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Concepção e imortalidade da alma em Platão ... - Mirabilia

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COSTA, Ricardo <strong>da</strong> (coord.). <strong>Mirabilia</strong> 11<br />

T<strong>em</strong>po e Eterni<strong>da</strong>de na I<strong>da</strong>de Média<br />

Ti<strong>em</strong>po y Eterni<strong>da</strong>d en la E<strong>da</strong>d Media – Time and Eternity in the Middle Ages<br />

Jun-Dez 2010/ISSN 1676-5818<br />

to<strong>da</strong> a natureza é aparenta<strong>da</strong> e a <strong>alma</strong> aprendeu tudo, na<strong>da</strong> impede que, vindo<br />

a recor<strong>da</strong>r-se de um único fato – o que os homens denominam aprender – ela<br />

chegue a encontrar por si mesma todos os outros, uma vez que seja corajosa<br />

e não desista de procurar. Pois procurar e aprender não passa de recor<strong>da</strong>r. 90<br />

Na perspectiva do conhecimento, o aprender é r<strong>em</strong>iniscência, a l<strong>em</strong>brança de<br />

um conhecimento pré-adquirido. Visto por um ângulo diferente, sob o<br />

metafísico, é este argumento que <strong>Platão</strong> utiliza-se no Fédon, apresentando<br />

algumas provas mais contundentes que levam a crer que o conhecimento<br />

como recor<strong>da</strong>ção atesta a favor <strong>da</strong> <strong>imortali<strong>da</strong>de</strong> <strong>da</strong> <strong>alma</strong>.<br />

Para recor<strong>da</strong>r-se, é necessário que se tenha conhecido antes e que, de certa<br />

forma, o conhecimento pode vir de uma recor<strong>da</strong>ção como, por ex<strong>em</strong>plo, ao<br />

ver um objeto se l<strong>em</strong>bre de qu<strong>em</strong> o possui. Contudo, continua, um objeto<br />

pode trazer à l<strong>em</strong>brança coisas diferentes dele, de forma que “a recor<strong>da</strong>ção se<br />

estabelece tanto por coisas s<strong>em</strong>elhantes quanto por coisas dissímeis”. 91<br />

Por conseguinte, Símias concor<strong>da</strong> que a igual<strong>da</strong>de <strong>em</strong> si mesma, por ex<strong>em</strong>plo,<br />

existe e é diferente do igual, mesmo que tenha partido <strong>da</strong> visualização de<br />

coisas iguais e diferentes entre si. Entretanto, mesmo essa igual<strong>da</strong>de <strong>em</strong> si,<br />

s<strong>em</strong>elhante ou diferente aos objetos de que surgiu, quando compara<strong>da</strong> com<br />

objetos ditos iguais, ain<strong>da</strong> não são iguais aquela, de forma que é preciso essa<br />

igual<strong>da</strong>de tenha sido conheci<strong>da</strong> anteriormente e ass<strong>em</strong>elha-se, mesmo que <strong>em</strong><br />

graus de perfeição diferente, a uma coisa que apareça igual a outra, ao passo<br />

que Símias responde positivamente à seguinte questão:<br />

Logo, é absolutamente necessário que tenhamos visto essas igual<strong>da</strong>des<br />

anteriormente, ou que, ao vir pela primeira vez duas coisas iguais, tenhamos<br />

pensado que tend<strong>em</strong> to<strong>da</strong>s a ser iguais como a própria igual<strong>da</strong>de e que não<br />

pod<strong>em</strong> chegar a sê-lo? 92<br />

Mesmo que se suponha que essa idéia seja consegui<strong>da</strong> apenas através dos<br />

sentidos, to<strong>da</strong>s as coisas iguais apreendi<strong>da</strong>s pelos sentidos ser-lhe-ão com<br />

referência àquela igual<strong>da</strong>de <strong>em</strong> si, de forma que é necessária uma consciência<br />

anterior dessa igual<strong>da</strong>de como meio de ex<strong>em</strong>plo para reali<strong>da</strong>de sensível.<br />

Aceito que os sentidos são usados logo após o nascimento, é necessário que a<br />

consciência dessa reali<strong>da</strong>de seja anterior ao nascimento, pois, não se possui o<br />

conhecimento <strong>da</strong>s coisas no presente, não se perde ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que<br />

se adquire e não há momento que se constate que os perca após nascer.<br />

90 PLATÃO. Critão, Menão, Hípias Maior e outros. op. cit., p. 253.<br />

91 PLATÃO. Fédon. op. cit., p. 137.<br />

92 Ibid<strong>em</strong>, p. 138.<br />

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