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Concepção e imortalidade da alma em Platão ... - Mirabilia

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COSTA, Ricardo <strong>da</strong> (coord.). <strong>Mirabilia</strong> 11<br />

T<strong>em</strong>po e Eterni<strong>da</strong>de na I<strong>da</strong>de Média<br />

Ti<strong>em</strong>po y Eterni<strong>da</strong>d en la E<strong>da</strong>d Media – Time and Eternity in the Middle Ages<br />

Jun-Dez 2010/ISSN 1676-5818<br />

discussão a respeito <strong>da</strong> <strong>imortali<strong>da</strong>de</strong> <strong>da</strong> <strong>alma</strong> surge quando Cebes apresenta<br />

concordância com os motivos apresentados por Sócrates, to<strong>da</strong>via, “que a <strong>alma</strong><br />

vive após a morte do hom<strong>em</strong>, que age e pensa, é o que necessita de explicação<br />

e provas concretas”. 87 O relato e o diálogo terminam com a morte de Sócrates<br />

na prisão, junto aos seus discípulos.<br />

É importante compreender, para uma boa interpretação do Fédon, que ele não<br />

é uma reprodução aumenta<strong>da</strong> <strong>da</strong> doutrina órfica, de forma que esta tinha suas<br />

bases na crença, é, pois, um pensamento de quali<strong>da</strong>de diferente do orfismo. A<br />

argumentação de <strong>Platão</strong> é uma teorização do probl<strong>em</strong>a, parte essencial para<br />

fun<strong>da</strong>mentação de sua teoria <strong>da</strong>s Idéias e to<strong>da</strong> a ética relaciona<strong>da</strong> ao exercício<br />

de purificação <strong>da</strong> <strong>alma</strong>.<br />

VII. O argumento natural<br />

O primeiro argumento diz respeito à geração <strong>da</strong>s coisas a partir de seus<br />

opostos. Fun<strong>da</strong><strong>da</strong> na doutrina órfica <strong>da</strong> met<strong>em</strong>psicose, essa prova pressupõe a<br />

tradição grega e faz uma generalização por meio de processo indutivo, de<br />

forma que trata de um caso particular <strong>da</strong> lei natural <strong>da</strong> dupla geração <strong>da</strong>s<br />

coisas.<br />

<strong>Platão</strong> rel<strong>em</strong>bra uma antiga crença: as <strong>alma</strong>s dos que morreram vão para o<br />

Hades e depois retornam a viver, o que implica que elas ficam no além-túmulo<br />

durante o t<strong>em</strong>po intermediário entre a morte e a vi<strong>da</strong>. Contudo, o Ateniense<br />

analisa outras formas de vi<strong>da</strong> e constata que ca<strong>da</strong> coisa nasce do seu contrário,<br />

já que, por ex<strong>em</strong>plo, o crescer pressupõe que a coisa tenha sido menor, <strong>da</strong><br />

debili<strong>da</strong>de provém a força, o pior do melhor, o justo do injusto... Para tanto, é<br />

necessário que haja uma ligação entre os dois contrários, como o crescer ou<br />

diminuir no caso do maior e do menor, que é o “princípio geral <strong>da</strong> geração,<br />

segundo o qual <strong>da</strong>s coisas contrárias nasc<strong>em</strong> aquelas que lhe são opostas”. 88<br />

Da mesma maneira acontece com várias outras coisas, de forma que a vi<strong>da</strong><br />

também t<strong>em</strong> seu contrário, que é a morte, de forma que, havendo a dupla<br />

geração, como nos outros casos, é preciso que haja também nexo entre a vi<strong>da</strong><br />

e a morte, <strong>da</strong> mesma forma que a sonolência e o despertar são intermediários<br />

entre sono e vigília. Logo, por essa relação, tudo que é morto se origina do<br />

que é vivo e vice-versa e, como não há duvi<strong>da</strong> sobre a existência do morrer, é<br />

preciso que haja o contrário do morrer, que é renascer, o retorno <strong>da</strong> morte<br />

para vi<strong>da</strong>.<br />

87 PLATÃO. Fédon. op. cit., p. 132.<br />

88 Ibid<strong>em</strong>, p. 133.<br />

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