-se nos festins, galgam a escarpa <strong>da</strong> abóba<strong>da</strong><br />

celeste; nessas ocasiões as parelhas dos deuses, por ser<strong>em</strong> equilibra<strong>da</strong>s e de fácil<br />

direção, sob<strong>em</strong> depressa, enquanto as outras só o faz<strong>em</strong> com dificul<strong>da</strong>de, pois<br />

o corcel de raça ordinária, quando não foi devi<strong>da</strong>mente educado pelo auriga,<br />

<strong>em</strong> vista de seu peso puxa o carro para a terra. É a mais árdua provação com<br />

que a <strong>alma</strong> se defronta. As <strong>alma</strong>s denomina<strong>da</strong>s imortais, uma vez alcançando o<br />

vértice, passam para o outro lado e se postam, assim, no dorso <strong>da</strong> abóba<strong>da</strong><br />

celeste, e, uma vez ali chega<strong>da</strong>s, a revolução do céu as arrasta no seu curso,<br />

cont<strong>em</strong>plando elas as reali<strong>da</strong>des que se encontram para além do céu. 66<br />

Zeus conduz as <strong>alma</strong>s no caminho <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de e a per<strong>da</strong> <strong>da</strong>s asas simboliza<br />

que estas, com a força natural de elevar o pesado, são, entre todos os<br />

el<strong>em</strong>entos do corpo, o que de mais alto grau participa do divino. Nota-se<br />

ain<strong>da</strong> que os deuses não sofr<strong>em</strong> limitação, já as outras <strong>alma</strong>s depend<strong>em</strong> <strong>da</strong><br />

educação que receb<strong>em</strong> do auriga (parte racional), ou seja, a parte inteligível <strong>da</strong><br />

<strong>alma</strong> t<strong>em</strong> a função de b<strong>em</strong> educar a parte concupiscente e a irascível. Por fim,<br />

<strong>Platão</strong>, após uma breve descrição pormenoriza<strong>da</strong> <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> dos deuses, faz<br />

outras constatações acerca <strong>da</strong> preexistência <strong>da</strong>s <strong>alma</strong>s humanas:<br />

Das outras <strong>alma</strong>s, a dos homens, a que melhor se esforça por acompanhar os<br />

deuses e com eles parecer-se eleva a cabeça do cocheiro para o outro lado do<br />

céu e se deixa arrastar pelo movimento circular; porém, perturba<strong>da</strong> pelos<br />

cavalos, mal pode cont<strong>em</strong>plar as essências. A segun<strong>da</strong> melhor ora se ergue ora<br />

se abaixa, mas, s<strong>em</strong>pre atarefa<strong>da</strong> com os cavalos, percebe umas tantas essências<br />

e deixa passar outras.<br />

As d<strong>em</strong>ais <strong>alma</strong>s também desejam ardent<strong>em</strong>ente alcançar a parte superior e se<br />

afanam nesse sentido; porém, não sendo suficient<strong>em</strong>ente fortes, ca<strong>em</strong> para a<br />

parte inferior <strong>da</strong> abóba<strong>da</strong>, amontoam-se, machucam-se, procurando ca<strong>da</strong> uma<br />

passar à frente <strong>da</strong> vizinha. A confusão é enorme; há luta e o suor escorre <strong>em</strong><br />

bagas e, por falta de perícia dos cocheiros, muitas <strong>alma</strong>s ficam estropia<strong>da</strong>s e<br />

chegam a perder parte <strong>da</strong>s asas. [...] A lei <strong>da</strong> Adrasteia é a seguinte: to<strong>da</strong> <strong>alma</strong><br />

que, no séquito de algum deus, consegue cont<strong>em</strong>plar algo <strong>da</strong>s ver<strong>da</strong>deiras<br />

reali<strong>da</strong>des fica livre de padecimentos até à revolução seguinte, e se s<strong>em</strong>pre<br />

conseguir isso mesmo, nunca mais virá a sofrer coisa nenhuma. 67<br />

66 Ibid<strong>em</strong>, p. 71-72.<br />

67 Ibid<strong>em</strong>, p. 73-74.<br />

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