Linguagem e sentido na Educação Infantil: uma ... - TV Brasil
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diversas formas. Conforme as situações em<br />
que acontecem, as sensações/enunciações<br />
são percebidas como agradáveis ou desagra-<br />
dáveis, acolhedoras ou repulsivas, boas ou<br />
ruins, afetas ou desafetas. A percepção se dá<br />
de forma contextual e o <strong>sentido</strong> é produzido<br />
<strong>na</strong> linguagem. É <strong>na</strong> linguagem que o sujei-<br />
to se inter-relacio<strong>na</strong> e penetra <strong>na</strong> cultura,<br />
desde que <strong>na</strong>sce. Ela o constitui, mas tam-<br />
bém se renova a cada ato enunciativo, num<br />
duplo movimento de reflexão e de refração<br />
do mundo, de conservação e criação que o<br />
coloca – desde muito cedo – num lugar ati-<br />
vo de produção de algo novo e único, <strong>na</strong>/da<br />
cultura.<br />
A literatura e as artes em geral, com suas<br />
lentes e ângulos próprios, dão visibilidade<br />
ao que, muitas vezes, o nosso olhar não al-<br />
cança, não sabe definir ou dizer. Produzem,<br />
assim, conhecimentos e reflexões sobre a<br />
realidade que se dão à interlocução com<br />
outras formas de produção do conhecimen-<br />
to. Ao longo de sua obra, Queirós trabalha<br />
a linguagem de forma poética e sensorial,<br />
reiventando o menino que foi. Parafrasean-<br />
do Manoel de Barros, a infância é inventa-<br />
da, e esta memória inventada, em diferentes<br />
passagens de sua obra, dá visibilidade aos<br />
<strong>sentido</strong>s produzidos pelo menino, nos apro-<br />
ximando não ape<strong>na</strong>s daquela infância, mas<br />
da infância de cada um de nós.<br />
Assim é que Antônio, com um ano de ida-<br />
de, <strong>na</strong>s primeiras brincadeiras com palavras,<br />
sentado no colo do avô, entende não a histó-<br />
ria por si mesma, mas o afeto e o aconche-<br />
go. A palavra brinca e abraça:<br />
O avô com Antônio sobre seus joelhos,<br />
contava peque<strong>na</strong>s histórias: “Cadê o<br />
toucinho que estava aqui? O gato co-<br />
meu. Cadê o gato...”, que, se não enten-<br />
didas pelo neto, eram lidas pelos abraços<br />
e risos trocados entre o menino e o avô<br />
(Queirós, 2004, p. 20).<br />
Para Bakhtin (1992, p. 278), “tudo o que me<br />
diz respeito, a começar por meu nome, e que<br />
penetra em minha consciência, vem-me do<br />
mundo exterior, da boca dos outros (da mãe<br />
etc.), e me é dado com a ento<strong>na</strong>ção, com<br />
o tom emotivo dos valores deles”. Portanto,<br />
<strong>na</strong> palavra que o bebê recebe da boca dos<br />
outros, forma e tom são constituintes do<br />
conteúdo. Há <strong>uma</strong> interdependência entre<br />
forma e conteúdo, estética e ética. O verbal<br />
vem acompanhado de acentos apreciativos,<br />
de expressões não verbais, de presumidos,<br />
de sentimentos, de vida. O <strong>sentido</strong> dado pela<br />
criança se relacio<strong>na</strong> ao que ela destaca do<br />
todo enunciativo. Embora possa ser parti-<br />
lhado, o <strong>sentido</strong> é singular, diferentemente<br />
do significado que é dicio<strong>na</strong>rizável.<br />
Para Bakhtin (1988), a materialidade da vida<br />
é também sígnica. Tudo pode converter-se<br />
em signo, e o discurso das coisas nos marca<br />
desde a infância. As coisas falam às crianças<br />
de muitas formas. Não só pela incli<strong>na</strong>ção<br />
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