19.04.2013 Views

Linguagem e sentido na Educação Infantil: uma ... - TV Brasil

Linguagem e sentido na Educação Infantil: uma ... - TV Brasil

Linguagem e sentido na Educação Infantil: uma ... - TV Brasil

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

sem tamanho. Eu concluía ser as duas<br />

coisas. (2012, p. 19-20).<br />

O avô escancarava o mundo à criança. As pa-<br />

redes abriram-se em janelas para o menino<br />

se debruçar e desvendar a escrita, livremen-<br />

te, mas com um leitor experiente fazendo as<br />

mediações. Este episódio sintetiza os concei-<br />

tos de letramento e alfabetização de Soares<br />

(1998). A autora define alfabetização como a<br />

ação de ensi<strong>na</strong>r/aprender a ler e a escrever<br />

e letramento como o estado ou condição de<br />

quem não ape<strong>na</strong>s sabe ler e escrever, mas<br />

cultiva (dedica-se à atividade de leitura e<br />

escrita) e exerce (responde às demandas so-<br />

ciais de leitura e escrita) as práticas sociais<br />

que usam a escrita. Assim, teríamos alfabe-<br />

tizar e letrar como duas ações distintas, mas<br />

não inseparáveis, ao contrário: o ideal seria<br />

alfabetizar letrando, ou seja: ensi<strong>na</strong>r a ler e<br />

a escrever no contexto das práticas sociais<br />

da leitura e da escrita, de modo que o indiví-<br />

duo se tor<strong>na</strong>sse, ao mesmo tempo, alfabeti-<br />

zado e letrado (p.47).<br />

De acordo com as práticas sociais, vão se<br />

construindo historicamente os <strong>sentido</strong>s da<br />

leitura para cada sujeito e para cada grupo<br />

social. Também evidencia que a alfabetiza-<br />

ção – a ação de ensi<strong>na</strong>r e aprender a ler – é<br />

parte deste processo amplo de inserção no<br />

mundo da cultura escrita. O menino subia<br />

em bancos e mesas para ler as paredes. Ria<br />

com o avô que desdizia verdades eter<strong>na</strong>s<br />

com as mesmas palavras com que escreve-<br />

ram a Bíblia Sagrada. Nas paredes, as pala-<br />

vras dessacralizadas ganhavam força enun-<br />

ciativa. O menino aprendia com o avô forma<br />

e conteúdo, simultaneamente.<br />

Mas era a escola que legitimava o aprendi-<br />

zado da leitura e da escrita e o menino que<br />

aprendeu a ler e a escrever <strong>na</strong>s práticas so-<br />

ciais, <strong>na</strong>s interações dialógicas com o avô,<br />

não era levado a sério <strong>na</strong>s suas leituras an-<br />

tes de ir à escola:<br />

Em minha casa ninguém atribuía im-<br />

portância às minhas leituras. Eu apro-<br />

veitava pedaços de jor<strong>na</strong>is que vinham<br />

embrulhando coisas e lia em voz alta,<br />

procurando atenções e reconhecimen-<br />

tos. Meu pai me olhava e repetia sempre:<br />

“Menino, deixa de inventar histórias,<br />

você não sabe ler, nunca foi à escola” ou<br />

“ Menino, deixe este papel e vá procurar<br />

serviço melhor pra fazer” (Queirós, 2012,<br />

p. 21).<br />

Para agradar à professora, o menino fingia<br />

não saber ler. Mas a leitura inserida <strong>na</strong> vida,<br />

enraizada <strong>na</strong>s práticas sociais cotidia<strong>na</strong>s,<br />

traz surpresas. As palavras são carregadas<br />

de um conteúdo ideológico e vivencial. Mor-<br />

fi<strong>na</strong> – mor do altar mor, fi<strong>na</strong> do cigarro mis-<br />

tura fi<strong>na</strong> – soa no menino com toda dor da<br />

mãe doente.<br />

Entrei para a escola já sabendo ler, mais<br />

ou menos. A primeira palavra soletrada,<br />

13

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!