45-54 - Universidade de Coimbra
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DefensõF do P - ovo<br />
Abyssus abyssmn...<br />
Depois <strong>de</strong> um abysmo, oulro abysmo.<br />
Apóz uma arbitrarieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong><br />
arbitrarieda<strong>de</strong>s.<br />
A gran<strong>de</strong>s violências succe<strong>de</strong>m outras<br />
violências maiores.<br />
Illegalida<strong>de</strong>s monstruosas arrastam<br />
comsigo illegalida<strong>de</strong>s inauditas.<br />
Os abusos, os escandalos e os crimes<br />
reproduzem-se, e multiplicam-se em uma<br />
progressão assombrosa.<br />
E 5 inexorável, é fatal a lógica do absolutismo.<br />
E' esta a lei dominante e suprema da<br />
ambição, quando governa os povos, da tyrannia,<br />
quando impera, e subjuga as nações.<br />
•<br />
Uma vez lançado no tortuoso caminho<br />
do abuso, da violação das leis e offensa do<br />
direito constituído, da prepotencia, da oppressão<br />
e da lyrannia,—o actual governo já<br />
não pô<strong>de</strong> recuar.<br />
Embora <strong>de</strong>sorientado e louco, avança, e<br />
avança <strong>de</strong> continuo, levado por uma prodigiosa<br />
força adquirida.<br />
Não ha quem possa <strong>de</strong>tel-o; nada é<br />
capaz <strong>de</strong> suspen<strong>de</strong>r ou, ao menos, affrouxar<br />
a sua vertiginosa carreira <strong>de</strong> allucinado, <strong>de</strong><br />
doido furioso.<br />
Caminha sempre, e cada vez com maior<br />
fúria, <strong>de</strong> escandalo em escandalo, <strong>de</strong> illegalida<strong>de</strong><br />
em illegalida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> violência em violência,<br />
sem remorsos e, talvez, sem consciência<br />
do mal que faz e pratica.<br />
Impellido por braço infernal, attrahido,<br />
suggestíonado por esse espirito maligno <strong>de</strong><br />
que se mostra possesso, vae <strong>de</strong> precipício<br />
em precipício; caminha allucinado, avança<br />
doidamente <strong>de</strong> abysmo em abysmo, arrastando<br />
comsigo as instituições que preten<strong>de</strong><br />
sustentar, a corôa que julga <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r, o<br />
pobre povo que elle, na sua raivosa sanha<br />
monarchica e por amor da monarchia, persegue,<br />
espezinha, e avilta, a infeliz nação<br />
que <strong>de</strong>sorganisa, envergonha, cobre <strong>de</strong> opprobrio<br />
e <strong>de</strong>scredilo, e, por fim, ha <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r<br />
e arruinar inteiramente, — se o Povo se<br />
não erguer em <strong>de</strong>feza própria e dos seus<br />
direitos, se a Nação com toda a gran<strong>de</strong>za<br />
<strong>de</strong> sua real magesla<strong>de</strong>, com toda a altivez<br />
do seu nobre espirito, não se levantar, em<br />
massa, para se rehabililar e salvar-se, algemaudo<br />
os seus obstinados oppressores, exterminando<br />
os seus infames lyrannos.<br />
Esses oppressores e lyrannos, que, <strong>de</strong><br />
todo cegos <strong>de</strong>ante das nossas <strong>de</strong>sventuras,<br />
surdos ás nossas continuas e justificadas<br />
queixas, inflexíveis ante os nossos brados<br />
ile indignação e protesto, para cumulo <strong>de</strong><br />
malva<strong>de</strong>z e feroz atrocida<strong>de</strong>, ainda por<br />
cima zombam das misérias da Patria, nem<br />
dos seus infortúnios, escarnecem da sua<br />
resignação, da sua cobardia, da sua imbecilida<strong>de</strong>;<br />
e, ao passo que a Nação <strong>de</strong>sce humilhada,<br />
e pobre <strong>de</strong>finha, e exausta <strong>de</strong> forças<br />
agonisa, — o rei e a sua côrle, os seus ministros,<br />
os seus assalariados servidores folgam<br />
em continuas e cada vez mais brilhantes<br />
e espaventosas festas e dispendiosas<br />
diversões, á custa do povo imbecil e cobar<strong>de</strong>,<br />
da nação resignada ou morta.<br />
Porque só a suprema resignação, a<br />
mais <strong>de</strong>gradante cobardia, a mais idiota<br />
imbecilida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m explicar a immobilida<strong>de</strong><br />
quasi cadavérica, a indifferença altamente<br />
criminosa, a baixeza aviltante e a<br />
<strong>de</strong>gradação servil, em que parece haver redondamente<br />
caído e viver totalmente abysmado<br />
o Povo Portuguez!<br />
Sim esse <strong>de</strong>generado Povo Portuguez,<br />
esse pobre diabo, que para ahi está e para<br />
ahi anda aos tiambulhões, e calado soffre, e<br />
a meia voz suspira e geme, açoutado, chicoteado,<br />
ludibriado pormem dúzia <strong>de</strong> homens<br />
sem sciencia nem consciência, presidido<br />
por um outro homem, talvez mais ignorante,<br />
mais inconsciente do que qualquer d'elles.<br />
e todos sem méritos <strong>de</strong> intelligencia que<br />
alguma cousa valham, sem virtu<strong>de</strong>s d'alma<br />
apreciaveis, sem dignida<strong>de</strong> nem pudor;<br />
atrevidos, porque são ignorantes; audaciosos<br />
em praticar o mal, por que não sentem,<br />
não comprehen<strong>de</strong>m, não sabem e, por<br />
isso, são, e se mostram inteiramente incapa-<br />
zes <strong>de</strong> praticar o bem.<br />
Abyssus abyssum invocat.<br />
A obscenida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Franco<br />
A proposito da reforma da camara dos<br />
pares o nosso collega o Tempo, mostra como<br />
o ministério quiz atten<strong>de</strong>r aos <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong><br />
seus amigos e como tem feito do po<strong>de</strong>r uma<br />
arma infame com que aggri<strong>de</strong> os adversarios<br />
políticos, pondo a coberto os aífeiçoados. Ouçamos<br />
o Tempo:<br />
«Não po<strong>de</strong>m ser nomeados pares os cidadãos<br />
inelegíveis para <strong>de</strong>putados, e os chefes <strong>de</strong> missões<br />
diplomáticas não po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>putados, mas o sr.<br />
Soveral, bem como outro chefe <strong>de</strong> missão diplomática,<br />
querem ser pares e hão <strong>de</strong> ser pares.<br />
«Que fez então o governo?<br />
«Declarou que os chefes <strong>de</strong> missões diplomáticas<br />
apezar <strong>de</strong> inelegíveis para <strong>de</strong>putados, podiam<br />
ser nomeados pares I<br />
«Mais:<br />
«Os commissarios régios e os governadores das<br />
provincias ultramarinas não po<strong>de</strong>m ser eleitos<br />
<strong>de</strong>putados.<br />
«Mas o governo tem <strong>de</strong> nomear, e ha <strong>de</strong> nomear<br />
pares do reino,, os srs. Antonio Ennes e o<br />
governador <strong>de</strong> uma província ultramarina muito<br />
visinha da metropole!<br />
«Então que fez o governo?<br />
«Declarou que os commissarios régios e os governadores<br />
das provincias ultramarinas, apezar<br />
<strong>de</strong> inelegíveis para <strong>de</strong>putados, seriam nomeados<br />
pares do reino.<br />
«Oh que gran<strong>de</strong> pan<strong>de</strong>gai<br />
«Oh que gran<strong>de</strong> pago<strong>de</strong>ira!»<br />
Querem-nos mais <strong>de</strong>saforados, mais corruptos<br />
?<br />
E' o baixo império!<br />
••-«<br />
As barcaças<br />
Aos chavecos que constituem a nossa<br />
marinha <strong>de</strong> guerra <strong>de</strong>u-lhe o peco; é ver como<br />
se lhe está dando a reforma por inteiro, por<br />
incapazes <strong>de</strong> serviço.<br />
Vae ser <strong>de</strong>sarmada a corveta Bartholomeu<br />
Dias.<br />
Outros calhambeques em breve passarão<br />
á inactivida<strong>de</strong>.<br />
No que <strong>de</strong>u a antiga e briosa marinha<br />
portugueza!<br />
E estes mariolas não hão <strong>de</strong> ter um castigo<br />
?<br />
Deus é gran<strong>de</strong>!...<br />
Um administrador processado<br />
Na Figueira da Foz movem-se dois processos<br />
contra o actual administrador do concelho,<br />
sr. Augusto Forjaz.<br />
A parte accusatoria <strong>de</strong>sses processos é<br />
um apontoado <strong>de</strong> crimes; accusa-se um admi-<br />
nistrador <strong>de</strong> concelho <strong>de</strong> faisificacão, abuso<br />
> /<br />
<strong>de</strong> auctorida<strong>de</strong>, ultrages á moral publica!<br />
E por aqui fóra em narração <strong>de</strong> tantos<br />
crimes, n'um paiz on<strong>de</strong> a <strong>de</strong>smoralisação<br />
não chegasse ao ponto <strong>de</strong> proteger os maiores<br />
criminosos, ladrões <strong>de</strong> toda a especie, falsificadores<br />
e concussionarios <strong>de</strong> todos os feitios<br />
— esse administrador já estaria <strong>de</strong>mittido!<br />
N'este cantinho da Europa não succe<strong>de</strong><br />
assim. As ca<strong>de</strong>ias enchem-se <strong>de</strong> <strong>de</strong>sgraçados<br />
que roubam para comer e subtraem uns mil<br />
réis, emquanto passeiam os ladrões das salamancadas<br />
e os salteadores da companhia do<br />
Nyassa e dos milhares <strong>de</strong> nyassas que se<br />
têm <strong>de</strong>scoberto, e que ficam impunes.<br />
E não admira que o sr. Augusto Forjaz,<br />
com iampada na casa da Méca, seja absolvido,<br />
ou antes não chegue a ser julgado; emquanto<br />
o seu accusador, Ama<strong>de</strong>u Sanches Barreto,<br />
que é um cidadão honrado, um jornalista<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, será punido com todo o rigor.<br />
Veremos quem se engana. Se houvesse<br />
<strong>de</strong>coro da parte do governo e mormente<br />
d'esse <strong>de</strong>scarado João Telles Jordão, que por<br />
escarneo é ministro, o sr. Augusto Forjaz,<br />
nem mais um minuto estaria administrador.<br />
COIMBRA—Quinta feira, 3 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895<br />
0 ministério e as eleições<br />
Mais uma vez o ministério actual se recompoz;<br />
mais uma vez o rei abusou das suas<br />
funcções; mais uma vez o sr. Hintze Ribeiro<br />
zombou da opinião publica.<br />
O novo ministério, que vae cooperar na<br />
ruina do paiz, accelerada, a cada momento<br />
e sem <strong>de</strong>scanço, pelos <strong>de</strong>fensores da monarchia,<br />
nenhuma, absolutamente nenhuma confiança<br />
nos merece.<br />
A sua intellectualida<strong>de</strong> está muito abaixo<br />
<strong>de</strong> o recommendar á consi<strong>de</strong>ração e ao respeito<br />
publico.<br />
A sua moralida<strong>de</strong> não <strong>de</strong>ve ir muito além<br />
da dos seus collegas, que se não <strong>de</strong>sfraudam<br />
o thesouro publico em seu proveito, <strong>de</strong>sfraudam-no,<br />
comtudo, fazendo concessões illegaes<br />
a emprezas especuladoras, custeando<br />
viajatas inúteis e dispendiosas, festas e manifestações,<br />
dando subsidios a companhias,<br />
a compadres que os <strong>de</strong>fendam na imprensa<br />
e os aju<strong>de</strong>m a esmagar republicanos.<br />
Uma questão <strong>de</strong> moralida<strong>de</strong>, nos tempos<br />
que vão correndo, não tem a importancia<br />
nem a força sufficiente para abrir uma crise<br />
ministerial.<br />
Se, por ventura, o novo e elegantíssimo<br />
ministro procurar reagir contra os <strong>de</strong>smandos<br />
e incoherencias governativas dos seus<br />
preclaros collegas, não se <strong>de</strong>ixando subornar,<br />
como entre nós é costume, immediamente<br />
teria <strong>de</strong> se <strong>de</strong>mittir, para outro <strong>de</strong> menos<br />
escrupulos o substituir e ir satisfazer as<br />
imposições dos mandões políticos, que se<br />
apossaram d'este <strong>de</strong>smantelado organismo.<br />
Quando um paiz se encontra nas tristes<br />
circumstancias <strong>de</strong> Portugal, nem uma crise<br />
que se manifesta em tudo e por toda a parte, os<br />
homens, que se encontrassem á frente dos negocios<br />
pubiicos, <strong>de</strong>veriam ser experimentados,<br />
honestos, intelligentes, illustrados, activos,<br />
emprehen<strong>de</strong>dores e sobre tudo honrados.<br />
Ora como os nossos ministros não têm<br />
as qualida<strong>de</strong>s indispensáveis, a que fizemos<br />
referencia, nós continuremos a ser vexados e<br />
espesinhados por todos; a nossa ruina e quéda<br />
serão irreparáveis, e, quem sabe, se mais longe<br />
ainda nos levará a <strong>de</strong>svairada e anti-patriotica<br />
administração monarchica.<br />
Sem credito nem reputação firmada, o<br />
novo ministro é um pobre remendo no ministério,<br />
que pelas ca<strong>de</strong>iras do po<strong>de</strong>r se arrasta.<br />
Só uma mudança radical nos costumes e<br />
nas instituições pô<strong>de</strong> fortalecer e restituir ao<br />
Povo portuguez, dormente e narcotisado, a<br />
sua antiga e proverbial energia e vitalida<strong>de</strong>.<br />
O mal está nas instituições e não nos homens.<br />
A monarchia é o nosso gran<strong>de</strong> mal, a<br />
nossa vergonha; para lavarmos a nodoa infamante<br />
que ella lançou no corpo do Povo<br />
portuguez, ulcerando-o, temos <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar<br />
quanto antes, o indífierentismo cobar<strong>de</strong>, a<br />
paz podre e revoltante, e lançar-nos, quando<br />
as circumstancias a isso nos habilitem, na<br />
revolução, pois só ella será capaz <strong>de</strong> pôr novamente<br />
a nado a barcaça avariada da governação<br />
publica, e conduzil-a a porto <strong>de</strong> salvamento.<br />
Unamo-nos pois; travemos a lucta, que<br />
será favoravel aquelles que trabalham no engran<strong>de</strong>cimento<br />
da patria, na gran<strong>de</strong> obra da<br />
regeneração social.<br />
O governo que nos dirige traçou um caminho,<br />
<strong>de</strong>ve continuar a seguil-o; ao menos<br />
não se mostre cobar<strong>de</strong>.<br />
Já que inaugurou a politica retrograda e<br />
nefasta á sombra da hypocrisia, não faça<br />
eleições, não se dê no trabalho <strong>de</strong> arranjar<br />
opposição. Para o absolver dos seus feitos<br />
gloriosos e façanhas immorredouras, não precisa<br />
<strong>de</strong> parlamento.<br />
Para que lhe serviria um bill <strong>de</strong> in<strong>de</strong>mnida.<strong>de</strong>?<br />
Por ventura foram revogadas as leis<br />
dictatoriaes do sr. Dias Ferreira ? Não as<br />
sanccionou esta dictadura, muito mais feroz<br />
do que o absolutismo <strong>de</strong> ha oitenta annos ?<br />
O actual governo que lhe succe<strong>de</strong>u no po<strong>de</strong>r<br />
não tem as mesmas responsabilida<strong>de</strong>s, mais<br />
aggravadas ainda talvez? Vamos ter eleições,<br />
e para quê? Que força legal e moral pô<strong>de</strong><br />
ter um parlamento, forjado nas secretarias<br />
do ministério do reino, on<strong>de</strong> os elementos<br />
ministeriaes e palacianos constituem uma<br />
facciosa e exclusiva maioria intransigente e<br />
oppressiva!<br />
Que vantagens viriam d'ahi para o paiz?<br />
Os elementos opposionistas foram violenta-<br />
mente excluídos por uma iei vergonhosa e<br />
injustificável!<br />
O governo faz eleições em respeito á<br />
constituição? Não, mil vezes não. Não tem<br />
ella sido rasgada tantas vezes ?!<br />
On<strong>de</strong> estará a vonta<strong>de</strong> nacional ?<br />
A vonta<strong>de</strong> nacional, quasi não existe já<br />
para a politica.<br />
Matou-a o indifferentismo. Não vemos<br />
nós a indifferença com que foi olhada a noticia<br />
<strong>de</strong> que se iam fazer eleições?<br />
O governo não <strong>de</strong>ve fazer eleições, é a<br />
lógica que o pe<strong>de</strong>. Arrastam pelo charco<br />
immundo o prestigio das instituições; é um<br />
grave erro politico.<br />
Se não pô<strong>de</strong> manter-se por mais tempo,<br />
caia, que a ninguém <strong>de</strong>ixa sauda<strong>de</strong>s; mas não<br />
retroceda, an<strong>de</strong> até po<strong>de</strong>r, vá até ao fim.<br />
Quem sae aos seus...<br />
A proposito dos <strong>de</strong>cretos dictatoriaes —<br />
que estão irritando justificadamente todo o<br />
portuguez que se preza, e todo o jornalista<br />
que se honra — o nosso collega Commercio<br />
<strong>de</strong> Portugal, ainda se admira que haja um<br />
rei do feitio do sr. D. Carlos, e exclama, bestes<br />
períodos, com espanto:<br />
«E ha um rei que se presta a proteger a animar<br />
essas ambições mesquinhas, ignóbeis e ridículas!<br />
«E ha um rei que, esquecendo os seus juramentos,<br />
não duvida sanccionar os mais monstruosos<br />
attentados contra a constituição, que <strong>de</strong>via ser<br />
para elle um thesouro sagrado, porque e a sua<br />
origem, a fonte da sua auctorida<strong>de</strong>, a sua força, a<br />
razão <strong>de</strong> ser, o único élo que o pren<strong>de</strong> á nação!<br />
«Nós bem sabemos que está escripto que são<br />
as monarchias que fazem as republicas, e enten<strong>de</strong>mos<br />
em consciência que chegou aos republicanos<br />
portuguezes o momento <strong>de</strong> se regosijarem e <strong>de</strong><br />
applaudir com as duas mãos todos esses erros collossaes<br />
que se estão praticando.»<br />
Diz o adagio que — Filho <strong>de</strong> gato mata<br />
rato...<br />
Se D. João vi perjurou a constituição, se<br />
a trahiu D. Miguel e rasgou a Carta D. Maria<br />
ii, mantendo no po<strong>de</strong>r o liberalismo <strong>de</strong> Costa<br />
Cabral, por que se estranha que o neto <strong>de</strong><br />
D. Maria n e tataraneto <strong>de</strong> D. João vi esqueça<br />
os seus juramentos?<br />
E diz o Commercio <strong>de</strong> Portugal: — E ha<br />
um rei. ..<br />
Ha um rei — porque não ha um povo!<br />
O Festas em talas<br />
Custa-nos caríssima a promoção do gran<strong>de</strong><br />
general Boum o das manobras da fome—que<br />
se está a ver agraviado com as <strong>de</strong>spezas das<br />
ultimas reformas.<br />
Agora é que são as dores, e como lhe<br />
parecem poucas as dissipações que tem feito<br />
em prejuízo do thesouro publico, vae pedir<br />
um credito extraordinário <strong>de</strong> 3i contos <strong>de</strong><br />
réis I<br />
Era converter os 3i contos em 3i marmelleiros<br />
que lhe zurzisse aquelle corpanzil.<br />
São uns rapinas!<br />
Aos reaccionários<br />
Em reprimenda ao facciosismo odiento do<br />
jesuita-reaccionario — á frente o fundibulario<br />
do Correio Nacional — que não cessa nas<br />
suas arremettidas contra os princípios sociaes<br />
e o i<strong>de</strong>al emancipador das classes populares<br />
— o arcebispo <strong>de</strong> York, na conferencia annual<br />
do clero anglicano, tratando aos <strong>de</strong>veres<br />
da egreja com relação aos problemas<br />
sociologicos, disse :<br />
«E' um facto que o socialismo, sob uma ou<br />
outra forma, euraizou-se fortemente nas sympathias<br />
d'uma gran<strong>de</strong> parte da população operaria<br />
britanuica, a particularmente eutre a mocida<strong>de</strong>.<br />
Seria falta <strong>de</strong> iutelligencia da parte da Egreja ignorar<br />
os males e as queixas reaes que <strong>de</strong>ram origem<br />
a este movimento, ou fechar os ouvidos ás aspirações<br />
da mocida<strong>de</strong> laboriosa. A Egreja <strong>de</strong>ve reconhecer<br />
que ha no aetual systema social profundas<br />
reformas a operar, e reivindicações a atten<strong>de</strong>r por<br />
parte d'aquelles a quem esta questão interessa<br />
mais directamente, afim <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r cooperar cora<br />
elles no sentido <strong>de</strong> as resolver.»<br />
E não entra na burrice do Correio Nacional<br />
que os tempos não vão <strong>de</strong> mol<strong>de</strong> a<br />
retrogradar e que a respeito <strong>de</strong> D. Miguel e<br />
do resto — era d'uma vez!<br />
O século da dynamite ha <strong>de</strong> vencer a<br />
tyrannia dos barbaros e <strong>de</strong>rrotar a hereditarieda<strong>de</strong><br />
dos déspotas.<br />
Poia então 1
J O e f e i v s o i * D O Poyo-1.' ANNO Quinta feira, 3 do outubro <strong>de</strong> 1895 -N.° <strong>45</strong><br />
Sciencías, lettras e artes<br />
A S D U A S IRMÃS<br />
C O N T O<br />
Traducção do hespanhol<br />
(CONCLUSÃO)<br />
Antes que sua irmã tivesse tempo <strong>de</strong> fazer<br />
a menor observação, tinha posto o chalé<br />
e pegado na caixa <strong>de</strong> castão em que levava<br />
as flores.<br />
— Até já — exclamou da porta, lançando<br />
um beijo a sua irmã.—A<strong>de</strong>us sr. Henrique.<br />
E sahiu como se urgira muito o que tinha<br />
que fazer, <strong>de</strong>ixando juntos o typographo e<br />
sua irmã Sophia; aquelle muito mais tranquillo,<br />
como se a presença da joven o preturbára,<br />
e esta comprehen<strong>de</strong>ndo que se tratava<br />
d'alguma cousa grave, alguma cousa que po<strong>de</strong>ria<br />
ser a realisação d'um sonho ha muito<br />
tempo acariciado.<br />
— Menina Sophia... — disse o mancebo<br />
logo que se acharam sós.—Irei direito ao<br />
assumpto, pois não sei fazer ro<strong>de</strong>ios e o coracão<br />
apressa-se muitíssimo.<br />
* Sophia levantou a vista e os seus olhares<br />
encontraram-se. Amava-a; não o podia duvidar.<br />
Emquanto ella, também o não podia<br />
dissimullar: havia tanto tempo que o amava<br />
também.<br />
Já me conhece v. ex. a — proseguiu Henrique.—<br />
Não tenho fortuna, mas sim algumas<br />
economias, as bastantes para montar<br />
casa e para as primeiras necessida<strong>de</strong>s. Sou<br />
orphão como v. ex. a , mas sou trabalhador e<br />
não tenho vicios. Creio, embora, que po<strong>de</strong>rei<br />
ser um bom marido.<br />
— Um marido ? — perguntou Sophia.<br />
— Já v. ex. a vê se sim ou não tem a minha<br />
felicida<strong>de</strong> nas suas mãos. Ao ver a v. ex. as<br />
tão honradas e tão laboriosas senti por v. ex. as<br />
viva amiza<strong>de</strong>.<br />
Este sentimento <strong>de</strong>u a vez a outro, e, em-<br />
— Que <strong>de</strong>vo respon<strong>de</strong>r-lhe ?<br />
Como Maria, tremula, não respon<strong>de</strong>ra;<br />
perguntou-lhe :<br />
— Amal-o ?<br />
Maria lançou-se nos braços <strong>de</strong> sua irmã,<br />
e quasi ao ouvido murmurou-lhe:<br />
Sim ! Sim !... mamã.<br />
Sophia estremeceu ao ouvir-lhe chamar<br />
mamã. N'aquelle momento^ esse era o único,<br />
seu verda<strong>de</strong>iro nome: elie representava a sua<br />
missão na terra. O seu sonho pessoal havia-se<br />
<strong>de</strong>svanecido: só lhe restava já fazer<br />
felizes áquelles dois amantes.<br />
Quando chegada a noite, Henrique chamou<br />
á porta <strong>de</strong> casá, entrelaçou as mãos dos<br />
dois jovens, e murmurou <strong>de</strong>pois, olhando para<br />
o retrato :<br />
— Estás contente, minha Mãe ? Jurei substituir-te<br />
junto <strong>de</strong> tua filha mais nova... tenho<br />
sabido cumprir o meu juramento!<br />
G.<br />
Para amigos...<br />
Lá vão para o extrangeiro dois bemaventurados<br />
a quem o governo <strong>de</strong>u a gorgeta <strong>de</strong><br />
chorudas commissões: Para Marselha, partiu<br />
um, que ninguém sabe a que cascas<br />
d'alho; o outro vae assistir á impressão d'uma<br />
carta geographica que se está preparando<br />
em Paris!<br />
Lembra-nos que ha annos — na febre <strong>de</strong><br />
sustentar vadios no extrangeiro — se fez a<br />
nomeação d'um medico que foi a Paris estudar<br />
enca<strong>de</strong>rnação!<br />
Enca<strong>de</strong>rnados, ou melhor—empallados —<br />
precisa essa sucia!<br />
CARTA DO PORTO<br />
i <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> i8g5.<br />
fim, dicidi-me a dizer a v. ex. a a verda<strong>de</strong> inteira.<br />
Amo...<br />
— V. Ex. a ama?...<br />
Sophia <strong>de</strong>teve-se também perturbada e<br />
palpitante.<br />
— Amo Maria como um louco, e venho<br />
pedir a v. ex. a a sua mão.<br />
Sophia recuou vivamente, levando a mão<br />
ao coração como para impedir que saltasse<br />
em pedaços.<br />
— Maria! — murmurou d'um modo inconsciente<br />
?<br />
E teve que apoiar-se ás costas d'uma ca<strong>de</strong>ira,<br />
sentindo-se <strong>de</strong>sfallecer.<br />
— Sim continuou o amante sem dar<br />
conta <strong>de</strong> nada.—Já sei que Maria é mui joven,<br />
mas precisamente a sua juventu<strong>de</strong> e alegria<br />
é que mais me tem impressionado. Juro<br />
a v. ex. a que a farei ditosa, e que serei para<br />
v. ex. a um irmão cheio <strong>de</strong> abnegação.<br />
Mas Sophia não o escutava: sentia na alma<br />
um enorme vácuo, e em vão luctava por pôr<br />
em or<strong>de</strong>m as suas i<strong>de</strong>ias. Todos os seus sonhos<br />
<strong>de</strong> ventura se haviam <strong>de</strong>svanecido n'um<br />
instante!<br />
Por fim pô<strong>de</strong> fallar.<br />
— Será preciso consultar minha irmã.. <<br />
e fal-o-hei: volte v. ex. a esta noite.<br />
A pobre rapariga sentiu necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
ficar só.<br />
— Ah! menina, v. ex. a Não estou ainda completamente restabelecido.<br />
Mas esta inércia dos portuguezes<br />
em frente dos <strong>de</strong>cretos, que lhes cortam as<br />
garantias, faz vibrar os nervos dos mais pacíficos.<br />
Quem ha ahi d'entre os liberaes e republicanos,<br />
que possa ler sem pasmo a reforma<br />
da camara dos pares, subtraindo á soberania<br />
da nação o elemento electivo ?!<br />
Não são sufficientes os cem pares vitalícios<br />
nomeados pelo rei, cercêam-se ainda á<br />
soberania popular os cincoenta pares electivos.<br />
E isto ainda po<strong>de</strong>ria passar sem reparo<br />
: por que, afinal, todos são eleitos pela<br />
fórma que os governos querem: o peor é<br />
que d'ora ávante os ministros da constituição<br />
ficam com o direito <strong>de</strong> enviar ás camaras<br />
homens por si, munidos <strong>de</strong> palavriado, para<br />
entrarem na discussão dos projectos.<br />
E' o artigo 4.<br />
é tão boa, que me<br />
<strong>de</strong>ixaria matar por si.<br />
O quê!—disse a rapariga forçando-se<br />
por sorrir — não seria melhor meio <strong>de</strong> casar<br />
com Maria.<br />
Logo que ficou só, <strong>de</strong>ixou-se cahir n'uma<br />
ca<strong>de</strong>ira verda<strong>de</strong>iramente transtornada. Que<br />
cruelda<strong>de</strong> a <strong>de</strong> Henrique! Mas porque amára<br />
Maria e a ella não? Não era joven, não era<br />
formosa ainda? Porque ha <strong>de</strong> ser tão differente,<br />
o <strong>de</strong>stino das pessoas?...<br />
O seu pensamento <strong>de</strong>teve-se repentinamente.<br />
Seria possível que tivera ciúmes <strong>de</strong><br />
sua irmã? Não era natural que aquelles dois<br />
jovens se amassem?... porque, indubitavelmente,<br />
Maria <strong>de</strong>via amar também Henrique.<br />
E vendo-se n'um espelho, Sophia observou<br />
que a sua tez havia perdido a frescura,<br />
que o seu olhar era triste e profundo, que<br />
entre os negros cabellos que lhe cahiam sobre<br />
a fronte viam-se algumas cãs... Desviou<br />
os olhos do espelho e fixou-os no retrato <strong>de</strong><br />
sua Mãe; então cahiu <strong>de</strong> joelhos e com as<br />
mãos levantadas para ella, recordou-se instantaneamente<br />
da promessa feita á moribunda<br />
e tão heroicamente cumprida.<br />
I l l<br />
Sentiu ruidos <strong>de</strong> passos; era Maria que<br />
regressava. Então levantou-se doida, e, sentando-se<br />
na sua ca<strong>de</strong>irinha <strong>de</strong> costura, continuou<br />
o trabalho.<br />
A sua resolução estava tomada, encontrando<br />
até um goso infinito no sacrificio que<br />
ia realisar.<br />
— Sabes o que me disse Henrique? —<br />
perguntou a irmã.— Pois disse-me que te<br />
troava, pediu-me a tua mão.<br />
0 da reforma da camara dos<br />
pares, que acaba <strong>de</strong> implantar em Portugal<br />
esse lindo systema.<br />
Nem os <strong>de</strong>putados, nem os pares, nem os<br />
ministros são sufficientes para discutir as<br />
leis... as leis... que forem projectadas; precisam<br />
<strong>de</strong> dar homens por si! quem serão estes<br />
d'entre os funccionarios superiores ?!<br />
Maior concentração, centralisação, e realeza,<br />
já não pô<strong>de</strong> haver.<br />
Para que seriam as luctas, as conquistas<br />
liberaes, se os <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes dos conquistadores<br />
<strong>de</strong>stroem a ban<strong>de</strong>ira revolucionaria, que<br />
os guiou ao combate, e á victoria ?! que o<br />
diga o ecco das palavras <strong>de</strong> Passos Manoel,<br />
e <strong>de</strong> tantos outros, que luctaram em beneficio<br />
da patria.<br />
Agora no meio <strong>de</strong> tudo isto um silencio<br />
sepulchral, e um <strong>de</strong>svio uniforme para cousas<br />
que nada tem <strong>de</strong> util para o paiz. Muito<br />
palavriado, muitos artigos; e nada mais.<br />
Parece, que os portuguezes estão como<br />
os rifenhos, embrulhados nas longas saias ás<br />
portas da cida<strong>de</strong>, esperando que a provi<strong>de</strong>ncia<br />
lhes <strong>de</strong>pare melhor sorte.<br />
Bem fez o nosso Magalhães Lima em assistir<br />
ao congresso internacional da imprensa<br />
em Bordéus ; on<strong>de</strong> se discutiram as bases<br />
para que o jornalismo tenha por base o ensino<br />
profissional, e os conhecimentos <strong>de</strong> economia<br />
politica e social.<br />
Ahi se disse, que muitos jornalistas são<br />
d'uma ignorancia, e versatilida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> causar<br />
espanto : e que outros são apenas maitreschanteurs.<br />
Quando pois o jornalismo fôr o que <strong>de</strong>ve<br />
ser, e se <strong>de</strong>cidir a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a patria, o povo<br />
portugue\, com recta e sã consciência, nenhum<br />
ministro se atreverá a propôr um só<br />
<strong>de</strong>creto ao rei, um só projecto em cortes,<br />
que tenha por fim cercear as liberda<strong>de</strong>s, e<br />
fazer retrogradar o povo portuguez ao tempo<br />
do absolutismo, quando tem obrigação <strong>de</strong> o<br />
guiar no caminho do progresso e da conquista<br />
<strong>de</strong> novos horisontes da liberda<strong>de</strong>.<br />
— Como <strong>de</strong>vem saber falleceu o pae do<br />
nosso amigo, Xavier Esteves. Era um soldado<br />
fiel.<br />
Ao nosso amigo reiteramos sentidos pezames.<br />
LOPES DA GAMA»<br />
Correspondência balnear<br />
Espinho, 3o <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> i8g5.<br />
Na minha anterior correspondência, fatiando<br />
da recita promovida pelas senhoras<br />
em beneficio da Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Soccorros Mutuos<br />
d'esta agradavel praia, esqueceu-me dizer,<br />
que tinham sido o actor Simões, pae da<br />
insigne actriz Lucinda Simões e o sr. dr.<br />
Emygdio Garcia, os ensaiadores da pane<br />
dramatica do espectáculo, e que foi <strong>de</strong>vido<br />
aos seus esforços, intelligente direcção e<br />
muito boa vonta<strong>de</strong>, que os distinctos amadores<br />
alcançaram um tão notorio e brilhante<br />
triumpho.<br />
O actor Simões, um velho <strong>de</strong> setenta<br />
annos, com o vigor dos novos, então foi<br />
verda<strong>de</strong>iramente incansavel, pena foi que não<br />
po<strong>de</strong>sse assistir até ao dia da recita, pois<br />
teria uma estrepitosa ovação ao seu talento<br />
e aptidão scenica.<br />
As pessoas que entraram na recita e suas<br />
famílias, tencionam fazer um gran<strong>de</strong> pic-nic,<br />
para solemnisarem a festa <strong>de</strong> carida<strong>de</strong>, que<br />
ellas tão gentilmente realisaram animadas<br />
pela philantropia e amiza<strong>de</strong> aos <strong>de</strong>sprotegidos<br />
da fortuna.<br />
Ren<strong>de</strong>u approximadamente 40026000 réis,<br />
dos quaes em breve a direcção da Socieda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Soccorros Mutuos será embolsada, logo<br />
que se liqui<strong>de</strong>m e organisem as contas.<br />
•<br />
Têm retirado immensas famílias, em<br />
compensação têm chegado outras da província;<br />
como as vindimas estão quasi concluídas,<br />
a população dos campos vêm sempre<br />
n'esta epocha para a praia, epocha em que<br />
nós, os das cida<strong>de</strong>s regressamos ao seio das<br />
famílias, levando muitas vezes sauda<strong>de</strong>s d'uma<br />
cara bonita ou d'uns olhos seductores, que<br />
<strong>de</strong> vez em quando nos acco<strong>de</strong> á imaginação<br />
n'uma noite invernosa sentados á lareira ou<br />
á banca do estudo <strong>de</strong>ante d'uma sebenta <strong>de</strong><br />
respeito.<br />
Na Assemblêa dança-se muito menos; nos<br />
cafés nota-se menos animação, musica já não<br />
ha, o tercetto foi-se para o Porto, <strong>de</strong>ixando<br />
sauda<strong>de</strong>s a todos que apreciam musica quando<br />
bem executada; as roletas muito menos concorridas;<br />
diz-se por cá que ganharam bons<br />
contos <strong>de</strong> réis este anno; dos banhistas só<br />
meia dúzia se po<strong>de</strong>rão gabar <strong>de</strong> ter ganho,<br />
os outros per<strong>de</strong>ram sempre e muitas vezes<br />
mais do que podiam e <strong>de</strong>viam.<br />
Até á semana.<br />
GABIRU.<br />
A nossa riqueza<br />
Continuam a sair para o extrangeiro gran<strong>de</strong>s<br />
remessas d^iro, o que prova que a crise<br />
economica que tem estado latente vae augmentando.<br />
O nosso collega o Tempo, que com<br />
dupla razão não <strong>de</strong>ixa o lord Hintze, intrujão-mór<br />
das finanças, e que preten<strong>de</strong> mostrar<br />
ao paiz gran<strong>de</strong>s felicida<strong>de</strong>s, dá-lhe a nota do<br />
oiro saido ha dias <strong>de</strong> Lisboa:<br />
«Foram <strong>de</strong>spachadas na alfan<strong>de</strong>ga para seguir<br />
para Londres: no Thames, 1 caixa com 4:000<br />
libras sterlinas pelo sr. A. J. da Silva e i caixa<br />
com 1:860 libras pela Companhia <strong>de</strong> Estamparia<br />
em Alcantara, e 110 London i caixa com 215 libras<br />
sterlinas, 4:1041000 róis em ouro, moeda americana,<br />
5001000 réis em ouro, moeda hespanhola,<br />
260$000 réis em ouro, moeda argentina, 7o0$000<br />
réis em ouro, moeda allemã, 184H000 réis em<br />
ouro, moeda portugueza, e 260$000 réis <strong>de</strong> ouro<br />
em barra, pelo Credit Franc-Portugais.»<br />
Bem se vê que está passada a crise. Só<br />
<strong>de</strong> quem não tem vergonha.<br />
Uma festa que nos envergonha<br />
O povo portuguez continúa dando signaes<br />
<strong>de</strong> imbecilida<strong>de</strong>. Triste é confessal-o!<br />
No meio do maior enthusiasmo, ao som<br />
do hymno da Carta, aos vivas á liberda<strong>de</strong> e<br />
ao rei, alguns concelhos estão festejando<br />
estrondosamente, segundo dizem os jornaes,<br />
inclusive o Século, o seu engran<strong>de</strong>cimento<br />
territorial á custa da extorsão que se fez aos<br />
povos visinhos, a quem o arbítrio dos dictadores<br />
usurpou a autonomia e as suas tradições.<br />
Comquanto a terra on<strong>de</strong> nascemos nos<br />
mereça maior consi<strong>de</strong>ração e respeito que as<br />
outras, não <strong>de</strong>vemos comtudo vangloriarmonos<br />
do rebaixamento dos outros, quando foram<br />
injustamente expoliados.<br />
Dizemos estas palavras para que lhe aproveitem<br />
<strong>de</strong> futuro, e se emen<strong>de</strong>m, se ainda é<br />
tempo.<br />
Os povos como os indivíduos, nem <strong>de</strong>vem<br />
locupletar-se á jactura alheia, mais do que vergonhosa,<br />
in<strong>de</strong>cente.<br />
O extrangeiro já nos <strong>de</strong>ve consi<strong>de</strong>rar bem<br />
ordinários e imbecis.<br />
Não lhe <strong>de</strong>mos agora motivo <strong>de</strong> nos chamar<br />
pulhas sem critério nem vergonha.<br />
Como nos repugna dizer estas verda<strong>de</strong>s!<br />
A que estado chegámos!<br />
X X X V I I I<br />
E' o que vale ao paiz<br />
n'esta real rapioca<br />
não gastar uma <strong>de</strong> X —<br />
nosso rei — na paparóca.<br />
Os reis das outras nações<br />
dizem que vão <strong>de</strong>cretar<br />
muitas mais contribuições<br />
p'ra lhes darem <strong>de</strong> jantar!...<br />
Mesmo comendo <strong>de</strong> graça<br />
(tenho esta i<strong>de</strong>ia aziaga),<br />
préga o governo a pirraça<br />
e o Zé povinho é quem paga.<br />
'stou a vêr um bom empalmo,<br />
que <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> tantas fainas,<br />
paga com lingua <strong>de</strong> palmo<br />
o paiz — as comezainas!<br />
No percurso da viagem ao<br />
extrangeiro o sr. D. Carlos hospedar-se-ha<br />
nos palacios reaes<br />
<strong>de</strong> Italia, Allemanha, Inglaterra<br />
e Hespanha.<br />
EVa -Dique.<br />
Assumptos <strong>de</strong> interesse local<br />
Abertura «ia <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />
Realisou-se, no dia primeiro, com as cerimonias<br />
e pragmaticas do velho ritual académico.<br />
Com a affirmação theologica da missa e<br />
da invocação do Divino Espirito Santo e<br />
com o, não menos theologico e retrogrado,<br />
juramento dos lentes, inaugurou os seus<br />
trabalhos o nosso primeiro estabelecimento<br />
scientifico.<br />
Latim e canto-chão, invocação do sobrenatural,<br />
prisão da consciência aos mysterios<br />
e dogmas da religião ofikial, obediencia passiva<br />
e fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> incondicional ás instituições<br />
vigentes e á or<strong>de</strong>m politica estabelecida,'são<br />
óptimas garantias, penhor seguro <strong>de</strong> progresso<br />
intellectual e aperfeiçoamento scientifico,<br />
para <strong>de</strong>vidamente orientar o professorado<br />
na direcção que <strong>de</strong>ve dar no seu ensino,<br />
para disciplinar mentalmente e educar<br />
a briosa mocida<strong>de</strong> académica, afim <strong>de</strong> que o<br />
seu estudo seja intellectualmente productivo,<br />
moral e socialmente proveitoso á Patria e á<br />
Humanida<strong>de</strong>.<br />
E' certo, porém, e d'isso po<strong>de</strong>mos estar<br />
seguros que tal solemnida<strong>de</strong> religiosa não<br />
passa d'uma velharia persistente, d'uma tradição<br />
medieval hoje sem valor, sem significação<br />
e até sem prestigio; e em quanto<br />
ao juramento, é, como o juramento da Carta<br />
pelo rei e pelos seus ministros, uma impertinente<br />
formalida<strong>de</strong> bureaucratica, tão ridícula<br />
como inútil.<br />
•<br />
A concorrência <strong>de</strong> lentes foi diminuta;<br />
a capella estava quasi <strong>de</strong>serta; não havia<br />
espectadores, já não ha curiosos.<br />
Raream os afficcionados d'estas festas e<br />
cerimonias, em que os papas e os reis envolveram,<br />
neutras eras, os estabelecimentos<br />
scientificos.<br />
Estudantes nem um só! A festa passou-se<br />
em família, com ausência <strong>de</strong> muitos dos seus<br />
membros, que se <strong>de</strong>ixaram ficar socegados<br />
no seio talvez d'outra família, que lhes <strong>de</strong>ve<br />
ser mais cara e agradavel, respirando os ares<br />
pátrios e vivificadores da sua terra natal, ou<br />
veraneando por essas praias para revigorar<br />
as forças quebrantadas pelo estudo, ou por<br />
essas estancias <strong>de</strong> aguas medicinaes para<br />
curar as dispepsias e outras enfermida<strong>de</strong>s<br />
adquiridas por muitos mezes <strong>de</strong> aturado esforço<br />
intellectual e vida se<strong>de</strong>ntaria, consagrada<br />
ao magistério.<br />
Além do sr. reitor, secretario, be<strong>de</strong>is,<br />
guarda-mór, archeiros e <strong>de</strong> menos, talvez, da<br />
terça parte do corpo docente, nem viva<br />
alma!<br />
Graças á caturrice do Conselho Superior<br />
<strong>de</strong> Instrucção Publica e á prosapia auctoritaria<br />
do sr. ministro do reino, que não quizeram<br />
auctorisar a mudança da festa para o<br />
dia 16, como era razoavel, economico e até<br />
politico; porque maior esplendor e força<br />
adquiriam com isso as instituições, que <strong>de</strong><br />
taes festas vivem, e d'ellas tiram a sua maior<br />
forca.<br />
»<br />
A cousa porém explica-se: o sr. ministro<br />
do reino não soffre do estomago, nem dos<br />
fígados, nem dos intestinos por efféito <strong>de</strong><br />
aturados esforços intellectuaes e fadigosos<br />
estudos; soffre dos queixos; não é dispeptico,<br />
é nervoso; não tem hemorrhoi<strong>de</strong>s nem<br />
hepatites, tem hysterimo chronico, com crises<br />
agudas perigosíssimas, com accessos terríveis,<br />
com monomanias estapafúrdias.<br />
Agora <strong>de</strong>u lhe para andar <strong>de</strong> ponta com<br />
a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito, na qual sua ex. a é<br />
bacharel, e do qual foi um musico, dizem<br />
- que não inteiramente <strong>de</strong>safinado.
1>KJ-I:tssoií I>O P O V O — 1.° ANNO Quinta feira, 3 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895 — N.° <strong>45</strong><br />
Dr. Lopes da Gaina<br />
Com intimo regosijo publicámos hoje a<br />
Carta do Porto, do nosso illustrado correspon<strong>de</strong>nte,<br />
sr. dr. Francisco Lopes <strong>de</strong> Sousa<br />
Gama, um distincto jurisconsulto e convicto<br />
republicano.<br />
E tanto maior o nosso jubilo quanto vemos<br />
a sua <strong>de</strong>dicação pelo nosso jornal, que<br />
muito se honra com a sua collaboração.<br />
Não pou<strong>de</strong> o sr. dr. Lopes da Gama,<br />
apezar dos seus pa<strong>de</strong>cimentos que o fizeram<br />
retirar do nosso lado e dos seus trabalhos da<br />
advocacia — <strong>de</strong>ixar sem protesto o acto <strong>de</strong><br />
dictadura da reforma da camara dos pares a<br />
qual supprime o direito das gentes, violando<br />
as disposições da Carta com a audacia própria<br />
<strong>de</strong> quem per<strong>de</strong>u <strong>de</strong> todo a dignida<strong>de</strong> e<br />
a honra.<br />
E' energico o protesto que publicamos<br />
hoje na Carta do Porto, e bem revela a<br />
indignação do illustre republicano.<br />
O fornecimento <strong>de</strong> carne<br />
A camara vae novamente pôr a concurso<br />
o fornecimento <strong>de</strong> carnes ver<strong>de</strong>s, estabelecendo,<br />
pelo que foi resolvido em sessão, tres<br />
cathegorias para a venda da vacca.<br />
Está <strong>de</strong>monstrado que esse processo <strong>de</strong><br />
venda ha <strong>de</strong> prejudicar o publico e dar logar<br />
a abuso§ constantes, que a eamara <strong>de</strong>pois<br />
não po<strong>de</strong>rá reprimir, nem evitar.<br />
Se para este resultado — as tres cathegorias<br />
— a camara, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> muito matutar e<br />
estudar tantos dias, só viu como única medida<br />
razoavel a adoptar, essa das cathegorias, dá<br />
<strong>de</strong> si má i<strong>de</strong>ia, pois qua na primeira arrematação<br />
foi ella retirada por se conhecer as<br />
portas falsas que dariam logar a que o consumidor<br />
po<strong>de</strong>sse ser logrado.<br />
Salvo se acamara está disposta a quebrar<br />
a sua attitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> principio, para se converter<br />
em protectora inconsciente d'algum amigalhote<br />
encoberto!<br />
Vejam se têm olhos <strong>de</strong> ver, e se cabe no<br />
bestunto d'algum dos birrentos, que as vendas<br />
por cathegorias é um disparate, n'uma terra<br />
que está acostumada a fornecer-se <strong>de</strong> carne<br />
para cozer, bife, assado, etc., sem varieda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> preços — a não ser em condições muito<br />
especiaes — e que não enten<strong>de</strong> <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> vacca nem conhece a diíferença entre a<br />
i. a , 2. a e 3. a classe.<br />
As serviçaes que fazem as compras po<strong>de</strong>m<br />
muito bem ser ílludidas e em vez <strong>de</strong> lhe<br />
darem carne <strong>de</strong> primeira classe ser ella <strong>de</strong><br />
segunda e pelo preço da <strong>de</strong> primeira.<br />
E' nossa opinião que o arrematante ha<br />
<strong>de</strong> estimar bem o fornecimento da carne<br />
pelas tres cathegorias.<br />
Assim o consumidor que agora paga<br />
um lalo <strong>de</strong> vacca para assar ou para um<br />
bife por 280 réis, <strong>de</strong>pois tem <strong>de</strong> o pagar por<br />
35o ou 400 réis!<br />
E aqui está a meada que a camara anda<br />
a tecer, com a alteração que faz no edital<br />
para a segunda arrematação que vae ser annunciada.<br />
Pô<strong>de</strong> limpar as mãos á pare<strong>de</strong>.<br />
Dissertações<br />
Para as ca<strong>de</strong>iras vagas na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Direito, vão imprimir as suas dissertações,<br />
ossrs. drs. Affonso Costa e Teixeira d'Abreu.<br />
Versam sobre os assumptos:—a do sr.<br />
dr. Costa: Commentario ao codigo penal<br />
portugue— a do sr. dr. Abreu: Das servidões,<br />
segunda parte.<br />
Folhetim— «Defensor do Povo»<br />
O C0RS4RI0 PORTIGUZ<br />
ROMANCE MARÍTIMO<br />
ORIGINAL DE<br />
CAPITULO III<br />
A <strong>de</strong>spedida<br />
D. Carlota ouvia e ficava como absorvida<br />
n'uma profunda meditação.<br />
Os dias foram passando e os mezes, uns<br />
após dos outros, sem acontecimentos notáveis.<br />
A fragata S. Sebastião estava ancorada<br />
em frente da cida<strong>de</strong>, esperando que <strong>de</strong> Portugal<br />
viesse or<strong>de</strong>m para seguir novo <strong>de</strong>stino.<br />
Tinham <strong>de</strong>corrido oito mezes. A casa<br />
do <strong>de</strong>sembargador era frequentada pela socieda<strong>de</strong><br />
mais escolhida do Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />
em attenção á sua posição social e á belleza<br />
<strong>de</strong> suas rilhas, que realmente eram muito<br />
amaveis.<br />
D. A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong> tornava-se notável pelo seu<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />
Pelo ministério do reino foram enviadas<br />
á reitoria, officios que <strong>de</strong>terminavam o seguinte<br />
:<br />
1. a Que é auctorisada matricula provisória<br />
aos estudantes, que frequentaram annos<br />
anteriores, com a clausula <strong>de</strong> se submetterem<br />
aos exames <strong>de</strong> inglez e grego, visto estar <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />
do conselho superior <strong>de</strong> instrucção<br />
publica a consulta sobre se esse additamento,<br />
em face da ultima reforma, se <strong>de</strong>ve consi<strong>de</strong>rar<br />
dispensa absoluta.<br />
2. a Que haja a maxima cautella nas informações,<br />
que o prelado <strong>de</strong>r sobre os requerimentos<br />
<strong>de</strong> portarias para frequencia <strong>de</strong><br />
sciencias naturaes, pois que o sr. ministro do<br />
reino resolveu não fazer concessão alguma <strong>de</strong><br />
fórma a tornar, pelo horário, incompatíveis<br />
os estudos das diversas ca<strong>de</strong>iras.<br />
N'estes dois officios transparece bem ao<br />
vivo a pata do rinchão que se empina na<br />
grosseria <strong>de</strong> recommendar : — e que haja a<br />
maxima cautella nas informações que o prelado<br />
<strong>de</strong>r, etc. — para cair logo no coice da<br />
<strong>de</strong>claração pimpona: — que uresolveu não fa-<br />
\er concessão <strong>de</strong> fórma a tornar, pelo horario,<br />
incompatíveis os estudos das diversas ca<strong>de</strong>iras.»<br />
Não faz concessões o pudico Messalino<br />
Theatro Príncipe Real<br />
E inaugurada a presente epocha theatra<br />
no dia 16 do corrente e Francisco Lucas, o<br />
incansavel emprezario abre com chave d'oiro<br />
dando nos a companhia italiana, já nossa conhecida,<br />
<strong>de</strong> que faz parte a notável actriz<br />
Dora Lambertini, essa adoravel creança que<br />
tanto admirámos pelo seu talento.<br />
Damos o elenco da companhia:<br />
Actrizes—Dora Lambertini, Ida Lambertini,<br />
Maria Colombo, Maria Richelli, Amalia<br />
Santo, Rosina Satriano, Jiulia <strong>de</strong> Santis e<br />
Anna Sabatini.<br />
Actores — Giorgio Lambertini, Cav. Raffaelle<br />
Lambertini, Angelo Richelli, Oreste<br />
Zappata, Achile Lambertini, Victorino Lambertini.<br />
Maestro — Geovanni Polila.<br />
Para a estreia foi escolhida a Cavallaria<br />
Rusticana, que nos dizem ter um <strong>de</strong>sempenho<br />
á altura dos dotes artísticos da companhia.<br />
E escusado encarecer o seu mérito para<br />
que o publico concorra ao theatro a appiaudir<br />
artistas tão completos.<br />
É <strong>de</strong> jnstiça<br />
A classe dos empregados do commercio<br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> voltam a trabalhar no sentido <strong>de</strong><br />
obter dos patrões o encerramento geral dos<br />
estabelecimentos aos domingos e dias santificados.<br />
Para isso será nomeada uma commissão<br />
incumbida <strong>de</strong> promover este melhoramento<br />
para a classe, que julgamos muito justo e que<br />
por certo não prejudicará nem os patrões, nem<br />
o publico que <strong>de</strong> tar<strong>de</strong> não pensam em compras,<br />
mas <strong>de</strong> gozar.<br />
Boa acção<br />
Foi mandado recolher no Asylo <strong>de</strong> Cegos,<br />
em Celias, o infeliz cabouqueiro, que por<br />
<strong>de</strong>sastre em serviço n'aquelle edifício, ficára<br />
quasi cego.<br />
A proposta foi do sr. vice-presi<strong>de</strong>nte, sr.<br />
dr. Ruben d'Almeida e o pobre trabalhador<br />
vae ser observado e tratado pelo medico do<br />
partido.<br />
talento e espirito; D. Carlota pela sua belleza<br />
e génio con<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte; e todos que a<br />
contemplassem duvidariam, quando se lhe<br />
dissesse:<br />
«Esta joven já proclamou o assassínio!<br />
Já foi repeilente, intratavel e incapaz <strong>de</strong> conciliar<br />
uma affeição!»<br />
Todos, ao examinar aquellas feições bellas<br />
e regulares, aquelle gemo dócil e inoflensivo,<br />
diriam:<br />
«E' falso! Não pô<strong>de</strong> ser! As linhas regulares<br />
d'aquella fronte serena estão em harmonia<br />
com os impulsos d'um coração bem<br />
formado! Aquelle rosto melancolico e sympathico,<br />
nunca podia ser a estampa d'um<br />
mau pensamento; e aquelles lábios tão bellos<br />
ainda não pronunciaram palavras contra<br />
a lógica e a razão!<br />
«Oh! Não! Alli nunca se albergou uma<br />
alma que não fosse bem formada. ..»<br />
Esta seria a opinião <strong>de</strong> todos ao analysaram<br />
D. Carlota, e só acreditariam ao constar-lhes<br />
a sua loucura! Loucura promovida<br />
por um mysticismo exaltado, e por um fanatismo<br />
hypocrita e criminoso.<br />
A casa do <strong>de</strong>sembargador Antonio Pereira<br />
<strong>de</strong> Vasconceilos era pois, como dissemos,<br />
o centro dé reunião da primeira socieda<strong>de</strong>,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a aristocracia dos pergaminhos<br />
até á do dinheiro e á do talento.<br />
Entre o numero d'estas pessoas, duas<br />
eram as mais assíduas: e se ,os leitores <strong>de</strong>se-<br />
Roeio <strong>de</strong> Santa Clara<br />
Muito brevemente vae ser posta á praça<br />
a terraplenagem do vasto rocio <strong>de</strong> Santa<br />
Clara.<br />
E' uma obra <strong>de</strong> primeira necessida<strong>de</strong> e<br />
um valioso beneficio aos habitantes <strong>de</strong> Santa<br />
Clara, victimas <strong>de</strong> constantes innundações,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o rio Mon<strong>de</strong>go trasbor<strong>de</strong>, o que<br />
succe<strong>de</strong> muitas vezes no anno.<br />
Estamos convencidos que todos os moradores<br />
coadjuvarão em tudo a camara, <strong>de</strong><br />
fórma a atten<strong>de</strong>r-se á maior economia e á<br />
commodida<strong>de</strong> dos habitantes, que muito lucram<br />
com o alteamento d^quelle populoso<br />
bairro.<br />
«<br />
Mestres d'obras<br />
Fizeram segunda feira exame para mestres<br />
d'obras, ossrs Francisco Antonio Meira,<br />
José dos Santos Marques, Antonio Pedro e<br />
Benjamim Ventura, ficando plenamente approvados.<br />
Além d'estes senhores concorreram também<br />
outros mestres <strong>de</strong> que daremos noticia.<br />
O jury foi composto dos srs. engenheiro<br />
Franco Frazão, presi<strong>de</strong>nte; conductores Mattos<br />
Cid e Máximo, vogaes.<br />
Boa reforma<br />
A estrada <strong>de</strong> Santa Clara, além da ponte,<br />
está tendo um magnifico melhoramento: a<br />
construcção <strong>de</strong> passeios lateraes ao longo da<br />
estrada até ás casas que estão d^m e outro<br />
lado.<br />
E' um bom serviço que se faz, pois que<br />
em tempo chuvoso o caminho fica intransitável<br />
pelas lamas augmentadas pelo muito<br />
transito, principalmente quando coinci<strong>de</strong> com<br />
a feira <strong>de</strong> gado, que se faz a 23 <strong>de</strong> cada<br />
mez.<br />
Assim já o transeunte que tiver <strong>de</strong> passar<br />
por alli não é incommodado <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> se<br />
atular no comprido lamaceiro que sempre<br />
se fórma.<br />
c-<br />
Notas <strong>de</strong> carteira<br />
Regressou da praia <strong>de</strong> Espinho a esta cida<strong>de</strong><br />
com sua ex. ma familia, o sr. dr. Joaquim<br />
Augusto <strong>de</strong> Sousa Refoios, distincto professor<br />
da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>.<br />
•<br />
O sr. dr. João dos Santos Jacob, que tem<br />
estado em Luso, regressou também a esta cida<strong>de</strong>.<br />
•<br />
Deve em breve chegar a esta cida<strong>de</strong> com<br />
sua ex. ma familia, o distincto escriptor Alberto<br />
Pimentel, um dos membros da commissão<br />
<strong>de</strong> monumentos.<br />
Tenciona visitar <strong>Coimbra</strong> e seus pittorescos<br />
arrabal<strong>de</strong>s e colher alguns apontamentos<br />
para um livro que prepara e que virá á luz<br />
da publicida<strong>de</strong> em breve.<br />
•<br />
O sr. Albino Caetano da Silva, proprietário<br />
da acreditada Typographia Auxiliar <strong>de</strong><br />
Escriptorio, está já n'esta cida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> regresso<br />
<strong>de</strong> Espinho, on<strong>de</strong> esteve a banhos.<br />
•<br />
Encontra-se já na Covilhã á testa <strong>de</strong> sua<br />
importante fabrica <strong>de</strong> lanifícios, o sr. Januario<br />
da Costa Ratto, acreditado industrial, que<br />
esteve na Figueira da Foz a uso <strong>de</strong> banhos,<br />
com sua ex. ma familia.<br />
am saber quem são, dir-lhe-hemos que era<br />
o sr. xManuel José Fernan<strong>de</strong>s, po<strong>de</strong>roso capitalista,<br />
e o sr. D. Francisco Antonio <strong>de</strong> Sarmento<br />
e Castro, fidalgo da mais pura aristocracia,<br />
que contava muitos avós nobres, longos<br />
e empoeirados pergaminhos, muitas commendas,<br />
e não sei que mais brazões exquisitos...<br />
O sr. D. Francisco Antonio <strong>de</strong> Sarmento<br />
e Castro era pois uma nullida<strong>de</strong>, mas cynico<br />
e <strong>de</strong>vasso; e como tinha tanto <strong>de</strong> insolente<br />
como <strong>de</strong> ignorante, nada o distinguia entre<br />
,*ente séria.<br />
Quanto ao sr. Manuel José Fernan<strong>de</strong>s<br />
era um honrado filho do povo, que pelo seu<br />
trabalho, honestida<strong>de</strong> e intelligencia reunira<br />
uma fortuna colossal em prédios e numerário.<br />
D. Francisco <strong>de</strong> Sarmento e Castro pertencia<br />
a uma família distincta, mas na sua<br />
qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> filho segundo não dispunha <strong>de</strong><br />
meios alguns; e como aquella alma <strong>de</strong> príncipe<br />
tinha a pobreza d'um proletário, atirou-se<br />
aos vícios para adquirir dinheiro!<br />
Frequentou os lupanares do jogo mais<br />
immundos, contrahiu dividas e commetteu<br />
vilezas; e finalmente percorreu a escola do<br />
crime, levado pelo instincto do mal e por<br />
uma educação corrupta.<br />
Os seus parentes, não po<strong>de</strong>ndo supportar<br />
um similhante procedimento, que compromettia<br />
os seus pergaminhos, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> o sal-<br />
•<br />
Já regressou da Figueira da Foz a Ancião<br />
com sua ex. ma familia, o sr. dr. Alberto David,<br />
digníssimo conservador n'aquella comarca.<br />
•<br />
Regressou <strong>de</strong> Espinho, com sua familia,<br />
o sr. Lepierre, distincto professor na Escola<br />
Brotero.<br />
Também se encontra já n'esta cida<strong>de</strong> com<br />
sua ex. ma familia, <strong>de</strong> regresso da Figueira da<br />
Foz, on<strong>de</strong> esteve a banhos, o distincto advogado<br />
o sr. dr. Eduardo Vieira.<br />
•<br />
Encontra-se já n'esta cida<strong>de</strong> o nosso amigo<br />
e collaborador, o sr. Manuel Augusto Granjo,<br />
alumno do terceiro anno <strong>de</strong> Direito, que se não<br />
faça <strong>de</strong>morar com os seus bellos escriptos.<br />
•<br />
O ex. mo sr. dr. Daniel Ferreira <strong>de</strong> Mattos,<br />
distincto professor da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, já<br />
regressou da Granja com sua ex. ma familia,<br />
on<strong>de</strong> foi passar o mez <strong>de</strong> setembro.<br />
•<br />
O nosso amigo Augusto Nunes dos Santos,<br />
acreditado industrial d^sta cida<strong>de</strong>, já<br />
regressou da Figueira da Foz com sua familia,<br />
on<strong>de</strong> esteve a uso <strong>de</strong> banhos, durante o<br />
mez <strong>de</strong> setembro.<br />
•<br />
E' esperado n'esta cida<strong>de</strong> o sr. Antonio<br />
Guilhermino Furtado, cunhado do sr. dr.<br />
Emygdio Garcia e José Fernan<strong>de</strong>s Montanha,<br />
muito digno empregado da Escóla Central<br />
<strong>de</strong> Agricultura Moraes Soares.<br />
•<br />
Já regressou a <strong>Coimbra</strong> o sr. Manoel da<br />
Silva Rocha Ferreira, solicitador d^sta comarca.<br />
Veiu acompanhado <strong>de</strong> sua ex. ma esposa e<br />
filhos, Francisco Rocha e Guilherme Rocha.<br />
Hospitaes da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />
O movimento dos doentes <strong>de</strong> ambos os<br />
sexos, no mez <strong>de</strong> setembro findo, foi o seguinte<br />
:<br />
Ficaram existindo em 3i d^gosto 3i5<br />
Entraram em setembro ig5<br />
Total 510<br />
Sahiram iy3<br />
Falleceram 14 187<br />
Ficaram existindo em 1 d'outubro.... §23<br />
O movimento do Banco durante o mez<br />
passado foi <strong>de</strong> 710 consultantes.<br />
A GRANEL<br />
Foi distribuído no Tribunal do Commercio o requerimento<br />
em que o nosso collega sr. Alves Corrêa pe<strong>de</strong><br />
sejam annulladas as <strong>de</strong>liberações da ultima assembleia<br />
dos accionistas da Vanguarda, e lhe seja restituída a<br />
gerencia do mesmo jornal.<br />
•<br />
Não se enten<strong>de</strong> com o conselheiro sr. José Luciano<br />
<strong>de</strong> Castro a doutrina do artigo 3.° da reforma da camara<br />
dos pares, porque o Banco <strong>de</strong> Credito Predial<br />
Portuguez lia tres annos que <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ter privilegio :<br />
mas com os srs. Barros Gomes, Bocage e outros.<br />
•<br />
Uma americana dispôz em testamento para ssr enterrada<br />
com todas as jóias no valor <strong>de</strong> 9 contos.<br />
varem <strong>de</strong> repetidos crimes, mandaram-n'o<br />
para o Brazil como provedor da alfan<strong>de</strong>ga<br />
do Rio <strong>de</strong> Janeiro! escusado é dizer aos leitores<br />
a maneira por que aquelle estabelecimento<br />
era administrado e os rendimentos do<br />
estado !...<br />
D. Francisco <strong>de</strong> Sarmento, como actualmente<br />
dispunha <strong>de</strong> muito dinheiro, já não<br />
ferrava calotes, porém continuava a ser insolente<br />
e a alimentar todos os vicios que o tornavam<br />
<strong>de</strong>sprezível.<br />
Este nobre fidalgo nutriu uma paixão vioenta<br />
por D. Carlota; e como não podia comprimir<br />
os seus <strong>de</strong>sejos, a todos os tornava<br />
patentes.<br />
A malaventurada donzella supportava paciente<br />
as suas impertinências; e <strong>de</strong>sabafava<br />
chorando sobre a sua <strong>de</strong>sventura.<br />
D. Francisco travára relações com Caros,<br />
e <strong>de</strong>vassando-lhe o amor que <strong>de</strong>dicava<br />
a D. A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong>, disse-lhe um dia em que o<br />
encontrou no jardim:<br />
— Senhor Carios, quero <strong>de</strong>ver-lhe um favor.<br />
— Diga, sr. D. Francisco, lhe respon<strong>de</strong>u<br />
elle.<br />
— O senhor não ignora o muito que amo<br />
D. Carlota! Oh ! como ella é formosa ! Creio<br />
que não serei feliz sem a possuir...<br />
Carlos olhou para elle admirado, e disse<br />
interiormente:<br />
(Continua.}
I ^ E F E N S O R D O P o Y o — 1-° ANN O Quinta feira, 3 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895 — N.° <strong>45</strong><br />
Associação <strong>de</strong> soccorros mutuos<br />
DOS<br />
ARTISTAS DE COIMBRA<br />
Está aberta a matricula para a admissão<br />
dos alumnos que <strong>de</strong>sejem frequentar<br />
a aula nocturna d'instrucção primaria<br />
d'esta associação, até ao dia 12 do corrente<br />
das 7 ás 9 horas da tar<strong>de</strong>.<br />
A. aula começa a funccionar no proximo<br />
dia 15; e para ser admittido é<br />
preciso que o alumno seja socio, ou<br />
apresentado por socio no pleno goso dos<br />
seus direitos.<br />
<strong>Coimbra</strong>, 1 d'oulubro <strong>de</strong> 1895.<br />
O secretario da direcção,<br />
Antonio Dias Themido.<br />
AERENDâ-S£<br />
Do S. Miguel <strong>de</strong> 1895 em <strong>de</strong>anle a<br />
casa n.° i, na rua das Colchas: tem<br />
muito boas commodida<strong>de</strong>s, e a loja n.°<br />
10 da mesma casa; a tratar com José<br />
Luiz Martins d'Araujo, na rua do Viscon<strong>de</strong><br />
da Luz, 90 a 92.<br />
ARREMATAÇÃO<br />
8. a publicação<br />
No dia i3 do proximo mez <strong>de</strong><br />
outubro pelas 11 horas da manhã,<br />
á porta do Tribunal <strong>de</strong> Justiça<br />
d^sta comarca, se ha <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r á<br />
venda e arremação em hasta publica,<br />
<strong>de</strong> todas as dividas activas, do commerciante<br />
que foi d'esta cida<strong>de</strong>, Antonio<br />
Corrêa da Costa, na importância<br />
<strong>de</strong> i:i3òjtt>n5 réis, como<br />
consta da relação junta ao processo<br />
<strong>de</strong> fallencia do mesmo commerciante,<br />
e são postas em praça com 90 °/0<br />
<strong>de</strong> abatimento do seu valor, ou seja<br />
pela quantia <strong>de</strong> ii3$5ii réis sendo<br />
entregues a quem maior lanço offerecer<br />
além d'esta quantia.<br />
Verifiquei a exactidão.<br />
O juiz presi<strong>de</strong>nte,<br />
Neves e Castro.<br />
Introducção e SVIathematica<br />
LUIZ MARIA ROSETTE,<br />
alumno da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, conlinúa<br />
a leccionar estas disciplinas.<br />
Praça 9 <strong>de</strong> IHaio, n.° 39-1.°<br />
PADARIA LUSITANA<br />
(SYSTEMA FRANCEZ)<br />
DE<br />
DOMINGOS MIRANDA<br />
9 Pão fino, o melhor que se encontra,<br />
pelo syitema francez,<br />
todos os dias, pela manhã e á noite, a<br />
25 réis cada dois pães.<br />
COLLEGIO CORPO DE DEUS<br />
158— Rua Corpo <strong>de</strong> Deus —160<br />
Director o bacharel em direito<br />
FABRÍCIO A. M. PIMENTEL<br />
Já creado ha 9 annos, acaba <strong>de</strong><br />
passar por completa transformação, este<br />
collegio, adre<strong>de</strong> a nova reforma, ficando<br />
nas seguintes condições hygienicas: Óptimas<br />
vistas, jardim <strong>de</strong> recreio, aulas espaçosas<br />
e boa luz, comportando maior<br />
numero que o exigido, 10 quartos para<br />
crianças e 6 para adultos, ficando estes<br />
completamente isemptos (Taquelles, inclusivé<br />
ás refeições.<br />
Lecciona-se o curso completo dos<br />
lyceus, para o que tem um habilissimo<br />
corpo docente, incluindo n'elle o nosso<br />
amigo sr. Antonio M. Cardoso, regendo a<br />
ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> francez, já <strong>de</strong> ha muito conhecido.<br />
Recebera-se alumnos externos,<br />
semi-internos e internos, facultando-se a<br />
estes últimos a frequencia no lyceu.<br />
O horário e dias <strong>de</strong>signados para as<br />
differentes ca<strong>de</strong>iras ainda se não assentou<br />
o que, feito, será publicado internamente<br />
por edital. Quem preten<strong>de</strong>r mais esclarecimentos<br />
dirija-se ao professor e director<br />
do collegio.<br />
R E C L A M E S E A N N U N C I O S<br />
ESTABELECIMENTO<br />
DE<br />
IEHBAGII, TIPAS E àiis DE FOGO<br />
DE<br />
JOÃO GOMES MOREIKA<br />
C O I M B R A .<br />
5o * RUA DE FERREIRA BORGES * 52<br />
(EM FRENTE DO AUCO D^ALMEDINA I<br />
Ferragens para construcções: ^ eguaU aos ^lIsÍm*e Porto.<br />
Pnonsnone • ^ err0 e arame P r 'e' ra qualida<strong>de</strong> com gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>scontos.<br />
® ' Sj ' —Aviso aos proprietários e mestres d'obras.<br />
p iji • , Cutilaria nacional e estrangeira dos melhores auctores. Espe-<br />
UJlliana . Cialida<strong>de</strong> em cutilaria Rodgers.<br />
r • _ . Crystofle, metal branco, cabo d'ebano e marfim, completo<br />
raqueiros. sortido em faqueiros e outros artigos <strong>de</strong> Guimarães.<br />
I nnrac innlp7ac rlpfpppn - Esmaltadaeeslan,ia(,a > ferro A 8 ate LOUÇaS ingiezdô, US ICl l U -<br />
> serviço<br />
completo para mesa, lavatorio e cozinha.<br />
p- 1 Ioglez e Cabo Mon<strong>de</strong>go, as melhores qualida<strong>de</strong>s que se em-<br />
LlIIlclllUÒ. pregam em construcções hydrau-licas.<br />
Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito da Companhia Cabo Mon<strong>de</strong>go. —Aviso<br />
Cal Hydraulica: aos proprietários e mestres d'obras<br />
Alvaia<strong>de</strong>s, oleos, agua-raz, crés, gesso, vernizes,<br />
Tintas para pinturas: e muitas outras tintas e artigos para pintores.<br />
Armão rio fnnn» Carabinas <strong>de</strong> repetição <strong>de</strong> 12 e 15 tiros, revolvers<br />
ArmaS Q8 loyu. espingardas para caça, os melhores systemas.<br />
n- . Ban<strong>de</strong>jas, oleados, papel para forrar casas, moinhos e torradores<br />
tJIVerSOS . para café, machinas para moer carne, balanças <strong>de</strong> todos os<br />
systemas. — Re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> arame, zinco e chumbo em folha, ferro zincado,<br />
arame <strong>de</strong> todas as qualida<strong>de</strong>s.<br />
Flor+riridfldo p nntira A ' seacia da casa Ramos & Silva ' <strong>de</strong> Lisl,oa '<br />
LlGt/U lUUauc d upllba constructores <strong>de</strong> pára-raios, campainhas eléctricas,<br />
oculos e lunetas e todos os mais apparelhos concernentes.<br />
Pastilhas electro-chimicas, a 50 réis). ,.<br />
Brilhante Belge, a 160 réis j ind,s s era lodas as casas<br />
P'<br />
I MACHINAS<br />
i i r a - E R<br />
Estabelecimento <strong>de</strong> fazendas brancas<br />
ARTIGOS DE NOVIDADE<br />
ALFAIATARIA MODERNA<br />
DE<br />
josé luís mm <strong>de</strong> mm<br />
90, Rua do Yiscon<strong>de</strong> da Loz 92 —COIMBRA<br />
6 O mais antigo estabelecimento n'esta cida<strong>de</strong>, com as verda<strong>de</strong>iras machinas<br />
Singer, on<strong>de</strong> se encontra sempre um verda<strong>de</strong>iro sortido em machinas<br />
<strong>de</strong> costura para alfaiate, sapateiro e costureira, com os últimos aperfeiçoamentos,<br />
garantindo-se ao comprador o bom trabalho da machina pelo espaço <strong>de</strong> 10<br />
annos.<br />
Recebe-se qualquer machina usada em troca <strong>de</strong> novas, transporte grátis<br />
para os compradores <strong>de</strong> fúra da terra e outras garantias. Ensina-se <strong>de</strong> graça,<br />
tanto no mesmo <strong>de</strong>posito como em casa do comprador.<br />
Yen<strong>de</strong>m-se a prazo ou prompto pagamento cora gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>scanto.<br />
Concerta-se qualquer machina mesmo que não seja Singer com a maxima<br />
promptidão.<br />
ESTAÇÃO BE INVERNO<br />
Acaba <strong>de</strong> chegar um gran<strong>de</strong> sortido em casimiras próprias para inverno.<br />
Fatos feitos completos com bons forros a 6$500, 7$000, 8$000 réis e mais<br />
preços, capas e batinas preços sem competencia, varinos <strong>de</strong> boa catrapianha<br />
com forro e sem elle <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 5(5000 réis para cima, garante-se qualquer obra<br />
feita n'esta alfaiateria, dão-se amostras a quem as pedir.<br />
Tem esta casa dois bons contramestres, <strong>de</strong>ixando-se ao freguez a preferencia<br />
<strong>de</strong> optar.<br />
Sempre bonito sortido <strong>de</strong> chilas, chailes, lenços <strong>de</strong> seda, ditos <strong>de</strong> Escócia,<br />
caraisaria e gravatas muito baratas.<br />
Yen<strong>de</strong>-se oleo, agulhas troçai e sabão <strong>de</strong> seda, e toda a qualquer peça<br />
solta para machinas.<br />
Alugam-se e ven<strong>de</strong>m-se Bi-cycletas.<br />
J0A0 RODRIGUES BRAGA<br />
SUCCESSOR<br />
17, ADRO DE CIMA, 20 — (Atraz <strong>de</strong> S. Bartholomeu)<br />
2 Armazém <strong>de</strong> fazendas <strong>de</strong> algodão, lã e seda. Yendas por junto e a retalho.<br />
Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> pannos crús. — Faz-se <strong>de</strong>sconto nas compras para<br />
reven<strong>de</strong>r.<br />
Completo sortido <strong>de</strong> coroas e bouquets, fúnebres e <strong>de</strong> gala. Fitas <strong>de</strong><br />
faille, moiré glacé e setim, em todas as cores e larguras. Eças douradas para<br />
adultos e creanças.<br />
Continua a encarregar-se <strong>de</strong> funeraes completos, armações fúnebres e<br />
trasladações, tanto n'esta cida<strong>de</strong> como fóra.<br />
RUA SÁ DA BANDEIRA<br />
W M S ^ S W I V W&t<br />
CO I M B R A<br />
Director—ALBERTO PESSOA<br />
Bacharel formado em philosophia<br />
Este novo collegio d'ensino primário<br />
e secundário, on<strong>de</strong> se admittem alumnos<br />
internos, semi-internos e externos, abrirse-ha<br />
no dia 14 d'outubro proximo.<br />
A relação do pessoal docente, o regulamento<br />
da Escóla, e quaesquer informações<br />
po<strong>de</strong>m ser pedidas ao director.<br />
niw<br />
100, Rna Ferreira Borges, 100<br />
31 Pauta para rolos <strong>de</strong> imprensa<br />
<strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong> e preço<br />
modico.<br />
Ariuns
^LIVIXO 1.° IV. 0 4 6<br />
Defensor<br />
A que estado chegamos!<br />
Ha um phenomeno social contemporâneo,<br />
extraordinário para o nosso tempo,<br />
anormal para os nossos dias, patente aos<br />
olhos <strong>de</strong> todo o mundo, que lodo o mundo<br />
vê, todo o mundo observa, sem que pessoa<br />
alguma corra perigo <strong>de</strong> se enganar ou <strong>de</strong><br />
se illudir.<br />
Portugal é a única, entre todas as nações<br />
da Europa, que se <strong>de</strong>ixa arrastar para o<br />
absolutismo, para o peor dos absolutismos<br />
— o absolutismo lheocralico.<br />
Portugal é presa <strong>de</strong> meia dúzia <strong>de</strong> especuladores<br />
traiçoeiros.<br />
Têm elles, <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> com os representantes<br />
da monarchia e com os agentes<br />
da reacção clerical, o exclusivo da politica.<br />
Consocios da realeza e do jesuitismo,<br />
tomaram para si, a empreilada do po<strong>de</strong>r e<br />
do governo; adjudicaram-se, a si proprios e<br />
em praça particular, o monopolio da administração<br />
publica; só para si, no intuito<br />
e no interesse dos seus gosos e das suas<br />
paixões egoístas, exploram, disfructam, ou<br />
antes loucamente estragam, e dissipam o<br />
patrimonio do Estado; põem e dispõem a<br />
seu alvedrio e a capricho dos haveres e recursos<br />
da Nação, da qual audaciosamente<br />
se apo<strong>de</strong>raram, arrogantemente affirmam ser<br />
e se <strong>de</strong>claram únicos senhores e possuidores,<br />
proprietários e dominadores absolutos 1<br />
O Povo portuguez tolera, a Nação portugueza<br />
soffre essa meia dúzia <strong>de</strong> homens,<br />
obe<strong>de</strong>ce a um tal governo, que, juntamente<br />
com o rei e em nome d J elle, ousadamente<br />
affronta os direitos sagrados <strong>de</strong> homens<br />
livres, <strong>de</strong> cidadãos honrados e laboriosos,<br />
calca as leis, illu<strong>de</strong>, quando não offen<strong>de</strong><br />
gravemente a justiça, mente <strong>de</strong>scaradamente<br />
quando promette, e caloteia cynicamente<br />
a consciência nacional, todas as vezes que<br />
esta lhe pe<strong>de</strong> o cumprimento da sua palavra,<br />
a satisfação dos seus solemnes compromissos.<br />
E é assim que o Povo portuguez se <strong>de</strong>ixa<br />
explorar, illudir, opprimir algemado,<br />
como se fôra um imbecil, um idiota, um<br />
covar<strong>de</strong>, que a tudo se sugeita, que tudo<br />
consente sem reagir; como se fôra um escravo<br />
que treme e se acurva <strong>de</strong>baixo do<br />
azorrague do seu estúpido e brutal senhor;<br />
como se fôra um martyr, lançado ás feras,<br />
que, já sem esperança <strong>de</strong> salvação n'este<br />
mundo, se resigna a morrer sob o cutello<br />
do algoz, que se levanta a cada momento,<br />
ameaçador e terrível, para o exterminar,<br />
<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> o haver torturado <strong>de</strong> mil modos<br />
e horrivelmente mutilado.<br />
N'essas investidas ferozes, em assaltos<br />
<strong>de</strong> brutal arremesso já lhe foram arrebatadas<br />
as mais preciosas liberda<strong>de</strong>s, os mais<br />
sagrados direitos:<br />
— a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> imprensa.<br />
— a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> reunião.<br />
— a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> associação.<br />
— a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino.<br />
— a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> locomoção.<br />
Já lhe foram usurpadas pelo monstro<br />
governamental:<br />
—as liberda<strong>de</strong>s e as franquias municipaes.<br />
— as liberda<strong>de</strong>s e as garantias parlamentares.<br />
—Não somente suspensa <strong>de</strong> facto, foi<br />
legalmente supprimida a Constituição e substituída<br />
por arbitrarias e volunlarias or<strong>de</strong>nanças<br />
reaes, pelos <strong>de</strong>cretos omnipotentes<br />
da mais odiosa dicíadura.<br />
—>0 vampiro fiscal suga os últimos<br />
recursos, e por completo arrebata o patrimonio<br />
do Estado e dos particulares, o fruclo<br />
do seu trabalho, do seu incessante e amargurado<br />
labutar quotidiano.<br />
—Já cá estão com força, e com toda a<br />
força abalam, e minam o <strong>de</strong>rrocado edifício<br />
liberal bandos <strong>de</strong> jesuítas, legiões <strong>de</strong> reaccionários.<br />
—Virão os fra<strong>de</strong>s <strong>de</strong> todas as or<strong>de</strong>ns;<br />
e, com elles, a inquisição, todas as fúrias assoladoras<br />
da intolerância politico-religiosa.<br />
—Amanhã, abrir-se-hão as masmorras;<br />
levanlar-se-ha a forca, reslabelecer-se-hão<br />
o confisco, a tortura, a marca <strong>de</strong> ferro quente,<br />
a perseguição anonyma, a <strong>de</strong>vassa clan<strong>de</strong>stina.<br />
. . o inferno !<br />
A que estado chegámos!<br />
Que <strong>de</strong>sgraçado futuro nos preparam o<br />
rei e os seus <strong>de</strong>salmados ministros, os tenebrosos<br />
sectários da reacção e do jesuitismo,<br />
colligados e triumphantes !<br />
Pela patria<br />
Ainda ha pouco os nossos soldados caiam<br />
no campo <strong>de</strong> batalha em combate peia integrida<strong>de</strong><br />
da patria, nos territorios africanos e<br />
já hoje se annuncia a perda <strong>de</strong> mais valorosos<br />
militares e mortos no combate <strong>de</strong> Manipor<br />
os seguintes officiaes:<br />
Eduardo Ignacio Camara, capitão do exercito;<br />
Antonio Men<strong>de</strong>s da Silva, tenente da<br />
guarnição da província; Adolpho Correia <strong>de</strong><br />
Bettencourt, i<strong>de</strong>m; Julio Licio Lagos, i<strong>de</strong>m;<br />
Acácio Bartholomeu da Silva Flores, alferes<br />
da guarnição.<br />
Em quanto se per<strong>de</strong>m tanta vida ao serviço<br />
da patria, o governo entrega ao extrangeiro<br />
as melhores possessões d'Africa, e o<br />
sr. D. Carlos visita o imperador da Ailemanba,<br />
que ainda ha pouco enxovalhára a nação<br />
portugueza, apeando a nossa ban<strong>de</strong>ira<br />
dos territorios <strong>de</strong> Keonga.<br />
E ninguém lhe pediu contas !<br />
O protesto do papa<br />
Leão XIII não se pou<strong>de</strong> conformar com<br />
as solemnida<strong>de</strong>s em honra da liberda<strong>de</strong>, que<br />
se fizeram em Roma, nas suas barbas.<br />
Cegou-o o explendor das festas, o ruido<br />
do enthusiasmo por uma causa santificada<br />
pelas bênçãos do povo que valem bem mais<br />
que as bênçãos dos papas !<br />
Não quer ter a resignação do Christo,<br />
nem a paciência <strong>de</strong> Job e diz-se que approvára<br />
a nota diplomatica, protestando contra<br />
a occupação <strong>de</strong> Roma, nota que será dirigida<br />
ás potencias.<br />
Atfirma-se mais que essa nota foi imposta<br />
pelo partido intransigente, que se agita na<br />
organisação <strong>de</strong> festas catholicas, peregrinações,<br />
etc., com o fim <strong>de</strong> consolar o pontífice<br />
das festas liberaes que acabam <strong>de</strong> realisar-se<br />
na capital. E a Itaha a tremer.<br />
Deus lhes dê juizo !...<br />
A contas...<br />
O sr. bispo <strong>de</strong> Bethesaida foi chamado a<br />
Roma a toda a pressa.<br />
Ha quem diga — o Século, por exemplo<br />
— que o facto se liga com o <strong>de</strong>crescimento<br />
dos rendimentos da Bula, que nestes últimos<br />
annos tem havido em algumas dioceses.<br />
A não ser que se prove que já não ha<br />
tolos que paguem, com a compra da Bula, a<br />
abstinência <strong>de</strong> carne na quaresma, ha no caso<br />
encrava<strong>de</strong>lla.<br />
Seja tudo por amor do proximo!<br />
Importação <strong>de</strong> fra<strong>de</strong>s<br />
Não quiz ficar atraz do governo fr. Zé<br />
dos curações. Não importou elle o petit-maitre<br />
do Luizinho Soveral, o calcinhas, para ministro<br />
dos estrangeiros? Pois também elle fez<br />
<strong>de</strong>spachar <strong>de</strong> Hespanha dois fra<strong>de</strong>s para dirigirem<br />
o seminário <strong>de</strong> Santa Clara que pertence<br />
á mitra.<br />
E passaram na Hespanha — sem rebate!<br />
Povo<br />
COIMBRA —Domingo, 6 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895<br />
VAMOS ANDANDO<br />
O governo entrou, franca e abertamente,<br />
no caminho do mais atroz e nefasto absolutismo.<br />
Já não ha duvidas possíveis: a verda<strong>de</strong><br />
nua e crua impõe-se; os seus mais insignificantes<br />
actos <strong>de</strong>nunciam-no, a cada momento,<br />
perante a opinião publica.<br />
O rei é tudo para os nossos conspícuos<br />
governantes; o povo nenhuma consi<strong>de</strong>ração<br />
e respeito lhes merece; os seus protestos são<br />
<strong>de</strong>sprezados, as suas queixas escarnecidas.<br />
Na sua obra reaccionaria e retrograda,<br />
continua impunemente a atropellar as leis, a<br />
fazer da constituição lettra morta, e, o que<br />
é peor, a perverter os costumes, a arruinar<br />
a moralida<strong>de</strong> <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> haver arruinado a<br />
fazenda.<br />
Os homens honestos e <strong>de</strong> sentimentos liberaes<br />
e <strong>de</strong>mocráticos <strong>de</strong>vem estar plenamente<br />
convencidos <strong>de</strong> que a lucta, <strong>de</strong>ntro da legalida<strong>de</strong><br />
e á sombra das instituições vigentes,<br />
é inútil, é <strong>de</strong> nenhuns resultados práticos.<br />
A monarchia, corroída pela lepra da immoralida<strong>de</strong><br />
e da corrupção, tornou-se incompatível<br />
com os interesses da Patria, com os<br />
interesses do Povo portuguez.<br />
O rei e os seus ministros são os primeiros<br />
a contrariar os sentimentos liberaes, e a<br />
lançar na maior anarchia a governação publica.<br />
Vendo fugir-lhes o terreno em que se appoiam<br />
e temendo per<strong>de</strong>l-o <strong>de</strong> todo, não recuam<br />
ante qualquer arbitrarieda<strong>de</strong>, ante qualquer<br />
violência, para suffocar os irados clamores,<br />
que <strong>de</strong> toda a parte irrompem, e ameaçam<br />
o throno, periclitante, em que o mais<br />
insignificante dos braganças se senta ainda,<br />
para nossa <strong>de</strong>sgraça e opprobrio.<br />
Quando soar a hora da justiça final e o<br />
ajuste <strong>de</strong> contas se fizer, toda essa turba <strong>de</strong><br />
fâmulos interessados e <strong>de</strong> bajuladores indignos,<br />
será expulsa, escorraçada para bem<br />
longe, d'on<strong>de</strong> nem sequer d'eiles nos chegue<br />
o menor rumor.<br />
Pe<strong>de</strong>-o a justiça; pe<strong>de</strong>-o o patriotismo e<br />
os mais legítimos e imprescindíveis direitos<br />
<strong>de</strong> cidadão portuguez.<br />
Que lhes importa a elles que o povo não<br />
possa pagar mais, que os impostos sejam<br />
exaggeradissimos, que a fome torture os <strong>de</strong>sgraçados<br />
e <strong>de</strong>sprotegidos d'este paiz, outr'ora<br />
<strong>de</strong> valentes, hoje <strong>de</strong> cobar<strong>de</strong>s ?!<br />
O que elles querem, esses prodigos, que<br />
tantos milhares <strong>de</strong> contos nos têm custado,<br />
é que se lhe, satisfaçam todos os caprichos,<br />
todas as loucuras.<br />
Dinheiro e recursos para manifestações<br />
<strong>de</strong> regosijo, vivorio, eleições sempre ha <strong>de</strong><br />
haver; a teta inexaurível do thesouro publico<br />
sempre ha <strong>de</strong> <strong>de</strong>itar; é questão <strong>de</strong><br />
espremel-a com arte e geito.<br />
Supprimiu este governo <strong>de</strong> doidos maus<br />
todas as regalias populares; <strong>de</strong>struiu os municípios;<br />
anniquillou a representação nacional,<br />
transformando-a n'uma cousa mesquinha,<br />
irrisória, que nada representa, a não<br />
ser a audacia do governo e a indifferença<br />
pelo povo.<br />
Vamos pois andando...<br />
O probresinho<br />
Os jornalistas catholicos italianos <strong>de</strong>spicaram-se,<br />
e em surra ás manifestações da<br />
realeza o director do jornal religioso, Á Italia<br />
Real, entregou a Leão xni restos do melhor<br />
<strong>de</strong> 25:ooo liras, offerecidas ao santo Padre<br />
como symbolo dos vinte e cinco annos <strong>de</strong>corridos<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a proclamação da sua infallibilida<strong>de</strong>.<br />
O sr. Bonetti, correspon<strong>de</strong>nte romano da<br />
Italia Real, pediu ao papa a sua benção para<br />
um jornalista liberal. Leão XIII re'cusou-a,<br />
dizendo:<br />
— Não o abençoo, afim <strong>de</strong> que continue<br />
a combater-nos!<br />
Dizendo alguém que os adversarios do<br />
papado fallavam <strong>de</strong> conciliação, o pontífice<br />
respon<strong>de</strong>u:<br />
— Muito bem, que reconheçam todos os<br />
direitos do papa.<br />
E tanta pobreza e tanta miséria por esse<br />
mundo fôra, para se ir entregar a um capitalista<br />
rios <strong>de</strong> dinheiro.<br />
Estão no inferno a ar<strong>de</strong>r esses almas<br />
damnadas.<br />
Que infamia <strong>de</strong> homem!...<br />
È claro que se trata d'esse nojento João<br />
Franco, e é o Século que lhe <strong>de</strong>nuncia os<br />
instinctos perversos d'essa basta-féra tão perigosa,<br />
que ainda é ministro, com os ossos<br />
inteiros.<br />
Leiam, leiam :<br />
«Era tal a preoccupação do sr. ministro do<br />
. reino era dar imraediata execução á reforma administrativa<br />
do distrieto <strong>de</strong> Lisboa, que no dia 1 <strong>de</strong><br />
madrugada, antes <strong>de</strong> ser conhecido esse importante<br />
<strong>de</strong>creto, já a força publica acompanhava a mudança<br />
dos archivos dos concelhos extinctos. Assim<br />
nol-o assegura pessoa que viu, ás 3 horas da madrugada,<br />
uma força <strong>de</strong> 40 praças <strong>de</strong> cavallaria na<br />
estrada <strong>de</strong> Oeiras.»<br />
Não ha maior patife, nem homem mais<br />
odiento se encontra. Dava um sicário nos<br />
tempos <strong>de</strong> João Brandão!<br />
O lbico Auer<br />
Consta que já foi intentado processo judicial,<br />
como cúmplices <strong>de</strong> contrafacção do Bico<br />
Auer, contra algumas casas na Figueira da<br />
Foz, que usam um bico vendido pelos srs.<br />
Nusse & Bastos do Porto. A esta ultima<br />
casa já foram também feitos dois arrestos<br />
judiciaes, e correm contra ella dois processos.<br />
Um outro processo, intentado pela Companhia<br />
proprietária do privilegio do Bico<br />
Auer, <strong>de</strong>nominada: Société Anonyme pour<br />
l'Incan<strong>de</strong>scence par le ga% (Systema Auer) au<br />
Portugal e cuja Agencia Geral é em Lisboa,<br />
13, largo do Corpo Santo, contra o contrafactor<br />
Paul Lambert, <strong>de</strong> Lisboa, já <strong>de</strong>u logar<br />
a diversos julgamentos a favor, o ultimo em<br />
21 <strong>de</strong> agosto, proximo passado, e cujo theor<br />
é bem claro, como se pô<strong>de</strong> vêr pelo seguinte<br />
extracto do accordão do Tribunal da Relação<br />
<strong>de</strong> Lisboa:<br />
Accordão em conferencia na Relação.<br />
Conhecendo <strong>de</strong> novo do presente aggravó <strong>de</strong><br />
petição, em conformida<strong>de</strong> da <strong>de</strong>cisão proferida<br />
pelo Supremo Tribunal <strong>de</strong> Justiça no<br />
venerando accordão <strong>de</strong> folhas noventa e duas<br />
verso.<br />
Consi<strong>de</strong>rando que, pelo novo exame dos<br />
autos me mostram suííicientemente justificados<br />
os requisitos e fundamentos legaes para<br />
po<strong>de</strong>r ser <strong>de</strong>cretado o arresto requerido por<br />
parte da aggravada: Société Anonyme pour<br />
VIncan<strong>de</strong>scence par le ga\ (Systeme Auer) au<br />
Portugal contra o aggravante Paul Lambert,<br />
isto é, primeiro: ser a mesma aggravada<br />
proprietária do exclusivo d» invento<br />
<strong>de</strong>nominado BICO AUER; segundo:<br />
fundada suspeita <strong>de</strong> contrafacção do<br />
objecto do referido invento.<br />
Visto o disposto do artigo 637. 0 do Codigo<br />
civil, artigo 5i.° do <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> i5 <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1894, e nos artigos 363.° e<br />
365.° do Código do processo civil. Não se<br />
fez aggravo do aggravante no <strong>de</strong>spacho <strong>de</strong><br />
que recorreu, e por isso lhe negam provimento,<br />
confirmando o <strong>de</strong>spacho recorrido:<br />
custas pelo aggravante.<br />
Lisboa, 21 dagosto <strong>de</strong> 1895.—(ass.) os<br />
Juizes: Fonseca —Pimentel—F. da Cunha.<br />
Eis os nomes dos compradores dos bicos<br />
<strong>de</strong> contrafacção na Figueira da Foz que foram<br />
remettidos a Juizo:<br />
Costa «fc C. a .<br />
Adriano Mias Barata Salgueiro.<br />
Galvão «fc jfEegquita (Casino Mon<strong>de</strong>go).<br />
Manoel Santos.<br />
Proprietário do Café Atelantieo.<br />
Sotero Simões.<br />
Pharmacia Novaes.<br />
Uavid.<br />
Hotel Castella.<br />
O que é para admirar, é que haja quem<br />
acceite <strong>de</strong> bom grado, <strong>de</strong> se submetter a<br />
<strong>de</strong>sgostos, meommodos, e talvez coisa peior,<br />
na esperança <strong>de</strong> beneficiar uns miseráveis<br />
tostões que os contrafactores recebem a menos<br />
na occasião da venda dos bicos imitados.<br />
Se os incautos compradores tivessem reflectido<br />
por um momento que seja, <strong>de</strong>certo teriam<br />
<strong>de</strong>scoberto que teem tudo a per<strong>de</strong>r e<br />
nada a ganhar, em se metterem n'uma questão<br />
com a Société Anonyme pour ilncan<strong>de</strong>scence<br />
par le ga% (.Systema Auer) au Portugal,<br />
que está <strong>de</strong>cididíssima a fazer respeitar<br />
os seus legítimos direitos, custe o que custar,<br />
doa a quem doer.
I > K F K X S O I Í R»o P o v o - 1 .<br />
QUESTÕES ORGANICAS<br />
0 registro civil<br />
O registro civil obrigatorio para nasci<br />
mentos (concorda-se), com a faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
iniciação religiosa do recem-nascido, tolera-se.<br />
O mesmo se po<strong>de</strong>rá dizer do registro<br />
civil obrigatorio para casamentos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
que cada qual pô<strong>de</strong> ir á egreja fazer abençoar<br />
pelo padre a sua união conjugal.<br />
Os catholicos são um pouco recalcitrantes,<br />
porque, habituados hereditariamente, por<br />
uma longa historia <strong>de</strong> intolerância sectaria,<br />
a verem a sua Egreja subordinando o Estado,<br />
constituía, <strong>de</strong> facto, uma theocracia, custalhes<br />
a comprehen<strong>de</strong>r uma diversa or<strong>de</strong>m <strong>de</strong><br />
coisas, na qual o Estado, assumindo, <strong>de</strong> facto,<br />
a soberania, em nome do povo, colloque<br />
o Direito Civil, não acima, mas in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />
do Direito Canonico, do qual para nada<br />
quer saber.<br />
A única coisa comtudo que os pô<strong>de</strong> magoar,<br />
e em que nós não <strong>de</strong>vemos pensar, a<br />
fim <strong>de</strong> não parecer que queiramos subordinar<br />
a Egreja ao Estado, quando só o reconhecimento<br />
reciproco da liberda<strong>de</strong> plena nos<br />
convém, é a preoccupação nutrida por algumas<br />
escolas revolucionarias <strong>de</strong> exigir que o<br />
registro civil anteceda a cerimonia religiosa.<br />
O Estado não se <strong>de</strong>ve importar com essa<br />
fértil priorida<strong>de</strong>. O que <strong>de</strong>ve é <strong>de</strong>sconhecer<br />
a cerimonia religiosa, e dar apenas valida<strong>de</strong><br />
civil ao registro civil.<br />
•<br />
Ha porém uma coisa que, a um tempo,<br />
assusta e irrita o espirito timorato dos fieis:<br />
é o fallar-se-lhes no registro civil obrigatorio<br />
dos obitos.<br />
E' uma questão <strong>de</strong> pieda<strong>de</strong> cultual susci<br />
tada por uma má orientação, propositadamente<br />
dada aos espíritos pelo tartufismo clerical.<br />
Quê! pois os nossos mortos hão <strong>de</strong> ser<br />
enterrados sem as orações do ritual!... Quê!<br />
pois os nossos mortos hão <strong>de</strong> ser enterrados<br />
em terra profana, como se fossem pagãos!...<br />
Não, boa gente sincera ! não!<br />
Verda<strong>de</strong> seja que nós, segurando-nos ás<br />
presumidas verda<strong>de</strong>s da vossa fé, vos po<strong>de</strong>ríamos<br />
respon<strong>de</strong>r que toda a terra é sagrada,<br />
pois que toda ella sahiu das mãos <strong>de</strong> Deus<br />
no acto da creação, e que Jesus, nos Evangelhos,<br />
a representa produzindo os mesmos<br />
fructos da benção para os samaritanas, como<br />
para os ju<strong>de</strong>us, como para os pagãos.<br />
Mas não queremos discutir as vossas superstições,<br />
quando um homem da nomeada<br />
do padre Gaume as sustenta, qual elle faz no<br />
Lemiterio no século XIX, dizendo que as aspersões<br />
e rezas lithurgicas livram as campas<br />
dos fieis <strong>de</strong> serem profanadas pelos espíritos<br />
maus.<br />
Assim, pois, respeitaremos a vossa superstição,<br />
cre<strong>de</strong>! as vossas campas po<strong>de</strong>rão<br />
liberrimamente ser abençoadas pelo padre.<br />
Simplesmente, pois que os cemiterios não são<br />
da Egreja, mas sim dos municípios, e os municípios<br />
abrangem a <strong>de</strong>ntro dos seus muros<br />
protectores, homens <strong>de</strong> todas as crenças, os<br />
cemiterios não serão mais benzidos.' E o<br />
padre que vos accompanhar á ultima morada,<br />
esse padre, que toma sobre os hombros a<br />
piedosa tarefa <strong>de</strong> vos fazer ingressar no céu,<br />
que se encarregue também <strong>de</strong> vos <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r<br />
as cinzas <strong>de</strong> todos os attentados diabolicos,<br />
expulsando <strong>de</strong> lá Satanaz e os seus anjos, á<br />
força <strong>de</strong> aspersões e <strong>de</strong> rezas.<br />
Não, gente boa e crente! o registro civil<br />
obrigatorio para obitos não quer por fórma<br />
alguma dizer que nós outros livres-pensadores,<br />
vamos invadir as Camaras mortuarias,<br />
on<strong>de</strong> os vossos mortos queridos esperam a<br />
hora solemne da benção sacerdotal que lhes<br />
ha <strong>de</strong> abrir as portas da misericórdia <strong>de</strong> Deus,<br />
para roubarmos <strong>de</strong> lá o cadaver, privando-o<br />
d^ssa benção.<br />
Não. Ninguém perturbará a vossa pieda<strong>de</strong><br />
cultual para com os vossos mortos.<br />
Collocae-os sob a égi<strong>de</strong> do crucifixo; circundae-o<br />
<strong>de</strong> lumes; aspergi-o <strong>de</strong> agua benta;<br />
rezae por sua alma. Venha o padre levantar<br />
o cadaver; leve-o para a Egreja; encommen<strong>de</strong>-o<br />
a Deus segundo as praxes do ritual;<br />
acompanhe-o ao cemiterio; santifique-lhe a<br />
terra do sepulcro; entregue-o á paz <strong>de</strong> Deus.<br />
Tudo isso se fará em plena liberda<strong>de</strong>.<br />
Simplesmente, o cadaver não será lançado<br />
á terra sem que seja mostrado ao guarda do<br />
cemiterio uma guia chancellada pela administração<br />
civil, pela qual se prove que vós<br />
participastes ao Estado, a ausência, para<br />
sempre, d'um dos seus cidadãos.<br />
O que em nada oflen<strong>de</strong>rá a vossa fé, nem<br />
a vossa pieda<strong>de</strong> pelos mortos.<br />
•<br />
Assim entendidos, oh! crentes! já vê<strong>de</strong>s<br />
que o registro civil obrigatorio não é esse<br />
monstro <strong>de</strong> sete cabeças que os padres, ignorantes<br />
ou perversos, têm por costumes pintar-vos..«<br />
1 ANNO Domingo, 6 <strong>de</strong> outubro &e 1895 — N. 8 46<br />
Fiel, pois, a estes princípios, se eu tivesse<br />
logar em cortes, apresentaria o seguinte :<br />
Projecto <strong>de</strong> lei<br />
Consi<strong>de</strong>rando que a morte d'um cidadão<br />
interessa tanto ao Estado embora em sentido<br />
inverso, como o nascimento d'um cidadão;<br />
Consi<strong>de</strong>rando que o movimento <strong>de</strong> população<br />
é <strong>de</strong> interesse exclusivo do Estado;<br />
Consi<strong>de</strong>rando, além d'isso, que, sendo os<br />
cemiterios sustentados pela contribuição <strong>de</strong><br />
todos os munícipes d'um município, sem differenciação<br />
das suas crenças religiosas:<br />
Art.° i.° E' obrigatorio para todos os<br />
casos <strong>de</strong> obito darem os sobreviventes a participação,<br />
por escripto, á administração civil<br />
da occorrencia d'esse obito, afim <strong>de</strong> que a administração<br />
o faça convenientemente registrar.<br />
ÚNICO. O chefe <strong>de</strong> família, ou quem<br />
suas vezes faça, que não cumpra este <strong>de</strong>ver<br />
antes <strong>de</strong> passadas 24 horas sobre a verificação<br />
do obito, attestada por medico á escolha,<br />
soffrerá pena <strong>de</strong> prisão até um mez, e multa<br />
até dois mezes.<br />
| único. A certidão <strong>de</strong> obito, passada<br />
pelo facultativo, acompanhará a participação<br />
do mesmo obito.<br />
Art. 2. c São secularisados todos os cemiterios<br />
do paiz, acabando-se por conseguinte<br />
com a odiosa distincção, post mortem, entre<br />
fieis e infiéis.<br />
| único. Aos crentes <strong>de</strong> todas as religiões<br />
será mantida a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazerem<br />
realisar as suas cerimonias cultuaes, tanto<br />
para a benção do sepulcro, como para a encommendação<br />
da alma do finado.<br />
Art. 3.° Fica revogada toda a legislação<br />
em contrario.<br />
Pasteur<br />
HELIODORO SALGADO.<br />
Finou-se este eminente homem <strong>de</strong> scíencia,<br />
um dos maiores benemeritos da humanida<strong>de</strong>,<br />
o salvador <strong>de</strong> tantas vidas, o egregio<br />
Pasteur, o ancião mais universal do mundo,<br />
cujo nome reboava em toda a parte, todas as<br />
boccas o pronunciavam, todos os corações<br />
pulsavam por elle.<br />
Gran<strong>de</strong> homem! Gran<strong>de</strong> astro da sciencia!<br />
Quantos filhos queridos salvas-te a mães<br />
extremosas, e a quantas creanças salvas-te<br />
da orphanda<strong>de</strong>!<br />
São por milhares as vidas que pelo mundo<br />
estão espalhadas e que morreriam em atrozes<br />
e dolorosas ancias e estortores, victimas<br />
da hydrophobia, envenenadas pelo terrível<br />
mal que era a morte inevitável, se não fosse<br />
o incomparável Pasteur, esse santo do século<br />
xix, que pela sua perseverança no estudo,<br />
assiduida<strong>de</strong> no trabalho, conseguiu combater<br />
o virus da raiva.<br />
A humanida<strong>de</strong> está <strong>de</strong> luto!<br />
Per<strong>de</strong>u a França um gran<strong>de</strong> homem da<br />
sciencia, um vulto proeminente.<br />
Filho d'um mo<strong>de</strong>sto curtidor <strong>de</strong> Arbois,<br />
entrou na vida tendo apenas por patrimonio<br />
a sua intelligencia excepcional, o amor ao<br />
trabalho, e a teimosia e tenacida<strong>de</strong> dos montanheses<br />
da sua província.<br />
— Ah ! — dizia-lhe ás vezes o pae — Se<br />
tu po<strong>de</strong>sses um dia vir a ser professor no<br />
coilegio <strong>de</strong> Arbois, eu seria o homem mais<br />
feliz d'este mundo!<br />
Se, já quando moravam em Dôle e que o<br />
filho tinha só dois annos, este pae se embalava<br />
em taes sonhos <strong>de</strong> futuro, que diria elle<br />
se lhe predissessem que cincoenta e oito annos<br />
<strong>de</strong>pois, na fachada da pequenina casa da rua<br />
dos Curtidores — <strong>de</strong>ante do filho vivo, coberto<br />
<strong>de</strong> honrarias, coberto <strong>de</strong> gloria, levado<br />
n^m cortejo triumphal pela cida<strong>de</strong> emban<strong>de</strong>irada<br />
—se collocaria uma placa com estas<br />
palavras escriptas em lettras d'ouro:<br />
AQUI NASCEU LUIZ PASTEUR<br />
A 29 DE DEZEMBRO DE 1822<br />
Pasteur era um patriota, e tinha o diploma<br />
<strong>de</strong> membro correspon<strong>de</strong>nte da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />
<strong>de</strong> Bonn. Por occasião da guerra <strong>de</strong> 70 os<br />
prussianos bombar<strong>de</strong>aram o Museu e o Jardim<br />
das Plantas, Pasteur, indignado, reenviára<br />
para Bonn o tal diploma. Passados dias recebia<br />
uma carta com estes dizeres:<br />
«A <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Bonn envia a mr.<br />
Pasteur a expressão do seu mais profundo<br />
<strong>de</strong>sprezo».<br />
A sua morte foi sentidissima, e os seus<br />
funeraes concorridissimos; tendo o caracter<br />
nacional.<br />
A viuva do illustre extincto participou ao<br />
governo que não po<strong>de</strong>ria acce<strong>de</strong>r á entrada<br />
do cadaver <strong>de</strong> seu marido para o Pantheon,<br />
visto que elle manifestára sempre <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong><br />
repousar junto ao seu laboratorio da rua Dutot.<br />
De toda a parte e todas as classes enviam<br />
pezames e coroas. Os funeraes realisaram-sehontem<br />
na egreja <strong>de</strong> Notre-Dame. Era<br />
çnorme a multidãoj que fazia parte do cortejo.<br />
Sciencias, lettras e artes<br />
A. GALOPE<br />
Noite.<br />
Os dois amantes, por entre o estralejante<br />
ruido <strong>de</strong> ramos quebrados e <strong>de</strong> pedras rebo<br />
lando, voavam a toda a brida.<br />
Os seus cavallos, pela encosta da serra<br />
no rápido <strong>de</strong>clive da estrada.<br />
Era vertiginosa a fuga, e, comtudo, ape<br />
zar da velocida<strong>de</strong> que levavam, nem um só<br />
instante iam calados.<br />
— Alcançar-nos-hão? dizia elle.<br />
— O que será <strong>de</strong> nós! dizia ella.<br />
— Se nos matarem tanto melhor 1<br />
— Oh! sim, que nos matem!<br />
Não, não nos matarão.<br />
— Porque?<br />
— Elles bem sabem que viver sem ti...<br />
— Que horror!. ..<br />
— Será ainda mais cruel que viver longe<br />
<strong>de</strong> ti...<br />
— Oh! morreremos juntos!<br />
— E teu marido ha <strong>de</strong> poupar-nos.<br />
— Ai <strong>de</strong> nós!<br />
— E a ti, porque te ama!<br />
— Eu <strong>de</strong>testo-o!<br />
E a mim, porque me o<strong>de</strong>ia!<br />
No meio do redrobrar da phantastica carreira<br />
calam-se um instante.<br />
— Tens a certeza, continuou ella, que nos<br />
não resta a menor esperança?<br />
— Nenhuma.<br />
— Nem um refugio ?<br />
— Nem um refugio.<br />
— E po<strong>de</strong>ríamos viver separados?<br />
— Nunca!<br />
— Pois bem, morramos!<br />
— Ah! exclama elle, é o meu ar<strong>de</strong>nte<br />
<strong>de</strong>sejo.<br />
— Escuta. Ao fim d'esta estrada...<br />
— Abre-se enorme, horrível, o abysmo.<br />
— Crava as esporas !<br />
— Sim.<br />
— Depressa... mais <strong>de</strong>pressa!,..<br />
— Sim.<br />
— E afundar-nos-hemos ambos...<br />
— Depois do teu <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iro beijo?.. .<br />
— Eil-o!<br />
— Na morte.<br />
Então o amante precipita-se com o cor<br />
cel no abysmo.<br />
Porém, ella, hábil amazona, esticando<br />
violentamente as re<strong>de</strong>as, suspen<strong>de</strong> o seu Cavallo<br />
na orla mesmo do precipício e, <strong>de</strong>bruçada,<br />
sob a si<strong>de</strong>ria reverberação das estrellas,<br />
comtempla, a sorrir, o misero que<br />
vae batendo <strong>de</strong> fraga em fraga, e que lhe<br />
esten<strong>de</strong> convulsamente os braços dilacerados<br />
CATULLE MENDES.<br />
Lourenço Marques<br />
O reinadio Ennes com o seu estado e o<br />
seu exercito está dando <strong>de</strong> si trista i<strong>de</strong>ia, pois<br />
o Gongunhana, que elle tivera na mão, passoulhe<br />
o pé e anda a urdir emboscadas ás tropas<br />
portuguezas.<br />
Não valeram <strong>de</strong> nada ao Ennes vice-rei,<br />
os presentes com que mfmoseou o soba<br />
Gongunhana, pois constava em Ressano Garcia,<br />
estação fronteira, junto á portella do Incomati,<br />
que o Gungunhana, comquanto flanqueado<br />
ao oriente pelas tropas portuguezas,<br />
procurava attrahil-as a uma bem planeada<br />
emboscada, estando para isso em communicação<br />
em Magatos, o celebre revoltoso do<br />
Transvaal, para naturalmente este lhe fornecer<br />
mantimentos e munições.<br />
Dizia-se também que o commandante Mousinho<br />
d'Albuquerque, que fôra a Manjacase,<br />
resi<strong>de</strong>ncía do Gungunhana, recebera or<strong>de</strong>m<br />
em 24 <strong>de</strong> agosto para se retirar com a sua<br />
escolta.<br />
E aqui está o esterco que está fazendo<br />
n'aquella possessão o Ennes, vice-rei — a 5o<br />
mil réis por dia!...<br />
Protestos<br />
Continuam as manifestações <strong>de</strong> protesto<br />
escripto contra a extincção' <strong>de</strong> comarcas e<br />
concelhos a que o sardanapalo do João<br />
Franco respon<strong>de</strong>, <strong>de</strong>cretando em outros districtos<br />
a annexação d'uns para outros concelhos,<br />
embora os que soflrem o golpe <strong>de</strong>struidor<br />
estejam em melhor condições económicas.<br />
Diz-se que a reforma administrativa se<br />
fizera para assegurar a maioria no parlamento<br />
e que muitos concelhos e comarcas escaparam,<br />
por se chegarem a accordo com o governo.<br />
Em quanto o povo fizer protestos em papel,<br />
hão <strong>de</strong> ir-lhe indo chegandoa roupa ao<br />
corpo — e sem dar pio.<br />
Ha protestos tão persuasivos!.,.<br />
CARTA DE LISBOA<br />
4 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 18g5<br />
Sahiu D. Carlos a viajar pelo extrangeiro<br />
e temos a regencia do reino nas mãos <strong>de</strong> D.<br />
Amélia.<br />
O jesuitismo exhulta radiante pelo seu<br />
triumpho.<br />
Ninguém como os sectários <strong>de</strong> Santo Ignacio<br />
para hábeis negociações. ..<br />
Bem achada a phrase appendice coccal,<br />
applicada pelo nosso collega da Folha do<br />
Povo á futura camara legislativa.<br />
As funcções dos dois orgãos são perfeitamente<br />
idênticas.<br />
Para dar um correctivo severo aos indígenas<br />
indianos que trucidaram os nossos officiaes<br />
em Timor, foi mandada a toda a préssa<br />
a canhoneira Bengo, guarnecida com Se praças<br />
<strong>de</strong> marinha militar!...<br />
Um vaso <strong>de</strong> guerra a esphacelar-se, com<br />
tres dúzias <strong>de</strong> homens doentes, para se baterem<br />
com a gente do regulo <strong>de</strong> Alias!...<br />
E' o cumulo da idiotice! E' mais uma<br />
<strong>de</strong>saforada sandice das muitas que formam<br />
a tristíssima historia do gabinete Fervilha<br />
& C. a ...<br />
Se não po<strong>de</strong>m luctar com os indígenas<br />
indianos ou africanos; <strong>de</strong>ixem-se ficar em<br />
casa, <strong>de</strong>ixem-nos nos seus domínios, porque<br />
aquillo é d'elles e não exponham aos olhos<br />
<strong>de</strong> extranhos essas misérias, essas vergonhas,<br />
que são o diploma da inépcia, do <strong>de</strong>sleixo, e<br />
da falta <strong>de</strong> senso commum...<br />
Se os dinheiros do paiz não chegam para<br />
mais do que para distribuir por afilhados e<br />
amigos, distribuam tudo isso a seu bel-prazer,<br />
mas não nos façam passar por mais vergonhas<br />
e aviltamentos.<br />
Façam todas as tolices, que quizerem emquanto<br />
teem tempo, porque é tal a cobardia<br />
e inércia do povo portuguez, que antevemos<br />
uma ruína inevitável e próxima.<br />
Está nos paroxismos...<br />
E'fartar, villanagem, como dizia Almeida<br />
Garrett...<br />
*<br />
•<br />
Outra: — O transporte que vae ser fretado<br />
para levar mais tropas para Timor, é o<br />
que vem trazer os expedicionários a Lisboa.<br />
De Inhambane ao mar da China o minimo<br />
tempo a gastar é <strong>de</strong> mez e meio, <strong>de</strong> fórma<br />
que só alli voltará d'aqui a mais <strong>de</strong> 3 me\es,<br />
justamente na occasião em que as paludosas<br />
mais atacam os europeus!.. .<br />
Será o tempo preciso para lá ficarem os<br />
homens da expedição dizimados pelas febres<br />
!...<br />
Não será tudo isto feito propositadamente<br />
?<br />
Se nao e parece-o...<br />
x x x i z x :<br />
No dia <strong>de</strong> sexta feira,<br />
sem barulho e sem um grito,<br />
houve na estrada da Beira<br />
escandaloso conflicto!...<br />
Da sombrinha levantada,<br />
uma dama muito a peito<br />
aggrediu á chapellada<br />
um conhecido sujeito.<br />
— «Seu patife, mariolão,»<br />
(e bordoada outra vez)<br />
— «E' p'ra não ser fanfarrão..<br />
gabar-se do que não fez.»<br />
Um policia todo lesto<br />
p'ra dama logo correu...<br />
mas o sportman fez um gesto<br />
e o policia — obe<strong>de</strong>ceu !...<br />
ARMANDO VIVALDO.<br />
IPra -Dique.<br />
Assumptos <strong>de</strong> interesse local<br />
Bispo Con<strong>de</strong><br />
No proximo numero continuaremos a anaysar<br />
a carta, que o sr. Bispo Con<strong>de</strong> dirigiu<br />
ao rei, a proposito dos acontecimentos <strong>de</strong> 3o<br />
<strong>de</strong> julho.<br />
«A União»<br />
Festejou o seu i.° anniversaric este semanario<br />
lisbonense, orgão dos panificadores<br />
portuguezes, e que tem prestado á classe<br />
relevantes serviços.<br />
Publicou um supplemento, solemnisando<br />
a entrada do 2. 0 anno <strong>de</strong> publicação, numa<br />
vistosa impressão a duas cores.<br />
Receba as nossas felicitações pelo seu<br />
anniversario e que um futuro' prospero lhe<br />
dê prosperida<strong>de</strong>s e fortuna.
X>eféivsoi4 r»o P o v o — 1.° ANNO Domingo, 6 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895— N.° 46<br />
Aulas nocturnas<br />
Para o ensino <strong>de</strong> instrucção primaria está<br />
aberta a matricula na sala da Associação dos<br />
Artistas, todos os dias, das 7 horas da noite<br />
ás 9, terminando no dia 12 do corrente.<br />
Serão admittidos os filhos <strong>de</strong> socios e<br />
outros alumnos que esses apresentem, quando<br />
no goso dos seus direitos.<br />
As aulas principiam a funccionar no<br />
dia i5.<br />
O professor d'esta escola, sr. João da<br />
Costa Mello, que é incansavel no aperfeiçoamento<br />
do ensino, e <strong>de</strong>seja dar-lhe o maior<br />
<strong>de</strong>senvolvimento tem dado todos os annos<br />
um curso <strong>de</strong> ensino para adultos, <strong>de</strong>pois da<br />
aula dos menores, o qual tem sido aproveitado<br />
com vantagem pelos poucos que alli<br />
tem ido instruir-se.<br />
Temos na classe operaria <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />
infelizmente, muitos analphabetos, que vivem<br />
na ignorancia, por seu <strong>de</strong>sleixo e incúria bem<br />
con<strong>de</strong>mnaveis, quando lhe era fácil apren<strong>de</strong>rem<br />
a ler e escrever nas aulas nocturnas da<br />
Associação dos Artistas.<br />
E não se diga que é falta <strong>de</strong> meios o que<br />
obsta a não cursarem aquella escola, nem<br />
que o trabalho lhes impe<strong>de</strong> <strong>de</strong> o fazer; porque<br />
o ensino é gratuito e as aulas <strong>de</strong> adultos<br />
principiam ás 8 horas da noite, <strong>de</strong>pois dos<br />
serões.<br />
Bom será — para beneficio proprio — que<br />
os operários analphabetos se façam matricular<br />
nas aulas <strong>de</strong> instrucção primaria da Associação<br />
dos Artistas, dando ao espirito a<br />
esmola da instrucção tão indispensável ao<br />
homem.<br />
Reitor do lyceu<br />
Tomou posse na sexta feira da reitoria do<br />
lyceu <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, o eminente homem <strong>de</strong><br />
sciencia e lente <strong>de</strong> Philosophia na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>,<br />
o sr. dr. Antonio José Gonçalves Guimarães.<br />
O sr. dr. Raymundo da Motta pediu a<br />
<strong>de</strong>missão e com isso muito lucrou aquelle<br />
instituto <strong>de</strong> ensino, que estava completamente<br />
abandonado, se não alguma coisa mais, o<br />
que se po<strong>de</strong>ria verificar proce<strong>de</strong>ndo-se a uma<br />
rigorosa syndicancia.<br />
E é o que fará o novo reitor, caracter<br />
impolluto, e honrado cidadão, que por certo<br />
não quererá ficar responsável pelo que possa<br />
ter havido <strong>de</strong> irregular e <strong>de</strong> complicado,<br />
como é notorio.<br />
Temos a certeza que s. ex. a ao tomar<br />
posse do seu cargo ha <strong>de</strong> fazer <strong>de</strong>sapparecer<br />
das pare<strong>de</strong>s dos corredores e escadas o<br />
amontoado <strong>de</strong> obscenida<strong>de</strong>s escriptas e <strong>de</strong>senhadas,<br />
que o con<strong>de</strong>mnavel <strong>de</strong>sprezo, do<br />
reitor <strong>de</strong>mittido, pelas queixas da imprensa,<br />
conservou sempre, a attestar o seu <strong>de</strong>sprendimento<br />
pelo asseio e <strong>de</strong>cencia do lyceu <strong>de</strong><br />
<strong>Coimbra</strong>, convertido em latrina publica, o<br />
que bem comprovava a sua incapacida<strong>de</strong><br />
moral.<br />
Escoles <strong>de</strong> Commercio<br />
O sr. ministro das obras publicas <strong>de</strong>sejando<br />
dar incremento ao ensino elementar<br />
do commercio, vae crear escolas em <strong>Coimbra</strong>,<br />
on<strong>de</strong> a sua falta era muito sensivel e na<br />
Figueira da Foz.<br />
O plano <strong>de</strong> organisação das nossas escolas<br />
será semelhante ao da Escola do Porto<br />
agora creada.<br />
A gran<strong>de</strong> vantagem <strong>de</strong>stas escolas, para<br />
os que se <strong>de</strong>dicam á carreira commercial é<br />
importantíssima.<br />
17 Folhetim—«Defensor do Povo»<br />
0 CORSÁRIO PORTUGUEZ<br />
ROMANCE MARÍTIMO<br />
ORIGINAL DE<br />
m u fc^mw*<br />
CAPITULO III<br />
A <strong>de</strong>spedida<br />
— Este homem, se não é tolo, é cynico;<br />
dito isto, proseguiu em voz alta :<br />
— Não sei porque vossa excellencia me<br />
faz essa <strong>de</strong>claração! No entretanto, se ama<br />
tanto a senhora D. Carlota, case com ella...<br />
D. Francisco ficou admirado, e respon<strong>de</strong>u<br />
:<br />
—Ora essa! Eu! Um fidalgo da mais nobre<br />
prosapia havia <strong>de</strong> ir casar com a filha <strong>de</strong> um<br />
beca, que tem parentes plebeus! Nada, não<br />
senhor, eu quero possuil-a, mas por outro<br />
ineio... Pois não será melhor?...<br />
—Não sei, senhor D. Francisco, não me<br />
consulte porque não lhe posso dar conselho,<br />
Os cães raivosos<br />
Não quer o sr. commissario <strong>de</strong> policia<br />
ouvir os nossos rogos, quanto a exigir dos<br />
donos dos cães o acamo e dar caça aos animaes<br />
vadios, que por ahi vagueiam pelas ruas<br />
da cida<strong>de</strong>.<br />
Se se tivessem dado provi<strong>de</strong>ncias não seria<br />
preciso que um guarda da policia fosse<br />
para Lisboa, para apresentar a exame, no<br />
instituto bactereologico, a cabeça d'um cão<br />
que havia mordido em seis pessoas, incluindo<br />
o mesmo guarda. Ignora-se se o animal estava<br />
hydrophobo.<br />
Noya lythographia<br />
O sr. Joaquim Bento La<strong>de</strong>ira, acaba <strong>de</strong><br />
montar n'esta cida<strong>de</strong> uma lythographia com<br />
machina e prélo <strong>de</strong> impressão para o serviço<br />
<strong>de</strong> lições e correlativos.<br />
Tem pessoal habilitado, dirigindo a lythographia<br />
um hábil artista <strong>de</strong> Lisboa, o que é<br />
garantia segura para a perfeição do trabalho.<br />
Foi offerecido, gratuitamente, pelo sr.<br />
Joaquim La<strong>de</strong>ira á direcção da benemerita<br />
socieda<strong>de</strong> Philantropico-aca<strong>de</strong>mica, os exemplares<br />
das lições que alli forem impressos,<br />
aos estudantes subsidiados pela Philantropica.<br />
E' um acto digno <strong>de</strong> louvor.<br />
Desastres<br />
Joaquim Bogalho, pedreiro, das Casas<br />
Novas, andava a escavar n'uma pare<strong>de</strong> da<br />
sachristia da Sé Velha, afim <strong>de</strong> abrir communicação<br />
com o claustro do edifício, on<strong>de</strong> está a<br />
imprensa da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> e que ficou agora<br />
proprieda<strong>de</strong> d'aquella egreja, como o fôra<br />
em tempos.<br />
A imprevidência do operário em collocar<br />
a escada em cima <strong>de</strong> duas pipas <strong>de</strong> cimento,<br />
vasias, e sobre ellas trabalhar no rompimento<br />
da pare<strong>de</strong>, <strong>de</strong>u logar a que as pipas não supportassem<br />
o peso, e que elle caisse da escada,<br />
soffrendo gran<strong>de</strong>s contusões nas costas.<br />
Não quiz recolher ao hospital e <strong>de</strong>pois<br />
<strong>de</strong> friccionado foi acompanhado, á noite, a<br />
casa, por dois operários que o amparavam,<br />
pois que difficilmente se arrastava.<br />
—Em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>sastres <strong>de</strong>ram entrada<br />
no hospital da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> :<br />
Joaquim Simões, das Torres, um pequenito<br />
d^ns quatro annos, a quem passou<br />
um carro <strong>de</strong> bois pela mão esquerda, esmagando-lh'a.<br />
— Maximiano Ferreira, trabalhador nas<br />
minas do Zorro, na estrada <strong>de</strong> Penacova,<br />
proximo das Torres, teve a infelicida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
fazer um golpe n'um pé, quando estava apparelhando<br />
alguma ma<strong>de</strong>ira.<br />
O ferimento foi <strong>de</strong>vido a ter-lhe escapado<br />
machado quando a partia.<br />
— Fracturou o braço esquerdo, Antonio<br />
Simões <strong>de</strong> Sousa, por se haver tombado,<br />
para o lado em que ia, a carrada <strong>de</strong> matto<br />
que uns bois puchavam ao carro. Tem algumas<br />
contusões pelo corpo, ficando maltratado.<br />
Notabilida<strong>de</strong> artística<br />
Consta-nos que o sr. Eugénio Pastor,<br />
emprezario, anda tratando <strong>de</strong> contractar o<br />
celebre trágico Novelli, que está causando o<br />
maior enthusiasmo no publico do Porto, para<br />
vir a esta cida<strong>de</strong> dar tres recitas <strong>de</strong> assignatura.<br />
Os jornaes são unanimes em lhe dirigir<br />
os maiores elogios, consi<strong>de</strong>rando o gran<strong>de</strong><br />
actor uma notabilida<strong>de</strong>.<br />
ajuda, nem favor! Eu penso porém por uma<br />
outra maneira.<br />
—Podéra não, o senhor não é nobre! Sei<br />
que ama D. A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong>, e pô<strong>de</strong> casar com ella<br />
sem prejuízo da sua nobreza, porque a não<br />
tem.<br />
Carlos pasmou em face <strong>de</strong> tamanha insolência<br />
:<br />
—Que está para ahi a dizer? Pois vossa<br />
excellencia julga que a nobreza está n'uns<br />
pergaminhos bolorentos, adquiridos como herança,<br />
sem préstimo nem merecimento?<br />
«A nobreza está nas virtu<strong>de</strong>s individuaes,<br />
na gran<strong>de</strong>za da alma e no talento, e nunca<br />
nos <strong>de</strong>vassos, ignorantes, repassados <strong>de</strong> vícios,<br />
sem crenças nem moral! Vossa excellencia<br />
insultou-me; e a não respeitar a casa<br />
on<strong>de</strong> estou, aqui mesmo lhe pediria explicações.<br />
><br />
D. Francisco era cobar<strong>de</strong> e mal educado<br />
e, ao ouvir as palavras <strong>de</strong> Carlos, disse comsigo:<br />
—Estes malditos vilões pren<strong>de</strong>m-se com<br />
tantas ninharias!... Aborrecem, porque tudo<br />
para eiles é honra! Vamos tental-o com o<br />
interesse.. . As vezes ce<strong>de</strong>m...<br />
— Senhor Carlos, proseguiu elle com o<br />
maior sangue frio, eu não quero insultal-o.<br />
Mas vamos a um accordo... Por exemplo,<br />
o senhor ama D. A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong>, e insta com ella<br />
para me facilitar uma entrevista com sua<br />
irmã... Verda<strong>de</strong> é que eu não quero casar<br />
Mestres d'ot>ras<br />
Damos hoje mais completo o resultado<br />
dos exames para mestres d'obras que se fez<br />
perante o jury, composto dos srs.: Antonio<br />
Franco Frazão, engenheiro, presi<strong>de</strong>nte; Augusto<br />
<strong>de</strong> Mattos Cid e João Antonio Máximo,<br />
conductores, vogaes.<br />
Fizeram exames recebendo approvação<br />
os concorrentes, srs:<br />
Francisco Antonio Meira, estucador.<br />
José dos Santos Marques, carpinteiro.<br />
Abilio Augusto Vieira, carpinteiro.<br />
José Pedro <strong>de</strong> Jesus, pedreiro.<br />
Joaquim Augusto La<strong>de</strong>iro, lavrante.<br />
Ficaram seis addiados, faltando um.<br />
Scena <strong>de</strong> pugilato<br />
Antes <strong>de</strong> hontem na estrada da Beira,<br />
quando um cavalheiro, muito conhecido e temido,<br />
d'esta cida<strong>de</strong>, se preparava para ir dar<br />
um passeio a cavallo, foi insultado e <strong>de</strong>pois<br />
aggredido por uma dama que usa chapéu!<br />
Um policia que estava proximo quiz pren<strong>de</strong>r<br />
a terrível senhora, mas <strong>de</strong>sistiu d'isso a<br />
um gesto do aggredido.<br />
Diz-se que razões particulares <strong>de</strong>ram causa<br />
áquella scena, que muita gente presenciou e<br />
que em <strong>Coimbra</strong> tanto se tem fallado e falia<br />
ainda.<br />
Exames<br />
O sr. Antonio Candido Leitão, filho do<br />
nosso amigo sr. José Duarte dWlmeida Lei-<br />
provado.<br />
Damos os nossos parabéns ao pae do intelligente<br />
estudante, a quem falta apenas o<br />
exame <strong>de</strong> litteratura para ter o curso completo<br />
dos lyceus.<br />
•<br />
Luiz José da Motta, filho do digno e zeloso<br />
chefe da policia d'esta cida<strong>de</strong>, Cesar José<br />
da Motta, fez exame <strong>de</strong> mathematica (4. 0 anno)<br />
ficando approvado.<br />
Ao nosso amigo os nossos parabéns sinceros<br />
pela satisfação <strong>de</strong> ver os seus esforços<br />
coroados dum tão bom êxito.<br />
•<br />
Na quinta feira fez exame, ficando approvado,<br />
o intelligente menino do nosso amigo,<br />
sr. Joaquim Monteiro <strong>de</strong> Figueiredo, digno<br />
conductor das obras da camara municipal.<br />
Recebam os paes os nossos parabéns.<br />
Apoplexia<br />
Trabalhava n'uma proprieda<strong>de</strong> proximo<br />
da cerca <strong>de</strong> Sant'Anna, João dos Santos,<br />
quando foi accommettido duma apoplexia<br />
quasi fulminante.<br />
Como não estava pessoa alguma n'aquelle<br />
local que o po<strong>de</strong>sse soccorrer, ficou estendido<br />
no chão, e só quando uma mulher que passava,<br />
<strong>de</strong>parou com aquelle horrível espectáculo<br />
e gritou por soccorro, chamando um<br />
policia, é que o infeliz foi conduzido ao hospital,<br />
morrendo pouco tempo <strong>de</strong>pois.<br />
Commemora^ão<br />
Como o anno passado a camara municipal<br />
mandou celebrar uma solemne commemoração,<br />
na capella do Cemiterio, no dia 2<br />
<strong>de</strong> novembro, consagrado á recordação dos<br />
mortos, este anno <strong>de</strong>liberou que se* fizesse<br />
egual solemnida<strong>de</strong> fúnebre.<br />
com ella, mas posso assegurar-lhe um futuro<br />
<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za...<br />
Carlos mudava <strong>de</strong> cor e tremia visivelmente;<br />
não podia porém fallar, porque a cólera<br />
tomava-lhe a voz.<br />
D. Francisco proseguiu:<br />
— Sim, senhor Carlos, posso garantir a<br />
D. Carlota um futuro brilhante, e ao senhor,<br />
em troca do serviço que me presta, uma<br />
<strong>de</strong>cidida protecção na corte, por intervenção<br />
do con<strong>de</strong> <strong>de</strong>... que é meu pae !<br />
Carlos já não podia suífocar a sua indignação.<br />
—Basta, senhor D. Francisco, basta! Não<br />
prosiga... Cale-se! disse elle avançando, com<br />
os caoellos arripiados e as feições <strong>de</strong>mudadas.<br />
Cale-se, aliás flagello-lhe essa fronte <strong>de</strong>svergonhada<br />
com um açoite!... Retire-se! porque,<br />
se receio manchar as mãos assentando-lh'as<br />
nas faces, outro tanto não succe<strong>de</strong>rá aos bicos<br />
dos meus sapatos!<br />
Ao dizer isto porém, impellido por uma<br />
potencia superior, agarrou com a força <strong>de</strong> um<br />
Hercules n'um braço do nobre fidalgo, e impeliindo-o<br />
com violência, fustigou-o com a<br />
ponta do pé<br />
D. Francisco <strong>de</strong> Sarmento era cobar<strong>de</strong>,<br />
e como tinha uma gran<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ração pelo<br />
seu aristocrático vulto, retirou-se pru<strong>de</strong>ntemente,<br />
para não irem a mais os <strong>de</strong>sacatos <strong>de</strong><br />
um plebeu. Mas aquella alma pervertida jurou<br />
Notas <strong>de</strong> carteira<br />
Regressou da Figueira da Foz, o sr. dr.<br />
Luiz dos Santos Viegas, em companhia <strong>de</strong><br />
sua ex. ma familia.<br />
O sr. José Simoes, conceituado industrial<br />
d'esta cida<strong>de</strong> também já regressou da Figueira<br />
com sua familia, on<strong>de</strong> esteve a banhos.<br />
De regresso da Figueira da Foz, já está<br />
n'esta cida<strong>de</strong> com sua familia o bemquisto<br />
industrial o sr. Antonio Marques da Silva<br />
Eloy.<br />
•<br />
Foi para a Figueira, com sua ex. ma familia,<br />
o nosso amigo o sr. Domingos Cardoso.<br />
•<br />
O sr: José Augusto Corrêa <strong>de</strong> Brito, e<br />
sua ex. ma familia foram para a bella praia da<br />
Figueira durante o mez corrente.<br />
Regressou a esta cida<strong>de</strong>, da Figueira da<br />
Foz com sua ex. ma familia on<strong>de</strong> esteve durante<br />
o mez <strong>de</strong> setembro, o sr. José Maria<br />
Casimiro d'Abreu.<br />
Está já n'esta cida<strong>de</strong> com sua ex. m * familia,<br />
<strong>de</strong> regresso <strong>de</strong> Luso on<strong>de</strong> foi passar as<br />
ferias o sr. dr. Augusto Cymbron.<br />
tão, fez exame <strong>de</strong> latim (6.° anno) ficando ap- Da Figueira da Foz, regressou a esta cida<strong>de</strong><br />
com sua ex. raa familia o sr. dr. Francisco<br />
Miranda da Costa Lobo, distincto professor<br />
<strong>de</strong> Mathematica da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>.<br />
Em companhia <strong>de</strong> suas duas extremosas<br />
filhas, regressou do Rio <strong>de</strong> Janeiro, o sr. dr.<br />
Antonio Gomes da Silva Sanches, que veio<br />
a esta cida<strong>de</strong> tratar <strong>de</strong> seus negocios.<br />
Encontra-se hospedado no acreditado —<br />
Hotel Commercio.<br />
Hospitaes da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />
Foi approvado pelo ministério do reino,<br />
o orçamento supplementar dos hospitaes da<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> para o anno economico<br />
<strong>de</strong> 1895-1896.<br />
Cemiterio da Conchada<br />
Como se vê da estatística semanal da<br />
mortalida<strong>de</strong> em <strong>Coimbra</strong>, na semana finda<br />
em 29 só se fez o seguinte enterramento :<br />
João, filho <strong>de</strong> José Pedro Cor<strong>de</strong>iro e Rosa da Conceição,<br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, com 6 ânuos <strong>de</strong> eda<strong>de</strong>. Falleceu<br />
no dia 26.<br />
A GRANEL<br />
0 sr. Ferreira d'Almeida ficou auctorisado, sob sua<br />
proposta, a mandar construir um cruzador e dois torpe<strong>de</strong>iros<br />
dalto mar. 0 couraçado será <strong>de</strong>nominado<br />
Hei <strong>de</strong> Portugal. Estes navios <strong>de</strong>verão custar 1'600<br />
contos.<br />
•<br />
Da prisão <strong>de</strong> O<strong>de</strong>ssa fugiram, uns vinte presos.<br />
Desappareceu também o director da ca<strong>de</strong>ia. Parece<br />
que auxiliou a evasão, recebendo ao que se diz, somma<br />
importantissima.<br />
•<br />
Foi adjudicado á Companhia do Papel do Prado o<br />
fornecimento <strong>de</strong> papel para sellar.<br />
vingar-se, já que a coragem lhe faltava para<br />
a <strong>de</strong>saffronta.<br />
Carlos ratirou-se, e ao chegar a bordo<br />
soube que no prazo <strong>de</strong> oito dias, <strong>de</strong>viam seguir<br />
viagem para Portugal.<br />
D. A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong> não soube do conflicto havido<br />
entre Carlos e o fidalgo; e quando elle lhe<br />
participou a sua breve partida, sofireu resignada<br />
as dores moraes, que a ausência <strong>de</strong><br />
um ente amado causa nas almas sensíveis.<br />
O dia da fatal separação chegou finalmente,<br />
e dolorosa foi a <strong>de</strong>spedida.<br />
Carlos jurou um eterno amor a D. A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong>!<br />
... Um casto beijo na fronte foi o penhor<br />
que reciprocamente trocaram. Elle parecia<br />
não po<strong>de</strong>r afastar-se da donzella, que tanto<br />
amava, mas eram duas horas da tar<strong>de</strong> e a<br />
fragata levantava ferro ás quatro.<br />
Fez um esforço sobrehumano, e o seu<br />
<strong>de</strong>ver <strong>de</strong> militar suffocou as dores que lhe<br />
atrophiavam o coração! Beijou a pela ultima<br />
vez, abraçou D. Carlota, correu como louco<br />
para o caes, e embarcou.<br />
Pobre mancebo! N'aquelle coração aon<strong>de</strong><br />
as virtu<strong>de</strong>s cívicas pollulavam e as esperanças<br />
floriam, existia a magua <strong>de</strong> uma cruel separação!<br />
A fragata ás quatro horas suspen<strong>de</strong>u ferro<br />
e partiu em gavias e joanetes; e como o vento<br />
era <strong>de</strong> feição, fendia as aguas com gran<strong>de</strong><br />
velocida<strong>de</strong>.<br />
(Continua.)
DEFENSOR r>o P o v o - 1 . ° A N N O Domingo, 6 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895—N.° 46<br />
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FAZENDAS BEANCAS<br />
DE<br />
MANUEL CARVALHO<br />
29 —Largo do Príncipe D. Carlos —31<br />
Encontra o publico o que ha <strong>de</strong> melhor era fazendas brancas e um completo<br />
sortido das recentes novida<strong>de</strong>s para a estação <strong>de</strong> verão e que esta casa<br />
ven<strong>de</strong> por preços baratíssimos.<br />
As verda<strong>de</strong>iras itiachiiias <strong>de</strong> costura<br />
para costureiras, alfaiates e sapateiros, ven<strong>de</strong>m-se no novo<br />
<strong>de</strong>posito em condições, sem duvida, mais vantajosas do Uli<br />
que em qualquer outra casa <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, Porto, ou Lisboa, apresentando sempre<br />
ao comprador um sortido <strong>de</strong> todos os mo<strong>de</strong>los que a mesma Companhia fabrica.<br />
Tendas a prestações <strong>de</strong> ãOO réis semanaes. A dinheiro,<br />
com gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>scontos.<br />
ENSINO GRÁTIS, no <strong>de</strong>posito ou em casa do comprador.<br />
Na mesma casa executa-se com a maxima perfeição qualquer concerto em<br />
machinas <strong>de</strong> costura, seja qual fôr o auctor, tendo para isso officina montada.<br />
Ao comprador <strong>de</strong> cada machina será offerecido, como brin<strong>de</strong>, um objecto<br />
<strong>de</strong> valor. Dão-se calalogos illustrados, grátis.<br />
Ven<strong>de</strong>-se oleo, agulhas, carros d'algodão, torçaes e peças soltas para todas<br />
as machinas.<br />
JOÃO RODRIGUES BRAGA<br />
SUCCESSOR<br />
17, ADRO DE CIMA, 20 — (Atraz <strong>de</strong> S. Bartholomeu)<br />
2 Armazém <strong>de</strong> fazendas <strong>de</strong> algodão, lã e seda. Vendas por junto e a retalho.<br />
Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> pannos crús. — Faz-se <strong>de</strong>sconto nas compras para<br />
reven<strong>de</strong>r.<br />
Complçto sortido <strong>de</strong> coroas e bouquets, fúnebres e <strong>de</strong> gala. Fitas <strong>de</strong><br />
faille, moiré glacé e selim, em todas as cores e larguras. Eças douradas para<br />
adultos e creanças.<br />
Continua a encarregar-se <strong>de</strong> funeraes completos, armações fúnebres e<br />
trasladações, tanto n'esta cida<strong>de</strong> como fóra.<br />
29<br />
B I C O A T J E H ,<br />
Por <strong>de</strong>spacho do meritissimo juiz presi<strong>de</strong>nte do<br />
tribunal do commercio do Porto e a requeri-<br />
mento da Empreza do BICO AUER, foram arrestados<br />
judicialmente, em casa dos srs. Nusse & Bastos,<br />
rua <strong>de</strong> Passos Manoel n.° 14 e rua d'Alegria n.° 867,<br />
daquella cida<strong>de</strong>, os bicos <strong>de</strong> contrafacção que estes<br />
srs. tentavam introduzir <strong>de</strong>baixo do nome <strong>de</strong> bico<br />
Invencível, bem como apparelhos e matérias primas<br />
que serviam para a sua fabricação.<br />
E' sabido que os arrestos judiciaes, só se con-<br />
ce<strong>de</strong>m <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> maduríssimo exame dos documentos<br />
justificativos dos direitos dos auctores, inquirição<br />
<strong>de</strong> testemunhas e <strong>de</strong>posito e avultada caução, que<br />
no caso actual, foi arbitrada em tres contos <strong>de</strong> réis.<br />
Bastará isto para esclarecer os incautos compradores<br />
<strong>de</strong> bicos <strong>de</strong> contrafacção, adquiridos baratos?<br />
Essa barateza constitue para os srs. compradores<br />
um prejuizo completo por lhes faltar fornecedor<br />
<strong>de</strong> mangas.<br />
Saiu cara, infelizmente, a economia imaginada.<br />
Venda <strong>de</strong> casas ao Calhabé<br />
Ven<strong>de</strong>m-se duas moradas <strong>de</strong> casas<br />
juntas, sitas ao Calhabé, freguezia da Sé<br />
Nova.<br />
Trata-se no estabelecimento <strong>de</strong> José<br />
Possidoniodos Reis, na Estrada da Beira.<br />
No mesmo estabelecimento se encontram<br />
á vencia todas as ferramentas para<br />
construcções <strong>de</strong> estradas e agricultura.<br />
Também se encontra um bom sortido<br />
<strong>de</strong> charruas <strong>de</strong> diversos números e fogões<br />
<strong>de</strong> vários tamanhos.<br />
Encarrega-se <strong>de</strong> toda a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
obra, pertencente a serralheria.<br />
josé rossisoszo m uns<br />
ESTRADA DA BEIRA<br />
COIMBRA<br />
ARRENDA-SE<br />
Do S. Miguel <strong>de</strong> 1895 em <strong>de</strong>ante a<br />
casa n.° 1, na rua das Colchas: tem<br />
muito boas commodida<strong>de</strong>s, e a loja n.°<br />
10 da mesma casa; a tratar com José<br />
Luiz Martins d'Araujo, na rua do Viscon<strong>de</strong><br />
da Luz, 90 a 92.<br />
Vinho <strong>de</strong> mesa sem composição<br />
14 Ven<strong>de</strong>-se no Café Commercio,<br />
rua do Viscon<strong>de</strong> da Luz, a 110<br />
e 120 o litro.<br />
Vinho do Porto, a 240 e 300 réis o<br />
litro.<br />
Gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vinho <strong>de</strong> Car-<br />
cavellos, Bucellas, Colares, etc., cognac<br />
Martell legitimo, e muitas outras bebidas<br />
tanto estrangeiras como nacionaes. Preços<br />
excessivamente baratos.<br />
Deposito <strong>de</strong> enxofre e sulphato <strong>de</strong><br />
cobre, cora gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconto para reven<strong>de</strong>r.<br />
Pulverisadores Fígaro pelos preços<br />
do Porto, sem <strong>de</strong>speza <strong>de</strong> transporte,<br />
Encontra-se na mercearia do proprietário<br />
do mesmo Café, rua do Corvo, n. 08<br />
9 e 11.<br />
A. Marques da Silva.<br />
16<br />
Pftw m m\<br />
CÀSSLUIBSIfiO<br />
Escadas <strong>de</strong> S. Thiago n.° 2<br />
COIMBRA<br />
Ciran<strong>de</strong> sortimento <strong>de</strong> cabelleiras<br />
para anjos, thealros, etc.<br />
COMPANHIA DE SEGUROS<br />
FIDELIDADE<br />
FUNDADA EM 1835<br />
SEDE EM LISBOA<br />
Capital réis 1.344:000^000<br />
Fundo <strong>de</strong> reserva 203:000$000<br />
10 Es*» companhia, a mais po<strong>de</strong>rosa<br />
<strong>de</strong> Portugal, toma seguros contra<br />
o risco <strong>de</strong> fogo ou raio, sobre prédios,<br />
mobílias ou estabelecimentos, assim<br />
como seguros marítimos. Agente em<br />
<strong>Coimbra</strong>—Basilio Augusto Xavier <strong>de</strong><br />
Andra<strong>de</strong>, rua Martins <strong>de</strong> Carvalho, n.°<br />
<strong>45</strong>, ou na do Viscon<strong>de</strong> da Luz, n.° 86.<br />
VIOLEIRO<br />
Augusto Nunes dos Santos, (successor<br />
<strong>de</strong> Antonio dos Santos), premiado<br />
na exposição districtal <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> em<br />
1884 com a medalha <strong>de</strong> prata, e na <strong>de</strong><br />
Lisboa <strong>de</strong> 1890.<br />
Com officina mais acreditada d'esta<br />
arte participa que faz toda a qualida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> instrumentos <strong>de</strong> corda concernente á<br />
sua arte; assim como os concertos com<br />
a maxima perfeição, como tem provado<br />
lia muitos annos.<br />
lambera ven<strong>de</strong> cordas <strong>de</strong> todas as<br />
qualida<strong>de</strong>s.<br />
Preços muito resumidos.<br />
Rua Direita, 16 e 18 —<strong>Coimbra</strong>.<br />
JLHETES DE VISIíí<br />
Impressões rapidas<br />
Typos mo<strong>de</strong>rnos e preços diversos<br />
Typ. Operaria * <strong>Coimbra</strong><br />
100, Rua Ferreira Borges, 100<br />
31 Pasta para rolos <strong>de</strong> im-<br />
prensa <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong> e preço<br />
raodico.<br />
Armai <strong>de</strong> diversos systemas,<br />
revolvers e munições <strong>de</strong> caça.<br />
Faqueiros e colheres d'electro<br />
pinte, qualida<strong>de</strong> garantida.<br />
Tinta e tella para pintura a<br />
oleo, pincéis e artigos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho.<br />
Mallus para viagem, carteiras<br />
e sarças <strong>de</strong> mão para senhora.<br />
Oleados <strong>de</strong> borracha para<br />
cama e outras qualida<strong>de</strong>s para mesa e<br />
forrar casas.<br />
Transparentes e stores <strong>de</strong><br />
ma<strong>de</strong>ira, rolos authomaticos para os<br />
mesmos.<br />
Perfumaria ingleza e sabonetes,<br />
pó d'arroz, pentes e escovas.<br />
Dentifrico do dr. Kousset,<br />
pó, para <strong>de</strong>ntes da socieda<strong>de</strong> hygienica.<br />
Bensolina para tirar nodoas,<br />
o melhor preparado, não prejudica a roupa.<br />
Lunetas, binoculos, brinquedos para<br />
creança, capachos d'arame e gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong><br />
em miu<strong>de</strong>zas.<br />
RUA SÁ DA BANDEIRA<br />
COIMBRA<br />
Director—ALBERTO PESSOA<br />
Bacharel formado em philosophia<br />
Este novo collegio d'ensino primário<br />
e secundário, on<strong>de</strong> se admittem alumnos<br />
internos, semi-internos e externos, abrirse-ha<br />
no dia 14 d'outubro prós imo.<br />
A relação do pessoal doceote, o regulamento<br />
da Escola, e quaesquer informações<br />
po<strong>de</strong>m ser pedidas ao director.<br />
PADARIA<br />
Arrenda-se uma padaria na rua das<br />
Sollas n.° 40, um dos melhores sitios <strong>de</strong><br />
<strong>Coimbra</strong> para aquelle negocio.<br />
Para tractar Praça do Commercio 92<br />
AOS PH0T06RAPH0S<br />
2 — R. do Viscon<strong>de</strong> da Luz — 6<br />
Ha sempre um bom sortido <strong>de</strong> artigos<br />
para pbotographia, que ven<strong>de</strong><br />
por preços commodos.<br />
COLLECÇÃO PAULO DE KOCK<br />
Obras publicadas<br />
O Coitadinho, 1 vol. 480 pag 600<br />
Zizina, 1. vol. illustrado 600<br />
O Homem dos Tres Calções, 1 vol.<br />
illustrado '. 600<br />
Irmão Jaçques, 2 vol. illustrados.. 800<br />
No prelo<br />
A Irmã Anna, 2 vol.<br />
Para qualquer d'estas obras acceitam-se<br />
assignaturas em <strong>Coimbra</strong> na<br />
Agencia <strong>de</strong> Hegocios Universitários<br />
<strong>de</strong> A. <strong>de</strong> Paula e Silva, rua do Infante<br />
D. Augusto.<br />
Toda a correspondência a José Cunha,<br />
T. <strong>de</strong> S. Sebastião, 3.—Lisboa.<br />
LOJA DA CHINA<br />
Chás pretos e ver<strong>de</strong>s<br />
Especialida<strong>de</strong>s<br />
Rua Ferreira Borges, 5<br />
Completo sortido <strong>de</strong> productos para<br />
sopas, molhos, pimentinhos do Brazil,<br />
cacau Van Ilouterfs e Epps com e sem leite,<br />
farinha imperial chineza, conservas da<br />
fabrica <strong>de</strong> Antonio Rodrigues Pinto, leques,<br />
ventarolas, crepons, abat-jours a<br />
40 réis, novida<strong>de</strong>, latinhas para chá e<br />
café, etc., etc.<br />
Introducção e Hflathematica<br />
LUIZ MARIA ROSETTE,<br />
alumno da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, continua<br />
a leccionar estas disciplinas.<br />
Praça S <strong>de</strong> Maio, n.° 39-1.°<br />
Deposito da Fabrica Nacional<br />
DE<br />
DE<br />
josé mnm n c m s sira<br />
COIMBRA<br />
128 —RDA FERREIRA BORGES —130<br />
HT'este <strong>de</strong>posito, regularmente montado, se acham á venda por junto e a<br />
retalho, todos os productos d'aquella fabrica a mais antiga <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />
on<strong>de</strong> se recebem quaesquer encommendas pelos preços e condições eguaes aos<br />
da fabrica.<br />
Publica-se ás quintas feiras e domingos 2 D O<br />
I D E F E I T S O E z JORNAL REPUBLICANO<br />
EDITOR — Adolpho da Costa Marques<br />
Redacção e administração—Largo da Freiria, 14, proximo á rua dos Sapateiros<br />
Anno . .<br />
Semestre .<br />
Trimestre.<br />
Com estampilha<br />
CONDIÇOES DE ASSIGNATURA<br />
(PAGA ADIANTADA)<br />
2$700<br />
1$350<br />
680<br />
Anno . .<br />
Semestre .<br />
Trimestre.<br />
Sem estampilha<br />
2$400<br />
1$200<br />
600<br />
AUnHUflíCIOS: — Cada linha, 40 réis; repetição, 20 réis; contracto<br />
especial para annuncios permanentes.<br />
LIVftOS: — Annunciamse gratuitamente quando se receba um<br />
exemplar.<br />
Impresso na Typographia Operaria — <strong>Coimbra</strong>
A N N O 1.<br />
Defen<br />
OS ÚLTIMOS RECURSOS<br />
A VÍAGEM DO REI<br />
El-rei D. Carlos <strong>de</strong> Bragança e os seus<br />
ministros esgotaram já lodos os recursos,<br />
ainda os mais extraordinários e <strong>de</strong>sesperados<br />
esforços para escorar o arruinado tlirono<br />
e as <strong>de</strong>smanlelladas instituições da velha<br />
monarchia, para sustentar, por mais<br />
algum tempo, a vida altribulada, arrastar,<br />
envolvida na mortalha <strong>de</strong> um absolutismo,<br />
torpemente restaurado, a existência, artificial<br />
e miserável, da realeza constitucional<br />
agonisante.<br />
Escandalosos abusos, illegalida<strong>de</strong>s monstruosas,<br />
atrozes e revoltantes violências,<br />
barbaras expoliações têm sido por elles postas<br />
em pratica.<br />
De tudo têm lançado mão; a tudo quanto<br />
ha <strong>de</strong> mais insolente e oppressivo, <strong>de</strong> baixo<br />
e ignóbil, injusto, immoral e perverso têm<br />
recorrido o rei <strong>de</strong> Portugal e os seus ministros,<br />
validos ineptos e maus, que entrincheirando-se<br />
na mais odiosa das dicladuras<br />
liberticidas, aleivosamente sacrificam os sagrados<br />
direitos do Povo aos privilégios caducos<br />
e ás prerogalivas obsoletas e prescriplas<br />
da realeza, os interesses da Nação, o<br />
bem estar e a honra da Patria ás conveniências<br />
pessoaes, ás vaida<strong>de</strong>s impostoras e ás<br />
arrogancias balofas <strong>de</strong> uma dynastia <strong>de</strong><br />
pérfidos e ambiciosos velhacos, <strong>de</strong> especuladores<br />
impudicos.<br />
•<br />
Ao mesmo tempo que o rei e os seus<br />
ministros veem esgotados lodos os seus recursos,<br />
baldados lodos os seus esforços<br />
para inteiramente escravisar o Povo e subjugar<br />
a Nação, veem lambem e, se não veem,<br />
presenlem que a paciência popular se vae<br />
esgotando, e que essa especie <strong>de</strong> resignação<br />
nacional, <strong>de</strong> que se têm prevalecido e <strong>de</strong> que<br />
tanto alar<strong>de</strong>iam e mofam, está prestes a<br />
<strong>de</strong>sapparecer, e a ser substituída pela mais<br />
legitima e severa das reivindicações.<br />
Sim. Não tendará que o Povo <strong>de</strong>veras<br />
se insurja, e erga a toda a allura da dignida<strong>de</strong><br />
nacional, a toda a nobre gran<strong>de</strong>za do<br />
seu brioso e tradicional civismo, para,<br />
obe<strong>de</strong>cendo aos impulsos da consciência pu-<br />
blicajuslamenle indignada por tantas affrotilas,<br />
por tantos <strong>de</strong>sastres criminosamente<br />
promovidos e infamemente realisados pelos<br />
governos da monarchia oppressora, castigar<br />
como é justo e elles merecem, os traiçoeiros<br />
causadores da sua mina, os infames promotores<br />
das suas <strong>de</strong>sgraças e humilhações.<br />
Sim. Não tardará que o Povo se levante<br />
para recuperar a sua soberania usurpada,<br />
para rehaver as suas liberda<strong>de</strong>s tão<br />
aleivosamente, primeiro, amesquinhadas e,<br />
por fim, quasi totalmente suppnmidas.<br />
O Povo não tardará em <strong>de</strong>spedaçar o<br />
cadaver do absolutismo galvanisado; em<br />
lançar por terra e polverisar o carunchoso<br />
throno, no qual se assenlára D. Miguel;<br />
em esmagar e exterminar a reacção, favorecida<br />
e em nossos dias reanimada pela<br />
protecção do rei, avigorada nas suas forças,<br />
cada vez mais ousada nas suas diabólicas<br />
preterições <strong>de</strong> retrocesso pelo apoio, occulto<br />
e ostensivo, que lhe dispensam os ministros<br />
e conselheiros da corôa.<br />
Não tardará que o Povo se levante, se<br />
tanlo fôr preciso com as armas na mão, para<br />
recuperar as liberda<strong>de</strong>s e as franquias municipaes,<br />
<strong>de</strong>spoticamente arrancadas pelapre^<br />
potencia governamental <strong>de</strong> uma concentradora<br />
dictadura, a mais ousada e insolente<br />
<strong>de</strong> quantas a nossa historia constitucional<br />
legisla.<br />
A revolução, a revolução popular armada,<br />
a revolução reivindicadora, a revolução<br />
fulminante, a revolução republicana!<br />
Eis a terrível ameaça, eis o perigo imminente<br />
que impen<strong>de</strong> sobre a pessoa do<br />
rei, que para a revolução nunca foi sagrado<br />
nem inviolável, e sobre os seus ministros.<br />
E' essa a terrível ameaça, o perigo imminente,<br />
que dia e noite os sobresalla e<br />
atormenta, vendo fugir-lhes <strong>de</strong>baixo dos<br />
pés o solo da patria, faltar-lhes o ar, apagar-se-lhes<br />
a luz, como aquelles que se <strong>de</strong>batem<br />
nas vascas angustiosas <strong>de</strong> uma triste<br />
e vergonhosa morte.<br />
Elles, rei e ministros, já não têm, fallam-lhes<br />
inteiramente as sympathias, a confiança,<br />
o respeito e. até, o medo, o terror<br />
dos povos.<br />
Para elles só existe o mais cruel e affronloso<br />
dos sentimentos — a indifferença.<br />
Dentro em pouco, irromperão, em explosões<br />
tremendas, as manifestações do odio,<br />
tanto mais fundo e impetuoso, quanto mais<br />
abafado e comprimido; virão as justas rivindicações<br />
da vingança, tanto mais severa e<br />
inflexível, quanto mais justificada e legitima.<br />
Sim, a revolução contra a monarchia,<br />
a revolução contra a dictadura absolutista,<br />
contra a reacção, a revolução para vingar<br />
tantas affronlas, para reparar tantos damnos<br />
e prejuízos nacionaes, vae rebentar em<br />
todo o paiz, congregar, amotinarem em um<br />
í-ó grilo <strong>de</strong> guerra, em um sobrado <strong>de</strong> extermínio<br />
as multidões nas cida<strong>de</strong>s e nos campos;<br />
e ao fogo e aos golpes da revolução,<br />
libertadora e vingadora, cairá o Ihrono, fundir-se-hão<br />
os diamantes da corôa, feito em<br />
liras, será reduzida a cinzas o velho e rôlo<br />
manto da realeza, gasta e prostituída capa<br />
<strong>de</strong> tantas iniquida<strong>de</strong>s.<br />
E' o mêdo á revolução, o terror da vingança<br />
que obrigam, dizem, el-rei, o sr.<br />
D. Carlos <strong>de</strong> Bragança, por conselho dos<br />
seus ministros a ir ao extrangeiro mendigar<br />
o barbaro e repugnantíssimo expediente<br />
d'uma intervenção politica, armada,<br />
se tanlo fôr preciso, para conter a revolução<br />
. - .<br />
Eis o seu ultimo recurso!<br />
v<br />
Eleições<br />
A comedia que o governo vae pôr em<br />
scena, escolhendo <strong>de</strong>putados a geito que o<br />
absolvam dos seus crimes, está marcada para<br />
jo <strong>de</strong> novembro.<br />
Não inspira este acto o menor interesse<br />
ao paiz, que ficará indifferente perante a infamia<br />
do governo: coarctar a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
voto ao povo, para se livrar <strong>de</strong> que a urna<br />
proteste contra os seus actos <strong>de</strong> puro absolutismo.<br />
Já se sabe o que ha <strong>de</strong> ser o parlamento<br />
da próxima legislatura:—uma manada <strong>de</strong> carneiros,<br />
mettidos no redil, ás or<strong>de</strong>ns do cacete<br />
do pastor.<br />
E todos a estrumar...<br />
•<br />
Por um <strong>de</strong>creto no Diário do Governo a<br />
eleição das camaras municipaes será feitas<br />
no dia 8 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro proximo, e a das juntas<br />
<strong>de</strong> parochias no dia 22 do mesmo mez,<br />
as quaes corporações hão <strong>de</strong> servir no triennio<br />
<strong>de</strong> 1896-1897, fazendo-se no terceiro domingo<br />
do mez <strong>de</strong> janeiro, do anno proximo,<br />
a eleição das commissões districtaes.<br />
«As Novida<strong>de</strong>s»<br />
Assumiu á direcção d'este jornal o sr.<br />
Emygdio Navarro, pela saida do sr. Barbosa<br />
Golen.<br />
Parece que a substituição é motivada pela<br />
exigencia do sr. João Franco, que se <strong>de</strong>sgostava<br />
da <strong>de</strong>feza, que alli se fazia ao governo.<br />
E' preciso fazer a vonta<strong>de</strong> ao tio ministro,<br />
porque — quem dá.,,<br />
Povo<br />
COIMBRA —Quinta feira, 10 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895<br />
.A.S E L E I Ç Õ E S<br />
Essa reforma eleitoral, que para ahi está,<br />
tem a única vantagem <strong>de</strong> garantir aos nossos<br />
preclaros governantes a approvação <strong>de</strong><br />
todas as reformas, por mais injustas, immoraes<br />
e anti-patrioticas que sejam.<br />
Embora as eleições entre nós fossem uma<br />
comedia ignóbil, uma perfeita burla, em todo<br />
o caso, apezar <strong>de</strong> todas as falsificações e<br />
chapeladas, os republicanos sempre conse-<br />
guiam fazer eccoar no seio do parlamento a<br />
voz altiva e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte das gran<strong>de</strong>s reclamações<br />
populares, e os progressistas sempre<br />
po<strong>de</strong>riam fazer recuar o gabinete n'um ou<br />
outro acto, valenao-se da sua força numérica,<br />
o que ás vezes fazia abortar uma votação favoravel<br />
ao governo.<br />
Comquanto os governos dispozessem <strong>de</strong><br />
gran<strong>de</strong>s maiorias, na maior parte dos seus<br />
membros ignorantes, capazes <strong>de</strong> votar tudo<br />
quer bom ou mau, o pesa<strong>de</strong>llo constante <strong>de</strong><br />
todos os governos era ainda assim o parlamento;<br />
temiam, apezar <strong>de</strong> toda a sua coragem<br />
e força, a fiscalisação constante das opposições<br />
parlamentares.<br />
Foi esta a razão principal por que o actual<br />
governo inaugurou, logo <strong>de</strong> principio, a mais<br />
odiosa das dictaduras, e reformou a camara<br />
dos pares, tornando-a um corpo conservador<br />
e palaciano ao serviço d'elle e da corôa.<br />
Quando porém precisava <strong>de</strong> que o bill <strong>de</strong><br />
in<strong>de</strong>mnida<strong>de</strong> fosse votado, e que a força das<br />
circumstancias tornou impreterível a convocação<br />
dos collegios eleitoraes, saiu-se d'esta<br />
dificulda<strong>de</strong> publicando uma reforma, que<br />
converte a representação nacional em um joguete<br />
nas mãos, pouco escrupulosas, dos ministros<br />
do rei, dos partidarios da corrupção<br />
e do absolutismo.<br />
Alguns monarchicos, os progressistas por<br />
exemplo, procuram attenuar as responsabilida<strong>de</strong>s<br />
da corôa n^sla <strong>de</strong>gringola<strong>de</strong> politica,<br />
economica, financeira, administrativa, etc.<br />
Ora como o rei em tudo tem consentido,<br />
e dá o seu mais <strong>de</strong>cidido apoio a João<br />
Franco e illustres collegas, é culpado, mais<br />
que culpado, é o primeiro responsável.<br />
Quando em 1826 os esforços dos reaccionários<br />
e jesuítas fizeram substituir a constituição<br />
liberal e <strong>de</strong>mocratica <strong>de</strong> 1822 por um<br />
codigo <strong>de</strong> leis um pouco mais reaccionário e<br />
retrogrado, os liberaes queixaram-se energicamente,<br />
e protestaram por todo o paiz.<br />
Hoje, passados 70 annos, o codigo <strong>de</strong><br />
leis, que para aquelles tempos era consi<strong>de</strong>rado<br />
retrogrado, é pelos nossos legisladores<br />
d'hoje consi<strong>de</strong>rado liberal <strong>de</strong> mais, prejudicialissimo<br />
para a or<strong>de</strong>m interna do paiz e<br />
tranquilida<strong>de</strong> social!<br />
Os nossos protestos limitaram-se á lucta<br />
pela imprensa, a comícios e reuniões, á vista<br />
da auctorida<strong>de</strong>; e, por isso nenhum resultado<br />
proveitoso <strong>de</strong>ram.<br />
Nós só confiamos em protestos que cheirem<br />
a fumo e a polvora.<br />
D'outros protestos estamos fartos até aos<br />
olhos, e até já cheiram mal.<br />
Premio <strong>de</strong> consolação<br />
O sr. dr. Cabral Moncada, a rica prenda<br />
do procurador régio na Boa Hora, que tantos<br />
serviços tem prestado aos gatunos <strong>de</strong> alta<br />
gerarchia, pentea-se para procurador geral da<br />
corôa, e o governo não está fóra d'isso, porque<br />
é homem com quem se pô<strong>de</strong> contar.<br />
Elle bem procura coisa que faça papo e<br />
o tire da piolheira do tribunal.<br />
O que não procura é o processo nyasseiro,<br />
que o tem a sete chaves, porque accusa<br />
<strong>de</strong> larapios a conhecida firma Arroyo, Centeno<br />
& C. a !<br />
E' <strong>de</strong> bom coracão.<br />
><br />
MM<br />
Movimento republicano<br />
Vae fundar-se em Belmonte um centro<br />
republicano, ao qual presidirá o sr. Antonio<br />
Vaz Barreiros.<br />
•<br />
Em Coura, vae brevemente começar-se a<br />
publicar um jornal republicano.<br />
•<br />
Vae apparecer em Lisboa um novo diário<br />
republicano que será intitulado o Debate, em<br />
substituição da Batalha, <strong>de</strong>baixo da direcção<br />
do ar. Feio Terenas.<br />
Sciencias, lettras e artes<br />
0 CASAMENTO DO PAPAGAIO<br />
PAULO BOUHOMME<br />
VERSÃO LIVRE<br />
CONTO<br />
D'esta vez, Octavia, já não posso mais!...<br />
Dá-me d'ahi os meus sapatos, o meu casaco<br />
e o meu chapéu,.. Vou procurar o commissario<br />
<strong>de</strong> policia !.. .<br />
Quem fazia esta <strong>de</strong>claração com um gesto<br />
exasperado e entrando como um furacão no<br />
quarto da mulher, era o sr. Galoubet, advogado<br />
nos auditorios <strong>de</strong> Paris. Tinha <strong>de</strong> pé<br />
os últimos cabellos que povoavam o seu craneo<br />
luzidio, tremulas as mãos, injectados os<br />
olhos.<br />
— Não; não ha memoria, continuou elle,<br />
d'um animal tão <strong>de</strong>sastrosamente insupportavel.<br />
Já cinco vezes, ouves tu, cinco vezes,<br />
principiei a <strong>de</strong>corar o meu discurso e, por<br />
causa d^sse maldito papagaio, não fui capaz<br />
ainda <strong>de</strong> reter uma palavra !<br />
— Então, menino, socega! implorou a sr. a<br />
Galoubet, uma boa burgueza fresca como<br />
uma papoula com a sua touca matutina.<br />
Pó<strong>de</strong>s ter a certeza <strong>de</strong> que te faz mal essa<br />
zanga!<br />
— Pouco me importa ! respon<strong>de</strong>u o advogado<br />
com um tom furibundo. Ou me livram<br />
d'esse papagaio; ou eu faço por ahi alguma<br />
<strong>de</strong>sgraça, estrangulo-o !...<br />
Nervosamente, apertou o casaco, calçou<br />
os sapatos, pôz o chapéu na cabeça e, batendo<br />
muito com os tacões, dirigiu-se para a<br />
porta.<br />
— Pelo amor <strong>de</strong> Deus não vás, murmurou<br />
a mulher, juntando as mãos. Ao menos,<br />
meu amigo, domina-te na presença do sr.<br />
commissario. Não te <strong>de</strong>ixes arrebatar pelo<br />
teu génio impetuoso !. ..<br />
Honorina, a filha, também interveio, mas<br />
nada conseguiu. A única resposta do advogado<br />
foi fechar bruscamente a porta, <strong>de</strong>scer<br />
precipitadamente as escadas e subir a rua, a<br />
caminho do commissariado.<br />
Os donos do papagaio eram uns ven<strong>de</strong>dores<br />
<strong>de</strong> calçado que moravam no fundo do<br />
pateo, em frente do gabinete <strong>de</strong> trabalho do<br />
sr. Galoubet. O animalejo soltava a todo<br />
o instante gritos agudos, lancinantes, os <strong>de</strong>sagradaveis<br />
gritos d\im papagaio que parece<br />
ter prazer em exasperar a paciência <strong>de</strong> quem<br />
o ouve. Por varias vezes o sr. Galoubet<br />
tentou enten<strong>de</strong>r-se com os donos da prenda,<br />
mas nunca pou<strong>de</strong> conseguir a suppressão nem<br />
mesmo o affastamento do irritante animal.<br />
Como contava que tinha por seu lado toda<br />
a justiça, o sr. Galoubet resolvera-se por fim<br />
a expor a sua queixa no commissariado, muito<br />
longe <strong>de</strong> suppôr que o esperava uma tremenda<br />
<strong>de</strong>cepção. O grave magistrado policial <strong>de</strong>clarou<br />
que o mal não tinha remedio:<br />
— O papagaio grita <strong>de</strong>pois das <strong>de</strong>z horas<br />
da noute?<br />
Perguntou elle.<br />
— Não, senhor, respon<strong>de</strong>u consternadíssimo<br />
o advogado, mas juro-lhe que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as<br />
seis horas da manhã até ás seis da tar<strong>de</strong>, o<br />
maldito não se cala um instante.<br />
O commissario fez com os braços um<br />
gesto <strong>de</strong>monstrativo da sua incompetência<br />
no assumpto e concluiu :<br />
— Des<strong>de</strong> o momento em que o barulho<br />
é <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> casa e antes das <strong>de</strong>z horas da<br />
noite, nada posso fazer.<br />
O rosto do sr. Galoubet congestionou-se.<br />
— Mas então, senhor, chamo aos tribunaes<br />
o meu visinho! exclamou elle, porque<br />
eu preso-me <strong>de</strong> conhecer a lei!<br />
— Perfeitamente, opinou o commissario,<br />
chame-o aos tribunaes.<br />
— Assim o farei e vou immediatamente<br />
a casa d'um procurador!<br />
— Está no seu direito.<br />
E, comprimentando o commissario, Galoubet<br />
sahiu todo nervoso.<br />
A família esperava-o com impaciência.<br />
A primeira pessoa que lhe sahiu ao encontro<br />
foi a filha.<br />
Então ? perguntou ella, que disse o commissario<br />
?<br />
E logo em seguida a mãe :<br />
— Então sempre nos veremos livres do<br />
papagaio ?<br />
— Parece que sim, soprou o sr. Galoubet,<br />
limpando a testa coberta <strong>de</strong> suor. O papa»
I> KFENSOK DO Povo — 1 ° ANNO<br />
gaio ha <strong>de</strong> <strong>de</strong>sapparecer, mas pelos meios<br />
legaes...<br />
As duas mulheres soltaram um suspiro<br />
<strong>de</strong> allivio.<br />
— E o commissario vem ahi?, perguntou<br />
a filha.<br />
— Não, respon<strong>de</strong>u gravemente o sr. Galoubet,<br />
quem tem <strong>de</strong> vir é um procurador.<br />
— Um procurador ? perguntaram espantadas<br />
as duas mulheres.<br />
— Tal e qual. Resta-me o serviço <strong>de</strong><br />
constatar <strong>de</strong> auditu a barulheira que faz esse<br />
maldito.<br />
Ouviu-se um brusco toque <strong>de</strong> campainha.<br />
A creada foi abrir a momentos appareceu<br />
um homem ainda novo, alto, magro, quasi<br />
elegante. Era o procurador Rapinault, successor<br />
<strong>de</strong> seu pae.<br />
Feitos os comprimentos do estylo, disselhe<br />
o sr. Galoubet, com o mais amavel dos<br />
sorrisos:<br />
— Vamos para o gabinete; não ha<strong>de</strong> estar<br />
lá muito tempo para constatar...<br />
(Continua.)<br />
n D e c l a , r a , ç a , o<br />
Em advertencia aos reparos <strong>de</strong>spertados<br />
pela fórma inverosímil, como se encontra<br />
restaurado o tumulo do bispo D. Estevão<br />
Annes, na egreja da SéYelba, <strong>de</strong>claro:<br />
— que nenhuma especie <strong>de</strong> cooperação<br />
prestei a essa obra; e que os trabalhos alli<br />
realisados <strong>de</strong>s<strong>de</strong> princípios <strong>de</strong> julho ultimo<br />
são da livre iniciativa e exclusiva responsabilida<strong>de</strong><br />
da direcção lechnica.<br />
Em quanto as criticas se exerceram em<br />
família, entendi manler-me em paciente e<br />
generoso silencio, aguardando a cada momento<br />
uma reconsi<strong>de</strong>ração que se me afigurava<br />
necessaria; agora, porém que as<br />
censuras se estão repercutindo nos jornaes<br />
<strong>de</strong> fóra <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, seria incomprehendida<br />
e inadmissível essa altitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> cumplicida<strong>de</strong>.<br />
, O resto virá a seu tempo.<br />
<strong>Coimbra</strong>, — X — 95.<br />
Fogo <strong>de</strong> vistas<br />
A. GONÇALVES.<br />
Os ministeriaes <strong>de</strong>itam fogo porque as<br />
receitas aduaneiras do mez <strong>de</strong> setembro findo,<br />
comparadas com as do mesmo mez do anno<br />
<strong>de</strong> 1895, dão um augmento <strong>de</strong> 2i5 contos!<br />
De matar o <strong>de</strong>ficit!<br />
Ora um paiz importador nunca pô<strong>de</strong> prosperar,<br />
pois que vae ao extrangeiro comprar<br />
os artigos manufactureiros para os ven<strong>de</strong>r<br />
nos seus estabelecimentos.<br />
Entram contos <strong>de</strong> réis para os cofres das<br />
alfan<strong>de</strong>gas; mas saem barra fóra milhares <strong>de</strong><br />
libras que o commercio envia para as casas<br />
commerciaes extrangeiras!<br />
On<strong>de</strong> estão as prosperida<strong>de</strong>s?<br />
Santas almas!<br />
O rev. José Lopes, parocho encommendado<br />
da freguezia <strong>de</strong> Ratos, do concelho <strong>de</strong><br />
Povoa do Varzim, foi pronunciado, com<br />
admissão <strong>de</strong> fiança, por insultar o sr. José<br />
da Silva da mesma freguezia, que havia instaurado<br />
um processo contra uma sua irmã.<br />
Vê-se que o padre e a mana são almas<br />
en<strong>de</strong>moninhadas, e que um e outro não cumprem<br />
o preceito evangelico — Amar o proximo<br />
como a nós mesmo.<br />
Que o sr. juiz lh'o ensine, applicando-lhes,<br />
o castigo que a lei estabelece para quem não<br />
respeita a sua posição e dá escandalo publico.<br />
Se é verda<strong>de</strong>iro o boato,<br />
o paiz 'stá arranjado;<br />
que el-rei fizera o contracto,<br />
ir-nos a Hespanha ao costado!<br />
Isso é historia ó invento,<br />
(palavras do meu compadre)<br />
quem faz O levantamento<br />
son las ninas <strong>de</strong> su madre!...<br />
-jm^<br />
E' laracha, são graçolas!<br />
Se el-rei fez cambalachos<br />
d'accordo — foi co'as hespanholas.<br />
pois já não gosta dos machos.<br />
—<br />
Não passa <strong>de</strong> patarata<br />
(digo-te aqui em segredo)<br />
em D. Carlos —é bravata.<br />
Sabes tu?—quem tem... tem medo!...<br />
Fra-Diaue»<br />
O ELEVADOR<br />
Tem sido incansavel o concessionário do<br />
elevador, sr. Raul Mesnier Ponsard, no trabalho<br />
insano <strong>de</strong> promover a subscripção <strong>de</strong><br />
acções para a realisação d'este utilíssimo<br />
melhoramento.<br />
No entanto os habitantes <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
não têm correspondido até hoje, como se<br />
esperava, aos esforços da empreza, mostrando,<br />
os que melhor podiam prestar o seu<br />
auxilio monetário, uma bem injusta indifferença<br />
pelo elevador.<br />
E' a má sorte que persegue esta cida<strong>de</strong>,<br />
a quem a politica tem prejudicado nos seus<br />
mais altos interesses, se bem que os seus<br />
habitantes muito têm contribuído para a situação<br />
<strong>de</strong>sgraçada em que se vive, pois não<br />
apparece urna iniciativa particular, nem official,<br />
dando-nos a cida<strong>de</strong> da Figueira da Foz,<br />
exemplos bem frizantes do quanto trabalha<br />
para o progresso e <strong>de</strong>senvolvimento da sua<br />
terra.<br />
Subscriptores <strong>de</strong> 10 a 501000 réis<br />
A. Armando da Silva, (Lisboa).<br />
Abel Augusto Campos <strong>de</strong> Paiva, (Lisboa).<br />
A<strong>de</strong>lino Augusto Ferrão Castello Branco<br />
Adriano Murteira<br />
Adrião Forjaz<br />
Agostinho R. <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong><br />
Albano Gomes Paes<br />
Alberto Vianna<br />
Alberto Pessoa<br />
Alberto Carlos <strong>de</strong> Moura<br />
Albino dos Santos Nogueira Lobo<br />
Antonio José Dantas Guimarães<br />
Antonio Julio <strong>de</strong> Campos<br />
Antonio Maria Antunes<br />
Antonio Maria <strong>de</strong> Oliveira e Silva, (Montemor)<br />
D. Antonio Pessoa <strong>de</strong> Amorim, (Lisboa)<br />
Antonio <strong>de</strong> Sousa, (Évora)<br />
Antonio Serrão Franco, (Lisboa)<br />
Dr. Arthur Eduardo Manso Preio<br />
Augusto Maria <strong>de</strong> Quadros<br />
Augusto Pereira Coutinho<br />
Augusto da Silva Teixeira<br />
Augusto Vieira <strong>de</strong> Campos<br />
Aureliano José dos Santos Viegas<br />
Bento Joaquim La<strong>de</strong>ira<br />
Bernardo Moniz da Maia, (Lisboa)<br />
Camillo Augusto Rebocho<br />
Carlos Alberto Me<strong>de</strong>iros Greno<br />
Cesar Augusto Pereira Cal<strong>de</strong>ira<br />
Cesar Augusto da Rocha Freitas<br />
Domingos Cardoso e esposa<br />
Eduardo Lopes <strong>de</strong> Macedo<br />
Dr. Eduardo Jesus Teixeira<br />
Francisco <strong>de</strong> Campos Saturnino, (Lisboa)<br />
Francisco Vieira <strong>de</strong> Campos<br />
Francisco Vieira<br />
Francisco Borges<br />
Francisco da Fonseca<br />
Francisco Gorjão Henriques Coutinho (Abrigada)<br />
Francisco José da Costa<br />
Dr. Francisco Manso Preto<br />
Francisco Maria <strong>de</strong> Sousa Nazareth<br />
Francisco Perfeito <strong>de</strong> Magalhães, (Lisboa)<br />
Dr. Francisco Rodrigues dos Santos Nazareth<br />
Francisco dos Santos Almeida<br />
Gaspar Rastos dos Santos<br />
Dr. Guilherme Alves Moreira<br />
Guilherme Barreiros Cardoso, (Lisboa)<br />
Guilhermino <strong>de</strong> Barros<br />
Jacintho <strong>de</strong> Freitas Morna<br />
Januario Damasceno Ratto<br />
Jayme Lopes Lobo<br />
João Antonio da Cunha<br />
João Augusto dos Santos Trincão<br />
João Rorges<br />
Dr. João Jacintho da Silva Corrêa<br />
João Luiz Gonçalves<br />
João Marques Anthero<br />
João <strong>de</strong> Menezes<br />
João dos Santos Jacob<br />
João Serrão<br />
João Simões Rarrico<br />
João Vieira<br />
Rev. Joaquim Antonio <strong>de</strong> Oliveira<br />
Joaquim Antonio Rouzado, (Arroyollos)<br />
Joaquim Antunes Borges <strong>de</strong> Carvalho, (Lisboa).<br />
Joaquim A. S. da Nativida<strong>de</strong><br />
Joaquim Augusto Rodrigues<br />
Joaquim da Costa Coutinho<br />
Joaquim Ferreira Rodrigues <strong>de</strong> Figueiredo<br />
Joaquim Gaspar <strong>de</strong> Mattos<br />
Joaquim Maria <strong>de</strong> Almeida<br />
Joaquim Maria Monteiro <strong>de</strong> Figueiredo<br />
Joaquim Simões Barrico<br />
Joíé A<strong>de</strong>lino Serrasqueiro<br />
José Antonio Dias Pereira<br />
José Braz Simões <strong>de</strong> Sousa, (Évora)<br />
José Bruno <strong>de</strong> Cabedo<br />
José Corrêa Lemos<br />
.José Diogo Pires<br />
José Guilherme dos Santos<br />
José Levy da Silva Saturnino, CEvora)<br />
José Macedo Souto Maior<br />
José Manso <strong>de</strong> Carvalho<br />
José Maria <strong>de</strong> Carvalho<br />
José Maria da Costa, (Dafundo)<br />
José Maria Ferraz<br />
José Marques Pinto<br />
Julio Cesar Bom <strong>de</strong> Sousa<br />
Julio Machado Feliciano<br />
Julio Pereira Alves, (Lisboa)<br />
M. m0 Luize Estatemiller, (Lisboa)<br />
D. Maria Francisca Sameiro Perdigão, (Évora)<br />
Manuel Duarte <strong>de</strong> Almeida, (Évora)<br />
Manuel da Fonseca Callisto<br />
Manuel Gorjão Henriques Coutinho, (Abrigada)<br />
Manuel José Telles<br />
Manuel Paes da Silva<br />
Manuel Villaça da Fonseca<br />
Mário da Silva Gayo<br />
Nuno Gorjão Henriques Coutinho, (Abrigada)<br />
Dr. Pessoa Pinheiro<br />
Quaresma & C. a , (Lisboa)<br />
Raphael Gorjão Henriques Coutinho, (Abrigada)<br />
D. Maria Urbana Monteiro Soares <strong>de</strong> Albergaria<br />
João Rodrigues Paixão<br />
Antonio Nunes Corrêa<br />
Augusto Men<strong>de</strong>s Simões <strong>de</strong> Castro<br />
Francisco Gonçalves <strong>de</strong> Lemos<br />
Augusto Barbosa<br />
Rev. Bernardo Antonio <strong>de</strong> Madureira<br />
José Joaquim dos Beis Leitão<br />
Dr. Francisco Miranda da Costa Lobo<br />
Subscriptores <strong>de</strong> 1001000 réis<br />
Adriano Marques<br />
Anselmo Vieira <strong>de</strong> Campos<br />
Antonio Franco Frazão<br />
Anthero A. d'Araujo Pinto<br />
Antonio Maria Pimenta<br />
Apolínio A. d'Araujo Pinto<br />
Augusto da Cruz Machado<br />
Augusto Ferreira, (Lisboa)<br />
Cassiano Ribeiro<br />
Eduardo Tavares <strong>de</strong> Mello<br />
Francisco d'Almeida Quadros<br />
Ignacio Miranda<br />
José Miranda<br />
Jayíne <strong>de</strong> Sá Esteves Abranches<br />
João A. d'Araujo Pinto<br />
João Theophilo da Costa Gôa<br />
Joaquim José Vidal Mourinha<br />
Joaquim Justiniano Ferreira Lobo<br />
José Antonio Ribeiro Guimarães<br />
José Doria<br />
José Fernan<strong>de</strong>s Ferreira<br />
José Lourenço da Costa<br />
José Maria das Neves Rebello Velloso (Ançã)<br />
Luiza Maria<br />
Manuel José da Costa Soares<br />
Ruben Augusto A. <strong>de</strong> Araujo Pinto<br />
Santos & Brito<br />
Francisco Gouvêa<br />
Subscriptor <strong>de</strong> 1501000<br />
A. Guerra Junqueiro, (Porto)<br />
Subscriptores <strong>de</strong> 2001000<br />
Luiz Ernesto Beinaud, (Lisboa)<br />
Julio Gama, (Porto)<br />
D. Maria Augusta Coutinho<br />
Subscriptores <strong>de</strong> 2501000<br />
Adolpho Greno, (Lisboa)<br />
Antonio Gomes Neto, (Lisboa)<br />
Antonio José da Costa<br />
A. Schroter, (Lisboa)<br />
Francisco <strong>de</strong> Sousa Araujo<br />
Henrique <strong>de</strong> Barros Gomes, (Lisboa)<br />
João Alexandrino <strong>de</strong> Sousa Queiroga, (Lisboa)<br />
Jorge <strong>de</strong> San<strong>de</strong> Mexia Ayres <strong>de</strong> Campos<br />
José Luiz Pereira Crespo, (Lisboa)<br />
M. A. Rodrigues da Silva<br />
Manuel Rento <strong>de</strong> Quadros<br />
Pedro <strong>de</strong> San<strong>de</strong> Mexia Ayres <strong>de</strong> Campos<br />
Subscriptores <strong>de</strong> 5001000 réis<br />
D. Maria <strong>de</strong> San<strong>de</strong> Mexia Ayres <strong>de</strong> Campos<br />
João Henrique Ulrick, (Lisboa)<br />
João Corrêa Mexia Ayres <strong>de</strong> Campos<br />
Francisco Ribeiro da Cunha<br />
Subscriptores <strong>de</strong> 1: reis<br />
José Alves <strong>de</strong> Oliveira<br />
João Evangelista da Silva Saturnino<br />
Rev. José Simões Dias<br />
Dr. Luiz Pereira da Costa<br />
D. Maria Amélia <strong>de</strong> San<strong>de</strong> Mexia Ayres <strong>de</strong> Campos<br />
Raul Mesnier <strong>de</strong> Ponsard<br />
Vicente Augusto Ferreira Rocha<br />
Subscriptor <strong>de</strong> 2:0001000 réis<br />
Empreza Industrial Portugueza, Santo Amaro, (Lisboa)<br />
Subscriptor <strong>de</strong> 2:500|000 réis<br />
João Maria Corrêa Ayres <strong>de</strong> Campos<br />
Qualquer observação a fazer a esta relação<br />
<strong>de</strong>ve ser dirigida ao sr. Mesnier <strong>de</strong> Ponsard,<br />
na Imprensa Académica, na rua da<br />
Sophia, das 12 ás 3 horas da tar<strong>de</strong>.<br />
Total d'esta subscripção<br />
Dos subscriptores até<br />
» » <strong>de</strong><br />
501000<br />
1000000<br />
3:7600000<br />
2:8000000<br />
» » » 1301000 1500000<br />
» » » 2001000 600;3000<br />
2301000 3:0000000<br />
» » » 5000000 2:0000000<br />
1:0000000 7:0000000<br />
2:01100000 â:000$000<br />
» » » 2:5000000 2:5000000<br />
23:8100000<br />
Para <strong>45</strong>:0000000<br />
Falta 21:1900000<br />
Publicámos a lista acima para que se<br />
avalie dos brios da maioria d'uma população,<br />
que — informada por toda a imprensa, unanime<br />
em <strong>de</strong>monstrar o bom êxito que teria<br />
o elevador — se recusa a prestar o seu auxilio.<br />
E ahi tem o nosso consi<strong>de</strong>rado collega—<br />
Resistencia — a resposta á sua pergunta:<br />
Para quê?<br />
Demissão arbitraria<br />
O Liberal, da Povoa do Varzim, relata<br />
que o distribuidor supra-numerario dos correios<br />
e telegraphos fôra <strong>de</strong>mittido.<br />
Era este empregado cumpridor dos seus<br />
<strong>de</strong>veres, gosando as sympathias <strong>de</strong> muitos, pelas<br />
suas boas qualida<strong>de</strong>s, causando porisso<br />
impressão a violência com que se proce<strong>de</strong>u<br />
para com elle.<br />
Mas a causa é outra: —o <strong>de</strong>mittido é<br />
editor do Liberal, um jornal que não é passador<br />
<strong>de</strong> culpas e sabe pôr os pontos nos ii;<br />
tendo além d'isso o <strong>de</strong>feito <strong>de</strong> con<strong>de</strong>mnar os<br />
actos do governo.<br />
Ora como isto não agrada aos serventuários<br />
e lacaios da politica regeneradora que<br />
recebem a gorjeta dos seus serviços á causa<br />
nefanda que o infame ministério estabeleceu<br />
— por isso se <strong>de</strong>mittiu um empregado zeloso<br />
e um homem honrado.<br />
Que tudo se paga nesta vida!<br />
Quinta feira, 10 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895 —N.° 47<br />
Assumptos <strong>de</strong> interesse locai<br />
TJniver sid a<strong>de</strong><br />
O jury dos differentes annos da Faculda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Direito ficará assim constituído no<br />
proximo anno lectivo:<br />
anno — Drs. Guilherme Alves Moreira<br />
e Avelino Callisto.<br />
2° anno.— Drs. Fre<strong>de</strong>rico Laranjo Fernan<strong>de</strong>s<br />
Vaz e Nunes Geral<strong>de</strong>s.<br />
3.° anno.— Drs. Assis Teixeira, Lopes<br />
Praça e Guimarães Pedrosa.<br />
4." anno.— Drs. Emygdio Garcia, Chaves<br />
e Castro e Fernan<strong>de</strong>s Vaz.<br />
5." anno.— Drs. Paiva e Pitta, Henriques<br />
da Silva e Manuel Dias da Silva.<br />
O sr. dr. Avelino Callisto accumulará no<br />
t.° anno a ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> direito romano.<br />
O sr. dr. Fernan<strong>de</strong>s Vaz accumulará no<br />
4. 0 anno a ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> direito civil.<br />
Logo que terminarem os concursos, assumirão<br />
a regencia d'estas ca<strong>de</strong>iras os candidatos<br />
srs. drs. AfFonso Costa, Arthur Montenegro<br />
e Teixeira d'Abreu.<br />
Gymnasio <strong>de</strong> Cohnbra<br />
Em breve será installada, no seu novo<br />
edifício, esta utilíssima instituição, que o sr.<br />
Alvaro Esteves Castanheira mandou construir<br />
na estrada da Beira, e on<strong>de</strong> vae installar,<br />
ao rez do chão, a sua importante fabrica<br />
<strong>de</strong> lacres e tintas.<br />
O andar nobre ficou com espaçosas sn!as,<br />
e o salão <strong>de</strong> gymnastica me<strong>de</strong> <strong>de</strong> cumprimento<br />
i5 metros por 9 <strong>de</strong> largo. Explendido.<br />
Um pouco acanhado o ultimo pavimento,<br />
sendo sensível a escassez <strong>de</strong> luz; mas esta<br />
falta e outras, com certeza, o sr. Alvaro Castanheira<br />
remediará <strong>de</strong>pois, visto que agora o<br />
acabamento do edifício se fez <strong>de</strong> afogadilho<br />
para que o Gymnasio, sem casa, se po<strong>de</strong>sse<br />
installar breve.<br />
Está o Gymnasio nas condições <strong>de</strong> entrar<br />
agora n'uma epocha <strong>de</strong> prosperida<strong>de</strong> e engran<strong>de</strong>cimento,<br />
se a sua direcção promover<br />
e trabalhar para o conseguir, o que é fácil se<br />
não lhe faltar a coadjuvação e auxilio dos<br />
socios, que é o principal elemento.<br />
Relevantes serviços conta esta sympathica<br />
aggremiação á mocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, promovendo-lhe<br />
o seu <strong>de</strong>senvolvimento physico.<br />
E agora que ha salas especiaes para os<br />
exercícios da gymnastica, esgrima, e outros<br />
divertimentos, o Gymnasio <strong>de</strong>ve attrair ao<br />
seu grémio a concorrência <strong>de</strong> todas as classes,<br />
pois lhe pô<strong>de</strong> offerecer os melhores passatempos<br />
em recreios hygienicos e em alegre convivência.<br />
Trata-se <strong>de</strong> inaugurar brevemente as classes<br />
<strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> gymnastica, para adultos e<br />
creanças, on<strong>de</strong> os chefes <strong>de</strong> família obterão o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento physico <strong>de</strong> seus filhos.<br />
Por occasião da abertura official do Gymnasio<br />
haverá uma explendida soireé musical e<br />
dançante para os socios e suas ex. maS famílias.<br />
Deve ser uma festa <strong>de</strong> intimo enthusiasmo.<br />
Diplomas<br />
No domingo reunida a assemblêa geral<br />
e por proposta da mesa foram conferidos diplomas<br />
: <strong>de</strong> socio benemerito ao sr. dr. Antonio<br />
Augusto da Costa Simões, reitor da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>;—e<br />
<strong>de</strong> socios honorários: os srs. dr.<br />
Joaquim Rodrigues Davim, nosso collega <strong>de</strong><br />
redacção; conego Alves Men<strong>de</strong>s; dr. Abel<br />
<strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>; e Libanio Baptista Ferreira.<br />
Esta proposta foi approvada por unanimida<strong>de</strong>.<br />
Aos contx-ibnlutes<br />
Termina hoje o prazo para as reclarrações<br />
sobre a contribuição <strong>de</strong> renda <strong>de</strong> casas e<br />
sumptuaria; porisso os contribuintes que ainda<br />
tiverem <strong>de</strong> reclamar; <strong>de</strong>verão fazel-o ainda<br />
hoje, porque d'outra fórma sujeitam-se a pagar<br />
as suas collectas pelo preço, que os informadores<br />
d'aquellas contribuições os mandaram<br />
inscrever nas competentes matrizes.<br />
Jornalista oatholico<br />
O sr. Abúndio da Silva, bacharel em<br />
theologia e antigo redactor da Or<strong>de</strong>m, veio<br />
este anno matricu!ar-se no primeiro anno<br />
juridico, sendo subsidiado pelo sr. D. Miguel<br />
<strong>de</strong> Bragança.<br />
E um rapaz <strong>de</strong> talento e muito estudioso.<br />
Aos estudantes<br />
O sr. secretario da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> não au*<br />
ctorisa, que os alumnos que requereram á<br />
matricula geral, assignem o termo <strong>de</strong> encerramento<br />
<strong>de</strong> matricula, além do dia i3 até áa<br />
tres horas da tar<strong>de</strong>.<br />
Prevenimos d'ísto os interessados.
DEFENSOR I>O POVO<br />
Falta d© espaço<br />
Ainda hoje somos obrigados, bem a nosso<br />
pesar, a retirar o artigo sobre a carta, que o<br />
sr. bispo con<strong>de</strong> dirigiu ao rei, a proposito dos<br />
acontecimentos do dia 3o <strong>de</strong> julho:<br />
Que os nossos leitores nos relevem a<br />
falta.<br />
Egualmente nos vemos na necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
não publicar hoje um artigo sobre a—Arrematação<br />
da carne.<br />
*<br />
Exigências <strong>de</strong> fisco<br />
Informam-nos <strong>de</strong> que teem sido numerosos<br />
os recursos apresentados na repartição<br />
<strong>de</strong> fazenda d'este concelho, contra o excessivo<br />
augmento exigido no preço das avenças do<br />
real d'agua, pelos empregados da guarda fiscal.<br />
Em vista da crise por que está passando<br />
o commercio d^sta cida<strong>de</strong> e que ameaça<br />
prolongar-se in<strong>de</strong>finidamente, similhantes exigências,<br />
além <strong>de</strong> serem infundadas, são <strong>de</strong><br />
todo o ponto asnaticas.<br />
E a justiça <strong>de</strong> Fafe tão quietinha!<br />
Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Yalenças<br />
Tem estado n'esta cida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> veiu acompanhar<br />
seu filho á matricula do primeiro<br />
anno da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito, o iliustre titular,<br />
presi<strong>de</strong>nte honorário da Associação dos<br />
Artistas, a quem s. ex. a tem prestado assignalados<br />
benefícios.<br />
Esteve hospedado no Gran<strong>de</strong> Hotel Mon<strong>de</strong>go—<br />
ao Caes — on<strong>de</strong> recebeu a visita dos<br />
seus numerosos amigos.e admiradores.<br />
Revista litteraria e artística<br />
Nos princípios <strong>de</strong> novembro apparecerá<br />
n'esta cida<strong>de</strong> uma importante revista litteraria<br />
e artística nacional e extrangeira, collaborada<br />
por eminentes escriptores portuguezes,<br />
francezes e allemães.<br />
O primeiro numero conterá o seguinte<br />
summario:<br />
Poesia, por João <strong>de</strong> Deus; Critica artística,<br />
por Joaquim <strong>de</strong> Vasconcellos; Apologo,<br />
poesia, por D. Leopoldo Cano; Tod in Achren,<br />
(a agonia no trigal), poesia pelo barão <strong>de</strong> Liliencron;<br />
Das grtine Wnn<strong>de</strong>r (o milagre ver<strong>de</strong>),<br />
poesia <strong>de</strong> Otto Julins Bierbaum; Gabrile <strong>de</strong><br />
Annua\io, estudo critico por Vitterio Pica;<br />
Laudience du Prince Amour, poesia por Lionel<br />
<strong>de</strong>s Rieux; uma poesia, por Briun Gaubast;<br />
Paul Verlaine, estudo critico por Charles<br />
Maurice; dois contos, por Jules Renard e<br />
Paul Verlaine, etc.'<br />
O muito distincto poeta conimbricense,<br />
sr. Eugénio <strong>de</strong> Castro, acompanha as poesias<br />
allemães com uma versão portugueza.<br />
Os <strong>de</strong>senhos estão entregues á competência<br />
artística do sr. Antonio Augusto Gonçalves,<br />
director e professor da Escola Brotero<br />
e a gravura ao sr. Emile Yock, também professor.<br />
•g-—•—<br />
Nomeação<br />
Foi nomeado professor interino <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho<br />
do lyceu d^sta cida<strong>de</strong>, o sr. Antonio<br />
Augusto Gonçalves, iliustre director da escóla<br />
industrial Brotero.<br />
São tantas as provas <strong>de</strong> competencia que<br />
o nosso amigo Antonio Augusto Gonçalves<br />
tem dado, e o publico <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> tem por<br />
elle tanta estima e respeito, que nenhuma<br />
nomeação seria mais bem recebida e acceite.<br />
18 Folhetim—«Defensor do Povo»<br />
0 CORSÁRIO PORTUGIEZ<br />
ROMANCE MARÍTIMO<br />
ORIGINAL DE<br />
W S ® %% VfeWU^<br />
CAPITULO III<br />
A <strong>de</strong>spedida<br />
Calote aos jornaleiros<br />
O pessoal jornaleiro da escola central <strong>de</strong><br />
agricultura — Moraes Sarmento — está sem<br />
receber os seus salarios ha sete quinzenas!<br />
Imagine-se quantas privações terão passado<br />
esses <strong>de</strong>sgraçados, a trabalharem dia a<br />
dia, para se verem sem recursos para o seu<br />
sustento e <strong>de</strong> suas famílias.<br />
E' uma barbarida<strong>de</strong> este <strong>de</strong>sleixo dos<br />
funccionarios públicos graduados, que pagos<br />
em dia, e muitas vezes a<strong>de</strong>antadamente, não<br />
se importam <strong>de</strong> dar expediente ás respectivas<br />
folhas para o pagamento dos salarios aos que<br />
o ganham com tantas fadigas.<br />
Pedíamos, por isso, ao sr. director da<br />
repartição competente, sr. Elvino <strong>de</strong> Brito<br />
provi<strong>de</strong>nceie no sentido <strong>de</strong> ser pago aos jor-<br />
naleiros as sete quinzenas que se lhes <strong>de</strong>vem.<br />
Sabemos que quem tem protegido essa<br />
pobre gente é o pessoal superior da escóla<br />
agrícola, adiantando-lhe algum dinheiro para<br />
não morrerem <strong>de</strong> fome.<br />
Chega-se á <strong>de</strong>sgraça n'este paiz, dos que<br />
trabalham, não só não receberem a insignificante<br />
diaria que lh'es arbitram, mas ainda<br />
terem <strong>de</strong> soflrer privações pela <strong>de</strong>mora d^sse<br />
pagamento, como se fosse uma esmola que<br />
se lhe déssem.<br />
Confiámos <strong>de</strong> que se darão provi<strong>de</strong>ncias<br />
e que o sr. Elvino <strong>de</strong> Brito atten<strong>de</strong>rá ao<br />
nosso justo pedido.<br />
Homenagem a Pasteur<br />
O sr. director e pessoal do laboratorio <strong>de</strong><br />
microbiologia da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />
enviaram ao instituto Pasteur, este telegramma:<br />
Professear Duclaux—Instituto «Pasteur»<br />
— Paris. — Directeur et personnel Laboratoire<br />
<strong>de</strong> Microbiologie Université Coimbre<br />
prennent part <strong>de</strong>uil qui frappe la science dans<br />
la personne Pasteur. — Dr. Lui\ Pereira da<br />
Costa. — Charles Lepierre.<br />
Carlos, á ré, não afastava os olhos d^m<br />
O naufragio<br />
mirante que lhe ficava a SE.: acenava com<br />
um lenço branco, dois lhe correspondiam; e Deixemos D. A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong> entregue á sole-<br />
então um profundo gemido lhe saía do peito. da<strong>de</strong> e á dôr, pela separação <strong>de</strong> Carlos, e<br />
Este movimento foi por muitas vezes repe- sigamol-o na sua viagem e n'outros acontecitido,<br />
até que um gran<strong>de</strong> espaço lh'o roubou mentos, que muito influíram no seu futuro.<br />
á vista e aos dois lenços brancos que tantas Mas antes <strong>de</strong> nos occuparmos d'elle, bom<br />
vezes viu agitar!<br />
será que digamos aos leitores o que frei Ro-<br />
Estava só! Só, entre o céu e o mar, enzendo ficou fazendo no Brazil, mais o senhor<br />
tre a sauda<strong>de</strong> e o isolamento, entre a duvida D. Francisco Antonio <strong>de</strong> Sarmento e Castro.<br />
e a esperança!<br />
Frei Rozendo, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> <strong>de</strong>sembarcar,<br />
Triste condição é a da vida humana, em occupou-se exclusivamente <strong>de</strong> reaiisar uma<br />
que a ventura é um mytho, a esperança uma vingança digna d'aquella alma hypocrita e<br />
auvida e a duvida um martyrio! Realida<strong>de</strong> traiçoeira.<br />
SÓ ha na morte, fria e implacavel!<br />
jurou vingar-se <strong>de</strong> Carlos^ e do <strong>de</strong>sembar-<br />
D e f e n s o r r>o P o v o — 1.° A N N O Quinta feira, 10 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895—N.° 47<br />
C0LLE6I0 ACADÉMICO<br />
(ENSINO PRIMÁRIO)<br />
Está aberta <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1 <strong>de</strong> outubro a aula<br />
<strong>de</strong> ensino primário d'este collegio, regida<br />
por José Falcão Ribeiro, Justino José Correia<br />
e Pompeu Faria <strong>de</strong> Castro, professores<br />
legalmente habilitados.<br />
A partir do mesmo dia, a qualquer<br />
hora, se recebem matriculas, tanto para<br />
'esta aula como para as <strong>de</strong> instrucção secundaria,<br />
que posteriormente serão abertas.<br />
Recebem-se alumnos internos, semiinternos<br />
e externos.<br />
Garanle-se um ensino proficuo com a<br />
mais completa organisação e com a assiduida<strong>de</strong><br />
no trabalho que caracterisa os<br />
professores.<br />
Fornecer-se-ha papel, tinta, pennas,<br />
giz e lápis gratuitamente a todos os alumnos,<br />
bem como um ca<strong>de</strong>rno para notas<br />
diárias <strong>de</strong> frequencia e aproveitamento.<br />
A l. a classe dividir-se-ha em dois grupos<br />
: um leccionado pelo methodo <strong>de</strong> João<br />
<strong>de</strong> Deus e outro pelo <strong>de</strong> Simões Lopes,<br />
á escolha das famílias dos alumnos.<br />
As creanças <strong>de</strong> muito pouca ida<strong>de</strong><br />
terão entrada e aula em separado.<br />
Preços: l. a classe SOO réis; — 2. a<br />
1$200 réis; —3 a 1$500 réis.<br />
<strong>Coimbra</strong>, rua dos Coutinhos, 27.<br />
DE<br />
COIMBRA<br />
J. F. Ribeiro<br />
Des<strong>de</strong> a publicação d'este annuncio,<br />
até ao dia 13 do corrente, em casa do<br />
sr. Francisco Rorges, na rua do Viscon<strong>de</strong><br />
da Luz, n.° 4, está aberta a matricula<br />
para a leccionação das seguintes disciplinas<br />
: Francez, Escripluração commerciul<br />
e Calligraphia (aperfeiçoamento <strong>de</strong> lettra).<br />
As aulas abrem no dia 15 e só po<strong>de</strong>rão<br />
ser frequentadas pelos srs. associados.<br />
O secretario,<br />
Augusto Gonçalves e Silva.<br />
Aos amadores <strong>de</strong> vinho ver<strong>de</strong><br />
2[ Continua a ler esta especialida<strong>de</strong><br />
José Monteiro dos Santos, com estabelecimento<br />
<strong>de</strong> fazendas brancas na<br />
rua dos Sapateiros n.° 87 — 61.<br />
Caixa do eorreio<br />
COLLEGIO CORPO DE DEUS<br />
158 — Rua Corpo <strong>de</strong> Deus —160<br />
Director o bacharel em direito<br />
FABRÍCIO A. M. PIMENTEL<br />
Já creado ha 9 annos, acaba <strong>de</strong><br />
passar por completa transformação, este<br />
collegio, adre<strong>de</strong> a nova reforma, ficando<br />
nas seguintes condições hygienicas: Óptimas<br />
vistas, jardim <strong>de</strong> recreio, aulas espaçosas<br />
e boa luz, comportando maior<br />
numero que o exigido, 10 quartos para<br />
crianças e 6 para adultos, ficando estes<br />
completamente isemptos d'aquelles, inclusive<br />
ás refeições.<br />
Leccioua-se o curso completo dos<br />
l.yceus, para o que tem um habilissimo<br />
corpo docente, incluindo n'elle o nosso<br />
amigo sr. Antonio M. Cardoso, regendo a<br />
ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> francez, já <strong>de</strong> ha muito conhecido.<br />
Recebem-se alumnos externos,<br />
semi-internos e internos, facultando-se a<br />
estes últimos a frequencia no lyceu.<br />
O horário e dias <strong>de</strong>signados para as<br />
differentes ca<strong>de</strong>iras ainda se não assentou<br />
o que, feito, será publicado internamente<br />
por edital. Quem preten<strong>de</strong>r mais esclarecimentos<br />
dirija-se ao professor e director<br />
do collegio.<br />
VINHO VERDE<br />
Especialida<strong>de</strong> em vinho ver<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Amarante.<br />
Ven<strong>de</strong>-se engarrafado e ao litro na<br />
mim POBTWMZA<br />
Rua Martins <strong>de</strong> Carvalho<br />
Antiga rua das Figueirinhas<br />
R E C L A M E S E A N N U N C I O S<br />
JOÃO RODRIGUES BRAGA<br />
SUCCESSOR<br />
17, ADRO DE CIMA, 20 — (Atraz <strong>de</strong> S. Bartholomeu)<br />
2 Armazém <strong>de</strong> fazendas <strong>de</strong> algodão, lã e seda. Vendas por junto e a retalho.<br />
Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> pannos crus. — Faz-se <strong>de</strong>sconto nas compras para<br />
reven<strong>de</strong>r.<br />
Completo sortido <strong>de</strong> coroas e houquets, fúnebres e <strong>de</strong> gala. Fitas <strong>de</strong><br />
faille, moiré glacé e setim, em todas as cores e larguras. Eças douradas para<br />
adultos e creanças.<br />
Continua a encarregar-se <strong>de</strong> funeraes completos, armações fúnebres e<br />
trasladações, tanto n'esta cida<strong>de</strong> como fóra.<br />
1HAIM,<br />
Ferrage<br />
ESTABELECIMENTO<br />
DE<br />
W I tf<br />
E til<br />
DE<br />
JOÃO GOMES MOREIRA<br />
COIMBRA<br />
5o * RUA DE FERREIRA BORGES * 5a<br />
(EM FRENTE DO ARCO DALMEDINA I<br />
nÇ nana rnnstrnrrriíiç- Gran<strong>de</strong> sortido que ven<strong>de</strong> por pre "<br />
lio pai a buiidii uuyuco. ços eguaes aos <strong>de</strong> Lisboa e Porto.<br />
n De ferro e arame primeira qualida<strong>de</strong> com gran<strong>de</strong>s gr{ <strong>de</strong>scontos.<br />
* legdyeilò. —Avisô aos proprietários e mestres dobras<br />
p j.j| • , Cutilaria nacional e estrangeira dos melhores auctores. EspebUUlGi<br />
!a . cialida<strong>de</strong> em cutilaria Rodgers.<br />
r 0j_ ç . Crystofle, metal branco, cabo d'ebano e marfim, completo<br />
raljlieiros . sortido era faqueiros e outros artigos <strong>de</strong> Guimarães.<br />
I mirao innIo7ae rloforrn"<br />
LQU^db lliyicZdò, UB 1 erro.<br />
Esmaltadaeestanhada, ferroAgate, serviço<br />
completo para mesa, lavatorio e cozinha.<br />
p: a Inglez e Cabo Mon<strong>de</strong>go, as melhores qualida<strong>de</strong>s que se em-<br />
UiniciilUb. pregam em construcções hydraulicas.<br />
Pnl Hwrípnnlioa • Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito da Companhia Cabo Mon<strong>de</strong>go.—Aviso<br />
udl 0|UI dllílUd. aos proprietários e mestres d'obras.<br />
Tintnt? nana nin+iipne • Alvaia<strong>de</strong>s, oleos, agua-raz, crés, gesso, vernizes,<br />
illllaa para pifllliras. e muitas outras tintas e artigos para pintores.<br />
ílrmnc rio fnnn' Carabinas <strong>de</strong> repetição <strong>de</strong> 12 e 15 tiros, revolvers<br />
HlRiaS Qv ÍOyU. espingardas para caça, os melhores systemas.<br />
!"|j . Ban<strong>de</strong>jas, oleados, papel para forrar casas, moinhos e torradores<br />
w-IVciSOS • para café, machinas para moer carne, balanças <strong>de</strong> todos os<br />
systemas. — Re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> arame, zinco e chumbo em folha, ferro zincado,<br />
arame <strong>de</strong> todas as qualida<strong>de</strong>s.<br />
FlprtririHarip P nntira A S ENCIA da casa Ramos & Silva - <strong>de</strong> Lisboa '<br />
l-ICtll iUUCSUG C upiiua constructores <strong>de</strong> pára-raios, campainhas eléctricas,<br />
oculos e lunetas e todos os mais apparelhos concernentes.<br />
Pastilhas electro-chimicas, a 50 réis).<br />
Brilhante Belge, a 160 réis J '" dls P e » sa s em lodas as casas<br />
GO DEPOSITO DI MACHINAS<br />
Estabelecimento <strong>de</strong> fazendas brancas<br />
ARTIGOS DE NOVIDADE<br />
ALFAIATARIA MODERNA<br />
DE<br />
josé luís mim is mm<br />
90, Rua do Viscon<strong>de</strong> da Luz 92 —COIMBRA<br />
6 O mais antigo estabelecimento n'esta cida<strong>de</strong>, com as verda<strong>de</strong>iras machinas<br />
Singer, on<strong>de</strong> se encontra sempre um verda<strong>de</strong>iro sortido em machinas<br />
<strong>de</strong> costura para alfaiate, sapateiro e costureira, com os últimos aperfeiçoamentos,<br />
garanlindo-se ao comprador o bom trabalho da machina pelo espaço <strong>de</strong> 10<br />
annos.<br />
Recebe-se qualquer machina usada em troca <strong>de</strong> novas, transporte grátis<br />
para os compradores <strong>de</strong> fúra da terra e outras garantias. Ensina-se <strong>de</strong> graça,<br />
tanto no mesmo <strong>de</strong>posito como em casa do comprador.<br />
Ven<strong>de</strong>m-se a prazo ou prompto pagamento com gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>scanto.<br />
Concerta-se qualquer machina mesmo que não seja Singer com a maxima<br />
promptidão.<br />
ESTAÇÃO DE INVERNO<br />
Acaba <strong>de</strong> chegar um gran<strong>de</strong> sortido em casimiras próprias para inverno.<br />
Fatos feitos completos com bons forros a 6$500, 7$000, 8$000 réis e mais<br />
preços, capas e batinas preços sem competencia, varinos <strong>de</strong> boa calrapianha<br />
com forro e sem elle <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 5(5(000 réis para cima, garante-se qualquer obra<br />
feita n'esta alfaiateria, dão-se amostras a quem as pedir.<br />
Tem esta casa dois bons contramestres, <strong>de</strong>ixando-se ao freguez a preferencia<br />
<strong>de</strong> optar.<br />
Sempre bonito sortido <strong>de</strong> chitas, chailes, lenços <strong>de</strong> seda, ditos <strong>de</strong> Escócia,<br />
camisaria e gravatas muito baratas.<br />
Ven<strong>de</strong>-se oleo, agulhas troçai e sabão <strong>de</strong> seda, e toda a qualquer peça<br />
solta para machinas.<br />
Alu^am-se e ven<strong>de</strong>m-se Bi-eyeletas.<br />
Venda <strong>de</strong> casas ao Calhabé<br />
Ven<strong>de</strong>iii-«e duas moradas <strong>de</strong> casas<br />
juntas, sitas ao Calhabé, freguezia da Sé<br />
Nova.<br />
Trata-se no estabelecimento <strong>de</strong> José<br />
Possidonio dos Reis, na Estrada da Beira.<br />
No mesmo estabelecimento se encontram<br />
á venda todas as ferramentas para<br />
construcções <strong>de</strong> estradas e agricultura.<br />
Também se encontra um bom sortido<br />
<strong>de</strong> charruas <strong>de</strong> diversos números e fogões<br />
<strong>de</strong> vários tamanhos.<br />
Encarrega-se <strong>de</strong> toda a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
obra, pertencente a serralheria.<br />
josé Fossiooirio m m:<br />
ESTRADA DA BEIRA<br />
COIMBRA<br />
PADARIA LUSITANA<br />
(SYSTEMA FRANCEZ)<br />
DE<br />
DOMINGOS MIRANDA<br />
w&tà® «em**,<br />
9 Pão fino, o melhor que se encontra,<br />
pelo systema francez,<br />
todos os dias, pela manhã e á noite, a<br />
25 réis cada dois pães.<br />
RUA SÁ DA BANDEIRA<br />
1 I W 8 %% WSIj<br />
C O I M B R A<br />
Director—ALBERTO PESSOA<br />
Bacharel formado era philosophia<br />
Este novo collegio d'ensino primário<br />
e secundário, on<strong>de</strong> se admittem alumnos<br />
internos, semi-internos e externos, abrirse-ha<br />
no dia 14 d'outubro proximo.<br />
A relação do pessoal docente, o regulamento<br />
da Escola, e quaesquer informações<br />
po<strong>de</strong>m ser pedidas ao director.<br />
(Antigo Paço do Con<strong>de</strong>)<br />
KTeste bem conhecido hotel, um<br />
dos mais antigos e bem conceituados<br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, continúa o seu<br />
proprietário as boas tradições da casa,<br />
recebendo os seus hospe<strong>de</strong>s com as<br />
attenções <strong>de</strong>vidas e proporcionando-lhes<br />
todas as commodida<strong>de</strong>s possíveis, a fim<br />
<strong>de</strong> correspon<strong>de</strong>r sempre ao favor que<br />
o publico lhe tem dispensado.<br />
Fornecem-se para fóra e por preços<br />
commodos jantares e outras quaesquer<br />
refeições.<br />
ARMAZÉM DE MERCEARIA<br />
DIO<br />
MARQUES MANSO, SOBRINHO<br />
RUA DO CEGO — COIMBRA<br />
Esta casa, montada com o maior acceio, convida os seus ex. mos freguezes a<br />
visitarem o seu estabelecimento, on<strong>de</strong> encontrarão á venda :<br />
Assucares finíssimos, refinados com o maior esmero, chás, cafés <strong>de</strong> S. Thomé<br />
e Cabo Ver<strong>de</strong>, chocolates hespanhol, francez e suisso, completo sortido em bolachas<br />
nacionaes e inglezas, e muitos outros artigos que ven<strong>de</strong> a preços resumidíssimos.<br />
Único <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> Yinhos da Real Companhia Vinícola<br />
Vinhos a torno a ISO e ««O réis o litro.<br />
Manteiga «ie Pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Coura e JVaudufe.<br />
E ven<strong>de</strong> a ta® réis o kdo, massas alimentícias <strong>de</strong> todas as qualida<strong>de</strong>s, que<br />
as outras casas ven<strong>de</strong>m a ISO réis.<br />
JOSÉ FIGUEIREDO & C. A<br />
2 5 M O K T T ^ A R K O I O — 3 3<br />
[MC<br />
N'este <strong>de</strong>posito encontra-se um variado e escolhido sorlimenlo <strong>de</strong><br />
drogas, productos chimicos e pliarmaceuticos, ele., etc.<br />
Bteposfto exclusivo cm Coianbi-a das perfumarias hygienicas<br />
e antisep<strong>de</strong>as «le Bordéus.<br />
Egualmenle se ven<strong>de</strong>m tinias e vernizes das principaes fabricas.<br />
Garante-se a boa qualida<strong>de</strong> dos artigos vendidos n'esle <strong>de</strong>posito, assim<br />
como modicida<strong>de</strong> em preços.<br />
Publica-se ás quintas feiras e domingos<br />
JDO<br />
—?r~i<br />
P O V O<br />
D b f e i t s o r JORNAL REPUBLICANO<br />
EDITOR — Adolplio da Costa Marques<br />
Redacção e administração—Largo da Freiria, 14, proximo á rua dos Sapateiros<br />
Anno . .<br />
Semestre .<br />
Trimestre.<br />
Com estampilha<br />
CONDIÇÕES DE ASSIGNATURA<br />
(PAGA ADIANTADA)<br />
2$700<br />
1)1350<br />
680<br />
Anno . .<br />
Semestre .<br />
Trimestre.<br />
Sem estampilha<br />
2$400<br />
10200<br />
600<br />
ANNUNCIOS:— Cada linha, 40 réis; repetição, 20 réis; contracto<br />
especial para annuncios permanentes.<br />
LI¥ROS: — Annunciam-se gratuitamente quando se receba um<br />
exemplar.<br />
Impressa na lypographia Operaria — <strong>Coimbra</strong>
_<br />
A N N O 1.° IV. 0 4 8<br />
Defensor<br />
OS ÚLTIMOS RECURSOS<br />
A VIAGEM DO REI<br />
ii<br />
Anda o rei <strong>de</strong> Portugal em viagem <strong>de</strong><br />
recreio pelo extrangeiro; e a avaliar pela<br />
numerosa e brilhante comitiva, ricas e luzidas<br />
equipagens, em viagem <strong>de</strong> recreio e<br />
ostentação.<br />
Não viaja em mo<strong>de</strong>sto incognito o duque<br />
<strong>de</strong> Bragança. E' o proprio rei <strong>de</strong> Portugal,<br />
em toda a sua magesta<strong>de</strong>, que visita<br />
os principaes Estados da Europa, como se<br />
fôra o monarcha po<strong>de</strong>roso <strong>de</strong> uma nação<br />
opulenta e florescente.<br />
São-lhe por toda a parte feitas magnificas<br />
recepções ofíiciaes, com todas as formalida<strong>de</strong>s<br />
e apparatosas etiquetas da mais<br />
requintada pragmatica palaciana, segundo<br />
o eslylo usado nas differenles côrtes.<br />
Em sua honra celebram as cida<strong>de</strong>s, por<br />
on<strong>de</strong> passa, ruidosas festas <strong>de</strong> homenagem,<br />
<strong>de</strong>vida á sua alta posição e calhegoria social,<br />
como <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> sympathia e<br />
respeito pelo Povo Portuguez, do qual elle.<br />
o rei, se appellida soberano chefe, protector<br />
<strong>de</strong>svelado.<br />
E todavia esse Povo vive <strong>de</strong>scontente,<br />
vive amargurado; lamenta o seu angustioso<br />
presente, e treme sobresallado pelo futuro<br />
duvidoso e triste que se lhe antolha.<br />
E todavia esse Povo parece não amar<br />
os seus governantes, não estimar os seus<br />
dirigentes, aborrecer as instituições, olhar<br />
a politica e o mundo ofíicial com a indifferença<br />
do <strong>de</strong>sprezo, com a <strong>de</strong>scrença dos <strong>de</strong>senganos.<br />
E todavia a Nação Portugueza atravessa<br />
a mais cruel e angustiosa das crises; <strong>de</strong>bate-se<br />
em uma situação politica, economica<br />
e moral mesquinha, dolorosa, allerradora.<br />
Cobre a face envergonhada do espectáculo<br />
triste e ignominioso, que as suas<br />
penosas condições <strong>de</strong> existencia actual offerecem<br />
aos olhos <strong>de</strong> todo o mundo civilisado,<br />
em que ella, a pobre Nação Portugueza, é<br />
urna singular e <strong>de</strong>plorável excepção.<br />
E todavia a Nação Portugueza escon<strong>de</strong><br />
a face envergonada das humilhações e dos<br />
vexames, por que tem passado, dos insultos<br />
que tem cuspido a sua outr'ora gloriosa<br />
e immaculada ban<strong>de</strong>ira, principalmente no<br />
Ultramar.<br />
Sem recursos que lhe possam garantir<br />
melhor futuro, sem esperenças <strong>de</strong> salvação,<br />
retrogradando em vez <strong>de</strong> progredir, tudo<br />
supporta resignada, sem ler ao menos a liberda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> se queixar, forças para reagir<br />
conlra a adversida<strong>de</strong>, para sustar a sua <strong>de</strong>cadência,<br />
evitar a sua total ruina.<br />
Mas o rei viaja com ostentação; mas o<br />
rei anda pelas côrtes exlrangeiras banqueteando-se<br />
lautamente, recebendo homenagens<br />
e <strong>de</strong>monstrações <strong>de</strong> regosijo e applauso.<br />
E ainda bem que assim succe<strong>de</strong>, para<br />
el-rei que tanto gosa, para o seu povo que<br />
tem a gloria <strong>de</strong> vêr o seu chefe tão magnificamente<br />
festejado e ruidosamente applaudido.<br />
•<br />
Propalaram, porém, os maldizentes, affirmaram<br />
lodos ou quasi todos os jornaes da<br />
opposição ao actual governo, repetiram e<br />
insinuaram alguns periodicos <strong>de</strong> Hespanha<br />
— que o rei <strong>de</strong> Portugal fôra ao extrangeiro<br />
mendigar o barbaro e repugnantíssimo<br />
expediente <strong>de</strong> uma intervenção politica;—<br />
que o mesmo rei fôra pedir aos<br />
parentes, amigos e visinhos, o que não tem,<br />
o que não podia haver em sua casa.<br />
Baldado seria o esforço, ignóbil, sordido<br />
e, para mais, inútil semelhante recurso,<br />
que a razão con<strong>de</strong>mna, o direito repelle, a<br />
justiça <strong>de</strong>spreza, e a humanida<strong>de</strong> amaldiçoaria.<br />
Nós porém não acreditamos em tal:<br />
não suppomos el-rei capaz <strong>de</strong> Ião feia acção.<br />
Não cremos, e cathegoricamente negamos<br />
que tão grave e pon<strong>de</strong>rosa commissão<br />
diplomatica seja, ou possa ou <strong>de</strong>va ser <strong>de</strong>sempenhada<br />
por el-rei, o qual sagrado e inviolável<br />
pela Carta, é, <strong>de</strong>ve ser lambem<br />
sancto na sua consciência, puro, puríssimo<br />
nas suas intenções, generoso e gran<strong>de</strong> em<br />
seus nobilíssimos feitos, em todos os aclos<br />
da sua vida, publica e particular.<br />
El-rei viaja no extrangeiro simplesmente<br />
para espairecer, para se divertir— *Le roi<br />
samuse.»<br />
El-rei viaja n'esla doce e aprazível quadra<br />
do outomno, como qualquer fidalgo<br />
abastado ou rico burguez, enfastiado do<br />
seu affanoso labutar quotidiano, aborrecido<br />
<strong>de</strong> ver sempre os mesmos silios, as mesmas<br />
caras e <strong>de</strong> tratar das mesmas cousas.<br />
El-rei- foi viajar para, <strong>de</strong> algum modo,<br />
suavisar as fundas magoas que dilaceram o<br />
coração seu <strong>de</strong> magnanimo principp, que assim<br />
vê a Patria querida a braços com a miséria,<br />
com o <strong>de</strong>scredito, com a vergonha,<br />
em Ião arriscado lance <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r o brilho<br />
<strong>de</strong> suas glorias já embaciado, e a gran<strong>de</strong>za<br />
histórica do seu renome <strong>de</strong>véras compro<br />
mellido durante o actual reinado.<br />
El-rei viaja para se alliviar, por alguns<br />
dias, do pesado encargo da governação pu-<br />
blica; para se <strong>de</strong>sanojar do tédio que lhe<br />
<strong>de</strong>vem ler provocado a politica tortuosa, a<br />
ruinosa administração, o labyrinlho financeiro<br />
incomprehensivel e a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m moral.<br />
em que os seus ministros e em nome<br />
d'elle, lançaram a Nação <strong>de</strong>quee//eé o digno<br />
chefe, o supremo e soberano magistrado.<br />
El-rei aborrecido da politica nacional,<br />
não foi ao extrangeiro tratar <strong>de</strong> politica;<br />
muito menos conspirar conlra as liberda<strong>de</strong>s<br />
do seu povo, que elle, sobre tudo e todos,<br />
ama e preza.<br />
El-rei foi repousar o espirito, já fatigado<br />
<strong>de</strong> tantas impressões dolorosas. Foi<br />
vêr se lá fora po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>sanuviar a alma<br />
cheia <strong>de</strong> tristezas, amargurada ante o quadro<br />
<strong>de</strong>véras sombrio e aíílictivo das misérias<br />
e <strong>de</strong>sgraças da Patria querida, <strong>de</strong> cuja<br />
liberda<strong>de</strong> elle, o rei, é o mais seguro penhor,<br />
e ella, a monarchia o baluarte inexpugnável.<br />
Não foi pedir soccorro foi procurar allivios;<br />
não foi buscar auxílios, foi em <strong>de</strong>-<br />
manda <strong>de</strong> consolações; não foi conspirar,<br />
foi diverlir-se.<br />
E <strong>de</strong>pois é natural, naturalíssimo que<br />
o rei siga o exemplo do seu Povo; faça o<br />
mesmo que elle pratica, mais e melhor, em<br />
tudo e por tudo, do que elle; finalmente<br />
adopte a mesma norma <strong>de</strong> vida.<br />
E' agora que a população das cida<strong>de</strong>s,<br />
em gran<strong>de</strong> massa e <strong>de</strong> todas as classes,<br />
abastadas, ricos, remediados e pobres, recolhem<br />
dos campos, das praias, das estancias<br />
d'agoas, este anno como nunca repletas a<br />
<strong>de</strong>itar fóra, frequentadas por milhares e<br />
milhares <strong>de</strong> famílias, é natural, é naturalíssimo,<br />
que el-rei faça o mesmo que o seu Povo.<br />
E* justo que el-rei, que, durante quasi<br />
lodo esse verão ar<strong>de</strong>nte, e sob a influencia<br />
incommoda d'um calor tropical aspliyxianle<br />
e no meio d'um estúpido aborrecimento <strong>de</strong><br />
morrer, se conservou em Lisboa, firme no<br />
seu posto, estudando, meditando sobre os<br />
<strong>de</strong>stinos da Patria, sem levantar mão do<br />
leme governativo, dirigiuio elle proprio os<br />
negocios públicos, é justo que el-rei faça<br />
lambem a sua passeiata, a sua digressão,<br />
tenha as suas ferias, como premio do seu<br />
bom serviço, e para consolo do seu insano<br />
labutar <strong>de</strong> tantos mezes.<br />
do Povo<br />
COIMBRA —Domingo, 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895<br />
Os reis <strong>de</strong>vem pensar como o seu Povo,<br />
fazer o que o seu Povo faz, dizer o que<br />
o seu povo diz:<br />
«Tristezas não pagam dividas.»<br />
«Quem vier que feche a porta.»<br />
E por fim <strong>de</strong> contas.. .<br />
«Maria vae com as outras.»<br />
Uma violência do governo<br />
O distincto ofíicial da armada e antigo<br />
lente da Escola Naval, sr. José Nunes da<br />
Matta, foi reprehendido, em or<strong>de</strong>m da armada,<br />
pelo sr. ministro da marinha.<br />
O facto que <strong>de</strong>u motivo a mais esta vingança<br />
do sr, Ferreira d'Almeida, foi uma<br />
energica carta, publicada no Século e <strong>de</strong>pois<br />
transcripta em muitos outros jornaes, em que<br />
se fazia uma critica justíssima ás rancorosas<br />
medidas do sr. ministro da marinha, que<br />
mais uma vez mostrou o seu temperamento<br />
vingativo.<br />
Uma reprehensão, dadá por um tal ministro<br />
e por tal motivo em vez <strong>de</strong> <strong>de</strong>shonrar<br />
o iilustre ofíicial, honra-o muitissimo.<br />
índia<br />
Para acalmar a enorme excitação que lavra<br />
na índia portugueza, vae em breves dias<br />
partir para aquelias longínquas paragens uma<br />
numerosa expedição militar, commandada pelo<br />
distincto major Francisco Augusto Martins <strong>de</strong><br />
Carvalho. Que nenhuns benefícios trará, a não<br />
ser a <strong>de</strong>speza inútil <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s sommas <strong>de</strong><br />
dinheiro e o sacrifício <strong>de</strong> muitas vidas preciosas,<br />
estamos nós certos.<br />
Vamos pagando a péssima administração,<br />
que os nossos governantes tem seguido e os<br />
successivos erros, que os nossos <strong>de</strong>spoticos<br />
governadores d'além-mar têm praticado, nas<br />
nossas quasi <strong>de</strong>simadas colonias.<br />
•••«<br />
Cuba<br />
A Hespanha continua fazendo os mais<br />
inauditos esforços para vencer a florescente<br />
ilha <strong>de</strong> Cuba, que no seu incontestável direito<br />
pugna, com as armas na mão, pela sua<br />
autonomia e completa in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia.<br />
A causa dos insurrectos é extremamente<br />
sympatica.<br />
Governados durante séculos pela Hespanha,<br />
nunca os seus habitantes gozaram a liberda<strong>de</strong><br />
e as regalias, a que tem jus um povo<br />
livre e <strong>de</strong> sentimentos <strong>de</strong>mocráticos.<br />
Não attingidos ainda pelo indifferentismo<br />
cobar<strong>de</strong>, que minou a antiga e tradiccional<br />
energia portugueza, luctam pela patria, pela<br />
Republica em fim !<br />
Nós continuaremos á mercê dos caprichos<br />
do rei e dos ministros e a caminhar para<br />
a mais vergonhosa ruina.<br />
Quer queiram, quer não queiram, os hespanhoes,<br />
mais tar<strong>de</strong> ou mais cedo e cremos<br />
que ha <strong>de</strong> ser muito breve, Cuba ha <strong>de</strong> seguir<br />
a evolução histórica e social, que <strong>de</strong>u a<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia e com ella a civilisação aos<br />
Estados Unidos da America do Norte e ao<br />
Brazil.<br />
Esta é a verda<strong>de</strong> indistructivel.<br />
A QUESTÃO RELIGIOSA<br />
CARTA DO SR. BISPO COIE A SUA M1GESTADE EL-REI<br />
Feitas algumas consi<strong>de</strong>rações prévias,<br />
vamos agora entrar, a fundo,' no exame e<br />
contestação, solemne e cathegorica, <strong>de</strong> cada<br />
um dos cerebrinos articulados do famoso,<br />
mas inepto, libello accusa.torio, que o venerando<br />
prelado veio, em publico e raso, offerecer<br />
perante o throno <strong>de</strong> sua illustrada e<br />
patriótica magesta<strong>de</strong>, contra os liberaes, e<br />
das formulas e provi<strong>de</strong>ncias, <strong>de</strong> prevenção, repressão<br />
e penalida<strong>de</strong> caustica, com as quaes<br />
o mesmo reverendíssimo senhor pe<strong>de</strong> que<br />
sejam castigados os, suppostos, inimigos da<br />
religião e do solio augusto <strong>de</strong> sua illustrada<br />
e patriótica magesta<strong>de</strong>.<br />
Viram já os leitores, pela transcripção<br />
d'esta meritória peça <strong>de</strong> sciencia, bom senso<br />
e litteratura amena, com que folego e ancia<br />
abocca sua ex. a , e faz soar, em sons atroadores<br />
que põem medo, como aquella trom-<br />
beta <strong>de</strong> Jericó, <strong>de</strong> que reza a Bíblia, ou aquelle<br />
medonho clarim <strong>de</strong> guerra, <strong>de</strong> que nos falia<br />
Camões, a buzina reaccionaria, poron<strong>de</strong> afina<br />
a vo\ do episcopado, e que já se fez ouvir<br />
também na epistola, ao mesmo tempo lamentosa<br />
e feroz, com a qual houve por bem,<br />
em sua alta sabedoria e exemplar carida<strong>de</strong>,<br />
mimosear-nos o sr. arcebispo <strong>de</strong> Évora, que,<br />
logo após o bispo <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, se dignou<br />
brindar-nos e divertir-nos com a mesma<br />
lenga-lenga, composta no mesmo baixo cantochão,<br />
mas com picados e agudos para variar.<br />
..<br />
Ora pois.<br />
Começa sua ex. a n'estes termos:<br />
•<br />
«1.° Restituir Deus e o ensino da doutrina<br />
ehristã ás escolas <strong>de</strong> instrucçao primaria principalmente.»<br />
Qual é a escola <strong>de</strong> instrucçao primaria,<br />
ex. mo senhor, qual é a escola em todo o continente,<br />
ilhas e ultramar d'estes venturosos<br />
reinos e domínios <strong>de</strong> sua illustrada e patriótica<br />
magesta<strong>de</strong>, da qual escola Deus tenha<br />
sido apartado, proscripto, <strong>de</strong>sthronado, para<br />
haver <strong>de</strong> ser alli restituído?<br />
Um exemplo, um único exemplo, uma só<br />
<strong>de</strong>nuncia nos basta, um caso único <strong>de</strong> tão<br />
horrendo e sacriiego attentado.<br />
Ao menos na sua diocese, que sua ex. a<br />
reverendíssima <strong>de</strong>ve conhecer perfeitamente,<br />
no rebanho e no redil.<br />
Por nossa parte, francamente o confessámos,<br />
e cathegoiicamente o <strong>de</strong>claramos: Não<br />
ha uma única escola primaria, secundaria e<br />
ainda superior, da qual tenham sido banidos<br />
e <strong>de</strong>sterrados Deus e o ensino da doutrina<br />
ehristã.<br />
Pelo contrario; nós sabemos, todo o<br />
mundo sabe, e por isso sua ex. a também e<br />
o seu clero, que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as escolas elementares<br />
até á <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os lyceus até<br />
á aca<strong>de</strong>mia real das sciencias, Deus e a<br />
doutrina ehristã occupam o primeiro logar,<br />
teern o logar <strong>de</strong> honra, subordinam todo o<br />
nosso ensino publico e particular, toda a<br />
nossa educação intellectual e moral, mais<br />
theologica do que metaphysica, muito mais<br />
theologica e metaphysica do que positiva.<br />
Sua ex. a sabe-o muito bem, tão bem como<br />
nós; se diz o contrario, é porque assim o<br />
quer, e assim lhe convém.<br />
E' pois falso o asserto, inútil o remedio.<br />
Não ha mister <strong>de</strong> restituir Deus e o ensino<br />
da doutrina ehristã ás escolas,' principalmente<br />
primarias.<br />
Lá os teem todas\ sempre-os tiveram todas;<br />
nunca <strong>de</strong>ixaram todas <strong>de</strong> os lá ter, e...<br />
em alta dóse.<br />
Se isto é bom ou mau, não queremos<br />
agora saber nem discutir com sua ex. a reverendíssima.<br />
E': é um facto, um facto real e positivo.<br />
E' pois mentirosa a asserção; <strong>de</strong>snecessário,<br />
inútil o remedio.<br />
•<br />
Não ha em Portugal, não ha, reverendíssimo<br />
Senhor Bispo Con<strong>de</strong>, não ha uma só escola<br />
n'este afortunado reino e seus domínios,<br />
na qual Deus não tenha o seu augusto solio, a<br />
qual Deus não presida, e sobre ellas não espalhe<br />
os divinos effluvios da sua graça infinita.<br />
Em todas, absolutamente em todas as escolas<br />
<strong>de</strong> instrucção primaria, elementares,<br />
complementares e normaes, se ensina, com<br />
sincero fervor religioso, a doutrina ehristã.<br />
Po<strong>de</strong>rá, sua ex. a , verificar esta incontestável<br />
verda<strong>de</strong> examinando toda a nossa legislação,<br />
organica e regulamentar sobre instrucção<br />
primaria, os programmas e compêndios,<br />
oflicialmente e extra-ofiicialmente, adoptados,<br />
assistindo aos exames e concursos <strong>de</strong><br />
admissão ao magistério; e, se quizer dar-se<br />
ao trabalho <strong>de</strong> visitar todas as escolas ao<br />
menos as da sua vasta diocese, achará Deus<br />
e a doutrina ehristã, em alta dóse, na pratica<br />
ordinaria do ensino quotidiano, em exercícios<br />
escolares semanaes e extraordinários sobre o<br />
mesmo assumpto, precedidos <strong>de</strong> orações a<br />
Deus e invocação do Divino Espirito.'<br />
Já vê, por tanto, sua ex. a reverendíssima,<br />
que se enganou, que o enganaram os seus<br />
informadores ofíiciaes e oficiosos.<br />
Iiludido na sua boa fé, levado talvez das<br />
suas melhores intenções, sua ex. a <strong>de</strong>ixou-se<br />
arrastar na onda, e veio sem o saber, sem<br />
o pensar, sem reflectir enganar os outros,<br />
sobresaltar as consciências piedosas, alarmar<br />
o publico religioso com a sua impertinente<br />
epistola ad Regem pro <strong>de</strong>o%
DEFENSOR DO PQVO — 1<br />
DE VOLTA<br />
Vão apparecendo as andorinhas...<br />
Depois d'um algido e triste inverno, após<br />
uma epocha triste, fria, inactiva, morta, sem<br />
vida que a movimente, nem factos que a enthusiasmem,<br />
todos os olhares se dirigem finalmente<br />
para um ponto d'on<strong>de</strong> vêm a esperança<br />
e a alegria, d'on<strong>de</strong> vêm os sorrisos da<br />
primavera e as primícias <strong>de</strong> um fecundo<br />
outomno. ..<br />
E' d^lli, dos lados da «Estação» d'on<strong>de</strong><br />
vem surgindo diariamente essa reboada d'almas,<br />
feitas <strong>de</strong> luz e sonho, que hão <strong>de</strong> povoar<br />
durante nove ou <strong>de</strong>z mezes esta formosa<br />
<strong>Coimbra</strong>. Como ao acabar do inverno,<br />
ao pôr d'esse sol baço <strong>de</strong> tres mezes, todas<br />
as vistas se erguem para o céu a ver as<br />
nuncias do bem, as mensageiras das rosas e<br />
dos perfumes, da fecundação e dos fructos,<br />
também em <strong>Coimbra</strong>, após uma epocha<br />
quasi <strong>de</strong> lucto, em que muitas portas estão<br />
fechadas e muitas ruas estão <strong>de</strong>sertas, em<br />
que muitas almas estão sem o seu par, e<br />
muitos corações opprimidos pela sauda<strong>de</strong>,<br />
todos os olhos, assim negros, aveludados e<br />
meigos como são, se dirigem para o norte e<br />
para o sul, prescrutando os primeiros núncios<br />
da bôa-nova.<br />
E elles já vão apparecendo por ahi: as<br />
pontas das suas capas são negras como as<br />
azas da andorinha, mas também a sua alma<br />
é pura como o collo da «ave da primavera»,<br />
De terras longiqnas on<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixaram os seus<br />
ninhos e talvez os seus amores, cá vem elles<br />
apezar d'isso, ó formosas <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, requestar-vos<br />
com os seus olhares e encantar-vos<br />
com as suas graças. Quantos d'elles apezar<br />
do carinho <strong>de</strong> suas familias e da sympathia<br />
dos seus conterrâneos, <strong>de</strong>sejariam já <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
ha muito estar ao abrigo dos vossos olhares<br />
e sob o meigo e fascinante encanto da vossa<br />
formusura...<br />
Que o diga eu gentil pérola do Mon<strong>de</strong>go,<br />
mais elegante do que os lyrios e mais mo<strong>de</strong>sta<br />
do que as violetas, mais alegre do que<br />
os cravos e mais perfumada do que as magnólias,<br />
que o diga eu, minha formosíssima<br />
Judiai...<br />
Quantas vezes, a essa hora melancholica<br />
da tar<strong>de</strong> em que as aves se escon<strong>de</strong>m e as<br />
estrellas apparecem, em que as almas simples<br />
rezam á Virgem Maria e os arvoredos se<br />
pacificam mais, saindo <strong>de</strong> todas as coisas um<br />
ar <strong>de</strong> mansidão e um bafejo <strong>de</strong> carinho,<br />
quantas vezes eu me lembrei <strong>de</strong> ti, vestida<br />
côr <strong>de</strong> rosa, encostada ao peitoril da tua<br />
janella, com os anneis do teu cabello em <strong>de</strong>salinho<br />
a emoldurarem ricamente o rosto<br />
mais fino e doce que os meus olhos têm<br />
contemplado ! Quantas vezes, quantas vezes!...<br />
E por mim julgo eu os outros, porque<br />
n'esta eda<strong>de</strong> e n^ste viver da juventu<strong>de</strong> em<br />
que as mãos se apertam francamente, sem<br />
odios nem rancores, sem invejas, nem pensamentos<br />
reservados, as almas são todas<br />
irmãs, ha em todas a mesma sincerida<strong>de</strong> e o<br />
mesmo frescor.<br />
Por isso tenho eu razão dizendo que muitas<br />
almas estão sem o seu par e muitos corações<br />
opprimidos pela sauda<strong>de</strong>, dizendo e<br />
affirmando que muitos d'esses lábios frescos<br />
que por ahi ha sorriem <strong>de</strong> intima alegria com<br />
o apparecimento das primeiras andorinhas.<br />
Bem sabem as donas d'estes lábios que o<br />
«amor d'um estudante também dura mais do<br />
que uma hora» porque é muitas vezes eterno.<br />
O melhor das melhores almas que tem existido<br />
em Portugal aqui vol-o têm <strong>de</strong>ixado,<br />
minhas encantadoras ingratas.<br />
Não digaes pois que só dura uma hora.<br />
Dizei que<br />
0 amor d'um estudante<br />
E' da côr das estrellas<br />
Brilha como um diamante<br />
Que cega todas as bellas.<br />
<strong>Coimbra</strong>, 1895. A. G.<br />
CARTA DE LISBOA<br />
io <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> i8g5<br />
Le roi s'amusel...<br />
E o mais curioso é que o Século diz que<br />
«o presi<strong>de</strong>nte Faure está encantado com<br />
elle» e que todas as pessoas, com quem o<br />
sr. D. Carlos tratou, o acharam sympathico<br />
e distincto».<br />
E diz isto o Século III...<br />
Ainda mais: — Elie, o rei, atravessou os<br />
salões pelo braço <strong>de</strong> madame Faure...<br />
Que importante noticia!...<br />
•<br />
Falleceu o argentario Manuel Antonio <strong>de</strong><br />
Seixas, <strong>de</strong>ixando uma fortuna <strong>de</strong> 10:000<br />
contos.<br />
.° ANNO<br />
Na caixa forte tinha 4:000 contos em I<br />
libras sterlinas.<br />
Diz o Século, que elle tinha rasgos extraordinários.<br />
Bem se vê, pelo activo da fortuna!...<br />
Em compensação centenares <strong>de</strong> familias<br />
vêem-se em serias difficulda<strong>de</strong>s, e muitos indivíduos<br />
morrem por ahi á mingua em mansardas<br />
infectas...<br />
Quem tem rasgos extraordinários e um<br />
coração bem formado nunca po<strong>de</strong>rá accumular<br />
uma fortuna <strong>de</strong> 10:000 contos <strong>de</strong> réis...<br />
Quantas lagrimas- enxugariam tão avultados<br />
capitaes!...<br />
O partido socialista em Lisboa tem tomado<br />
um incremento notável.<br />
São importantíssimos os trabalhos para<br />
o proximo plebiscito eleitoral.<br />
O alcance d'este acto é acisadissimo, assim<br />
o elemento operário lhe corresponda.<br />
Somos refractários ao elogio; mas os dirigentes<br />
do partido com o nosso amigo Gneco<br />
á frente, têm nestes últimos tempos produzido<br />
factos, que revelam gran<strong>de</strong> orientação e<br />
gran<strong>de</strong> tino.<br />
Se, a par d'estas medidas, elles fossem<br />
doutrinando as massas com perseverança e<br />
acerto, caminhariam na vanguarda dos partidos,<br />
que actualmente militam e os socialistas<br />
ganhariam um gran<strong>de</strong> predomínio e importância.<br />
No dia 10 <strong>de</strong> novembro é o concurso da<br />
associação dos Atiradores Civis.<br />
Já um gran<strong>de</strong> grupo se anda instruindo<br />
na carreira <strong>de</strong> tiro da guarnição <strong>de</strong> Lisboa,<br />
on<strong>de</strong> se têm manifestado hábeis atiradores,<br />
entre elles os nossos amigos Ivens Ferraz,<br />
Rodrigues, Pa<strong>de</strong>sca, Agostinho <strong>de</strong> Sousa e<br />
Pery <strong>de</strong> Lin<strong>de</strong>.<br />
Promette ser uma festa <strong>de</strong>slumbrante.<br />
Dispensávamos a presença da magesta<strong>de</strong><br />
a esse acto puramente civil.<br />
Na associação ha tres grupos muito habilitados—<br />
Esgrimistas <strong>de</strong> sabre e florete — Esgrimistas<br />
<strong>de</strong> bayoneta e um pelotão <strong>de</strong> atiradores<br />
civis organisados militarmente.<br />
Tudo instruído <strong>de</strong>baixo da direcção dos<br />
srs. alferes José Pires e 2. 0 sargento Oliveira,<br />
dois incansaveis e <strong>de</strong>dicadíssimos professores<br />
<strong>de</strong> armas e gymnastica militar.<br />
• • •<br />
ARMANDO VIVALDO.<br />
Correspondência balnear<br />
Espinho, 12 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> i8g5.<br />
Está quasi a tocar o seu termo a epocha<br />
balnear; começou a <strong>de</strong>bandada geral para as<br />
cida<strong>de</strong>s.<br />
Durante principalmente os dois mezes,<br />
agosto e setembro, quem tivesse paciência<br />
para ler as nossas <strong>de</strong>spretenciosas chronicas,<br />
certificar-se-hia <strong>de</strong> que em Espinho, uma das<br />
praias mais concorridas e animadas do nosso<br />
vasto e formoso litoral, houve um sem numero<br />
<strong>de</strong> divertimentos, mais que sufficientes<br />
para os numerosíssimos banhistas passarem<br />
alegremente o tempo, esquecendo o bulício<br />
atroador das cida<strong>de</strong>s, as canceiras do trabalho<br />
e a monotonia da vida ordinaria.<br />
O homem, porém, é essencialmente aficionado<br />
á vida urbana.<br />
Ainda quando alguma mulher bonita e<br />
elegante o subjugue, não sente prazer em se<br />
<strong>de</strong>morar na praia; o campo enfastia-o; a cida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>slumbra-o; é mais palaciano do que<br />
bucolico.<br />
Logo que o mez d'outubro se approxima,<br />
annunciando o tristonho inverno, e as arvores<br />
começam a <strong>de</strong>spir a amarellecida folhagem,<br />
sente a necessida<strong>de</strong> indomável <strong>de</strong> voltar<br />
aos gran<strong>de</strong>s centros.<br />
Ao ver passar o comboio, olha-o com inveja,<br />
soffre infinitas sauda<strong>de</strong>s; o seu maior<br />
<strong>de</strong>sejo seria tomar logar n'elle e correr, correr,<br />
voar!<br />
E' esta a razão porque os comboios são<br />
esperados com tanta ancieda<strong>de</strong>, olhados com<br />
tanto interesse, á sua passagem, pela multidão<br />
que se acotovela nas gares.<br />
Muitas vezes é por vaida<strong>de</strong>. As senhoras<br />
<strong>de</strong>sejam ostentar as suas mais garridas<br />
toilettes, serem admiradas pelos rapazes, e<br />
por isso aproveitam aquelle protexto para saírem<br />
e se pavonearem pelas ruas.<br />
Outras vezes, então, é para combater a<br />
nostalgia que lhes vae na alma, apagar sauda<strong>de</strong>s<br />
que se calam e escon<strong>de</strong>m no mais recondito<br />
do coração...<br />
•<br />
Dois mezes se passaram no maior enthusiasmo.<br />
O mez d^gosto foi aquelle, em que as<br />
gentillissimas hespanholas nos <strong>de</strong>slumbraram<br />
com o brilho dos seus olhos formosíssimos,<br />
com a gentileza da sua figura donairosa; o<br />
mez <strong>de</strong> setembro aquelle em que ellas partiram<br />
para o seu paiz, levando presos aos seus<br />
O po<strong>de</strong>r fascinador das ninas era tal,<br />
que não raro era verem-se scenas <strong>de</strong> ciúmes:<br />
os jornaes chegaram até a fallarem <strong>de</strong><br />
um casal <strong>de</strong> pombinhos, já bastante durasios,<br />
a quem a pérola branca, a hespanhola maia<br />
seductora que vimos em Espinho, lançou na<br />
maior <strong>de</strong>sarmonia e <strong>de</strong>sasocego...<br />
O marido tinha sessenta annos e ella, a<br />
ciumenta, o seu meio século bem puchados.<br />
Já viram coisa mais poética e ao mesmo<br />
tempo mais cómica ?<br />
O ciúme aos sessenta annos!<br />
Disseram-me que elle passou um verda<strong>de</strong>iro<br />
tormento por causa d'ella; felizmente<br />
no principio <strong>de</strong> setembro a terrível rival da<br />
tyranica Julieta partiu para a sua patria, acabando<br />
para felicida<strong>de</strong> do apaixonado Romeu<br />
os ralhos e... etc.<br />
D'ahi o improviso d'um critico <strong>de</strong> má<br />
morte:<br />
Os olhos da senorita<br />
Eram sinistros fataes;<br />
Só <strong>de</strong> vel-a, estremeciam<br />
Baluartes conjugaes I<br />
Porém como é fogaz o seu amor. Como<br />
ellas passados dias partem fatalmente para<br />
o seu paiz, e não mais voltam n'aquelle anno!<br />
O amor mesmo que <strong>de</strong>sponte não offerece<br />
perigo; é um amor resignado, attenuado.<br />
O fogo <strong>de</strong> um tal amor nunca ultrapassa<br />
as raias do romantismo; vae-se extinguindo<br />
successivamente com as fronteiras, e <strong>de</strong> todo<br />
morre com a triste solidão da ausência.<br />
Nós ainda nos lembramos d'ella, mas se<br />
ella está tão longe!. ..<br />
•<br />
As praias são um bem para a saú<strong>de</strong> e<br />
um remedio infallivel para as meninas novas<br />
e solteiras.<br />
Os papás nunca <strong>de</strong>vem <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> as frequentar;<br />
é alli, n'aquella intima convivência,<br />
que o amor <strong>de</strong>sponta, e impelle até as re<strong>de</strong>s<br />
do hymineu.<br />
Nós, emquanto po<strong>de</strong>rmos, faremos a apologia<br />
das praias.<br />
A mocida<strong>de</strong> ha <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cer-nos intimamente,<br />
e concordará estou certo.<br />
A's praias, A's praias!<br />
Em agosto proximo lá estaremos.<br />
CARTA DO PORTO<br />
GABIRU.<br />
11 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> i8g5.<br />
Não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser engraçada a tarefa conjectural,<br />
que por ahi corre mundo na imprensa<br />
e fóra d'ella sobre os motivos da<br />
viagem <strong>de</strong> el-rei, o sr. D. Carlos primeiro <strong>de</strong><br />
Portugal, pelas côrtes da Europa.<br />
O que eu lhes posso asseverar é que elle<br />
não diz o que vae fazer; e faz muito bem,<br />
para que não lhe aconteça como áquelles que<br />
dizem tudo o que fazem, e até o que nunca<br />
tiveram tenção <strong>de</strong> fazer. Na America os americanos<br />
estavam persuadidos <strong>de</strong> que os estrangeiros,<br />
seus hospe<strong>de</strong>s, se limitavam ao<br />
seu commercio sob a protecção das leis da<br />
gran<strong>de</strong> republica; pois enganaram-se: <strong>de</strong>scubriu-se,<br />
que cá, e lá, muitos se intrometteram<br />
na guerra civil braziléira com o intuito<br />
d'uma restauração monarchica ou imperialista:<br />
aquillo é que era guardar segredo!<br />
Meus amigos: sabem o que lhes vou dizer?<br />
é que tenho momentos <strong>de</strong> me envergonhar,<br />
<strong>de</strong> que, entre os partidos, que se dizem<br />
avançados, haja tanta fraqueza, tanta necessida<strong>de</strong><br />
! Bem dizia Fontes Pereira <strong>de</strong> Mello<br />
— Deixem-os faliar e gritar d vonta<strong>de</strong>, comtanto<br />
que não façam cousa alguma.<br />
Todos gritam, ralham, commentam, censuram;<br />
mas nem um só movimento, que<br />
<strong>de</strong>monstre caracter, pondunor, energia, patriotismo,<br />
para que não os incommo<strong>de</strong>m nos<br />
seus gosos, no seu egoísmo!<br />
E dizem, qne a propaganda <strong>de</strong>mocratica,<br />
ou patriótica, está feita ?!<br />
Domingo, 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895 — N.° 48<br />
encantos alguns corações mais sensíveis, pe- O rei pô<strong>de</strong> ir para on<strong>de</strong> quizer, e assidacitos<br />
d'alma arrancados aos nossos comgnar os <strong>de</strong>cretos que lhe agradarem; pô<strong>de</strong> ir<br />
patriotas, iberistas n'este particular até ao viajar, e tratar <strong>de</strong> allianças em seu proveito;<br />
exaggero.<br />
e é bem feito. Todos esses senhores que<br />
E quem não havia <strong>de</strong> se <strong>de</strong>ixar fascinar ? — para ahi se dizem chefes <strong>de</strong> partidos militantes<br />
<strong>de</strong>vem ter uma gran<strong>de</strong> confiança nos seus<br />
Vendo aquelle pas-<strong>de</strong>-quatre<br />
Honra e gloria <strong>de</strong> Castella<br />
Até o João Pinto Ribeiro<br />
Viria dansar com ella.<br />
exercitos, para os <strong>de</strong>ixarem dormir eternamente<br />
com as armas ensarilhadas, emquanto<br />
elles andam por Lisboa, e lá por fóra, á cata<br />
da espiga. E on<strong>de</strong> está, e para on<strong>de</strong> vae a<br />
As hespanholas vem a Portugal para rou- patria?<br />
bar os olhares, os sorrisos, emfim o coração Eu se fosse rei, em face do que se está<br />
dos lusitanos.<br />
passando em Portugal, que parece um enor-<br />
As nossas gentis patrícias têm por ellas me sepulcro, ro<strong>de</strong>ado <strong>de</strong> jardins, e <strong>de</strong> praias,<br />
certa emulação; e, comtudo, não são menos também iria pela Europa visitar os meus<br />
formosas; menos graciosas talvez e menos parentes coroados, eis e ultramontanos, para<br />
<strong>de</strong>senvoltas sem duvida, são todavia<br />
<strong>de</strong>licadas e constantes no amor.<br />
Eu estou com aquelle que dizia:<br />
mais vêr bem o terreno a trilhar; e também<br />
saber respon<strong>de</strong>r aos meus ministros ou<br />
calado.<br />
para<br />
ficar<br />
Alta, forte, boas côres,<br />
Lindos olhos. Afinal<br />
Eu e certos patriotas<br />
Votamos por Portugal.<br />
Julgarão os directores d'essas gentes <strong>de</strong><br />
todas as greys, que os Portuguezes engolem<br />
tudo quanto lhes <strong>de</strong>itam?!<br />
Tenho uma esperança parodoxal: quando<br />
tudo tiver emigrado <strong>de</strong> Portugal é que teremos<br />
homens <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>, austeros, valentes,<br />
e <strong>de</strong> sã consciência, que não atraiçoem a<br />
patria os seus concidadãos.<br />
— Está <strong>de</strong> lucto o sr. dr. Furtado <strong>de</strong>ntas,<br />
muito digno e sábio juiz da Relação,<br />
pelo passamento <strong>de</strong> sua virtuosa esposa. Tem<br />
softrido este digno magistrado as maiores<br />
<strong>de</strong>sventuras; como foi esta, e a da perda <strong>de</strong><br />
um extremoso filho, que os jornaes noticiaram<br />
largamente no anno passado.<br />
nBC SK. 3E<br />
Honra ao mérito I Ao maestro,<br />
portento no sol e dá /...<br />
Tens da musica o gran<strong>de</strong> estro!<br />
Orgulho <strong>de</strong> Figueiró III...<br />
0 Hymno do João Franco<br />
é dos hymnos — o primeiro,<br />
mette a todos num tamanco...<br />
'stá composto p'ra gaiteiro I<br />
0 Franco enthusiasmado,<br />
já que o Rorges não quer bago<br />
vae pois ser con<strong>de</strong>corado<br />
co'a grã-cruz <strong>de</strong> S. Thiago.<br />
Mando vir a partitura,<br />
antes que o João me rache,<br />
pois qUi>ro ter a ventura<br />
<strong>de</strong> a ouvir tocar á altura,<br />
pelos machos <strong>de</strong> Sernache 1...<br />
LOPES DA GAMA.<br />
0 hábil regente, regenerador<br />
e maestro, sr. A. M. Borges, <strong>de</strong><br />
Figueiró dos Vinhos, fez um —<br />
Hymno João Franco. Por gratidão<br />
o ministro vae agracial-o<br />
com a grã-cruz da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> S.<br />
Thiago.<br />
IPra-Uique.<br />
—<br />
A ARREMATAÇÃO DA CARNE<br />
A camara municipal fez publico, por meio<br />
d'um edital, as condições estabelecidas para<br />
o novo concurso — que finda a 17 <strong>de</strong> outubro—da<br />
arrematação das carnes ver<strong>de</strong>s d'este<br />
concelho.<br />
Lemos o edital com o cuidado que nos<br />
tem <strong>de</strong>spertado esta questão <strong>de</strong> interesse publico<br />
e notámos — com franqueza— uma <strong>de</strong>ficiência<br />
con<strong>de</strong>mnavel, que mais parece um<br />
proposito <strong>de</strong> proteger os marchantes, do que<br />
o publico.<br />
E isto não é uma affirmação gratuita,<br />
pois que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o principio que se tratou<br />
d'esta questão, tem-se dado taes voltas que<br />
em todas se tem mostrado uma certa transigência,<br />
favoravel a quem concorrer.<br />
Relembremos :<br />
Na primeira arrematação especialisava-se<br />
a carne <strong>de</strong> vacca em i. a e 5. a classe, com<br />
uma reducção <strong>de</strong> 25 réis em kilo, a qual era<br />
compensada no augmento do preço do car.<br />
neiro, ovelha, cabra, etc., como se <strong>de</strong>monstrou<br />
n'este jornal.<br />
Não approvou a camara municipal esta<br />
proposta porque teve quem préviamente a<br />
avisasse do logro, e porisso <strong>de</strong>cidiu pôr novamente<br />
em praça a arrematação do fornecimento<br />
das carnes ver<strong>de</strong>s. Esse edital, contém<br />
diversas disposições preventivas e penaes<br />
a que não vale a pena referir.<br />
Pervaleceu a birra. São duas as quali Ja<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> vacca, por esta fórma :<br />
Vacca«— Lombo sem osso nem sebo, pojadouro<br />
i<strong>de</strong>m.<br />
Toda à^ outra carne com osso, bem como<br />
a lingaa.<br />
Carne da cabeça.<br />
VltcIIa:— Preço geral.<br />
A carne da cabeça — que a camara junta<br />
com o lombo, pojadouro, e com a carne, osso
DEFENSOR r>o P o v o —<br />
e lingua — é a chamada carne das cestas que<br />
se ven<strong>de</strong> ao kilo entre 160 e 180 réis! Pois<br />
esta carne passa a ven<strong>de</strong>r-se nos talhos —<br />
por obra e graça da camara! — e o consumidor<br />
ha <strong>de</strong> pagal-a por maior preço.<br />
Nunca se viu tanto disparate!<br />
•<br />
A camara municipal só quiz tratar <strong>de</strong> assegurar<br />
a reducção <strong>de</strong> preços<br />
á carne <strong>de</strong> vacca e vitella<br />
por serem <strong>de</strong> beneficio proprio, e uma regalia<br />
para o consumidor rico e remediado — tal<br />
qual os srs. vereadores.<br />
Não se importaram com as classes medias—<br />
nem principalmente — com as classes<br />
indigentes.<br />
Foi supprimido da arrematação<br />
o carneiro a ovelha, cabra,<br />
borrego ou capado,<br />
toucinho (carne <strong>de</strong> porco).<br />
Prova a <strong>de</strong>dicação que as edilida<strong>de</strong>s têm<br />
pelos interesses dos seus municipes, os mais<br />
necessitados.<br />
•<br />
Como todos sabem—só a camara o ignora<br />
— as rezes miúdas são o principal alimento<br />
das classes menos abastadas; por este motivo<br />
se impunha o <strong>de</strong>ver moral <strong>de</strong> olharem pela<br />
sua sorte e garantir-lhes ao menos os preços<br />
actuaes.<br />
Mas nada se fez em beneficio dos <strong>de</strong>sprotegidos.<br />
E não havemos <strong>de</strong> dizer, que a questão<br />
do fornecimento das carnes ver<strong>de</strong>s nos parece<br />
uma in<strong>de</strong>corosa comedia, representada<br />
pela maioria da camara, que estabeleceu<br />
condições <strong>de</strong> tal or<strong>de</strong>m, que <strong>de</strong>ixa sempre<br />
aberta uma porta falsa por on<strong>de</strong> entra o<br />
fornecedor, na mira <strong>de</strong> um bom arranjo.<br />
Outra coisa não é a exclusão das carnes<br />
ver<strong>de</strong>s das rezes miúdas — que ámanhã,<br />
<strong>de</strong>pois da arrematação dada, po<strong>de</strong>m subir<br />
<strong>de</strong> preço, como pó<strong>de</strong>m também subir as<br />
chamadas roupas, que são:—fressura, bofe,<br />
coração, jigado, dobrada, tripa, baço, coalheira,<br />
todas as miu<strong>de</strong>zas dos animaes que<br />
são o alimento favorito dos sem fortuna!<br />
A abastança dos srs. vereadores, não os<br />
fez lembrar <strong>de</strong> que a maioria dos seus municipes<br />
pouco ou nada lucra com o baixar-se<br />
<strong>de</strong> preço, somente a vacca e a vitella!<br />
Os operários, na sua maioria, mesmo que<br />
a vacca <strong>de</strong>sça a 200 réis, não a compram nem<br />
a comem, porque o minguado salario lhe não<br />
chega para isso. Quando doentes, e suas<br />
famílias são os caldos <strong>de</strong> carneiro a sua<br />
dieta, e com saú<strong>de</strong>, não passam da fressura,<br />
dobrada, etc., pela sua barateza relativa.<br />
Pois na camara municipal, apezar da estarem<br />
homens, que, por experiencia própria,<br />
se <strong>de</strong>viam recordar <strong>de</strong> antigos tempos, em<br />
que a infelicida<strong>de</strong> e a <strong>de</strong>sventura os perseguiu<br />
— nem por isso se lembraram <strong>de</strong> incluir<br />
na arrematação das carnes ver<strong>de</strong>s, as diversas<br />
qualida<strong>de</strong>s com que se alimentam as classes<br />
pobres.<br />
Serão ellas as victimas da usura interesseira<br />
do fornecedor: — que a diminuir no<br />
preço da vacca — augmentar d o preço do<br />
carneiro !<br />
•<br />
E' preciso que se seja muito cego para<br />
não querer ver que basta um pequeno augmento<br />
<strong>de</strong> 10 réis em cada kilo, nas carnes<br />
das rezes miúdas e nas chamadas roupas,<br />
19 Folhetim—«Defensor do Povo»<br />
0 C0RS4RI0 PORTIGIEZ<br />
ROMANCE MARÍTIMO<br />
ORIGINAL DE<br />
s m s i wwi® i m u m<br />
CAPITU!,© IV<br />
O naufragio<br />
Passemos agora a occupar-nos <strong>de</strong> Carlos,<br />
que chegou a Portugal, a bordo da fragata<br />
S. Sebastião, sem inci<strong>de</strong>nte notável.<br />
A fortuna protegia-o, e d'esta vez era com<br />
justiça.<br />
Ó commandante da fragata era, como<br />
dissémos, um honrado marinheiro; e quando<br />
apresentou o seu relatorio, recommendou<br />
tanto os serviços prestados pelo mancebo,<br />
que foi elogiado na or<strong>de</strong>m da armada, e promovido<br />
a segundo tenente.<br />
Trez mezes <strong>de</strong>pois foi nomeado commandante<br />
do bergantim Santo Antonio, e seguiu<br />
viagem para os Açores, levando a bordo um<br />
l.° ANNO<br />
para o fornecedor ficar em melhores condi- !<br />
coes do que está presentemente, com a vacca<br />
a 280 réis!<br />
Não se faça a camara mais ignorante, e<br />
não finja <strong>de</strong>sconhecer o accordo que existe<br />
ha muitos annos, entre os ven<strong>de</strong>dores <strong>de</strong> carnes<br />
ver<strong>de</strong>s. Unidos por um indissolúvel syndicato,<br />
os preços tem-se conservado intactos,<br />
sem se estabelecer concorrência, reinando<br />
sempre a santa harmonia, nas diversas companhias.<br />
Mas, porque motivo appareceu uma proposta<br />
na primeira arrematação, estabelecendo<br />
o preço do carneiro, cabra, etc. — e agora,<br />
na segunda, a camara não incluiu essas especiarias.<br />
Porque só a vacca e a vitella lhes faz<br />
papo?!. ..<br />
Isto não é sério, quando o <strong>de</strong>via ser para<br />
<strong>de</strong>coro da camara municipal, que anda a jogar,<br />
nesta questão, com pau <strong>de</strong> dois bicos.<br />
Bem dissémos nós, e outros collegas, que<br />
a camara andava a tecer enriçada meada. ..<br />
Assim foi; e bem confirmada está a afirmativa,<br />
no edital, em que é annunciado o fornecimento<br />
<strong>de</strong> carnes ver<strong>de</strong>s, e on<strong>de</strong> só figura<br />
a carne e a vitella,<br />
<strong>de</strong>ixando campo largo ao fornecedor que<br />
pô<strong>de</strong>—á sua vonta<strong>de</strong>! — augmentar o preço<br />
das rezes miúdas que ficaram fóra da arrematação.<br />
Depois se se lhe diz que andam feitos...<br />
Assumptos <strong>de</strong> interesse local<br />
Elevador<br />
O sr. Mesnier Ponsard, concessionário<br />
do elevador, mandou distribuir peia cida<strong>de</strong>,<br />
aos domicílios, boletins para a inscripção <strong>de</strong><br />
acções da companhia do Caminho <strong>de</strong> ferro<br />
funicular <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, com o fim <strong>de</strong> reaiisar<br />
o restante da emissão — 21:19056000. réis —<br />
para a constituição da companhia.<br />
Mas ainda esta tentativa lhe não <strong>de</strong>u resultado<br />
e o incansavel trabalhador sr. Mesnier,<br />
soffreu a <strong>de</strong>cepção da maioria da cida<strong>de</strong><br />
lhe negar o seu auxilio, tendo alguns dos seus<br />
habitantes recebido com maneiras bruscas —<br />
e mais alguma coisa — o encarregado da distribuição.<br />
Felizmente porém, consta-nos que os mais<br />
influentes na fundação da companhia dobraram<br />
as suas subscripções, <strong>de</strong> modo que hoje<br />
a sua constituição está apenas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da<br />
cifra <strong>de</strong> seis contos <strong>de</strong> réis!<br />
Só nos falta vêr que a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
<strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> cobrir esta pequena importancia,<br />
que seiscentas pessoas perfaziam, suppondo<br />
que cada uma só tomasse uma acção.<br />
Mais uma vez — em nome dos interesses<br />
d^sta terra sempre <strong>de</strong>sprezada por todos —<br />
rogamos aos nossos patrícios o dobrarem a<br />
subscripção, a fim <strong>de</strong> que <strong>Coimbra</strong> seja dotada<br />
com melhoramento tão importante, que<br />
esperamos garanta aos seus accionistas um<br />
divi<strong>de</strong>ndo rasoavel, como já foi <strong>de</strong>monstrado.<br />
Os cavalheiros que <strong>de</strong>sejarem subscrever<br />
n'este sentido, terão apenas o incommodo <strong>de</strong><br />
dirigirem as suas <strong>de</strong>clarações até ao dia 25<br />
do corrente, para assim os concessionários<br />
resolverem <strong>de</strong>finitivamente se abandonam a<br />
empreza, ou proseguem nos trabalhos <strong>de</strong> organisação<br />
da companhia e construcção do<br />
caminho <strong>de</strong> ferro fanicular.<br />
Brevemente publicaremos a lista dos subscriptores<br />
que concorreram ás redacções dos<br />
jornaes <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />
<strong>de</strong>stacamento <strong>de</strong> soldados para a ilha <strong>de</strong><br />
S. Miguel.<br />
Na volta para o continente avistou um<br />
brigue francez, que lhe <strong>de</strong>u caça.<br />
Carlos era um brioso mancebo, e disse<br />
para João Traquete, que, com elle, na qualida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> mestre, se tinha embarcado:<br />
— João! Vês aquelle bello navio, que<br />
<strong>de</strong>ita seis milhas por hora ?<br />
— Vejo sim, senhor! E' um brigue <strong>de</strong><br />
gran<strong>de</strong> força, que sem duvida nos dá caça.<br />
— Pois não importa, respon<strong>de</strong>u Carlos ;<br />
vamos ao seu encontro... fugir é vergonha:<br />
apita para as gavias.<br />
João apitou e Carlos proseguiu.<br />
— Rapazes, aquelle brigue tem maiores<br />
posses <strong>de</strong> que o nosso bergantim; e corno<br />
nos caça, é vergonha fugir-lhe; vamos procural-o...<br />
E que diabo vale aquillo para marinheiros<br />
portuguezes ?<br />
«Vamos, bota fóra cutellos e varredouras!<br />
Larga, caça e iça sobres! O' do leme,<br />
contro mais! Cheio todo! Tudo ligeiro ! A<br />
postos, que são francezes! Icem a ban<strong>de</strong>ira<br />
e firmem-n'a com um tiro <strong>de</strong> peça.»<br />
Carlos era estimado <strong>de</strong> todos, e comquanto<br />
conhecessem que era uma loucura ir ao encontro<br />
d'um inimigo mais forte, a manobra<br />
effectuou-se promptamente.<br />
O commandante do brigue francez, porém,<br />
ao ver os movimentos do bergantim<br />
portuguez, admirou-se e mandou laFgar joa-<br />
Nomeação<br />
O nosso amigo, sr. José Antonio dos<br />
Santos, um estudioso alumno da Escola Brotero,<br />
pela sua intelligencia e <strong>de</strong>dicação ao<br />
trabalho, mereceu que o conselho da escola<br />
industrial Brotero, o propozesse para o logar<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>corião das aulas <strong>de</strong> chimica e physica,<br />
o que foi unanimemente resolvido.<br />
E' a justa recompensa que se dá a um<br />
persistente trabalhador, que, pelo seu expontâneo<br />
esforço tem sabido granjear a estima<br />
<strong>de</strong> todos que o conhecem e lhe avaliam as<br />
boas qualida<strong>de</strong>s cívicas.<br />
Parabéns <strong>de</strong> amigo.<br />
Abúndio da Silva<br />
Para esclarecimento á noticia que dêmos<br />
d'este illustrado académico, publicamos —<br />
como se nos pe<strong>de</strong> — a carta que nos foi enviada<br />
por s. ex. a .<br />
•<br />
Sr. redactor—Rogo a v. a fineza <strong>de</strong> publicar<br />
no conceituado Defensor do Povo a<br />
seguinte rectificação á noticia que a meu respeito<br />
foi publicada no ultimo numero d'este<br />
jornal.<br />
E' verda<strong>de</strong> que recebo um subsidio para<br />
custear a minha formatura em direito, graças<br />
á fidalga generosida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma iliustre personagem,<br />
cujo nome me é vedado revelar; mas<br />
não do Senhor Dom Miguel Segundo, como<br />
v. noticiou. E para que esta rectificação não<br />
dê logar a um mal entendido, consinta v. que<br />
eu <strong>de</strong>clare que o único fim da formatura que<br />
enceto, é collocar-me em melhores e mais<br />
vantajosas condições para eu continuar in<strong>de</strong>fezamente<br />
no caminho das reivindicações patrias<br />
e na <strong>de</strong>feza do i<strong>de</strong>al legitimista, ao qual<br />
consagro toda a minha activida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>dicação<br />
e ao qual não recusarei nunca <strong>de</strong> maiores<br />
sacrifícios.<br />
Agra<strong>de</strong>ço extremamente penhorado as<br />
phrases amigas e lisongeiras com que v. se<br />
referiu á minha pobre individualida<strong>de</strong>, e pela<br />
publicação d'esta carta me confesso<br />
De v. etc.<br />
<strong>Coimbra</strong>, 11-10-95.<br />
Abúndio da Silva.<br />
Lyceu <strong>de</strong> Lisboa<br />
Pela exoneração do sr. dr. Silva Amado<br />
do cargo <strong>de</strong> reitor do lyceu <strong>de</strong> Lisboa, foi<br />
nomeado para o mesmo logar o sr. dr. José<br />
Maria Rodrigues, ornamento distinctissimo<br />
da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Theologia da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>.<br />
O erudito professor é também o bibliothecario<br />
do importante archivo d'este estabecimento,<br />
e que possue rarida<strong>de</strong>s bibliographicas,<br />
e que tem merecido a s. ex. a especial cuidado,<br />
pondo-as a salvo da rapina. — reformou<br />
por completo o serviço interno e a sua<br />
activida<strong>de</strong> prodigiosa encetou a catalogação<br />
dos livros que andavam dispersos.<br />
E' para sentir a sua retirada <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />
pois que será diííicil encontrar um funccionario<br />
com tanta competencia e tanta <strong>de</strong>dicação<br />
por um estabelecimento que não só<br />
precisa d'uma direcção intelligente, mas d'uma<br />
assidua activida<strong>de</strong> e vigilancia.<br />
E tudo isso havia actualmente.<br />
Novas collocações<br />
Os escrivães <strong>de</strong> fazenda dos extinctos<br />
concelhos <strong>de</strong> Poiares e Midões, srs. Alfredo<br />
<strong>de</strong> Figueiredo Queiroz e Antonio da Cunha<br />
Gouvêa foram mandados fazer serviço na<br />
repartição <strong>de</strong> fazenda d'este districto.<br />
netes e metter o leme <strong>de</strong> ló: poz-se neutra<br />
amura e procurou a prôa do navio portuguez.<br />
Carlos observou com olhos <strong>de</strong> lynce esta<br />
manobra; <strong>de</strong>ixou-o passar a rastejar por sotavento,<br />
e <strong>de</strong>u a voz <strong>de</strong> fogo.<br />
O bergantim cobriu-se <strong>de</strong> fumo e duas<br />
balas <strong>de</strong> coxia foram quebrar o leme do brigue<br />
inimigo.<br />
O commandante francez não <strong>de</strong>sanimou;<br />
mas no fim d'um fogo <strong>de</strong> vinte e cinco minutos<br />
arreiou ban<strong>de</strong>ira, em vista das avarias<br />
que recebera !<br />
Uma hora <strong>de</strong>pois seguia o bergantim Santo<br />
Antonio, para as costas <strong>de</strong> Portugal, levando<br />
a presa a reboque.<br />
Na côrte causou gran<strong>de</strong> admiração este<br />
facto, e Carlos foi mais uma vez elogiado na<br />
or<strong>de</strong>m da armada, e promovido a primeiro<br />
tenente por distineção.<br />
O joven recebeu com satisfação a noticia;<br />
quanto a seu pae agra<strong>de</strong>cia a Deus a<br />
ventura que a seu filho dispensava.<br />
Carlos lembrava-se <strong>de</strong> D. A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong>, e<br />
extranhava não lhe escrever; e quantas vezes<br />
pensava elle em D. Carlota, sem po<strong>de</strong>r<br />
explicar a causa !<br />
A imagem <strong>de</strong> D. A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong> não lhe <strong>de</strong>sapparecia<br />
um momento da i<strong>de</strong>ia, mas a <strong>de</strong><br />
D. Carlota surgia a seu lado, bella e sympathica<br />
como os sonhos da poesia l<br />
Domingo, 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895—N.° 48<br />
Regimento 33<br />
O regimento <strong>de</strong> infanteria 23 está quasi<br />
reduzido aos officiaes, sargentos e banda.<br />
A cada instante estão partindo contingentes<br />
para reforçarem outros regimentos;<br />
agora forneceu um para infanteria 3, com<br />
<strong>de</strong>stino á índia.<br />
Logo que os mancebos ultimamente apurados<br />
tenham a instrucção necessaria, levarão<br />
com certeza o mesmo caminho.<br />
Este senhor Festas está a pedir...<br />
Exame<br />
No lyceu d'esta cida<strong>de</strong>, fez exame <strong>de</strong><br />
francez, o menino Fernando Marques Pinto,<br />
filho do sr. José Marques Pinto, proprietário<br />
do gran<strong>de</strong> Café Central.<br />
Ao sr, José Marques Pinto e a sua ex. ma<br />
esposa, sinceros parabéns.<br />
Escola industrial Brotero<br />
As matriculas para o anno <strong>de</strong> i8g5 a<br />
1896 foram a seguintes:<br />
Arithmetica e geometria elementar, 18—<br />
<strong>de</strong>senho geral elementar, 318 — <strong>de</strong>senho ornamental,<br />
3o — <strong>de</strong>senho architectonico, 17—<br />
<strong>de</strong>senho mechanico, 5 — physica e mechanica<br />
industrial, 18 — chimica industrial, <strong>45</strong><br />
— total 351.<br />
Diplomas<br />
Por proposta do nosso amigo e patrício,<br />
sr. Julião Veiga, actualmente <strong>de</strong> resi<strong>de</strong>ncia<br />
na capital da gran<strong>de</strong> republica do Brazil, a<br />
directoria do Retiro litterario portugue\,<br />
conferiu ao <strong>de</strong>cano dos jornalistas portuguezes,<br />
sr. Joaquim Martins <strong>de</strong> Carvalho, o diploma<br />
<strong>de</strong> socio correspon<strong>de</strong>nte.<br />
— Também o sr. dr. Zeferino Candido<br />
propoz se conferisse egual diploma ao iliustre<br />
professor da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, sr. dr. Bernardino<br />
Machado.<br />
Centro Commercio e Industria<br />
E' a nova associação que se <strong>de</strong>sligou do<br />
Grupo musical Abel Elyseu e que inaugurou<br />
os seus bailes havendo hor.tem concorrida<br />
reunião, reunindo hoje novamente as famílias<br />
dos seus socios.<br />
A sala está <strong>de</strong>corada com singeleza, e<br />
muito gosto.<br />
Carteira da policia<br />
Prisão<br />
Foram hontem presos pelo chefe da i. a<br />
esquadra, Antonio Francisco, Thomé dos<br />
Santos Capeilo e Manuel Simões Ramos,<br />
todos do concelho <strong>de</strong> Cantanhe<strong>de</strong>, os primeiros<br />
dois por se apresentarem no governo<br />
civil com documentos em nome d'outros a<br />
solicitarem passaportes, e o terceiro como<br />
engajador e ser quem os apresentava para<br />
aquelle fim.<br />
Este ultimo ainda ia compromettendo<br />
também o negociante <strong>de</strong> Cantanhe<strong>de</strong>, José<br />
Rodrigues da Cunha, a quem pediu n^sta<br />
cida<strong>de</strong> para a seu rogo assigar um termo <strong>de</strong><br />
consentimento n'um cartorio, em que aquelle<br />
Ramos se apresentava como pae d'um dos<br />
rapazes engajados, cujo termo se não chegou<br />
a lavrar.<br />
Vão ser enviados para Cantanhe<strong>de</strong>.<br />
Porque seria que Carlos não podia pensar<br />
em D. A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong>, sem associar aos seus<br />
pensamentos um sentimento <strong>de</strong> terna affeição<br />
por D. Carlota ?<br />
Seria amor? Não, porque o amor não é<br />
elástico como a consciência d'alguns políticos!<br />
O coração marca um limite ao amor: e<br />
quando é verda<strong>de</strong>iro, não o pô<strong>de</strong> esten<strong>de</strong>r<br />
além duma entida<strong>de</strong>.<br />
D. Carlota, pela sua parte, não se lembrava<br />
menos <strong>de</strong> Carlos, e experimentava lenitivo,<br />
quando podia fallar n'elle; mas sabendo<br />
o amor que a sua irmã o ligava, contrahia no<br />
peito essa terna affeição que tanto lh'o cruciava<br />
! Suspirava e soffria.<br />
Os mezes e os annos foram correndo,<br />
sem inci<strong>de</strong>ntes notáveis. Havia perto <strong>de</strong><br />
tres annos que Carlos tinha voltado do Brazil,<br />
e pela falta <strong>de</strong> cartas ignorava o que por<br />
lá ia.<br />
Estamos em 1798. Carlos gozava a reputação<br />
<strong>de</strong> ser um bom official, o que não<br />
era favor.<br />
Entre o numero <strong>de</strong> officiaes <strong>de</strong> marinha,<br />
que mais se impunham, propalando os seus<br />
serviços e alta capacida<strong>de</strong>, o sr. D. Luiz <strong>de</strong><br />
Sarmento, era o que a todos excedia. Verda<strong>de</strong><br />
é, que, segundo a opinião dum distincto<br />
escriptor d'esta terra, a modéstia é capa<br />
dos tolos.<br />
(Gontima.)
DEFENSOR DO PQVO — 1.° ANNO Domingo, 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895 — N.° 48<br />
R E C L A M E S E A N N U N C I O S<br />
5 RÉIS POR HORA<br />
E' o consumo GARANTIDO do<br />
BICO AUEE.<br />
Os outros bicos ordinários consomem<br />
no mesmo tempo 12 a 20 réis.<br />
Encommendas a JOSÉ MARQUES LADEIRA<br />
COIMBRA<br />
99, Rua do Viscon<strong>de</strong> da Luz, 103<br />
NDVO DEPOSITO DAS MACHINAS DE COSTURA<br />
I 1 T G E E ,<br />
ESTABELECIMENTO<br />
DE<br />
FAZENDAS BRANCAS<br />
DE<br />
MANUEL CARVALHO<br />
29 —Largo do Príncipe D. Carlos —31<br />
Encontra o publico o que lia <strong>de</strong> melhor em fazendas brancas e um completo<br />
sortido das recentes novida<strong>de</strong>s para a estação <strong>de</strong> verão e que esta casa<br />
ven<strong>de</strong> por preços baratíssimos.<br />
K E I Í<br />
As verda<strong>de</strong>iras machinas <strong>de</strong> costura<br />
para costureiras, alfaiates e sapateiros, ven<strong>de</strong>m-se no novo<br />
<strong>de</strong>posito em condições, sem duvida, mais vantajosas do<br />
que em qualquer outra casa <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, Porto, ou Lisboa, apresentando sempre<br />
ao comprador um sortido <strong>de</strong> todos os mo<strong>de</strong>los que a mesma Companhia fabrica.<br />
Vendas a prestações <strong>de</strong> ãOI) réis semanaes. A dinheiro,<br />
com gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>scontos.<br />
ENSINO GRÁTIS, no <strong>de</strong>posito ou em casa do comprador.<br />
Na mesma casa executa-se com a maxima perfeição qualquer concerto em<br />
machinas <strong>de</strong> costura, seja qual fôr o auctor, tendo para isso officina montada.<br />
Ao comprador <strong>de</strong> cada machina será oITerecido, como brin<strong>de</strong>, um objecto<br />
<strong>de</strong> valor. Dão-se catalogos illustrados, grátis.<br />
Ven<strong>de</strong>-se oleo, agulhas, carros d'algodão, torçaes e peças soltas para todas<br />
as machinas.<br />
29<br />
Por <strong>de</strong>spacho do meritissimo juiz presi<strong>de</strong>nte do<br />
tribunal do commercio do Porto e a requeri-<br />
mento da Empreza do BICO AUER, foram arrestados<br />
judicialmente, em casa dos srs. Nusse & Bastos,<br />
rua <strong>de</strong> Passos Manoel n.° 14 e rua d'Alegria n.° 867,<br />
d'aquella cida<strong>de</strong>, os bicos <strong>de</strong> contrafacção que estes<br />
srs. tentavam introduzir <strong>de</strong>baixo do nome <strong>de</strong> bico<br />
Invencível, bem como apparelhos e matérias primas<br />
que serviam para a sua fabricação.<br />
E' sabido que os arrestos judiciaes, só se conce<strong>de</strong>m<br />
<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> maduríssimo exame dos documen-<br />
tos justificativos dos direitos dos auctores, inquirição<br />
<strong>de</strong> testemunhas e <strong>de</strong>posito e avultada caução, que<br />
no caso actual, foi arbitrada em tres contos <strong>de</strong> réis.<br />
Bastará isto para esclarecer os incautos compradores<br />
<strong>de</strong> bicos <strong>de</strong> contrafacção, adquiridos baratos?<br />
Essa barateza constitue para os srs. compradores<br />
um prejuizo completo por lhes faltar fornecedor<br />
<strong>de</strong> mangas.<br />
Saiu cara, infelizmente, a economia imaginada.<br />
JOÃO RODRIGUES BRAGA<br />
SUCCESSOR<br />
17, ADRO DE CIMA, 20 — (Atraz <strong>de</strong> S. Bartholomeu)<br />
2 Armazém <strong>de</strong> fazendas <strong>de</strong> algodão, lã e seda. Vendas por junto e a retalho.<br />
Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> pannos crús. — Faz-se <strong>de</strong>sconto nas compras para<br />
reven<strong>de</strong>r.<br />
Completo sortido <strong>de</strong> coroas e bouquets, fúnebres e <strong>de</strong> gala. Fitas <strong>de</strong><br />
faille, moiré glacé e setim, em todas as cores e larguras. Eças douradas para<br />
adultos e creanças.<br />
Continúa a encarregar-se <strong>de</strong> funeraes completos, armações fúnebres e<br />
trasladações, tanto n'esta cida<strong>de</strong> como fóra.<br />
FOGÕES U U GOSINHA<br />
Na officina <strong>de</strong> serralharia <strong>de</strong> José<br />
Dias Ferreira, encontram-se á venda magníficos<br />
fogões <strong>de</strong> fogo circular, novos, e<br />
<strong>de</strong> todos os tamanhos.<br />
Responsabilisa-se pela sua construcção<br />
e regular funccionamento. Preços<br />
modicos.<br />
11— Rua dos Militares—13<br />
COIMBRA<br />
Aos photographos amadores<br />
Ven<strong>de</strong>-se muito em conta, uma objectiva<br />
<strong>de</strong> Dellmeyer, rapida, rectilínea,<br />
por 13X18.<br />
Neves, Irmãos<br />
Rua Ferreira Borges, 100<br />
JULIÃO A. D'ALMEIDA & C. a<br />
20—Rua <strong>de</strong> Sargento Mór—24<br />
COIMBRA<br />
13 Sí'este antigo estabelecimento cobrem-se<br />
<strong>de</strong> novo guarda-soes,<br />
com boas sedas <strong>de</strong> fabrico porluguez.<br />
Preços os mai« baratos.<br />
Também tem lãsinhas finas e outras<br />
fazendas para coberturas baratas.<br />
No mesmo estabelecimento ven<strong>de</strong>mse<br />
magnificas armações para guarda-soes,<br />
o que ha <strong>de</strong> mais mo<strong>de</strong>rno.<br />
COLLEGIO ACADÉMICO<br />
(ENSINO PRIMÁRIO)<br />
E^tá aberta <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1 <strong>de</strong> outubro a aula<br />
<strong>de</strong> ensino primário d'este collegio, regida<br />
por José Falcão Ribeiro, Justino José Correia<br />
e Pompeu Faria <strong>de</strong> Castro, professores<br />
legalmente habilitados.<br />
A parlir do mesmo dia, a qualquer<br />
hora, se recebem matriculas, tanto para<br />
esta aula como para as <strong>de</strong> instrueção secundaria,<br />
que posteriormente serão abertas.<br />
Recebem-se alumnos internos, semiinternos<br />
e externos.<br />
Garante-se um ensino profícuo com a<br />
mais completa organisação e com a assiduida<strong>de</strong><br />
no trabalho que caracterisa os<br />
professores.<br />
Fornecer-se-ha papel, tinta, pennas,<br />
giz e lápis gratuitamente a todos os alumnos,<br />
hera como um ca<strong>de</strong>rno para notas<br />
diarias <strong>de</strong> frequeneia e aproveitamento.<br />
A l. a classe dividir-se-ha era dois grupos<br />
: um leccionado pelo metliodo <strong>de</strong> João<br />
<strong>de</strong> Deus e outro pelo <strong>de</strong> Simões Lopes,<br />
á escolha das familias dos alumnos.<br />
As creanças <strong>de</strong> muito pouca ida<strong>de</strong><br />
terão entrada e aula em separado.<br />
Preços: l. a classe SOO réis; — 2. a<br />
réis; —3 a 1$500 réis.<br />
<strong>Coimbra</strong>, rua dos Coulinhos, 27.<br />
líl<br />
J. F. Ribeiro<br />
r<br />
100, Rua Ferreira Borges, 100<br />
31 Pasta para rolos <strong>de</strong> imprensa<br />
<strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong> e preço<br />
modico.<br />
Armas <strong>de</strong> diversos systemas,<br />
revolvers e munições <strong>de</strong> caça.<br />
Faqueiros e colheres d'electro<br />
pinte, qualida<strong>de</strong> garantida.<br />
Tinta e te!la para pintura a<br />
oleo, pincéis e artigos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho.<br />
Uallas para viagem, carteiras<br />
e saccas <strong>de</strong> mão para senhora.<br />
Oleados <strong>de</strong> borracha para<br />
cama e outras qualida<strong>de</strong>s para mesa e<br />
forrar casas.<br />
Transparentes e stores <strong>de</strong><br />
ma<strong>de</strong>ira, rolos aulhomaticos para os<br />
mesmos.<br />
Perfumaria Ingleza e sabonetes,<br />
pó d'arroz, pentes e escovas.<br />
Dentifrico do dr. Kousset,<br />
pó, para <strong>de</strong>ntes da socieda<strong>de</strong> hygienica.<br />
Bensolina para tirar nodoas,<br />
o melhor preparado, não prejudica a roupa.<br />
Lunetas, biooculos, brinquedos para<br />
creança, capachos d'arame e gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong><br />
em miu<strong>de</strong>zas.<br />
COMPANHIA DE SEGUROS<br />
F I D E L I D A D E<br />
FUNDADA EM 1835<br />
SÉDE EM LISBOA<br />
Capital réis 1.344:000$000<br />
Fundo <strong>de</strong> reserva 203:<br />
10 Esta companhia, a mais po<strong>de</strong>rosa<br />
<strong>de</strong> Portugal, toma seguros contra<br />
o risco <strong>de</strong> fogo ou raio, sobre prédios,<br />
mobílias ou estabelecimentos, assim<br />
como seguros marítimos. Agente em<br />
<strong>Coimbra</strong> —Basilio Augusto Xavier <strong>de</strong><br />
Andra<strong>de</strong>, rua Martins <strong>de</strong> Carvalho, n 0<br />
43, ou na do Viscon<strong>de</strong> da Luz, n.° 86.<br />
LOJA DA CHINA<br />
Chás pretos e ver<strong>de</strong>s<br />
Especialida<strong>de</strong>s<br />
Rua Ferreira Borges, 5<br />
Completo sortido <strong>de</strong> produclos para<br />
sopas, molhos, pimentinhos do Brazil,<br />
cacau Van llouten^s e Epps com e sem leite,<br />
farinha imperial chineza, conservas da<br />
fabrica <strong>de</strong> Antonio Rodrigues Pinto, leques,<br />
ventarolas, crepons, abat-jours a<br />
40 réis, novida<strong>de</strong>, latinhas para chá e<br />
café, etc., etc.<br />
A R R E M D A - S I 2<br />
Do S. Miguel <strong>de</strong> 1895 em <strong>de</strong>anle a<br />
casa n.° 1, na rua das Colchas: tem<br />
muito boas commodida<strong>de</strong>s, e a loja n.°<br />
10 da mesma casa; a tratar com José<br />
Luiz Martins d'Araujo, na rua do Viscon<strong>de</strong><br />
da Luz, 90 a 92.<br />
Introducção e íVlathematisa<br />
LUIZ MARIA ROSETTE,<br />
alumno da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, conlinúa<br />
a leccionar estas disciplinas.<br />
Praça 8 <strong>de</strong> ITIaio, n.° 89-1.°<br />
V I O L E I R O<br />
Augusto Nunes dos Santos, (successor<br />
<strong>de</strong> Antonio dos Santos), premiado<br />
ua exposição districtal <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> em<br />
1884 com a medalha <strong>de</strong> prata, e na <strong>de</strong><br />
Lisboa <strong>de</strong> 1890.<br />
Com officina mais acreditada d'esta<br />
arte participa que faz toda a qualida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> instrumentos <strong>de</strong> corda concernente á<br />
sua arte; assim como os concertos cora<br />
a maxima perfeição, como tera provado<br />
ha muitos annos.<br />
Também ven<strong>de</strong> cordas <strong>de</strong> todas as<br />
qualida<strong>de</strong>s.<br />
Preços muito resumidos.<br />
Rua Direita, 16 e 18 — <strong>Coimbra</strong>.<br />
Deposito da Fabrica Nacional<br />
DE<br />
B I T O<br />
DE<br />
joss rnmim u mz s senbq<br />
COIMBRA<br />
128 —RDA FERREIRA BORGES —130<br />
JV'este <strong>de</strong>posito, regularmente montado, se acham á venda por junto e a<br />
retalho, todos os productos d'aquella fabrica a mais antiga <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />
on<strong>de</strong> se recebem quaesquer encommendas pelos preços e condições eguaes aos<br />
da fabrica.<br />
ARMAZÉM DE MERCEARIA<br />
D15<br />
MARQUES MANSO, SOBRINHO<br />
RUA DO CEGO — COIMBRA<br />
Esta casa, montada com o maior acceio, convida os seus ex. raos freguezos a<br />
visitarem o seu estabelecimento, on<strong>de</strong> encontrarão á venda :<br />
Assucares finíssimos, refinados com o maior esmero, chás, cafés <strong>de</strong> S. Thoraé<br />
e Cabo Ver<strong>de</strong>, chocolates hespanhol, francez e suisso, completo sortido em bolachas<br />
nacionaes e inglezas, e muitos outros artigos que ven<strong>de</strong> a preços resumidíssimos.<br />
Único <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> vinhos da Real Companhia Yinicola<br />
Vinhos a torno a ISO e ISO réis o litro.<br />
manteiga <strong>de</strong> Pare<strong>de</strong>s «le Coura e UTaudufe.<br />
E ven<strong>de</strong> a tao réis o kilo, massas alimentícias <strong>de</strong> todas as qualida<strong>de</strong>s, que<br />
as outras casas ven<strong>de</strong>m a ieo réis.<br />
Publica-se ás quintas feiras e domingos i \<br />
IDO POVO<br />
J J B F B 1 T S O R<br />
EDITOR — Adolpho da Costa Marques<br />
JORNAL REPUBLICANO<br />
Redacção e administração—Largo da Freiria, 14, proximo á rua dos Sapateiros<br />
Anno . .<br />
Semestre .<br />
Trimestre.<br />
Com estampilha<br />
CONDIÇOES DE ASSIGNATURA<br />
(PAGA ADIANTADA)<br />
2$700<br />
1^350<br />
680<br />
Anno . .<br />
Semestre .<br />
Trimestre.<br />
Sem estampilha<br />
2$400<br />
1$200<br />
000<br />
AWWUJÍCIOS:— Cada linha, 40 réis; repetição, 20 réis; contracto<br />
especial para annuncios permanentes.<br />
LIVROS: — Annunciam-se gratuitamente quando se receba um<br />
exemplar.<br />
Impresso na Typographia Operaria — <strong>Coimbra</strong>
A T V N O 1.° IV. 0 4 9<br />
DefensõF do P - ovo<br />
A camara dos pares<br />
Se a ferocida<strong>de</strong> inepta caraclerisa os<br />
actos do governo, a imbecilida<strong>de</strong> esteril<br />
<strong>de</strong>fine os processos da opposição aos mesmos<br />
actos, por parte d'aquelles grupos que,<br />
<strong>de</strong>ntro da monarchia, llie dispulam as vantagens<br />
e as glorias do po<strong>de</strong>r.<br />
Nem os po<strong>de</strong>rosos recursos da boa critica,<br />
nem os golpes certeiros da justiça e<br />
do bom senso apparecem ou, ao menos, repontam<br />
na imprensa opposicionista, que,<br />
quasi sempre, apparentemente con<strong>de</strong>mna e<br />
amaldiçôa as <strong>de</strong>sorientadas reformas, e melhor<br />
diríamos estouvados <strong>de</strong>svarios, com que<br />
nas columnas compactas do Diário do Governo,<br />
dia a dia, engorda a monstruosa dictadura.<br />
Gomo se esliveramos em 1814 e em<br />
1830 na França, ou em epochas approximadas<br />
na Hespanha e em Portugal, a opposição,<br />
principalmente nos arraiaes monarchicos,<br />
refugia-se no esmoronado reducto<br />
da ultima reforma do pariato.<br />
Ha bons sessenta annos, ha cincoenta<br />
e ainda ha trinta discutiam os publicistas,<br />
e ralhavam os políticos sobre as razões, os<br />
motivos, os pretextos finalmente, que podiam<br />
justificar, nas monarchias representativas,<br />
a exislencia <strong>de</strong> uma camara alta, <strong>de</strong><br />
uma segunda camara arislocratica <strong>de</strong> mol<strong>de</strong>s<br />
tradicionaes, <strong>de</strong> Índole e feição conservadoras,<br />
a qual fizesse equilíbrio á camara<br />
baixa, corrigisse ou pelo menos allenuasse<br />
as precipitações revolucionarias e os<br />
rasgos enthusiaslas da mo<strong>de</strong>rna <strong>de</strong>mocracia,<br />
enxertada nos velhos muros dos <strong>de</strong>rrocados<br />
castellos feudaes.<br />
Sustentaram uns—que a par dos elementos<br />
populares <strong>de</strong> representação das classes<br />
inferiores, que a revolução tinha chamado á<br />
direcção e gerencia dos altos interesses públicos,<br />
<strong>de</strong>via existir uma instituição representativa<br />
dos elementos tradicionaes e hisloricos,<br />
a representação das classes aristocralicas<br />
e conservadoras, do alto clero, da<br />
nobreza, da gran<strong>de</strong> e pequena burguezia,<br />
afidalgadas pelas graças e mercês da nova<br />
monarchia constitucional, liberal e também<br />
representativa.<br />
Aventavam outros,—que ao lado das<br />
cegas preoccupações parlidarias e da po-<br />
litica apaixonada dos novos i<strong>de</strong>iaes <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>,<br />
egualda<strong>de</strong> e fraternida<strong>de</strong>, que a<br />
revolução havia lançado no mercado das<br />
gran<strong>de</strong>s i<strong>de</strong>ias e dos generosos princípios<br />
da soberania popular, do suffragio universal<br />
e da emancipação economica, forçoso<br />
era dar ingresso e collocar em posição,<br />
senão prepon<strong>de</strong>rante e sobranceira, ao menos<br />
em condições <strong>de</strong> lucta e com as mes-<br />
mas garantias, a gran<strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>, a<br />
gran<strong>de</strong> cullura, o commercio, o capital e<br />
as emprezas induslriaes <strong>de</strong> maior vulto.<br />
Finalmente teimavam outros, e talvez<br />
com mais razão e coherencia, — que uma<br />
camara alta, que uma assetnblêa <strong>de</strong> pares<br />
era um accessorio, um apanagio necessário<br />
nas monarchias, um elemento <strong>de</strong> pon<strong>de</strong>ração<br />
para cobrir a corôa e os seus privilégios, e<br />
não <strong>de</strong>ixar a realeza ao <strong>de</strong>semparo e o<br />
llirono exposto ás oscilações ou ás commoções<br />
violentas, as contingências, muitas vezes<br />
imprevistas, <strong>de</strong> uma politica revolucionaria,<br />
aventureira e, não raras vezes, insidiosa nos<br />
seus processos, inexorável nas suas arremettidas<br />
contra o velho edifício social, por<br />
ella, e com razão e justiça, abalado nos seus<br />
fundamentos, meio <strong>de</strong>rrocado na sua fabrica<br />
secular.<br />
•<br />
De lodos estes argumentos se sei viram<br />
em França, em Hespanha, em Portugal, em<br />
toda a parte os architectos <strong>de</strong> regimen mo-<br />
narchico-constitucional-representativo; e á<br />
sombra d'uns e d'outros argumentos e pretextos<br />
formaram, consliluiram, teem modificado<br />
e reformado a chamada camara<br />
dos pares, a assemblêa dos próceres, que,<br />
em Portugal e ultimamente, eram recrutados<br />
a sabor partidario em todas as classes, sendo<br />
difficil dizer o que é e o que representa hoje<br />
uma tal instituição.<br />
A discussão, que ainda <strong>de</strong>pois do estabelecimento<br />
da Republica, sem saber porque<br />
nem para que, se renovára em França<br />
para a constituição do senado, resurge<br />
agora em Portugal a proposito da reforma<br />
feita pelo actual governo, que, por expediente<br />
<strong>de</strong> politica parlidaria e <strong>de</strong> occasião,<br />
amputou á camara alta os membros electivos,<br />
que outros, os progressistas, lambem por ex-<br />
pediente partidario e manobra <strong>de</strong> occasião,<br />
lá fizeram introduzir.<br />
Pela nossa parle poríamos termo á discussão,<br />
por <strong>de</strong>mais impertinente e massadora,<br />
e dariamos ao problema, que lanto<br />
tem preoccupado os espíritos, dividido as<br />
opiniões e <strong>de</strong>sorientado as cabeças, uma<br />
única solução:<br />
—A abolição completa do pariato como<br />
instituição inútil e anachronica, Ião inútil e<br />
anachronica como a própria monarchia, e<br />
como ella contraria á liberda<strong>de</strong> e ao progresso<br />
das nações, ao bem estar e á felicida<strong>de</strong><br />
dos povos.<br />
—<br />
Santo sudário<br />
O bem estar da nação portugueza afere-se<br />
e gradua-se pelas melhores das felicida<strong>de</strong>s —<br />
como apregoa o governo aos quatro ventos<br />
pois nunca o paiz, viveu mais cheio <strong>de</strong> venturas<br />
e prosperida<strong>de</strong>s do que agora.<br />
O peor <strong>de</strong> tudo são os acontecimentos<br />
que se vêm precipitando e nos accusam d'estes<br />
factos, a que a Vanguarda se refere nos<br />
edificantes períodos que seguem :<br />
«No 2.° bairro <strong>de</strong> Lisboa ha a fazer<br />
4:000 execuções fiscaea por falta <strong>de</strong> pagamento<br />
da contribuição <strong>de</strong> renda <strong>de</strong> casa.<br />
«No tribunal do commercio foram protestadas<br />
em setembro tít letras.<br />
«No proximo leilão <strong>de</strong> penhores do monte*<br />
pio geral, serão vendidos l:fi33 objectos<br />
«le oiro e prata, por falta <strong>de</strong> pagamento<br />
<strong>de</strong> juros.<br />
tComtudo o governo acha prospera a situação<br />
e não faltam correspon<strong>de</strong>ntes lame-<br />
chas para o espalharem pelo mundo.»<br />
E tem elles muita razão — ás carradas.<br />
Para o governo é que o paiz está prospero.<br />
Em paz e ás moscas o tem <strong>de</strong>ixado o<br />
povo!<br />
Por emquanto...<br />
Embrulhada<br />
Dizia-se que o sr. padre Senna Freitas<br />
não podia ser <strong>de</strong>putado, pois se havia naturalisado<br />
cidadão brazileiro.<br />
Os jesuítas caíram das nuvens, porém,<br />
affirma-se que o sr. padre Senna Freitas vae<br />
provar em como é portuguez.<br />
Sulbscripção nacional<br />
Foi <strong>de</strong>cidido em sessão presidida pelo sr.<br />
con<strong>de</strong> <strong>de</strong> S. Januario, começar-se por estes<br />
dias ás experiencias officiaes sobre a construcção<br />
e andamento das canhoneiras Diogo<br />
Cão e Pedro d'Anaia, antes <strong>de</strong> serem entregues<br />
ao ministério da marinha.<br />
Recebeu da Guiné, o sr. duque <strong>de</strong> Palmella,<br />
a totalida<strong>de</strong> da subscripção a favor da<br />
<strong>de</strong>feza nacional, alli promovida pela benemerita<br />
officialida<strong>de</strong>.<br />
O Adamastor, em construcçuo no arsenal<br />
<strong>de</strong> Leorne, vae progredindo segundo noticias<br />
recebidas.<br />
E a camara municipal <strong>de</strong> Lisboa, ainda<br />
em divida em mais <strong>de</strong> tres contos—e sem se<br />
ralar!...<br />
Não falta <strong>de</strong>scaro.<br />
N'este paiz tudo se piwa...<br />
COIMBRA —Quinta feira, 17 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895<br />
A VIAGEM REAL<br />
El-rei partiu para o extrangeiro <strong>de</strong> visita<br />
a differentes cortes da Europa, em viagem<br />
politica, dizem uns, em viagem <strong>de</strong> recreio,<br />
affirmam outros. O que é certo é que el-rei<br />
partiu. Os jornaes do extrangeiro trazemnos<br />
cada dia noticias das manifestações <strong>de</strong><br />
sympathia <strong>de</strong> que D. Carlos tem sido alvo.<br />
Como nos tempos do Venturoso, chegam mensagens<br />
das mais remotas plagas a tributar ao<br />
rei <strong>de</strong> Portugal as mais subidas honras e a<br />
solicitar <strong>de</strong> mãos postas a sua respeitável alliança.<br />
Os mais po<strong>de</strong>rosos protentados da Euroda<br />
tremem das intenções d'el-rei na sua visita<br />
pelas differentes capitaes. A Hespanha<br />
apressa-se a saudar o gran<strong>de</strong> rei d'esta po<strong>de</strong>rosa<br />
nação; S. Sebastião é o foco para<br />
on<strong>de</strong> convergem todas as attenções dos nossos<br />
visinhos. Sua magesta<strong>de</strong> fi<strong>de</strong>líssima é<br />
aguardado por Canovas <strong>de</strong>i Castilho e duque<br />
<strong>de</strong> Tetuan, ambos <strong>de</strong>corados <strong>de</strong> granscruzes<br />
da or<strong>de</strong>m portugueza da Torre e Espada.<br />
O hymno portuguez é assoprado em<br />
todas as bandas militares. O cruzador Isla<br />
<strong>de</strong> Lu\en e as baterias do Castello <strong>de</strong> S. Sebastião<br />
salvam festivamente.<br />
Milhares <strong>de</strong> foguetes esrralejam e os sinos<br />
andam n'uiria fona.<br />
E 1 assim que se saúda o gran<strong>de</strong> monarcha<br />
duma nação po<strong>de</strong>rosa.<br />
Estas manifestações d'uma nação visinha<br />
e amiga, nYim tempo em que tanto se falia<br />
na ruptura da paz europêa, em que a França<br />
lança olhos ainda esperançados para a Alsacia-Lorena,<br />
fazendo tudo prever alguma<br />
gran<strong>de</strong> commoção politica, <strong>de</strong>ixam seriamente<br />
embaraçados os governos dos paizes<br />
que tem peso na balança da Europa.<br />
Assentou-se ainda que el-rei ia offerecer<br />
generosamente ao governo <strong>de</strong> Canovas as<br />
couraças dos nossos vasos <strong>de</strong> guerra e a espada<br />
e competente braço do nosso Pimentel<br />
Pinto para <strong>de</strong>cidir a triste situação da ilha<br />
<strong>de</strong> Cuba. Ou talvez pôr á disposição do<br />
presi<strong>de</strong>nte da Republica Franceza alguns dos<br />
nossos mais aguerridos regimentos para restabelecer<br />
a or<strong>de</strong>m em Madagascar.<br />
Isto não se confirma, entretanto, e permanece<br />
na obscurida<strong>de</strong> o fim da viagem do<br />
rei D. Carlos.<br />
•<br />
A explicação damol-a nós. Sua magesta<strong>de</strong><br />
el-rei que é d'um paiz que atravessa<br />
um mar <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong>s, senhor cTum governo<br />
que tem levantado a publica administração ao<br />
zenith da gran<strong>de</strong>za, acclamado, una voce, pelo<br />
seu povo, abençoado effusívamente por todas<br />
as classes do seu paiz, vae como exemplo<br />
d^m gran<strong>de</strong> rei animar com a sua presença<br />
o fomento da prosperida<strong>de</strong> dos outros Estados.<br />
Faliam para ahi os invejosos do esplendor<br />
da corôa <strong>de</strong> Portugal, em que esta<br />
viagem importa ao thesouro publico sommas<br />
avultadas.<br />
Que é isso, porém, para um paiz aventurado,<br />
quando da viagem real po<strong>de</strong>m advir<br />
incalculáveis riquezas, não para nós que as<br />
não precisámos, mas aos outros paizes que<br />
<strong>de</strong> longe seguem com ávidos olhos a marcha<br />
do nosso <strong>de</strong>senvolvimento constante? Pela<br />
humanida<strong>de</strong>. Nós fomos sempre para a gran<strong>de</strong>za<br />
dos outros.<br />
Que o diga a Inglaterra, que o diga a<br />
Allemanha, a própria França e mesmo a<br />
Hespanha.<br />
•<br />
El-rei recebe no momento actual as cortezias<br />
do duque <strong>de</strong> Chartres e os cumprimentos<br />
<strong>de</strong> Felix Faure. Um gran<strong>de</strong> banquete<br />
offerecido pelo presi<strong>de</strong>nte da gran<strong>de</strong> Republica<br />
é a <strong>de</strong>monstração festiva das boas relações<br />
entre os dois paizes. Para nada faltar<br />
a sua magesta<strong>de</strong> fi<strong>de</strong>líssima tem havido explendidas<br />
caçadas.<br />
Cá no velho reino cresce dia a dia a riqueza.<br />
Quando el-rei chegar encontrará tudo<br />
augmentado. Vejamos o que dizem os factos:<br />
— Nada menos <strong>de</strong> I:632 objectos d'ouro<br />
e prata vão ser postos em leilão por não terem<br />
sido pagos os juros no monte pio geral.<br />
E do Porto referem para o Século a próxima<br />
abertura duma failencia importante.<br />
— Embarcaram no Danube, com <strong>de</strong>stino<br />
ao Brazil 5ò5 emigrantes.<br />
Partiu também para America o vapor<br />
Cordovan, levando 25o emigrantes. Do Porto<br />
seguiram no mez <strong>de</strong> setembro mais i:6oo<br />
emigrantes. E hontem chegaram a Lisboa<br />
mais 200 emigrantes acompanhados <strong>de</strong> família.<br />
— A Vanguarda noticia a suspensão <strong>de</strong><br />
pagamentos por uma casa importante <strong>de</strong> Lisboa.<br />
Lá fóra periclitam as nossas cousas na<br />
índia e na Africa<br />
De Timor não ha noticias seguras, continuando<br />
a insurreição.<br />
Não havia, pois, quadra mais opportuna<br />
para a viagam cPel-rei. Assim o enten<strong>de</strong>u o<br />
governo. Assim o enten<strong>de</strong>riam as cortes,<br />
se cortes houvesse n'este paiz. Nós também<br />
somos <strong>de</strong> parecer que sua magesta<strong>de</strong> vá correndo<br />
mundo.<br />
•••<br />
Tumultos em Cadiz<br />
O elemento clerical por toda a parte preten<strong>de</strong><br />
dominar, e esta attitu<strong>de</strong> aggressiva em<br />
querer impôr-se tem-lhe valido graves <strong>de</strong>sforços<br />
da ira popular.<br />
No domingo, 13, em Cadiz, uma procissão<br />
foi apupada com assobios, e arremessos <strong>de</strong><br />
pedras, e o mesmo fizeram ao bispo e clero.<br />
A procissão dispersou cm confusão, refugiando-se<br />
os <strong>de</strong>votos carolas n'uma egreja. Houve<br />
feridos e contusos, conseguindo as auctorída<strong>de</strong>s<br />
restabelecer a or<strong>de</strong>m.<br />
Apezar d 1 este acontecimento parece que<br />
o bispo teima em fazer mais procissões, o<br />
que é uma provocação, que lhe pô<strong>de</strong> ficar<br />
muito cara.<br />
Os catholicos <strong>de</strong>viam só celebrar as suas<br />
solemnida<strong>de</strong>s nos templos, e não nas ruas,<br />
on<strong>de</strong> estão sujeitos a soffrer os protestos do<br />
povo que vê n'essas manifestações reaccionarias<br />
um réprobo lançado ás facções liberaes.<br />
Outros tempos, outros costumes.<br />
Pergunta sem resposta<br />
De vez em quando os thuribularios do<br />
ministério, no seu mister <strong>de</strong> jver tudo que<br />
relacione com o governo, côr <strong>de</strong> rosa, afíirmaram<br />
que não havia <strong>de</strong>ficit.<br />
Mas o Diário Popular que sabe bem o<br />
nome aos bois, dá-lhes este raspanço:<br />
«Em 3 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1894 a circulação das notas<br />
do Banco <strong>de</strong> Portugal era <strong>de</strong> 51.699:980^000<br />
réis; em 2 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895 subiu a 53.188:9361000<br />
réis.<br />
«Logo augmentou 3.588:956^000 réis.<br />
iErn 3 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1894 a coou corrente<br />
<strong>de</strong>vedora ao thesouro era <strong>de</strong> 12.021:90'».$000 réis;<br />
em 2 <strong>de</strong> outubro d'este anno subia a 16 178:793^1000<br />
réis.<br />
«Augmento da divida 4.156:889^000 réis; porém,<br />
como o credito da Junta do Credito Publico<br />
estava n'este anno em mais <strong>de</strong> 617:960^000 réis,<br />
vê-se que o augmento real da divida do thesouro<br />
ao Banco foi 3.538:9291000 róis, apenas 49:9731000<br />
réis diferente do augmento da circulação.<br />
«Mas se já não temos <strong>de</strong>ficit, porque pediu o<br />
thesouro mais dinheiro emprestado ao Banco ?<br />
«Eis o casol»<br />
Pontapeados <strong>de</strong> todos — a fazer callos —<br />
e sem emenda!. ..<br />
>.94<br />
Appello<br />
Contra o silencio do governo, ácerca dos<br />
acontecimentos que se têm dado nas nossas<br />
possessões, se insurge o Diário Popular,<br />
que, com justa indignação e competência no<br />
assumpto, o governo torna responsável pelas<br />
perdas dos nossos soldados e officiaes, pelos<br />
<strong>de</strong>sperdícios <strong>de</strong> contos <strong>de</strong> réis, sem nada se<br />
obter, e pelas victimas das febres que se têm<br />
inutilisado nas hospitas terras africanas, sem<br />
resultados para a nação.<br />
E pergunta:<br />
«Será tão <strong>de</strong>sprezível este paiz, tão abatido este<br />
povo, que não mereça ao menos algumas palavras<br />
<strong>de</strong> explicação sobre o modo como teem sido sacrificadas<br />
as vidas e as saú<strong>de</strong>s dos seus filhos e dos<br />
seus irmãos, ou <strong>de</strong> como jem sido esbanjado em<br />
loucas aventuras, para não dizer p.eior, os suados<br />
productos do imposto.<br />
«Po<strong>de</strong>rá, mas triste i<strong>de</strong>ia ha <strong>de</strong> fazer-se da nação,<br />
que a proposito dos seus mais sagrados interesses<br />
lanto tolera, que já exce<strong>de</strong> os limites da paciência.»<br />
Pô<strong>de</strong> tudo o governo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que a paciência<br />
popular é inexgotavel, e não se sae ás<br />
provocações constantes, que á cara lhe atira<br />
esse governo <strong>de</strong> bandidos, o qual já se atreveu<br />
a <strong>de</strong>cretar o golpe <strong>de</strong> estado.<br />
E não se rebenta um Diabo assim. •
DEFENSOR DQ POVO-1.' ANNO Quinta feira, 17 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895 — N.° 49<br />
LIBERDADE RELIGIOSA<br />
Interrompo, por hoje, a série das questões<br />
organicas, para dar logar a uma pequena polemica<br />
<strong>de</strong> duplo caracter politico-religioso<br />
com os meus collegas do campo ultramontano:<br />
A Or<strong>de</strong>m, A Palavra e O Correio Nacional,<br />
que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os acontecimentos do dia<br />
3o <strong>de</strong> julho em Lisboa, não cessam <strong>de</strong> pedir,<br />
<strong>de</strong> mãos postas, ao governo liberal do sr.<br />
D. Carlos Coburgo uma perseguiçãosinha<br />
religiosa, movida contra os que na imprensa<br />
ou em assemblêas publicas ousem confessar-se<br />
dissi<strong>de</strong>ntes do dogma catholico, e tentem<br />
justificar a sua dissidência.<br />
Noutro jornal (A Batalha) respondi eu já<br />
ao zelo seraphico da Or<strong>de</strong>m. Esta resposta<br />
não é pois individualmente en<strong>de</strong>reçada a este<br />
ou áquelle jornal: é a todos quantos formam<br />
na mesma fileira da intolerância sectaria.<br />
Notam os mo<strong>de</strong>rnos exegetes que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
o principio do Christianismo, que na Egreja<br />
se estabeleceram duas correntes contradictorias,<br />
e essencialmente irreconciliáveis; a corrente<br />
judaica, representada por S. Pedro; e<br />
a corrente cosmopolita, representada por S.<br />
Paulo.<br />
Na vida ainda dos dois apostolos, por<br />
vezes a dissidência estalou em bem significativas<br />
disputas.<br />
S. Pedro, espirito estreito, acanhado, nacionalista,<br />
não vendo horisontes mais vastos<br />
que os <strong>de</strong> Jerusalem, adstricto ás fórmulas e<br />
praticas tradicionaes, sem nunca ter logrado<br />
comprehen<strong>de</strong>r o que havia <strong>de</strong> societário, <strong>de</strong><br />
fraternal e expansivo na doutrina do mestre,<br />
eternamente jungido á Lei, representou, na<br />
nascente Egreja, a revivescencia da synagoga.<br />
S. Paulo, espirito culto, como uma educação<br />
que po<strong>de</strong>ríamos chamar humanista,<br />
acceitou do Christianismo exactameate a doutrina<br />
cosmopolita, e foi assim que se fez o<br />
apostolo dos gentios; prégando a graça, é facto,<br />
mas tornando-a accessivel a todos, e fa-<br />
zendo consistir a condição capita! para a salvação<br />
na carida<strong>de</strong>, no amor.<br />
(Continua)<br />
Uma vingança<br />
HELIODORO SALGADO.<br />
Começa a sair semanalmente em Lisboa,<br />
sob a direcção do nosso dilecto amigo e illustre<br />
escriptor, sr. Heliodoro Salgado, intemerato<br />
apostolo da <strong>de</strong>mocracia, pertinaz propagandista<br />
anti-jesuitico reaccionário, este antigo<br />
diário.<br />
E' soldado vigilante que não <strong>de</strong>ixa empolgar<br />
á reacção a supremacia das suas doutrinas<br />
liberaes.<br />
Preparae as lombadas — ó vós que nos<br />
ouvis.<br />
O CASAMENTO DO PAPAGAIO<br />
PAULO BOUHOMME<br />
VERSÃO LIVKE<br />
CONTO<br />
(CONCLUSÃO)<br />
Eram dois homens <strong>de</strong> fôro contra um papagaio.<br />
A vantagem <strong>de</strong>via ser incontestavelmente<br />
d'elles.<br />
Mas, por uma inexplicável fatalida<strong>de</strong>, apenas<br />
o sr. Rapinault entrou no gabinete, calou-se<br />
o papagaio. Parecia que tinha advinhado<br />
a tempesta<strong>de</strong> que lhe pairava sobre a<br />
cabeça. No pateo o silencio era profundo.<br />
Um bocado <strong>de</strong> paciência, rosnou o sr.<br />
Galoubet; vae já ouvir.. .<br />
Abriu a janella, convidou o procurador a<br />
approximar-se, e, apontando-lhe com o <strong>de</strong>do<br />
o poleiro do papagaio, pendurado na pare<strong>de</strong><br />
exterior, perguntou :<br />
— Vê ? Lá está elle...<br />
— Vejo sim... vejo.<br />
E durante alguns minutos os dois homens<br />
examinaram o papagaio que, surprehendido<br />
com aquella inesperada apparição poz-se a<br />
miral-os curiosamente com os olhos luzentes,<br />
afiando o bico, mas ironicamente mudo. De<br />
quando em quando fazia exercícios, pendurando-se<br />
pelo bico no poleiro, mas retomava<br />
logo a posição habitual, sempre calado.<br />
O sr. Galoubet; que estava furioso, não<br />
Até que um dia Honorina disse ao procurador<br />
:<br />
— Eu entendo que só o senhor acharia<br />
o meio <strong>de</strong> nos livrar d'este medonho tyranno.<br />
..<br />
E <strong>de</strong>u ás suas palavras uma uncção particular<br />
e quasi um tom <strong>de</strong> supplica.<br />
Pois não, minha senhora, respon<strong>de</strong>u galantemente<br />
o sr. Rapinault, certamente que<br />
ha um meio <strong>de</strong> eu ouvir os gritos do papagaio.<br />
— Um meio ! Qual ? Diga, diga <strong>de</strong> pressa<br />
!...<br />
O moço procurador, <strong>de</strong>cididamente subjugado<br />
pelos encantos <strong>de</strong> Honorina, cofiou o<br />
bigo<strong>de</strong> e <strong>de</strong>pois disse pausadamente :<br />
— O meio era se o papá e a mamã consentissem<br />
que eu viesse aqui muitas vezes...<br />
— Mas o papá não <strong>de</strong>seja outra coisa !<br />
Respon<strong>de</strong>u ingenuamente a rapariga.<br />
— Elle, talvez, mas v. ex. a será da mesma<br />
opinião ?<br />
Não me atrevo a esperar...<br />
E Honorina que comprehen<strong>de</strong>ra as meias<br />
palavras do sr. Rapinault, corou até á raiz<br />
dos cabellos... O sonho <strong>de</strong> Honorina não<br />
era casar com um procurador, mas a mamã<br />
soube levar a questão como um diplomata<br />
consummado. Esse casamento era a salvação<br />
do pae, a quem o papagaio acabaria por en-<br />
louquecer. E a galante rapariga <strong>de</strong>ixou-se<br />
convencer.<br />
— Aos meus braços, sr. Rapinault, disse<br />
no dia seguinte o advogado ao futuro genro.<br />
Dou-lhe a minha filha, mas com uma condição<br />
!<br />
— Bem sei... o papagaio, respon<strong>de</strong>u radiante<br />
o procurador.<br />
Pô<strong>de</strong> contar commigo.<br />
E tres semanas mais tar<strong>de</strong> os Galoubet<br />
celebravam com um gran<strong>de</strong> jantar os esposaes<br />
da sua querida Honorina. Mas vinte e<br />
quatro horas <strong>de</strong>pois trouxeram-lhe uma noticia<br />
que os <strong>de</strong>ixou estupefactos: o papagaio<br />
tinha morrido <strong>de</strong> repente !<br />
A preparar o salmão para o jantar a cosinheira<br />
tinha <strong>de</strong>ixado cahir, por falta <strong>de</strong> cautella<br />
alguns ramitos <strong>de</strong> salsa sobre a gaiola<br />
do papagaio, que se <strong>de</strong>u pressa em comel-os .<br />
A Egreja catholica, da qual esses jornalistas<br />
são conspícuos apologistas, alguns <strong>de</strong><br />
incontestável talento e <strong>de</strong> incontestada sciencia,<br />
como o sr. dr. Silva Ramos e o padre<br />
Senna Freitas, foi sempre intolerante porque,<br />
pelo dogma que lhe serve <strong>de</strong> base, como a<br />
todas as religiões reveladas; ella nega a mais<br />
fundamental das liberda<strong>de</strong>s: a liberda<strong>de</strong> moral.<br />
Ha um livro que a seita tem em gran<strong>de</strong><br />
conta, no qual esta negação passa das simples<br />
individualida<strong>de</strong>s isoladas para as collectivida<strong>de</strong>s<br />
sociaes: é o Discurso sobre a Historia<br />
Universal, <strong>de</strong> Bossuet. A historia da<br />
Assyria, a da Babylonia, a da Pérsia, a <strong>de</strong><br />
Roma, não é um escandalo <strong>de</strong> factos mais<br />
ou menos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da vonta<strong>de</strong> individual<br />
dos seus apparentes promotores: nada d'isso.<br />
Dada a quéda do primeiro par, no E<strong>de</strong>n, e<br />
a promessa d'um re<strong>de</strong>mptor divino ao Adão<br />
peccador, todos esses factos não são mais <strong>de</strong><br />
que scenas preparatórias do gran<strong>de</strong> drama<br />
da re<strong>de</strong>mpção. Deus, o contra-regra, prepara<br />
as scenas e marca as entradas: o homem<br />
executa.<br />
O homem passa pois a ser um automato<br />
nas mãos <strong>de</strong> Deus, movendo-se sem consciência<br />
alguma do seu <strong>de</strong>stino. Ha um povo<br />
eleito para a realisação do gran<strong>de</strong> mysterio<br />
re<strong>de</strong>mptorista; o povo judaico; eleito apezar<br />
<strong>de</strong> tudo, apezar das suas quédas, das suas<br />
apostasias; eleito pela vonta<strong>de</strong> soberana <strong>de</strong><br />
Deus, que conce<strong>de</strong> gratuitamente a graça a<br />
quem muito bem lhe apraz, ao passo que,<br />
para os per<strong>de</strong>r, endurece o coração dos infiéis,<br />
evitando assim que elles se convertam.<br />
E 1 O actual governo é essencialmente vinga-<br />
Galoubet como homem pratico ainda se<br />
tivo; não per<strong>de</strong> a menor occasião <strong>de</strong> evi<strong>de</strong>n-<br />
lembrou <strong>de</strong> romper o projecto <strong>de</strong> casamento.<br />
ciar os seus instinctos rancorosos.<br />
Mas reconsi<strong>de</strong>rou e não fez mal porque o sr.<br />
Nunca se esquece d'aquelles que uma vez<br />
Rapinault sahiu um excellente marido.<br />
o <strong>de</strong>sprezaram. Senão vejamos:<br />
E Honorina, que foi a mais feliz das mu-<br />
Criticámos ha pouco uma violência do sr.<br />
ministro da marinha contra um brioso oficial<br />
da nossa armada, antigo lente da Escola<br />
Naval e um perfeito caracter como homem<br />
e um escrupoloso cumpridor dos seus <strong>de</strong>veres<br />
na sua qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> militar e funccionario<br />
publico.<br />
lheres, <strong>de</strong>veu a ventura <strong>de</strong> toda a sua vida á<br />
visinhança d'um papagaio!<br />
G.<br />
Commissão <strong>de</strong> resistencia<br />
Agora temos outra violência para criti-<br />
Esta commissão que vae resistindo aos<br />
car, praticada pelo sr. João Franco, mais re-<br />
encontrões do governo, que não faz caso das<br />
pugnante ainda do que a primeira, pelo fim<br />
suas palavras, pois «que obras não se veem,<br />
que teve em vista e pelos resultados preju-<br />
reuniu a capitulo para <strong>de</strong>liberar... entreter<br />
diciaes que trouxe aos estudantes da Escola<br />
a <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong>.<br />
Medica <strong>de</strong> Lisboa.<br />
se pou<strong>de</strong> conter:<br />
Por isso o Queiroz Ribeiro passou as pa-<br />
Historiemos o facto que é <strong>de</strong>veras curioso — E' muito exclamou elle, com os lábios lhetas — e na resistencia ao venha a nós faz<br />
e symptomatico.<br />
trémulos e as mãos crispadas; parece que o um figurão.<br />
Os estudantes <strong>de</strong> Medicina pediram ao está a fazer <strong>de</strong> proposito!<br />
sr. ministro do reino a concessão <strong>de</strong> porta- — E' curioso, realmente, observou o prorias<br />
para repetirem o exame <strong>de</strong> passagem curador, porque, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que eu cheguei, ainda<br />
d'anno, como é praxe ha muito tempo, e não <strong>de</strong>u um pio.<br />
Que os tempos estão bicudissimos — seus<br />
pedaços <strong>de</strong> patiforios.<br />
dispensa do exame <strong>de</strong> allemão até ao fim do E esperaram ainda <strong>de</strong>bruçados no peitoril<br />
actual anno lectivo, obrigando-se a apresen- da janella. O procurador fazia todas as di- Rei Antonio, o Bergeret<br />
tarem antes do acto a certidão <strong>de</strong> approvaligencias para não romper á gargalhada.<br />
Este Ínclito comilão —a 5o mil réis por<br />
ção d'aquella lingua. Foram <strong>de</strong>sattendidos — E diabolico! exclamou afinal o sr. Ga- dia — não larga aquella macaca que o tem<br />
nas suas pretenções.<br />
loubet. E' capaz <strong>de</strong> não abrir bico em todo acompanhado, constante e teimosa, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />
A razão da má vonta<strong>de</strong> do sr. João Franco o dia... Pois bem!... Não o quero <strong>de</strong>- elle se metteu a tralhão, a commandar excr-<br />
contra os estudantes da Escola Medica <strong>de</strong> morar mais tempo. O sr. tem como eu os citos. O que elle vale como funccionario e o<br />
Lisboa é a lembrança da celebre parodia á seus momentos contados. Peço-lhe apenas seu prestigio como cabo <strong>de</strong> guerra, dil-o o sr.<br />
burlesca exhibição das forças da guarda pre- que torne cá em momento mais opportuno. bispo <strong>de</strong> Moçambique e relata-o o nosso coltoriana,<br />
na Avenida da Liberda<strong>de</strong>.<br />
O procurador mostrou-se um homem <strong>de</strong>lega a Vanguarda:<br />
O sr. ministro João Franco quiz ver se licadíssimo. Ao <strong>de</strong>spedir-se affirmou, todo<br />
obrigava os estudantes a implorar a benevo- amavel:<br />
«O sr. bispo <strong>de</strong> Moçambique conversou bastante<br />
lência regia, a irem submissos e supplican- — Ao primeiro signal, cá estou n^im com o sr. Ferreira d'Alineida sobre os azares da<br />
guerra sustentada contra o Gungunhana pelas trotes<br />
ante sua magesta<strong>de</strong>, o rei D. Carlos, coa- prompto!...<br />
pas do rei Antonio.<br />
gidos pela força das circumstancias e pelo Todos em casa do advogado, a mulher,<br />
«O príncipe da egreja ó <strong>de</strong> opinião que as tro-<br />
<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> obstarem á perda d^m anno. a filha, a creada, até o porteiro receberam pas alli <strong>de</strong>stacadas seriam <strong>de</strong>mais, se o combate<br />
Proce<strong>de</strong>u exactamente como quando os or<strong>de</strong>m para ir a casa do sr. Rapinault ape- fosse em campo raso; mas que são insufficientes<br />
na actual conjunctura, porque o Gungunhana tem<br />
verda<strong>de</strong> que, assim, a tolerancia <strong>de</strong>ve- briosos académicos <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> lhe pediram nas o papagaio recomeçasse. Succe<strong>de</strong>u isso por seu lado as diíílculda<strong>de</strong>s que o terreno apreria<br />
impôr-se, pois que o homem não tem culpa um feriado para se <strong>de</strong>morarem mais por um muitas vezes; o animal gritava, assobiava, senta, o clima, e até o estado sanitario das nossas<br />
<strong>de</strong> que Deus, nos seus secretos e insondáveis dia na capital, então em galas para festejar o ensur<strong>de</strong>cia toda a respeitável familia, mas tropas.»<br />
<strong>de</strong>sígnios, o tenha votado irremediavelmente anniversario natalício do glorioso poeta João apenas o sr. Rapinault chegava esbaforido,<br />
a uma perdição eterna, e bem lhe bastará <strong>de</strong> Deus.<br />
chamado pela criada ou pelo porteiro, recahia Em que mãos caíram os pobres soldados<br />
esta <strong>de</strong>sgraça...<br />
Procurou explorar a favor do paço, mas no seu mutismo, com gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sespero do que estão em Lourenço Marques.<br />
Mas não, respon<strong>de</strong>-se: o fiel, o eleito, d'essa vez foi corrido. Os estudantes 'da Uni- advogado, da mulher e da filha, que já não sa- E tudo a custar-nos o melhor <strong>de</strong> um conto<br />
pondo o seu coração <strong>de</strong> accordo com a vonversida<strong>de</strong> preferiram voltar immediatamente biam que fazer para conjurar o perigo, por- e quinhentos por me\!...<br />
ta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus, <strong>de</strong>ve odiar os réprobos, perse- ás suas aulas a rojarem-se aos pés do moque o sr. Galoubet ameaçava dar em doido!<br />
guil-os, exterminal-os, abominal-os, só pornarcha, implorando o favor, o enorme favor Afinal foi resolvido convidar o procuraque<br />
Deus os abomina ! Ha mesmo um theo- <strong>de</strong> um feriado!<br />
dor para um almoço. Só por arte do diabo Descoberta importante<br />
logo <strong>de</strong> seita que affirma que, no céu, os jus- Ainda que os estudantes <strong>de</strong> Lisboa resol- ,é que o papagaio <strong>de</strong>ixaria <strong>de</strong> gritar durante<br />
tos, gozam com os tormentos soffridos pelos vam em vista da recusa, recorrer á benevo- a refeição. Elle acceitou, mas, por cumulo O nosso amigo e collega — A Liberda<strong>de</strong>,<br />
con<strong>de</strong>mnados no inferno!<br />
lencia regia, nem por isso ficarão sendo me- <strong>de</strong> fatalida<strong>de</strong>, cahiu um gran<strong>de</strong> aguaceiro <strong>de</strong> Vizeu, dr. Maximiano d'Aragão, um cu-<br />
Quão longe está esta doutrina impia d'aquelnos liberaes, antes pelo contrario, cada vez os justamente á hora marcada, e os donos do rioso investigador e iliustradissimo auctor da<br />
les meigos idyllios do Christo nos Evange- seus princípios e i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong>mocráticas se radi- papagaio retiraram-no da janella. Era mais importante obra Vi^eu, acaba <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir no<br />
lhos!...carão<br />
mais nos seus espíritos alevantados, uma <strong>de</strong>speza sem proveito! Procurou-se ou- archivo da Sé, d'aquella cida<strong>de</strong>, um docu-<br />
•<br />
tendo agora a animal-as a indignação profuntro meio. Se se po<strong>de</strong>sse fazer engulir ao mento assás importante e que diz respeito<br />
da, o nojo contra os especuladores palacianos. papagaio uma pilula envenenada, arsénico ou aos tão discutidos quadros do celebre pintor<br />
A attitu<strong>de</strong> dos jornaes catholicos, n'este<br />
E' preciso que os senhores do governo mesmo salsa que tem a proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> alte- portuguez Vasco Fernan<strong>de</strong>s (Grão-vasco).<br />
momento, não offerece, pois, novida<strong>de</strong> al-<br />
saibam, que um estudante nunca perdoou a rar a saú<strong>de</strong> aos galinaceos! Mas a maneira O documento tem a data <strong>de</strong> 1607 (63<br />
guma; nem sob o ponto <strong>de</strong> vista doutrinário,<br />
quem lhe faça per<strong>de</strong>r um anno <strong>de</strong> estudo. <strong>de</strong> introduzir na gaiola a pilula, o arsénico annos <strong>de</strong>pois da morte <strong>de</strong> Vasco Fernan<strong>de</strong>s);<br />
nem sob o ponto <strong>de</strong> vista das tradições.<br />
Rico ou pobre, e muito principalmente po- ou a salsa? E <strong>de</strong>pois, se tudo se <strong>de</strong>scobrisse, e já os pintores d^quella epocha diziam que<br />
Sem recuarmos mais longe, bastará remonbre,<br />
o seu <strong>de</strong>sejo é concluir a formatura, que era certo um processo por perdas e damnos. se não podia fazer quadro idêntico, tão bom,<br />
tarmo-nos aos tempos, para sempre omino-<br />
muitas vezes é feita á custa dos maiores sa-<br />
tão perfeito, e bem acabado (diz o mesmo<br />
sos, do tyranno D. Miguel. Periodicos infacrifícios<br />
e privações.<br />
documento).<br />
mes, cuja só <strong>de</strong>nominação basta a <strong>de</strong>nunciar-<br />
Explorar com a fraqueza dos outros foi<br />
Esta <strong>de</strong>scoberta constitue um dos maiolhe<br />
o caracter, ahi viam a luz publica, dirigi-<br />
sempre cobardia; o ministro que imaginou<br />
res títulos <strong>de</strong> gloria a que tem jus o seu<br />
dos por sacerdotes do altar, taes como: A<br />
levar os estudantes a fazerem profissão <strong>de</strong> fé<br />
auctor; a sua explanação vae elevar a um<br />
Besta esfolada, do padre José Agostinho <strong>de</strong><br />
monarchica ante o solio augusto <strong>de</strong> sua ma-<br />
extraordinário realce o '3.° volume da monu-<br />
Macedo; O Mastigoforo, do padre Fortunato<br />
gesta<strong>de</strong> fi<strong>de</strong>líssima, bem o sabe, bem o <strong>de</strong>ve<br />
mental obra— Vi\eu, que se encontra á venda<br />
<strong>de</strong> S. Boaventura; O Cacete, do padre Fran-<br />
comprehen<strong>de</strong>r.<br />
em todas as livrarias, o que constitue um<br />
cisco Recreio; etc. Publicavam esses perio-<br />
Quiz vingar-se, vingou-se; é quanto bas-<br />
trabalho d'investigação, <strong>de</strong>véras interessante<br />
dicos as maiores infamias contra os liberaes,<br />
tou. Que lhe importa a justiça do pedido?<br />
e valioso.<br />
todos alcunhados <strong>de</strong> pedreiros-livres e ma-<br />
Ninguém lhe irá pedir contas..'. Mas hão <strong>de</strong><br />
çons, e não cessavam <strong>de</strong> pedir ao governo<br />
pedir-lh'as, mais cedo ou mais tar<strong>de</strong>.<br />
que se <strong>de</strong>ixasse <strong>de</strong> branduras para com os<br />
liberaes. Imagine-se as branduras do go-<br />
Então talvez o ministro vingativo e ranverno<br />
d'aquella besta-féra que se chamou o<br />
coroso se arrependa dos seus actos, das suas<br />
con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Basto!<br />
propotencias e inqualificáveis arbitrarieda<strong>de</strong>s.<br />
XLII<br />
•<br />
E a dizerem que a cida<strong>de</strong><br />
«A Batalha»<br />
não tem na vereação,<br />
gente <strong>de</strong> zelo e bonda<strong>de</strong>,<br />
<strong>de</strong> extrema <strong>de</strong>dicação!<br />
Ern meneios d'ameaça,<br />
a mostrar que não ha medo,<br />
conseguiu salvar, na praça<br />
do Commercio — o arvoredo !<br />
Foi este caso, á tardinha :<br />
'stavamos nós na palrata<br />
e um vereador se avisinha...<br />
Vê que a ave inda esgravata,<br />
e ahi vae o sr. Barata<br />
a perseguir a gallinha.<br />
BYa-Dique»
1 >JI:I I^SOTÍ » o P o v o — 1.° ANNO Quinta feira, 17 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895— N.° 49<br />
RECORDANDO...<br />
O Centro commercio e industria, abriu a<br />
sua vasta sala, no sabbado, inaugurando as<br />
reuniões familiares, com um baile, muito concorrido,<br />
e em constante animação.<br />
A sala embellezada com singelleza, palmas<br />
e colgaduras, aos tufos, seguram braçadas<br />
<strong>de</strong> flores, quadros <strong>de</strong> boas oleographias,<br />
espelhos e os tres lustres a illuminarem com<br />
profusão. Ao fundo plantas ornamentaes.. .<br />
Ouve-se o piano, annunciando o começo<br />
do baile. Todos se levantam e na escolha<br />
dos pares se revelam — as sympathias.<br />
Morenas e loiras, <strong>de</strong> rostinhos galantes e<br />
olhos que cegavam, brilhando como pyrilampos,<br />
numa <strong>de</strong>senvoltura graciosa nos volteados<br />
da valsa, eram o enlevo dos namora<strong>de</strong>iros<br />
<strong>de</strong> officio e o encanto dos felizes — os eleitos<br />
do coração.<br />
E cresceu-nos o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> fazer <strong>de</strong> tanto<br />
par, uma gran<strong>de</strong> roda, saracoteando-se ao<br />
canto do Vira e do Malhão, do Estalado...<br />
e <strong>de</strong> tanta coisa bonita...<br />
Defeitos!<br />
•<br />
No domingo, sessão solemne, commemorativa<br />
do primeiro anniversario d'aquella aggremiação,<br />
que parece entrar em vida calma.<br />
O sr. presi<strong>de</strong>nte, David Parada, convidou<br />
a presidir áquella sessão, o sr. Antonio<br />
José Garcia, que acceitou, agra<strong>de</strong>cendo, nomeando<br />
secretários os srs. Francisco Augusto<br />
Rocha e José Bento.<br />
Constituída a mesa, explicou o sr. presi<strong>de</strong>nte<br />
o fim d'aquella sessão, e fez votos pela<br />
prosperida<strong>de</strong> <strong>de</strong> associação tão auspiciosa.<br />
A reacção e os jesuítas não lhe ficaram a <strong>de</strong>ver<br />
favores, <strong>de</strong>monstrando a necessida<strong>de</strong> do<br />
operário se educar e instruir. Fez judiciosas<br />
consi<strong>de</strong>rações sobre a situação da classe trabalhadora<br />
e não tratou muito bem os po<strong>de</strong>res<br />
públicos; enalteceu as associações, pela<br />
sua influencia benefica. A sua palestra teve<br />
bom acolhimento pela simplicida<strong>de</strong> da exposição<br />
e dicção clara. Foi applaudido.<br />
Convidou <strong>de</strong>pois o sr. José Antonio dos<br />
Santos a tomar a palavra que a <strong>de</strong>legou no<br />
sr. Delphim Gomes, que foi verboso na sua<br />
exposição e tratou o assumpto — utilida<strong>de</strong><br />
d'aquella associação e instrucção do operário<br />
— cujos themas <strong>de</strong>senvolveu com proficiência,<br />
<strong>de</strong>ixando agradado os que o ouviram, que<br />
lhe <strong>de</strong>ram palmas, antes e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> fallar.<br />
Seguiu-se então o sr. José Antonio dos<br />
Santos, muito mo<strong>de</strong>sto, e muito breve. Quiz<br />
<strong>de</strong>sculpar, em parte, o operário por não se<br />
entregar mais ao estudo: «que o cançaço do<br />
trabalho durante o dia não <strong>de</strong>ixa á noite.. .<br />
etc.»—não se lembrando que elle, operário<br />
como é, e assíduo trabalhador — <strong>de</strong>pois do<br />
cançaço da oiíicina — tem frequentado algumas<br />
das disciplinas professadas na escóla<br />
industrial Brotero, e com tanta intelligencia<br />
e assiduida<strong>de</strong>, que lhe valeu ser nomeado ha<br />
dias <strong>de</strong>corião nas aulas <strong>de</strong> chimica e physica.<br />
Mas saiba o sr. Santos, que o cançaço do<br />
trabalho não obsta a que operários analphabetos<br />
troquem a Escóla primaria, por theatradas,<br />
e a Cartilha Maternal, por papeis <strong>de</strong><br />
personagens mysticos.<br />
Reatando: — Afóra este senão, filho da<br />
sua bonda<strong>de</strong> <strong>de</strong> passador <strong>de</strong> culpas, o nosso<br />
amigo estreiou-se com vantagem, e a sua<br />
palestra teve phrases d'um colorido leve e<br />
muito afinado.<br />
Não lhe faltaram applausos e a sessão<br />
terminou, congratulando-se todos pelo bom<br />
êxito da festa.<br />
Folhetim—«Defensor do Povo»<br />
0 CORSÁRIO PORTIGIEZ<br />
ROMANCE MARÍTIMO<br />
ORIGINAL DE<br />
CAPITULO IV<br />
O naufragio<br />
O sr. D. Luiz <strong>de</strong> Sarmento era capitão<br />
<strong>de</strong> mar e guerra. Nada porém o recommendava<br />
por ser ignorante; sendo porém protegido<br />
pelo con<strong>de</strong> <strong>de</strong>..., s.eu parente, e ministro<br />
da marinha, era chamado ás commissões<br />
mais importantes; embora não levasse para<br />
bordo os gran<strong>de</strong>s dotes, que em terra o ministro<br />
lhe achava.<br />
D. Luiz <strong>de</strong> Sarmento era pois como<br />
muitos que para ahi temos, que escon<strong>de</strong>m a<br />
sua inépcia <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> muitos titulos balofos.<br />
Um dia encontrou Carlos no arsenal, e<br />
perguntou-lhe:<br />
— O senhor não esteve no Brazil ?<br />
•<br />
À dança! Á dança! E o sympathico pianista—o<br />
Sampaio—annuncia no teclado uma<br />
valsa.<br />
Tudo se agita e engatilham-se os pedidos.<br />
Sorrisos <strong>de</strong> annuencia, braço ao par e unidos,<br />
a mirarem-se, os felizes, e iá iam ellas,<br />
ligeiras como gazellas, alegres como bando<br />
<strong>de</strong> andorinhas, em vertiginosos redopios.<br />
E tudo é feliz!...<br />
E o Sampaio, muito amavel, executou<br />
com pericia, uma Melage, com — valsas, polkas,<br />
ma\urkas, pas<strong>de</strong>-quatre— e ninguém<br />
cança! — e ha palmas ao pianista, pela innovação<br />
alli.<br />
Ao final, dança-se uma valsa — a vapor —<br />
foi uma vingança do Sampaio, para fazer dispersar.<br />
E tudo se agita em impetuosas voltas<br />
<strong>de</strong> roda — ninguém quer ficar vencido! —<br />
e no auge da confusão o piano, pára. ..<br />
E tudo <strong>de</strong>bandou, a caminho <strong>de</strong> repouso.<br />
Eram 2 horas da noite.<br />
...<br />
«O Debate»<br />
Lembranças aos meus dois pares.<br />
É o novo diário, dirigido pelo intemerato<br />
republicano, sr. Feio Terenas, vigoroso jornalista<br />
que vem <strong>de</strong> ha muitos annos trabalhando<br />
e luctando pela causa popular e princípios<br />
<strong>de</strong>mocráticos.<br />
Será a sentinella vigilante contra as hostes<br />
jesuíticas e reaccionarias, contra os déspotas<br />
<strong>de</strong> D. Miguel e os janizaros <strong>de</strong> D. Carlos.<br />
O seu primeiro artigo é vibrante, energico,<br />
exaltando o povo francez <strong>de</strong> 1848 que<br />
aos gritos <strong>de</strong> — Viva a Republica ! — <strong>de</strong>rrotara<br />
um throno. O Debate <strong>de</strong>ve ser bem acceite<br />
pelo paiz, pois <strong>de</strong>sfralda, com enthusiasmo<br />
e convicção o labaro da emancipação<br />
da patria.<br />
Saudamol-o.<br />
Assumptos <strong>de</strong> interesse locai<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />
Com a solemnida<strong>de</strong> dos annos anteriores<br />
fez-se hontem a distribuição dos prémios aos<br />
estudantes, que mais se distinguiram durante<br />
o findo anno lectivo.<br />
A vasta sala dos capellos offerecia um<br />
aspecto magestoso.<br />
A aca<strong>de</strong>mia em gran<strong>de</strong> numero acotovelava-se,<br />
<strong>de</strong>sejando uns contemplar as damas<br />
que enchiam a teia e as tribunas fazendo<br />
realçar nas suas toilettes claras os seus rostos<br />
formosos: outros gosando o espectáculo<br />
que ante os seus olhos se <strong>de</strong>senrolava.<br />
A este numero pertenciam quasi exclusivamente<br />
os novatos, para quem o que viam<br />
era novida<strong>de</strong>, e os interessados e suas famílias,<br />
e alguns mais, mas pouquíssimos.<br />
O calor era asphixiante.<br />
Coube ao sr. dr. Luiz Maria da Silva<br />
Ramos a vez <strong>de</strong> recitar a tradicional oração<br />
<strong>de</strong> sapientia.<br />
O sábio <strong>de</strong>cano da faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> theologia,<br />
em voz firme e bem timbrada, pronunciou<br />
o seu discurso exaltando a theologia como<br />
sciencia racional e progressiva e muito principalmente<br />
pelo impulso inicial e fecundo<br />
auxilio, que ella, na Eda<strong>de</strong> Media, prestou ás<br />
outras sciencias, procurando filiar nos trabalhos<br />
theologicos e dos sábios naturalistas<br />
— Estive, sim senhor, servi na fragata<br />
S. Sebastião.<br />
E' isso mesmo, respon<strong>de</strong>u elle com certa<br />
insolência; voltou-íhe as costas, e retirou-se.<br />
O appellido <strong>de</strong> Sarmento não era para Carlos<br />
<strong>de</strong> bom agouro, pelo que tratou <strong>de</strong> indagar<br />
quem era este senhor D. Luiz, e pelas<br />
informações que teve soube, que era irmão<br />
mais velho <strong>de</strong> D. Francisco <strong>de</strong> Sarmento e<br />
Castro, que os leitores já conhecem.<br />
Carlos notou, que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a pergunta que<br />
lhe fizera D. Luiz, o ministro, que sempre o<br />
recebia com distincção, passou a tratal-o<br />
com indifferença e a <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ral-o! Mas<br />
elle cumpria com o seu <strong>de</strong>ver; <strong>de</strong>ixava passar<br />
os aguaceiros, e esperava por melhor<br />
tempo.<br />
Seis mezes <strong>de</strong>pois d'este acontecimento,<br />
foi nomeado immediato da fragata Senhora<br />
da Conceição, <strong>de</strong> que era commandante D.<br />
Luiz <strong>de</strong> Sarmento!<br />
Carlos, ao receber a or<strong>de</strong>m não ficou<br />
satisfeito, porém não quiz eximir-se ao serviço,<br />
conscio <strong>de</strong> que quem cumpre com o<br />
seu <strong>de</strong>ver, nada tem a receiar.<br />
João Traquete não o abandonava, e acompanhou-o<br />
na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mestre, logar que<br />
já occupára no bergantim Santo Antonio.<br />
No dia 23 <strong>de</strong> março a fragata suspen<strong>de</strong>u o<br />
ferro e seguiu sem novida<strong>de</strong>, até <strong>de</strong>itar a barra<br />
fóra. A sua missão era cruzar no estreito <strong>de</strong><br />
c.<br />
christãos as gran<strong>de</strong>s e extraordinarias <strong>de</strong>scobertas<br />
scientificas dos tempos mo<strong>de</strong>rnos.<br />
Poz bem em relevo os serviços prestados<br />
á sciencia, á patria e á <strong>Universida<strong>de</strong></strong> pela<br />
faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> theologia, insinuando a insufficiencia<br />
dos seminários para ministrarem ao<br />
theoiogo os conhecimentos e os recursos indispensáveis<br />
aos altos estudos theologicos em<br />
nossos dias, e para a solução <strong>de</strong> questões<br />
d'uma gravida<strong>de</strong> e transcendência incalculáveis.<br />
Do discurso do digno prelado da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>,<br />
nada po<strong>de</strong>mos dizer porque não ouvimos<br />
uma única phrase, e cremos que ninguém<br />
ouviu.<br />
Demais, muitos lentes, mais <strong>de</strong> trinta,<br />
muitas senhoras, muitas pessoas estranhas<br />
ao elemento académico, muitas capas e batinas<br />
novas e pela primeira vez vestidas, algumas<br />
piadas soltas aqui e acolá aos novatos,<br />
que compromettidos, a maior parte das vezes,<br />
coravam <strong>de</strong>ante dos veteranos como a pudica<br />
donzella <strong>de</strong>baixo do influxo do olhar petulante<br />
e pertinaz dos leões da galanteria.<br />
A' porta ferrea gritos estri<strong>de</strong>ntes, assobios,<br />
encontrões, etc., uma inferneira diabólica,<br />
própria <strong>de</strong> rapazes novos e alegres.<br />
o<br />
Tlieatro príncipe real<br />
Foi hontem a inauguraçãa da presente<br />
época theatral, e coube á companhia lyricodramatica,<br />
dirigida pela actriz Dora Lambertini,<br />
as honras da estreia.<br />
Representou-se a Cavallaria Rusticana,<br />
em que Dora Lambertini, essa adorável<br />
creança <strong>de</strong> ha annos, que nós applaudimos<br />
em triumpho, tem o papel do personagem<br />
mais importante e on<strong>de</strong> revelia o seu pujante<br />
talento. Foi magistral o <strong>de</strong>sempenho no seu<br />
papel <strong>de</strong> Santuzza, o que lhe valeu uma<br />
ovação estrondosa.<br />
Giorgio, <strong>de</strong> 6 annos, mostra na sua eda<strong>de</strong>,<br />
que éfilho <strong>de</strong> peixe. Muito gracioso na<br />
cançoneta—Uh! Lá-ldl—que a encantadora<br />
Dora dizia, da outra vez, com innocente malícia<br />
e infinita graça. Pois o pequenito Giorgio<br />
se lhe não ganha a palma, não <strong>de</strong>smerece<br />
em nada a sympathica irmã.<br />
A festa <strong>de</strong> minha mãe é um <strong>de</strong>licioso<br />
vau<strong>de</strong>ville, em 1 acto, em que ainda o Giorgiosito<br />
faz maravilhas n'um personagemsinho<br />
muito comico, saindo-se bem na scena do disfarce.<br />
Deram-lbe muitas palmas.<br />
Terminou a recita pela phantasia musical<br />
cantada pela actriz Dora Lambertini — A<br />
francesa — que foi bisada, pela distincção<br />
como a executou, tendo muitas chamadas e<br />
freneticos applausos.<br />
A aca<strong>de</strong>mia cantou também, respon<strong>de</strong>ndo<br />
em côro aos couplets, o que fez rir a gentil<br />
Dora.<br />
Hoje ha outra recita e não damos o programma<br />
por falta <strong>de</strong> prospecto.<br />
Foi numerosa a concorrência.<br />
Os ourinoes<br />
Des<strong>de</strong> que retiraram o ourinol da praça<br />
do Commercio, o recanto das pare<strong>de</strong>s da casa<br />
da Misericórdia e da egreja <strong>de</strong> S. Thiago, é<br />
um fóco <strong>de</strong> acido úrico que exhala mau cheiro<br />
e está salitrando a pare<strong>de</strong> da egreja.<br />
Além d'isso alli não ha policia que evite<br />
isso e outros casos que alli se dão.<br />
Também o ourinol ao fundo da rua Martins<br />
<strong>de</strong> Carvalho se encontra em péssimas<br />
condições <strong>de</strong> asseio, estando entupida a canalisação,<br />
o que faz escorrer as ourinas para<br />
a praça 8 <strong>de</strong> Maio, produzindo cheiros insupportaveis.<br />
Gibraltar, e obstar á saída dos argelinos<br />
para o Oceano. João não gostava da cara<br />
do commandante, e muito menos ficon sympathisando<br />
com elle, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ver a maneira<br />
pouco <strong>de</strong>licada porque recebeu o immediato.<br />
D. Luiz era altivo e mal educado; a todos<br />
tratava com aspereza, pelo que não tinha<br />
sympathias na tripulação.<br />
Carlos era o contrario, conciliava os seus<br />
<strong>de</strong>veres <strong>de</strong> oflicial com os da boa educação,<br />
e por todos era estimado.<br />
Oito dias <strong>de</strong>correram sem haver novida<strong>de</strong>;<br />
o mar conservava-se bom, e se alguns<br />
salceiros rebentavam pela proa, não eram <strong>de</strong><br />
cuidado.<br />
O nono dia, porém, amanheceu terrível:<br />
o vento soprava rijo do sueste, e o mar levantava<br />
gran<strong>de</strong>s vagas, que galgando o portaló<br />
<strong>de</strong> bombordo, saíam por estibordo. O<br />
horisonte estava medonho e em completa<br />
cerração. Os aguaceiros eram fortes; e assim<br />
se conservou o tempo até ás quatro horas,<br />
em que o temporal augmentou com violência.<br />
0 pratico, em vista do escarcéu,<br />
disse para João Traquete:<br />
— Mestre João, porque não diz ao senhor<br />
immediato, que lembre ao commandante que<br />
bom seria arribar?<br />
— Diga-lh'o vossê; o nosso immediato<br />
sabe mais do mar a dormir que o comman-<br />
Norato<br />
Concluiu os preparatórios e está matriculado<br />
já no i.° anno jurídico, o nosso bom<br />
amigo, Lindorphe <strong>de</strong> Macedo.<br />
E' um rapaz intelligente e trabalhador<br />
a quem o futuro reserva um logar brilhante<br />
nas lettras, e que agora, nos bancos da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>,<br />
não <strong>de</strong>ixará <strong>de</strong> se evi<strong>de</strong>nciar.<br />
Nós que o estimamos e temos por elle<br />
muita sympathia, damos esta agradavel nova<br />
cheios <strong>de</strong> intima alegria e contentamento.<br />
Os nossos parabéns ao novato.<br />
Rectificação<br />
Por lapso, dissémos fazer exame um filho<br />
do nosso amigo, sr. José Marques Pinto, proprietário<br />
do Café Central. Este nosso amigo<br />
não tem menino. O engano foi <strong>de</strong>vido á<br />
precipitação, <strong>de</strong> se não reparar que o sr. José<br />
Marques Pinto é um cavalheiro da Figueira,<br />
que veiu a esta cida<strong>de</strong> com seu filho e que<br />
fez exame.<br />
«O Cardai»<br />
E um semanario litterario, noticioso e recreativo,<br />
<strong>de</strong> pequeno formato, que se publica<br />
em Pombal e se diz o ecco da al<strong>de</strong>ia.<br />
Não é politico, combate ou elogia o governo,<br />
segundo a norma do seu proce<strong>de</strong>r.—<br />
Luz e progresso é a sua divisa.<br />
Que Deus o <strong>de</strong>ixe crear para bem e os<br />
leitores sejâtn muitos.<br />
- —<br />
A revolta da Índia<br />
Telegramma <strong>de</strong> Bombaim, <strong>de</strong> i5, enviado<br />
ao Século, <strong>de</strong> hontem: — Noticias officiaes dizem<br />
ter terminado completamente a revolta<br />
<strong>de</strong> Goa.<br />
As auctorida<strong>de</strong>s conce<strong>de</strong>ram indulto aos<br />
revoltosos, que entregaram as armas na terça<br />
feira, sendo licenciados e postos em liberda<strong>de</strong>.<br />
COMMUMCADO<br />
«Ex. mo sr. presi<strong>de</strong>nte da camara municipal <strong>de</strong><br />
<strong>Coimbra</strong> — 0 abaixo assignado para íins convenientes,<br />
precisa que v. ex. a , por certidão, lhe<br />
man<strong>de</strong> passar o que consta — no respectivo livro<br />
da matricula dos cocheiros — da carta passada<br />
a Annibal Travassos d'esta cida<strong>de</strong>, e em que data<br />
foi; e liem assim se João da Cruz, <strong>de</strong> Arganil,<br />
está matiiculado como cocheiro. — E. R. M.—<br />
<strong>Coimbra</strong>, 2 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895. —José Pereira<br />
Serrano.»<br />
«Passe. — <strong>Coimbra</strong>, 2 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895—<br />
0 vice-presi<strong>de</strong>nte, Araujo Pinto.»<br />
«Eduardo Oliveira Lopes Macedo, primeiroofficial<br />
da secretaria da camara municipal <strong>de</strong><br />
<strong>Coimbra</strong>, servindo <strong>de</strong> secretario da mesma camara:<br />
Certifico que dos registros existentes n'esta secretaria,<br />
consta que a Annibal Travassos, d'esta cida<strong>de</strong>,<br />
foi conferido em vinte <strong>de</strong> junho do corrente<br />
anno o competente alvará para po<strong>de</strong>r exercer a<br />
arte <strong>de</strong> cocheiro neste concelho, por virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
exame a que o mesmo individuo se sujeitou, segundo<br />
se vê da nota lançada na guia expedida por<br />
esta secretaria em <strong>de</strong>senove do referido mez; não<br />
constando dos mesmos registros que tivesse sido<br />
conferido egual alvará ao individuo apontado no<br />
requerimento retró João da Cruz. Por verda<strong>de</strong> se<br />
passou a presente. Secretaria da camara municipal<br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, 3 doulubro <strong>de</strong> 1895 (e cinco).<br />
— Eduardo Oliveira Lopes Macedo.»<br />
dante acordado; já lhe fez algumas observações;<br />
e sabe o que elle lhe respon<strong>de</strong>u: «Que<br />
quem tem medo, compra um cão!» O nosso<br />
immediato saiu, e não lhe respon<strong>de</strong>u nada, e<br />
d:sse-me :<br />
«O commandante mandou conservar no<br />
rumo do norte, estando nós entre a Ponte<br />
da Europa e a mina <strong>de</strong> Ceuta! O homem<br />
está doido, ou quer o navio encalhado! Mas<br />
guarda isto para ti e não digas nada á marinhagem.»<br />
O pratico respon<strong>de</strong>u:<br />
— Mas então o que será <strong>de</strong> nós! E' verda<strong>de</strong><br />
que o commandante mandou ás oito<br />
horas proseguir no rumo do norte e continuar<br />
a bordada com pouco panno; mas o<br />
vento é muito, e a fragata não aguenta a<br />
véla gran<strong>de</strong> na amura.<br />
O temporal crescia e a fragata rolava<br />
mais do que seguia. A's tres horas da madrugada<br />
o oflicial <strong>de</strong> quarto dirigiu-se á camara<br />
e perguntou:<br />
— Senhor commandante, quer virar antes<br />
do quarto rendido ou na occasião que toda<br />
a gente estiver em cima?<br />
— Não senhor, respon<strong>de</strong>u elle com insolência,<br />
os senhores são uns medrosos incorrigíveis.<br />
.. como segue o tempo?<br />
(Continúa.)
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A sabia politica e a boa administração<br />
das nossas vastas e ricas províncias ultramarinas<br />
está reduzida, por parte do actual<br />
governo, a méros expedientes <strong>de</strong> occasião.<br />
Tem-se limitado a sua activida<strong>de</strong>, dirigente<br />
e previ<strong>de</strong>nte, a organisar, á pressa e<br />
<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nadamente, uma ou outra expedição<br />
militar insuficientíssima para reprimir a<br />
revolta do gentio e castigar os revoltosos,<br />
com pesadíssimos encargos para o thesouro<br />
publico, doloroso e, para mais, inútil sacrifício<br />
<strong>de</strong> muitas vidas, sem resultado algum<br />
pratico, que possa garantir a or<strong>de</strong>m e a segurança<br />
em nossas colonias, a sua conservação<br />
e futuro <strong>de</strong>senvolvimento agrícola e<br />
commercial.<br />
E' certo que a pacificação çTaqtiellàs<br />
regiões e a sujeição dos rebel<strong>de</strong>s ao nosso<br />
domínio economico e soberania politica é<br />
condição primaria, indispensável á manutenção<br />
e progresso do nosso patrimonio colonial.<br />
Isso porém não basta.<br />
Ha muito tempo que os governos <strong>de</strong><br />
Portugal <strong>de</strong>viam ler cuidadosamente estudado,<br />
e posto em execução um syslema regular<br />
e aperfeiçoado <strong>de</strong> sabia politica e boa<br />
administração, por meio do qual, promovendo<br />
e realisando, d'um modo efficaz e<br />
proveitoso, a prosperida<strong>de</strong> das nossas provincias<br />
ultramarinas da Africa e na índia,<br />
evitasse a revolta dos indígenas, e contivesse<br />
no <strong>de</strong>vido respeito as ávidas nações<br />
da Europa, nomeadamente a Inglaterra, que<br />
não recua <strong>de</strong>anle dos meios mais baixos e<br />
dos mais ignóbeis expedientes, para nos<br />
expoliar e chamar a si o que é nosso, muito<br />
nosso, e só a nós <strong>de</strong> facto e por direito pertence.<br />
Votadas, porém, ao abandono, a um<br />
quasi syslematico <strong>de</strong>sprezo, as nossas possessões,<br />
que são parte integrante e valiosa<br />
do territorio portuguez, penhor da nossa<br />
imporlancia internacional, esquecidos, mal<br />
tratados em lodo o sentido os seus habitantes,<br />
que em gran<strong>de</strong> parte são cidadãos portuguezes,<br />
e como laes <strong>de</strong>viam ser havidos e<br />
tratados, não é para estranhar que os indígenas<br />
e os proprios colonos se revoltem, e<br />
que as outras nações, invocando o principio<br />
da expropriação por utilida<strong>de</strong> publica, os<br />
direitos da humanida<strong>de</strong>, os interesses e<br />
aspirações da civilisação, nos espoliem, e<br />
<strong>de</strong>sapossem do que por ignorancia. incúria<br />
e <strong>de</strong>sleixo é em nosso po<strong>de</strong>r improductivo,<br />
prejudicando assim as conveniências e lesando<br />
os direitos <strong>de</strong> outros, que na Africa e<br />
na índia são nossos visinhos e também possuidores<br />
<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s e po<strong>de</strong>rosas extensões<br />
<strong>de</strong> lerritorio, que elles utilmente aproveitam,<br />
sabiamente governam e administram.<br />
Ao passo que oulras nações tem adiantado<br />
e feito progredir notavelmente as suas<br />
colonias, e d'ellas sabido tirar abundantes<br />
recursos, adquirir cada anno maior força e<br />
predomínio entre as outras nações da Europa<br />
e gran<strong>de</strong> prestigio em todo o mundo,<br />
Portugal, que já foi a maior e mais opulenta<br />
das potencias coloniaes, vê largamente cerceado<br />
e consi<strong>de</strong>ravelmente reduzido o seu<br />
patrimonio colonial; as suas possessões<br />
ultramarinas somente representam, para o<br />
oulr'ora po<strong>de</strong>roso senhor do Oriente, uma<br />
velha <strong>de</strong>coração histórica, uma dispendiosa<br />
ostentação <strong>de</strong> fidalgo arruinado, origem <strong>de</strong><br />
confliclos, vexames e humilhações vergonhosas.<br />
Servem ainda para mais alguma cousa:<br />
— São um attestado permanente da<br />
incapacida<strong>de</strong> dos noss0s governantes, e<br />
um monumento secular e já agora eterno<br />
para, sem duvida, attestar ao mundo a nossa<br />
antiga'virilida<strong>de</strong> e gran<strong>de</strong>za, mas também<br />
a inépcia, a cobardia, a imbecilida<strong>de</strong>, a<br />
inércia <strong>de</strong> um povo, que se <strong>de</strong>ixa roubar e<br />
escarnecer, <strong>de</strong>ntro e fóra do seu paiz.<br />
O brio do exercito<br />
Tem causado funda impressão o energico<br />
artigo editorial — O brio do exercito — que<br />
o Tempo publicou no seu numero <strong>de</strong> quinta<br />
feira, da penna do respeitável general, sr.<br />
Camara Leme.<br />
E' um protesto violento saído da energia<br />
d'um velho portuguez, com serviços relevantes<br />
á patria, seu leal servidor, que vem<br />
em <strong>de</strong>feza dos brios do nosso exercito, conspurcados<br />
por esses infames dictadores, aos<br />
quaes accusa <strong>de</strong> manterem em Lourenço Marques<br />
— como réprobo ao exercito — um commissario<br />
régio, investido do mais alto grau<br />
hierarchico militar!<br />
Não fugiremos á tentação <strong>de</strong> transcrever<br />
doeste brilhante artigo, alguns períodos, já<br />
que o não po<strong>de</strong>mos dar na integra por falta<br />
<strong>de</strong> espaço.<br />
Começa por estas enthusiastas palavras:<br />
«Foi sempre a honra a mais valiosa moeda com que<br />
se galardoaram feitos <strong>de</strong> armas e annos consumidos<br />
por acampamentos e bivaques, com sacrifício da própria<br />
vida. Ainda hoje o é, e sel-o-ha sempre, porque<br />
a religião das ban<strong>de</strong>iras impõe como primeiro <strong>de</strong>ver a<br />
abnegação heróica e o <strong>de</strong>sprendimento <strong>de</strong> toda a commodida<strong>de</strong><br />
pessoal.<br />
«Trata-se <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a ban<strong>de</strong>ira que tem por iemma<br />
as quinas, a cruz e a espada, essa ban<strong>de</strong>ira boje tão humilhada<br />
e tão heróica outr'ora, <strong>de</strong>sfraldada com assombro<br />
nos confins do mundo. Organisam-se forças do<br />
exercito da inetropole, e nem ura único soldado se recusa<br />
a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a sua patria, affrontando os perigos do<br />
clima, não inferiores aos do inimigo que vae combater.<br />
«O governo, porém, submette ás or<strong>de</strong>ns d'um commissario<br />
régio, embora cavalheiro <strong>de</strong> reconhecida iilustração,<br />
a quem investe do mais alto gráo biefarchico<br />
militar, officiaes <strong>de</strong> patentes superiores e encanecidos<br />
no serviço I Fére a dignida<strong>de</strong> d'uma classe que abdica<br />
da vonta<strong>de</strong> pela disciplina, da conservação pelo perigo,<br />
do interesse pela modicida<strong>de</strong>, quasi pobreza, da sua<br />
pagai<br />
«Nobre exemplo <strong>de</strong> disciplina, tão pouco apreciado,<br />
<strong>de</strong>plorável contraste do <strong>de</strong>ver.<br />
«Quando na nossa riquíssima possessão <strong>de</strong> Moçambique<br />
se reclamava um militar <strong>de</strong> patente superior,<br />
bravo e intelligente, para dirigir a melindrosa politica<br />
internacional e as operações militares d'aquella preciosa<br />
pérola da corôa portugueza, o governo usurpador<br />
<strong>de</strong> todas a regalias constitucionaes, exercendo a mais<br />
nefasta dictadura com manifestos intuitos autocratas,<br />
conserva, n'esta grave conjunctura, em Lourenço Marques,<br />
um funccionario alheio á nobre profissão das armas,<br />
com or<strong>de</strong>nado <strong>de</strong> príncipe, ferindo assim o <strong>de</strong>coro<br />
dos officiaes do exercito portuguez I<br />
«E o sr. ministro da guerra, a quem estão confiados<br />
os <strong>de</strong>stinos do exercito, a sua honra e a sua dignida<strong>de</strong>,<br />
ainda está nos conselhos da corôa 11!<br />
«Mas o sr. ministro da guerra continua a gastar os<br />
dinheiros do paiz em manobras inúteis, em reformas e<br />
promoções dispendiosas, preoceupando-se pouco com<br />
os brios do exercito, e o sr. Ennes, aliás distincto escriptor<br />
e dramaturgo, conserva-se em Lourenço Marques,<br />
como se fosse rei d'aquelia possessão.<br />
«Oxalá que não venha <strong>de</strong> la com apontamentos para<br />
uma tragedia tétrica, intitulada: A perda <strong>de</strong> Moçambique<br />
ou a humdhaçao <strong>de</strong> Portugal.<br />
E termina por esta <strong>de</strong>claração patriótica:<br />
«Eu que tenho sempre pugnado pelos interesses legítimos<br />
do exercito na imprensa e no parlamento, ainda<br />
tenho voz, comquanto débil, e penna comquanto mal<br />
aparada, para continuar com energia na brecha, pugnando<br />
pela honra offendida do exercito portuguez.»<br />
Portuguez <strong>de</strong> lei — d'antes quebrar que<br />
torcer — ha <strong>de</strong> cumprir a sua palavra.<br />
Que não é palavra <strong>de</strong> rei!...<br />
•©
DEFENSOR DO PQVO — 1.° ANNO<br />
LIBERDADE RELIGIOSA<br />
(CONCLUSÃO)<br />
Ora, Egreja <strong>de</strong> Roma, que se pronuncia<br />
<strong>de</strong> ter tido S Pedro como o primeiro dos<br />
seus pontífices, não tendo coragem para anathematisar<br />
S. Pedro, obtivera todavia esse<br />
espirito fraternal e universalista da sua doutrina,<br />
e agarra-se a S. Pedro, representante<br />
<strong>de</strong> toda a intolerância do Velho Testamento.<br />
Assim se explica como todas as heresias,<br />
ao separarem-se <strong>de</strong> Roma, vão sempre procurar<br />
em S. Paulo a doutrina que lhe hão <strong>de</strong><br />
oppôr.<br />
O catholicismo segue S. Pedro, pontífice<br />
da nova synagoga; o protestantismo segue<br />
S. Paulo, o apostolo do Christinaismo universalista.<br />
Ora o exame vagaroso e reflectido dos<br />
Evangelhos dá razão a S. Paulo contra S.<br />
Pedro, ás heresias contra o catholicismo, ao<br />
espirito da liberda<strong>de</strong> contra a intolerância<br />
sectaria.<br />
Assim não nos <strong>de</strong>ve maravilhar que, ao<br />
passo que os catholicos faliam ainda em perseguições<br />
odientas, como se houvéramos regressado<br />
aos tempos medievaes, o príncipe<br />
<strong>de</strong> Bismarck, o homem da força, o homem<br />
da guerra, tivesse <strong>de</strong>clarado terminantemente,<br />
no parlamento germânico, em 16 <strong>de</strong> março<br />
<strong>de</strong> 1875, que havia <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r sempre a liberda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> consciência dos allemães.<br />
Verda<strong>de</strong> seja que Bismarck se contradisse,<br />
quando ao passo que <strong>de</strong>fendia a liberda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> consciência em matéria religiosa — como<br />
faz todo o christão não papista — elle calcava<br />
aos pés a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consciência em<br />
matéria politica, perseguindo sem trégua os<br />
socialistas. Mas, por agora, é da liberda<strong>de</strong><br />
religiosa que estou tratando...<br />
•<br />
Não receiem os reaccionários que a liberda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>genere em licença. A licença não é<br />
mais que o resultado da compressão. Se o<br />
pensamento politico soffre peias, <strong>de</strong>sperte o<br />
pensamento religioso, ou melhor, anti-religioso.<br />
Se é esta que preten<strong>de</strong>m coarctar,<br />
ievanta-se o pensamento politico. As apreciações<br />
são exaggeradas, violentas. Se por<br />
acaso não <strong>de</strong>ixam analysar as theorias, o<br />
combate volve-se então contra as pessoas,<br />
n'um <strong>de</strong>plorável excesso <strong>de</strong> linguagem.<br />
Dae liberda<strong>de</strong> a cada qual <strong>de</strong> dizer e escrever<br />
o que quizer. Rodrigues Sampaio<br />
cria que a liberda<strong>de</strong> tivesse a força verda<strong>de</strong>ira<br />
em si mesmo.<br />
Espera já uma objecção; das mais eloquentes<br />
porque não se engalana <strong>de</strong> theorias<br />
abstractas, mas surge com toda a crueza<br />
dos factos. Hão <strong>de</strong> fallar-me nos, já acima<br />
referidos, acontecimentos do dia 3o <strong>de</strong> julho<br />
ultimo.<br />
Mas que querem os catholicos ?... Desconhecerão<br />
elles por ventura o proloquio que<br />
diz que — quem semeia ventos colhe tempesta<strong>de</strong>s<br />
?...<br />
Ora os catholicos semearam duas especies<br />
<strong>de</strong> ventos, <strong>de</strong> que resulta para elles,<br />
agora uma só especie <strong>de</strong> tormenta.<br />
Nos seus tempos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>rio, prégaram e<br />
praticaram a intolerância por largos annos,<br />
por séculos. O habito inveterado torna-se<br />
instincto pela hereditarieda<strong>de</strong>. De fórma que,<br />
emquanto o povo não reagir por uma sã disciplina<br />
mental contra o habito adquirido, por<br />
herança, da intolerância, elle, ou no sentido<br />
catholico ou no sentido anti-catholico, será<br />
intolerante.<br />
Os catholicos pagaram em 3o <strong>de</strong> julho<br />
uma parcella minima da sua divida histórica,<br />
e oxalá não paguem mais!<br />
Por outro lado, aquelles que se emanciparam<br />
do dogma catholico, mas que conhecem,<br />
mais ou menos a historia sangrenta do<br />
catholicismo intolerante, temendo da possibilida<strong>de</strong><br />
d'um regresso a tão abominado passado,<br />
tornam-se facilmente ferozes na <strong>de</strong>feza<br />
das liberda<strong>de</strong>s conquistadas.<br />
E ahi têm as duas especies <strong>de</strong> causas dos<br />
acontecimentos <strong>de</strong> 3o <strong>de</strong> julho.<br />
•<br />
E hão <strong>de</strong> confessar os catholicos que a<br />
linguagem dos seus jornaes, cheia <strong>de</strong> odio,<br />
prenhe <strong>de</strong> ameaças, respirando sempre intolerância,<br />
não é <strong>de</strong> mol<strong>de</strong> a pacificar os espíritos,<br />
antes, dia a dia, mais os exacerba.<br />
E tenho dito.<br />
HELIODORO SALGADO.<br />
ESMOLA<br />
Pedimos com instancia uma esmola para<br />
uma pobre familia, privada <strong>de</strong> lodos os recursos<br />
e a braços com uma Irisle sorte.<br />
Bem merecido é qualquer auxilio que<br />
se lhe conceda.<br />
N'esla redacção se recebe qualquer donativo.<br />
O RETRATO OVAL<br />
(De Edgar Poe)<br />
O Castello em que o meu creado quiz penetrar<br />
a toda a força, para não me <strong>de</strong>ixar<br />
passar a noite ao ar livre assim tão melindrosamente<br />
doente como estava, tinha a gran<strong>de</strong>za<br />
melancholica dos velhos solares dos<br />
Apenninos- Com as suas ameias <strong>de</strong>smoronadas<br />
e as suas torres em ruina, este Castello<br />
fazia lembrar os romances da senhora <strong>de</strong><br />
Radcliffe.<br />
Os donos tinham-n'o abandonado sem<br />
duvida havia ainda pouco tempo. Installámo-nos<br />
n'um dos compartimentos mais pequenos<br />
e mais simplesmente mobilados, situados<br />
em uma aza do edifício. A <strong>de</strong>coração<br />
<strong>de</strong>ste compartimento era antiga e rica.<br />
Sobre as tapeçarias que cobriam todas as<br />
pare<strong>de</strong>s alternavam-se tropheus heráldicos <strong>de</strong><br />
toda a especie com quadros mo<strong>de</strong>rnos em<br />
molduras <strong>de</strong> oiro finamente cinzeladas. Na<br />
febre do meu <strong>de</strong>lírio, tomei um vivo interesse<br />
por estes quadros que estavam suspensos<br />
não só nas faces principaes das pare<strong>de</strong>s, mas<br />
ainda em uma multidão <strong>de</strong> cantos formados<br />
pela estranha architectura do castello; or<strong>de</strong>nei<br />
também a Pedro que fechasse todas as<br />
janellas, que accen<strong>de</strong>sse um gran<strong>de</strong> can<strong>de</strong>labro<br />
<strong>de</strong> varias luzes que estava collocado á<br />
minha cabeceira e que abrisse completamente<br />
os cortinados do meu leito que eram <strong>de</strong> veludo<br />
com franjas <strong>de</strong> pratas. D^ste modo,<br />
podia eu, em caso <strong>de</strong> insomnia, distrahir-me<br />
com o espectáculo d'estes quadros, lendo simultaneamente<br />
um pequeno volume que tinha<br />
encontrado <strong>de</strong>baixo do travesseiro e que<br />
continha mui <strong>de</strong>talhamente a apreciação <strong>de</strong><br />
cada um d'elles.<br />
Li muito, contemplando sempre com<br />
gran<strong>de</strong> pieda<strong>de</strong> aquellas formosas telas. As<br />
horas corriam-me rapidas em tão gloriosa<br />
companhia e bem <strong>de</strong>pressa soou a meia noite.<br />
Importunado pela posição do candalabro<br />
e não querendo <strong>de</strong>spertar o creado, fiz o esforço<br />
<strong>de</strong> esten<strong>de</strong>r um braço e colloquei a luz<br />
<strong>de</strong> fórma que alumiasse bem o meu livro.<br />
Mas fui indubitavelmente pouco hábil n'este<br />
serviço, porque os raios da luz cahiram sobre<br />
um canto da sala que uma columna do leito<br />
tinha até ahi coberto <strong>de</strong> sombra. Divizei<br />
então uma tela que me tinha escapado completamente<br />
a principio. Era um retrato <strong>de</strong><br />
mulher ainda nova, mas já feita e quasi senhora.<br />
Depois <strong>de</strong> o contemplar rapidamente,<br />
fecharam-se-me os olhos <strong>de</strong> repente sem saber<br />
porquê. Emquanto tive os olhos assim<br />
fechados, quiz dar razão a mim mesmo do<br />
motivo porque os fechava ; mas a minha conclusão<br />
foi apenas um movimento involuntário<br />
para <strong>de</strong>pois pensar melhor, para me certificar<br />
que os meus olhos não tinham sido<br />
enganados, para acalmar o meu espirito e<br />
preparar-me assim para um exame mais frio<br />
e mais seguro. Passados pois alguns minutos<br />
fixei <strong>de</strong> novo o quadro com muita attenção.<br />
D'esta vez não podia enganar-me ácerca<br />
da niti<strong>de</strong>z do meu olhar, porque o primeiro<br />
raio <strong>de</strong> luz cahido sobre a tela afastou completamente<br />
o sonhador entorpecimento dos<br />
meus sentidos, chamando-me á vida real.<br />
Era, como já disse, um retrato <strong>de</strong> mulher,<br />
uma simples cabeça, sustentada por<br />
dois formosos hombros, <strong>de</strong>senhado tudo no<br />
estylo <strong>de</strong> vinhetas.<br />
. Reconhecia-se immediatamente a maneira<br />
<strong>de</strong> Sully nas suas melhores composições. Os<br />
braços, o pescoço, os anneis do cabello fundiam-se<br />
harmoniosamente com a sombra vaga<br />
que servia <strong>de</strong> fundo á tela.<br />
A muldura oval estava dourada e cinzelada<br />
no gosto mourisco.<br />
(Continua)<br />
AUGUSTO GRANJO.<br />
• • •<br />
O rei não tem medo!<br />
Nem tem que ter, quem tem por si as<br />
armas da guarda pretoriana; quem tem a<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>l-o os milhares <strong>de</strong> servidores, que<br />
com elle têm exhaurido as riquezas publicas,<br />
que com elle têm attentado contra as liberda<strong>de</strong>s.<br />
..<br />
Já não é da mesma opinião a Provinda,<br />
da invicta cida<strong>de</strong>, que tem fóros <strong>de</strong> baluarte<br />
da liberda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> rebeldia ás instituições.<br />
Ouçamol-a:<br />
«Os dietadores espalham que o rei não lem<br />
medo <strong>de</strong> uma revolta, porque tem muito que comer,<br />
se % exilado. Ha muito que isto se assevera<br />
frequentemente. E na verda<strong>de</strong>, os acontecimentos<br />
parecem dar razão a estes boatos.<br />
«Convençam-se todos <strong>de</strong> que a revolução ha <strong>de</strong><br />
vir e muito breve, porque este estado <strong>de</strong> coisas<br />
não pô<strong>de</strong> manter-se. E uma revolução que agora<br />
rebente não será uma simples revolta que só produza<br />
o effeito <strong>de</strong> se mudar <strong>de</strong> um regimen <strong>de</strong>spotieo<br />
para outro regimen liberal.»<br />
São os exemplos que a historia nos tem<br />
dado.<br />
Porque nem sempre os favos tem mel!...<br />
CARTA DE LISBOA<br />
18 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> i8g5<br />
E' evi<strong>de</strong>ntíssimo que a viajata real obe<strong>de</strong>ce<br />
a planos políticos.<br />
A intenção, transparece claramente.<br />
Mais um disparate do grutesco gabinete,<br />
que para ahi tem usado e abusado do po<strong>de</strong>r<br />
discrecionario.<br />
As consequências são bem visíveis e as<br />
dificulda<strong>de</strong>s em que o monarcha se vê actualmente,<br />
não são tão fáceis <strong>de</strong> remediar como<br />
parece.<br />
Pois que? Se ha no extrangeiro negocios<br />
<strong>de</strong> alta diplomacia a tractar, não é aos governos<br />
e seus representantes que compete<br />
resolvel-os e harmonisal-os?<br />
Pobre monarchia, que chegou ao ponto<br />
<strong>de</strong> ser mandado em commissão fóra do paiz,<br />
por <strong>de</strong>terminação dos seus ministros, para<br />
aplanar difficulda<strong>de</strong>s que elles, os déspotas<br />
fim <strong>de</strong> século, não pó<strong>de</strong>m ou não sabem resolver!.<br />
..<br />
Se o rei encontrou obstáculos sérios, na<br />
visita ao rei <strong>de</strong> Italia e ao papa-rei, não os<br />
encontrará <strong>de</strong>certo menos sérios, na visita ao<br />
Imperador <strong>de</strong> Allemanha...<br />
Os resultados <strong>de</strong> tão pouca acisada or<strong>de</strong>m,<br />
estão sendo muito bem apreciados pelas imprensas<br />
hespanhola, italiana, belga e allemã,<br />
on<strong>de</strong> o nome portuguez é <strong>de</strong>sapiedadamente<br />
melindrado e rebaixado.<br />
Pois imaginam estes tartufos que as questões<br />
internacionaes se tractam tão fácil e<br />
levianamente, como tem tratado e regulado as<br />
mais insignificantes pen<strong>de</strong>ncias internas?!...<br />
Não calculam aquellas medianas intelligencias,<br />
que o proprio paiz tem notado sempre<br />
a sua falta <strong>de</strong> tino governativo, e que se<br />
tem tolerado tanto abuso, tanto disparate, é<br />
porque se encontra n'um período <strong>de</strong> transição,<br />
e que espera anciosamente a hora da<br />
revogação <strong>de</strong> tão elevado numero <strong>de</strong> monstruosida<strong>de</strong>s,<br />
e que no extrangeiro não se<br />
subordinam, nem acceitam sem reparo, lições<br />
<strong>de</strong> qualquer entida<strong>de</strong> vulgar, nem mesmo<br />
simples indicações, sem que ellas sejam o<br />
producto <strong>de</strong> estudos <strong>de</strong> valor e <strong>de</strong> combinações<br />
habilmente preparadas?!.. .<br />
Suppõem esses homens que no extrangeiro<br />
não são bem conhecidas as mediocrida<strong>de</strong>s<br />
que, por <strong>de</strong>sgraça nossa, governam os<br />
<strong>de</strong>stinos portuguezes ?!.. .<br />
Se as instituições perigam, se ellas agonisam,<br />
que o agra<strong>de</strong>çam aquelles que prepararam<br />
a antecipação da sua ruina.<br />
Se, ao menos, a ruina fosse apenas das<br />
instituições, insignificante era o prejuízo.<br />
O gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sastre, o gran<strong>de</strong> mal, é que<br />
elles arrastam na sua quéda o prestigio portuguez,<br />
o seu credito externo e as nossas<br />
regalias, implantadas á custa <strong>de</strong> tantos sacrifícios<br />
e <strong>de</strong> tanto sangue <strong>de</strong>rramado. ..<br />
Em todo o caso o monarcha que se entenda<br />
com Rampolla e Crispi e mais tar<strong>de</strong>,<br />
com Faure e Guilherme II!!...<br />
O paiz cá está esperando anciosamente<br />
pela hora do ajuste <strong>de</strong> contas, que <strong>de</strong>ve ser<br />
terrível...<br />
Pena é que não seja tão rápido, como é<br />
nosso anceio...<br />
ARMANDO VIVALDO.<br />
A in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia <strong>de</strong> Cuba<br />
Apezar das muitas noticias oíliciaes que<br />
Martinez Campos faz expedir para a Europa,<br />
dando sempre victorias ás suas tropas, um<br />
telegramma <strong>de</strong> Cayo-Hueso e dirigido á junta<br />
central pela assemblêa reunida em Antón<br />
<strong>de</strong> Puerto Príncipe, participa que <strong>de</strong>pois<br />
d'approvar a constituição e as leis organicas<br />
da Republica, sem discussões, proclamou-se<br />
com gran<strong>de</strong> enthusiasmo a in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia da<br />
ilha, fazendo-se as seguintes nomeações:<br />
Conselho <strong>de</strong> ministros — Presi<strong>de</strong>nte, Salvador<br />
Cisneiros, <strong>de</strong> Puerto Príncipe — vicepresi<strong>de</strong>nte,<br />
Bartolomé Massó, <strong>de</strong> Manzanillo<br />
— guerra, Carlos Roloft, <strong>de</strong> Santa Clara, e<br />
sub-secretario, Mário Menocal, <strong>de</strong> Matanzas<br />
— estado, Rafael Portuondo, <strong>de</strong> Santiago<br />
<strong>de</strong> Cuba, e sub-secretario, Fermín Dominguez,<br />
da Habana — thesouro, Severo Pina,<br />
<strong>de</strong> Sancti Spíritus, e sub-secretario, Joaquim<br />
Castillo, <strong>de</strong> Santiago — interior, Santiago Salinares,<br />
<strong>de</strong> Remedios, e sub-secretario, Carlos<br />
Dubois, <strong>de</strong> Baracoa.<br />
Organisou-se em seguida o exercito, nomeando<br />
general em chefe a Máximo Gómez;<br />
tenente-general Antonio Maceo e generaes a<br />
José Maceo, Serafin Sánchez, Capote, Massó<br />
e o torto Rodriguez. Maceo mandará em<br />
Santiago, Guantánamo e Baracoa; Sánchez<br />
em Las Villas; Capote em Las Tunas e Guaymara;<br />
Massó em Manzanillo, Bayamo e Holguín;<br />
Rodriguez no Camaguey.<br />
Resolveu-se, por ultimo, que era necessário<br />
espalhar a insurreição por Matanzas, dirigindo-se<br />
alli Gómez e Antonio Maceo com<br />
os seus chefes <strong>de</strong> estado maior Periquito<br />
Pérez e Enrique Brook.<br />
Domingo, 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895 — N.° 48<br />
ELEVADOR<br />
Publicamos em seguida a relação dos<br />
subscriptores <strong>de</strong> io a 17 do corrente".<br />
Subscriptores até 501000 réis<br />
A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong> Men<strong>de</strong>s <strong>Coimbra</strong><br />
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Antonio Gonçalves da Silva Garcia<br />
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José d'01iveira<br />
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José dos Santos Marques<br />
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Luiz Augusto Teixeira<br />
Manuel Emygdio Garcia (Doutor)<br />
Manuel José Fernan<strong>de</strong>s Costa<br />
Manuel dos Santos Apostolos Júnior<br />
Maria da Conceição Martins Ribeiro<br />
Maria José Duarte Martins Ribeiro<br />
Mário Augusto Martins d'Araujo<br />
Mário Martins Ribeiro<br />
Margarida Gonçalves da Silva Garcia<br />
Rosa Martins Ribeiro<br />
Subscriptores <strong>de</strong> 50$000 réis<br />
A. s.<br />
Annibal <strong>de</strong> Lima & Irmão<br />
Domingos Antonio Simões da Silva<br />
Felismina Gama Lobo<br />
Francisco d'Almeida Ancór<br />
Germano Augusto Pires<br />
Guilherme Augusto Rocha<br />
João Yieira da Silva Lima<br />
José Augusto Borges d'01iveira<br />
José Francisco da Cruz<br />
José Maria Men<strong>de</strong>s d'Abreu<br />
José Marques Pinto<br />
José Tavares da Costa<br />
Luiza Tavares Martins<br />
Subscriptores <strong>de</strong> 1001000 réis<br />
Augusto Eduardo Ferreira Barbosa (Dr.)<br />
Bernardo Augusto <strong>de</strong> Madureira (Doutor)<br />
Cassianno Augusto Martins Bibeiro<br />
Dulce <strong>de</strong> Castro Martins Alves<br />
Francisco Rodrigues Nazareth<br />
Francisco Yieira <strong>de</strong> Carvalho<br />
João Caetano da Silva Pinto<br />
José Antonio Lucas<br />
José Augusto Quintans Lima<br />
José Bruno Cabedo d Almeida A. e Lencastre (Doutor)<br />
José Cal<strong>de</strong>ira da Silva<br />
Manuel d'Almeida Cabral<br />
Total d'esta subscripção<br />
Dos subscriptores até 500000 4800000 -<br />
» <strong>de</strong> 501000 7000000<br />
» * <strong>de</strong> 1000000 1:2000000<br />
2:3800000 •<br />
Para 6:1900000 '<br />
Falta 3:8100000<br />
Este capital foi obtido nas seguintes<br />
redacções dos jornaes:<br />
Or<strong>de</strong>m 100000<br />
Tribuno Popular 500000<br />
Commercio <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> 700000<br />
Resistencia 2500000<br />
Districto <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> 2500000;<br />
Defensor do Povo 9800000 i<br />
Na casa commercial do sr. José Antonio<br />
Lucas 7700000<br />
Continúa-se a receber nas redacções a subscripção,<br />
bem como na casa do sr' José Antonio<br />
Lucas, á praça do Commereio, e no<br />
consultorio medico do sr. dr. Vicente Rocha,<br />
rua <strong>de</strong> Ferreira Borges.<br />
•••<br />
Cartas na mesa...<br />
O diário hespanhol—Las dominicales <strong>de</strong>i<br />
Libre Pensamiento — não estão com meias<br />
medidas e claramente dizem para que o sr.<br />
D. Carlos saiu do seu paiz e porque anda a<br />
mendigar pelas côrtes extrangeiras, auxilio e<br />
protecção.<br />
Sem papas na lingua, como vereis :<br />
«Foi <strong>de</strong>clarada a dictadura em Portugal.<br />
«Os mantenedores das leis voltai am contra ella<br />
as suas armas. -j i<br />
«Estes factos não se realisam senão quando os<br />
que exercem o po<strong>de</strong>r estão em opposição aberta<br />
com a opinião do povo.<br />
«Assim, comprehen<strong>de</strong>-se que o Bragança, repellido<br />
pela opinião portugueza, haja saido a procurar<br />
no extrangeiro, para se manter, um apoio<br />
que no seu paiz lhe falta.<br />
«A mais evi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>monstração da fraqueza<br />
das instituições portuguezas é esse assalto ás leis<br />
e essa viagem do rei.<br />
«Depois <strong>de</strong> taes actos <strong>de</strong> bandidismo politico,<br />
é inevitável: vêem as revoluções.<br />
«Saudamos com jubilo a próxima revolução<br />
portugueza.»<br />
Todos veem esta situação, menos a monarchia,<br />
menos os ministros.<br />
Uns cegos <strong>de</strong> entendimento l
DEFENSOR r>o P0vo — 1.° ANNO<br />
X L I I I<br />
Estou farto d'arrelias,<br />
hoje — Triaga — não faço.<br />
A culpa é toda do Frias':<br />
— «Bem vé que ha falta <strong>de</strong> espaço»!<br />
••4<br />
Triste anniversario<br />
Fra-Uique.<br />
Passou sexta feira o 78. 0 anniversario que<br />
o gran<strong>de</strong> patriota, general Gomes Freire<br />
d'Andra<strong>de</strong> foi executado na torre <strong>de</strong> S. Julião,<br />
por or<strong>de</strong>m do assassino Beresford, o<br />
general inglez, a quem D. João vi, o monarcha<br />
mais poltrão <strong>de</strong> que reza a historia, entregara<br />
po<strong>de</strong>res <strong>de</strong>scripcionarios.<br />
Não foi permittido ao heroe, morrer fuzilado,<br />
como era seu <strong>de</strong>sejo; o carrasco inglez,<br />
quiz ainda insultal-o na morte, mandando-o<br />
enforcar.<br />
No entanto a revolução <strong>de</strong> 1820, vingou<br />
a sua memoria, e Beresford foi intimado a<br />
sair <strong>de</strong> Portugal quando regressava do Brazil<br />
e pretendia assumir as funcções <strong>de</strong> general<br />
do exercito portuguez.<br />
E ainda hoje a Inglaterra é a Jiel alliada!<br />
Vergonhoso opprobio!<br />
Assumptos <strong>de</strong> interesse local<br />
Elevador<br />
Temos finalmente esperanças <strong>de</strong> que a<br />
continuar o pouco <strong>de</strong> enthusiásmo, que se<br />
está notando na cida<strong>de</strong>, e os <strong>de</strong>sejos que se<br />
mostram pela realisação <strong>de</strong>ste melhoramento,<br />
teremos em breve constituída a companhia e<br />
as obras principiadas.<br />
O auxilio benefico que <strong>de</strong>ram alguns accionistas,<br />
a quem cabem os maiores elogios,<br />
dobrando as suas acções, animou os medrosos<br />
e incitou os indifferentes, pois bastantes<br />
inscripções se têm feito, concorrendo indivíduos<br />
<strong>de</strong> todas as classes.<br />
Está-se produzindo no espirito publico<br />
uma certa confiança pela empreza e a estabelecer-se<br />
por toda a parte uma pronunciada<br />
sympathia, que muito nos regosija, por vermos<br />
que se faz justiça ao sr. Raul Mesnier,<br />
o incansavel e constante trabalhador, energicoe<br />
corajoso, pois que apesar das contrarieda<strong>de</strong>s<br />
que tem tido, não <strong>de</strong>sanimou e soube,<br />
com persistência, esconjurar a indifferença<br />
publica, que esteve a trucidar-lhe a sua iniciativa<br />
por alguns annos.<br />
Cabe aqui o ditado: — Quem porfia, sempre<br />
alcanca.<br />
•<br />
Para elucidar os nossos leitores, quanto<br />
ás vantagens que offerecem aos accionistas as<br />
acções <strong>de</strong> 25o$ooo réis, diremos que dão<br />
ellas pasáagem vitalícia e gratuita no elevador,<br />
subsistindo para com her<strong>de</strong>iros ou compradores.<br />
Estas acções são pagas por uma só<br />
vez.<br />
E', como se vê, <strong>de</strong> vantagem superior<br />
para os que têm necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> subir todos<br />
os dias ao bairro alto, esta commodida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
fazerem as ascenções que quizerem, sem incommodos<br />
<strong>de</strong> bilhetes e <strong>de</strong> pagas.<br />
Os empregados públicos que estiverem<br />
nas condições <strong>de</strong> obter uma acção <strong>de</strong>ste<br />
preço, além do divi<strong>de</strong>ndo que receberão, têm<br />
a mais o interesse <strong>de</strong> viajarem gratuitamente<br />
no elevador.<br />
21 Folhetim—«Defensor do Povo»<br />
0 CORSÁRIO PORTIGIEZ<br />
ROMANCE MARÍTIMO<br />
ORIGINAL DE<br />
CAPITULO IV<br />
O naufragio<br />
—Mau, muito mau, commandante, quando<br />
os aguaceiros caem, nem eu sei como as<br />
gavias ficam inteiras! A fragata adorna, e<br />
o pratico diz que é preciso virar quanto<br />
antes, porque abate muito, e po<strong>de</strong>mos ficar<br />
ensacados.<br />
— Deixe fallar o pratico, que é um parvo,<br />
e o senhor não sabe nada d'isto! Quanto<br />
<strong>de</strong>ita a fragata?<br />
— Tres milhas.<br />
— Pois bem, prosiga na bordada, e <strong>de</strong>ixe<br />
o resto por minha conta.<br />
O official retirou-se indignado, e veiu<br />
para a coberta, aon<strong>de</strong> a marinhagem já fatiava<br />
muito por conhecer o perigo.<br />
Esta redacção continúa a receber as assignaturas<br />
dos indivíduos que queiram contribuir<br />
para um melhoramento tão importante,<br />
que, sem duvida, ha <strong>de</strong> <strong>de</strong>smentir com factos,<br />
os receios que a principio foram a causa <strong>de</strong><br />
se ter addiado o seu funccionamento.<br />
Oxalá que o elevador seja o ponto <strong>de</strong><br />
partida para que esta cida<strong>de</strong> encontre, nos<br />
seus habitantes o estimulo e a <strong>de</strong>dicação precisa<br />
a po<strong>de</strong>rem dar-lhes os melhoramentos<br />
indispensáveis, e a levantal-a na importancia<br />
material que <strong>de</strong>ve ter, quem se pavoneia <strong>de</strong><br />
terceira cida<strong>de</strong> do reino.<br />
São estes, os nossos votos — estas, as<br />
nossas aspirações.<br />
E que todos os conimbricenses d'ellas compartilhem.<br />
•<br />
Logo que possamos dispor <strong>de</strong> espaço,<br />
daremos umas notas circumstanciadas e elucidativas,<br />
ácerca da <strong>de</strong>speza necessaria para<br />
a exploração do caminho <strong>de</strong> ferro funicular,<br />
em plano inclinado, <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>; além <strong>de</strong><br />
outras disposições <strong>de</strong> caracter administrativo,<br />
que mais hão <strong>de</strong> convencer os nossos leitores<br />
e o publico das vantagens do elevador,<br />
e da previ<strong>de</strong>ncia do sr. Mesnier, que soube<br />
evitar que a administração da companhia se<br />
converta em provento e conezia <strong>de</strong> futuros<br />
directores.<br />
Premio «Sousa Pinto»<br />
Este acto <strong>de</strong> benemerencia, que commemora<br />
o nome iliustre d^ste eminente professor<br />
e honrado cidadão, iniciado por sua extremosa<br />
filha, senhora <strong>de</strong> altos sentimentos<br />
civicos — está merecendo os louvores <strong>de</strong> todos,<br />
quem tão nobremente consagra a memoria<br />
<strong>de</strong> seu iliustre pae.<br />
Decidiu a direcção da socieda<strong>de</strong> Philantropico-Aca<strong>de</strong>mica,<br />
encarregada <strong>de</strong> cumprir<br />
esta doação, conce<strong>de</strong>r o premio Sousa Pinto<br />
— ao laureado estudante <strong>de</strong> medicina, sr,<br />
Jayme Corrêa <strong>de</strong> Sousa, que no ultimo anno<br />
lectivo obteve classificação superior. Também<br />
a Philantropica lhe estabeleceu um subsidio<br />
mensal.<br />
Os estudantes protegidos, este anno, para<br />
pagamento <strong>de</strong> matriculas e propinas, são os<br />
srs.: — Albino Joaquim Gomes e Sergio Augusto<br />
Parreira, do i.° anno <strong>de</strong> medicina; Manuel<br />
Augusto d'Andra<strong>de</strong>, do 2.°anno <strong>de</strong> theologia;<br />
e Alfredo Moraes d^lmeida, do 3."<br />
anno da mesma faculda<strong>de</strong>.<br />
Foi approvado, que em nome da aca<strong>de</strong><br />
mia <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> — por ser a única socieda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> estudantes constituída — se enviasse uma<br />
mensagem <strong>de</strong> pezames á viuva do gran<strong>de</strong><br />
sábio, sr. Pasteur.<br />
«Sá, <strong>de</strong> Miranda e a sua obra»<br />
Apparecerá brevemente um estudo biographico<br />
e critico do redactor do Repórter,<br />
sr. Décio Carneiro (Decar), commemorando<br />
o 4. 0 centenário do notável poeta conimbricense,<br />
Sá <strong>de</strong> Miranda, que introduziu e propagou<br />
a escóla classico-italeina em Portugal.<br />
Esta obra constará <strong>de</strong> 800 paginas, em<br />
4. 0 francez e magnifico papel, sendo o seu<br />
preço <strong>de</strong> 400 réis.<br />
Tuna académica<br />
Em breve <strong>de</strong>ve começar os trabalhos <strong>de</strong><br />
reconstituição da antiga é applaudida Tuna<br />
académica que o anno passado tanto nos <strong>de</strong>liciou<br />
com os seus concertos.<br />
O pratico, ao vêr o oflicial, perguntoulhe:<br />
— Então que or<strong>de</strong>nou o commandante ?<br />
— Uma tolice; mandou proseguir na bordada.<br />
O jxibre homem ficou aterrado e foi procurar<br />
Carlos:<br />
— Então, senhor immediato, o que me<br />
diz?<br />
— Nada o commandante teima, e eu já<br />
he observei o que tínhamos a fazer, não<br />
quiz acceitar as minhas i<strong>de</strong>ias; a responsabilida<strong>de</strong><br />
é d'elle.<br />
— Mas, senhor, redarguiu elle, torcendo<br />
as mãos com <strong>de</strong>sespero, attenda vossa mercê,<br />
que estamos entre a vida e a morte! Entre<br />
o abysmo e a salvação! Se não mudámos<br />
<strong>de</strong> rumo, estamos perdidos.<br />
João Traquete approximou-se <strong>de</strong> Carlos<br />
e disse-lhe:<br />
— Eu não me importa morrer, mas ir<br />
assim para o charco é que não tem geito.<br />
Aquelles pobres diabos apontou para a tribulação,<br />
não sabem nada, senão já tinham<br />
atirado com o commandante pelo portalô<br />
fóra. Quem diz, senhor Carlos?<br />
— Digo que és mestre marinheiro, e tens<br />
obrigação <strong>de</strong> sustentar a disciplina.<br />
João encolheu os hombros e retirou-se,<br />
dizendo:<br />
— Sempre o mesmo! Sempre escravo do<br />
seu <strong>de</strong>ver?<br />
Cumprimento<br />
Pelo nosso prezado collega — O Povo da<br />
Figueira sabemos que o extremoso pae do<br />
energico redactor d^quella folha republicana,<br />
sr. Ama<strong>de</strong>u Sanches Barretto está completamente<br />
restabelecido do <strong>de</strong>sastre succedido na<br />
linha ferrea <strong>de</strong> oeste.<br />
Muito nos regosija o facto, e ainda que<br />
tardiamente, vimos apresentar-lhe os nossos<br />
cumprimentos.<br />
- O<br />
O lyceu <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
Por muito tempo a imprensa fez as suas<br />
reclamações contra o estado <strong>de</strong>gradante em<br />
que se encontravam as pare<strong>de</strong>s do lyceu<br />
on<strong>de</strong> a <strong>de</strong>pravação <strong>de</strong> garotos estava impressa<br />
em obscenida<strong>de</strong>s; mas é certo, que, apesar<br />
dos seus esforços, só ha um mez as pare<strong>de</strong>s<br />
foram caiadas, <strong>de</strong>sapparecendo aquella vergonha,<br />
que esteve a attestar bem frizantemente,<br />
a incúria e o <strong>de</strong>sleixo da reitoria<br />
passada.<br />
Outro tanto não succe<strong>de</strong> agora; o novo<br />
reitor já requisitou policia ao sr. commissario,<br />
para terminar com os abusos <strong>de</strong> toda a<br />
casta que alli se praticavam e evitar que a<br />
garotada prosiga na obra <strong>de</strong> immoralida<strong>de</strong>.<br />
Fazem o serviço <strong>de</strong> policia ao lyceu, tres<br />
guardas, que hão <strong>de</strong> conter os díscolos, acabando<br />
o divertimento das troças aos caloiros,<br />
que se fazia todos os annos, no meio da<br />
maior indifferença do antigo director d'aquelle<br />
estabelecimento.<br />
Honra seja feita ao sr. dr. Pereira Guimarães,<br />
que em breves dias conseguiu manter<br />
a disciplina no lyceu, que ha tantos annos<br />
era lettra morta.<br />
Triste<br />
E <strong>de</strong>veras para sentir que alguns académicos<br />
não <strong>de</strong>ixem <strong>de</strong> continuar com as tradicionaes<br />
troupes, para que não nos vejamos,<br />
como hoje, obrigados a reclamar provi<strong>de</strong>ncias<br />
ao sr. reitor e ao sr. commissario <strong>de</strong><br />
policia, que, segundo nos consta, já está inteirado<br />
do que se passou.<br />
Realmente, o caso ultimamente succedido<br />
é para lastimar, pois temos uma <strong>de</strong>sgraça<br />
mais a accrescentar ás muitas, que já tem<br />
havido com tal brinca<strong>de</strong>ira e que todos os<br />
annos acontecem no meio da indifferença das<br />
auctorida<strong>de</strong>s, tanto académicas como'civis.<br />
N'uma das noites passadas o sr. padre<br />
Motta, alumno laureado ao 3.° anno <strong>de</strong> mathematica,<br />
seguia acompanhado dum novato<br />
quando foram suprehendidos por uma troupe.<br />
Não sabemos bem o que se passou mas<br />
o resultado foi o sr. padre Motta receber<br />
uma valente mocada na cabeça.<br />
Isto que <strong>de</strong>ixamos dito é bastante para<br />
que as auctorida<strong>de</strong>s competentes, informadas<br />
do assumpto, se compenetrem do seu <strong>de</strong>ver.<br />
Theatro príncipe real<br />
Continuam a merecer a sympathia do<br />
publico os espectáculos da companhia lyricodramatica,<br />
dirigida pela distincta actriz Dora<br />
Lambertini.<br />
Hoje teremos a celebre operetta, em 3<br />
actos, M. elle Nitouche.<br />
Agouramos uma enchente e muitas palmas<br />
aos dois irmãos Giorgio Lambertini,<br />
uma intelligente e interessante creanca e á<br />
gentil Dora.<br />
A operetta M. elle Nitouche é muito engraçada<br />
e a musica é alegre, tendo também<br />
situações <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> effeito.<br />
Eram quatro horas da madrugada, o temporal<br />
não abrandava; o vento assobiava pelo<br />
arvoredo e a fragata gemia; os trovões eram<br />
medonhos, e toda a marinhagem estava aterrada.<br />
A sentinella da camara assim que a ampulheta<br />
acabou, disse em voz alta:<br />
— Acabou-se a ampulheta! Cabo <strong>de</strong><br />
quarto, são oito.<br />
O cabo disse para o official:<br />
— São oito, senhor tenente.<br />
— Toque, respon<strong>de</strong>u elle, ronda! São<br />
oito, corra o sino.<br />
O sino tocou, e toda a gente veiu para cima.<br />
Nesta occasião porém o official <strong>de</strong> quarto<br />
e o pratico insistiram para se mudar <strong>de</strong><br />
rumo; Carlos foi á camara ter com o commandante.<br />
— Boas noites, senhor commandante.<br />
— Boas noites, senhor immediato, respon<strong>de</strong>u<br />
elle bruscamente.<br />
— Commandante, o pratico diz que <strong>de</strong>vemos<br />
virar ao sul, quando não, encalhamos.<br />
— Ora essa, senhor immediato! Pois<br />
também o senhor tem medo?<br />
— Eu não tenho medo, respon<strong>de</strong>u elle,<br />
mas affrontar o mar com o tempo que está,<br />
é temerida<strong>de</strong>... E nós somos responsáveis<br />
pelas vidas dos súbditos <strong>de</strong> sua magesta<strong>de</strong> e<br />
pela sua fragata...<br />
— Não lhe admitto conselhos, dê-os a<br />
quem lh'os pedir. Aon<strong>de</strong> está a proa ?<br />
Domingo, 20 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895— N.° 50<br />
Associação dos Artistas<br />
Terminaram as matriculas para as aulas<br />
nocturnas d^sta socieda<strong>de</strong>, inscrevendo-se os<br />
seguintes alumnos :<br />
Menores <strong>de</strong> 8 a i5 annos io3<br />
Adultos <strong>de</strong> 16 a 20 annos 26<br />
Ditos <strong>de</strong> 20 a 3o annos 12<br />
Ditos <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 3o annos 8<br />
149<br />
O professor, sr. João da Costa Mello, é<br />
incansavel no ensino e no anno lectivo ultimo<br />
preparou para exame <strong>de</strong> instrucção primaria<br />
no lyceu d'esta cida<strong>de</strong>, os seguintes examinandos<br />
que frequentaram esta aula:<br />
Luiz Duarte Craveiro, <strong>de</strong> 10 annos.<br />
José Rodrigues Marques, <strong>de</strong> i3 annos.<br />
José Alves dos Santos, <strong>de</strong> 23 annos.<br />
José Augusto da Cunha, <strong>de</strong> 35 annos.<br />
Arrematação da carne<br />
Os marchantes fizeram gréve e não houve<br />
concorrentes á arrematação das carnes ver<strong>de</strong>s,<br />
porisso que a camara municipal resolveu<br />
em sessão estabelecer talhos municipaes para<br />
as vendas ao publico.<br />
A resolução não podia ser outra; bom<br />
será que a camara a mantenha e não se dê<br />
com osjalhos, o que se está dando com a<br />
concessão do matadouro.<br />
Havemos <strong>de</strong> fallar no assumpto para o<br />
proximo numero.<br />
Bitoliothecario<br />
Foi nomeado provisoriamente para o logar<br />
<strong>de</strong> bibliothecario da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, o sr.<br />
dr. Francisco Martins, professor da faculda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Theologia, vago pela ausência do<br />
sr. dr. José Maria Rodrigues, que foi tomar<br />
posse do logar <strong>de</strong> reitor do lyceu <strong>de</strong> Lisboa.<br />
Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina<br />
Foram distribuídas vagas aos novos lentes<br />
<strong>de</strong> medicina da seguinte fórma: ao sr.<br />
dr. Lucio Martins da Rocha a <strong>de</strong> pathologia<br />
interna —ao sr. dr. Francisco Basto a <strong>de</strong><br />
physiologia especial.<br />
Nova associação<br />
Reuniram-se alguns constructores civis<br />
para organisarem uma associacão <strong>de</strong> soccorros<br />
aos operários, inutilisados'pelos aci<strong>de</strong>ntes<br />
do trabalho.<br />
A reunião foi nas salas do Grémio Operário<br />
e oxalá que consigam levar a bom<br />
termo os seus esforços, dignos <strong>de</strong> todos os<br />
louvores.<br />
Queixa<br />
Somos informados por um bilhete postal<br />
<strong>de</strong> que um conhecido mestre d'obras, por<br />
questões <strong>de</strong> familia, bater.a nYim seu aprendiz<br />
<strong>de</strong> carpinteiro, filho do sr. Sebastião <strong>de</strong><br />
Mattos.<br />
Pe<strong>de</strong>m-nos para lembrarmos a esse senhor<br />
que não só a lei protege os menores, não<br />
permittindo castigos corporaes, mas que a<br />
moralida<strong>de</strong> d'um chefe <strong>de</strong> familia obriga a<br />
não espancar filhos d'outrem, <strong>de</strong>mais quando<br />
o rapaz não foi castigado por faltas ou erros<br />
no trabalho.<br />
Carlos teve <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> o esganar, mas<br />
conteve-se e respon<strong>de</strong>u-lhe:<br />
— Está a noroeste, quarta <strong>de</strong> éste.<br />
— Quanto <strong>de</strong>ita a fragata?<br />
— Tres milhas, é como se estivesse <strong>de</strong><br />
capa.<br />
— Então não tenha medo, senhor immediato,<br />
prosiga na mesma amura, porque ainda<br />
nos resta muito que correr.<br />
Carlos, que conhecia o perigo, ficou como<br />
fulminado, e esteve para lhe queimar os miolos<br />
ou pen<strong>de</strong>l o e tomar o commando do<br />
navio; mas era um acto <strong>de</strong> insubordinação,<br />
que não podia praticar.<br />
A tripulação guardava profundo silencio,<br />
e a fragata <strong>de</strong>scaía visivelmente.<br />
0( pratico passeava na coberta como<br />
louco! Chegou á amurada e <strong>de</strong>brucou-se na<br />
occasião em que as nuvens, rasgando-se,<br />
pareciam uma cratera. Ao clarão do relampago,<br />
porém, conheceu que a fragata ía encalhar,<br />
retirou-se, e bradou com exaltação<br />
febril do <strong>de</strong>sespero:<br />
— Vira! Vira <strong>de</strong> rumo que encalhamos!<br />
Não teve tempo para dizer mais. Um<br />
choque violento, um estrondo sinistro e pavoroso<br />
se ouviu. A fragata adornou a sotavento!<br />
A ma<strong>de</strong>ira estalou, os cabos quebraram,<br />
e a tripulação ajoelhou pedindo misericórdia<br />
!<br />
f Continua.)
DEFENSOR DO PQVO — 1.° ANNO<br />
R E C L A M E S E A N N U N C I O S<br />
5 RÉIS POR HORA<br />
E' o consumo GARANTIDO do<br />
BICO AUER.<br />
Os outros bicos ordinários consomem<br />
no mesmo tempo 12 a 20 réis.<br />
Encommendas a JOSÉ MARQUES LADEIRA<br />
COIMBRA<br />
99, Rua do Viscon<strong>de</strong> da Luz, 103<br />
JOÃO RODRIGUES BRAGA<br />
SUCCESSOR<br />
17, ADRO DE CIMA, 20 — (Atraz <strong>de</strong> S. Bartholomeu)<br />
2 Armazém <strong>de</strong> fazendas <strong>de</strong> algodão, lã e seda. Yendas por junto e a retalho.<br />
Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> pannos crús. — Faz-se <strong>de</strong>sconto nas compras para<br />
reven<strong>de</strong>r.<br />
Completo sortido <strong>de</strong> coroas e bouquets, fúnebres e <strong>de</strong> gala. Fitas <strong>de</strong><br />
faille, moiré glacé e setím, em todas as cores e larguras. Eças douradas para<br />
adultos e creanças.<br />
Continua a encarregar-se <strong>de</strong> funeraes completos, armações fúnebres e<br />
trasladações, tanto n'esta cida<strong>de</strong> como fóra.<br />
NOVO DEPOSITO DAS MAQUINAS DE GOSTIIBA<br />
I ^ T G - E I R ,<br />
ESTABELECIMENTO<br />
DE<br />
FAZENDAS BRANCAS<br />
DE<br />
MANUEL CARVALHO<br />
29 —Largo do Príncipe D. Carlos —31<br />
Encontra o publico o que ha <strong>de</strong> melhor em fazendas brancas e um completo<br />
sortido das recentes novida<strong>de</strong>s para a estação <strong>de</strong> verão e que esta casa<br />
ven<strong>de</strong> por preços baratíssimos.<br />
Ais verda<strong>de</strong>iras machinas <strong>de</strong> costura<br />
para costureiras, alfaiates e sapateiros, ven<strong>de</strong>m-se no novo<br />
<strong>de</strong>posito em condições, sem duvida, mais vantajosas do<br />
que em qualquer outra casa <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, Porto, ou Lisboa, apresentando sempre<br />
ao comprador um sortido <strong>de</strong> todos os mo<strong>de</strong>los que a mesma Companhia fabrica.<br />
Vendas a prestações <strong>de</strong> aOO réis lemanaefu. A dinheiro,<br />
com gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>scontos.<br />
ENSINO GRÁTIS, no <strong>de</strong>posito ou em casa do comprador.<br />
Na mesma casa executa-se com a maxima perfeição qualquer concerto em<br />
machinas <strong>de</strong> costura, seja qual fôr o auctor, tendo para isso officina montada.<br />
Ao comprador <strong>de</strong> cada machina será offerecído, como brin<strong>de</strong>, um objecto<br />
<strong>de</strong> valor. Dão-se catalogos illustrados, grátis.<br />
Ven<strong>de</strong>-se oleo, agulhas, carros d'algodão, torçaes e peças soltas para todas<br />
as machinas.<br />
B I C O A U E U<br />
29 Por <strong>de</strong>spacho do meritissimo juiz presi<strong>de</strong>nte do<br />
tribunal do commercio do Porto e a requerimento<br />
da Empreza do BICO AUER, foram arrestados<br />
judicialmente, em casa dos srs. Nusse & Bastos,<br />
rua <strong>de</strong> Passos Manoel n.° 14 e rua d'Alegria n.° 867,<br />
d'aquella cida<strong>de</strong>, os bicos <strong>de</strong> contrafacção que estes<br />
srs. tentavam introduzir <strong>de</strong>baixo do nome <strong>de</strong> bico<br />
Invencível, bem como apparelhos e matérias primas<br />
que serviam para a sua fabricação.<br />
E' sabido que os arrestos judiciaes, só se conce<strong>de</strong>m<br />
<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> maduríssimo exame dos documen-<br />
tos justificativos dos direitos dos auctores, inquirição<br />
<strong>de</strong> testemunhas e <strong>de</strong>posito e avultada caução, que<br />
no caso actual, foi arbitrada em tres contos <strong>de</strong> réis.<br />
Bastará isto para esclarecer os incautos compradores<br />
<strong>de</strong> bicos <strong>de</strong> contrafacção, adquiridos baratos?<br />
Essa barateza constitue para os srs. compradores<br />
um prejuízo completo por lhes faltar fornecedor<br />
<strong>de</strong> mangas.<br />
Saiu cara, infelizmente, a economia imaginada.<br />
». niEEIRO OSORIO<br />
ALFAIATE<br />
185, l.°—R. Ferreira Borges—185, 1."<br />
Participa aos seus freguezes que<br />
recebeu o sortimento <strong>de</strong> fazendas para a<br />
estação <strong>de</strong> inverno, e por preços baratos<br />
para competir com qualquer outra casa.<br />
COLIMO ACADÉMICO<br />
(ENSINO PRIMÁRIO)<br />
Está aberta <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1 <strong>de</strong> outubro a aula<br />
<strong>de</strong> ensino primário d'este collegio, regida<br />
por José Falcão Ribeiro, Justino José Correia<br />
e Pompeu Faria <strong>de</strong> Castro, professores<br />
legalmente habilitados.<br />
A partir do mesmo dia, a qualquer<br />
hora, se recebem matriculas, tanto para<br />
esta aula como para as <strong>de</strong> instrucção secundaria,<br />
que posteriormente serão abertas.<br />
Recebem-se alumnos internos, semiinternos<br />
e externos.<br />
Garante-se um ensino profícuo com a<br />
mais completa organisação e com a assiduida<strong>de</strong><br />
no trabalho que caracterisa os<br />
professores.<br />
Fornecer-se-ha papel, tinta, pennas,<br />
giz e lápis gratuitamente a todos os alum-<br />
nos, bem como um ca<strong>de</strong>rno para notas<br />
diárias <strong>de</strong> frequencia e aproveitamento.<br />
A l. a classe dividir-se-ha em dois grupos<br />
: um leccionado pelo metliodo <strong>de</strong> João<br />
<strong>de</strong> Deus e outro pelo <strong>de</strong> Simões Lopes,<br />
á escolha das famílias dos alumnos.<br />
As creanças <strong>de</strong> muito pouca ida<strong>de</strong><br />
lerão entrada e aula em separado.<br />
Preços: 1.® classe 500 réis; — 2- a<br />
réis; — 3 a 1$500 réis.<br />
<strong>Coimbra</strong>, rua dos Coutinhos, 27.<br />
J. F. Ribeiro.<br />
FOGÕES PARA COSINHA<br />
Na officina <strong>de</strong> serralharia <strong>de</strong> José<br />
Dias Ferreira, encontram-se á venda magníficos<br />
fogões <strong>de</strong> fogo circular, novos, e<br />
<strong>de</strong> todos os tamanhos.<br />
Responsabilisa-se pela sua construcção<br />
e regular funccionamento. Preços<br />
modicos.<br />
11 — Rua dos Militares — 13<br />
COIMBRA<br />
100, Rua Ferreira Borges, 100<br />
31 Pasta para rolos <strong>de</strong> imprensa<br />
<strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong> e preço<br />
modico.<br />
Armas <strong>de</strong> diversos systeinas,<br />
revolvers e munições <strong>de</strong> caça.<br />
Faqueiros e colheres d'e!eetro<br />
plate, qualida<strong>de</strong> garantida.<br />
Tinta e teila para pintura a<br />
oleo, pincéis e artigos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho.<br />
llallas para viagem, carteiras<br />
e saccas <strong>de</strong> mão para senhora.<br />
Oleados <strong>de</strong> borracha para<br />
cama e outras qualida<strong>de</strong>s para mesa e<br />
forrar casas.<br />
Transparentes e stores <strong>de</strong><br />
ma<strong>de</strong>ira, rolos authomaticos para os<br />
mesmos.<br />
Perfumaria ingleza e sabonetes,<br />
pó d'arroz, pentes e escovas.<br />
Dentifrico do dr. Kousset,<br />
pó, para <strong>de</strong>ntes da socieda<strong>de</strong> hygienica.<br />
Bensoliua para tirar nodoas,<br />
o melhor preparado, não prejudica a roupa.<br />
Lunetas, binoculos, brinquedos para<br />
creança, capachos d'arame e gran<strong>de</strong> va-<br />
rieda<strong>de</strong> em miu<strong>de</strong>zas.<br />
PADARIA LUSITANA<br />
(SYSTEMA FRANCEZ)<br />
DE<br />
DOMINGOS MIRANDA<br />
9 Pão fino, o melhor que se encontra,<br />
pelo systema francez,<br />
todos os dias, pela manhã e á noite, a<br />
réis cada dois pães.<br />
DQ Q<br />
No domingo 27 d'outubro pelas 10<br />
horas da manhã, nos armazéns do rocio<br />
2 — R. do Viscon<strong>de</strong> da Luz — 6<br />
Ha sempre um bom sortido <strong>de</strong> artigos<br />
para pbotographia, que ven<strong>de</strong><br />
por preços commodos.<br />
Domingo, 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895 — N.° 48<br />
Emigração para Minas Geraes<br />
(BRAZ1L)<br />
<strong>de</strong> Santa Clara, far-se-á leilão <strong>de</strong> 70<br />
dúzias <strong>de</strong> garrafas com vinho finíssimo e<br />
muito velho (em globo ou em lotes <strong>de</strong><br />
dúzia) que pertenciam á garrafeira do<br />
fallecido José Lopes Guimarães, d'esta<br />
cida<strong>de</strong>.<br />
JULIAO A. D'ALMEIDA & C. a<br />
36 Acceitam-se artistas e trabalhadores<br />
sem família, <strong>de</strong> 18 a ío<br />
annos, para serviço nas estradas <strong>de</strong> ferro<br />
—OESTE DE MINAS e OURO PRETO<br />
A MARIANNA.<br />
Os artistas <strong>de</strong>vem ser pedreiros, carpinteiros,<br />
marceneiros, canteiros, cabouqueiros,<br />
serradores, ferreiros, serralh"iros,<br />
limadores, cal<strong>de</strong>ireiros, machinistas.<br />
torneiros, pintores <strong>de</strong> locomotivas, foguis-<br />
20—Rua <strong>de</strong> Sargento Mor—24 tas, fabricantes <strong>de</strong> telha, tijolo e cal, e<br />
COIMBRA<br />
latoeiros; <strong>de</strong>verão provar que exercem<br />
a respectiva profissão por meio do talão<br />
13 Weste antigo estabelecimento co-<br />
da contribuição industrial ou attestado <strong>de</strong><br />
brem-se <strong>de</strong> novo guarda-soes,<br />
mestre technico.<br />
com boas sedas <strong>de</strong> fabrico portuguez.<br />
Egualmente seacceitam trabalhadores<br />
Preços os mais baratos.<br />
ou artistas com família, legalmente con-<br />
Também tem lãsiuhas finas e outras<br />
stituída.<br />
fazendas para coberturas baratas.<br />
Garante-se passagem gratuita <strong>de</strong> Lis-<br />
No mesmo estabelecimento ven<strong>de</strong>mboa<br />
ou Leixões, até ao local dos trabase<br />
magnificas armações para guarda-soes,<br />
lhos.<br />
o que ha <strong>de</strong> mais mo<strong>de</strong>rno.<br />
Acceitam-se agentes <strong>de</strong> província,<br />
garantindo sua serieda<strong>de</strong>.<br />
Escriptorio central <strong>de</strong> informações—<br />
Lisboa—Travessados Remolares, 28, 1.°<br />
Antonio Gomes da Silva Sanches.<br />
O correspon<strong>de</strong>nte no districto <strong>de</strong><br />
<strong>Coimbra</strong>, Antonio Jorge Rodrigues, rua<br />
da Sotta, n. 9 31.<br />
ARMAZÉM DE MERCEARIA<br />
D15<br />
MARQUES MANSO, SOBRINHO<br />
RUA. DO CEGO —COIMBRA<br />
Esta casa, montada com o maior acceio, convida os seus ex. mos freguezes a<br />
visitarem o seu estabelecimento, on<strong>de</strong> encontrarão á venda :<br />
Assucares finíssimos, refinados com o maior esmero, chás, cafés <strong>de</strong> S. Thomé<br />
e Cabo Ver<strong>de</strong>, chocolates hespanhol, francez e suisso, completo sortido em bolachas<br />
nacionaes e inglezas, e muitos outros artigos que ven<strong>de</strong> a preços resumidíssimos.<br />
Único <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> vinhos da Real Companhia Yinicola<br />
Vinhos a torno a (30 e tSO réis o litro.<br />
Manteiga <strong>de</strong> Pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Coura e IVandufe.<br />
E ven<strong>de</strong> a t»o réis o kilo, massas alimentícias <strong>de</strong> todas as qualida<strong>de</strong>s, que<br />
as outras casas ven<strong>de</strong>m a ieo réis.<br />
Deposito da Fabrica Nacional<br />
DE<br />
M L Á C H I S 1 B I S C O I T O S<br />
DE<br />
JOSÉ FRANCISCO DA GRUZ S GENRO<br />
COIMBRA<br />
128-RDA FERREIRA BORGES-130<br />
aí'este <strong>de</strong>posito, regularmente montado, se acham á venda por junto e a<br />
retalho, todos os productos d'aquella fabrica a mais antiga <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />
on<strong>de</strong> se recebem quaesquer encommendas pelos preços e condições eguaes aos<br />
da fabrica.<br />
Publica-se ás quintas feiras e domingos I D O ZEF^CD~V"0<br />
D E F E N S O R jornal republicano<br />
EDITOR — Adolpho da Costa Marques<br />
Redacção e administração—Largo da Freiria, 14, proximo á rua dos Sapateiros<br />
Anno . .<br />
Semestre .<br />
Trimestre.<br />
Com estampilha<br />
CONDIÇOES DE ASSIGNATURA<br />
(PAGA ADIANTADA)<br />
2$700<br />
1$350<br />
680<br />
Anno . .<br />
Semestre .<br />
Trimestre.<br />
Sem estampilha<br />
20400<br />
U200<br />
AWWUJiCIOS:— Cada linha, 40 réis; repetição, 20 réis; contracto<br />
especial para annuncios permanentes.<br />
LIVROS: — Annunciam-se gratuitamente quando se receba um<br />
exemplar.<br />
Impresso na Typographía Operaria — <strong>Coimbra</strong><br />
fiOO
_A.TYINTO 1. S I<br />
Defensor<br />
Em pe paiz estamos?<br />
Se avaliarmos pela calmaria em que se<br />
<strong>de</strong>ixam amolecer governantes e governados,<br />
se alten<strong>de</strong>rmos á frouxa ou quasi<br />
nulla activida<strong>de</strong> que os ministros do sr. D.<br />
Carlos manifestam em Ioda a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong><br />
condições <strong>de</strong> existencia e relações da vida<br />
social, bem po<strong>de</strong>ríamos dizer que Portugal,<br />
entre as nações da Europa, é o mais feliz e<br />
venturoso dos Estados; vive na mais commoda,<br />
regalada e auspiciosa situação politica<br />
e ecofiomica, e que, no continente, nas<br />
ilhas e no ultramar, tudo são venturas,<br />
todos estão, physica e moralmente, podres<br />
<strong>de</strong> ricos e, para mais, cobertos <strong>de</strong> gloria.<br />
E todavia é bem ao contrario <strong>de</strong> tudo<br />
isso.<br />
Nunca Portugal <strong>de</strong>sceu tão baixo na<br />
politica, e luctou com tantas e tão gran<strong>de</strong>s<br />
difficulda<strong>de</strong>s economicas e financeiras; nunca<br />
a sua dignida<strong>de</strong> foi mais affrontada, e o<br />
seu nome mais enxovalhado.<br />
Para <strong>de</strong>monstração, publica e solemne,<br />
da nossa <strong>de</strong>sorganisação e rebaixamento<br />
politico, estão os partidos do rei ou antes o<br />
partido d'el-rei nos ensaios e preparativos<br />
<strong>de</strong> uma baixa comedia, cuja representação<br />
se approxima,— é a comedia eleitoral, em<br />
que a troupe regeneradora tomou para si os<br />
principaes papeis, distribuindo aos primeiros<br />
actores <strong>de</strong> pequenas e reles companhias ambulantes,<br />
na capital e nas provincias, os papeis<br />
secundários e um gran<strong>de</strong> numero <strong>de</strong><br />
comparsas para encherem a scena e tornarem-na<br />
apparalosa, sem prejudicar o <strong>de</strong>sempenho<br />
e o exilo, a que miram os últimos<br />
emprezarios da realeza, agentes commissionados<br />
pelo elemento conservador e retrogrado,<br />
que tomou conta, e arrematou para<br />
si o barracão e o tablado da nossa pantagruelica<br />
politica.<br />
Se dirigimos aos nossas vistas, e assestámos<br />
a nossa critica para a vida administrativa<br />
do paiz, encontiâmos:<br />
A snppressão violenta e immotivada <strong>de</strong><br />
alguns concelhos e comarcas, o magro e<br />
rotineiro expediente das repartições publi-<br />
cas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as secretarias <strong>de</strong> Estado até ás<br />
juntas <strong>de</strong> parochia, e a imbecilida<strong>de</strong> bureaucralica<br />
dos gran<strong>de</strong>s e pequenos funccionarios<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> os ministros até aos cabos<br />
<strong>de</strong> policia.<br />
Uma verda<strong>de</strong>ira miséria! A mais affrontosa<br />
das vergonhas!<br />
Vivemos sem leis organicas; á mercê <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>cretos, regulamentos e or<strong>de</strong>ns, que só<br />
servem para <strong>de</strong>nunciar, mais ainda, provar<br />
até á evi<strong>de</strong>ncia a <strong>de</strong>sorientação e volubili<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> governantes ineptos e mal intencionados.<br />
Pelo que respeita ás nossas colonias, já<br />
o dissémos em o nosso anterior artigo, contentam-se<br />
os ministros do sr. D. Carlos em<br />
organisar, sem pensamento, sem systema,<br />
sem condições, ainda as mais indispensáveis<br />
a emprehendimenlos <strong>de</strong> tamanha importância<br />
e responsabilida<strong>de</strong>, espectáculos<br />
divertidos e bem pouco edificantes, nos quaes<br />
se exibem scenas tão tristes e ao mesmo<br />
tempo burlescas, como aquelia que a insen-<br />
satez e a irritabilida<strong>de</strong> nervosa do sr. ministro<br />
da marinha ha pouco provocou, por<br />
occasião do embarque das tropas enviadas á<br />
índia, commandadas, honorariamente, pelo<br />
sr. infante D. Affonso.<br />
Mais <strong>de</strong>solador ainda, mais <strong>de</strong>plorável<br />
que a politica, a administração, a <strong>de</strong>feza,<br />
numa palavra o governo das nossas colonias,<br />
se offerece o estado <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nte, miserável<br />
e <strong>de</strong>gradante, a que se vê reduzido o<br />
nosso brioso exercito.<br />
Não tem elle d'isso a culpa; e por isso<br />
não pesa a responsabilida<strong>de</strong> do estado pre-<br />
cário e vergonhoso, pelo menos abatido e<br />
mesquinho, a que se vê reduzida a <strong>de</strong>feza<br />
nacional, sobre os officiaes e soldados, aos<br />
quaes está confiada a integrida<strong>de</strong> do nosso<br />
territorio, a honra e a dignida<strong>de</strong> da Patria.<br />
São aquelles illustrados e valentes; e<br />
não faltam aos cidadãos portuguezes, que<br />
cerram as fileiras do exercito, coragem e<br />
patriotismo.<br />
A falta, porém, da necessaria instrucção,<br />
<strong>de</strong> armamentos, aprestes, <strong>de</strong> lodo o material<br />
<strong>de</strong> guerra, que dão ás forças militares as<br />
condições materiaes e externas <strong>de</strong> aproreitar<br />
aquellas preciosas qualida<strong>de</strong>s e gran<strong>de</strong>s<br />
virtu<strong>de</strong>s, se não annulla inteiramente, tira<br />
uma gran<strong>de</strong> parte da força moral, e quebra<br />
os generosos sentimentos que sempre<br />
animaram, e ainda hoje e apezar <strong>de</strong> tudo<br />
distinguem, e enobrecem o exercito portuguez.<br />
Quando haverá em Portugal instituições,<br />
leis e governos que provi<strong>de</strong>nceiem,<br />
altendam, e garantam <strong>de</strong>vidamente os gran<strong>de</strong>s<br />
interesses nacionaes?<br />
Nós só temos uma resposta:<br />
Quando a monarchia <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> existir,<br />
e a Republica, chamando á direcção e gerencia<br />
dos negocios públicos homens competentes<br />
e honrados, substituir, inteira e<br />
completamente, as instituições, as leis e os<br />
processos <strong>de</strong> politica e administração.<br />
•••<br />
A imprensa e a viagem á Italia<br />
Está <strong>de</strong>cidido que o sr. D. Carlos não irá<br />
a Roma visitar seu tio Humberto, para não<br />
<strong>de</strong>sagradar ao papa.<br />
Esta resolução está provocando <strong>de</strong> parte<br />
da imprensa italiana, palavras azedas, <strong>de</strong>sagradaveis,<br />
taes como estas, da Tribuna,<br />
n'este periodo:<br />
«Que ninguém na Italia, particularmente, <strong>de</strong>seja<br />
a visita, mas que o rei Carlos teria feito melhor<br />
em se não fiar tanto no respeito do Vaticano<br />
pelo direito divino, pois, a julgar pela sua politica<br />
em França, elle seria o primeiro a gritar : Viva a<br />
Republica portugueza, por muitos annos e bons, se<br />
o ensejo se désse.»<br />
E por este diapasão afinam todos os jornaes,<br />
como a In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia Belga, que <strong>de</strong>clara<br />
na revista politica que é inútil dissimular,<br />
pois que a <strong>de</strong>sistencia da visita do rei<br />
D. Carlos, ao rei Humberto, em Roma é um<br />
cheque formidável para a politica italiana.<br />
E accrescenta :<br />
«O muito catholico D. Carlos julgara que po<strong>de</strong>ria<br />
visitar o tio em Roma: mas <strong>de</strong>pois da recente<br />
carta <strong>de</strong> Leão XIII ao car<strong>de</strong>al Rampolla, ácerca das<br />
festas <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> setembro, era evi<strong>de</strong>nte que essa visita<br />
não se podia conciliar com os seus <strong>de</strong>veres <strong>de</strong><br />
súbdito fiel da egreja.»<br />
Em que situação tão difficil se encontra<br />
o rei <strong>de</strong> Portugal, mercê dos seus caprichos<br />
e <strong>de</strong>sejos e da precipitação com que saiu em<br />
viagem politica, sem aplanar terreno, sem<br />
sondar as estações diplomáticas.<br />
Porisso o Populo Romano, da Italia, peremptoriamente<br />
affirma que Humberto não<br />
quiz prestar-se a um jogo, que teria toda a<br />
apparencia d'uma capitulação perante o Vaticano,<br />
e que formulou categoricamente a sua<br />
resposta n'estes termos: nOu em Roma, ou<br />
então em parte alguma.»<br />
O que se <strong>de</strong>prehen<strong>de</strong> que a Italia se consi<strong>de</strong>ra<br />
offendida, pela attitu<strong>de</strong> do sr. D. Carlos<br />
em frente da imposição do Vaticano, que<br />
pretendia que o Quirinal capitulasse!<br />
O Commercio <strong>de</strong> Portugal, em face dos<br />
acontecimentos, chama uma vergonha nacio-<br />
nal á viagem do rei. e affirma que o paiz e<br />
o sr. D. Carlos foram humilhados e affrontados.<br />
E' o povo, o único, que sente esbrazearlhe<br />
as faces as vergonhas porque está passando<br />
Portugal, on<strong>de</strong> nas esquinas <strong>de</strong> Paris<br />
estão cartazes em nosso <strong>de</strong>scredito, fazendo-se<br />
larga distribuição <strong>de</strong> protestos dos portadores<br />
da divida a quem foram reduzidos os juros.<br />
O sr. D. Carlos, entretido com as festas<br />
e as caçadas, nem ouve as censuras da<br />
imprensa franceza, contra as manifestações<br />
que lhe fazem os reaccionários e miguelistas,<br />
aparentados com os reis expulsos da França.<br />
O que nos dará mais a monarchia í<br />
do Povo<br />
COIMBRA—Quinta feira, 24 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895<br />
A QUESTÃO RELIGIOSA<br />
CARTA DO SR. BISPO CONDE A SUA MAGESTADE EL-REI<br />
v i<br />
Em todas as escolas, elementares e complementares,<br />
<strong>de</strong> Instrucção primaria se ensina,<br />
ou, melhor diremos, faz-se <strong>de</strong>corar<br />
materialmente o resumo da Historia Sagrada,<br />
isto é da Biblia, com bem duvidoso proveito<br />
para a educação moral, orientação e cultura<br />
intellectual da infancia; e também em todas<br />
ellas se manda apren<strong>de</strong>r <strong>de</strong> cór e repetir<br />
diariamente o cathecismo da doutrina christã,<br />
pelo menos a sufficiente para preparar as<br />
creanças a receber a primeira communhão.<br />
Contra esta pratica <strong>de</strong>vera antes sua ex. a<br />
protestar; porque o Estado inva<strong>de</strong> manifesmente,<br />
com ella, e usurpa os direitos e também<br />
os <strong>de</strong>veres da Egreja e dos seus altos<br />
e baixos ministros.<br />
O facto porém é este:<br />
O Estado encarrega-se do ensino religioso,<br />
legal e oficialmente encarrega os seus<br />
professores <strong>de</strong> ensinar a Historia Sagrada, o<br />
resumo do velho e do novo Testamento, e a<br />
doutrina christã.<br />
Que mais po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sejar, que mais preten<strong>de</strong>,<br />
e quer sua ex. a ?<br />
Que as creanças vão, aos sabbados, em<br />
jejum natural para a aula a fim <strong>de</strong> se habituarem<br />
a cumprir o preceito da abstinência?!<br />
Que sejam submettidas a exercidos religiosos;<br />
que rezem em commum e em voz<br />
alta, <strong>de</strong> mãos postas e erguidas, durante<br />
toda a manhã ou toda a tar<strong>de</strong> ou todo o<br />
dia ?!!<br />
Que se arrastem <strong>de</strong> joelhos em uma penosa<br />
via sacra, pelo menos, semanal; que<br />
se açoitem com disciplinas, e tomem posições<br />
forçadas e violentas, contrariando assim os<br />
mais elementares preceitos da hygiene e do<br />
bom senso?!!!<br />
Estranha interpretação seria essa das<br />
adoraveis palavras do divino Meatre, quando<br />
chamava a si as creancinhas Sinite párvulos<br />
ad me venire!...<br />
TValgumas escolas sabemos, e <strong>de</strong> quasi todasas<br />
que são sustentadas pelo beaterio, dirigidas<br />
e governadas por jesuítas, lazaristas,<br />
irmãs e irmãsinhas <strong>de</strong>... coisas varias, on<strong>de</strong><br />
o espirito reaccionário, a superstição e o<br />
fanatismo imperam, e a ignorancia feroz<br />
domina, nas quaes, <strong>de</strong>sgraçadamente, se praticam<br />
taes e tão estúpidas barbarida<strong>de</strong>s; nas<br />
quaes ás innocentes ceranças <strong>de</strong> um e outro<br />
sexo, atrophiadas na alma e no corpo, são<br />
brutalmente infligidos tão barbaros castigos;<br />
e muitas <strong>de</strong>lias atormentadas com tão <strong>de</strong>vastadores<br />
softrimentos, que algumas, após<br />
doloroso e prolongado martyrio, succumbem!<br />
Orçam por este mo<strong>de</strong>lo as virtu<strong>de</strong>s christãs<br />
do ensino congreganista, são d'esta laia<br />
a maior parte das escolas clericaes <strong>de</strong>generadas.<br />
Se é por isso, se é para o evitar, damos<br />
razão ao sr. bispo; eccôa em nossa alma,<br />
repercute-se em nossa consciência a vo\ do<br />
episcopado, quando <strong>de</strong>seja e pe<strong>de</strong> que o Estado,<br />
e não a Egreja, tome para si o <strong>de</strong>ver<br />
e o encargo do ensino religioso, e que o professorado<br />
secular e não o clero, ensinem o<br />
cathecismo da doutrina christã ás creanças e<br />
aos adultos.<br />
A' parte esta horrorosa e repugnantissima<br />
excepção, aflrontosa para Aquelle Divino<br />
Mestre, que tanto amou e com tanto amor<br />
chamou a si as creancinhas, não sabemos<br />
que haja em Portugal uma única escola,<br />
publica ou particular, á qual Deus não assista,<br />
em que Deus não seja invocado, adorado e<br />
a sua doutrina acolhida como alimento moral<br />
do espirito, como balsamo consolador,<br />
como pharol divinal <strong>de</strong> esperança, como arrebol<br />
<strong>de</strong> auspicioso futuro n'esta e... na<br />
outra vida.<br />
Não sabemos <strong>de</strong> uma só escola, mais<br />
ainda, <strong>de</strong> uma única familia, do seio da qual<br />
a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Deus e sua doutrina tenham sido<br />
banidas, on<strong>de</strong> Deus tenha sido <strong>de</strong>strhonado<br />
da consciência dos mestres e dos paes e da<br />
alma puríssima das creanças.<br />
Se, por acaso, ha, se pô<strong>de</strong> haver um ou<br />
mais exemplos em contrario, resta saber <strong>de</strong><br />
quem é a culpa !..,<br />
A farçada eleitoral<br />
A companhia burlesca da gran-pepineira<br />
monarchica vae representar uma peça <strong>de</strong><br />
gran<strong>de</strong> espectáculo, abrindo-se já uma agencia<br />
no ministério do reino — á laia <strong>de</strong> amas<br />
<strong>de</strong> leite — para a inscripção dos espectadores<br />
que hão <strong>de</strong> applaudir a peça.<br />
E um completo pago<strong>de</strong> as eleições. Um<br />
jornal da Guarda diz que as candidaturas a<br />
<strong>de</strong>putados, são <strong>de</strong> tal natureza e <strong>de</strong> tal ridículo,<br />
que é <strong>de</strong> estalar as presilhas — a rir!<br />
Campeia a veniaga<br />
Não se tem publicado no Diário do Governo<br />
as listas nominaes dos cidadãos portuguezes<br />
fallecidos no Brazil, acontecendo exactamente<br />
o contrario com aquelles que morrem<br />
nas nossas possessões d'Africa.<br />
A falta <strong>de</strong> publicação é uma falcatrua indigna,<br />
um roubo infamante que se faz ás famílias<br />
dos fallecidos. Leiam:<br />
#<br />
«A razão d'isto ninguém a <strong>de</strong>u ainda ao certo,<br />
mas afíirma-se que taes relações se não publicam,<br />
porque a companhia liquidadora <strong>de</strong> heranças no<br />
Brazil, estabelecida em Lisboa, não <strong>de</strong>ixa, afim <strong>de</strong><br />
,nas provincias se não ter conhecimento <strong>de</strong> taes fallecimentos<br />
e a companhia po<strong>de</strong>r ir sem perigo <strong>de</strong><br />
concorrentes, tratar com os her<strong>de</strong>iros a liquidação<br />
das heranças, quer dizer —a compra d'ellas por<br />
insignificantes quantias, graças á ignorancia dos<br />
interessados por não terem tempo <strong>de</strong> consultar advogados<br />
e <strong>de</strong> colher as informações necessarias.»<br />
Nem o Diário do Governo escapa á venalida<strong>de</strong>,<br />
<strong>de</strong> que se faz profissão n'este paiz!<br />
As eleições<br />
Já se indigitam os <strong>de</strong>putados pelo Porto.<br />
Tudo gente sustentada pelas migalhas do<br />
governo. A presi<strong>de</strong>ncia da camara será dada<br />
ao sr. Wenceslau <strong>de</strong> Lima, façanhudo governamental.<br />
Continuam os esforços para arranjar opposição<br />
progressista, convidando-se o sr. dr.<br />
Manuel Antonio Moreira Júnior, que repelliu<br />
nobremente a candidatura em Montemor.<br />
Pelo que se vê é um parlamento <strong>de</strong> carneirada<br />
mansa, mais submissos que os <strong>de</strong><br />
Parnugio.<br />
>.«4<br />
Commissão <strong>de</strong> resistencia<br />
' Des<strong>de</strong> que o fadista João Franco abriu<br />
a naifa da dictadura, e anavalhou a autonomia<br />
<strong>de</strong> muita população, com direitos adquiridos:<br />
a esse homem, a esse governo, a essas<br />
instituições não se lhe <strong>de</strong>ve oppôr o protesto<br />
da representação!<br />
Ora, quando o faia do ministério do reino,<br />
<strong>de</strong>clarou — em escovinhas <strong>de</strong> valentaço<br />
— que não attendia a representações e estava<br />
prompto para acceitar qualquer provocação<br />
do paiz —é claro que <strong>de</strong>u a enten<strong>de</strong>r aos<br />
protestantes o caminho que <strong>de</strong>vem seguir.<br />
E <strong>de</strong>pois veremos em que dão as fanfar-<br />
ronadas do fadislão!<br />
A expedição á índia<br />
As ultimas noticias recebidas d'esta possessão<br />
não são animadoras, e para aquellas<br />
longiquas paragens seguiu na terça feira, do<br />
Tejo, a bordo do Zaire — vapor fretado! —<br />
a expedição militar que vae combater para<br />
assegurar, em Gôa, os direitos da nação<br />
portugueza, e manter o prestigio que o nome<br />
portuguez sempre sustentou na índia.<br />
Foi <strong>de</strong> enthusiasmo — como sempre — a<br />
partida da expedição. Muitas saudações, aos<br />
valentes militares, á patria e ao exercito,<br />
porém, o mais commovente, o mais sincero<br />
foram as lagrimas das mães, os abraços dos<br />
filhos, na lembrança <strong>de</strong> que não os tornarão<br />
a vêr.<br />
Foi nomeado commandante da expedição<br />
o sr. D. Affonso, cujos aposentos no vapor<br />
Zaire, se compõem: <strong>de</strong> cinco camarotes <strong>de</strong> i. a<br />
classe; quarto <strong>de</strong> vestir, quarto <strong>de</strong> cama,<br />
casa <strong>de</strong> banho, retrete e gabinete <strong>de</strong> leitura.<br />
Como as outras mães a sr. a D. Maria Pia,<br />
foi assistir ao bota-fóra do vapor, tendo a<br />
felicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r visitar os alojamentos <strong>de</strong><br />
seu filho, com aquelle cuidado e disvello que<br />
também teriam as <strong>de</strong>sventuradas da sorte,<br />
que só da terra po<strong>de</strong>ram enviar, aos seus,<br />
dolorosas sauda<strong>de</strong>s.
DEFENSOR DO POVO — 1.° ANNO Quinta feira, 24 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895— N.° 51<br />
Á Hespanha e os Estados Unidos<br />
A Hespanha, a quem tantos males afligem<br />
actualmente, está, pelas imprudências<br />
do governo conservador do sr. Canovas, arriscada<br />
a ver-se a braços com uma gravíssima<br />
questão internacional.<br />
O governo hespanhol e a sua imprensa<br />
andam muito preoccupados; temem que os<br />
Estados Unidos <strong>de</strong>clarem belligerantes os insurrectos<br />
<strong>de</strong> Cuba.<br />
As republicas americanas, nomeadamente<br />
os Estados Unidos, se não protegem oficialmente<br />
os revolucionários cubanos, pelo menos<br />
prestam-lhes valiosíssimo auxilio na lucta<br />
em que ha mezes andam empenhados com a<br />
metropole, que por seu lado invida todos os<br />
esforços para os manter agrilhoados á tutella<br />
e exploração do seu domínio.<br />
A gran<strong>de</strong> sympathia dos Estados Unidos<br />
pela causa dos revolucionários <strong>de</strong> Cuba manifesta-se<br />
claramente.<br />
Em quasi todo o vasto territorio da gran<strong>de</strong><br />
Republica foram creados numerosos centros<br />
<strong>de</strong> recrutamento, aos quaes aco<strong>de</strong>m os indivíduos,<br />
que preten<strong>de</strong>m incorporar-se nas fileiras<br />
dos insurrectos, sem que as auctorida<strong>de</strong>s<br />
obstem a isso.<br />
Alli organisam-se subscripções para soccorrer<br />
os feridos, comprar munições e apetrechos<br />
<strong>de</strong> guerra, sendo transportados sem<br />
o menor perigo em barcos, os quaes galhardamente<br />
conduzem, muitas vezes, expedições<br />
filibusteiras aos portos da formosa ilha <strong>de</strong><br />
Cuba.<br />
Quando acontece serem apresados os navios<br />
pelos hespanhoes, estes dão todas as satisfações<br />
aos norte-americanos e os barcos, a<br />
sua tripulação e os insurrectos que conduziam<br />
a bordo são entregues ás auctorida<strong>de</strong>s<br />
da gran<strong>de</strong> Republica. .. Isto mostra a falta<br />
<strong>de</strong> tino com que têm sido dirigidos os negocios<br />
<strong>de</strong> Cuba.<br />
Ainda ha pouco os Estados Unidos reclamaram<br />
o pagamento immediato da chamada<br />
in<strong>de</strong>mnisação Móra, pagando-a logo a Hespanha<br />
sem a menor resistencia, apezar <strong>de</strong> se<br />
dizer que era injusta, e não serem favoraveis<br />
as circumstancias do thesouro.<br />
No meio da indiflerença das auctorida<strong>de</strong>s<br />
norte-americanas a<strong>de</strong>stram-se publicamente<br />
os expedicionários partidarios do separatismo<br />
no exercício com armas <strong>de</strong> fogo e no manejo<br />
da macheie, arma muito usada pelos cubanos.<br />
Estes e outros factos são suficientes para<br />
evi<strong>de</strong>nciar ofervoritismo, que os Estados Unidos<br />
dispensam aos separatistas <strong>de</strong> Cuba.<br />
A Hespanha olha com uma cólera concentrada<br />
a politica da Republica americana,<br />
e o sr. Canovas <strong>de</strong>i Castillo parece, segundo<br />
se <strong>de</strong>prehen<strong>de</strong> da leitura dos jornaes hespanhoes,<br />
disposto a resolver pouco pacificamente<br />
as questões internacionaes levantadas<br />
pela revolucção <strong>de</strong> Cuba, que aos homens<br />
públicos <strong>de</strong> visinha Hespanha tantos cuidados<br />
está merecendo e <strong>de</strong>spezas está causando.<br />
A maneira fanfarrona, como os jornaes se<br />
exprimem, dá idêa <strong>de</strong> que a diplomacia não<br />
será bastante para conduzir a bom termo as<br />
questões pen<strong>de</strong>ntes entre a Hespanha e as<br />
republicas da America.<br />
A tradiccional altivez hespanhola cresce<br />
com a resistencia e os obstáculos; as ameaças<br />
encobertas dos Estados Unidos têm exaltado<br />
muito os espíritos; e dizem que o auxilio moral<br />
e material prestado aos insurrectos <strong>de</strong><br />
Cuba dará o único resultado <strong>de</strong> tornar maior<br />
e mais completo o triumpho para as armas<br />
hespanholas.<br />
Entretanto, os soldados em operações na<br />
gran<strong>de</strong> Antilha expõem a vida longe da patria<br />
n'uma campanha on<strong>de</strong>, além dos perigos<br />
que naturalmente surgem, até a própria natureza<br />
lhes é adversa.<br />
Pela leitura que temos feito dos jornaes<br />
extrangeiros, temos visto que ultimamente<br />
reina um gran<strong>de</strong> e <strong>de</strong>susado movimento nos<br />
centros militares dos Estados Unidos.<br />
O general Nelson, milijar <strong>de</strong> enorme prestigio,<br />
acaba <strong>de</strong> ser nomeado commandante do<br />
exercito norte-americano; esta nomeação, pela<br />
precipitação com que foi feita e pela pessoa<br />
em quem recahiu, tem sido muito notada e<br />
produzido sensação nos centros políticos.<br />
Todo o pessoal militar foi mudado, tendo-se<br />
em vista substituir no commando dos<br />
differentes corpos do exercito, os homens<br />
mais velhos por outros mais jovens.<br />
Em virtu<strong>de</strong> da lei das reservas ultimamente<br />
votada e approvada, os norte-americanos<br />
po<strong>de</strong>rão, d'um momento para o outro,<br />
apresentar um formidável exercito.<br />
Nos arsenaes trabalha-se noite e dia, como<br />
em vesperas <strong>de</strong> <strong>de</strong>clarar guerra a uma potencia<br />
europeia.<br />
Todos os dias são entregues na capital<br />
da União petições individuaes e collectivas<br />
rogando não só o reconhecimento da qualida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> belligerantes aos insurrectos, mas<br />
até para os Estados Unidos fazerem sua a<br />
causa dos inimigos do domínio hespanhol.<br />
N'estes últimos dias tem havido numerosas<br />
conferencias entre os ministros ácerca <strong>de</strong><br />
questões internacionaes, sendo tomadas medidas<br />
a que se attribuem muita importancia<br />
e sobre as quaes se guarda gran<strong>de</strong> sigillo nas<br />
regiões officiaes.<br />
Estes factos anormaes fazem-nos prever<br />
para breve um conflicto, naturalmente com<br />
os Estados Unidos, que mais se têm evi<strong>de</strong>nciado<br />
como protectores dos que luctam contra<br />
a Hespanha pela in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia e pelas<br />
liberda<strong>de</strong>s.<br />
Um <strong>de</strong>sastre para as armas hespanholas<br />
no presente momento, seria <strong>de</strong> resultados incalculáveis,<br />
que por certo se haviam <strong>de</strong> reflectir<br />
nas outras nações, principalmente, se,<br />
como é <strong>de</strong> suppôr, as instituições monarchicas<br />
fossem sacrificadas, com o que havia tudo<br />
a lucrar e nada a per<strong>de</strong>r.<br />
— — —<br />
O RETRATO OVAL<br />
(De Edgar Poe)<br />
(CONCLUSÃO)<br />
Eu estava certamente em presença d'uma<br />
incomparável obra prima. E no entanto parecia-me<br />
que a emoção extraordinaria <strong>de</strong> que<br />
eu estava possuído não provinha nem do talento<br />
do artista, nem da immortavel belleza<br />
do retrato. Muito menos podia eu pensar<br />
que a minha imaginação, <strong>de</strong>svairada por um<br />
meio somno tivesse tomado aquella cabeça,<br />
pela cabeça d'uma verda<strong>de</strong>ira mulher em<br />
carne e osso, os <strong>de</strong>talhes do <strong>de</strong>senho, o estylo<br />
das vinhetas e a magnificência da moldura<br />
doirada teriam immediatamente dissipado<br />
o meu erro e <strong>de</strong>struído a minha illusão<br />
<strong>de</strong>masiadamente rapida. Absorvido por completo<br />
n'estas reflexões, fiquei seguramente mais<br />
d'uma hora com os olhos fitos no retrato, terminando<br />
finalmente por <strong>de</strong>scobrir o segredo<br />
da emoção que me tinha causado. O encanto<br />
do retrato estava n'uma expressão vital, absolutamente<br />
a<strong>de</strong>quada á própria vida; esta expressão<br />
que a principio me tinha feito estremecer<br />
acabou por me confundir.<br />
Voltei então a pôr o can<strong>de</strong>labro na sua<br />
posição primitiva com um respeito misturado<br />
<strong>de</strong> pavor. O quadro voltou á sombra e eu<br />
retomei vivamente o livro que continha a lenda<br />
<strong>de</strong> todas aquellas telas e li então a extranha e<br />
vaga historia que vou narrar:<br />
Era uma donzella, dotada d'uma rara belleza,<br />
que não possuia menos alegria do que<br />
encantos. Maidito seja o dia em que ella<br />
viu, amou e <strong>de</strong>sposou o pintor! Elle, trabalhador<br />
apaixonado e austero, tendo feito da<br />
arte a sua verda<strong>de</strong>ira mulher; ella, amavel e<br />
amorosa, feita <strong>de</strong> luz e <strong>de</strong> sorrisos, amando<br />
e acariciando todas as coisas menos a arte,<br />
sua rival; odiando a palheta, os pincéis, tudo<br />
a que a privava do amor do seu bem amado.<br />
Gran<strong>de</strong> foi o seu espanto quando um dia o<br />
pintor exprimiu o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> fazer o seu retrato<br />
! Mas ella era sobretudo humil<strong>de</strong> e obediente—<br />
durante longas semanas ella se collocou<br />
com doçura <strong>de</strong>ante do seu marido para<br />
a retratar, na sombria e alta sala da torre<br />
on<strong>de</strong> a luz cahia muito pallida, do tecto sobre<br />
a téla. Quando a seu marido, punha<br />
toda a sua gloria n'este retrato que ia fazendo<br />
pouco e pouco diariamente.<br />
Era um homem extranhamente apaixonado,<br />
assaltado incessantemente por profundas<br />
e extraordinarias phantasias; não se servia<br />
d'outra luz, senão da que cahia tristemente<br />
n'esta torre isolada que, como todos<br />
lhe notavam ia arruinando lentamente a saú<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> sua mulher. Mas ella sorria sempre, sem<br />
uma lastima, não querendo perturbar o prazer<br />
que o artista sentia no seu trabalho, visto<br />
elle estar pintando, noite e dia aquella que o<br />
amava tanto, mas que por esta razão se ia<br />
tornando cada vez mais languida e fraca.<br />
As visitas fallavam em voz baixa da semelhança<br />
maravilhosa do retrato como uma<br />
prova dupla do génio do artista e do seu<br />
amor por sua mulher.<br />
Mas, com o tempo, com a tarefa estivesse<br />
quasi no fim, não se admittia ninguém <strong>de</strong>ntro<br />
da torre. Absorvido na sua obra o pintor<br />
não tirava os olhos do seu retrato nem<br />
mesmo para ver o mo<strong>de</strong>lo. Não queria ver<br />
que as cores que estendia sobre a tela eram<br />
tiradas das faces d'aquella que se collocava<br />
<strong>de</strong>ante <strong>de</strong> si para ser retratada. Passadas<br />
algumas semanas, não restando já para terminar<br />
a obra mais do que uma côr branda<br />
e transparente sobre os olhos e uma ultima<br />
pincelada sobre a bôcca, o espirito da formosa<br />
mulher palpitava ainda como uma chamma<br />
<strong>de</strong> lampada.<br />
Deu-lhe então a ultima pincelada sobre<br />
a bôcca e essa côr branca e transparente sobre<br />
os olhos.<br />
Durante um minuto o artista susteve-se<br />
em extase <strong>de</strong>ante do seu retrato, <strong>de</strong>pois torpou-se<br />
subitamente pallido, tremeu, e gritou<br />
com uma voz vibrante: Na verda<strong>de</strong> é a<br />
própria vida !<br />
Voltou-se então para ver a sua bem-amada.<br />
Mas ella estava morta!<br />
<strong>Coimbra</strong>, 1893. AUGUSTO GRANJO.<br />
CARTA DO PORTO<br />
20 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> itfg5.<br />
Quem é o dono das uvas? Prohibe-se no<br />
Porto, segundo os <strong>de</strong>cretos <strong>de</strong> sua magesta<strong>de</strong>,<br />
que os proprietários das ramadas vendam<br />
ou dêem as uvas a outrem para fabricar<br />
vinho! o proprietário, ou o arrendatario<br />
dos prédios, tem <strong>de</strong> engulir as uvas todas,<br />
ou tem <strong>de</strong> fazer vinho <strong>de</strong>lias, ou tem <strong>de</strong> as<br />
<strong>de</strong>ixar apodrecer nas vi<strong>de</strong>iras: quem será<br />
pois o dono ?<br />
Vin<strong>de</strong> trazer a Portugal os vossos capitaes<br />
para comprar prédios, e aformosear outros,<br />
ó capitalista! Depois queixam se da<br />
emigração, e da falta <strong>de</strong> cambiaes do Brazil:<br />
quem é que quer viver na escravidão?!<br />
— Também não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser engraçada<br />
a noticia em certos jornaes, <strong>de</strong> que este anno<br />
vão ser propostos para a próxima eleição <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>putados, catholicos ás côrtes !! De fórma<br />
que os <strong>de</strong>putados das côrtes passadas não<br />
eram catholicos. Dêem-lhes outro nome, sem<br />
offensa dos nobres <strong>de</strong>putados que tantas carradas<br />
<strong>de</strong> leis e regulamentos tem mandado<br />
fazer.<br />
— Mas, sobretudo, o que tem mais sal é<br />
a projectada representação d'alguns académicos<br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, ao governo, ou ao parlamento,<br />
para que favoreçam a classe dos bacharéis<br />
formados em direito, com os melhores<br />
cargos públicos mediante concurso, visto<br />
que estão sendo providos n'elles pessoas sem<br />
habilitações litterarias!<br />
Parece impossível, que do seio d'uma aca<strong>de</strong>mia,<br />
que sempre foi respeitada com a sua<br />
universida<strong>de</strong> em todo o mundo, saia a publico<br />
uma pretensão <strong>de</strong>ssas. O que os bacharéis<br />
<strong>de</strong>vem fazer todos é orientarem-se<br />
no bem da patria, no trabalho intelligente e<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente orientado, e no <strong>de</strong>sprezo<br />
<strong>de</strong> tudo aquillo que <strong>de</strong>grada o homem da<br />
sciencia até ao nível do ignorante, <strong>de</strong>ixando-se<br />
guiar por vis interesses, e por figuras<br />
<strong>de</strong> rhetorica.<br />
Felix Faure não é um simples bacharel,<br />
nem é da terra dos bacharéis; é um industrial<br />
e commerciante honrado, e intelligente,<br />
e com um tino tão reconhecido, que até o<br />
sr. D. Carlos se julga satisfeito na sua com<br />
panhia: pois meus senhores, a tal respeito<br />
<strong>de</strong> os governos guardarem os empregos para<br />
os bacharéis, Deus os favoreça, que agora<br />
não pô<strong>de</strong> ser; e bem sabem a razão porquê.<br />
Ainda não estão satisfeitos com o monopolio,<br />
que tem tido ha meio século dos logares<br />
públicos em certas'-familias, venha mais<br />
esse !<br />
O mal não está no coração d'esses jovens<br />
<strong>de</strong>sprevenidos, está na ambição d'aquelles que<br />
tudo querem sem gran<strong>de</strong> trabalho: pois, meus<br />
caros, trabalhem sempre, e procurem novos<br />
horisontes, que ainda os ha, abrindo os olhos.<br />
Ao passo que se enviam para <strong>Coimbra</strong> milhares<br />
<strong>de</strong> futuros bacharéis, corta-se á maior<br />
parte dos portuguezes o meio <strong>de</strong> terem o<br />
curso <strong>de</strong> primeiras lettras !!<br />
«O Paiz»<br />
LOPES DA GAMA.<br />
No dia i.° <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong>ve apparecer<br />
em Lisboa este novo jornal republicano. E'<br />
seu director o nosso collega e <strong>de</strong>stemido jornalista,<br />
Alves Corrêa.<br />
O Pai\— tendo á frente o antigo redactor<br />
da Vanguarda — ha <strong>de</strong> ser um combatente<br />
energico pelo i<strong>de</strong>al <strong>de</strong>mocrático, um<br />
<strong>de</strong>fensor strenuo da verda<strong>de</strong> e da justiça,<br />
como será também o propagandista anti-reaccionario,<br />
b inimigo confesso do jesuitismo.<br />
O seu passado, <strong>de</strong> forte resistencia contra<br />
o existente, <strong>de</strong> lucta tenaz contra a <strong>de</strong>vassidão<br />
politica e <strong>de</strong>pravação moral das instituições,<br />
são sobeja garantia <strong>de</strong> que O Pai\<br />
será o ecco da opinião publica, o porta-voz,<br />
que <strong>de</strong>nunciará os gran<strong>de</strong>s criminosos, com<br />
temerida<strong>de</strong>, e sem hesitações perante a quadrilha<br />
dos luvas brancas, que tem feito da<br />
nação um verda<strong>de</strong>iro pinhal dAzambuja,<br />
on<strong>de</strong> se está pedindo ao contribuinte a bolsa<br />
ou a vida...<br />
Será isto O Pai\, porque é isto o seu<br />
director, Alves Corrêa.<br />
Tem o novo diário o concurso valioso dos<br />
antigos accionistas da empreza da Vanguarda,<br />
os ex. mo * srs. drs. José Jacintho Nunes, Ignacio<br />
<strong>de</strong> Magalhães Basto, José Ferreira Gonçalves,<br />
Delphim Pereira da Costa, Francisco<br />
Pinto Balsemão e João <strong>de</strong> Moraes Carvella,<br />
— que abandonaram a empreza d'esse jornal,<br />
além da cooperação também valiosa dos<br />
ex-redactores d'essa folha os ex. mos srs. Antonio<br />
<strong>de</strong> França Borges, Antonio dos Reis e<br />
Sousa, Carlos Callixto e Marcellino Monteiro,<br />
que, como os accionistas acima referidos,<br />
saíram da Vanguarda, ficando redactores<br />
effectivos do Pai\.<br />
O Pai\ será effectivamente collaborado<br />
por muitos dos principaes escriptores republicanos<br />
portuguezes, estando já assegurada<br />
a collaboração dos e^. raos srs. dr. Theophilo<br />
Braga, dr. Duarte Leite, dr. José Jacintho<br />
Nunes, dr. Guilherme Moreira, dr. Horácio<br />
Ferrari, dr. Antonio José dAlmeida, Antonio<br />
Augusto Gonçalves, dr. José Benevi<strong>de</strong>s,<br />
dr. João <strong>de</strong> Menezes, José Sampaio (Bruno)<br />
dr. Fialho <strong>de</strong> Almeida e Guerra Junqueiro.<br />
Espera-se ainda que outros republicanos<br />
illustres collaborem n'este novo jornal, que<br />
assim, com tão valiosos, cooperadores, tem<br />
assegurada uma orientação superior.<br />
O ELEWJLDOR<br />
Continuamos a publicar a relação dos subscriptorés,<br />
para que o publico <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />
que ainda não subscreveu, tenha conhecimento<br />
do que falta para completar o capital<br />
preciso.<br />
Subscriptores até 50$000 réis<br />
Antonio Nunes Corrêa<br />
Augusto Henriques<br />
Augusto Gonçalves e Silva<br />
Augusto Men<strong>de</strong>s Simões <strong>de</strong> Castro (Dr.)<br />
Benjamim Ventura<br />
Emilia Gonçalves da Silva<br />
Francisco Alves Ma<strong>de</strong>ira Júnior<br />
Francisco Gonçalves <strong>de</strong> Lemos<br />
Francisco Villaça da Fonseca<br />
João Augusto Machado<br />
Joaquim Miranda<br />
Jorge da Silveira Moraes<br />
Julio Augusto Henriques (Doutor)<br />
Manuel Illydio dos Santos<br />
Manuel Rodrigues Braga<br />
Subscriptores <strong>de</strong> 501000 réis<br />
Alberto Carlos <strong>de</strong> Moura<br />
Antonio Maria <strong>de</strong> Sousa Bastos (Dr.)<br />
Gonçalo Nazareth<br />
Hugo <strong>de</strong> Castro e Brito<br />
Julio A. Henriques (Doutor)<br />
Manuel Teixeira da Cunha<br />
Subscriptores <strong>de</strong> 1001000 réis<br />
Carlos <strong>de</strong> Oliveira (Dr.)<br />
Antonio Dias Themido<br />
João Teixeira Soares <strong>de</strong> Brito<br />
Subscriptores <strong>de</strong> 2001000<br />
D. Dulce <strong>de</strong> Castro Martins Alves<br />
D. Laura <strong>de</strong> Castro Martins Alves <strong>de</strong> Brito<br />
Total d'esta subscripção<br />
Dos subscriptores até 50$000<br />
» » <strong>de</strong> 5011000<br />
» >< <strong>de</strong> 1001000<br />
» » <strong>de</strong> 200$000<br />
Para o que faltava.<br />
26011000<br />
300^000<br />
300$000<br />
400^000<br />
Falta 1:930^000<br />
Este capital foi obtido nestes termos:<br />
No consultorio do sr. dr. Vicente Rocha 740$000<br />
Nos boletins ao domicilio 520^000<br />
X L I V<br />
Diz-se pr'a ahi, com <strong>de</strong>sdoiro,<br />
e é verda<strong>de</strong>, não são petas,<br />
que não se faz Matadoiro<br />
por causa <strong>de</strong> dois Jaquetas I<br />
Não querem que os camaristas<br />
satisfaçam seu intento<br />
e lhe chamem altruístas,<br />
por tão bom melhoramento.<br />
Os Judas são d'alto bordo!<br />
Sabem quem faz propaganda,<br />
em <strong>de</strong>saforado aceordo*?...<br />
E o Hermano e o Miranda 111<br />
Pra -Dique.<br />
Assumptos <strong>de</strong> interesse local<br />
A.lvitre<br />
Em conversa <strong>de</strong> amigos foi apresntado ao<br />
sr. conselheiro Julio <strong>de</strong> Vilhena — actualmente<br />
n'esta cida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> veio acompanhar seu filho<br />
João, que vem cursar a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> — o seguinte<br />
alvitre, para ser proposto ao governo:<br />
Transferir a agencia do Banco <strong>de</strong> Portugal<br />
do bairro alto para a baixa, aproveitando<br />
o edifício on<strong>de</strong> agora está installada a<br />
ca<strong>de</strong>ia, para esse fim, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> feitas as<br />
obras indispensáveis.<br />
Para a ca<strong>de</strong>ia seria <strong>de</strong>stinada a Penitenciaria,<br />
que jaz ha muito abandonada, <strong>de</strong>teriorando-se<br />
por o <strong>de</strong>sleixo do governo e pela<br />
incúria das auctorida<strong>de</strong>s competentes.<br />
O commercio teria tudo a lucrar, poupando<br />
a enorme caminhada ao Governo Civil,<br />
que não só está em local pouco proprio,<br />
mas além d'isso, não tem as commodida<strong>de</strong>s<br />
que eram para <strong>de</strong>sejar e são precisas a um<br />
estabelecimento <strong>de</strong> tal or<strong>de</strong>m.<br />
Que o sr. conselheiro Julio <strong>de</strong> Vilhena se<br />
não esqueça do seu alvitre.
BEFENSOB DO POVO-1. 1 ANNO Quinta feira, 24 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895 — N . ° 51<br />
Arrematação das carnes<br />
Como dissémos não concorreu nenhum<br />
marchante á nova arrematação annunciada<br />
por edital, e á gréve respon<strong>de</strong>u a camara<br />
tomando sobre si o exclusivo da venda,<br />
abrindo quatro talhos na cida<strong>de</strong>: — um no<br />
bairro alto, outro na praça do Commercio e<br />
dois no mercado.<br />
Depois do que se havia passado entre a<br />
camara e os marchantes, não se podia resolver<br />
outra coisa, se bem que combatamos o<br />
monopolismo, pois é um travão á liberda<strong>de</strong><br />
do commercio, que se quer expansivo.<br />
Mas á camara assistia-lhe o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> ser<br />
energica, e não transigir. Deve-se precaver,<br />
pois que na sua mão está evitar alguma cilada<br />
que se premedite e que a população<br />
soffra as consequências d'uma vingança.<br />
Não pô<strong>de</strong> a camara — nem <strong>de</strong>ve — adiar<br />
por muitas semanas o estabelecimento dos<br />
seus talhos, como não <strong>de</strong>ve limitar-se somente<br />
a dois talhos no mercado, pois que é gran<strong>de</strong><br />
o consumo e muitíssima a concorrência todos<br />
os dias <strong>de</strong> manhã.<br />
E 1 preciso que n'este assumpto se proceda<br />
cautellosamente e não se <strong>de</strong>ixe arrastar a<br />
influencias que po<strong>de</strong>m levar a camara a uma<br />
vergonhosa transigência.<br />
Veremos os resultados.<br />
o<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />
Em congregação da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direto<br />
foi resolvido representar ao governo pedindo<br />
o <strong>de</strong>sdobramento do curso do primeiro anno<br />
jurídico.<br />
E' <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> vantagem para os alumnos<br />
a obtenção d'este pedido, porque serão mais<br />
vezes chamados, e os professores po<strong>de</strong>rão<br />
formar um conceito mais seguro da sua intelligencia<br />
e applicação.<br />
As faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Mathematica e Phylosophia<br />
também representaram ao governo no<br />
mesmo sentido, pela gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
alumnos que contam os primeiros annos das<br />
respectivas faculda<strong>de</strong>s.<br />
As arruaças<br />
Parece, que em virtu<strong>de</strong> das gran<strong>de</strong>s troças<br />
nos geraes e mais corredores da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>,<br />
se pensa em ser transferida as aulas<br />
dos novatos para hora differente da dos veteranos.<br />
O sr. guarda-mór recebeu or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> reprimir<br />
energicamente as arruaças.<br />
Era conveniente essa transferencia, para<br />
evitar dissabores aos turbulentos mancebos.<br />
Dá esperanças<br />
Francisco Sineiro, <strong>de</strong> 14 annos vibrou<br />
uma naifada na cabeça duma rapariguita <strong>de</strong><br />
7 annos, chamada Zélia <strong>de</strong> Mattos.<br />
O heroe dá esperanças...<br />
Tnna Académica<br />
Reuniu segunda feira a Tuna Académica,<br />
para tratar <strong>de</strong> vários assumptos, entre os<br />
quaes são dos seguintes :<br />
Nomear os cargos <strong>de</strong> presi<strong>de</strong>nte, vicepresi<strong>de</strong>nte<br />
e thesoureiro, actualmente vagos.<br />
Abrir inscripção para prehencher as vagas<br />
<strong>de</strong> membros executantes.<br />
Marcar o dia para o primeiro ensaio.<br />
A resolução d'estes importantes assumptos<br />
ficou pen<strong>de</strong>nte d'outra reunião, que será<br />
convocada para muito breve.<br />
Folhetim—«Defensor do Povo»<br />
0 CORSÁRIO PORTIGIEZ<br />
ROMANCE MARÍTIMO<br />
ORIGINAL DE<br />
CAPITULO IV<br />
O naufrágio<br />
O abalo foi gran<strong>de</strong>, mas maior foi o que<br />
se lhe seguiu! As vagas atiraram com a fragata<br />
para cima das pedras, arrancaram-lhe<br />
os mastaréus e vergas <strong>de</strong> joanetes, que foram<br />
arremessados pela borda!<br />
O navio estava aberto, e a agua entravalhe<br />
até á braçola da escotilha gran<strong>de</strong>! Tudo<br />
era confusão e gritaria.<br />
A fragata porém escon<strong>de</strong>u-se <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong><br />
agua, e apenas lhe ficou <strong>de</strong>sembaraçado o<br />
castello <strong>de</strong> proa.<br />
Momentos <strong>de</strong>pois, fragmentos dispersos<br />
e membros <strong>de</strong>spedaçados é quanto se via ao<br />
cimo da agua. Era a consequência fatal da<br />
estulta pretensão d'um nobre fidalgo.<br />
Actos <strong>de</strong> benemerencia<br />
O sr. Cal<strong>de</strong>ira da Silva, eximio cirurgião<br />
<strong>de</strong>ntista, n'esta cida<strong>de</strong>, pelas suas excellentes<br />
qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cavalheiro, pela sua bonda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> coração e principalmente pela sua pericia<br />
como profissional, tem merecido as publicas<br />
sympathias d'uma cida<strong>de</strong> e o que é mais, a<br />
gratidão e reconhecimento da pobreza e da<br />
indigência, a quem elle presta os seus soccorros<br />
gratuitamente, afora as corporações, a<br />
quem offereceu os serviços, e as quaes em<br />
seguida enumeramos:<br />
Asylo da Mendicida<strong>de</strong>.<br />
Asylo da Infancia Desvalida.<br />
Orphãos <strong>de</strong> ambos os sexos <strong>de</strong> Santa<br />
Casa da Misericórdia.<br />
Subsidiados da Socieda<strong>de</strong> Philantropico-<br />
Aca<strong>de</strong>mica.<br />
Presos da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Santa Cruz.<br />
Ordinandos pobres do Seminário.<br />
Cabos e soldados do 23.<br />
De todas estas corporações recebeu o<br />
nosso amigo, officios <strong>de</strong> recepção, nos quaes<br />
se agra<strong>de</strong>cia, louvando a generosa offerta, e<br />
acceitando-a com reconhecimento.<br />
As duas corporações — Associação dos<br />
Artistas e policias civis — é que parece prescindiram<br />
dos serviços do sr. Cal<strong>de</strong>ira da Silva,<br />
dispensando-lhe o seu benemerito auxilio em<br />
beneficio dos seus socios e dos guardas, pois<br />
que lhes foi feito o mesmo offerecimento e<br />
nunca avisaram a sua recepção.<br />
Estas indifferenças são compensadas por<br />
documentos <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ração superior, não só<br />
pelas corporações conimbricenses, que acima<br />
Presi<strong>de</strong>nte da camara<br />
Na quinta feira reassumiu a presi<strong>de</strong>ncia<br />
da camara, o sr. dr. Ayres <strong>de</strong> Campos,<br />
dirigindo os trabalhos da sessão d'esse dia.<br />
Foi cumprimentado pelos seus collegas,<br />
que o felicitaram pelo seu completo restabelecimento;<br />
e por outros seus amigos.<br />
Km cárcere privado<br />
Dois agentes policiaes d'esta cida<strong>de</strong> dirigiram-se<br />
a Rios Frios freguezia <strong>de</strong> Vil <strong>de</strong><br />
Mattos, para darem liberda<strong>de</strong> a Maria Rosa,<br />
<strong>de</strong> 80 annos, que um sobrinho da mesma,<br />
conservava reclusa em sua casa, ao que se<br />
dizia, ha muito tempo.<br />
A infeliz foi encontrada morta e completamente<br />
abandonada apenas dpis gatos estavam<br />
velando o cadaver.<br />
Pelo exame medico a que vae proce<strong>de</strong>r-se<br />
averiguar-se-á se houve ou não criminalida<strong>de</strong>.<br />
O sr. commissario <strong>de</strong> policia já communicou<br />
este estranho acontecimento ao <strong>de</strong>legado<br />
do ministério publico em vista das<br />
suspeitas <strong>de</strong> ter havido crime.<br />
N'este sinistro morreram duzentas e tantas<br />
pessoas, e salvaram-se apenas cento e<br />
vinte, incluindo o commandante, João Traquete<br />
e o immediato!<br />
Um mez <strong>de</strong>pois d'este doloroso acontecimento<br />
respondiam a conselho <strong>de</strong> guerra o<br />
commandante e o immediato, que cumprira<br />
com o seu <strong>de</strong>ver; mas como não era fidalgo,<br />
e sobre elle pesava a vingança do senhor D.<br />
Francisco <strong>de</strong> Sarmento e Castro, foi con<strong>de</strong>mnado<br />
a ser exautorado <strong>de</strong> todas as suas<br />
honras por tres annos, emquanto que o único<br />
criminoso era absolvido, ficando com a sua<br />
conducta illibada!... E quando o con<strong>de</strong> <strong>de</strong>...,<br />
ministro da marinha, <strong>de</strong>u parte ao príncipe<br />
regente do sinistro, disse-lhe:<br />
— Meu senhor, per<strong>de</strong>u-se a fragata Senhora<br />
da Conceição, e tem vossa alteza real<br />
duzentos súbditos <strong>de</strong> menos e um excellente<br />
vaso <strong>de</strong> guerra, mas resta-lhe a consolação,<br />
que se salvou o commandante, que é o melhor<br />
official da marinha portugueza.<br />
CAPITULO V<br />
Fidalgo e plebeu<br />
Carlos, ao ser-lhe intimada a sentença,<br />
ficou aterrado! Nunca acreditára em tamanha<br />
injustiça, e n'esse mesmo dia pediu a sua<br />
<strong>de</strong>missão.<br />
Aggresísào<br />
Consta que estão sendo instaurados processos<br />
civis e académicos contra os troupistas,<br />
que n'uma das noites passadas tiveram<br />
o mau gosto <strong>de</strong> aggredir o sr. padre Motta,<br />
ainda retido no leito.<br />
E' necessário applicar-lhes um correctivo<br />
energico que os faça arrepen<strong>de</strong>r por uma<br />
vez e para <strong>de</strong> futuro evitar estes lamentaveis<br />
acontecimentos. Lamentamos.<br />
Partido medico<br />
Foi provido no partido medico, creado<br />
pela camara municipal, o sr. dr. Vicente<br />
Rocha clinico distincto e muito estimado, e<br />
único candidato a esse logar.<br />
Como já dissémos, e repetimos, a creaçao<br />
d'este partido era bem dispensado, pois que<br />
o concelho <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> tem clínicos <strong>de</strong> partido<br />
que prestam os seus serviços nas freguezias<br />
ruraes.<br />
Além d 1 isso a cida<strong>de</strong> tem o sufficiente<br />
em soccorros médicos e não ha <strong>de</strong> ser o<br />
cilnico da camara que ha <strong>de</strong> ser chamado<br />
pelas classes pobres, ou remediadas, pois<br />
que têm a Santa Casa da Misericórdia que<br />
Domingo, 27 do corrente, realisar-se-ha<br />
com toda a pompa na freguezia <strong>de</strong> Castello<br />
Viegas, uma solemne festivida<strong>de</strong> em honra<br />
<strong>de</strong> Nossa Senhora da Pieda<strong>de</strong>, imagem que<br />
a essa freguezia foi offerecida pelo sr. Jorge<br />
da Silveira Moraes, commerciante n'esta cida<strong>de</strong>.<br />
A ; s oito horas da manhã, <strong>de</strong>pois da<br />
benção do ritual, será a imagem conduzida<br />
processionalmente da ermida <strong>de</strong> S. Pedro<br />
para a egreja, on<strong>de</strong> será cantada a ladainha.<br />
Ao meio dia missa solemne a gran<strong>de</strong><br />
instrumental subindo ao Evangelho ao púlpito<br />
o distincto orador sagrado rev. Alfredo<br />
Augusto do Amaral, digníssimo prior em<br />
Santo Antonio dos Olivaes.<br />
A's quatro horas da tar<strong>de</strong> solemne te-<strong>de</strong>um<br />
e procissão terminando com a benção do<br />
Santíssimo Sacramento. A' noite arraial,<br />
balão e queimar-se-ha um vistoso fogo <strong>de</strong><br />
artificio. Abrilhantará a festivida<strong>de</strong> a bem<br />
conceituada philarmonica <strong>de</strong> Taveiro.<br />
Melhoramento importante<br />
Os bombeiros voluntários vão comprar<br />
um breach para facilitar a saída do material<br />
em casos <strong>de</strong> incêndio fóra da cida<strong>de</strong>.<br />
Seu pae supportou corajoso a triste noticia,<br />
e procurou animal-o, aconselhando-lhe<br />
prudência e resignação.<br />
— Pae, respon<strong>de</strong>u-lhe o pobre mancebo<br />
com o coração ulcerado pela dôr, acceito os<br />
seus conselhos, que são judiciosos! Terei<br />
coragem e resignação; mas hei <strong>de</strong> vingar-me<br />
d'esta injustiça ! Infames, que assim me roubaram<br />
o futuro e as doces esperanças que<br />
alimentava! Já não tenho dragonas, mas<br />
conservo a minha espada e disponho <strong>de</strong> coragem<br />
!<br />
«Em oito dias partirei para Inglaterra,<br />
compro um navio, tiro, carta <strong>de</strong> corso, e<br />
d'ora ávante farei guerra <strong>de</strong> extermínio aos<br />
francezes e aos nobres <strong>de</strong>vassos que, com<br />
um pé sobre os filhos do povo, tentam esmagal-os!<br />
«Mas esmagados serão elles, porque tempo<br />
virá em que os povos hão <strong>de</strong> acordar e sacudir<br />
as odiosas algemas, que a nobreza, auxiliada<br />
pelo po<strong>de</strong>r theocratico, lhes lançou.<br />
O doutor Antonio dos Anjos estava abatido<br />
e soffría ao ver a exaltação <strong>de</strong> seu filho;<br />
e para o afastar da i<strong>de</strong>ia em que estava <strong>de</strong><br />
se vingar; disse-lhe;<br />
— Carlos, para que te resentes dos nobres<br />
? Não vejo n'elles culpa alguma da injustiça<br />
que te fizeram. ..<br />
— Meu pae, respon<strong>de</strong>u o joven, é nobre<br />
sua i<strong>de</strong>ia em querer afastar-me d'uma lucta<br />
perigosa; mas quer saber as causas por que<br />
Uma ladra<br />
Deu-se parte para juizo contra Antónia <strong>de</strong><br />
Jesus, moradora proximo ao Senhor dos Afflictos,<br />
por ter furtado algumas roupas, a Rita<br />
<strong>de</strong> Jesus, resi<strong>de</strong>nte na quinta da Sapato.<br />
Carteira da policia<br />
Qaeixa <strong>de</strong> i - oul>0<br />
Maria <strong>de</strong> Jesus, arrendataria da quinta<br />
do Camazão, em Coselhas, queixou-se na 2. a<br />
esquadra do seguinte:<br />
Que ao regressar da cida<strong>de</strong>, para on<strong>de</strong><br />
tinha vindo em companhia <strong>de</strong> sua filha, encontrára<br />
a porta arrombada e a falta <strong>de</strong><br />
240^000 réis em ouro, prata e papel, além<br />
d'um medalhão, um par <strong>de</strong> brincos, duas<br />
cruzes, um cordão, um fio <strong>de</strong> contas, tudo<br />
d'oiro, no valor <strong>de</strong> 36$ooo réis.<br />
A policia anda em averiguações.<br />
C OMMUNICAD 0<br />
lhes dá esses soccorros e os remedios.<br />
Sr. redactor do Defensor do Povo; peço a v.<br />
Antes <strong>de</strong> sabermos quem lograria o lo- a publicação da carta inclusa, que enviei ao<br />
gar fizemos as nossas consi<strong>de</strong>rações e hoje redactor do Operário <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />
repetimol-a, pois vemos na creação d'este Agra<strong>de</strong>cendo, creia-me seu amigo, J. Simões Paes.<br />
partido e no seu prehenchimento uma <strong>de</strong>speza<br />
supérflua, que aggrava os cofres do municí-<br />
Bombeiros Voluntários<br />
pio, seja clinico o sr. dr. Vicente Rocha, ou Sr. redactor — No ultimo numero do seu<br />
outro qualquer.<br />
semanario, em uma noticia ácerca d'uma missa<br />
relacionamos, mas por outras do Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro, a quem o sr. Cal<strong>de</strong>ira da Silva pres-<br />
Não é questão <strong>de</strong> homens — saibam.<br />
Em crear encargos e em servir amigos,<br />
em suffragio da alma d'um ministro <strong>de</strong> estado<br />
recentemente extincto, lê-se o seguinte:<br />
tou os seus serviços gratuitamente, como era se lava a camara em agua <strong>de</strong> rosas — os «Nem ao menos alli foram (como é da praxe<br />
á Caixa <strong>de</strong> soccorros <strong>de</strong> D. Pedro v, que lhe seus erros e a sua banalida<strong>de</strong> manifestada na n'estas palacoadas) as corporações da cida<strong>de</strong>.»<br />
mereceu um diploma honroso, ao Asylo <strong>de</strong> administração municipal está em todos os Permitta-me que em nome da corporação dos<br />
meninos <strong>de</strong>svalidos, a quem o fallecido impe- actos da sua gerencia.<br />
bombeiros voluntários, <strong>de</strong> que eu sou commanrador,<br />
que era o presi<strong>de</strong>nte d'aquella casa <strong>de</strong> Felizmente que vão <strong>de</strong>ixar em breve es-<br />
beneficencia, lhe conce<strong>de</strong>ra o titulo honorifico sas ca<strong>de</strong>iras, on<strong>de</strong> alguns, não <strong>de</strong>veriam sen-<br />
<strong>de</strong> cirurgião-<strong>de</strong>ntista da casa imperial, — e tar-se, sem ter dado provas da sua compe-<br />
assim a tantas outras corporações.<br />
tência intellectual — pelo menos.<br />
dante, proteste contra a ironia <strong>de</strong>s<strong>de</strong>nhosa que<br />
resalta d'esse commentario.<br />
Não me indigno só por ver assim menosprezada<br />
unia aggremiaçào que tem por fim exclusivo,<br />
Actos <strong>de</strong>stes não <strong>de</strong>vem ficar olvidados, Que nunca os nossos olhos viram tanta<br />
e aos informes d'um nosso amigo, <strong>de</strong>vemos inépcia; tão falhos <strong>de</strong> bom senso, sem ini-<br />
o ter tido occasião para fazer justiça aos ciativa, subjugando os acisados e os sensatos<br />
méritos profissionaes do sr. Cal<strong>de</strong>ira da Silva — os poucos que ha por lá.<br />
e á acção benefica que tem espalhado pelas<br />
sem a mínima recompensa, arriscar a vida dos<br />
seus membros para salvar a vida e a fazenda em<br />
occasiões <strong>de</strong> incêndios; mas também me revolto,<br />
com duplicada energia, por vêr que n'um jornal,<br />
que se diz <strong>de</strong>fensor das classes trabalhadoras, se<br />
classes pobres e corporações <strong>de</strong> beneficencia.<br />
Honra lhe seja dada.<br />
Festivida<strong>de</strong><br />
estampam allusões aggressivas d'um punhado <strong>de</strong><br />
rapazes operários, que, pela sua coragem philantropia<br />
e abnegação, bem merecem da sua classe<br />
por serem nma honra e uma gloria para ella!<br />
N'outro tempo, quando a frente da corporação<br />
estava um ou outro especulador e aventureiro,<br />
podia suppôr-se, não sem fundado motivo, que ella<br />
seria arrastada a ridículos por quem tinha só em<br />
mira collocar em fóco a sua individualida<strong>de</strong>...<br />
Mas hoje não.<br />
Toda a cida<strong>de</strong> conhece que a actual direcção<br />
não quer <strong>de</strong>sviar a associação para espectaculosas<br />
exhibições.<br />
isto não quer dizer no entanto, que os bombeiros<br />
voluntários não tomem <strong>de</strong> futuro parte em<br />
qualquer <strong>de</strong>monstração festiva ou fúnebre em<br />
honra d'alguem, que directa ou indirectamente lhes<br />
tenha dispensado os seus serviços e a sua protecção.<br />
Creio que v., sr. redactor, não teve em vista<br />
melindrar esta corporação. Faço lhe essa justiça.<br />
Mas por isso mesmo, communicando-lhe a magua<br />
<strong>de</strong> que eu e os meus camaradas nos achamos<br />
possuídos, v. <strong>de</strong>ve congratular-se por lhe se otTerecer<br />
ensejo <strong>de</strong> explicar ou retirar as palavras,<br />
que irreflectidamente lhe saíram dos bicos da<br />
penna.<br />
<strong>Coimbra</strong>, 16 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895.<br />
0 commandante — José Simões Paes,<br />
me revolto contra elles? Leia... leia, e verá<br />
que tenho razão.<br />
Entregou a seu pae uma carta, concebida<br />
nos seguintes termos :<br />
«Ao senhor tenente Carlos Augusto dos<br />
Anjos :<br />
«Um fidalgo nunca <strong>de</strong>ixa impune uma<br />
affronte! Não quiz acceitar a minha protecção<br />
em troca d'um pequeno serviço, receba<br />
as provas do meu resentimento pela sua<br />
solencia !... Os meus parentes e amigo V s,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que lhe constou que o senhor pozera<br />
mãos sacrílegas n'um fidalgo, juraram vingança,<br />
e como appareceu o ensejo, estou vingado.<br />
»<br />
O doutor Antonio dos Anjos ficou como<br />
fulminado, e perguntou a seu filho:<br />
— Mas que significa isto? Don<strong>de</strong> parte<br />
esta perseguição e quaes as causas ?<br />
— Eu lhe digo, meu pae; tinha muita intimida<strong>de</strong><br />
em casa do nosso amigo <strong>de</strong>sembargador<br />
Vasconcellos, on<strong>de</strong> ia muitas vezes um<br />
tal D. Francisco Antonio <strong>de</strong> Sarmento e Castro,<br />
filho d'uma casa titular; este fidalgo <strong>de</strong>vasso<br />
e miserável, nutriu um amor criminoso<br />
por D. Carlota, filha mais nova d'aquelle magistrado,<br />
e teve a audacia <strong>de</strong> me propor um<br />
negocio tão infame como o seu caracter.<br />
Pediu-me protecção, para lhe obter uma entrevista<br />
com a pobre menina, para a raptar<br />
e fazel-a sua amante!<br />
(Continua.)
DEFENSOR R>o P o v o — 1 . ° A N N O<br />
COLLECÇÃO PAULO DE KOCK<br />
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Toda a correspondência a José Cunha,<br />
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christal, globos, tubos <strong>de</strong> chumbo, ferro<br />
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Preços especiaes em torneiras e tubos<br />
<strong>de</strong> chumbo e ferro.<br />
Gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> em campainhas eléctricas.<br />
A ECONOMIA DO BICO AUEU<br />
O gasto máximo <strong>de</strong> um BICO AUER,<br />
trabalhando com a sua maior força, é <strong>de</strong><br />
5 réis por cada hora<br />
retirando-se toda a inslallação em <strong>Coimbra</strong><br />
e na Figueira da Foz, caso não <strong>de</strong>r<br />
resultado.<br />
99 — RUA DO VISCONDE DA LUZ — 101<br />
COIMBRA<br />
Venda <strong>de</strong> casas ao Calhabé<br />
Ven<strong>de</strong>m-se duas moradas <strong>de</strong> casas<br />
juntas, sitas ao Calhabé, freguezia da Sé<br />
Nova.<br />
Trata-se no estabelecimento <strong>de</strong> José<br />
Possidonio dos Reis, na Estrada da Beira.<br />
No mesmo estabelecimento se encontram<br />
á venda todas as ferramentas para<br />
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Também se encontra um bom sortido<br />
<strong>de</strong> charruas <strong>de</strong> diversos números e fogões<br />
<strong>de</strong> vários tamanhos.<br />
Encarrega-se <strong>de</strong> toda a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
obra, pertencente a serralheria.<br />
JOSE POSSMIO DOS HEIS<br />
ESTRADA DA BEIRA<br />
COIMBRA.<br />
M. RIBEIRO OSORIO<br />
ALFAIATE<br />
185, 1."—R. Ferreira Borges—185, 1."<br />
Participa aos seus freguezes que<br />
recebeu o sortimento <strong>de</strong> fazendas para a<br />
estação <strong>de</strong> inverno, e por preços baratos<br />
para competir com qualquer outra casa.<br />
1T0 DA COMI<br />
CAIEL1EIBE1B0<br />
Escadas <strong>de</strong> S. Thiago n.° 2<br />
COIMBRA<br />
JQ Ciran<strong>de</strong> sortimento <strong>de</strong> cabelleiras<br />
para anjos, theatros, etc.<br />
ARRENDA-SE<br />
Do S. Miguel <strong>de</strong> 1895 em <strong>de</strong>ante a<br />
casa n.° 1, na rua das Colchas: tem<br />
muito boas commodida<strong>de</strong>s, e a loja n.°<br />
10 da mesma casa; a tratar com José<br />
Luiz Martins d'Araujo, na rua do Yiscon<strong>de</strong><br />
da Luz, 90 a 92.<br />
\<br />
RECLAMES E ANNUNCIOS<br />
DI MACHINAS<br />
Estabelecimento <strong>de</strong> fazendas brancas<br />
ARTIGOS DE NOVIDADE<br />
ALFAIATARIA MODERNA<br />
DE<br />
JOSÉ LUIS MARTINS SE ARAUJO<br />
90, Rua do Yiscon<strong>de</strong> da Luz 92 —COIMBRA<br />
6 O mais antigo estabelecimento n'esta cida<strong>de</strong>, com as verda<strong>de</strong>iras machinas<br />
Singer, on<strong>de</strong> se encontra sempre um verda<strong>de</strong>iro sortido em machinas<br />
<strong>de</strong> costura para alfaiate, sapateiro e costureira, com os últimos aperfeiçoamentos,<br />
garantindo-se ao comprador o bom trabalho da machina pelo espaço <strong>de</strong> 10<br />
annos.<br />
Recebe-se qualquer machina usada em troca <strong>de</strong> novas, transporte grátis<br />
para os compradores <strong>de</strong> fúra da terra e outras garantias. Ensina-se <strong>de</strong> graça,<br />
tanto no mesmo <strong>de</strong>posito como em casa do comprador.<br />
Yen<strong>de</strong>m-se a prazo ou prompto pagamento com gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>scanto.<br />
Concerta-se qualquer machina mesmo que não seja Singer com a maxima<br />
promptidão.<br />
ESTAÇÃO DE INVERNO<br />
Acaba <strong>de</strong> chegar um gran<strong>de</strong> sortido em casimiras próprias para inverno.<br />
Fatos feitos completos com bons forros a 6$500, 7$000, 8$000 réis e mais<br />
preços, capas e batinas preços sem competencia, varinos <strong>de</strong> boa catrapianha<br />
com forro e sem elle <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 5$000 réis para cima, garante-se qualquer obra<br />
feita n'esta alfaiateria, dão-se amostras a quem as pedir.<br />
Tem esta casa dois bons contramestres, <strong>de</strong>ixando-sé ao freguez a preferencia<br />
<strong>de</strong> optar.<br />
Sempre bonito sortido <strong>de</strong> chitas, chailes, lenços <strong>de</strong> seda, ditos <strong>de</strong> Escócia,<br />
camisaria e gravatas muito baratas.<br />
Yen<strong>de</strong>-se oleo, agulhas troçai e sabão <strong>de</strong> seda, e toda a qualquer peça<br />
solta para machinas.<br />
Alugam-se e ven<strong>de</strong>m-se Bi-cycletas.<br />
ESTABELECIMENTO<br />
DE<br />
KWUMI TIRAS E ARMAS DE IOGO<br />
DE<br />
JOÃO GOMES MOREIRA<br />
COIMBRA<br />
5o * RUA DE FERREIRA BORGES * 52<br />
(EM FRENTE DO ARCO D^ALMEDINA I<br />
Ferragens para construcções: J ^ í ^ n S í r S E :<br />
Prpfiariprr" ^ err0 e arame P rirBe ' ra qualida<strong>de</strong> com gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>scontos,<br />
í I cydycllo. —Aviso aos proprietários e mestres d'obras.<br />
rutilaria • Cutilaria nacional e estrangeira dos melhores auctores. EspeuUllIdl<br />
Id . cialida<strong>de</strong> em cutilaria Rodgers.<br />
Faniipirnc • Gr y stoflfi > raelal l,ranc °. cabo d'ebano e marfim, completo<br />
raljUcll Uò . sortido em faqueiros e outros artigos <strong>de</strong> Guimarães.<br />
I nnrac Ínnlp7flC rloforrn- Esmaltada e estanhada, ferro Agate, serviço<br />
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IDO Povo<br />
JORNAL REPUBLICANO<br />
EDITOR — Adolpho da Costa Marques<br />
Redacção e administração—Largo da Freiria, 14, proximo á rua dos Sapateiros<br />
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especial para annuncios permanentes.<br />
MVROS: — Annunciam-se gratuitamente quando se receba um<br />
exemplar.<br />
Impresso na Typographia Operaria — <strong>Coimbra</strong>
.AJXIVO 1.°<br />
Defensor<br />
Ultimo estado da questão<br />
Conlinúa o actual governo da monarchia<br />
a sua obra <strong>de</strong>molidora.<br />
Vão <strong>de</strong>sapparecendo, uma a uma, as<br />
garantias <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> politica e civil.<br />
Somem-se cm um insondável pego <strong>de</strong><br />
retrocesso todos os elementos <strong>de</strong> progresso<br />
e civilisação, com rjue nos haviam dotado<br />
as i<strong>de</strong>ias e as revoluções <strong>de</strong>mocráticas.<br />
A sua mão grosseira, pesada, violenta<br />
vae esmagando lodos os dias, uma a uma,<br />
as liberda<strong>de</strong>s populares.<br />
A sua ignorancia atrevida e a sua inépcia<br />
arrogante argumentam a nossa <strong>de</strong>gradação<br />
politica, accrescenlam a nossa pobreza<br />
economica, cada vez mais compromettem e<br />
rebaixam o nosso credito, a nossa boa reputação.<br />
No dizer, e é possível que no conceito,<br />
dos exlrangeiros, nossos credores, somos<br />
um povo <strong>de</strong> caloleiros, uma quadrilha <strong>de</strong><br />
ladrões.<br />
Assim o propalam, e claramente o affirmam<br />
nas barbas auguslas, invioláveis e sagradas<br />
do rei D. Carlos, que o governo, na<br />
sua imprevidência habitual e característica<br />
e por uma levianda<strong>de</strong> imperdoável, mandou<br />
ou consentiu que fosse visitar os principaes<br />
Eslados da Europa.<br />
Depois <strong>de</strong> haver allraído sobre amonarcliia<br />
os odios e as maldições <strong>de</strong> um povo<br />
inteiro, e convertido a corôa em para raios<br />
das suas responsabilida<strong>de</strong>s tremendas, os<br />
ministros da realeza enviam o seu rei, que<br />
em todo o caso é o chefe politico e o supremo<br />
representante d'esta Nação <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nte<br />
e enxovalhada, em viagem aos paizes exlrangeiros,<br />
expondo o rei e na pessoa do<br />
rei a Nação ao ridículo a ás maiores affrontas,<br />
occasionando ao mesmo lempo <strong>de</strong>sinlelligencias<br />
e conflictos diplomáticos, que<br />
mais complicam, e aggravam a nossa <strong>de</strong>sgraçada<br />
situação politica, precarias e affliclivas<br />
circumslancias economicas.<br />
Que o rei <strong>de</strong> Portugal prosiga na sua<br />
viagem, que o governo persista nos seus<br />
malévolos e criminosos inlenlos O Povo<br />
portuguez saberá um dia, que não vem, que<br />
não po<strong>de</strong>rá"vir longe, repeli ir injurias e castigar<br />
a prolervia dos seus <strong>de</strong>salmados oppressores,<br />
operários da sua ruína e <strong>de</strong>scrédito.<br />
Que o rei caminhe, caminhe pelas côrtes<br />
da Europa, que seja recebido com pompas<br />
no Quirinal, e alcance a benção apostólica<br />
no Vaticano.<br />
Que a realeza gose e se divirta ou conspire,<br />
como dizem, contra a <strong>de</strong>mocracia nas<br />
côrtes <strong>de</strong> Inglaterra, Allemanlia e Áustria.<br />
Que o rei não tenha <strong>de</strong>scanço no seu<br />
corpo, nem socego no seu atlribulado espirito.<br />
Também as i<strong>de</strong>ias republicanas crescem,<br />
e se propagam, Iranquilla e mageslosamente<br />
avançam.<br />
Contra a realeza e contra as instituições<br />
monarchicas lambem conspiram a<br />
opinião publica e a consciência nacional, a<br />
razão livre e a vonta<strong>de</strong> soberana e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />
<strong>de</strong> um Povo, nobre e altivo, cioso dos<br />
seus direitos, amante apaixonado da sua<br />
honra politica, da sua dignida<strong>de</strong> e civismo.<br />
•<br />
Baldado esforço, inútil recurso seria<br />
pois, quando ousassem tenlal-o os inimigos<br />
conjurados da <strong>de</strong>mocracia, adversarios implacáveis<br />
da republica, essa tal e Ião apregoada<br />
intervenção exlrangeira, para especar<br />
o Ihrono e sustentar nelle a realeza, para<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a monarchia, irremediavelmente<br />
con<strong>de</strong>mnada, dos golpes da revolução; —<br />
essa tal inlrevenção armada para reprimir e<br />
severamente castigar os justificados Ímpetos<br />
e dominar as justíssimas reivindicações <strong>de</strong><br />
um povo, que já fundamente aborrece a<br />
realeza e <strong>de</strong>testa os seus ministros, <strong>de</strong> um<br />
povo, que, mais dia menos dia, os ha <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>rribar e proscrever, <strong>de</strong> um povo, que<br />
elles, á fina força, querem continuar a opprimir<br />
e a esmagar impunemente.<br />
—<br />
O panno <strong>de</strong> amostra<br />
As folhas governamentaes botam foguetes<br />
e acen<strong>de</strong>m luminarias porque a Havas—<br />
muito conhecida pelas suas artes — publicou<br />
um telegramma on<strong>de</strong> se via as gran<strong>de</strong>s sympathias<br />
da imprensa itailana, pela <strong>de</strong>cisão do<br />
rei em não visitar a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Roma.<br />
O diabo é que esses fogos-fatuos <strong>de</strong>pressa<br />
se apagaram com o telegramma <strong>de</strong> Roma,<br />
do dia 22, publicado pelo — El Imparcial,<br />
tido e havido por insuspeito :<br />
«Quasi todos os jornaes, incluindo os da opposição,<br />
approvam a conducta do governo italiano, na<br />
questão do fracasso da viagem do rei <strong>de</strong> Portugal;<br />
condueta que dá a conhecer <strong>de</strong> uma maneira clara<br />
e explicita o telegramma da agencia Stefani cujo<br />
texto hontem cominunicámos.<br />
«Além <strong>de</strong> que a dignida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Italia impunha-se<br />
na resolução adoptada pelo ministério estabelecendo<br />
que a legação <strong>de</strong> Italia, em Lisboa, se limite<br />
ao <strong>de</strong>spacho dos negocios<br />
correntes, emquanto o governo portuguez<br />
não recobre a io<strong>de</strong>peu<strong>de</strong>ncia<br />
da sua politica.<br />
«La Tribuna, periodico geralmente bem informado,<br />
<strong>de</strong>clara hoje que o barão Blanc, ministro dos<br />
negocios extrangeiros <strong>de</strong> Italia, adoptará para com<br />
o sr. Vaseoncellos, representante portuguez na<br />
corte do Quirinal, a mesma conducta que o sr.<br />
Cariati, ministro italiano em Lisboa, ha <strong>de</strong> observar<br />
relativamente ao governb portuguez; isto é, limitar-se<br />
ao simples expediente».<br />
São d'este quilate as sympathias que se<br />
apregoam pelos jornaes italianos, que veem<br />
na resolução do rei <strong>de</strong> Portugal uma imposição<br />
do Vaticano a que ce<strong>de</strong>u a cobardia do<br />
governo portuguez, o poltrão mais inepto,<br />
que cobre a divinda<strong>de</strong>!<br />
De nada valeram as habilida<strong>de</strong>s do calcinhas,<br />
o dandy dos extrangeiros, que apanhou<br />
em cheio^do príncipe Cariati, encarregado dos<br />
negocios <strong>de</strong> Italia em Portugal, a seguinte<br />
<strong>de</strong>claração: — a que a legação <strong>de</strong> Italia se limitava<br />
ao <strong>de</strong>spacho dos negocios correntes,<br />
emquanto o governo portugue% não recobrar<br />
a in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia da sua politica.d<br />
E' com esta in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia e altivez que<br />
o governo italiano respon<strong>de</strong> á submissão vergonhosa<br />
d'um ministério, sem força moral<br />
para reagir aos manejos dos reaccionários,<br />
que se impozeram ao rei <strong>de</strong> Portugal, pondo<br />
em cheque seu tio Humberto.<br />
Falla-se que este conflicto será a quéda<br />
do governo.<br />
E' falso para isso seria preciso que houvessem<br />
sentimentos <strong>de</strong> nobreza, dotes <strong>de</strong> civismo,<br />
vergonha e pondonor, virtu<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sconhecidas<br />
por esses traidores do po<strong>de</strong>r que<br />
dominam o paiz, para o arrastarem ás maiores<br />
baixezas, ven<strong>de</strong>ndo a patria á Inglaterra,<br />
como o fez esse cynico ministro da fazenda,<br />
pelo tratado infamante <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> agosto...<br />
Gran<strong>de</strong>s culpas se tem a punir!<br />
Eterna vergonha<br />
O fanfarrão ministro da marinha, que<br />
<strong>de</strong>sembainhou a espada para aggredir os<br />
seus camaradas, anda em vergonhosa viasacra,<br />
a pedir a esmola do perdão. Assim o<br />
dá a enten<strong>de</strong>r nestas palavras o Diário Popular:—«Consta<br />
que o sr. ministro da marinha<br />
procurou ante-hontem á noite o sr. general<br />
Queiroz, commandante geral das guardas municipaes,<br />
afim <strong>de</strong> dar-lhe explicações ácerca<br />
dos <strong>de</strong>sagradaveis inci<strong>de</strong>ntes occorridos no<br />
arsenal da marinha.»<br />
Afirmando também a Tar<strong>de</strong> constar-lhe<br />
que o sr. ministro da marinha procurára para<br />
o mesmo fim o sr. general <strong>de</strong> divisão.<br />
Até um jornal que passa por orgão official<br />
do governo — <strong>de</strong>pois do Século — <strong>de</strong>nuncia<br />
a baixeza do ministro brigão!<br />
Parece que o general <strong>de</strong> divisão não quiz<br />
acceitar essas explicações, que foram impostas<br />
pelos ministros da guerra e reino.<br />
A fera, humil<strong>de</strong> ao castigo dos domadores!<br />
E tudo para ficar!..,<br />
do Povo<br />
COIMBRA —Domingo, 27 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895<br />
MATADOIRO<br />
Tem uma historia muito curiosa esta questão<br />
do matadoiro, ein que a camara se mostrou<br />
muito influída com este melhoramento,<br />
arrefecendo <strong>de</strong> enthusiasmo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que uns<br />
sornas começaram a nutrir caprichos, impedindo<br />
que numa sessão <strong>de</strong> ha dias se não<br />
adjudicasse ao syndicato <strong>de</strong> Lisboa, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
que não tinham havido outros concorrentes.<br />
Expliquemos minuciosamente os extranhos<br />
casos:<br />
No dia 20 d'agosto fechou se o concurso,<br />
aberto pela camara, por espaço <strong>de</strong> 20 dias,<br />
para a adjudicação da construcção e exploração<br />
<strong>de</strong> um matadoiro publico nesta cida<strong>de</strong>,<br />
<strong>de</strong>vendo os concorrentes, além <strong>de</strong> outras<br />
condições <strong>de</strong>terminadas no programma do<br />
concurso, levar os esgotos para a Ribeira <strong>de</strong><br />
Coselhas, por canalisação especial construída<br />
<strong>de</strong> sua conta, e bem assim abrir á sua custa,<br />
quatro avenidas <strong>de</strong> 20 metros <strong>de</strong> largura, em<br />
redor do edifício do matadoiro.<br />
Não appareceu nestas condições, concorrente<br />
algum e apenas a empreza já concessionaria,<br />
por <strong>de</strong>liberação camarada <strong>de</strong> 22 <strong>de</strong><br />
abril, officiou á camara mantendo os termos<br />
do seu pedido <strong>de</strong> concessão conforme noticiámos.<br />
A camara — embora todo o seu zelo pelos<br />
melhoramentos locaes e a boa disposição da<br />
cida<strong>de</strong>, em relação a este negocio — adormeceu<br />
sobre o assumpto, acordando ao cabo <strong>de</strong><br />
3o dias (19 <strong>de</strong> setembro), com a resolução <strong>de</strong><br />
annunciar novo concurso, no prazo <strong>de</strong> 20 dias<br />
nos mesmos termos da primitiva, mas dispensando<br />
os concorrentes da construcção do<br />
tal cano dos esgotos para Coselhas e da abertura<br />
das avenidas.<br />
Este novo concurso terminou no dia 19<br />
do corrente, e a camara veiu a reunir nesse<br />
dia, mas nem na sessão <strong>de</strong> quinta feira 17,<br />
se occupou d'este negocio.<br />
Tem a camara consumido sete me^es,—que<br />
tantos são os que <strong>de</strong>correm <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 19 d'abril,<br />
em que a Emprega Industrial fez em commandita<br />
o pedido <strong>de</strong> concessão, até—hoje sem<br />
avançar um palmo no caminho pratico e viável<br />
para a realisação d'este indispensável<br />
melhoramento.<br />
O nosso collega o Districto <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />
que tanto se louvaminhou com o zelo e atilado<br />
critério da camara, naquella concessão,<br />
quando ella foi tão discutida no collega—Tribuno<br />
Popular — não po<strong>de</strong>rá agora dar-nos a<br />
razão d^ste caminhar <strong>de</strong> caranguejo?<br />
Ninguém melhor que o illustrado co lega<br />
nos po<strong>de</strong>rá informar sobre este ponto, se<br />
ainda não mudou <strong>de</strong> opinião quanto á utilida<strong>de</strong><br />
do matadoiro, e quanto ao projecto<br />
apresentado pelos concessionários <strong>de</strong> Lisboa.<br />
Porque ainda o publico não sabe as vantagens<br />
superiores que a companhia constructora<br />
e exploradora do matadoiro oíferece<br />
sobre o actual. Em o sabendo, melhor apreciará<br />
o <strong>de</strong>sleixo da camara, neste assumpto,<br />
e quanto tem sido con<strong>de</strong>mnavel a sua indifferença,<br />
vendo ao mesmo tempo a injustiça dos<br />
louvores, que, á camara manicipal dirigiu<br />
em tempos, o collega do Districto <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />
Entraremos <strong>de</strong> vez, no assumpto, para o<br />
proximo numero, por quanto precisamos<br />
obter mais informações, a po<strong>de</strong>rmos assegurar<br />
aos nossos leitores, quanto é importante<br />
para <strong>Coimbra</strong> que se realisasse este<br />
melhoramento.<br />
Para que se possa fazer uma i<strong>de</strong>ia approximada<br />
do que seria esse grandioso edifício<br />
tanto externa, como internamente, visite o<br />
publico a — Papelaria Central — ao principio<br />
da rua do Viscon<strong>de</strong> da Luz, e <strong>de</strong>pois nos<br />
dirá o que merece a maioria da camara, com<br />
vereadores que andam a promover o adiamento<br />
da concessão, que, como dissemos, só<br />
falta ser adjudicada, pois que a empreza está<br />
habilitada a proce<strong>de</strong>r á obra immediatamente.<br />
Isto havia <strong>de</strong> ser na Figueira.<br />
E' que a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> jaquetas é <strong>de</strong> superior<br />
panno.<br />
Calote fra<strong>de</strong>sco<br />
Deu se principio aos processos contra as<br />
corporações religiosas em França, que se recusavam<br />
terminantemente a satisfazer o imposto<br />
<strong>de</strong> rendimento em divida.<br />
A congregação dos padres d^ssumpção<br />
que tem a sua sé<strong>de</strong> em Paris, na rua Francisco<br />
I, foi citada a pagar uns 80:000 francos.<br />
Os mesmos padres imprimem um jornal<br />
— A Cru\, <strong>de</strong> sua proprieda<strong>de</strong>.<br />
Também — A Verda<strong>de</strong> — jornal religioso<br />
tem calote e a cada um dos proprietários fo-<br />
I ram entregues citações, cujos nomes foram<br />
registados.<br />
Ora os padres nem á mão <strong>de</strong> Deus Padre,<br />
querem fazer o pagamento do imposto,<br />
e colligados recusa am-se formalmente. Em<br />
breve os surprehen<strong>de</strong>rá a penhora.<br />
E nem o padre santo lhes vale!...<br />
Tar<strong>de</strong> piaste!...<br />
1<br />
Fr. Zé dos Quraçóes reuniu ha dias, em<br />
S. Vicente, todo o clero do seu patriarchado<br />
para tratar <strong>de</strong> impedir quanto possa o enterramento<br />
civil. Não se importa nem com o<br />
casamento, nem com o baptisado.<br />
Boa alma! E 1 para livrar o morto das<br />
penas do inferno !.. .<br />
Quem não tem que fazer...<br />
Fallar alto!<br />
A Província, progressista portuense, fatiando<br />
da expedição da Índia, nota a falta do<br />
sr. D. Carlos ao seu embarque a bordo do<br />
Zaire, e diz assim :<br />
«Queríamos hoje ver alli no arsenal, <strong>de</strong>spedindo-se<br />
dos expedicionários, el-rei D. Carlos.<br />
Alli é que era o seu logar. Quando a patria está<br />
encarregada por tantas e tão terrivi is crises, por<br />
tantas e tão repetidas angustias, pensa-se oomo a<br />
rainha regente <strong>de</strong> Hespanha <strong>de</strong> quem ha pouco<br />
ainda lémos ter dito, a proposito da sua visita a<br />
Portugal, que não sairia do seu paiz emquanto o<br />
assoberbassem tão graves cuidados.»<br />
Bem se se importa o rei e o roque com<br />
esses centenares <strong>de</strong> valentes, que vão por<br />
esses mares em honrosa missão patriótica ?<br />
A quem doer a cabeça — que a aperte.<br />
XXII<br />
O preço dos paços<br />
Não nos custam os paços só o preço da<br />
lista civil. Elles levam-nos o ouro por muitos<br />
modos.<br />
Num dos últimos números do Diário Popular<br />
lê-se o seguinte :<br />
«O ministro das obras publicas vae mandar<br />
arranjar a rua do Cruzeiro em Ajuda,<br />
porque sua magesta<strong>de</strong> a rainha mostrou <strong>de</strong>sejos<br />
d'essa reconstrucção».<br />
Vejam como o ministro das obras publicas<br />
serve aos <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> sua magesta<strong>de</strong>.<br />
E' Lobo d'Avila a querer ter ascen<strong>de</strong>nte<br />
no paço, comprando ò favor real com os dinheiros<br />
da nação.<br />
Faz-se uma estrada não como melhoramento<br />
publico; mas como capricho particular<br />
!<br />
Quando o povo pe<strong>de</strong> que se melhore o<br />
transito, é surdo o governo; mas quando nos<br />
paços se mostram <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> uma estrada, o<br />
ministro é prompto em obe<strong>de</strong>cer!<br />
E dizem que o rei reina e não governa.<br />
Nós ao contrario vemos que não só governa<br />
o rei; mas governa a rainha também.<br />
Para as estradas que o povo pe<strong>de</strong>, não<br />
ha dinheiro; para aquellas que os reis <strong>de</strong>sejam,<br />
sobram os capitaes !<br />
E <strong>de</strong>ante <strong>de</strong> tantos exemplos dos paços,<br />
continuar-se-ha o povo a illudir com o phantasma<br />
da liberda<strong>de</strong> ?<br />
D'aqui para o futuro, quando o povo quizer<br />
estradas não requeira nem ao parlamento<br />
nem ás obras publicas; metta por empenho<br />
o paço, e estará servido. Depois <strong>de</strong> todos<br />
os caprichos da camarilha, digam-nos, se<br />
sabem:<br />
— Qual é o preço dos paços?
DEFENSOR DO POVO-1- 0 ANNO Domingo, 27 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895 — N.° 52<br />
Sciencias, lettras e artes<br />
.A.S G i ^ I ^ - I D ^ - S<br />
(Timotro Trin)<br />
VERSVO LIVRE DO HESPANHOL<br />
Ha alguns dias fui visitar D. Marquinhas,<br />
senhora dos seus cincoenta annos, bem puchados,<br />
casada, sem filhos, séria, grave e extremamente<br />
magra. Seu marido é o reverso<br />
da medalha; não só é summamente gordo,<br />
mas alegre e folgazão como poucos.<br />
O rendimento que disfructa este casal,<br />
ainda que não muito gran<strong>de</strong>, chega todavia<br />
para as necessida<strong>de</strong>s da vida; e os dois cônjuges<br />
seriam completamente felizes, se não<br />
fossem... as criadas. D. Marquinhas não<br />
arranja uma só que lhe agra<strong>de</strong>. Eis a historia<br />
das que têm tido até ao presente, como<br />
durante a visita me contaram.<br />
•<br />
A primeira creada que tivemos, começou<br />
D. Marquinhas, chamava-se Manuela. Era<br />
pallida pela manhã, e corada á tar<strong>de</strong>. Meu<br />
marido não extranhava que a rapariga mudasse<br />
tão rapidamente <strong>de</strong> côr. Dizia-me o<br />
tonto, para não lhe chamar cousa peor, que<br />
essa mudança era signal <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong>;<br />
gastava-se, porém, muito vinho, era uma<br />
cousa por maior!<br />
Eu punha signaes nas garrafas; encontrava<br />
os signaes, mas o vinho <strong>de</strong>sapparecia<br />
como por encanto!<br />
No entretanto, não encontrava meio <strong>de</strong><br />
lhe lançar as culpas; <strong>de</strong> tornar a Manuela<br />
responsável pelo <strong>de</strong>sfalque.<br />
Uma noite, porém, encontrei-a dansando<br />
no meio da cozinha, bebeda como um cacho.<br />
Immediatamente puz na rua aquella mulher,<br />
apezar dos rogos <strong>de</strong> meu marido, que<br />
a <strong>de</strong>sculpava...<br />
E' que os homens hão <strong>de</strong> ser sempre tolerantes<br />
com todas a-s mulheres, quando não<br />
sejam as suas.<br />
•<br />
A creada, que em seguida tomei, chamava-se<br />
Gregoria; era gailega, recem-chegada<br />
da terra; não bebia senão agua, e até á agua<br />
tinha embirração; era um castigo para ella lavar<br />
as chavenas, os pratos, os copos, etc.,<br />
e sobre tudo esfregar as mesas e o soalho da<br />
cozinha.<br />
Não podia ver Apolo, um gato que, renunciando<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua infanda, ás vaida<strong>de</strong>s<br />
do mundo, passava os dias inteiros <strong>de</strong>itado<br />
sobre a minha cama.<br />
Tudo se quebrava em casa; e cada vez<br />
que lhe perguntava por qualquer objecto que<br />
havia <strong>de</strong>sapparecido, respondia-me Gregoria<br />
invariavelmente:<br />
— Senhora, foi o gato, senhora.<br />
O gato quebrava vasos, pratos, panellas,<br />
copos, tudo emfim.<br />
Durante um mez que a tive em casa, não<br />
me <strong>de</strong>ixou a maldita na cozinha nem na sala<br />
<strong>de</strong> jantar peça alguma inteira.<br />
Além cfisto, e ainda por cima, tudo o que<br />
havia na dispensa diminuía a olhos vistos,<br />
prodigiosamente; biscoutos, chouriços, presunto,<br />
leite, queijo, ovos, tudo, tudo era <strong>de</strong>vorado<br />
pelo pobre e inoffensivo gato, que<br />
nunca se levantava <strong>de</strong> sobre a minha cama.<br />
Um bello dia apanhei-a, como se costuma<br />
dizer, com a bôcca na botija; estava bebendo<br />
um copo <strong>de</strong> leite, e vi que o quebrava logo<br />
em seguida.<br />
A maldita <strong>de</strong>struía assim por uma só vez<br />
o continente e o conteúdo.<br />
Não me convindo ter gato e gata <strong>de</strong>spedi<br />
a gata, e apregoei por toda a visinhança a<br />
innocencia do gato.<br />
•<br />
Depois da Gregoria ajustei uma rapariga<br />
forte, limpa, amavel; parecia, porém, da família<br />
<strong>de</strong> Jacob.<br />
Chamava-se Ramona, tinha pae, madrasta,<br />
avó e avô <strong>de</strong> pae, avó e avô da madrasta,<br />
avô e avó da mãe, irmãos, primos, tios, sobrinhos<br />
e um punhado <strong>de</strong> afilhados.<br />
Sempre tinha <strong>de</strong> visita na cozinha pelo<br />
menos, tres parentes seus.<br />
Tinha sempre algum que ficava a almoçar<br />
ou a jantar, e ás vezes, até a dormir.<br />
Em oito dias arrancaram-me os puchadores<br />
da campainha; em uma vez <strong>de</strong>ixaram-me<br />
sem roupa usada, tanto <strong>de</strong> meu marido como<br />
minha; pediam-m'a toda ou a levavam sem<br />
auctorisação. Emfim tive que mandar embora<br />
a Ramona, e resolvi tomar uma creada<br />
que fosse orphã <strong>de</strong> pae, mãe, e não tivesse<br />
nem avós, nem tios.<br />
•<br />
Maria Joanna era uma formosa biscainha<br />
muito arranjadinha, não tinha outro <strong>de</strong>feito<br />
senão <strong>de</strong>morar-se para ir <strong>de</strong> casa á loja da<br />
esquina; levava tanto tempo seguramente,<br />
como quem fosse <strong>de</strong> Madrid a Leganés.<br />
Encontrava quasi sempre um primoj se o po-<br />
bre rapaz coitado! não tinha outra familia<br />
além d'ella...<br />
Como não era má <strong>de</strong> todo, cozinhava regularmente,<br />
limpava o pó cada oito dias, e<br />
engommava menos mal as camisas para<br />
meu marido; disse-lhe, para evitar <strong>de</strong>moras,<br />
quando a mandava á rua, que consentia ao<br />
primo vir visital-a a minha casa, uma vez<br />
que fosse por pouco tempo.<br />
Veio o primo, com quem nunca fallei; notei<br />
porém, que o primo trazia umas vezes o<br />
uniforme <strong>de</strong> cavallaria, noutras o <strong>de</strong> artilheria,<br />
noutras o <strong>de</strong> engenheria e ainda noutras<br />
o <strong>de</strong> policia.<br />
Não <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> me <strong>de</strong>spertar curiosida<strong>de</strong><br />
aquelle soldado que pretencia a todas as armas.<br />
Cada dia era seu primo.<br />
Paguei-lhe a soldada; e disse-lhe que fosse<br />
para os primos.<br />
Resolvi então tomar uma creada <strong>de</strong> meia<br />
eda<strong>de</strong>, sizuda e que não fosse doida.<br />
•<br />
Minha filha — disse-lhe ao referir-me á<br />
Salvadora — não gosto <strong>de</strong> gente trapalhona<br />
e embusteira, quero que digam a verda<strong>de</strong> antes<br />
que seja contra mim.<br />
Não sabia eu que mulher tinha ao meu<br />
serviço. ..<br />
A maldita dizia a verda<strong>de</strong>: e uma das<br />
verda<strong>de</strong>s que ella dizia a toda a visinhança,<br />
era que eu era feia, que tinha brancas, que<br />
meu marido me <strong>de</strong>sprezava, que comíamos<br />
mal, etc.<br />
Em fim taes verda<strong>de</strong>s dizia a falla<strong>de</strong>ira<br />
da Salvadora, que me vi na necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
a <strong>de</strong>spedir, e quanto antes, para evitar que<br />
Madrid inteira soubesse uma serie <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>s,<br />
que a ninguém importam mas que não<br />
convinha que se soubessem.<br />
(Continua)<br />
Presagios!...<br />
GABIRU.<br />
Com ares <strong>de</strong> propheta e <strong>de</strong> quem lê no<br />
futuro, a Província presagia:<br />
«Todas as censuras, todos os commentarios<br />
<strong>de</strong>sfavoráveis são para a pessoa do rei, que o paiz<br />
aponta como o único culpado dos golpes d'estado<br />
que se lem dado durante a nefasta gerencia do<br />
actual governo. Lá fóra o sr. D. Carlos é consi<strong>de</strong>rado<br />
como rei <strong>de</strong> ladrões e como mantenedor<br />
<strong>de</strong> um governo <strong>de</strong> imbecis.<br />
«Estava escripto que os ministros actuaes, haviam<br />
<strong>de</strong> ser coveiros da monarchia.<br />
«Os fados tinham <strong>de</strong> se cumprir.»<br />
Pelo que se <strong>de</strong>prehen<strong>de</strong> que os ministros<br />
são os coveiros da monarchia. E quem serão<br />
os dos ministros e os dos outros?<br />
MM<br />
Entre Portugal e a Italia<br />
O conflicto que está latente entre as monarchias<br />
das duas nações, ainda é obra dos<br />
nefastos dictadores, que ha tres annos vem<br />
arrazando o paiz, lançando sobre elle a <strong>de</strong>shonra,<br />
o opprobio, escravisando-o á ambição<br />
da Inglaterra, que já o esmagou com a vergonha<br />
do ultimatum, que fez do actual presi<strong>de</strong>nte<br />
do conselho um traidor, corrido do<br />
parlamento!<br />
E é a nação pirata que vae ser visitada<br />
pelo rei <strong>de</strong> Portugal, como o vae ser a Allemanha,<br />
que não ha passados muitos mezes<br />
que em Keonga, se arreava a ban<strong>de</strong>ira portugueza,<br />
no meio d'um vergonhoso silencio<br />
da parte do nosso governo.<br />
E' grave o conflicto com a Italia e isso<br />
mesmo se nota nos telegrammas da Havas,<br />
que, se não dizem tudo quanto se passa, <strong>de</strong>ixam<br />
ver qual a attitu<strong>de</strong> do ministério italiano.<br />
O Imparcial, <strong>de</strong> Madrid, melhor informado,<br />
por noticiam expedidas pela Fabra, põe<br />
a questão claramente, publicando o seguinte<br />
telegramma <strong>de</strong> Roma em data <strong>de</strong> 21:<br />
«0 sr. Soveral <strong>de</strong>clarou ao encarregado <strong>de</strong> negocios<br />
da Italia, o sr. Cariati, que Portugal tinha<br />
manifestado espontaneamente a sua boa vonta<strong>de</strong>,<br />
annunciando ofíicial e publicamente, pelo representante<br />
portuguez, o sr. Carvalho e Vasconcellos,<br />
a sua intenção <strong>de</strong> visitar o Quirinal; mas<br />
que, <strong>de</strong>ante da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
S. S. Leão XIII fazer retirar o<br />
Núncio apostoIico <strong>de</strong> Lisboa e<br />
o perigo <strong>de</strong> complicação internas,<br />
talvez; mais graves, tivera<br />
que <strong>de</strong>sistir do projecto.<br />
«O sr. Cariati respon<strong>de</strong>u, conforme ás instrucções<br />
recebidas, que o governo italiano lamentava<br />
a ditticil situação em que<br />
o <strong>de</strong> Portugal <strong>de</strong>clarava encontrar-se,<br />
fazendo votos amigáveis<br />
por que recobre a in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia<br />
da sua politica. Emquanto<br />
isso uão succe<strong>de</strong>r, a legação<br />
<strong>de</strong> Italia em Lisboa limitai--se-ha<br />
a <strong>de</strong>spachar os negócios<br />
correntes.»<br />
E d'aqui se <strong>de</strong>prehen<strong>de</strong> que o sr. D.<br />
Carlos não foi a Roma, nem vae, por sub-<br />
missão ao papa, por temer a retirada do<br />
núncio <strong>de</strong> Lisboa!<br />
Óptimos serviços nos está prestando a viagem<br />
do rei, que nos vae trazendo a animadversão<br />
da Italia, — a patria <strong>de</strong> Victor Manuel,<br />
a patria <strong>de</strong> seu avô materno 1<br />
VL<br />
0 nosso chufe <strong>de</strong> estado,<br />
<strong>de</strong> Roma sempre se escapa<br />
já não é excommungado...<br />
fica compadre do papa I<br />
Que diria o padre Eterno I<br />
Anjo bento I Abrenuntio!<br />
Em morrendo ir p'ro inferno..<br />
e em vida ficar sem Núncio I<br />
Antes estar bem com Deus<br />
e do Diabo liberto!<br />
Vá p'ro pago<strong>de</strong>. Ora a<strong>de</strong>us I<br />
Man<strong>de</strong> á fava o tio Humberto!<br />
O papa é clemente<br />
(eu esta i<strong>de</strong>ia farisco)<br />
dá-lhe a benção, juntamente,<br />
as armas <strong>de</strong> S. Francisco.<br />
Fríi -Dique.<br />
Movimento republicano<br />
O sr. José Victorino <strong>de</strong> Mattos, um dos<br />
mais importantes proprietários <strong>de</strong> Borba e<br />
quarenta maior contribuinte d'aquelle concelho,<br />
dirigiu uma carta ao ex-<strong>de</strong>putado republicano,<br />
sr. Gomes da Silva, na qual lhe pe<strong>de</strong><br />
que faça saber ao directorio do partido republicano,<br />
que se filiou <strong>de</strong>finitivamente no<br />
gran<strong>de</strong> partido do povo e pelo povo.<br />
E' uma adhesão valiosa.<br />
Os republicanos do Porto disputam a<br />
eleição municipal.<br />
Como se sabe a abstenção é só quanto<br />
ás eleições <strong>de</strong> <strong>de</strong>putados.<br />
Em Braga reuniram-se na redacção do<br />
jornal republicano A Patria muitos membros<br />
do partido republicano bracarense.<br />
Tratou-se <strong>de</strong> assumotos eleitoraes.<br />
Os republicanos <strong>de</strong> Lisboa resolveram e<br />
muito bem, não disputarem as eleições camararias.<br />
Assumptos <strong>de</strong> interesse local<br />
Para a índia<br />
O Século rectifica um mal entendido dalguns<br />
jornaes, dizendo que o major, sr. Francisco<br />
Martins <strong>de</strong> Carvalho, filho do digno<br />
redactor do Conimbricense, fazia parte do<br />
corpo expedicionário. Não é assim...<br />
O sr. major foi convidado a tomar o cominando<br />
das forças da guarnição do estado da<br />
índia, que em virtu<strong>de</strong> da revolta têm <strong>de</strong> ser<br />
completamente reorganisadas.<br />
O convite é honroso para o illustre oflicial<br />
que em Lourenço Marques prestou relevantes<br />
serviços, combatendo com valentia os<br />
gentios do Gongunhana.<br />
Da Europa partem com elle dois capitães,<br />
srs. Júdice <strong>de</strong> artilheria e Men<strong>de</strong>s, d'infanteria,<br />
para o servirem, sob seu commando,<br />
nas forças militares da índia.<br />
Boa viagem, e que a felicida<strong>de</strong> lhe seja<br />
propicia e a victoria certa.<br />
Concerto vocal e musical<br />
Joaquim Tavares, o applaudido tenor portuguez,<br />
trata <strong>de</strong> organisar, para o dia 6 <strong>de</strong><br />
novembro, no theatro Príncipe Real, um explendido<br />
concerto vocal e instrumental, sendo<br />
coadjuvado por distinctos artistas e amadores,<br />
que abrilhantarão esta festa artística.<br />
O programma é escolhido, as melhores<br />
operas, dos mais notáveis maestros italianos,<br />
francezes e allemães, serão cantadas pelo reputado<br />
tenor, Joaquim Tavares — que tem<br />
recebido no extrangeiro, e ultimamente no<br />
Porto, as maiores manifestações <strong>de</strong> agrado<br />
— e pelas cantoras, a celebre Brambilla e a<br />
distincta Fassine.<br />
Artistas <strong>de</strong> reconhecido mérito e também<br />
amadores farão a parte musical, e um sexteto<br />
executará magníficos trechos musicaes.<br />
Como se vê é um sarau attrahente, por<br />
artistas <strong>de</strong> nome, como são Tavares, Brambilla<br />
e Fassine, que bem merecem o auxilio<br />
do publico.<br />
Brevemente se distribuirá o programma.<br />
Dissertações<br />
Os dois candidatos a conclusões magnas<br />
na faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> mathematica já distribuíram<br />
pelos professores as suas dissertações.<br />
A do sr. Santos Lucas, intitula-se — Transformações<br />
<strong>de</strong> contacto; a do sr. Silva Bastos<br />
— Sobre a equação <strong>de</strong> Laplace a ires variaveis.<br />
E' em novembro que irão a actos maiores.<br />
Casa Havaneza<br />
No seu genero, a Casa Havanesa, é a primeira<br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, porque o seu proprietário,<br />
sr. Adriano Marques, que prima em ter<br />
á venda os melhores artigos em bijouterias,<br />
manda vir do extangeiro o que ha <strong>de</strong> mais<br />
mo<strong>de</strong>rnas manufacturas <strong>de</strong>corativas.<br />
Recebeu ha dias uma escolhida collecção<br />
<strong>de</strong> toalhas <strong>de</strong> mesa e <strong>de</strong> mão, que são uma<br />
completa novida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> matizadas cores, formando<br />
bonitos <strong>de</strong>senhos.<br />
As toalhas <strong>de</strong> mesa são <strong>de</strong> linho e as <strong>de</strong><br />
mãos <strong>de</strong> algodão felpudo.<br />
A escolha revela o apurado gosto do sr.<br />
Adriano, que tem, no seu estabelecimento,<br />
os mais mo<strong>de</strong>rnos artigos <strong>de</strong>corativos para<br />
salas, escriptorios, toilettes, etc. — porisso<br />
mesmo que a collecção das toalhas está quasi<br />
vendida.<br />
Be<strong>de</strong>l em theologia<br />
Foi nomeado para be<strong>de</strong>l da faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
theologia, o sr. Francisco Lopes <strong>de</strong> Lima<br />
Macedo, empregado interino na bibliotheca<br />
da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, on<strong>de</strong> sempre foi estimado,<br />
pelos seus dotes <strong>de</strong> empregado cumpridor.<br />
Regosija-nos esta nomeação, se bem que<br />
soubemos da cilada que se lhe preparava,<br />
mas que felizmente os seus superiores inutisaram,<br />
fazendo-lbe justiça ao seu caracter e<br />
ao seu porte, preferindo-o, e obtendo-lhe a<br />
sua nomeação.<br />
Muitos parabéns—e sinceros.<br />
Hospício districtal<br />
Durante o mez <strong>de</strong> setembro findo, o hospício<br />
dos expostos abandonados teve o seguinte<br />
movimento:<br />
Existiam no primeiro dia, 27 expostos do<br />
sexo masculino e 40 do feminino ; 14 <strong>de</strong>svalidos<br />
do sexo masculino e 7 do feminino.<br />
Entraram, até 3o do mesmo mez; 3 <strong>de</strong>svalidos<br />
do sexo masculino.<br />
Foi reclamado: 1 <strong>de</strong>svalido do sexo masculino.<br />
Falleceu: 1 <strong>de</strong>svalido do sexo masculino.<br />
lnterdtcção<br />
Foi requerido exame <strong>de</strong> sanida<strong>de</strong> a Maria<br />
da Encarnação Rebello, em virtu<strong>de</strong> d'um<br />
processo <strong>de</strong> interdicção que corre nos tribunaes<br />
d esta cida<strong>de</strong>.<br />
Os peritos, srs. drs. Augusto Rocha, Annibal<br />
Maia e João Jacintho, que proce<strong>de</strong>ram<br />
ao exame foram concor<strong>de</strong>s em julgal-a incapaz<br />
<strong>de</strong> administrar a sua pessoa e bens.<br />
Em presença d^sta <strong>de</strong>claração o conselho<br />
<strong>de</strong> familia vae tomar conta do espolio<br />
que ella herdou por morte <strong>de</strong> seu pae, João<br />
<strong>de</strong> Sousa Rebello.<br />
Medico<br />
O nosso bom amigo sr. dr. Hirminio<br />
Soares Machado, distincto medico <strong>de</strong> partido<br />
em Verri<strong>de</strong>, encontra-se nesta cida<strong>de</strong><br />
um pouco incommodado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />
Desejamos-lhe promptas melhoras para<br />
que a sua falta se não torne sensível em Verri<strong>de</strong>,<br />
on<strong>de</strong> conta as maiores sympathias, pela<br />
sua <strong>de</strong>dicação e fino trato' social.<br />
«Salomé e outros poemas»<br />
E' o titulo <strong>de</strong> um novo trabalho litterario,<br />
e que o eminente poeta conimbricense, sr.<br />
Eugénio <strong>de</strong> Castro, vae expor á venda.<br />
Não ha muito que nos <strong>de</strong>u uma joia litteraria<br />
e já hoje o seu notável talento vêm<br />
enriquecer as lettras com mais outra, que<br />
nos dizem <strong>de</strong> subido valor.<br />
Festivida<strong>de</strong><br />
Na capellinha <strong>de</strong> Nossa Senhora da Esperança,<br />
que fica no alto <strong>de</strong> Santa Clara,<br />
fazem-lhe hoje gran<strong>de</strong> festa: missa cantada<br />
e tocada a instrumental, <strong>de</strong> manhã, e <strong>de</strong><br />
tar<strong>de</strong>, ás 4 horas, sermão pelo académico do<br />
2. 0 anno <strong>de</strong> direito, sr. padre Macario da<br />
Silva, cantando-se a ladainha. Arraial e arrematação<br />
<strong>de</strong> bolos.<br />
Cochicham-nos ao ouvido esta novida<strong>de</strong>:<br />
— que as tricaninhas do sitio, em honra <strong>de</strong><br />
Nossa Senhora, preparam uma gran<strong>de</strong> dança...<br />
e mais: que o Antonio Figo é o<br />
mandador. Elle assim será!<br />
Infame aggressâo<br />
Bernardo Corrêa, resi<strong>de</strong>nte no logar <strong>de</strong><br />
Monte-são, proximo <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, praticou o<br />
inqualificável crime <strong>de</strong> aggredir com pancadas,<br />
sua própria mãe!<br />
O meritissimo juiz sr. dr. Neves e Castro,<br />
por certo ha <strong>de</strong> castigar o malvado que<br />
tão barbaramente offen<strong>de</strong>u os mais rudimentares<br />
preceitos da moral.<br />
No commissariado <strong>de</strong> policia foi já lavrado<br />
o competente auto e enviado para o tribunal.
I > E E E N S O Í I i>o P o v o — l. e ANNO Domingo, 27 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895 — N.° 52<br />
Yarias noticias<br />
O sr. dr. Clemente <strong>de</strong> Carvalho, professor<br />
<strong>de</strong> philosophia no lyceu d'esta cida<strong>de</strong>,<br />
vae pedir a sua reforma.<br />
•<br />
Já regressou a <strong>Coimbra</strong> e reassumiu a<br />
gerencia da sua ca<strong>de</strong>ira, o sr. dr. Avelino<br />
Callixto.<br />
•<br />
Ainda enfermo o sr. dr. Ruben d'Ameida<br />
Araujo Pinto, que está residindo em Santo<br />
Antonio dos Olivaes.<br />
Desejamos-lhe um breve restabelecimento.<br />
O único candidato ao concurso dos dois<br />
logares para o professorado na faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
theologia, foi o sr. dr. Joaquim Men<strong>de</strong>s dos<br />
Remedios, laureado académico.<br />
Em cárcere privado<br />
A auctorida<strong>de</strong> judicial e os clínicos, srs.<br />
drs. Joaquim Martins Teixeira <strong>de</strong> Carvalho<br />
e Annibal Maia foram ha dias proce<strong>de</strong>r ao<br />
exame <strong>de</strong> Maria Rosa, a Rios-Frios, a quem<br />
uns sobrinhos seus her<strong>de</strong>iros, <strong>de</strong>ram a reclusão,<br />
conforme noticiámos em o numero<br />
passado.<br />
Diz-se que do exame que se fez ao cadaver<br />
se verificára que a morte foi natural, não<br />
apresentando vestígios <strong>de</strong> violência, comtudo<br />
a participação para juizo não é muito favoravel<br />
aos sobrinhos da fallecida.<br />
Boubo<br />
Os gatunos arrombaram numa das noites<br />
passadas uma porta da camara ecclesiastica,<br />
introduzindo-se por ella na secretaria,<br />
forçaram as gavetas d'uma mesa e roubaram<br />
uma quantia superior a 20HP000 réis, e <strong>de</strong>pois...<br />
evadiram-se.<br />
Ora como já este anno é a segunda proeza<br />
que alli acontece, parece-nos que ao sr. commissario<br />
<strong>de</strong> policia não seria diffictl <strong>de</strong>itar a<br />
mão aos criminosos.<br />
Sorteio <strong>de</strong> recrutas<br />
Foi <strong>de</strong>terminado que o sorteio dos recrutas<br />
inscriptos no recenseamento militar d'este<br />
anno, se faça no dia 7 <strong>de</strong> novembro proximo,<br />
nas salas dos paços do concelho.<br />
Divisão eleitoral<br />
Pela nova reforma administrativa a divisão<br />
eleitoral do districto <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> é a<br />
seguinte:<br />
As freguezias <strong>de</strong> S. Martinho e Pombeiro,<br />
do concelho <strong>de</strong> Arganil, ficam constituindo<br />
<strong>de</strong> per si uma assembleia eleitoral, com sé<strong>de</strong><br />
na ultima freguezia. As <strong>de</strong> Santo André e<br />
S.Miguel <strong>de</strong> Poiares, Louzã, uma assembleia<br />
â eleitoral, com sé<strong>de</strong> na freguezia <strong>de</strong> Poiares.<br />
* As <strong>de</strong> Penacova, Carvalho e Oliveira <strong>de</strong><br />
Cunhedo, concelho <strong>de</strong> Penacova, uma assembleia<br />
eleitoral, com sé<strong>de</strong> em Penacova. As<br />
<strong>de</strong> Santa Maria d'Arrifana, Friumes e S. José<br />
<strong>de</strong> Lavegadas, uma assembleia eleitoral, com<br />
sé<strong>de</strong> em Arrifana. As <strong>de</strong> Degracias, Redinha<br />
e Tapeus, concelho <strong>de</strong> Soure, uma assembleia<br />
eleitoral, com sé<strong>de</strong> em Degracias. As<br />
<strong>de</strong> Carapinheira, Covellos, Meda, Mouros,<br />
Mouronho, Para<strong>de</strong>lla, S. Paio, S. Pedro <strong>de</strong><br />
Alva, e Travanca ficam constituindo no concelho<br />
<strong>de</strong> Taboa uma assembleia eleitoral,<br />
com sé<strong>de</strong> em Carapinha.<br />
23 Folhetim—«Defensor do Povo»<br />
0 CORSÁRIO PORTIGIEZ<br />
ROMANCE MARÍTIMO<br />
ORIGINAL DE<br />
CAPITULO V<br />
Fidalgo e plebeu<br />
«Escusado é dizer que recusei indignado;<br />
e como insistiu, fustiguei-o com a ponta do<br />
pé, receiando sujar as minhas mãos naquellas<br />
faces <strong>de</strong>slavadas. Agora já sabe as causas e<br />
quem são os meus inimigos!<br />
— Homem, o mal está feito! Parte meu<br />
filho, parte para Inglarerra, para essa nação<br />
<strong>de</strong> homens livres, e aon<strong>de</strong> os fóros da consciência<br />
são respeitados.<br />
«Se a França não estivesse em guerra<br />
com o nosso paiz, aconselhava-te que fosses<br />
servir sob a sua gloriosa ban<strong>de</strong>ira. A ban<strong>de</strong>ira<br />
tricolor é um penhor <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>, é a<br />
gloria da França e <strong>de</strong> todas as nações que a<br />
adoptarem!<br />
«Mas a França está em guerra com Por-<br />
IVov:t disciplina<br />
Matriculou-se no primeiro anno da faculda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> mathematica, a sr. a D. Domitilla<br />
Hormezinda <strong>de</strong> Carvalho, que no ultimo anno<br />
lectivo concluiu distinctamente a sua formatura<br />
em philosophia.<br />
Sá <strong>de</strong> Miranda<br />
Foi <strong>de</strong>liberado pelo Instituto que a solemnisação<br />
que se projectava para commemorar<br />
o centenário do lyrico poeta conimbricense,<br />
Sá <strong>de</strong> Miranda fosse transferidas para<br />
março do anno proximo.<br />
Cemiterio da Conchada<br />
Na semana finda em 15, enterraram-se os seguintes<br />
cadaveres:<br />
Rosa, filha <strong>de</strong> Adolpho dos Santos Pereira e Emilia<br />
Maria da Conceição, <strong>de</strong> Bordalfo, <strong>de</strong> 5 annos. Falleceu<br />
no dia 8.<br />
Maria, filha <strong>de</strong> Alfredo Maria e Maria dos Prazeres,<br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong> 28 mezes. Falleceu no dia 9.<br />
Virginia da Costa, filha <strong>de</strong> Francisco <strong>de</strong> Assis e<br />
Costa, e Joanna Maria, <strong>de</strong> Sernache, <strong>de</strong> 44 annos. Falleceu<br />
no dia li.<br />
Maria Justina Forte, filha <strong>de</strong> Francisco Forte e Theodoro<br />
<strong>de</strong> Jesus, <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong> 85 annos. Falleceu no<br />
dia 12.<br />
Total dos cadaveres enterrados n'este cemiterio —<br />
18:009.<br />
Na semana finda em 20 enterraram-se os seguintes<br />
cadaveres:<br />
Cidalina, filha <strong>de</strong> Joaquim Noronha da Silveira e<br />
Maria Ferreira da Cruz, <strong>de</strong> 18 mezes, <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />
Falleceu no dia 16.<br />
Theresa Emilia da Costa, filha <strong>de</strong> José Antonio, <strong>de</strong><br />
88 annos, <strong>de</strong> Passos <strong>de</strong> Gaiolo. Falleceu no dia 19.<br />
Total dos cadaveres enterrados neste cemiterio —<br />
18:014.<br />
A empreza d^ste theatro está animada<br />
dos maiores <strong>de</strong>sejos em proporcionar ao publico<br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> bons espectáculos, contractando<br />
as melhores companhias.<br />
Nos dias 7 e 8 <strong>de</strong> novembro proximo, a<br />
companhia do theatro D. Alfonso, do Porto,<br />
vem dar duas recitas, por assignatura, das<br />
melhores peças do seu archivo.<br />
Como se verá pelo Elenco que segue, a<br />
companhia tem artistas <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m,<br />
e um pessoal numeroso.<br />
ELENCO<br />
Maestro e director:—Thomaz Del Negro.<br />
Director <strong>de</strong> scena:—Antonio dos Santos<br />
Pires.<br />
À B / I M S ^ J L S<br />
Merce<strong>de</strong>s Blasco, Claudina Medina <strong>de</strong><br />
Sousa, soprano; Encarnação Reis, Virgínia<br />
Nery, Maria Christina, Leopoldina Velloso,<br />
Maria da Conceição, Accacia Reis, Antonio<br />
José dos Santos (Santinhos), Virgilio <strong>de</strong> Sousa,<br />
barytono; Antonio dos Santos Pires, Santos<br />
Mello, Manuel dos Santos Oliveira, Caetano<br />
Reis, Augusto Torres, Antonio Monteiro,<br />
João Pinto Samora, Carvalho, José Pedro,<br />
Rocha.<br />
24 coristas d'ambos os sexos.<br />
22 professores d'orchestra.<br />
Ponto:—Luiz Reis; contra-regra:—Francisco<br />
Muscatt; machinista:—João Affonso.<br />
Scenograpliia <strong>de</strong> Eduardo Machado e<br />
Julio d 1 Assumpção.<br />
Cabelleireiro:—Lourenço Ribeiro.<br />
Guarda roupa, do real theatro <strong>de</strong> S.<br />
João.<br />
tugal, e tu não po<strong>de</strong>s combater os teus irmáos!<br />
Vae para Inglaterra, segue o teu <strong>de</strong>stino,<br />
e conta com o meu apoio.<br />
Carlos beijou a mão <strong>de</strong> seu pae e retirou-se<br />
com os olhos rasos <strong>de</strong> lagrimas. O<br />
pobre mancebo chorava o seu infortúnio e<br />
maldizia a ingratidão da côrte; lamentava o<br />
seu paiz, e uma dôr cruciante o finava, ao<br />
lembrar-se que era forçado a sair da mãe<br />
patria, que elle amava como filho.<br />
— A<strong>de</strong>us meu bello Portugal! dizia elle<br />
suspirando. A<strong>de</strong>us meus irmãos 1 A<strong>de</strong>us<br />
povo portuguez, povo <strong>de</strong> tantos brios e honrados<br />
com os mais nobres sacrifícios!<br />
«Povo <strong>de</strong> heroes! A tua historia é um<br />
padrão <strong>de</strong> gloria, que te honrará emquanto<br />
o mundo fôr mundo.<br />
«Ah!... Deixar eu este bello paiz, este<br />
solo que por tantas vezes tem sido regado<br />
com o sangue d'aquelles, que palmo a palmo<br />
o teem <strong>de</strong>fendido!<br />
«Ah! Portugal, que ficas entregue a um<br />
governo inepto e injusto !<br />
«Quando soará a hora da tua re<strong>de</strong>mpção?..<br />
Oh! A<strong>de</strong>us ! a<strong>de</strong>us nobre Portugal! a<strong>de</strong>us<br />
minha patria querida !<br />
Assim concluía o malaventurado moço ao<br />
lembrar-se, que em oito dias seguiria viagem<br />
para as costas da Inglaterra.<br />
Oito dias <strong>de</strong>pois eflectuou-se a sua partida,<br />
nada havia que o separasse <strong>de</strong> seu pae,<br />
que o estreitava nos braços soluçando.<br />
As peças escolhidas para estes dois espectáculos,<br />
são:<br />
Ai amazonas <strong>de</strong> formei, operetta<br />
em 2 actos; O cabo d'infnnteria, zarzuella<br />
em 1 acto e 4 quadros, musica do maestro<br />
Caballero; e o Capitão Lobis-Iioniem,<br />
operetta em 3 actos, original do fallecido<br />
escnptor Gervásio Lobato, verso do sr. Lopes<br />
Teixeira, musica <strong>de</strong> Thomaz Del Negro.<br />
Acha-se aberta a assignatura para estes<br />
dois espectáculos, nos estabelecimentos dos<br />
srs. Paula e Silva, Nova Havaneza, Papeia<br />
ria Central, rua do Viscon<strong>de</strong> da Luz, e no<br />
escriptorio do theatro.<br />
Avulso<br />
Camarotes 3$500<br />
Fauteuils 700<br />
Ca<strong>de</strong>iras 600<br />
Geral 250<br />
PREÇOS<br />
Por assignatura<br />
Camarotes<br />
Fauteuils 600<br />
Ca<strong>de</strong>iras 500<br />
Geral 200<br />
A pedido publicámos a felicitação que<br />
segue:<br />
A MENINA MARIA JOSÉ<br />
(NO DIA DO SEU ANNIVERSARIO NATALÍCIO)<br />
Mil versos, senhora, eu contar aqui<br />
Quizera neste dia,<br />
Quizera revelar-lhe que em mim sorria<br />
A mais doce alegria.<br />
Quizera ter o génio, o i<strong>de</strong>al<br />
Cheio d'inspiração<br />
Sincera saudação.<br />
P'ra enviar-llie neste dia festival.<br />
<strong>Coimbra</strong> — 95. OLÍMPIO DA CROZ.<br />
ESMOLA<br />
Pedimos com instancia uma esmola para<br />
uma pobre familia, privada <strong>de</strong> lodos os recursos<br />
e a braços com uma Iriste sorte.<br />
Bem merecido é qualquer auxilio que<br />
se lhe conceda.<br />
N'esta redacção se recebe qualquer donativo.<br />
A. J. A 100<br />
Anonymo J 00<br />
P. A. C 100<br />
J. M. M 500<br />
Total 800<br />
Livros e jornaes<br />
CSiialdim Paes—Por Silva Vianna—Agencia<br />
Universal <strong>de</strong> Publicações — editora. Rua da<br />
Victoria, 30, 1.° —Lisboa, 1898..<br />
E um esboço do perfil biographico <strong>de</strong> Gualdim<br />
Paes, o guerreiro audaz, combatendo contra os<br />
mouros nos exercitos christãos <strong>de</strong> D. Affonso Henriques,<br />
que o armara cavalleiro. E' muito curiosa<br />
a exposição da sua época histórica e está escripta<br />
a revellar muito estudo e muito trabalho.<br />
Tem um magnifico retrato do gran<strong>de</strong> vulto da<br />
historia patria e fecha por uma magnilica ptiologravura<br />
do atelier do photographo, Marinho, re-<br />
presentando a joia artística da janella do convento<br />
<strong>de</strong> Christo, cm Thomar.<br />
Agra<strong>de</strong>cidos aos editores pela offerta.<br />
— Meu pae, dizia o pobre mancebo com<br />
as faces innundadas, não chore, e dê-me a<br />
coragem que me falta para o abandonar!<br />
— Meu filho, meu pobre filho, que não<br />
tornarei a ver-te!<br />
Carlos já não podia soffrer mais: osculoua<br />
fronte com amor fervente, e correu como<br />
louco, bradando:<br />
— Malditos sejam os cobar<strong>de</strong>s que me<br />
roubaram á patria e a meu pae !<br />
Duas horas <strong>de</strong>pois um navio inglez passava<br />
em frente <strong>de</strong> Belem. A' ré ia um mancebo<br />
<strong>de</strong> physionomia sympathica, e todo vestido<br />
<strong>de</strong> preto. Em pé, junto á amurada,<br />
não afastava os olhos da terra, que triste<br />
abandonava!<br />
De momento a momento exhalava um<br />
longo e profundo gemido ! Grossas lagrimas<br />
lhe borbulhavam nos olhos. Era Carlos,<br />
que seguia viagem para as costas da Gran-<br />
Bretanha.<br />
Deixemos Carlos entregue á sua vida<br />
aventurosa, e vamos até ao Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />
aon<strong>de</strong> se acha Antonio Pereira <strong>de</strong> Vasconcellos<br />
e suas filhas: frei Rozendo e o senhor<br />
D. Francisco Antonio <strong>de</strong> Sarmento e Castro.<br />
Os annos tinham <strong>de</strong>corrido sem inci<strong>de</strong>ntes<br />
notáveis para a familia do <strong>de</strong>sembargador.<br />
D. A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong>, durante quatro annos, apenas<br />
recebera duas cartas <strong>de</strong> Carlos, mas conservava-se-lhe<br />
fiel, e absolvia-o da falta <strong>de</strong><br />
\<br />
Em legitima <strong>de</strong>feza—Dr. Luiz Pereira da<br />
Costa—Imprensa Académica—<strong>Coimbra</strong>, 1895.<br />
E' um folheto <strong>de</strong> 15 paginas, no qual o illlistrado<br />
professor da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> das<br />
accusações que, num outro folheto, <strong>de</strong> que <strong>de</strong>mos<br />
lambem noticia, lhe fizera o seu iliustre collega,<br />
sr. dr. Joaquim Augusto <strong>de</strong> Sousa Refoios.<br />
Reconhecidos pela offerta.<br />
Ao sr. ministro do reino, conselheiro<br />
João Franco Castello Branco—Typographia<br />
Progresso — Elvas, 1895.<br />
E' um protesto violento dos habitantes do<br />
exlincto concelho <strong>de</strong> Monforte, contra a disparatada<br />
reforma administrativa, como lhe chamam.<br />
Por toda a parte aon<strong>de</strong> assentou a sua mão<br />
criminosa o infame dictador é vergastado com<br />
valentia, dizendo-lhe o povo <strong>de</strong> Monforte que<br />
todo o seu saber se cifra na arte <strong>de</strong> ganhar uma<br />
eleição, tendo como lemma a proposição celebre:<br />
«que os fins justificam os'meios.»<br />
Não é com palavras que se hão <strong>de</strong> esmagar<br />
os traidores estejam certos os protestantes.<br />
Agra<strong>de</strong>cidos pelo offerecimento.<br />
Jornal Hortico-Agricola—Proprieda<strong>de</strong> da<br />
real companhia Jlorticolo-agricola portuense —<br />
Redactor— J. Casimiro Barbosa. — N.* 31,<br />
3.° anno — Rua dos Fogueteiros, 5 — Porto.<br />
E' uma publicação mensal curiosíssima em<br />
assumptos agrícolas e floricultura. O agricultor<br />
tem neste jornal um bom guia e um seguro<br />
conselheiro.<br />
Distribue grátis, franco <strong>de</strong> porte a quem o<br />
solicitar, o catalogo geral e discriptivo.<br />
•<br />
Vi n li os e azeites — Inspecção e jiscalisação e<br />
venda d'esles artigos e penalida<strong>de</strong>s impostos<br />
aos trangressores—Typographia da Bibliotheca<br />
Popular <strong>de</strong> Legislação—l\ua da Atalaya, 183,<br />
1.° —Lisboa, 189o.<br />
Contém tudo que diz respeito sobre a fiscalisação<br />
<strong>de</strong> vinhos e azeites, o que é <strong>de</strong> absoluta<br />
necessida<strong>de</strong> a todos os viticultores, ven<strong>de</strong>dores<br />
<strong>de</strong> vinhos e <strong>de</strong> azeite, commissão respectiva e<br />
azeites.<br />
E' um folheto curioso e barato —100 réis,<br />
reunindo os <strong>de</strong>cretos <strong>de</strong> 1 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1894,<br />
regulamento <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> maio e <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 23 <strong>de</strong><br />
agosto <strong>de</strong> 1895, sendo a única edição que traz<br />
publicado o Reportorio do <strong>de</strong>creto e do regulamento<br />
acima citados.<br />
Agra<strong>de</strong>cemos.<br />
•<br />
G •••as dôs regedores e das Jnntas <strong>de</strong><br />
Parocliia. — Attribuições, direitos, obrigações,<br />
e disposições legues e <strong>de</strong> jurisprudência,<br />
que se lhes referem. — Typographia da Bibliotheca<br />
Popular <strong>de</strong> Legislação. — Lisboa 1895.<br />
E' importante a missão quer da individualida<strong>de</strong><br />
Regedor, quer da colleclivida<strong>de</strong> Junta, mas nem<br />
todos os cidadãos a quem são commettidas taes<br />
funeções conhecem a maneira.pratica <strong>de</strong> as <strong>de</strong>sempenhar.<br />
Eis ao que visa esta obra.<br />
Encontram-sc nella todas as <strong>de</strong>cisões dos tribunaes,<br />
<strong>de</strong>cretos, portarias, officios, e finalmente<br />
um copioso formulário, tanto para uso dos regedores,<br />
como das juntas <strong>de</strong> parocliia, incluindo<br />
mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> autos, officios, instrucções sobre escripturação,<br />
orçamentos e contabilida<strong>de</strong> das corporações<br />
parochiaes, etc.<br />
E' enifim, uma obra <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>iro interesse,<br />
e custa apenas 240 réis. Pedidos ao editor A. J.<br />
Rodrigues, rua da Atalaya, 183, 1.°, Lisboa.<br />
correspondência, atten<strong>de</strong>ndo á dificulda<strong>de</strong>,<br />
pela distancia. Constára-lhe todavia o seu<br />
nobre comportamento e a maneira por que<br />
fôra consi<strong>de</strong>rado; e a ultima carta que lhe<br />
escreveu, foi para o felicitar pelo seu adiantamento.<br />
Nada mais constava.<br />
D. Francisco continuava a frequentar a<br />
casa do <strong>de</strong>sembargador e a incommodar a<br />
pobre D. Carlota com as suas estultas pretensões.<br />
Quanto a Manuel José Fernan<strong>de</strong>s,<br />
também era bastante assiduo.<br />
Manuel José Fernan<strong>de</strong>s amava apaixonadamente<br />
D. A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong>, mas sabendo do amor<br />
que <strong>de</strong>dicava a Carlos, não se animava a<br />
fazer-lhe uma <strong>de</strong>claração.<br />
D. A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong> vivia triste e em completo<br />
isolamento, e a única pessoa com quem <strong>de</strong>sabafava<br />
era com sua irmã, que soffria em<br />
silencio as torturas d'um amor infeliz»<br />
CAPITUIitJ VI<br />
A vingança<br />
Estamos no anno <strong>de</strong> 1798. A ultima carta<br />
<strong>de</strong> Carlos, que D. A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong> recebera, era <strong>de</strong><br />
*797\ e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então nada mais soube a seu<br />
respeito. No dia 25 <strong>de</strong> junho, porém, constou<br />
que tinha chegado um navio <strong>de</strong> guerra vindo<br />
<strong>de</strong> Portugal. D. A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong> sobresaltou-se e<br />
esperou com impaciência o correio.<br />
(Continua.)
29<br />
D E F E N S O R DO P O V O — 1 . ° ANNO<br />
R E C L A M E S E A N N U N C I O S<br />
BICO AUER<br />
Por <strong>de</strong>spacho do meritissimo juiz presi<strong>de</strong>nte do<br />
tribunal do commercio do Porto e a requeri-<br />
mento da Empreza do BICO AUER., foram arrestados<br />
judicialmente, em casa dos srs. Nusse & Bastos,<br />
rua <strong>de</strong> Passos Manoel n.° 14 e rua d'Alegria n.° 867,<br />
d'aquella cida<strong>de</strong>, os bicos <strong>de</strong> contrafacção que estes<br />
srs. tentavam introduzir <strong>de</strong>baixo do nome <strong>de</strong> bico<br />
Invencível, bem como apparelhos e matérias primas<br />
que serviam para a sua fabricação.<br />
E' sabido que os arrestos judiciaes, só se con-<br />
ce<strong>de</strong>m <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> maduríssimo exame dos documentos<br />
justificativos dos direitos dos auctores, inquirição<br />
<strong>de</strong> testemunhas e <strong>de</strong>posito e avultada caução, que<br />
no caso actual, foi arbitrada em tres contos <strong>de</strong> réis.<br />
Bastará isto para esclarecer os incautos compradores<br />
<strong>de</strong> bicos <strong>de</strong> contrafacção, adquiridos baratos?<br />
Essa barateza constitue para os srs. compradores<br />
um prejuízo completo por lhes faltar fornecedor<br />
<strong>de</strong> mangas.<br />
Saiu cara, infelizmente, a economia imaginada.<br />
JOÃO RODRIGUES BRAGA<br />
SUCCESSOR<br />
17, ADRO DE CIMA, 20 — (Atroa <strong>de</strong> S. Bartholomeu)<br />
2 Armazém <strong>de</strong> fazendas <strong>de</strong> algodão, lã e seda. Vendas por jnnlo e a retalho.<br />
Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> pannos crús. — Faz-se <strong>de</strong>sconto nas compras para<br />
reven<strong>de</strong>r.<br />
Completo sortido <strong>de</strong> coroas e bouquets, fúnebres e <strong>de</strong> gala. Fitas <strong>de</strong><br />
faille, moiré glacé e selim, em todas as cores e larguras. Eças dourados para<br />
adultos e creanças.<br />
Continúa a encarregar-se <strong>de</strong> funeraes completos, armações fúnebres e<br />
trasladações, tanto n'esta cida<strong>de</strong> como fóra.<br />
NOVO DEPOSITO DAS MACHINAS DE GOSTOSA<br />
X ZfcTO-IEIR,<br />
ESTABELECIMENTO<br />
DE<br />
FAZENDAS BRANCAS<br />
DE<br />
MANUEL CARVALHO<br />
29 —Largo do Príncipe D. Carlos —31<br />
Encontra o publico o que lia <strong>de</strong> melhor em fazendas brancas e um completo<br />
sortido das recentes novida<strong>de</strong>s para a estação <strong>de</strong> verão e que esta casa<br />
ven<strong>de</strong> por preços baratíssimos.<br />
As verda<strong>de</strong>iras machinas <strong>de</strong> costura í]<br />
para costureiras, alfaiates e sapateiros, ven<strong>de</strong>m-se no novo \|j<br />
<strong>de</strong>posito em condições, sem duvida, mais vantajosas do Uli<br />
que em qualquer outra casa <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, Porto, ou Lisboa, apresentando sempre<br />
ao comprador um sortido <strong>de</strong> todos os mo<strong>de</strong>los que a mesma Companhia fabrica.<br />
Vendas a prestações <strong>de</strong> aOO réis eemanaes. A dinheiro,<br />
com gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>seontos.<br />
ENSINO GRÁTIS, no <strong>de</strong>posito ou em casa do comprador.<br />
Na mesma casa executa-se com a maxima perfeição qualquer concerto em<br />
machinas <strong>de</strong> costura, seja qual fôr o auctor, tendo para isso officina montada.<br />
Ao comprador <strong>de</strong> cada machina será offerecido, como brin<strong>de</strong>, um objecto<br />
<strong>de</strong> valor. Dão-se catalogos illustrados, grátis.<br />
Ven<strong>de</strong>-se oleo, agulhas, carros d'algodão, torçaes e peças soltas para todas<br />
as machinas.<br />
5<br />
BI-CYCLETAS CLEMENT<br />
Acabam <strong>de</strong> chegar á CA*A TIl.JIOKit, {|e Antonio José A.lves<br />
— rua do Viscon<strong>de</strong> da Luz — os últimos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> 1895, tanto para<br />
passeios como para corridas.<br />
Tendo a casa Clement resolvido este anno ven<strong>de</strong>r as suas machinas a preços<br />
certos, participou aos reven<strong>de</strong>dores que lhes era prohibido fazer vendas por outros<br />
preços que não sejam os que estão indicados no catalogo <strong>de</strong> 1895.<br />
N'estas condições são as machinas vendidas ao publico pelos mesmos preços,<br />
accrescendo unicamente os direitos <strong>de</strong> alfan<strong>de</strong>ga e mais <strong>de</strong>spezas Por<br />
esta fórma pô<strong>de</strong> qualquer individuo comprar hoje uma verda<strong>de</strong>ira Clement,<br />
mais ba rata do que qualquer outra marca ordinaria 11 !<br />
Unicamente á venda na Casa Memoria, rua do Viscon<strong>de</strong> da Luz, on<strong>de</strong> se<br />
encontram também as legitimas machinas <strong>de</strong> costura Memoria para familia,<br />
alfaiates e sapateiros.<br />
Ensino grátis em casa do comprador, ainda que seja a 8 léguas <strong>de</strong> distancia.<br />
Na mesma casa se ven<strong>de</strong> toda a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> instrumentos músicos e seus<br />
pertences — musicas para piano, e outros instrumentos, tudo a preços sem<br />
çompetencia.<br />
COLLEGIO ACADÉMICO<br />
(ENSINO PRIMÁRIO)<br />
E-tá aberta <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1 <strong>de</strong> outubro a aula<br />
<strong>de</strong> ensino primário d'este collegio, regida<br />
por José Falcão Ribeiro, Justino José Correia<br />
e Pompeu Faria <strong>de</strong> Castro, professores<br />
legalmente habilitados.<br />
A partir do mesmo dia, a qualquer<br />
hora, se recebem matriculas, tanto para<br />
esta aula como para as <strong>de</strong> instrucção secundaria,<br />
que posteriormente serão aberta*.<br />
Recebem-se alumnos internos, semiinternos<br />
e externos.<br />
Garante-se um ensino proticuo com a<br />
mais completa organisação e com a assiduida<strong>de</strong><br />
no trabalho que caracterisa os<br />
professores.<br />
Fornecer se-ha papel, tinta, pennas,<br />
giz e lápis gratuitamente a todos os alumnos,<br />
bem como 11111 ca<strong>de</strong>rno para notas<br />
diárias <strong>de</strong> frequencia e aproveitamento.<br />
à l. a classe dividir-se-ha em dois grupos<br />
: um leccionado pelo methodo <strong>de</strong> João<br />
<strong>de</strong> Deus e outro pelo <strong>de</strong> Simões Lopes,<br />
á escolha das familias dos alumnos.<br />
As creanças <strong>de</strong> muito pouca ida<strong>de</strong><br />
terão entrada e aula em separado.<br />
Preços: l. a classe 500 réis; — 2."<br />
reis; - reis.<br />
<strong>Coimbra</strong>, rua dos Coutinhos, 27.<br />
J. F. Ribeiro<br />
iltf<br />
I M O<br />
100, Rua Ferreira Borges, 100<br />
31 Pasta para rolos <strong>de</strong> imprensa<br />
<strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong> e preço<br />
modico.<br />
Armag <strong>de</strong> diversos systemas,<br />
revolvers e munições <strong>de</strong> caça.<br />
Faqueiros e colheres d'eleetro<br />
plate, qualida<strong>de</strong> garantida.<br />
Tinta e tella para pintura a<br />
oleo, pincéis e artigos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho.<br />
flallas para viagem, carteiras<br />
e sarças <strong>de</strong> mão para senhora.<br />
Oleados <strong>de</strong> borracha para<br />
cama e outras qualida<strong>de</strong>s para mesa e<br />
forrar casas.<br />
Transparentes e stores <strong>de</strong><br />
ma<strong>de</strong>ira, rolos authomaticos para os<br />
mesmos.<br />
Perfumaria ingleza e sabonetes,<br />
pó d'arroz, pentes e escovas.<br />
Dentifrico do dr. llousset,<br />
pó, para <strong>de</strong>ntes da socieda<strong>de</strong> hygienica.<br />
Bensolina para tirar nodoas,<br />
o melhor preparado, não prejudica a roupa.<br />
Lunetas, binoculos, brinquedos para<br />
creança, capachos d'arame e gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong><br />
em miu<strong>de</strong>zas.<br />
FOGÕES PADA G0SINHA<br />
Na officina <strong>de</strong> serralharia <strong>de</strong> José<br />
Dias Ferreira, encontramse á venda magníficos<br />
fogões <strong>de</strong> fogo circular, novos, e<br />
<strong>de</strong> todos os tamanhos.<br />
Responsabilisa-se pela sua construcção<br />
e regular funccionamento. Preços<br />
modicos.<br />
11 — Rua dos Militares — 13<br />
COIMBRA<br />
JULIÃO A. D'ALMEIDA & C. a<br />
20—Rua <strong>de</strong> Sargento Mór—24<br />
COIMBRA<br />
I3 I*r'este antigo estabelecimento co<br />
brem-se <strong>de</strong> novo guarda-soes,<br />
com boas sedas <strong>de</strong> fabrico portuguez.<br />
Preços os mai« baratos.<br />
lambem tem lãsinhas finas e outras<br />
fazendas para coberturas baratas.<br />
No mesmo estabelecimento ven<strong>de</strong>mse<br />
magnificas armações para guarda-soes,<br />
o que ha <strong>de</strong> mais mo<strong>de</strong>rno.<br />
M. niDEIRO OSORIO<br />
ALFAIATE<br />
185, l.°—R. Ferreira Borges—185, 1.°<br />
Participa aos seus freguezes que<br />
recebeu o sortimento <strong>de</strong> fazendas para a<br />
estação <strong>de</strong> inverno, e por preços baratos<br />
para competir com qualquer outra casa.<br />
Aos photographos amadores i<br />
Ven<strong>de</strong>-se muito em conta, uma obje- í<br />
VINHO VERDE<br />
cliva <strong>de</strong> Dellmever, rapida, rectilínea, 112 Especialida<strong>de</strong> em vinho<br />
por 13X18.<br />
ver<strong>de</strong><br />
d< ; Amarante.<br />
Neves, Irmãos<br />
Ven<strong>de</strong>-se engarrafado e ao litro na<br />
Rua Ferreira Borges, ÍOO<br />
m i M k PORTUGUESA<br />
Introducção e iathematica<br />
LUIZ MARIA ROSETTE,<br />
alumno da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, continua<br />
a leccionar estas disciplinas.<br />
Praça 8 <strong>de</strong> Maio, n.° 3 7-I. 0<br />
Vinho <strong>de</strong> mesa sem composição<br />
Ven<strong>de</strong>-se no Café Commercio,<br />
rua do Viscon<strong>de</strong> da Luz, a 110<br />
e 120 o litro.<br />
Vinho do Porto, a 240 e 300 réis o<br />
litro.<br />
Gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vinho <strong>de</strong> Carcavellos,<br />
Bucellas, Colares, etc., cognac<br />
Martell legitimo, e muitas outras bebidas<br />
tanto estrangeiras como nacionaes. Preços<br />
exçessivamente baratos.<br />
Deposito <strong>de</strong> enxofre e sulphato <strong>de</strong><br />
cobre, com gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconto para reven<strong>de</strong>r.<br />
Pulverisadores Figaro pelos preços<br />
do Porto, sem <strong>de</strong>speza <strong>de</strong> transporte.<br />
Encontra-se na mercearia do proprietário<br />
do mesmo Café, rua do Corvo, n. os<br />
9 e 11.<br />
A. Marques da Silva.<br />
COMPANHIA DE SEGUROS<br />
FIDELIDADE<br />
FUNDADA EM 1835<br />
SEDE EIM LISBOA<br />
Capital réis 1.344:000$000<br />
Fundo <strong>de</strong> reserva 203:000^000<br />
jO Esta companhia, a mais po<strong>de</strong>rosa<br />
<strong>de</strong> Portugal, toma seguros contra<br />
o risco <strong>de</strong> fogo ou raio, sobre prédios,<br />
mobílias ou estabelecimentos, assim<br />
como seguros marítimos. Agente em<br />
<strong>Coimbra</strong> —Basilio Augusto Xavier <strong>de</strong><br />
Andra<strong>de</strong>, rua Martins <strong>de</strong> Carvalho, n 0<br />
43, ou na do Viscon<strong>de</strong> da Luz, n.° 86.<br />
Rua Martins <strong>de</strong> Carvalho<br />
Antiga rua das Figueirinhas<br />
g S B<br />
No domingo 27 d'eutuhro pelas 10<br />
horas da manhã, nos armazéns do rocio<br />
<strong>de</strong> Santa Clara, far-se-á leilão <strong>de</strong> 70<br />
dúzias <strong>de</strong> garrafas com vinho finíssimo e<br />
muito velho (em globo ou em lotes <strong>de</strong><br />
dúzia) que pertenciam á garrafeira do<br />
fallecido José Lopes Guimarães, d'esta<br />
cida<strong>de</strong>.<br />
LOJA OA CHINA<br />
Chás pretos e ver<strong>de</strong>s<br />
Especialida<strong>de</strong>s<br />
Rua Ferreira Borges, 5<br />
Completo sortido <strong>de</strong> produclos para<br />
sopas, molhos, pinientinlios do Brazil,<br />
cacau Van Ilouten^s e Epps com e sem leite,<br />
farinha imperial chineza, conservas da<br />
fabrica <strong>de</strong> Antonio Rodrigues Pinto, leques,<br />
ventarolas, crepons, abat-jours a<br />
40 réis, novida<strong>de</strong>, latinhas para chá e<br />
café, etc., etc.<br />
(Antigo Paço do Con<strong>de</strong>)<br />
Weste bem conhecido hotel, um<br />
dos mais antigos e bem conceituados<br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, continúa o seu<br />
proprietário as boas tradições da casa,<br />
recebendo os seus hospe<strong>de</strong>s com as<br />
attenções <strong>de</strong>vidas e proporcionando-lhes<br />
todas as commodida<strong>de</strong>s possíveis a fim<br />
<strong>de</strong> correspon<strong>de</strong>r sempre ao favor que<br />
o publico lhe tem dispensado.<br />
Fornecem-se para fóra e por preços<br />
comniodos jantares e outras quaesquer<br />
refeições.<br />
Deposito da Fabrica Nacional<br />
DE<br />
B O M C M S 1 B f ! « ? m<br />
DE<br />
JOSÉ FRANCISCO U CRUZ £ GENB0<br />
C O I M B R A<br />
128 —RDA FERREIRA BORGES —130<br />
»T'este <strong>de</strong>posito, regularmente montado, se acham á venda por junto e a<br />
retalho, todos os productos d'aquella fabrica a mais antiga <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />
on<strong>de</strong> se recebem quaesquer encouimendas pelos preços e condições eguaes aos<br />
da fabrica.<br />
Publica-se ás quintas feiras e domingos<br />
D e f e n s o r<br />
IDO P O V O<br />
EDITOR — Adolpho da Costa Marques<br />
JORNAL REPUBLICANO<br />
Redacção e administração—Largo da Freiria, 14, proximo á rua dos Sapateiros<br />
Com estampilha<br />
Anno 2$700<br />
Semestre 1$350<br />
Trimestre 680<br />
CONDIÇOES DE ASSIGNATURA<br />
(PAGA ADIANTADA)<br />
Anno . .<br />
Semestre .<br />
Trimestre.<br />
Sem estampilha<br />
2$400<br />
imoo<br />
«UO<br />
A Uí NUS CIOS:— Cada linha, 40 réis; repetição, 20 réis; contracto<br />
especial para annuncios permanentes.<br />
LIVROS: — Annunciamse gratuitamente quando se receba um<br />
exemplar.<br />
Impresso na Typographia Operaria — <strong>Coimbra</strong>
A I V N O 1.» IV. 0 5 3<br />
Defen COIMBRA<br />
Que po<strong>de</strong>mos fazer?<br />
One havemos <strong>de</strong> pedir?<br />
E' ta! e Ião profunda a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m politica,<br />
a <strong>de</strong>sorganisação administrativa, a miséria<br />
economica e a anarchia financeira, em<br />
que a monarchia e os seus ministros lançaram<br />
esta <strong>de</strong>sventurada nação, que a gente<br />
não sabe o que ha <strong>de</strong> pedir, nem se quer<br />
atina com que lia <strong>de</strong> dizer da nossa triste<br />
vida publica.<br />
As colonias são-nos lodos os dias roubadas,<br />
pedaço a pedaço; o pouco que nos<br />
<strong>de</strong>ixam e d'ellas ainda nos resta offerece<br />
um eslado penoso e <strong>de</strong>véras <strong>de</strong>solador; em<br />
algumas lavra ainda maior e mais intensa<br />
miséria do que na melropole; outras revoltam-se<br />
contra o nosso <strong>de</strong>sleixo, repeliem<br />
enfurecidas, e com razão, o estúpido e cruel<br />
abandono, a que as têm con<strong>de</strong>mnado, as<br />
vergonhas com que as têm enegrecido e<br />
rebaixado os seus barbaros e ignóbeis dominadores.<br />
\<br />
A metropole não tem recursos; falla-lhe<br />
o dinheiro, as forças para as soccorrer e<br />
lhes acudir; e já nem sequer gosa do prestigio<br />
indispensável para as fazer respeitar<br />
nos seus direitos, ella que o não tem,<br />
nem dignida<strong>de</strong>, nem pondonor para se fazer<br />
respeitar a si própria !<br />
Mandam-se para o ultramar levas <strong>de</strong><br />
soldados, troços do nosso exercito para<br />
conter os revoliosos e, como emphaticamenle<br />
se alar<strong>de</strong>a, para <strong>de</strong>saffrontar a ban<strong>de</strong>ira<br />
portugueza, vingar injurias e castigar<br />
os enxovalhos feitos á honra nacional,<br />
com um enormíssimo dispêndio <strong>de</strong><br />
vidas e dinheiro; e <strong>de</strong>ixam-se na mesma<br />
<strong>de</strong>plorável situação as nossas provincias<br />
ultramarinas, e nem, por distracção ao menos,<br />
se pensa em politica e administração<br />
colonial.<br />
Cada reforma que o governo opera, e<br />
com a qual affirma, prelenciosa e arrogantemente,<br />
levantar o paiz abatido, regenerar<br />
a nação no ultimo extremo da sua <strong>de</strong>cadência,<br />
reparar, ao menos em parle, os estragos<br />
da rapina, reconstruir a <strong>de</strong>smoronada Babel<br />
das nossas escalabradas finanças, cada uma<br />
e todas essas reformas salvadoras são <strong>de</strong>sastres<br />
monstruosos, que mais nos afundam<br />
na miséria, que mais nos rebaixam no <strong>de</strong>scrédito,<br />
e arrastam á total ruina.<br />
O acto mais insignificante, a medida<br />
mais vulgar e ordinaria <strong>de</strong> iniciativa e execução<br />
ministerial é um conlracenso, um<br />
disparate <strong>de</strong> tal or<strong>de</strong>m, que nas suas consequências<br />
cresce, e avulta, assume as proporções<br />
<strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sastre, que a<br />
ignorancia e a imprevidência dos governantes<br />
produzem ou occasionam.<br />
Os conflictos diplomáticos, as complicações<br />
officiaes e exlra-officiaes com os governos<br />
das outras nações sur<strong>de</strong>m a cada<br />
passo <strong>de</strong>baixo dos pés dos nossos tropegos<br />
governantes, <strong>de</strong>sorientados ministros e conselheiros<br />
da corôa, a qual ha muito tempo<br />
jaz sobre dourado almofadão <strong>de</strong> seda carmim,<br />
como objecto <strong>de</strong>stinado a figurar em<br />
uma exposição <strong>de</strong> velha arte politico-ornamenlal,<br />
la<strong>de</strong>ada pela famosa coslodia <strong>de</strong><br />
Belem e pelo celebre palium da Sé archiepiscopal<br />
<strong>de</strong> Braga.<br />
Vejam o que succe<strong>de</strong> com a viagem <strong>de</strong><br />
recreio do rei ás côrtes da Europa.<br />
Até nisto se revelou a falta <strong>de</strong> tino, a<br />
imprevidência característica dos conselheiros<br />
da corôa!<br />
Que lhes havemos <strong>de</strong>pois fazer nós os<br />
porluguezes?<br />
iNada,<br />
Que havemos <strong>de</strong> pedir?<br />
A quéda e a substituição do actual ministério?<br />
Para quê?<br />
Todos os ministérios da monarchia foram<br />
e hão <strong>de</strong> ser assim, e cada vez peores.<br />
A convocação do parlamento?<br />
Mas o que é, o que tem sido, o que<br />
po<strong>de</strong>rá vir a ser o parlamento?<br />
O mesmo que tem sido os outros: menos.<br />
muito tnenos talvez, se abaixo <strong>de</strong> zero<br />
ha quantida<strong>de</strong> apreciavel.<br />
Nós pedimos, pura e simplesmente, e<br />
com isso, por emquanto, nos contentamos:<br />
A quéda da monarchia.<br />
A abolição da realeza.<br />
O estabelecimento da Bepublica.<br />
De rachar!...<br />
De pé atraz a Italie, <strong>de</strong>sanca o governo<br />
com tal faria e insania que os <strong>de</strong>ixa a escorrer<br />
pús, que sangue já não corre naquellas<br />
artérias <strong>de</strong> lama.<br />
O que vale é que no meio d^ste <strong>de</strong>sancar,<br />
salva-se o nome da nação a quem se faz<br />
inteira justiça.<br />
E' como quem malha em centeio ver<strong>de</strong><br />
como ireis presencear ao lerem esses dois<br />
períodos:<br />
«Os ministros que <strong>de</strong>viam aconselhar o rei no<br />
seu interesse, não tiveram o inenor escrupulo em<br />
o lauçar na estrada que conduz os monarchas á<br />
sua perda e os prepara a mudarem um dia dos<br />
seus antigos palacios reaes para algum palacio,<br />
mais ou menos ricamente mobilado, mas alugado<br />
em terra <strong>de</strong> exilio. Mas d'on<strong>de</strong> saíram estes míseros<br />
ministros <strong>de</strong> Sua Magesta<strong>de</strong>, o rei <strong>de</strong> Portugal?<br />
Em que <strong>Universida<strong>de</strong></strong> ou em que instituto<br />
fizeram elles os seus exames? Está a instrucção<br />
publiea em Portugal tão atrazada que se pô<strong>de</strong><br />
ser ministro do iei sem mesmo se saber historia?<br />
«Por esse procedimento os <strong>de</strong>sgraçados conselheiros<br />
<strong>de</strong> D. Carlos provaram, que nem mesmo<br />
conhecem o a b c da historia e que a sua ignorancia<br />
exce<strong>de</strong> a que é toieravel nos homens que se<br />
chamam: homens do estado».<br />
Hein?! De primeira agua. Ainda ha<br />
verda<strong>de</strong>s no mundo, e bem se vê que a fama<br />
do governo longe sôa.<br />
Muito damnado ha <strong>de</strong> estar o Franco pela<br />
aftronta que os collegas receberam do Crispi,<br />
na <strong>de</strong>claração do embaixador italiano, em<br />
Lisboa.<br />
Manda vir o embaixador da Italia, ó farronca!<br />
Só brincas com o <strong>de</strong>sgraçado povo?<br />
Valente!<br />
Até o papa!<br />
Isto já não é Portugal <strong>de</strong> portuguezes, é<br />
<strong>de</strong> todos os que o não são.<br />
Bem aquinhoada a Inglaterra, a Bélgica,<br />
a Âllemanha, ultimamente, etc. Os papas<br />
paparam-nos galeões carregados <strong>de</strong> oiro e<br />
pedrarias que lhes mandavam os Braganças,<br />
em troca dos fanatismos, e das bênçãos —O<br />
que não custou o cognome <strong>de</strong> rei fi<strong>de</strong>líssimo,<br />
a graça <strong>de</strong> ser Nossa Senhora da Conceição<br />
a padroeira do reino e conquistas, e mais<br />
ratices!...<br />
Verda<strong>de</strong>iros a mais não ser, os períodos<br />
da Provinda que respigámos:<br />
«Já sabíamos que este paiz estava por conta da<br />
reacção religiosa (religiosa não dizemos bem, não<br />
insultemos a religião) por conta da reacção jesuítica.<br />
«Quem <strong>de</strong> facto manda á ultima hora neste<br />
paiz é o papa, por conta <strong>de</strong> sete imbecis, que a<br />
audacia, o favor, o bamburrio e o proprio idiotismo,<br />
içaram ao po<strong>de</strong>r, e que a nação, por uma longanimida<strong>de</strong><br />
já inexplicável e estupefaciente, consente<br />
ainda agora, para nosso eterno opprobio, nas iramundas<br />
secretarias do Terreiro do Paço.<br />
«Que vergonha, que miséria e que pobreza <strong>de</strong><br />
espirito I»<br />
E quem ha <strong>de</strong> dar leis, é quem está <strong>de</strong><br />
posse do throno, a educanda do Sacre Cceur,<br />
<strong>de</strong> Paris.<br />
Já não ha ministros, os chamados estadistas,<br />
da tempera d'aquelles que <strong>de</strong>ram fundo<br />
golpe na reacção e no jesuitismo.<br />
Essa raça <strong>de</strong> patriotas <strong>de</strong>generou. Ha<br />
Francos, Hintzes e o mais por ahi fóra, d'um<br />
cumprimento tal capaz <strong>de</strong> dar a volta ao<br />
inundo!<br />
—Quinta feira, 31 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895<br />
1 julgamento importante<br />
Realisou-se na semana passada a primeira<br />
audiência para julgamento do sr. Faustino<br />
da Fonseca, actual director da Vanguarda.<br />
A causa d'este julgamento foi haver o<br />
nosso collega publicado um energico artigo<br />
contra a commissão municipal <strong>de</strong> Lisboa, que<br />
provocou as suas fúrias e o levou perante<br />
as justiças <strong>de</strong> el-rei.<br />
A que, porém, um gran<strong>de</strong> uumero <strong>de</strong><br />
pessoas <strong>de</strong> todas as classes sociaes assistiram<br />
no tribunal da Boa Hora, não foi ao<br />
julgamento d'um jornalista, mas sim á autopsia<br />
das immoralida<strong>de</strong>s praticadas pela commissão<br />
municipal <strong>de</strong> Lisboa.<br />
As testemunhas <strong>de</strong> <strong>de</strong>feza foram o sr.<br />
dr. Eduardo <strong>de</strong> Ab eu, zeloso secretario da<br />
subscripção nacional, e os srs. drs. Leão <strong>de</strong><br />
Oliveira e Cupertino Ribeiro, membros <strong>de</strong>missionários<br />
da minoria republicana da referida<br />
camara.<br />
Todas as testemunhas tiveram para com o<br />
réo as mais lisongeiras referencias, e verberaram<br />
ácremente o insolito procedimento dos<br />
senhores vereadores, que fizeram sentar no<br />
banco dos réos, um jornalista intelligente<br />
honrado e trabalhador.<br />
A primeira testemunha <strong>de</strong> <strong>de</strong>feza a ser<br />
ouvida foi o antigo e prestigioso <strong>de</strong>putado<br />
republicano por Lisboa, que historiou <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
a sua origem a questão, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo o procedimento<br />
do austero jornalista e con<strong>de</strong>mnando<br />
o procedimento vingativo dos camaristas.<br />
Disse, que tendo sido encarregado ha<br />
tempos, <strong>de</strong> fazer entrar no cofre da subscripção<br />
nacional, numerosas quantias que estavam<br />
em <strong>de</strong>bito, dirigiu á camara municipal<br />
<strong>de</strong> Lisboa vários officios neste sentido, pedindo<br />
o pagamento <strong>de</strong> tres contos trezentos<br />
e tantos mil réis, resto dos cem contos com<br />
que ella prometteu concorrer para a subscripção<br />
nacional.<br />
A única resposta que obteve, foi sempre<br />
a mesma, o silencio—e por ultimo soube, que<br />
a verepção mandou inutilisar em auto <strong>de</strong> fé,<br />
o ultimo officio, que elle lhes dirigiu em termos<br />
vehementes, mas <strong>de</strong>licados.<br />
Ora a camara proce<strong>de</strong>ndo d'uma maneira<br />
tão pouco correcta, não só o offen<strong>de</strong>u a elle,<br />
mas mostrou bem claramente o seu pouco<br />
patriotismo e nenhuma educação.<br />
Este facto já suficiente para <strong>de</strong>spertar<br />
uma reprimenda na imprensa, ainda não assalariada,<br />
ou <strong>de</strong> duas caras, que pelo paiz<br />
já começou a florescer, mereceu a <strong>de</strong>vida censura<br />
do sr. Faustino da Fonseca, um rapaz<br />
cheio <strong>de</strong> vida, <strong>de</strong>cidido a sacrificar-se por um<br />
i<strong>de</strong>al e a <strong>de</strong>sontrar um correligionário das<br />
más creaçóes d'uns sabujos do sr. João Franco,<br />
d'uns ninguens, incapazes <strong>de</strong> se mecherem<br />
e tornarem conhecidos noutro paiz que não<br />
fosse o nosso.<br />
Seria impossível dar uma nota <strong>de</strong>senvolvida<br />
<strong>de</strong> tudo o que o sr. dr. Eduardo <strong>de</strong><br />
Abreu disse com aquella eloquencia e nobre<br />
impetuosida<strong>de</strong>, que tanto o caracterisa e distingue;<br />
falta-nos o espaço e o tempo.<br />
Não po<strong>de</strong>mos, comtudo furtar-nos á transcripção<br />
da parte do interrogatorio em que<br />
elle respon<strong>de</strong>u ao nosso amigo João <strong>de</strong> Menezes,<br />
advogado do réo, se tinha qualquer<br />
inimiza<strong>de</strong> com os membros da fanada vereação.<br />
O sr. dr. Eduardo <strong>de</strong> Abreu respon<strong>de</strong>u<br />
o seguinte, que é engraçado e ao mesmo<br />
tempo muito, muitíssimo significativo:<br />
Relações pesscaes só as tenho com o sr.<br />
Martinho Guimarães, que é membro da commissão<br />
executiva da subscripção nacional; <strong>de</strong><br />
vista só conheço o sr. con<strong>de</strong> do Restello;<br />
retratado nos rotulos do xarope e da farinha<br />
peitoral, que, apressou-se a dizer, nunca receitei<br />
aos meus clientes, por consi<strong>de</strong>rar drogas<br />
nocivas á saú<strong>de</strong> publica.<br />
Seguiu-se o sr. dr. Leão d"0!iveira, que<br />
entre outras cousas, dignas <strong>de</strong> registrar, disse,<br />
e provou, que acamara actual era uma corporação<br />
<strong>de</strong>shonesta, que não o dizia só alli,<br />
porque o havia já dito em plena sessão, e os<br />
srs. vereadores que querellaram do jornalista,<br />
não o querellaram então a elle, talvez por<br />
esquecimento ou singular <strong>de</strong>ferencia.<br />
Referiu-se também ao facto <strong>de</strong> serem arbitrariamente<br />
nomeados mais quarenta e nove<br />
empregados, com o caracter <strong>de</strong> temporários,<br />
sendo na sua maioria, netos, filhos, cunhados<br />
e afilhados <strong>de</strong> vereadores!<br />
A outra testemunha <strong>de</strong> <strong>de</strong>feza, o sr. Cupertino<br />
Ribeiro, não chegou a ser ouvido por<br />
estar a sala muito escura, e o sr. juiz marcar<br />
a continuação do julgamento para o dia 2 <strong>de</strong><br />
novembro.<br />
Era numerosíssima a concorrência do publico,<br />
notando-se muitos escriptores, médicos,<br />
commerciantes, industriaes, estudantes,<br />
etc.<br />
A impressão causada foi enorme; a situação<br />
em que os accusadores ficaram, não podia<br />
ser mais triste; nem ao menos lhe valeu<br />
a habilida<strong>de</strong> do sr. dr. Lopes Vieira!<br />
Já é azar!<br />
Comquanto o sr. juiz não pronunciasse o<br />
seu veredictum, o que po<strong>de</strong>mos affoitamente<br />
dizer é que, absolutorio ou con<strong>de</strong>mnatorio,<br />
a opinião publica absolveu o réo plenamente.<br />
Não será esta a ultima vez que nos havemos<br />
<strong>de</strong> referir a este julgamento; havemos<br />
<strong>de</strong> contar o que se passar na audiência final,<br />
que não <strong>de</strong>ve ser menos interessante e moralisador.<br />
Continua a macaca<br />
E' fatal; on<strong>de</strong> estiver o Hintze, está<br />
agoiro á porta e a má sorte em casa — tudo<br />
perdido! — Assim está o paiz.<br />
A macaca d^sse fúnebre homem, e <strong>de</strong>sastrado<br />
ministro, já <strong>de</strong>u que fallar á imprensa,<br />
que lhe pren<strong>de</strong>u por muito tempo á cauda, a<br />
lata do ridículo.<br />
Tudo o que tem acontecido <strong>de</strong> mau ao<br />
sr. D. Carlos é causa da macaca do sr. Hintze;<br />
a viagem sustida em Paris, é da macaca;<br />
as afflicções do monarcha, em França,<br />
sem saber para on<strong>de</strong> se havia <strong>de</strong> voltar<br />
se para o ti-ti, se para o santinho com tripas,<br />
é da macaca; o conflicto diplomático<br />
com a Italia, é da macaca, e ainda é da macaca<br />
o que está para acontecer na viagem a<br />
Londres.<br />
A opinião do UEtoile Belgs é que se<br />
prepara ao joven monarcha — v. g. — um<br />
novo <strong>de</strong>sastre.<br />
Quem dá a nova é o Correio da Noite,<br />
e diz que o referido jornal notando como os<br />
ministros portuguezes se mostram tão fracos<br />
— marca tres á preta, ó João! — quanto imprevi<strong>de</strong>ntes,<br />
e como el-rei se preoccupa pouco<br />
com este inci<strong>de</strong>nte, gosando em Paris —<br />
que atrevimento !— os ocios dos boulevards,<br />
ao referir-se á próxima viagem á tia Victoria<br />
— diz-nos:<br />
«E' em Londres que o (El Rei) espera um verda<strong>de</strong>iro<br />
<strong>de</strong>sapontamento que bem se po<strong>de</strong>ria ligar<br />
ao inci<strong>de</strong>nte do Quirinai. Em-vez
D E F E N S O R r»o P o v o — 1 . ° A N N O Quinta feira, 31 fa outubro <strong>de</strong> 1895 — N.° 53<br />
Sciencias, lettras e artes<br />
.A.S CRIADAS<br />
(Timotro Trin)<br />
VERSVO LIVRE DO HESPANH0L<br />
(CONCLUSÃO)<br />
A que tive, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Salvadora, era uma<br />
mulher muito callada; porém a infeliz chorava<br />
quando a mandava preparar o chocolate,<br />
gemia quando a mandava varrer, entristecia<br />
quando a mandava ás compras, o que a não<br />
impedia <strong>de</strong> roubar o mais que po<strong>de</strong>sse, e<br />
quando esfregava, chorava d'uma tal maneira<br />
que parecia lhe havia dado uma tareia.<br />
Meu marido disse-me:<br />
«Mulher, olha, parece-me que esta criada<br />
ha <strong>de</strong> provavelmente ser a rainha Artemisa,<br />
ou alguma princeza <strong>de</strong>sthronada.»<br />
Um dia resolvi-me, a perguntar-lhe, cançada<br />
<strong>de</strong> a vêr chorar tanto, porque razão<br />
se affligia áquelle ponto, o que lhe havia<br />
acontecido; então, ella em tom lugubre e para<br />
mais trágico coutou-me a seguinte historia e<br />
disse-me:<br />
«Senhora, choro porque não nasci para<br />
misteres tão baixos; a mim educaram-me<br />
como se educa uma senhora; melhorando o<br />
presente, e se não fossem os malditos caminhos<br />
<strong>de</strong> ferro, estava eu em minha casa<br />
como se fôra uma rainha,»<br />
«Mas que lhe fizeram os caminhos <strong>de</strong> ferro<br />
para assim se mostrar tão contraria a elles?»<br />
«O quê? Arruinaram meu pae, a mim e<br />
a toda a minha familia... Pois se as coisas<br />
não corressem assim não me teria a senhora<br />
como criada, nem outra qualquer; eu é que<br />
as teria, e não estaria reduzida a ter que<br />
me sujeitar a serviços... ai! nem posso fallar<br />
em tal, cada vez que me lembro... Eu<br />
<strong>de</strong>via até fazer por me esquecer d'isto, mas<br />
que quer a senhora, a gente sempre se lembra.<br />
.. Mas quem o havia <strong>de</strong> dizer?...<br />
«Então quem era o seu pae? Era capitalista,<br />
banqueiro, accionista?...»<br />
«Não, senhora; era conductor d'uma diligencia.»<br />
Puz na rua aquella victima do progresso,<br />
e tomei uma mulher idosa, apezar da opposição<br />
<strong>de</strong> meu marido que lhe não agradavam<br />
as velhas, começando por mim.<br />
A creada nova, era uma velhota encarquilhada,<br />
com o queixo retorcido, e que em<br />
casa mandava mais do que eu.<br />
Quando me via na cozinha começava a<br />
resmungar, e dizia-me que não queria estorvos,<br />
que ella bem sabia como as coisas se<br />
faziam, que não precisava <strong>de</strong> conselhos.<br />
Mandava a estrelar ovos para o almoço,<br />
e ella aquecia-os, porque dizia serem assim<br />
melhores; fazia quanto muito bem lhe parecia;<br />
sahia a todas as horas; tomava a melhor<br />
sopa, e comia, segundo as suas palavras,<br />
pouco mas a meudo, o caso era que não<br />
ficava nada, e a nós servia-nos o que ella<br />
<strong>de</strong>ixava.<br />
A meu marido chamava velho rabujento,<br />
e quando não tinha que fazer — que não<br />
tinha que fazer em todo o dia — vinha para<br />
o meu quarto, e tratava-me como <strong>de</strong> egual<br />
para egual, fallava mal das pessoas que frequentavam<br />
a casa; quiz matar o gato, todo<br />
o dia estava tomando remedios e aguas quentes<br />
para combater o flato, histerismo, rheumatismo,<br />
asthma e outros achaques.<br />
Um dia disse-me que lhe pozesse sanguesugas;<br />
tendo-me eu negado, foi ter com meu<br />
marido para que lh^as <strong>de</strong>itasse.<br />
Gomo não lhe fizemos a vonta<strong>de</strong>, chamou-nos<br />
<strong>de</strong>shumanos, ameaçou-nos com o<br />
mau olhado, com a justiça <strong>de</strong> Deus, e...<br />
tivemos que a pôr a andar.<br />
Tomámos por ultimo uma criada muito<br />
mo<strong>de</strong>sta, muito limpa, arranjadinha, que não<br />
tinha namorado algum, segundo ella dizia: a<br />
única cousa que pedia era que a <strong>de</strong>ixassem<br />
ir á egreja, <strong>de</strong>sejo muito natural e que <strong>de</strong>monstrava<br />
o grau <strong>de</strong> religiosida<strong>de</strong> da boa<br />
Suzana — era o seu nome.<br />
Todos os dias ia á missa das almas, pela<br />
manhãsinha, todas as tar<strong>de</strong>s á novena, ao<br />
miserere, emfim não podíamos contar com<br />
ella senão ás horas <strong>de</strong> comer: a comida,<br />
porém, estava sempre fria e <strong>de</strong>sconsolada...<br />
Quizemos mo<strong>de</strong>rar um pouco a sua <strong>de</strong>voção,<br />
e a maldita a todos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o porteiro<br />
até aos visinhos, ao merceeiro, ao taberneiro,<br />
e a todo o mundo, foi dizendo que éramos<br />
uma sucia <strong>de</strong> herejes.<br />
Estavamos para a <strong>de</strong>spedir, quando um<br />
dia foi um policia buscal-a, e lá a levou comsigo<br />
empan<strong>de</strong>irada. sem sabermos para on<strong>de</strong>,<br />
nem para quê.<br />
Soubemos <strong>de</strong>pois, que aquella mosquinha<br />
morta pertencia a uma quadrilha <strong>de</strong> larapios,<br />
e que com effeito ia ás egrejas, não para<br />
resar nem visitar santos, mas para revistar<br />
as algibeiras dos <strong>de</strong>votos, roubando limpamente<br />
o mais que podia. Em casa roubounos<br />
então entre outros objectos um relogio,<br />
tres colheres <strong>de</strong> prata, roupas e outras miu<strong>de</strong>zas.<br />
Foi esta a minha ultima creada, concluiu<br />
D. Marquinhas.—Agora não tenho nem quero<br />
nenhuma. Eu mesmo me sirvo, e meu marido<br />
diz que eu sou peor que todas ellas,<br />
que faço tudo mal; mas antes quero ouvir<br />
as recriminações do meu homem do que<br />
aturai as.<br />
Devo <strong>de</strong>clarar, antes <strong>de</strong> terminar este<br />
conto, que quando D. Marquinhas se casou,<br />
não era D. Marquinhas, mas só Marquinhas,<br />
porque era... a creada do andar <strong>de</strong> baixo<br />
da casa em que vivia seu esposo.<br />
Um ramo <strong>de</strong> flores<br />
GABIRU.<br />
Um pobre mineiro, inutilisado no trabalho,<br />
resi<strong>de</strong> em Paris em precarias circumstancias.<br />
Não tendo meios e não encontrando<br />
ninguém que lhe désse protecção; lembrou-se<br />
<strong>de</strong> ir á camara franceza e lançar<br />
para o meio da sala um ramo <strong>de</strong> flores e<br />
assim julgava po<strong>de</strong>r alcançar uma in<strong>de</strong>mnisação<br />
pelo <strong>de</strong>sastre que soffreu, inhibindo-o<br />
<strong>de</strong> ganhar o seu sustento.<br />
Por isso lembrou-se d'aquelle meio tão<br />
inoffensivo e dirigiu-se ao edifício das camara,<br />
havendo naquelle dia, 27 do corrente,<br />
sessão parlamentar.<br />
De repente do logar da tribuna, on<strong>de</strong><br />
Vaill ante lançára a bomba, o pobre arremessa<br />
um ramo <strong>de</strong> flores para a sala e grita: —<br />
Viva a patria! Viva a França!<br />
Tudo se levantou cheio <strong>de</strong> terror, suppondo-se<br />
ser uma bomba <strong>de</strong> dynamite; e<br />
quando os ânimos socegaram e o homem foi<br />
preso, souberam o que havia sido causa <strong>de</strong><br />
tantos sustos.<br />
Não se sabe se o homem foi feliz com a<br />
i<strong>de</strong>ia.<br />
EL-REI DIVERTE-SE<br />
Gran<strong>de</strong> «soirèe»<br />
«Da mesma fórma que não é <strong>de</strong> uso levar ás<br />
Folies Bregères, aos Ambassa<strong>de</strong>urs ou ao Jardin<br />
<strong>de</strong> Paris as senhoras da socieda<strong>de</strong>, lambem estes<br />
logares estão interdictos, ao que parece, aos chefes<br />
<strong>de</strong> Estado que, mesmo fóra dos seus paizes,<br />
têm <strong>de</strong> pautar uma gran<strong>de</strong> parte da sua vida pelas<br />
regras da meticulosa pragmatica. Assim é que<br />
po<strong>de</strong>ndo, assistir ás passagens mais escabrosas—<br />
e não são poucas nem pouco disfarçadas — das<br />
Demi-Vierges ou <strong>de</strong> qualquer peça do Palais<br />
Royai, é-lhes <strong>de</strong>feso comtudo ouvirem o reportorio<br />
picante da Yvette Guilberte, do Poliin e dos<br />
outros astros do Café concerto.<br />
«Se não fosse o Fígaro, que não quiz <strong>de</strong>ixar<br />
<strong>de</strong>smentir as tradições complacentes que fixou<br />
Beaumarchais, o rei <strong>de</strong> Portugal, apezar da sua<br />
longa estada em Paris, não lograria presencear<br />
um espectáculo em que estas notahilida<strong>de</strong>s caféconcertistas<br />
tomassem parte.<br />
«Assim, a redacção do Figaro, pelos seus redactores<br />
principaes os srs. F. <strong>de</strong> llodays e A. Périver,<br />
offereceu no dia 25, ao rei <strong>de</strong> Portugal,<br />
uma soirèe, cujo programma, cora raras excepções,<br />
mais <strong>de</strong> nomes do que <strong>de</strong> números, parecia feito<br />
para o Scala, ou para o Alcazer d Etè.<br />
«El-rei chegou ás lí horas da noite acompanhado<br />
do ministro portuguez e da sua comitiva,<br />
occupando toda a primeira fila <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>iras e ficando<br />
Sua Magesta<strong>de</strong> entre os dois redactores principaes<br />
do Figaro.<br />
«Uma orchestra tocou á chegada o hymno da<br />
Carta, que foi ouvido sentado, por isso que Sua<br />
Magesta<strong>de</strong> se sentou logo que chegou ao seu logar.<br />
«Entrou-se francamente no reportorio café-concerto.<br />
Gallipaux do Vau<strong>de</strong>ville, Polin do Scála,<br />
e Villé do Eldorado, escalaram resolutamente a<br />
pragmatica, tendo ainda assim sido muito conscienciosos<br />
nos números qiie escolheram.<br />
«Quem, porém, não teve contemplações com o<br />
régio hospe<strong>de</strong> do Figaro foi Yvette Guilbert. A<br />
rainha das cançonatistas exhibiu em tres das suas<br />
canções tudo o que o seu reportorio tem <strong>de</strong> mais<br />
salé-<br />
« Les ingénues e Les jeunes mariées fizeram rir<br />
el-rei convulsamente, com aquelle riso franco e<br />
sincero que Yvette, com o seu extraordinário modo<br />
<strong>de</strong> dizer e com a sua gesticulação ainda mais<br />
extraordinaria, sabe provocar.<br />
Yvette, sentindo-se gatée quiz dar como primeur<br />
ao auditorio especial que a escutava Les déhors du<br />
mariage. .. que ella disse com uma câlinerie cheia<br />
<strong>de</strong> malícia e que lhe valeu applausos unanimes e<br />
calorosos. Uma observação necessaria: no auditorio<br />
não havia senhoras...»<br />
E' do Diário <strong>de</strong> Noticias o que se acaba<br />
<strong>de</strong> lêr.<br />
Nem mais uma palavra.,.<br />
MATADOIRO<br />
Pelo actual matadoiro — aon<strong>de</strong> os marchantes<br />
pagam á camara apenas um direito<br />
<strong>de</strong> entrada e outro <strong>de</strong> pezagem, fazendo todos<br />
serviços com pessoal seu — cobra a camara<br />
<strong>de</strong> receita bruta annualmente em média<br />
i:200$000 réis.<br />
D'esta importancia tem-se a <strong>de</strong>duzir, como<br />
encargos do matadoiro:<br />
Ao veterenario 36o$>ooo réis<br />
Ao fiscal 1802&000 »<br />
A um policia i26$ooo »<br />
A um guarda io8$5oo »<br />
Para impressos, expedientes,<br />
reparos, conservação do<br />
pardieiro e material 200^000 »<br />
974$5OO »<br />
<strong>de</strong> modo que a receita liquida se reduz apenas<br />
á insignificância <strong>de</strong> 3oo$ooo réis o que<br />
é o melhor attestado <strong>de</strong> incúria, indolência e<br />
criminosa indifferença —senão ignorancia dos<br />
mais rudimentares princípios <strong>de</strong> administração<br />
municipal! — porquanto o matadouro da<br />
villa mais humil<strong>de</strong> d'este districto <strong>de</strong>ve ren<strong>de</strong>r<br />
quantia egual, senão superior — e não é<br />
a terceira cida<strong>de</strong> do reino.<br />
Os pretendidos concessionários do novo<br />
matadoiro dão á camara uma renda ou subvenção<br />
annual <strong>de</strong> um conto <strong>de</strong> réis, ficando<br />
<strong>de</strong> sua conta todas as <strong>de</strong>spezas que se relacionem<br />
com o matadoiro <strong>de</strong> modo que aquelle<br />
conto <strong>de</strong> réis, seja uma receita liquida e entregam<br />
á camara, no fim <strong>de</strong> 6b annos um<br />
magnifico edifício com todo o seu material,<br />
edifício que segundo o plano que vimos executado<br />
em tempo na Casa Havaneza e agora<br />
na Papelaria Central, realisará um dos primeiros<br />
estabelecimentos da Europa, no limite<br />
das suas dimensões e que nunca po<strong>de</strong>rá valer<br />
menos <strong>de</strong> trinta e seis contos <strong>de</strong> réis.<br />
Actualmente, a lavagem das tripas faz-se<br />
no rio, ou mesmo na praça, á vista <strong>de</strong> todos<br />
os transeuntes, a dobrada é lavada também<br />
e preparada grosseiramente em logares públicos—<br />
e a carne é conduzida para os talhos<br />
ás costas dos carregadores, porcos e immundos,<br />
ás vezes <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> chuva, mas sempre<br />
exposta á vista dos transeuntes.<br />
Pelo novo matadoiro, a lavagem das tripas<br />
e a preparação das dobradas é feita<br />
<strong>de</strong>ntro do matadoiro em, officinas especiaes,<br />
por processos mo<strong>de</strong>rnos, com abundancia <strong>de</strong><br />
agua e escrupuloso asseio — a carne é conduzida<br />
em carroças especiaes tapadas, com<br />
pessoal limpo e com a farda do matadoiro<br />
Ha uma tabella nova que <strong>de</strong> facto não<br />
tem comparação com a actual, que tem <strong>de</strong>pauperado<br />
a camara sem beneficio immediato<br />
do publico ; mas os marchantes fião tem mais<br />
encargo algum e os serviços e preparação das<br />
rezes são feitos com pericia, asseio, còmmodida<strong>de</strong><br />
e pelos processos mo<strong>de</strong>rnos. O publico<br />
em geral pô<strong>de</strong> utilisar-se com muita vanta-<br />
gem do matadoiro especialmente para a matança<br />
dos suínos como vamos <strong>de</strong>monstrar.<br />
Hoje um particular que <strong>de</strong>seje abater um<br />
porco em casa não dispen<strong>de</strong> menos <strong>de</strong> i$5oo<br />
réis, além <strong>de</strong> um incommodo e porcaria enorme<br />
durante a preparação do porco.<br />
Com o novo matadoiro, qualquer que o<br />
<strong>de</strong>seje utilisar avisa a administração d^quelle<br />
estabelecimento e esta manda-lhe a carroça<br />
a casa receber o porco vivo e traz lh'o a casa<br />
morto e limpo com o sangue e as tripas correspon<strong>de</strong>ntes<br />
(lavadas) por <strong>de</strong>smanchar, pela somma<br />
total <strong>de</strong> 460 réis, e <strong>de</strong>smanchado, 660 réis.<br />
O dono do porco po<strong>de</strong> assistir a todo o<br />
trabalho como está bem <strong>de</strong> ver.<br />
No actual matadoiro embora a capacida<strong>de</strong><br />
o muito zelo e circumspecção do veterinário,<br />
os serviços fazem-se, geralmente, sem or<strong>de</strong>m<br />
e como Deus quer e a camara <strong>de</strong>seja.<br />
Nas proximida<strong>de</strong>s da hora da matança,<br />
que <strong>de</strong> ordinário é das 2 ás 3 horas, é impossível,<br />
senão perigoso, e muito <strong>de</strong>sagradavel<br />
passar-senas immediações do matadoiro que,<br />
como todos sabemos fica á entrada do bairro<br />
novo <strong>de</strong> Santa Cruz — passeio predilecto e<br />
actualmente muito frequentado pelos moradores<br />
da cida<strong>de</strong> e seus visitantes, pois áquella<br />
hora, quem alli passar julga-se numa feira<br />
<strong>de</strong> gado, alli, um rebanho <strong>de</strong> ovelhas, acolá<br />
um outro <strong>de</strong> cabras, mais a<strong>de</strong>ante uma vitelinha,<br />
uns porcos, a vacca, etc., etc., — todos<br />
esperando a hora do sacrifício — as mulheres<br />
e homens do serviço estão <strong>de</strong>itados<br />
pelo chão em mangas <strong>de</strong> camisa com as selhas<br />
e alguidares ao lado, dando assim aos<br />
transeuntes um espectáculo bem triste.<br />
No novo matadoiro, todo murado e cercado<br />
<strong>de</strong> um jardim, os serviços e o seu pessoal<br />
obe<strong>de</strong>cem a uma or<strong>de</strong>m e a um regulamento,<br />
que nem <strong>de</strong> leve se torna suspeito (á<br />
visinhança) a que o edifício é <strong>de</strong>stinado a<br />
não ser pelo titulo.<br />
Mas este bem estar geral não convém á<br />
camara, antes prefere o stato quo.<br />
Nós também lhe não queremos mal por<br />
isso, mas os munícipes <strong>de</strong>veriam merecer-lhe<br />
mais alguma consi<strong>de</strong>ração.<br />
Conflicto luso-italiano<br />
Continua a imprensa das diversas nações<br />
da Europa a occupar-se da viagem do rei<br />
portuguez, apreciando e commentando-se<br />
o conflicto luso-italiano, a que <strong>de</strong>u causa a<br />
saída precipitada do reino ao sr. D. Carlos<br />
e a recusa <strong>de</strong> não ir á Italia quando estava,<br />
essa visita, no itenerario que publicaram primeiro<br />
os jornaes <strong>de</strong> Lisboa, que passam por<br />
beber dofino em informes e por aquelles que têm<br />
a honra e recebem o proveito <strong>de</strong> serem os<br />
thuribularios d'essa malta <strong>de</strong> energúmenos.<br />
E' enorme o numero <strong>de</strong> jornaes que se<br />
collocaram ao lado do governo italiano, applaudindo<br />
o procedimento do presi<strong>de</strong>nte do<br />
conselho, Cnspi, por não <strong>de</strong>ixar esmagar a<br />
Italia pelos ardis da seita negra ás or<strong>de</strong>ns do<br />
papa, nem pelas ameaças d'este, proce<strong>de</strong>ndo<br />
com energia e altivez ás suas imposições.<br />
São unisonos os brados, unanimes as<br />
opiniões do jornalismo da Italia una. Quasi<br />
todos escrevem obe<strong>de</strong>cendo á força da mesma<br />
i<strong>de</strong>ia, trabalhando para o mesmo fim e<br />
alvejando o mesmo ponto o qual é — combater<br />
os reaccionários, inutilisar os manejos<br />
do papa que preten<strong>de</strong> hostilisar o po<strong>de</strong>r real,<br />
que o <strong>de</strong>sthronou.<br />
Em telegramma, que publica o Corriere<br />
Della Sera, <strong>de</strong> Roma se affirma que a retirada<br />
do embaixador <strong>de</strong> Portugal é o primeiro<br />
<strong>de</strong> uma serie <strong>de</strong> actos, ten<strong>de</strong>ntes a dar<br />
á politica italiana um caracter manifestamente<br />
anti-clerical; publicando <strong>de</strong>pois um artigo <strong>de</strong>clarando<br />
impru<strong>de</strong>nte o procedimento do governo<br />
portuguez, que annunciou a visita do<br />
sr. D. Carlos á Italia sem prevêr, e quasi dando<br />
se ares <strong>de</strong> não saber as dificulda<strong>de</strong>s que<br />
ella podia originar.. .<br />
E com a attitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> quem está seguro<br />
das suas opiniões, vae a Tribuna, <strong>de</strong>clarando<br />
que applau<strong>de</strong> as <strong>de</strong>clarações do governo,<br />
mas que a dignida<strong>de</strong> da Italia impõe-lhe o<br />
<strong>de</strong>ver <strong>de</strong> não se <strong>de</strong>ixar — nunca! — acorrentar<br />
aos caprichos do Vaticano.<br />
Por estas harmonias, que o leitor está<br />
ouvindo, affirmam os outros jornaes italianos,<br />
que apodam o governo portuguez <strong>de</strong> ignorante<br />
e néscio, em tremendas sóvas, como<br />
por exemplo, a Opinione, a qual julga que<br />
com as instrucções dadas pelo governo italiano,<br />
o inci<strong>de</strong>nte pô<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>clarar-se esgotado,<br />
não <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> notar que o governo<br />
portuguez andou muito levianamente.<br />
Regalem-se os gran<strong>de</strong>s estadistas <strong>de</strong> meia<br />
tijella, com o que acabam <strong>de</strong> ouvir, mas<br />
apurem os sentidos que as melhores vae dizel-as<br />
a Riforma, que em tom altivo, falia<br />
com esta sobranceria que vereis. Rejubilando<br />
pela solução que teve o inci<strong>de</strong>nte, observa<br />
que se o governo portuguez virou <strong>de</strong> frente<br />
ante as ameaças do Vaticano, isso é questão<br />
com que a Italia nada tem. Affirma que é<br />
o Vaticano que recorre a ameaças para conservar<br />
longe do Quirinal os soberanos catholicos,<br />
empregando as armas da fé para fomentar<br />
discórdias nos estados catholicos, não<br />
hesitando mesmo ante a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
provocar a revolução nos estados da Europa,<br />
que querem conservar relações d'amiza<strong>de</strong> •<br />
com a Italia.<br />
Em mau serviço mata o ocio o santo padre,<br />
vigário <strong>de</strong> Christo na terra — em nome,<br />
que não em pessoa — pois que nunca houveram<br />
boccas que se abrissem para con<strong>de</strong>mnar<br />
o gran<strong>de</strong> Nazareno que só proclamou a<br />
revolução para emancipar os povos da escravidão<br />
dos tyrannós, e nunca para atear o<br />
odio das raças, nos estados da Europa.<br />
Pouco evangelico se mostra o Leão do<br />
Vaticano, esten<strong>de</strong>ndo as prezas da vingança<br />
aos que luctam pela liberda<strong>de</strong>. Faz recordar<br />
a fabula do — Mosquito e do leão...<br />
Fechar com chave d'oiro se diz das coisas<br />
que tem valor, e realmente é bem cabida a<br />
phrase, a um periodo d'um artigo da Italie<br />
com que terminamos, pois sendo este jornal<br />
mo<strong>de</strong>rado nas suas questões, escreve, a proposito<br />
do conflicto diplomático e da influencia<br />
do Vaticano, essas palavras, que vão transcriptas,<br />
on<strong>de</strong> salienta bem frisantemente<br />
este facto foistorico: que todos os soberanos,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> Napoleão 1 a Napoleão 111 encontraram<br />
a sua <strong>de</strong>sgraça nas suas ligações com o<br />
Vaticano, concluindo por esta phrase: «talvez<br />
um dia D. Carlos veja a Italia,<br />
•uas terá então um ex-aniepuito ao<br />
•eu titulo <strong>de</strong> rei, e MÓ a generonida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Humberto lhe po<strong>de</strong>rá mitigar um<br />
pouco a* amarguras do exílio.<br />
Não pó<strong>de</strong>m ser mais irónicas, nem mais<br />
escalpellantes as palavras do jornal Italie, já<br />
recordando a Leão XIII as infamias dos papados,<br />
e consi<strong>de</strong>rando perigosas para as testas<br />
coroadas as ligações do Vaticano, já presagiando<br />
ao sr. D. Carlos a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
um dia ainda ver a Italia, procurando na generosida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> seu tio o balsamo consolador<br />
<strong>de</strong> quem se vê na <strong>de</strong>sdita.<br />
Que não passam <strong>de</strong> parolas — dizem por<br />
cá os gran<strong>de</strong>s doutores do estado.<br />
Quem sabe lá?
XLVX<br />
Recordo com gran<strong>de</strong> mágua<br />
que lembrei, na occasião,<br />
á camara — a boa maneira<br />
<strong>de</strong> canalisar a agua,<br />
junto à mesma excavação<br />
do gaz, na Estrada da Beira.<br />
Acceitando os nossos planos,<br />
dava á valia mais largueza,<br />
po<strong>de</strong>ndo caber dois canos<br />
sem lhe dar gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>speza.<br />
Consta haver um camarista,<br />
homem finorio, sagaz;<br />
diz ser perigosa a rotura<br />
que se um dia dér no gaz...<br />
(olhem que eu sou fatalista)<br />
com a agua se misturai 1!...<br />
Fica á conta dos leitores<br />
dizerem, sem rabulice,<br />
qual é dos vereadores<br />
que disse tal bernardice ?<br />
A resposta ao meu pedido,<br />
quer-se em verso bem medido.<br />
Fra -Dique.<br />
N. B. As respostas não <strong>de</strong>vem exce<strong>de</strong>r á quintilha,<br />
e serão assignadas, para conhecimento d'esta redacção.<br />
Po<strong>de</strong>m fazer uso do pseudonymo.<br />
CARTAS UE LONGE<br />
I>EJFE]V S O R D O P 0 V O — 1.° ANNO<br />
COLLECÇÃO PAULO DE KOCK<br />
Obras publicadas<br />
0 Coitadinho, 1 vol. 480 pag<br />
Zizina, 1. vol. illustrado<br />
O Homem dos Tres Calções, 1 vol.<br />
illui-trado<br />
Irmão Jacques, 2 vol. illustrados..<br />
ISo prelo<br />
A Irmã Anna, 2 vol.<br />
600<br />
600<br />
600<br />
800<br />
Para qualquer d'estas obras acceitara-se<br />
assignaturas em <strong>Coimbra</strong> na<br />
Agencia <strong>de</strong> Negocios Universitários<br />
<strong>de</strong> A. <strong>de</strong> Paula e Silva, rua do Infante<br />
D. Augusto.<br />
Toda a correspondência a José Cunha,<br />
T. <strong>de</strong> S. Sebastião, 3. —Lisboa.<br />
Justino Antunes Barreira,<br />
participa aos seus numerosos freguezes<br />
que do dia 1.° <strong>de</strong> novembro do corrente<br />
anno em diante ven<strong>de</strong> as carnes nos seus<br />
talhos da praça <strong>de</strong> D Pedro v, com os<br />
n. os 15, 17 e 22, pelos preços abaixo<br />
mencionados.<br />
Lombo, pujadouro e alcatra sem<br />
osso<br />
Qualquer peça da perna com osso<br />
Assem da flôr e pá<br />
Assem magro, abas e peito Oro->so<br />
Costellas, prego <strong>de</strong>lgado, cachaço<br />
e carne innervada<br />
VITELLA<br />
420<br />
300<br />
280<br />
260<br />
220<br />
Perna, qualquer membro, pá e<br />
costelletas 320<br />
Peito e cachaço 280<br />
<strong>Coimbra</strong>, 29 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895.<br />
Justino Antunes Barreira.<br />
m PHOTOfiláPHS<br />
Productos chimicos, chapas allemãs,<br />
cartões em differentes generos, prensas,<br />
etc., etc.<br />
Preços <strong>de</strong> Lisboa.<br />
Mon?arroio 25 a 33 —COIMBRA<br />
Casa Installadora <strong>de</strong> Canalisações<br />
P^RA<br />
AGUA E GAZ<br />
GERENTE<br />
JOSÉ MARQUES LADEIRA<br />
Approvado e documentado por diversas<br />
companhias<br />
H'este estabelecimento encontramse<br />
á venda lodos os materiaes proprios<br />
pa/a canalisações <strong>de</strong> agua e gaz, taes<br />
cdnio : lustres, braços <strong>de</strong> bronze e <strong>de</strong><br />
christal, globos, tubos <strong>de</strong> chumbo, feiro<br />
e borracha, e torneiras <strong>de</strong> todas as qualida<strong>de</strong>s.<br />
Preços especiaes em torneiras e tubos<br />
<strong>de</strong> chumbo e ferro.<br />
Gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> em campainhas eléctricas.<br />
A ECONOMIA 20 BICO AUEB<br />
O gasto máximo <strong>de</strong> um BICO AUER,<br />
trabalhando com a sua maior força, é <strong>de</strong><br />
ã réis por cada hora<br />
retirando-se toda a installação em <strong>Coimbra</strong><br />
e na Figueira da Foz, caso não <strong>de</strong>r<br />
resultado.<br />
99 —RUA DO VISCONDE DA LUZ —101<br />
C O I M B R A<br />
JULIÃO A. D'ÂLMEIDA & C. a<br />
20—Rua <strong>de</strong> Sargento Mór—24<br />
COIMI RA<br />
£3 Sí'es antigo e ipbeJcc men o cobrem-se<br />
<strong>de</strong> novo guarda-soes,<br />
com boas sedas <strong>de</strong> febrico portuguez.<br />
Preços os mais bar.. :o\<br />
Também tem Lsinbas fr « e outras<br />
fazendas p^ra coherícr s b ,s.<br />
No me"mo esíabelc cinieii > ve id"use<br />
magnifc.s armações par.,ar o ,<br />
o que ha <strong>de</strong> mais mo<strong>de</strong>rno.<br />
R E C L A M E S E A N N U N C I O S<br />
í ^ i n S T O - I E I R<br />
I MACHINAS<br />
Estabelecimento <strong>de</strong> fazendas brancas<br />
ARTIGOS DE NOVIDADE<br />
ALFAIATARIA MODERNA<br />
DE<br />
JOSÉ LUÍS UABT1SS SE ARAUJO<br />
90, Rua do Yiscon<strong>de</strong> da Lnz 92 —COIMBRA<br />
6 O mais antigo estabelecimento n'esta cida<strong>de</strong>, com as verda<strong>de</strong>iras machinas<br />
Singer, on<strong>de</strong> se encontra sempre um verda<strong>de</strong>iro sortido em machinas<br />
<strong>de</strong> costura para alfaiate, sapateiro e costureira, com os últimos aperfeiçoamentos,<br />
garantindo-se ao comprador o bom trabalho da machina pelo espaço <strong>de</strong> 10<br />
annos.<br />
Hecebe-se qualquer machina usada em troca <strong>de</strong> novas, transporte grátis<br />
para os compradores <strong>de</strong> fúra da terra e outras garantias. Ensina-se <strong>de</strong> graça,<br />
tanto no mesmo <strong>de</strong>posito como em casa do comprador.<br />
Ven<strong>de</strong>m-se a prazo ou promplo pagamento com gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>scanto.<br />
Concerta-se qualquer machina mesmo que não seja Singer com a maxima<br />
promptidão.<br />
ESTAÇÃO DE INVERNO<br />
Arnim <strong>de</strong> chegar um gran<strong>de</strong> sortido em casimiras próprias para inverno.<br />
Fatos feitos completos com bons forros a 6$500, 7#000, 8$000 réis e niais<br />
preços, capas e batinas preços sem competencia, varinos <strong>de</strong> boa catrapianha<br />
com forro e sem elle <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 5$000 réis para cima, garante-se qualquer obra<br />
feita n'esta alfaiateria, dão-se amostras a quem as pedir.<br />
Tem esta casa dois bons contramestres, <strong>de</strong>ixando-se ao freguez a preferencia<br />
<strong>de</strong> optar.<br />
Sempre bonito sortido <strong>de</strong> chitas, chailes, lenços <strong>de</strong> seda, ditos <strong>de</strong> Escócia,<br />
camisaria e gravatas muito baratas.<br />
Ven<strong>de</strong>-se oleo, agulhas troçai e sabão <strong>de</strong> seda, e toda a qualquer peça<br />
solta para machina?.<br />
Alugam-se e ven<strong>de</strong>m-se Bi-cyc9etas.<br />
ESTABELECIMENTO<br />
DE<br />
FFFIUM, TUIAS E ARMAS DE FOGO<br />
DE<br />
JOÃO GOMES MOREIRA<br />
COIMBRA.<br />
5o * RUA DE FERREIRA BORGES * bi<br />
Ferragens para construcções:<br />
PrpmriPtK" De ferr0 e arame P r " Beira qualida<strong>de</strong> com gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>scontos.<br />
neydytJllb. —Aviso aos proprietários e meslres d'obras.<br />
Plltilarifl • Cutilaria nacinnal e uullldl !d .<br />
estrangeira dos melhores auclores.<br />
cialida<strong>de</strong> em cutilaria Uodgers.<br />
Espe-<br />
PÍPIK • Cr y sloflft ' melal l,ranc °. ca Faqu<br />
b° d'ebano e marfim, completo<br />
cll Uo . sortido em faqueiros e outros artigos <strong>de</strong> Guimarães.<br />
í nilPAQ Ínfllp7íK rlp fprrn • Esmaltada e estanhada, ferro Agate, serviço<br />
LUUt/do lliyid^dò, UG 1 Cl I U. completo para mesa, lavatório e cozinha.<br />
Pimpntnç" Ins ' ez 6 Cal)0 Mon(Je S°> as '"elhores qualida<strong>de</strong>s que se em-<br />
unilcillUo. pregam em construcções hydraulicas.<br />
Cal Hydraulica:<br />
Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito da Companhia Cabo Mon<strong>de</strong>go, -Aviso<br />
aos proprietários e mestres d'obras.<br />
Alvaia<strong>de</strong>s, óleos, agua-raz, crés, gesso, vernizes,<br />
e muitas outras tintas e artigos para pintores,<br />
Tintac nara nintiiras- Alvaiad es, óleos,agualllliad<br />
paia pimuiao. e muitas outras tintas e artigos para pintores.<br />
flrmac HP fnnn* Garabinas DE RE P et 'Ção DE 12 e 15 tiros, revolvers<br />
Carabinas <strong>de</strong> repetição <strong>de</strong> 12 e 15 tiros, revolvers<br />
Hl Ilido llv lUyU. espingardas para caça, os melhores systemas.<br />
fíjy p c n ç . Ban<strong>de</strong>jas, oleados, papel para forrar casas, moinhos e torradores<br />
úlVtloUo. para café, machinas para moer carne, balanças <strong>de</strong> todos os<br />
systemas. — Re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> arame, zinco e chumbo em folha, ferro zincado,<br />
arame <strong>de</strong> todas as qualida<strong>de</strong>s.<br />
Flprtririrlarlp p nntira Agenoia (la casa Ramos & Silva ' <strong>de</strong> Lisl)oa ><br />
C.IGl>ll lUUOUC G U(JUba constructores <strong>de</strong> pára-raios, campainhas eléctricas,<br />
oculos e lunetas e todos os mais apparelhos concernentes.<br />
Pastilhas electro-chimicas, a 50 réisl. ..<br />
Brilhante Belge, a 160 réis J '" d ' s P^ve.s em todas as casas<br />
5 RÉIS POR H0B4<br />
E' o consumo GARANTIDO do<br />
BICO AUER.<br />
Os outros bicos ordinários consomem<br />
no mesmo tempo 12 a 20 réis.<br />
Encommendas a JOSÉ MARQUES LADEIRA<br />
Cantella com as contrafacções baratas (pe saem caras!<br />
100, Rua Ferreira Borges, 100<br />
31 Patita para rii*og <strong>de</strong> imprensa<br />
<strong>de</strong> boa qu lid.;<strong>de</strong> e preço<br />
modico.<br />
Armas <strong>de</strong> diversos »ygtemas,<br />
revolvers e munições <strong>de</strong> c • .<br />
Faqueiros e co*I»eres d electro<br />
pinte, qualida<strong>de</strong> gsraot'd .<br />
Tinia e tella par;» p r :ir i a<br />
oleo, pincéis e artigos <strong>de</strong> d- nho.<br />
fgalias para via
à N N O 1.<br />
Defensor<br />
LIÇÃO S K V E R A<br />
Se o sr. D. Carlos não fosse o primeiro<br />
e mais elevado representante official do<br />
Paiz, se o sr. D. Carlos não occupasse na<br />
hierarchia politica <strong>de</strong> Portugal o primeiro<br />
e supremo grau, não nos importaríamos que<br />
o rei viajasse, nem nos daríamos ao enfado<br />
<strong>de</strong> faliar nas peripecias da sua <strong>de</strong>sastrada<br />
e infeliz digressão ás côrtes extrangeiras.<br />
O sr. D. Carlos, liem ou mal, com merecimentos<br />
ou sem elles, é, por graça <strong>de</strong><br />
Deus e direito hereditário, o supremo magistrado<br />
da Nação Portugueza, e, por isso,<br />
ainda os actos da sua vida particular vêm<br />
refleelir-se na vida politica e moral da<br />
nação, na qual sua magesta<strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenha<br />
o principal papel e exerce as funcções <strong>de</strong><br />
chefe supremo.<br />
Deviam, pois, os ministros, conselheiros<br />
natos da corêa, guardas fieis e vigilantes<br />
da dignida<strong>de</strong> e da honra nacional, não<br />
ce<strong>de</strong>r aos caprichos do seu amo e senhor;<br />
e, quando fossem elles os auclores da lembrança<br />
e resolução da tal viajata, prever e<br />
acautelar o chefe politico do Estado <strong>de</strong><br />
quaesquer occorrencias <strong>de</strong>sagradaveis e offensivas<br />
da sua respeitabilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>coro,<br />
e, que é mais grave pondonoroso, da honra<br />
e dignida<strong>de</strong> da Nação.<br />
Não succe<strong>de</strong>u porem assim. Ou fosse<br />
subserviência aos <strong>de</strong>sejos inconsi<strong>de</strong>rados do<br />
monarcha, ou fosse por levianda<strong>de</strong> e irreflexãc,<br />
ou ainda por calculado expediente<br />
<strong>de</strong> astuciosa e traiçoeira politica, os ministros,<br />
sem pensar nas consequências, sem<br />
prever os resultados <strong>de</strong> mais uma aventura<br />
palaciana, vergonhosa para o respeito e<br />
prestigio das instituições e seriamente compromeltedora<br />
e <strong>de</strong>sastrada para o credito e<br />
brios do Povo Portuguez, <strong>de</strong>ixaram ir o rei<br />
ao exlrangeiro com todas as formalida<strong>de</strong>s<br />
e pragmalicas da sua elevada posição social,<br />
ro<strong>de</strong>ado <strong>de</strong> apparalo e da ostentação<br />
prop via do seu alto cargo e representação<br />
politica, expondo-o a <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rações e<br />
insu los, que.a não ser el-rei inconsciente<br />
ou alheio a sentimentos <strong>de</strong> vergonha e<br />
pondonor, o <strong>de</strong>vem ler profundamente magoado,<br />
dando occasião e pretexto para ser<br />
na pessoa d'el-rei <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rada e insultada<br />
a Nação Portugueza, que nenhuma<br />
culpa tem e, por isso, em nenhuma responsabilida<strong>de</strong><br />
po<strong>de</strong> incorrer pelos caprichos<br />
do rei, pelas levianda<strong>de</strong>s e imprevi<strong>de</strong>ncias<br />
dos seus ministros.<br />
Entre as <strong>de</strong>monstrações <strong>de</strong> <strong>de</strong>sagrado,<br />
que tem sido muitas e punjenles, dadas ao<br />
rei <strong>de</strong> Portugal durante a sua viagem em<br />
côrtes extrangeiras, avulta uma que o <strong>de</strong>ve<br />
ler <strong>de</strong>véras impressionado pela sua moralisadora<br />
significação; — lição severa, merecido<br />
e juslo correctivo para um rei constitucional,<br />
que tem arbitrariamente calcado a<br />
Constituição, cassada, por actos revoltantes<br />
<strong>de</strong> uma insolente dicladura, as liberda<strong>de</strong>s<br />
populares e municipaes, zombado dos direitos<br />
individuaes dos cidadãos portuguezes,<br />
preterido, cynica e arrogantemente, as<br />
mais usuaes e indispensáveis formulas do<br />
syslema liberal representativo, faltando aos<br />
seus juramentos, e contribuído, directa e<br />
po<strong>de</strong>rosamente, para o rebaixamento politico<br />
e moral da Nação, a que presi<strong>de</strong>, para<br />
a miséria economica e para a ruína total<br />
<strong>de</strong> um Estado, que o tem por chefe, <strong>de</strong><br />
um Povo que anda cançaílo <strong>de</strong> trabalhar<br />
para o manter e á sua família, cançado <strong>de</strong><br />
pedir justiça e moralida<strong>de</strong> aos po<strong>de</strong>res públicos,<br />
que só lhe respon<strong>de</strong>m com prepotências<br />
e cada vez maiores vexames, que<br />
longe <strong>de</strong>oatten<strong>de</strong>r em suas queixas e representações,<br />
cada vez mais o opprimem, e<br />
insultam.<br />
—Em Iodas as festas e recepções ofjiciaes,<br />
que em honra do rei <strong>de</strong> Portugal se<br />
fizeram e com pompa celebraram na gran<strong>de</strong><br />
capital da França, os presi<strong>de</strong>ntes das duas<br />
casas do Parlamento abstiveram-.se <strong>de</strong> comparecer.<br />
Nem o presi<strong>de</strong>nte do senado, nem o<br />
presi<strong>de</strong>nte da camara dos <strong>de</strong>putados da<br />
Republica Franceza, compareceram ás festas<br />
e recepções celebradas em honra e homenagem<br />
do Rei <strong>de</strong> Portugal.<br />
Ninguém alli os vio; ninguém lá os enxergou.<br />
A sua falta, a sua ausência nas festas por<br />
certo não foi casual; nem incommodos <strong>de</strong><br />
saú<strong>de</strong> ou affazeres estorvaram os illuslres<br />
presi<strong>de</strong>ntes do Parlamenlo Francez <strong>de</strong> ir<br />
cumprimentar e prestar as <strong>de</strong>monstrações do<br />
seu respeito, ao menos por <strong>de</strong>licada corlezia,<br />
em cujos requintes ninguém por esse nf.ndo<br />
exce<strong>de</strong>, nem sequer eguala o Povo Francez,<br />
ao rei <strong>de</strong> Portugal.<br />
Quizeram, com a sua abstenção e ausência,<br />
os Presi<strong>de</strong>ntes do parlamento Francez,<br />
dar uma severa lição a esse chefe <strong>de</strong><br />
um Estado Constitucional, que menospreza<br />
e suspen<strong>de</strong> arbitrariamente a constituição,<br />
ao supremo funcciqnario publico <strong>de</strong> um Paiz,<br />
que se rege pelo syslema liberal representativo,<br />
mas que dissolve o Parlamento, annulla<br />
a Representação Nacional para com os seus<br />
ministros governar, vae para dois annos,<br />
em completa e <strong>de</strong>senfreada dicladura reaccionaria.<br />
Severa e bem merecida lição, que muito<br />
po<strong>de</strong>ria e <strong>de</strong>veria aproveitar a um rei e seus<br />
ministros, que, por indole e por habito, não<br />
fossem incorrigíveis.<br />
Infame comedia<br />
O ministério reúne para pôr á escolha o<br />
nome dos <strong>de</strong>putados e no ultimo conselho <strong>de</strong><br />
ministros, se bem que a lista não estava<br />
completa, dizem que muitos nomes foram ao<br />
conselho e que agradaram geralmente.<br />
Não fica por aqui o <strong>de</strong>scaro, porque os<br />
jornaes do governo fazem d'estas apreciações:<br />
*Parece-nos ser acertada a escolha d'este<br />
cavalheiro para representante da nação em<br />
côr l es.»<br />
Escolhidos a <strong>de</strong>do e approvados em publico!<br />
Nada admira, sendo governo a crapula <strong>de</strong><br />
homens que ahi estão prostituídos, a affrontarem<br />
tudo que é santo, tendo por mentor<br />
o odiento Jcão Franco, mais cynico que Judas,<br />
mais tratante e mais perverso que o foi<br />
Lopo Vaz, <strong>de</strong> execranda memoria.<br />
E será isto a camara popular, como lhe<br />
chamam...<br />
Um escarro saido <strong>de</strong> boccas pútridas e<br />
consciências prevertidas é que é. Nada se lhe<br />
pô<strong>de</strong> confrontar.<br />
As camaras que vão reunir-se — essas! —<br />
são a ultima expressão da escoria politica!<br />
Um prostíbulo!<br />
A tramóia do Nyassa<br />
Ainda estrebucha no lamaçal esta arriosca,<br />
d^n<strong>de</strong> sairam ladrões muitos conselheiros e<br />
titulares, altos trumphos da politica, que levam<br />
a vida em assaltos aos cofres públicos<br />
e ás companhias e bancos <strong>de</strong> credito.<br />
A caminho da Africa seguiu viagem um<br />
official superior do exercito, que pedira licença<br />
íllimitada, afim <strong>de</strong> ir exercer um logar <strong>de</strong><br />
commissão, representando um dos grupos do<br />
Nyassa, que andam em gambernas.<br />
Ao official <strong>de</strong>u-se intimação para regressar<br />
ao reino, ou estabelecer resi<strong>de</strong>ncia no paiz<br />
estrangeiro, como consta da licença.<br />
E o Moncada, aquelle rico <strong>de</strong>legado, virgem<br />
e martyr, a <strong>de</strong>ixal-os á solta.<br />
O Mineiro, no Limoeiro, já lhe per<strong>de</strong>u<br />
a esperança.<br />
Povo<br />
COIMBRA —Domingo, 3 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1895<br />
AS ELEIÇÕES POR DM OCULO<br />
Andam preoccupados os ministros com<br />
as próximas eleições. João Franco, como<br />
cabeça dirigente do ministério, celebra conferencias<br />
com os magnates regeneradores<br />
mais em evi<strong>de</strong>ncia; e diz-se, com quanto não<br />
seja ainda certo, ter organisada a lista dos<br />
<strong>de</strong>putados, que ha <strong>de</strong> levar á camara no meio<br />
da maior indifferença do povo, que não quer<br />
saber <strong>de</strong> eleições para nada.<br />
Diz o governo que a futura camara ha <strong>de</strong><br />
ser uma camara á inglesa; nem as camaras<br />
á francesa lhe servem já! Ora o que nos<br />
espanta é que o governo saiba <strong>de</strong> antemão o<br />
que ha <strong>de</strong> ser o parlamento. Se elle ha<strong>de</strong> sahir,<br />
no dizer da Tar<strong>de</strong>, orgão officioso do governo,<br />
muito superior ás memoráveis côrtes <strong>de</strong> 1820,<br />
como é que o povo, o qual se levantou em<br />
massa ao verbo elequente dos patriotas Fernan<strong>de</strong>s<br />
Thomaz e outros, nesse tempo <strong>de</strong> dignida<strong>de</strong><br />
e coragem nacional, não se entremette<br />
agora nessa lucta ridícula, que os governantes<br />
preparam para breve, e para o qual<br />
nem ao menos um homem <strong>de</strong> reconhecida<br />
capacida<strong>de</strong> e honra<strong>de</strong>z presta o seu nome<br />
a figurar nas listas, que hão <strong>de</strong> cahir nas<br />
urnas, não das mãos do povo que as sujaria,<br />
mas das mãos dos amigos das instituições,<br />
que nos arruinaram, e dos auxiliares dos senhores<br />
ministros, que nos compromettem o<br />
futuro, e nos <strong>de</strong>sgraçam ao presente.<br />
Decididamente, <strong>de</strong> duas uma: — ou o<br />
povo comprehen<strong>de</strong>u os seus <strong>de</strong>veres, e o seu<br />
silencio é precursor dWia <strong>de</strong>sforra, que nos<br />
rehabilite perante as outras nações, e afiaste<br />
para longe os escuros nevoeiros que parece<br />
quererem envolverem a nossa nacionalida<strong>de</strong> ;<br />
ou então é a cobardia que se apossou dos espíritos,<br />
é a criminosa paz pôdre em que nos<br />
<strong>de</strong>ixamos precipitar, quebrantados por tanto<br />
esforço inútil e esmagados por tantas violências<br />
consecutivas, e vinganças da força contra<br />
o direito.<br />
O governo, que na sua lei eleitoral tantos<br />
rancores mostrou contra os médicos e advogados,<br />
e quiz, para ver se illudia os espíritos,<br />
promover a representação das classes, está-<br />
Ihe soffrendo as consequências.<br />
Nas classes agrícola, commercial e industrial,<br />
que representam as forças vivas e productoras<br />
da nação, e podiam prestar ao governo<br />
o <strong>de</strong>sejado numero <strong>de</strong> <strong>de</strong>putados, que<br />
elle precisa necessariamente fazer eleger para<br />
cumprir o encargo que impru<strong>de</strong>ntemente lançou<br />
sobre os seus <strong>de</strong>slocados hombros, reina<br />
a maior <strong>de</strong>sconfiança contra o governo, que<br />
com as suas estúpidas reformas os prejudicou<br />
nos seus interesses; o odto á politica é<br />
geral, porque a consi<strong>de</strong>ram já o mal <strong>de</strong> que<br />
enfermou o paiz, o primeiro mal a <strong>de</strong>struir,<br />
<strong>de</strong>vendo merecer o <strong>de</strong>sprezo <strong>de</strong> todos quantos<br />
amem a patria e <strong>de</strong>sejem o seu levantamento,<br />
tanto moral, porque é sobre este<br />
ponto <strong>de</strong> vista que ella mais a tem prejudicado,<br />
como sobre o ponto <strong>de</strong> vista economico,<br />
financeiro e administrativo, porque só tem<br />
ella servido para enriquecer muitos que infamemente<br />
a exploraram em seu proveito, sem<br />
que os tribunaes lhes pedissem contas, ou as<br />
ca<strong>de</strong>ias se abrissem para as receber e castigar<br />
como <strong>de</strong>viam.<br />
Dizem os affectos ao governo que o advogado<br />
e o medico não <strong>de</strong>vem largar as suas<br />
profissões para se intrometterem nas pugnas<br />
parlamentares, e figurarem na politica activa.<br />
Confun<strong>de</strong>m advogados com bacharéis, consi<strong>de</strong>ram<br />
a candidatura <strong>de</strong> bacharel como diploma<br />
<strong>de</strong> brilho d família e como satisfação<br />
<strong>de</strong> vaida<strong>de</strong> paternal! I<br />
Talvez que se enganem os governantes<br />
nesta classificação; porque em geral os bacharéis<br />
e outros, que o não são, vêm á camara<br />
menos para dar brilho á família do que<br />
para entrar na politica, mina inexgotavel <strong>de</strong><br />
fama e proventos para a numerosa cohorte<br />
regeneradora, amparada nas graças e predilecção<br />
<strong>de</strong> sua magesta<strong>de</strong> o rei D. Carlos 1.<br />
De commerciantes e industriaes quer o<br />
governo formar a maioria do futuro parlamento;<br />
e, se elle po<strong>de</strong>sse fazer com que a representação<br />
das classes fosse levada a effeito,<br />
teria os nossos louvores, porque é uma das<br />
reformas que os <strong>de</strong>mocratas perfilham.<br />
Que po<strong>de</strong> valer, para representar a nação<br />
meia dúzia <strong>de</strong> sujeitos que se digam commerciantes<br />
ou industriaes, eivados dos mesmos<br />
vicios, e para os quaes o logar <strong>de</strong> <strong>de</strong>putado seja<br />
unicamente a satisfação d'uma vaida<strong>de</strong> balofa<br />
ou garantia d'uma especulação sórdida ?<br />
E' verda<strong>de</strong> que os advogados passam<br />
muitas vezes por palavrosos e sem auctorida<strong>de</strong>,<br />
a não ser na rabulice; mas nós, que<br />
nos interessamos sinceramente pelo bem do<br />
nosso paiz, antes nos queremos com elles do<br />
que com esses commerciantes e industriaes, nomeados<br />
pelo governo <strong>de</strong>putados para lhes fazer<br />
vomitar algumas palavras, no palacio <strong>de</strong><br />
S. Bento, em que sobresahirão por certo pela<br />
subserviente acquiescencia governamental.<br />
Contra os médicos também ha rancor na<br />
reforma; e com razão: parece-nos que o exercido<br />
da profissão medica é prejudicial ao<br />
paiz que elles querem <strong>de</strong>ixar morrer sem auxilio,<br />
dando assim razão áquelle sábio rei que<br />
prohibiu esta profissão humanitaria.<br />
São uns alhos estes <strong>de</strong>fensores do throno<br />
e da corrupção; honra lhes seja, que o porveito<br />
não ha <strong>de</strong> ser gran<strong>de</strong>.<br />
•••<br />
A viagem real<br />
Opinião d'um correspon<strong>de</strong>nte para o El<br />
Liberal: — «O rei <strong>de</strong> Portugal é d'uma solemnida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>corativa. Não di\ nada! Tudo o<br />
que tem a di\er, fa-lo com meneios da cabeça.<br />
Está divertindo — a viagem. O governo<br />
<strong>de</strong>ve estar lisonjeadissimo !...<br />
^ e l o - m r l n i i - o<br />
XXIII<br />
HORROR!<br />
O furor monarchico em Hespanha sacrificou<br />
ha pouco em Cuba quarenta e duas<br />
creanças!<br />
Oito dos adolescentes cairam na esplanada<br />
do Campo <strong>de</strong> la Punta; trinta e quatro<br />
arrastam ainda hoje em S. Lazaro os ferros<br />
<strong>de</strong>gradantes <strong>de</strong> forçados !<br />
Foi-lhes corpo <strong>de</strong> <strong>de</strong>licto o crime <strong>de</strong> <strong>de</strong>molição<br />
do tumulo <strong>de</strong> Castanõn.<br />
Mas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> assassinados os oito estudantes,<br />
e <strong>de</strong> infamados os trinta e quatro no<br />
aviltamento opprobrioso da grilheta, sabe-se<br />
que nem <strong>de</strong> leve foi perturbado o <strong>de</strong>scanço<br />
sepulchral <strong>de</strong> Castanõn, que o tumulo está<br />
intacto, e que dos oito mancebos assassinados<br />
em nome da revoltante arbitrarieda<strong>de</strong><br />
que os con<strong>de</strong>mnou á morte; um dos jovens,<br />
Verdugo, nem se achava na localida<strong>de</strong> em<br />
que se disse ter tido logar a supposta <strong>de</strong>molição,<br />
porque estava em Matanzas.<br />
Hero<strong>de</strong>s foi um monstro, <strong>de</strong>cretando a<br />
<strong>de</strong>golação dos innocentes; mas a monstruosida<strong>de</strong><br />
do seu crime comprehen<strong>de</strong>-se, embora<br />
horrorise, no interesse satanico que elle tinha<br />
em annullar o prophetisado rei dos ju<strong>de</strong>us !<br />
Mas os mo<strong>de</strong>rnos Hero<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Hespanha,<br />
que lucraram, que ganharam, que venceram,<br />
no fuzilamento dos innocentes cubanos, a<br />
quem julgaram e con<strong>de</strong>mnaram atribiliariamente,<br />
por um crime que não haviam commettido<br />
?<br />
Causa horror este cynismo cruel das monarchias,<br />
que espargem o sangue do povo,<br />
só por satisfação do instincto feroz d'essa<br />
raça selvagem, que parece nada ter <strong>de</strong> commum<br />
com a especie humana — os reis!<br />
Morreram oito creanças innocentes, rebentam<br />
<strong>de</strong> fadiga trinta e quatro, sob a acção<br />
pesada dos duros trabalhos dos forçados é o<br />
rei <strong>de</strong> Hespanha dorme <strong>de</strong>scançado no seu<br />
leito <strong>de</strong> rosas, erguido sobre o ataú<strong>de</strong> sinistro<br />
do general D. Juan Prim!<br />
Setenta <strong>de</strong>putados do Congresso hespanhol<br />
pediram já o «indulto» dos trinta e quatro<br />
innocentes; mas a injustiça monarchica<br />
ainda nem ao menos reparou a sua ferocida<strong>de</strong>,<br />
entregando ás familias dos con<strong>de</strong>mnados<br />
os cadaveres dos mortos, e os corpos<br />
quasi muribundos dos que arrastam injustamente<br />
nas galés as grilhetas <strong>de</strong> forçados!<br />
Oh! como as monarchias são oppressoras<br />
e ferozes !<br />
E quando ellas caem sob a acção <strong>de</strong>svairada<br />
do povo vencedor, qudxam-se então da<br />
injustiça popuiar, da cruelda<strong>de</strong> das multidões,<br />
da seivajeria das turbas.<br />
«Chacun á son tour.»<br />
Quem semeia ventos, colhe tempesta<strong>de</strong>s.<br />
Lamentamos todos os excessos populares;<br />
mas lamentamos ainda mais a ferocida<strong>de</strong><br />
dos reis, que assassinando os povos, os provocam<br />
á represalia nos dias em que elles ditam<br />
as leis, e esmagam a seus pés os reis<br />
e os déspotas!
DEFENSOR r>O POVO-1-° ANNO Domingo, 10 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1895 —N.° 56<br />
CARTA DE LISBOA<br />
3i <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> i8g5<br />
Está isto muito falho <strong>de</strong> noticias <strong>de</strong> sensação.<br />
' O que ha, está dito e <strong>de</strong>scripto por varias<br />
fórmas e feitios.<br />
Viajata real e suas consequências, resultado<br />
da brilhante fórma administrativa do<br />
primoroso gabinete Fervilha St C. a .<br />
A scena do Ferreira d'Almeida com o<br />
embarque das forças expediccionarias.<br />
A diplomacia do sr. <strong>de</strong> Soveral e a sua<br />
toilètte aprimorada. ..<br />
A crise <strong>de</strong>bellada, quando tudo vae redobrando<br />
<strong>de</strong> carestia, e as transacções se tornam<br />
difficilimas...<br />
A comedia eleitoral, a mais extraordinaria<br />
<strong>de</strong> que ha memoria nos nossos tempos,..<br />
Uma eleição fim <strong>de</strong> século. ..<br />
Por faltar em século lembrou-me um communicado<br />
ha dias publicado no Século, d'um<br />
maduro, que lamentava que tivesse havido<br />
tanta commiseração para com os vadios que<br />
foram mandados para a Africa por apupar a<br />
padralhada, e não houvesse ao menos duas<br />
palavras <strong>de</strong> elogio aos missionários, que foram<br />
evangelisar os negros.<br />
Lá que o homemsito tem razão, isso tem,<br />
mas que quer?<br />
Esses <strong>de</strong>sgraçados que foram <strong>de</strong>gredados<br />
pelo crime <strong>de</strong> não trabalharem, <strong>de</strong>viam<br />
exigir, que com elles fosse a maioria do clero,<br />
o qual pouco mais faz do que cousa nenhuma.<br />
Aquelles não tinham on<strong>de</strong> se empregar e<br />
estes acham mal empregado o tempo, que se<br />
consome com o trabalho.<br />
Se uns são gatunos d'alguma carteira ou<br />
d'alguma corrente <strong>de</strong> plaquet, uns miseros<br />
prejuízos materiaes; os outros são ladrões da<br />
honra, são uns bandidos que assaltam as famílias<br />
e lhes roubam o que ellas têm <strong>de</strong> mais<br />
caro — a innocencia das creanças, os affagos<br />
e as caricias que ellas lhes dispensam, e finalmente,<br />
o amor filial...<br />
Ladrões perigosos pela sua astúcia, porque<br />
se introduzem sobrepticiamente no seio<br />
das famílias, e lentamente vão lançando o<br />
germem do veneno...<br />
Aquelles pobres diabos lá foram, barra<br />
fóra, colonisar, a Africa, o que causou grave<br />
prejuizo á nossa policia, porque ficou prejudicada<br />
com a falta dos collegas.<br />
Os outros por cá ficaram á solta, com a<br />
protecção do segundo estado, e, pela moda,<br />
teem carta franca para fazerem o que quizerem,<br />
comtanto que os <strong>de</strong>ixem...<br />
Os paes, que se acautellem, dispensando-lhes<br />
os seus serviços espirituaes...<br />
Que seria dos cangalheiros, se lhes acabassem<br />
com a raça ?!. ..<br />
•<br />
As associações <strong>de</strong> soccorros mutuos vão<br />
levar volta.<br />
Imaginem que o Campos Henriques se<br />
lembrou <strong>de</strong> mandar perguntar ás associações<br />
qual era o seu estado financeiro, para d'aqui<br />
fazer uma reforma radical!...<br />
Também pergunta se sabem quando é<br />
que os seus estatutos sairam approvados!,..<br />
Que tal está o da rabeca ?!...<br />
São todos da mesma força.<br />
• • •<br />
ARMANDO VIVALDO.<br />
Prespectiva d'um arranjo<br />
Os jornaes <strong>de</strong> Lisboa <strong>de</strong>nunciam a falta<br />
<strong>de</strong> entrada na respectiva recebedoria, das<br />
quantias em <strong>de</strong>bito á fazenda nacional, pelos<br />
her<strong>de</strong>iros do fallecido sr. D. Fernando,<br />
não obstante haver findado o prazo d'esse<br />
pagamento.<br />
Quem não tem pago direitos d'alfan<strong>de</strong>ga,<br />
dos vestidos e rendas, mobílias e outros artigos<br />
que vêm do extrangeiro, não é extranhavel<br />
que queiram fazer o mesmo, com o pagamento<br />
dos direitos á fazenda nacional.<br />
Com razão se disse no parlamento — Estamos<br />
em crise <strong>de</strong> ladrões!<br />
A revolta da índia<br />
Parece que o relatorio da syndicancia da<br />
revolta da índia prova a connivencia d'officiaes<br />
no movimento. Confirmam assim as<br />
informações que primeiro vieram e foram<br />
<strong>de</strong>smentidas.<br />
Consta também que certo official andou<br />
unido aos nativos contra os europeus. O<br />
mesmo ofíicial tratava mal os soldados.<br />
Em a noite da revolta fechou-se com o<br />
official <strong>de</strong> inspecção na caserna da companhia<br />
e apezar <strong>de</strong> ter 3oo homens fieis, nem sequer<br />
auxiliou o administrador.<br />
Confesso traidor! Que a justiça e a lei<br />
sejam inexoráveis na con<strong>de</strong>mnação <strong>de</strong> crime<br />
{So repugnante, como é o <strong>de</strong> lesa-patria!<br />
Popularida<strong>de</strong> do governo<br />
A viagem d'el-rei se tem acarretado vergonhas<br />
e afírontas ao paiz, tem tornado por<br />
toda a parte, bem conhecido o valor dos<br />
gran<strong>de</strong>s estadistas que o sr. D. Carlos tem á<br />
frente da governação do Estado.<br />
A imprensa estrangeira não se cança, a<br />
proposito da viagem e do conflicto com a<br />
Italia, <strong>de</strong> os <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar, chamando-lhes ineptos,<br />
miseros ministros, ignorantes, <strong>de</strong>sgraçados<br />
conselheiros, <strong>de</strong>sconhecedores do », b,<br />
c da historia, estadistas <strong>de</strong> polichinello, que<br />
fazem do rei um manequim, expondo-o ás<br />
complicadas exigencias das côrtes estrangeiras,<br />
com quem se não tratou, diplomaticamente,<br />
essas visitas.<br />
E para cumulo <strong>de</strong> tudo isto, ainda um<br />
jornal francez, apreciando a situação creada<br />
e mantida por esses energúmenos dictadores,<br />
escreve estas palavras :<br />
«O joven rei <strong>de</strong> Sabóia não teve a <strong>de</strong>sgraça<br />
<strong>de</strong> ser ro<strong>de</strong>ado <strong>de</strong> minitros tão idiotas,<br />
como o <strong>de</strong>sventurado D. Carlos.»<br />
Idiotas! Para quem tem fumaças <strong>de</strong> espertalhões—<br />
é para alargar as ventas, arrebitar<br />
as orelhas, e alçar as mãos — <strong>de</strong> baixo...<br />
Idiotas!..., Idiotas!... E' <strong>de</strong> mais.<br />
Muita gente lh'o tem dito!<br />
Expedição <strong>de</strong> Moçambique<br />
São esperadas por estes dias em Lisboa,<br />
200 praças da expedição <strong>de</strong> Moçambique,<br />
que recolhem á metropole por motivo <strong>de</strong><br />
doenças.<br />
Estamos para vêr o enthusiasmo da recepção,<br />
quando esses valentes chegarem ao<br />
Tejo, a <strong>de</strong>sembarque.<br />
Ninguém se incommodará por certo, a ir<br />
esperal-os nem a saudar os valorosos soldados<br />
e ofíiciaes que vêm luctar pela integrida<strong>de</strong><br />
da patria e sua soberania, nas possessões<br />
portuguezas.<br />
Não terão um viva, nem um brado <strong>de</strong><br />
agra<strong>de</strong>cimento pela vida que arriscaram.<br />
Nem os ministros, nem o povo!<br />
Que não esqueça o <strong>de</strong>sprezo que se <strong>de</strong>u<br />
a uma leva <strong>de</strong> expedicionários que ha mezes<br />
regressaram da Africa, <strong>de</strong>sembarcando em<br />
Lisboa, on<strong>de</strong> não encontraram soccorros,<br />
tendo <strong>de</strong> se arrastar até ao hospital alguns,<br />
e outros irem em trens e em macas que bemfeitores<br />
pagaram.<br />
Ingratos como féras!<br />
•••«<br />
As lamas do Tejo<br />
Hersent, o concessionário das obras do<br />
porto <strong>de</strong> Lisboa e compadre <strong>de</strong> Emygdio<br />
Navarro, não está satisfeito com as exorbitantes<br />
quantias, como a ultima <strong>de</strong> 7:500 contos,<br />
com as quaes o governo lhe encheu as fauces<br />
<strong>de</strong>voradoras.<br />
Dizem que apresentára novas reclamações<br />
<strong>de</strong> in<strong>de</strong>mnisação, mas que o conselho superior<br />
<strong>de</strong> obras publicas e minas <strong>de</strong>satten<strong>de</strong>u<br />
as reclamações da empreza Hersent, por<br />
falta <strong>de</strong> fundamento, sendo <strong>de</strong> parecer que<br />
a mesma empreza é que é <strong>de</strong>vedora ao Estado,<br />
tendo <strong>de</strong> o in<strong>de</strong>mnisar.<br />
Veremos se o governo ce<strong>de</strong>rá á influencia<br />
das muitas amiza<strong>de</strong>s que conta o empreiteiro.<br />
Amigos <strong>de</strong> Hersent! Amigos que ficam<br />
caros ao paiz, e que apparecem ricos e po<strong>de</strong>rosos,<br />
quaes fidalgos nos seus solares.<br />
Bem vos lembraes do caso dos bonds...<br />
Mãos largas<br />
Pois não querem lá ver a generosida<strong>de</strong><br />
com que agora se sae a commissão municipal<br />
<strong>de</strong> Lisboa?<br />
Vae incluir no orçamento uma verba <strong>de</strong>stinada<br />
a um premio para o concurso <strong>de</strong> tiro<br />
civil!...<br />
Teem observado a patifaria do cachorro<br />
á Subscripção Nacional!?<br />
Pois consi<strong>de</strong>rem-se caloteados — os do<br />
tiro civil.<br />
••-«<br />
A cura da tysica<br />
Foi inaugurado em Roma o sexto congresso<br />
<strong>de</strong> medicina.<br />
Des<strong>de</strong> o principio do congresso que se<br />
sustentou uma acalorada discussão sobre a<br />
sorotherapia.<br />
Maragliano <strong>de</strong>senvolveu as leis da applicação<br />
da sorotherapia ao homem, indicando<br />
os resultados que tem obtido pelo seu methodo<br />
na cura da tuberculose.<br />
Indicou também em <strong>de</strong>talhe as matérias<br />
empregadas para vaccinar os animaes e os<br />
resultados que diversos médicos da Italia e<br />
dos outros paizes, obtiveram já sobre ug<br />
doentes. Alguns <strong>de</strong>sses doentes curados foram<br />
apresentados ao congresso. '<br />
O novo car<strong>de</strong>al<br />
Jacobini, o núncio apostolico em Lisboa,<br />
sempre abicha as esporas da victoria — recebendo<br />
em <strong>de</strong>zembro proximo, as honras <strong>de</strong><br />
car<strong>de</strong>al. — Caspité!<br />
E' o premio <strong>de</strong> consolação a quem teve<br />
manhas e artes <strong>de</strong> conseguir evitar que D.<br />
Carlos fosse a Roma.<br />
Quem mostrou gran<strong>de</strong>s recursos <strong>de</strong> estadista,<br />
foi o <strong>de</strong> Soveral, vê-se que é homem<br />
<strong>de</strong> primeira, para a arteirice — não se <strong>de</strong>ixa<br />
ir. — Tem <strong>de</strong>do para o mexerico diplomático.<br />
E a julgarem que o macaco a%ul só era<br />
eximio na pirueta! Entre cruzes e agua benta<br />
se viu o núncio Jacobini.<br />
Ia per<strong>de</strong>ndo o chapéu cardinalício que representa,<br />
no caso, as botas da gorjeta!<br />
Exercito <strong>de</strong> reformados<br />
Aquelle Festas Pinto foi um raio que<br />
caiu do ministério da guerra. A reforma dos<br />
ofíiciaes superiores foi uma re<strong>de</strong> varredoura<br />
nos cofres públicos. Dentro em poucos annos<br />
temos dois exercitos um dos reformados<br />
e outro dos effectivos.<br />
Diz-se que durante o anno ainda serão<br />
reformados, por attingirem o limite da eda<strong>de</strong>:<br />
g tenentes-coroneis, 5 majores e 2 capitães.<br />
E 1 uma insaciavel sanguesuga, que o paiz<br />
tem a sugar-lhe toda a seiva — a bolsa, fazenda<br />
e os filhos.<br />
E não ha soldados!<br />
Galopinagem tonsurai<br />
bentos padres da Felgueira, reuniram,<br />
não para curar das almas, mas para cavarem<br />
na vinha da politica e disporem os trabalhos<br />
<strong>de</strong> galopinagem, para as próximas<br />
eleições.<br />
Òs reaccionários — partido catholico —<br />
trabalham para a conquista das suas candidaturas,<br />
e servem-se do clero para a galopinagem<br />
nas freguezias ruraes.<br />
E assim se ganha o céo — dos lobos.<br />
K<br />
>•<<br />
Protecção aos operários<br />
O <strong>de</strong>putado Coutaut, disse ha dias no<br />
parlamento francez, que a Republica tinha<br />
o imperioso <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> dar protecção aos operários,<br />
procurando collocação aos sem trabalho.<br />
Obrigar todo o patrão <strong>de</strong> qualquer officina<br />
importante, que queira interromper o<br />
trabalho, a <strong>de</strong>clara-lo em uma participação á<br />
auctorida<strong>de</strong> administrativa, com a antece<strong>de</strong>ncia<br />
<strong>de</strong> 34 horas; <strong>de</strong>vendo a auctorida<strong>de</strong>, em<br />
taes casos, tomar as provi<strong>de</strong>ncias necessarias<br />
para que recomece o trabalho o mais breve<br />
possivel.<br />
Coutaut apresentou uma proposta neste<br />
sentido.<br />
Não ha confrontos possíveis com o parlamento<br />
portuguez, on<strong>de</strong> as suas questões<br />
são meramente politiqueiras, <strong>de</strong> exclusivo interesse<br />
dos bandos.<br />
Nada se lhe compara!<br />
O tratamento do cancro<br />
Na ultima sessão da Aca<strong>de</strong>mia das Sciencias,<br />
<strong>de</strong> Paris, o dr. Marey expôz as gran<strong>de</strong>s<br />
linhas d'uma nota dos drs. Hericourt e<br />
Richet, ácerca dos últimos resultados obtidos<br />
pelo methodo serotherapico, no tratamento<br />
do cancro.<br />
Sobresae d'esse trabalho que o methodo<br />
<strong>de</strong>u até aqui resultados apreciaveis. Na maior<br />
parte dos casos o tumor ce<strong>de</strong>u e tomou um<br />
melhor aspecto<br />
E' <strong>de</strong> notar — e para isso chamamos a<br />
attenção dos nossos leitores — que os drs.<br />
Hericourt e Richet não mencionam nenhuma<br />
cura: contentam-se em registrar e assignalar<br />
as melhoras que obtiveram pelo methodo<br />
serotherapico, cujos felizes resultados constituem<br />
o que se chama uma étape scientifica.<br />
••
DEFENSOR J>O Povo<br />
vivas ás promotoras do pic-nic as ex. mas<br />
sr. as D. Marianna Cymbron e D. Maria Ruas,<br />
que foram verda<strong>de</strong>iramente incasaveis em<br />
tornar agradavel e até encantadora aquella<br />
diversão. Não pu<strong>de</strong>mos também <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong><br />
especiaiisar o sr. Brito, um rapaz, que bem<br />
mostra ser da Beira, d'essa região em que a<br />
franqueza personifica a indole dos seus habitantes;<br />
foi elle que contribuiu para se fazer<br />
um magusto, e também lhe coube o pesado<br />
encargo <strong>de</strong> ornamentar, junctamente com o<br />
sr. Baptista e Montanha, a casa da quinta<br />
auxiliados por algumas gentis senhoras.<br />
A's cinco horas da tar<strong>de</strong> foi servido um<br />
fino e abundantíssimo lunch em uma vasta<br />
sala expressa e elegantemente adornada com<br />
arbustos e flores.<br />
O baile, que em seguida principiou, correu<br />
animadíssimo, dançando mais <strong>de</strong> vinte<br />
pares, sendo ás nove horas <strong>de</strong>licadamente servido<br />
o chá.<br />
Seria impossível dar uma nota exacta das<br />
senhoras e cavalheiros que concorreram a<br />
esta intima festa, a qual a todos ha <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar<br />
sauda<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> que em breve se repita.<br />
Entre outras, lembra-nos <strong>de</strong> ter visto as<br />
ex. mas familias dos srs. drs. Sousa Refoios,<br />
Emygdio Garcia, Cymbron, dr. Pessoa, dr.<br />
Raymundo da Motta, dr. Julio Teixeira, e<br />
as sr. as D. Maria Ruas e filha, D. Thereza<br />
Albano e filhas, D. Rosa Bobella, e os srs.<br />
Pedro Diniz, Brito, Alberto Moraes, Oliveira<br />
Monteiro, Ricardo Jardim, Jacintho Machado,<br />
Mourão, Il<strong>de</strong>fonso Silva, Caggigal, Pinheiro,<br />
etc., etc.; e muitas outras senhoras e<br />
cavalheiros <strong>de</strong> cujos nomes nos é impossível<br />
recordar na presente occasião.<br />
Finalmente foi uma festa agradabiilissima,<br />
cheia <strong>de</strong> alegria e <strong>de</strong> mocida<strong>de</strong>.<br />
Os nossos parabéns e o nosso profundo<br />
reconhecimento ás promotoras e promotores<br />
da sympathica festa, na qual reinou sempre<br />
a maior animação, sincera e expansiva alegria.<br />
i-^i<br />
Concerto vocal e instru.iiieii.tal<br />
E' na próxima quarta feira, que se realisa<br />
no theatro Pincipe Real, o sarau-concerto<br />
vocal e instrumental organisado pelo tenor<br />
Joaquim Tavares, que tem a coadjuva-lo artistas<br />
e amadores muito distinctos.<br />
Ha neste concerto <strong>de</strong> canto:<br />
Joaquim Tavares, tenor portuguez, a<br />
quem a imprensa <strong>de</strong> Lisboa e Porto dirigiu<br />
rasgados elogios ao cantor e ao artista, quando<br />
alli organisou alguns concertos. Tem a<br />
escóla <strong>de</strong> Milão e é muito consi<strong>de</strong>rado nos<br />
principaes theatros italianos, para on<strong>de</strong> tem<br />
obtido escriptura, merecendo applausos da<br />
imprensa <strong>de</strong> Italia.<br />
Elvira Brambilla, é uma cantora eximia,<br />
uma artista distincta, colhendo na sua<br />
carreira artística, os melhores loiros, a engrinaldarem-lhe<br />
o seu talento. Ace<strong>de</strong>u a tomar<br />
parte no sarau.<br />
Fe<strong>de</strong>rica Fassini, é uma agradavel menina,<br />
amadora, portugueza e filha <strong>de</strong> paes italianos,<br />
que a tiveram a educar em Milão,<br />
possuindo uma bella voz.<br />
Também um grupo <strong>de</strong> artistas-professores<br />
e artistas amadores d'esta cida<strong>de</strong> executam<br />
dois sextetos, em obsequio ao organísador<br />
do sarau, sr. Joaquim Tavares, que está<br />
muito congratulado por ver coliaborando na<br />
sua festa tanta individualida<strong>de</strong> artística, em<br />
evi<strong>de</strong>ncia, que por sem duvida hão <strong>de</strong> attrahir<br />
ao theatro gran<strong>de</strong> concorrência.<br />
O programma é variadíssimo e escolhido.<br />
Estão á venda os bilhetes nos logares do<br />
costume e na alta.<br />
Folhetim—«Defensor do Povo»<br />
0 CORSÁRIO PORTUGUEZ<br />
ROMANCE MARÍTIMO<br />
ORIGINAL DE<br />
CAPITULO VI<br />
A vingança<br />
«Nosso Senhor Jesus Christo morreu<br />
numa cruz para libertar os homens; mas<br />
aquelles que seguem a sua religião, vão buscar<br />
os negros ás suas terras, e em troca do<br />
baptismo dão-lhe a escravidão!... Oh! Isto<br />
é monstruoso, contrario ás leis da moral!<br />
«Eu já não tenho dinheiro para resgatar<br />
escravos, o Senhor bem o sabe, e ainda hoje<br />
chorei por causa duma pobre família!<br />
«Não ha ainda duas horas que dois negros,<br />
marido e mulher, com dois filhinhos,<br />
vieram pedir-me em nome <strong>de</strong> Jesus Christo<br />
que os salvasse, porque o seu senhor os tinha<br />
vendido, e que em oito dias partiam<br />
para o Maranhão.<br />
L.° ANNO<br />
Notas <strong>de</strong> carteira<br />
Ao sr. Antonio Joaquim Simoes David,<br />
digno escrivão e tabellião do juizo <strong>de</strong> direito<br />
da comarca <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, foram concedidos<br />
3o dias <strong>de</strong> licença.<br />
Que os gose sem incommodos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />
é o nosso <strong>de</strong>sejo.<br />
•<br />
De regresso a esta cida<strong>de</strong>, o bom amigo,<br />
sr. Domingos Cardoso, com sua extremosa<br />
esposa, seu pae e família. Que os banhos da Figueira<br />
e o <strong>de</strong>scanço das fadigas do trabalho<br />
<strong>de</strong> todo um anno venham bem retemperadas<br />
para o continuo labutar.<br />
Caminho <strong>de</strong> ferro d'Arganil<br />
Foi prorogado por uma portaria, até 3i<br />
<strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1896, o prazo para a conclusão<br />
do ramal do caminho <strong>de</strong> ferro <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
a Arganil.<br />
Peor que as obras <strong>de</strong> Mafra.<br />
Concursos<br />
Foi <strong>de</strong>liberado e é ponto assente que não<br />
serão eífectuados, antes do Natal, os concursos<br />
para o preenchimento das ca<strong>de</strong>iras vagas<br />
na faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito da nossa <strong>Universida<strong>de</strong></strong>.<br />
O Ilhéo — gatnno<br />
Foi preso na sexta feira <strong>de</strong> manhã, nesta<br />
cida<strong>de</strong>, por um telegramma do commissario<br />
<strong>de</strong> policia do Porto, o celeberrimo gatuno,<br />
José Raymundo, o llhéo.<br />
E' um heroe na gatunice e dá sempre serviço<br />
á policia, <strong>de</strong> quem elle foge, como o<br />
diabo da cruz.<br />
Nomeações<br />
Foram nomeados contínuos, os srs. Augusto<br />
Diniz <strong>de</strong> Carvalho, para os geraes da<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong>, e Alvaro Julio Marques Perdigão,<br />
para a secretaria.<br />
A GRANEL<br />
Ainda esta semana será aberto concurso para o<br />
preenchimento <strong>de</strong> todas as vagas <strong>de</strong> professores d'ambos<br />
os sexos e para mais cem ca<strong>de</strong>iras que vão ser<br />
creadas. Dizem que serão mais <strong>de</strong> 150 os contemplados.<br />
•<br />
O rei D. Carlos é recebido na Prússia oíBcialmente<br />
como rei <strong>de</strong> Portugal.<br />
Sua Magesta<strong>de</strong> abandona o incognito <strong>de</strong> con<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Barcellos.<br />
Nestas circumstancias a sua visita tem <strong>de</strong> ser <strong>de</strong><br />
curta duração.<br />
•<br />
A commissão da Subscripão Nacional resolveu por<br />
unanimida<strong>de</strong>, entregar as canhoneiras ao ministro da<br />
marinha, assistindo a esse acto a <strong>de</strong>legação da commissão<br />
executiva, lavrando-se auto <strong>de</strong> entrega. A<br />
gran<strong>de</strong> solemnida<strong>de</strong> é reservada á entrega do cruzador.<br />
•<br />
Ainda não <strong>de</strong>ram entrada na respectiva recebedoria<br />
as quantias <strong>de</strong>vidas á fazenda nacional pelos her<strong>de</strong>iros<br />
do fallecido sr. D. Fernando, não obstante o praso para<br />
esse pagamento já ter findo ou estar proximo a findar.<br />
Os pobres, coitados, choravam lagrimas<br />
<strong>de</strong> sangue, e eu chorei com elles; como não<br />
tinha dinheiro, corri a casa do proprietário e<br />
comprei-lh'os, mediante uma letra que se<br />
vence em oito dias! Os <strong>de</strong>sgraçados estão<br />
livres, e Deus me dará os meios para pagar<br />
uma divida tão santa.<br />
Manuel José Fernan<strong>de</strong>s, oa ouvir estas<br />
palavras do virtuoso prelado, sentiu o coração<br />
oppresso, e duas lagrimas lhe rolaram<br />
pelas faces. Verda<strong>de</strong> é que elle tinha também<br />
muitos escravos, mas pela maneira por<br />
que os tratava e alimentava, era adorado por<br />
elles, que o consi<strong>de</strong>ravam como pae. E<br />
quando visitava alguma das suas plantações,<br />
vinham-no esperar ao caminho e apresentavam-lhe<br />
os filhos, porque <strong>de</strong> todos era padrinho.<br />
— Senhor bispo, as virtu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vossa excellencia<br />
reverendíssima são reconhecidas, e<br />
oxalá que todos lhe seguissem o exemplo.<br />
Agora vou pedir a vossa reverendíssima protecção,<br />
não para escravos, para uma familia<br />
po<strong>de</strong>rosa.<br />
Em seguida contou-lhe quanto se tinha<br />
passado entre D. Carlota e D. Francisco,<br />
acrescentando que mais uma traição se premeditava,<br />
e que era necessário prevenil-a.<br />
O bispo respon<strong>de</strong>u-lhe:<br />
— Meu caro amigo, eu já adivinhava isso<br />
mesmo! Sei que o <strong>de</strong>sditoso Carlos foi vi-<br />
•<br />
A policia <strong>de</strong> Lisboa anda em investigações que dizem<br />
respeito ao caso das notas falsas, <strong>de</strong>*scobertas ha<br />
tempo na Covilhã.<br />
•<br />
O governo hespanhol vae agraciar com o Tosão<br />
d'Oiro o presi<strong>de</strong>nte da Republica Franceza, mr. Felix<br />
Faure.<br />
•<br />
Vae respon<strong>de</strong>r em conselho <strong>de</strong> guerra o alferes<br />
Lemos, do corpo <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, que faltou ao embarque<br />
para Moçambique.<br />
•<br />
No julgamento do processo em Berlim, contra o<br />
jornal socialista Vorivaerts, Dierl foi con<strong>de</strong>mnado a<br />
seis mezes <strong>de</strong> prisão, Peunat a nove mezes e Randmahu<br />
a um anno<br />
ESMOLA<br />
Pedimos com instancia uma esmola para<br />
uma pobre familia, privada <strong>de</strong> lodos os recursos<br />
e a braços com uma triste sorte.<br />
Rem merecido é qualquer auxilio que<br />
se lhe conceda.<br />
N'esla redacção se recebe qualquer donativo.<br />
Transporte 800<br />
L. T 200<br />
X 500<br />
Somma 1$500<br />
Livros e jornaes<br />
Os albergues nocturnos <strong>de</strong> Lisbo —Associação<br />
<strong>de</strong> que é presi<strong>de</strong>nte S. M. el-rei o Sr.<br />
V. Carlos I — X — Typ. Barata & Sanches<br />
Lisboa, 1895.<br />
E' um succinto e bem <strong>de</strong>senvolvido relotorio<br />
dos annos <strong>de</strong> 1893 e 1894, on<strong>de</strong> estão traçados<br />
os serviços benemeritos que tão santa casa prestou<br />
aos <strong>de</strong>sabrigados nacionaes e extrangeiros,<br />
nestes dois annos.<br />
Na extensa exposição que a direcção faz a sua<br />
Albergados, nos dois annos:<br />
Portuguezes 4:078<br />
Extrangeiros 616<br />
~4769iT<br />
que se acolheram ao albergue; aos quaes se <strong>de</strong>u<br />
o subsequente numero <strong>de</strong><br />
Agasalhados, 110 mesmo período d'annos:<br />
Portuguezes 25:622<br />
Extrangeiros 2:420<br />
28:042<br />
sendo soccorrido com as seguintes refeições:<br />
Ceias nesses annos:<br />
Em 1893 9:656<br />
Em 1894 11:<strong>54</strong>8<br />
21:204<br />
Dos pobres que o albergue recolheu, 2:977<br />
não sabiam ler. Em 1893 — portuguezes, 1:353;<br />
extrangeiros, 82. Em 1894—portuguezes, í:444;<br />
extrangeiros, 98.<br />
ctima d'uma vingança <strong>de</strong> D. Francisco, que<br />
infelizmente está ligado com frei Rozendo,<br />
que pô<strong>de</strong> tudo na corte pelo confessor <strong>de</strong> sua<br />
magesta<strong>de</strong>, <strong>de</strong> quem é intimo amigo. Não<br />
me fio do governador geral. E' tão bom<br />
como elles !<br />
«Ah! Se ainda fosse governador o marquez<br />
<strong>de</strong> Santo Antonio, então sim, podia eu<br />
tudo, porque nelle teríamos apoio, como sempre<br />
encontrou a justiça e a boa moral; mas<br />
o actual é da intima confiança <strong>de</strong> D. Francisco<br />
<strong>de</strong> Sarmento.<br />
— Mas, senhor, nada se po<strong>de</strong>rá fazer?<br />
— Veremos; <strong>de</strong>ixe-me pensar neste nego-<br />
cio, e conte commigo.<br />
«Em oito dias parte um amigo meu para<br />
Portugal, e mando por elle uma carta ao<br />
marquez, que também pô<strong>de</strong> muito na côrte;<br />
o senhor conhece-o muito bem pelo nome,<br />
pois foi um dos governadores que mais serviços<br />
prestou ao commercio e á agricultura<br />
do Brazil; o seu governo é <strong>de</strong> grata recordação<br />
nesta terra.<br />
Manuel José Fernan<strong>de</strong>s, mais animado,<br />
<strong>de</strong>spediu-se do bispo e retirou-se; no dia seguinte<br />
recebia o santo prelado a seguinte<br />
carta:<br />
«Excellentissimo e reverendíssimo senhor:<br />
— Inclusa achará uma letra <strong>de</strong> vossa reverendíssima,<br />
sacada sobre a casa Cruz & C. a<br />
E' a importancia por que rasgatou a familia<br />
Domingo, 3 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1895—N.° <strong>54</strong><br />
Por esta pequena resenha elucidativa, pô<strong>de</strong><br />
bem avaliar-se quanto é <strong>de</strong> humanitaria a instiluição,<br />
que tão bem cumpre os preceitos do Evangelho—<br />
consolae os tristes que tão bem exerce a<br />
carida<strong>de</strong> — dae aos pobresinhos!<br />
Firma o relatorio que é um primor <strong>de</strong> <strong>de</strong>scripção<br />
e um trabalho <strong>de</strong> mericimento, um grupo <strong>de</strong><br />
benemeritos, generosas almas que espalham o bem a<br />
tantas mil pessoas párias sem abrigo, míseros sem<br />
lareira.<br />
Como relator <strong>de</strong>parou-se-nos o nome benemerito<br />
do sr. con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Valenças, que nos dá burilada<br />
plirase ao <strong>de</strong>screver-nos a miséria que alli se<br />
conforta, no aconchego do leito, no alimento do<br />
corpo, moralisando-se pela «obra perseverante e<br />
continuada do bem que alli se exerce».<br />
E terminamos fechando com o importante summario<br />
do relatorio:<br />
1.° — Prosperida<strong>de</strong> da Associação dos Albergues<br />
Nocturnos. Sua gerencia economica nos annos<br />
<strong>de</strong> 1893 e 1894. Receita e <strong>de</strong>speza da Associação;<br />
<strong>de</strong> que modo se distribuíram os rendimentos<br />
do Albergue:<br />
a) levou a capital — 9:687$180 réis;<br />
b) a 4:694 pobres <strong>de</strong>u 28:042 agasalhos e<br />
21:204 ceias;<br />
c) construiu dois novos andares no asylo nocturno;<br />
e nestes a sala <strong>de</strong> espera dos albergados;<br />
um gran<strong>de</strong> tanque para banhos e para escaldar<br />
as roupas dos pobres; unia estufa para as seccar;<br />
dois novos dormitorios para mulheres.<br />
2." — De que modo prestou outros serviços<br />
aos forasteiros pobres, e quaes os que fez á cida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Lisboa <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1881.<br />
3.° — Kellexões: — Albergados que não sabiam<br />
ler. A escóla da Associação. Sua policia<br />
disciplinar. A nossa carida<strong>de</strong>; hospedagem fraterna.<br />
Os mais <strong>de</strong>sgraçados pe<strong>de</strong>m maior compaixão.<br />
De como nossa religião tem sido a pratica<br />
do bem. A benelicencia em Lisboa. As senhoras<br />
portuguezas, e sua mo<strong>de</strong>sta e sublime<br />
carida<strong>de</strong> christã, sua incunsavel <strong>de</strong>dicação pelos<br />
pobres.<br />
4.° — Parecer da commissão revisora <strong>de</strong> contas.<br />
5.° — Mappas e documentos do relatorio <strong>de</strong><br />
1893 e 1894.<br />
Bem attesta o que ahi íica a <strong>de</strong>dicação sincera<br />
e assuida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sinteressada, que se nota em<br />
tanto trabalho e em tanta benemerencia, pelo pro-<br />
Novos sellos<br />
magesta<strong>de</strong>, e nos numerosos documentos que o ximo, que a má sorte arrastou á miséria.<br />
Começaram hontem a ven<strong>de</strong>r-se na esta- acompanliíim, já bem se avalia quantas mil almas Santa instituição<br />
ção telegrapho-postal, a nova emissão <strong>de</strong> sel- soffriam as privações do inverno, quantos <strong>de</strong>sgra- Penhor <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cimento a s. ex.<br />
los que fora annunciada.<br />
çados seriam viclima da sua miséria.<br />
Os antigos ainda são validos até fins <strong>de</strong> Daremos uma leve resenha dos mappas do mo-<br />
abril do proximo anno.<br />
vimento, correspon<strong>de</strong>ntes aos annos <strong>de</strong> 1893 e<br />
1894.<br />
a , pela amavel<br />
offerta.<br />
Julgamento da «Yangiiarda»<br />
Con<strong>de</strong>mnados<br />
Appellação da setença<br />
Terminou a audiência <strong>de</strong>pois dos <strong>de</strong>bates<br />
dos advogados: accusação, dr. Lopes Vieira,<br />
<strong>de</strong>feza, dr. João <strong>de</strong> Menezes, que fallaram<br />
duas vezes, terminando ás 3 horas e meia da<br />
tar<strong>de</strong>.<br />
A <strong>de</strong>feza do dr. João <strong>de</strong> Menezes foi brilhantíssima.<br />
Freneticamente abraçado pelos<br />
seus admiradores.<br />
Foi lida a sentença que con<strong>de</strong>mna Faustino<br />
da Fonseca, director da Vanguarda e o<br />
seu editor, Illydio Anali<strong>de</strong> da Costa, em tres<br />
mezes <strong>de</strong> prisão, em 5o$ooo réis <strong>de</strong> multa<br />
cada um d elles e nas custas e sellos do processo.<br />
Appellaram da <strong>de</strong>cisão dos tribunaes, prestando<br />
fiança e ficando em liberda<strong>de</strong>.<br />
O tribunal esteve sempre repleto <strong>de</strong> espectadores.<br />
escrava, e como sei que os seus recursos estão<br />
exhaustos, por serem o patrimonio dos<br />
pobres, remetto mais uma or<strong>de</strong>m para rece-<br />
ber da mesma casa dois contos <strong>de</strong> réis. Rogue<br />
por mim a Deus vossa reverendíssima,<br />
e creia-me seu amigo muito affeiçoado. —<br />
Manuel José Fernan<strong>de</strong>s.d<br />
O bispo exultou <strong>de</strong> alegria, e nesse mesmo<br />
dia gastou parte da quantia recebida,<br />
distribuindo-a pelos necessitados.<br />
Emquanto se passavam estes factos, em<br />
que as virtu<strong>de</strong>s pollulam; em casa <strong>de</strong> frei<br />
Rozendo outros tinham logar em condições<br />
tão oppostas, que repugnam.<br />
D. Francisco saiu furioso com as respostas<br />
<strong>de</strong> D. Carlota e foi procurar o fra<strong>de</strong>, que<br />
já tinha modificado as suas opiniões; e se em<br />
Portugal queria fazer santos e santas, no<br />
Brazil fazia escravos!<br />
Em nome, não sabemos <strong>de</strong> que missão<br />
evangelica, auferia importantes lucros; comprava<br />
proprieda<strong>de</strong>s e possuía um gran<strong>de</strong> numero<br />
<strong>de</strong> negros, que tratava peior, <strong>de</strong> que o<br />
Salvador tratou no templo os vendilhões.<br />
Frei Rozendo já não rezava hypocritamente,<br />
fazia usuras, e em vez <strong>de</strong> prometter<br />
o reino do céu aos incautos, dava o inferno<br />
aos pobres escravos, applicando-lhes o chicote<br />
com fervor evangelico!<br />
(Continua]*
DEFENSOR r>O POVO-1-° ANNO<br />
R E C L A M E S E A N N U N C I O S<br />
ESTABELECIMENTO<br />
DE<br />
TINTAS t km DE FOGO<br />
DE<br />
JOÃO GOMES MOREIRA<br />
C O I M B R A<br />
5o * RUA DE FERREIRA BORGES * 5a<br />
(EM FRENTE DO ANCO D J ALMEDINA I<br />
ConnofionP nono ennplnncrnae • Gran<strong>de</strong> sortido que ven<strong>de</strong> por prererragens<br />
para consirucçoes. ços eguaes aos <strong>de</strong> Lisboa e Porto.<br />
Pnonononc ^ err0 e arame P r i rae ' ra qualida<strong>de</strong> com gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>scontos,<br />
rregdyeilò. —Aviso aos proprietários e mestres dobras.<br />
Cutilaría • ^ ut '' ar ' a nac ' ona ' e estrangeira dos melhores auclores. Espe-<br />
8»-Largo do Príncipe D. Carlos —31<br />
Massa fallida <strong>de</strong> José Antão<br />
DA<br />
GESTOSA FUNDEIRA<br />
ARREMATAÇÃO<br />
1.° ANNUNCIO<br />
37 No dia i.° do proximo mez <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>zembro, por 11 horas da<br />
manhã, á porta do tribunal judicial<br />
d'esta cida<strong>de</strong>, pelo processo <strong>de</strong> fallencia<br />
que corre pelo cartorio do<br />
escrivão do tribunal do commercio<br />
d'esta cida<strong>de</strong>, José Lourenço da Costa,<br />
hão <strong>de</strong> ser vendidos a quem maior<br />
lanço offerecer sobre os valores respectivos,<br />
os bens pertencentes ao<br />
fallido José Antão, negociante que<br />
foi na Gestosa Fun<strong>de</strong>ira, freguezia<br />
<strong>de</strong> Castanheira <strong>de</strong> Pera, comarca <strong>de</strong><br />
Figueiró dos Vinhos, os quaes bens<br />
são os seguintes:<br />
partes d'uma casa <strong>de</strong> fiação e cardagem,<br />
com pisão, e castanheiros,<br />
no sitio das Sarnadas, no valor <strong>de</strong><br />
2:095^000 réis.<br />
São citados quaesquer credores<br />
incertos.<br />
Verifiquei a exactidão.<br />
SCO DAS<br />
Neves e Castro.<br />
Justino Antunes Barreira,<br />
participa aos seus numerosos freguezes<br />
que do dia 1.° <strong>de</strong> novembro do corrente<br />
anno em diante ven<strong>de</strong> as carnes nos seus<br />
talhos da praça <strong>de</strong> D. Pedro v, com os<br />
n. 0! 15, 17 e 22, pelos preços abaixo<br />
mencionados.<br />
Lombo, pujadouro e alcatra sem<br />
osso 420<br />
Qualquer peça da perna com osso 300<br />
Assem da flor e pá 280<br />
Assem magro, abas e peito grosso 260<br />
Costellas, prego <strong>de</strong>lgado, cachaço<br />
e carne innervada<br />
VITELLA.<br />
Domingo, 10 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1895 —N.° 56<br />
AOS PBOTOB3APBOS<br />
Productos chimicos, chapas allemãs,<br />
cartões em differentes generos, prensas,<br />
etc., etc.<br />
Preços <strong>de</strong> Lishoa.<br />
DROGARIA DE JOSÉ FIGUEIREDO & C. a<br />
Mon?arroio 25 a 33 —COIMBRA<br />
COMPANHIA DE SEGUROS<br />
F I D E L I D A D E<br />
FUNDADA EM Í83S<br />
SÉDE EM LISBOA<br />
Capital réis 1.344:000$000<br />
Fundo <strong>de</strong> reserva 203:000^000<br />
cialida<strong>de</strong> em cutilaria Rodgers.<br />
- .<br />
Faqu cirOo i<br />
Crystofle, metal branco, cabo d'ebano e marfim, completo<br />
sortido em faqueiros e outros artigos <strong>de</strong> Guimarães.<br />
I nnrae irmla7nc rio for>nn • ^ snia ' ta LOUÇúb lliyicZdo, Qc Icrl O.<br />
daeestanhada, ferroAgale, serviço<br />
completo para mesa, lavatório e cozinha.<br />
pi i Inglez e Cabo Mon<strong>de</strong>go, as melhores qualida<strong>de</strong>s que se emullllcllluò.<br />
pregam em construcções hydraulicas.<br />
Pai HwHrnnlira • bran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito da Companhia Cabo Mon<strong>de</strong>go. —Aviso<br />
Udl íiyUldUIILd. aos proprietários e mestres d'obras.<br />
Tintas nana nintnnac* ^' va ' a ^ es . óleos, agua-raz, crés, gesso, vernizes,<br />
• 111Lao para pHilUído. e muitas outras tintas e artigos para pintores.<br />
Armas Ho fnnn* Carabinas <strong>de</strong> repetição <strong>de</strong> 12 e 15 tiros, revolvers<br />
Hl Ilido UB IUyU. espingardas para caça, os melhores systemas.<br />
r»: , Ban<strong>de</strong>jas, oleados, papel para forrar casas, moinhos e torradores<br />
UIVclouo. para café) machinas para moer carne, balanças <strong>de</strong> todos os<br />
systemas. — Re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> arame, zinco e chumbo em folha, ferro zincado,<br />
arame <strong>de</strong> todas as qualida<strong>de</strong>s.<br />
Flpptririrlarlp p nntira A s encia da casa Ramos & Silva - <strong>de</strong> Lisl)oa Esta companhia, a mais po<strong>de</strong>rosa<br />
<strong>de</strong> Portugal, toma seguros con-<br />
Bens na freguezia <strong>de</strong> Castanheira<br />
<strong>de</strong> Pera.<br />
tra o risco <strong>de</strong> fogo ou raio, sobre prédios,<br />
mobílias ou estabelecimentos, assim<br />
como seguros marítimos. Agente em<br />
Uma terra <strong>de</strong> semeadura com<br />
vi<strong>de</strong>iras, oliveiras, castanheiros, pi-<br />
<strong>Coimbra</strong> —Basilio Augusto Xavier <strong>de</strong><br />
Andra<strong>de</strong>, rua Martins <strong>de</strong> Carvalho, n.°<br />
nhal e mato, atravessada pela estrada,<br />
<strong>45</strong>, ou na do Viscon<strong>de</strong> da Luz, n.° 86.<br />
com duas casas, uma para palheiro, Perna, qualquer membro, pá e<br />
e outra para eira, chamada o Nateiro, costelletas 320<br />
no valor <strong>de</strong> i:ooo$ooo réis. = Uma Peito e cachaço 280 Aos píiotographos amadores<br />
terra <strong>de</strong> semeadura com oliveiras,<br />
<strong>Coimbra</strong>, 29 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895.<br />
pinhal e arvores, atravessada pela<br />
Ven<strong>de</strong>-se muito em conta, uma obje-<br />
estrada, no sitio dos Escorreguinhos,<br />
Justino Antunes Barreira. ctiva <strong>de</strong> Dellmeyer, rapida, rectilínea,<br />
no valor <strong>de</strong> 200$000 réis. = Uma<br />
por 13X18.<br />
terra <strong>de</strong> semeadura <strong>de</strong> rega, com<br />
Neves, Irmãos<br />
oliveiras, no sitio da Relva do Fundo,<br />
no valor <strong>de</strong> oitenta mil réis —<br />
Rua Ferreira Borges, 100<br />
8o$ooo. = Uma sorte <strong>de</strong> terra <strong>de</strong> (Antigo Paço do Con<strong>de</strong>)<br />
rega com testada <strong>de</strong> mato, no sitio<br />
STeste bem conhecido hotel, um<br />
da Nogueira, no valor <strong>de</strong> <strong>de</strong>z mil réis<br />
dos mais antigos e bem con- PADARIA LUSITANA<br />
— io$ooo. = Uma terra <strong>de</strong> semeaceituados<br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, continúa o seu<br />
dura com oliveiras, castanheiros e<br />
(SYSTEMA FRANCEZ)<br />
proprietário as boas tradições da casa,<br />
pinheiros, atavessada pela estrada,<br />
OE<br />
><br />
recebendo os seus hospe<strong>de</strong>s com as<br />
no sitio da Tapada do Meio, no valor<br />
LI Cl, li ilriuauc C upilUa constructores <strong>de</strong> pára-raios, campainhas elé-<br />
attenções <strong>de</strong>vidas e proporcionando-lhes DOMINGOS MIRANDA<br />
<strong>de</strong> 200J6000 réis. = Uma terra <strong>de</strong><br />
ctricas, oculos e lunetas e todos os mais apparelhos concernentes. semeadura <strong>de</strong> milho, no sitio da Ta-<br />
todas as commodida<strong>de</strong>s possíveis, a fim<br />
Pastilhas electro-chimicas, a 50 réisl. ,.<br />
pada do Meio, é <strong>de</strong> rega e tem o valor<br />
<strong>de</strong> correspon<strong>de</strong>r sempre ao favor que<br />
Brilhante Belge, a 160 réis j md.spensave.s em todas as casas <strong>de</strong> 5o$ooo. —Vinte e quatro casta-<br />
o publico ihe tem dispensado.<br />
9 PSo fino, o melhor que se enconnheiros<br />
e cinco carvalhos, com seu Fornecem-se para fóra e por preços tra, pelo systema francez,<br />
terreno, no sitio da Pontinha, no valor commodos jantares e outras quaesquer todos os dias, pela manhã e á noite, a<br />
<strong>de</strong> botiooo réis.—Sete castanheiros, refeições.<br />
25 réis cada dois pães.<br />
JOÃO RODRIGUES RRAGA uma carvalha, testada <strong>de</strong> pinheiros<br />
e mato, no sitio da Risca, no valor<br />
SUCCESSOR<br />
<strong>de</strong> 626000 réis = Nove castanheiros<br />
e oito carvalhas, no sitio da Risca,<br />
17, ADRO DE CIMA, 20 — (Atraz <strong>de</strong> S. Bartholomeu) no valor <strong>de</strong> io$ooo réis.=Uma sorte<br />
H<br />
<strong>de</strong> terra <strong>de</strong> milho com agua <strong>de</strong> rega,<br />
com uma parreira e tres larangeiras,<br />
Proprietário—Jorge da Silveira Moraes<br />
2 Armazém <strong>de</strong> fazendas <strong>de</strong> algodão, lã e seda. Yendas por junto e a retalho. no sitio da La<strong>de</strong>ira, no valor <strong>de</strong> réis<br />
Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> pannos crus. — Faz-se <strong>de</strong>sconto nas compras para<br />
3o$ooo, = Uma sorte <strong>de</strong> terra <strong>de</strong><br />
reven<strong>de</strong>r.<br />
mato, com um castanheiro, no sitio<br />
Completo sortido <strong>de</strong> coroas e houquets, fúnebres e <strong>de</strong> gala. Fitas <strong>de</strong><br />
do Torno, no valor <strong>de</strong> 5$ooo réis.<br />
faille, moiré glacé e setim, em todas as cores e larguras. Eças douradas para<br />
= Dois castanheiros e pinheiros, no<br />
adultos e creanças.<br />
sitio do Barreirinho, no valor <strong>de</strong> réis<br />
6$ooo. = Um souto <strong>de</strong> castanheiros<br />
Continua a encarregar-se <strong>de</strong> funeraes completos, armações fúnebres e<br />
e mato, no sitio da Carga da Lage,<br />
irasladações, tanto n'esta cida<strong>de</strong> como fóra.<br />
no valor <strong>de</strong> 4$5oo réis.=Uma sorte<br />
6, PRAÇA 8 DE MAIO, 7 — COIMBRA<br />
COROAS DE PLUMAS-ALTA NOVIDADE<br />
PREÇOS FIXOS<br />
4 Vrmta agencia se toma conta <strong>de</strong> funeraes<br />
completos, tanto na cida<strong>de</strong> como fóra.<br />
NOVO DEPOSITO DAS Mi ica IMS S GC OSTRA<br />
<strong>de</strong> terra <strong>de</strong> rega, no sitio da Varzea,<br />
no valor <strong>de</strong> looftooo réis. Uma<br />
morada <strong>de</strong> casas com loja e um andar,<br />
com cinco teares, no logar da<br />
Tem caixões feitos em todos os tamanhos e<br />
qualida<strong>de</strong>s. Encontra-se em <strong>de</strong>posito gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> coroas <strong>de</strong> plumas, violetas, seda<br />
vidrilhos, bouquets fúnebres e <strong>de</strong> gala, e todaa<br />
Gestosa Fun<strong>de</strong>ira, avaliada a casa em<br />
qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> flores soltas, preparos para as<br />
2oo$ooo, e os teares em <strong>45</strong>íí>ooo réis.<br />
mesmas, plantas para salas e flores para chapéus,<br />
= Uma morada <strong>de</strong> casas <strong>de</strong> habita-<br />
vindo tudo directamente <strong>de</strong> Allemanha, Paris e<br />
ESTABELECIMENTO<br />
DE<br />
FAZENDAS BRANCAS<br />
ção, com loja, pateo e um andar, na<br />
Gestosa Fun<strong>de</strong>ira, no valor <strong>de</strong> réis<br />
5oo$ooo. = Um olival atravessado<br />
pela estrada, no sitio do Curral Novo,<br />
no valor <strong>de</strong> 3o$ooo réis.=Um olivaí<br />
com um castanheiro, no sitio do Cur-<br />
mais procedências. Toma conta <strong>de</strong> mausoléus,<br />
signaes funerários, exhumações e trasladações<br />
em qualquer cemiterio.<br />
Publica-se ás quintas feiras e dominqos "Tr~><br />
MANUEL<br />
DE<br />
CARVALHO<br />
ral Novo, no valor <strong>de</strong>, 4o$ooo réis.<br />
==Um souto <strong>de</strong> castanheiros, carvalhos<br />
e pinheiros, no sitio do Valle do<br />
Cachopo, no valor <strong>de</strong> ioo$ooo réis.<br />
U E F E L S T S O B<br />
I D O P O V O<br />
JORNAL REPUBLICANO<br />
29 —Largo do Príncipe D. Carlos —31 = Um pinhal com um castanheiro,<br />
no sitio dos Santinhos, no valor <strong>de</strong><br />
EDITOR — Adolpho da Costa Marques<br />
Encontra o publico o que ha <strong>de</strong> melhor em fazendas brancas e um com- 5$ooo réis —Uma sorte <strong>de</strong> terra <strong>de</strong><br />
pleto sortido das recentes novida<strong>de</strong>s para a estação <strong>de</strong> verão e que esta casa regas, ás Vaccas Louras, no valor <strong>de</strong><br />
ven<strong>de</strong> por preços baratíssimos.<br />
3$5oo réis. = Uma sorte <strong>de</strong> terra Redacção e administração—Largo da Freiria, 14, proximo á rua dos Sapateiros<br />
com um castanheiro, duas carvalhas,<br />
As verda<strong>de</strong>iras machinas <strong>de</strong> costura<br />
pinheiros e mato, no sitio das Vaccas<br />
para costureiras, alfaiates e sapateiros, ven<strong>de</strong>m-se no novo<br />
Louras, no valor <strong>de</strong> io^ooo réis.<br />
<strong>de</strong>posito em condições, sem duvida, mais vantajosas do<br />
=Um souto <strong>de</strong> castanheiros com tes-<br />
que em qualquer outra casa <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, Porto, ou Lisboa, apresentando sempre tada <strong>de</strong> mato, no sitio do Valle do<br />
ao comprador um sortido <strong>de</strong> todos os mo<strong>de</strong>los que a mesma Companhia fabrica. Moinho, no valor <strong>de</strong> i5$ooo réis.<br />
CONDIÇOES DE ASSIGNATURA<br />
(PAGA ADIANTADA)<br />
Com estampilha<br />
Sem estampilha<br />
= Uma sorte <strong>de</strong> terra no sitio do<br />
Tendas a prestações <strong>de</strong> ãOO réis senianaes. A dinheiro,<br />
Anno<br />
Valle do Moinho, no valor <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<br />
eom gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>scontos.<br />
mil réis — io$ooo. = Uma sorte <strong>de</strong> Semestre<br />
2$700<br />
1$350<br />
Anno<br />
Semestre<br />
2$400<br />
10200<br />
terra <strong>de</strong> mato, com vi<strong>de</strong>iras, casta- Trimestre 680 Trimestre<br />
f>00<br />
ENSINO GRÁTIS, no <strong>de</strong>posito ou em casa do comprador.<br />
nheiros, oliveiras e pinheiros, no sitio<br />
Na mesma casa executa-se com a maxima perfeição qualquer concerto em<br />
da Abilheira, no valor <strong>de</strong> 3o$ooo réis.<br />
machinas <strong>de</strong> costura, seja qual fôr o auctor, tendo para isso oílicina montada.<br />
=Uma fabrica com testada <strong>de</strong> mato AWWUSíCJIOSi— Cada linha, 40 réis; repetição, 20 réis; contracto<br />
Ao comprador <strong>de</strong> cada machina será offerecido, como brin<strong>de</strong>, um objecto e pinheiros, com duas cardas, um especial para annuncios permanentes.<br />
<strong>de</strong> valor. Dão-se catalogos illustrados, grátis.<br />
lombo para rasgar lãs, e fiação, no<br />
Ven<strong>de</strong>-se oleo, agulhas, carros d'algodão, torçaes e peças soltas para todas<br />
LI¥ROlS: — Annunciam-se gratuitamente quando se receba um<br />
sitio da Abilheira, no valor <strong>de</strong> tres<br />
as machinas.<br />
exemplar.<br />
contos <strong>de</strong> réis — 3:ooo$ooo.= Cinco<br />
Impresso na Typographia Operaria — <strong>Coimbra</strong>