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45-54 - Universidade de Coimbra

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DefensõF do P - ovo<br />

Abyssus abyssmn...<br />

Depois <strong>de</strong> um abysmo, oulro abysmo.<br />

Apóz uma arbitrarieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong><br />

arbitrarieda<strong>de</strong>s.<br />

A gran<strong>de</strong>s violências succe<strong>de</strong>m outras<br />

violências maiores.<br />

Illegalida<strong>de</strong>s monstruosas arrastam<br />

comsigo illegalida<strong>de</strong>s inauditas.<br />

Os abusos, os escandalos e os crimes<br />

reproduzem-se, e multiplicam-se em uma<br />

progressão assombrosa.<br />

E 5 inexorável, é fatal a lógica do absolutismo.<br />

E' esta a lei dominante e suprema da<br />

ambição, quando governa os povos, da tyrannia,<br />

quando impera, e subjuga as nações.<br />

•<br />

Uma vez lançado no tortuoso caminho<br />

do abuso, da violação das leis e offensa do<br />

direito constituído, da prepotencia, da oppressão<br />

e da lyrannia,—o actual governo já<br />

não pô<strong>de</strong> recuar.<br />

Embora <strong>de</strong>sorientado e louco, avança, e<br />

avança <strong>de</strong> continuo, levado por uma prodigiosa<br />

força adquirida.<br />

Não ha quem possa <strong>de</strong>tel-o; nada é<br />

capaz <strong>de</strong> suspen<strong>de</strong>r ou, ao menos, affrouxar<br />

a sua vertiginosa carreira <strong>de</strong> allucinado, <strong>de</strong><br />

doido furioso.<br />

Caminha sempre, e cada vez com maior<br />

fúria, <strong>de</strong> escandalo em escandalo, <strong>de</strong> illegalida<strong>de</strong><br />

em illegalida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> violência em violência,<br />

sem remorsos e, talvez, sem consciência<br />

do mal que faz e pratica.<br />

Impellido por braço infernal, attrahido,<br />

suggestíonado por esse espirito maligno <strong>de</strong><br />

que se mostra possesso, vae <strong>de</strong> precipício<br />

em precipício; caminha allucinado, avança<br />

doidamente <strong>de</strong> abysmo em abysmo, arrastando<br />

comsigo as instituições que preten<strong>de</strong><br />

sustentar, a corôa que julga <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r, o<br />

pobre povo que elle, na sua raivosa sanha<br />

monarchica e por amor da monarchia, persegue,<br />

espezinha, e avilta, a infeliz nação<br />

que <strong>de</strong>sorganisa, envergonha, cobre <strong>de</strong> opprobrio<br />

e <strong>de</strong>scredilo, e, por fim, ha <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r<br />

e arruinar inteiramente, — se o Povo se<br />

não erguer em <strong>de</strong>feza própria e dos seus<br />

direitos, se a Nação com toda a gran<strong>de</strong>za<br />

<strong>de</strong> sua real magesla<strong>de</strong>, com toda a altivez<br />

do seu nobre espirito, não se levantar, em<br />

massa, para se rehabililar e salvar-se, algemaudo<br />

os seus obstinados oppressores, exterminando<br />

os seus infames lyrannos.<br />

Esses oppressores e lyrannos, que, <strong>de</strong><br />

todo cegos <strong>de</strong>ante das nossas <strong>de</strong>sventuras,<br />

surdos ás nossas continuas e justificadas<br />

queixas, inflexíveis ante os nossos brados<br />

ile indignação e protesto, para cumulo <strong>de</strong><br />

malva<strong>de</strong>z e feroz atrocida<strong>de</strong>, ainda por<br />

cima zombam das misérias da Patria, nem<br />

dos seus infortúnios, escarnecem da sua<br />

resignação, da sua cobardia, da sua imbecilida<strong>de</strong>;<br />

e, ao passo que a Nação <strong>de</strong>sce humilhada,<br />

e pobre <strong>de</strong>finha, e exausta <strong>de</strong> forças<br />

agonisa, — o rei e a sua côrle, os seus ministros,<br />

os seus assalariados servidores folgam<br />

em continuas e cada vez mais brilhantes<br />

e espaventosas festas e dispendiosas<br />

diversões, á custa do povo imbecil e cobar<strong>de</strong>,<br />

da nação resignada ou morta.<br />

Porque só a suprema resignação, a<br />

mais <strong>de</strong>gradante cobardia, a mais idiota<br />

imbecilida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m explicar a immobilida<strong>de</strong><br />

quasi cadavérica, a indifferença altamente<br />

criminosa, a baixeza aviltante e a<br />

<strong>de</strong>gradação servil, em que parece haver redondamente<br />

caído e viver totalmente abysmado<br />

o Povo Portuguez!<br />

Sim esse <strong>de</strong>generado Povo Portuguez,<br />

esse pobre diabo, que para ahi está e para<br />

ahi anda aos tiambulhões, e calado soffre, e<br />

a meia voz suspira e geme, açoutado, chicoteado,<br />

ludibriado pormem dúzia <strong>de</strong> homens<br />

sem sciencia nem consciência, presidido<br />

por um outro homem, talvez mais ignorante,<br />

mais inconsciente do que qualquer d'elles.<br />

e todos sem méritos <strong>de</strong> intelligencia que<br />

alguma cousa valham, sem virtu<strong>de</strong>s d'alma<br />

apreciaveis, sem dignida<strong>de</strong> nem pudor;<br />

atrevidos, porque são ignorantes; audaciosos<br />

em praticar o mal, por que não sentem,<br />

não comprehen<strong>de</strong>m, não sabem e, por<br />

isso, são, e se mostram inteiramente incapa-<br />

zes <strong>de</strong> praticar o bem.<br />

Abyssus abyssum invocat.<br />

A obscenida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Franco<br />

A proposito da reforma da camara dos<br />

pares o nosso collega o Tempo, mostra como<br />

o ministério quiz atten<strong>de</strong>r aos <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong><br />

seus amigos e como tem feito do po<strong>de</strong>r uma<br />

arma infame com que aggri<strong>de</strong> os adversarios<br />

políticos, pondo a coberto os aífeiçoados. Ouçamos<br />

o Tempo:<br />

«Não po<strong>de</strong>m ser nomeados pares os cidadãos<br />

inelegíveis para <strong>de</strong>putados, e os chefes <strong>de</strong> missões<br />

diplomáticas não po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>putados, mas o sr.<br />

Soveral, bem como outro chefe <strong>de</strong> missão diplomática,<br />

querem ser pares e hão <strong>de</strong> ser pares.<br />

«Que fez então o governo?<br />

«Declarou que os chefes <strong>de</strong> missões diplomáticas<br />

apezar <strong>de</strong> inelegíveis para <strong>de</strong>putados, podiam<br />

ser nomeados pares I<br />

«Mais:<br />

«Os commissarios régios e os governadores das<br />

provincias ultramarinas não po<strong>de</strong>m ser eleitos<br />

<strong>de</strong>putados.<br />

«Mas o governo tem <strong>de</strong> nomear, e ha <strong>de</strong> nomear<br />

pares do reino,, os srs. Antonio Ennes e o<br />

governador <strong>de</strong> uma província ultramarina muito<br />

visinha da metropole!<br />

«Então que fez o governo?<br />

«Declarou que os commissarios régios e os governadores<br />

das provincias ultramarinas, apezar<br />

<strong>de</strong> inelegíveis para <strong>de</strong>putados, seriam nomeados<br />

pares do reino.<br />

«Oh que gran<strong>de</strong> pan<strong>de</strong>gai<br />

«Oh que gran<strong>de</strong> pago<strong>de</strong>ira!»<br />

Querem-nos mais <strong>de</strong>saforados, mais corruptos<br />

?<br />

E' o baixo império!<br />

••-«<br />

As barcaças<br />

Aos chavecos que constituem a nossa<br />

marinha <strong>de</strong> guerra <strong>de</strong>u-lhe o peco; é ver como<br />

se lhe está dando a reforma por inteiro, por<br />

incapazes <strong>de</strong> serviço.<br />

Vae ser <strong>de</strong>sarmada a corveta Bartholomeu<br />

Dias.<br />

Outros calhambeques em breve passarão<br />

á inactivida<strong>de</strong>.<br />

No que <strong>de</strong>u a antiga e briosa marinha<br />

portugueza!<br />

E estes mariolas não hão <strong>de</strong> ter um castigo<br />

?<br />

Deus é gran<strong>de</strong>!...<br />

Um administrador processado<br />

Na Figueira da Foz movem-se dois processos<br />

contra o actual administrador do concelho,<br />

sr. Augusto Forjaz.<br />

A parte accusatoria <strong>de</strong>sses processos é<br />

um apontoado <strong>de</strong> crimes; accusa-se um admi-<br />

nistrador <strong>de</strong> concelho <strong>de</strong> faisificacão, abuso<br />

> /<br />

<strong>de</strong> auctorida<strong>de</strong>, ultrages á moral publica!<br />

E por aqui fóra em narração <strong>de</strong> tantos<br />

crimes, n'um paiz on<strong>de</strong> a <strong>de</strong>smoralisação<br />

não chegasse ao ponto <strong>de</strong> proteger os maiores<br />

criminosos, ladrões <strong>de</strong> toda a especie, falsificadores<br />

e concussionarios <strong>de</strong> todos os feitios<br />

— esse administrador já estaria <strong>de</strong>mittido!<br />

N'este cantinho da Europa não succe<strong>de</strong><br />

assim. As ca<strong>de</strong>ias enchem-se <strong>de</strong> <strong>de</strong>sgraçados<br />

que roubam para comer e subtraem uns mil<br />

réis, emquanto passeiam os ladrões das salamancadas<br />

e os salteadores da companhia do<br />

Nyassa e dos milhares <strong>de</strong> nyassas que se<br />

têm <strong>de</strong>scoberto, e que ficam impunes.<br />

E não admira que o sr. Augusto Forjaz,<br />

com iampada na casa da Méca, seja absolvido,<br />

ou antes não chegue a ser julgado; emquanto<br />

o seu accusador, Ama<strong>de</strong>u Sanches Barreto,<br />

que é um cidadão honrado, um jornalista<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, será punido com todo o rigor.<br />

Veremos quem se engana. Se houvesse<br />

<strong>de</strong>coro da parte do governo e mormente<br />

d'esse <strong>de</strong>scarado João Telles Jordão, que por<br />

escarneo é ministro, o sr. Augusto Forjaz,<br />

nem mais um minuto estaria administrador.<br />

COIMBRA—Quinta feira, 3 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895<br />

0 ministério e as eleições<br />

Mais uma vez o ministério actual se recompoz;<br />

mais uma vez o rei abusou das suas<br />

funcções; mais uma vez o sr. Hintze Ribeiro<br />

zombou da opinião publica.<br />

O novo ministério, que vae cooperar na<br />

ruina do paiz, accelerada, a cada momento<br />

e sem <strong>de</strong>scanço, pelos <strong>de</strong>fensores da monarchia,<br />

nenhuma, absolutamente nenhuma confiança<br />

nos merece.<br />

A sua intellectualida<strong>de</strong> está muito abaixo<br />

<strong>de</strong> o recommendar á consi<strong>de</strong>ração e ao respeito<br />

publico.<br />

A sua moralida<strong>de</strong> não <strong>de</strong>ve ir muito além<br />

da dos seus collegas, que se não <strong>de</strong>sfraudam<br />

o thesouro publico em seu proveito, <strong>de</strong>sfraudam-no,<br />

comtudo, fazendo concessões illegaes<br />

a emprezas especuladoras, custeando<br />

viajatas inúteis e dispendiosas, festas e manifestações,<br />

dando subsidios a companhias,<br />

a compadres que os <strong>de</strong>fendam na imprensa<br />

e os aju<strong>de</strong>m a esmagar republicanos.<br />

Uma questão <strong>de</strong> moralida<strong>de</strong>, nos tempos<br />

que vão correndo, não tem a importancia<br />

nem a força sufficiente para abrir uma crise<br />

ministerial.<br />

Se, por ventura, o novo e elegantíssimo<br />

ministro procurar reagir contra os <strong>de</strong>smandos<br />

e incoherencias governativas dos seus<br />

preclaros collegas, não se <strong>de</strong>ixando subornar,<br />

como entre nós é costume, immediamente<br />

teria <strong>de</strong> se <strong>de</strong>mittir, para outro <strong>de</strong> menos<br />

escrupulos o substituir e ir satisfazer as<br />

imposições dos mandões políticos, que se<br />

apossaram d'este <strong>de</strong>smantelado organismo.<br />

Quando um paiz se encontra nas tristes<br />

circumstancias <strong>de</strong> Portugal, nem uma crise<br />

que se manifesta em tudo e por toda a parte, os<br />

homens, que se encontrassem á frente dos negocios<br />

pubiicos, <strong>de</strong>veriam ser experimentados,<br />

honestos, intelligentes, illustrados, activos,<br />

emprehen<strong>de</strong>dores e sobre tudo honrados.<br />

Ora como os nossos ministros não têm<br />

as qualida<strong>de</strong>s indispensáveis, a que fizemos<br />

referencia, nós continuremos a ser vexados e<br />

espesinhados por todos; a nossa ruina e quéda<br />

serão irreparáveis, e, quem sabe, se mais longe<br />

ainda nos levará a <strong>de</strong>svairada e anti-patriotica<br />

administração monarchica.<br />

Sem credito nem reputação firmada, o<br />

novo ministro é um pobre remendo no ministério,<br />

que pelas ca<strong>de</strong>iras do po<strong>de</strong>r se arrasta.<br />

Só uma mudança radical nos costumes e<br />

nas instituições pô<strong>de</strong> fortalecer e restituir ao<br />

Povo portuguez, dormente e narcotisado, a<br />

sua antiga e proverbial energia e vitalida<strong>de</strong>.<br />

O mal está nas instituições e não nos homens.<br />

A monarchia é o nosso gran<strong>de</strong> mal, a<br />

nossa vergonha; para lavarmos a nodoa infamante<br />

que ella lançou no corpo do Povo<br />

portuguez, ulcerando-o, temos <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar<br />

quanto antes, o indífierentismo cobar<strong>de</strong>, a<br />

paz podre e revoltante, e lançar-nos, quando<br />

as circumstancias a isso nos habilitem, na<br />

revolução, pois só ella será capaz <strong>de</strong> pôr novamente<br />

a nado a barcaça avariada da governação<br />

publica, e conduzil-a a porto <strong>de</strong> salvamento.<br />

Unamo-nos pois; travemos a lucta, que<br />

será favoravel aquelles que trabalham no engran<strong>de</strong>cimento<br />

da patria, na gran<strong>de</strong> obra da<br />

regeneração social.<br />

O governo que nos dirige traçou um caminho,<br />

<strong>de</strong>ve continuar a seguil-o; ao menos<br />

não se mostre cobar<strong>de</strong>.<br />

Já que inaugurou a politica retrograda e<br />

nefasta á sombra da hypocrisia, não faça<br />

eleições, não se dê no trabalho <strong>de</strong> arranjar<br />

opposição. Para o absolver dos seus feitos<br />

gloriosos e façanhas immorredouras, não precisa<br />

<strong>de</strong> parlamento.<br />

Para que lhe serviria um bill <strong>de</strong> in<strong>de</strong>mnida.<strong>de</strong>?<br />

Por ventura foram revogadas as leis<br />

dictatoriaes do sr. Dias Ferreira ? Não as<br />

sanccionou esta dictadura, muito mais feroz<br />

do que o absolutismo <strong>de</strong> ha oitenta annos ?<br />

O actual governo que lhe succe<strong>de</strong>u no po<strong>de</strong>r<br />

não tem as mesmas responsabilida<strong>de</strong>s, mais<br />

aggravadas ainda talvez? Vamos ter eleições,<br />

e para quê? Que força legal e moral pô<strong>de</strong><br />

ter um parlamento, forjado nas secretarias<br />

do ministério do reino, on<strong>de</strong> os elementos<br />

ministeriaes e palacianos constituem uma<br />

facciosa e exclusiva maioria intransigente e<br />

oppressiva!<br />

Que vantagens viriam d'ahi para o paiz?<br />

Os elementos opposionistas foram violenta-<br />

mente excluídos por uma iei vergonhosa e<br />

injustificável!<br />

O governo faz eleições em respeito á<br />

constituição? Não, mil vezes não. Não tem<br />

ella sido rasgada tantas vezes ?!<br />

On<strong>de</strong> estará a vonta<strong>de</strong> nacional ?<br />

A vonta<strong>de</strong> nacional, quasi não existe já<br />

para a politica.<br />

Matou-a o indifferentismo. Não vemos<br />

nós a indifferença com que foi olhada a noticia<br />

<strong>de</strong> que se iam fazer eleições?<br />

O governo não <strong>de</strong>ve fazer eleições, é a<br />

lógica que o pe<strong>de</strong>. Arrastam pelo charco<br />

immundo o prestigio das instituições; é um<br />

grave erro politico.<br />

Se não pô<strong>de</strong> manter-se por mais tempo,<br />

caia, que a ninguém <strong>de</strong>ixa sauda<strong>de</strong>s; mas não<br />

retroceda, an<strong>de</strong> até po<strong>de</strong>r, vá até ao fim.<br />

Quem sae aos seus...<br />

A proposito dos <strong>de</strong>cretos dictatoriaes —<br />

que estão irritando justificadamente todo o<br />

portuguez que se preza, e todo o jornalista<br />

que se honra — o nosso collega Commercio<br />

<strong>de</strong> Portugal, ainda se admira que haja um<br />

rei do feitio do sr. D. Carlos, e exclama, bestes<br />

períodos, com espanto:<br />

«E ha um rei que se presta a proteger a animar<br />

essas ambições mesquinhas, ignóbeis e ridículas!<br />

«E ha um rei que, esquecendo os seus juramentos,<br />

não duvida sanccionar os mais monstruosos<br />

attentados contra a constituição, que <strong>de</strong>via ser<br />

para elle um thesouro sagrado, porque e a sua<br />

origem, a fonte da sua auctorida<strong>de</strong>, a sua força, a<br />

razão <strong>de</strong> ser, o único élo que o pren<strong>de</strong> á nação!<br />

«Nós bem sabemos que está escripto que são<br />

as monarchias que fazem as republicas, e enten<strong>de</strong>mos<br />

em consciência que chegou aos republicanos<br />

portuguezes o momento <strong>de</strong> se regosijarem e <strong>de</strong><br />

applaudir com as duas mãos todos esses erros collossaes<br />

que se estão praticando.»<br />

Diz o adagio que — Filho <strong>de</strong> gato mata<br />

rato...<br />

Se D. João vi perjurou a constituição, se<br />

a trahiu D. Miguel e rasgou a Carta D. Maria<br />

ii, mantendo no po<strong>de</strong>r o liberalismo <strong>de</strong> Costa<br />

Cabral, por que se estranha que o neto <strong>de</strong><br />

D. Maria n e tataraneto <strong>de</strong> D. João vi esqueça<br />

os seus juramentos?<br />

E diz o Commercio <strong>de</strong> Portugal: — E ha<br />

um rei. ..<br />

Ha um rei — porque não ha um povo!<br />

O Festas em talas<br />

Custa-nos caríssima a promoção do gran<strong>de</strong><br />

general Boum o das manobras da fome—que<br />

se está a ver agraviado com as <strong>de</strong>spezas das<br />

ultimas reformas.<br />

Agora é que são as dores, e como lhe<br />

parecem poucas as dissipações que tem feito<br />

em prejuízo do thesouro publico, vae pedir<br />

um credito extraordinário <strong>de</strong> 3i contos <strong>de</strong><br />

réis I<br />

Era converter os 3i contos em 3i marmelleiros<br />

que lhe zurzisse aquelle corpanzil.<br />

São uns rapinas!<br />

Aos reaccionários<br />

Em reprimenda ao facciosismo odiento do<br />

jesuita-reaccionario — á frente o fundibulario<br />

do Correio Nacional — que não cessa nas<br />

suas arremettidas contra os princípios sociaes<br />

e o i<strong>de</strong>al emancipador das classes populares<br />

— o arcebispo <strong>de</strong> York, na conferencia annual<br />

do clero anglicano, tratando aos <strong>de</strong>veres<br />

da egreja com relação aos problemas<br />

sociologicos, disse :<br />

«E' um facto que o socialismo, sob uma ou<br />

outra forma, euraizou-se fortemente nas sympathias<br />

d'uma gran<strong>de</strong> parte da população operaria<br />

britanuica, a particularmente eutre a mocida<strong>de</strong>.<br />

Seria falta <strong>de</strong> iutelligencia da parte da Egreja ignorar<br />

os males e as queixas reaes que <strong>de</strong>ram origem<br />

a este movimento, ou fechar os ouvidos ás aspirações<br />

da mocida<strong>de</strong> laboriosa. A Egreja <strong>de</strong>ve reconhecer<br />

que ha no aetual systema social profundas<br />

reformas a operar, e reivindicações a atten<strong>de</strong>r por<br />

parte d'aquelles a quem esta questão interessa<br />

mais directamente, afim <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r cooperar cora<br />

elles no sentido <strong>de</strong> as resolver.»<br />

E não entra na burrice do Correio Nacional<br />

que os tempos não vão <strong>de</strong> mol<strong>de</strong> a<br />

retrogradar e que a respeito <strong>de</strong> D. Miguel e<br />

do resto — era d'uma vez!<br />

O século da dynamite ha <strong>de</strong> vencer a<br />

tyrannia dos barbaros e <strong>de</strong>rrotar a hereditarieda<strong>de</strong><br />

dos déspotas.<br />

Poia então 1


J O e f e i v s o i * D O Poyo-1.' ANNO Quinta feira, 3 do outubro <strong>de</strong> 1895 -N.° <strong>45</strong><br />

Sciencías, lettras e artes<br />

A S D U A S IRMÃS<br />

C O N T O<br />

Traducção do hespanhol<br />

(CONCLUSÃO)<br />

Antes que sua irmã tivesse tempo <strong>de</strong> fazer<br />

a menor observação, tinha posto o chalé<br />

e pegado na caixa <strong>de</strong> castão em que levava<br />

as flores.<br />

— Até já — exclamou da porta, lançando<br />

um beijo a sua irmã.—A<strong>de</strong>us sr. Henrique.<br />

E sahiu como se urgira muito o que tinha<br />

que fazer, <strong>de</strong>ixando juntos o typographo e<br />

sua irmã Sophia; aquelle muito mais tranquillo,<br />

como se a presença da joven o preturbára,<br />

e esta comprehen<strong>de</strong>ndo que se tratava<br />

d'alguma cousa grave, alguma cousa que po<strong>de</strong>ria<br />

ser a realisação d'um sonho ha muito<br />

tempo acariciado.<br />

— Menina Sophia... — disse o mancebo<br />

logo que se acharam sós.—Irei direito ao<br />

assumpto, pois não sei fazer ro<strong>de</strong>ios e o coracão<br />

apressa-se muitíssimo.<br />

* Sophia levantou a vista e os seus olhares<br />

encontraram-se. Amava-a; não o podia duvidar.<br />

Emquanto ella, também o não podia<br />

dissimullar: havia tanto tempo que o amava<br />

também.<br />

Já me conhece v. ex. a — proseguiu Henrique.—<br />

Não tenho fortuna, mas sim algumas<br />

economias, as bastantes para montar<br />

casa e para as primeiras necessida<strong>de</strong>s. Sou<br />

orphão como v. ex. a , mas sou trabalhador e<br />

não tenho vicios. Creio, embora, que po<strong>de</strong>rei<br />

ser um bom marido.<br />

— Um marido ? — perguntou Sophia.<br />

— Já v. ex. a vê se sim ou não tem a minha<br />

felicida<strong>de</strong> nas suas mãos. Ao ver a v. ex. as<br />

tão honradas e tão laboriosas senti por v. ex. as<br />

viva amiza<strong>de</strong>.<br />

Este sentimento <strong>de</strong>u a vez a outro, e, em-<br />

— Que <strong>de</strong>vo respon<strong>de</strong>r-lhe ?<br />

Como Maria, tremula, não respon<strong>de</strong>ra;<br />

perguntou-lhe :<br />

— Amal-o ?<br />

Maria lançou-se nos braços <strong>de</strong> sua irmã,<br />

e quasi ao ouvido murmurou-lhe:<br />

Sim ! Sim !... mamã.<br />

Sophia estremeceu ao ouvir-lhe chamar<br />

mamã. N'aquelle momento^ esse era o único,<br />

seu verda<strong>de</strong>iro nome: elie representava a sua<br />

missão na terra. O seu sonho pessoal havia-se<br />

<strong>de</strong>svanecido: só lhe restava já fazer<br />

felizes áquelles dois amantes.<br />

Quando chegada a noite, Henrique chamou<br />

á porta <strong>de</strong> casá, entrelaçou as mãos dos<br />

dois jovens, e murmurou <strong>de</strong>pois, olhando para<br />

o retrato :<br />

— Estás contente, minha Mãe ? Jurei substituir-te<br />

junto <strong>de</strong> tua filha mais nova... tenho<br />

sabido cumprir o meu juramento!<br />

G.<br />

Para amigos...<br />

Lá vão para o extrangeiro dois bemaventurados<br />

a quem o governo <strong>de</strong>u a gorgeta <strong>de</strong><br />

chorudas commissões: Para Marselha, partiu<br />

um, que ninguém sabe a que cascas<br />

d'alho; o outro vae assistir á impressão d'uma<br />

carta geographica que se está preparando<br />

em Paris!<br />

Lembra-nos que ha annos — na febre <strong>de</strong><br />

sustentar vadios no extrangeiro — se fez a<br />

nomeação d'um medico que foi a Paris estudar<br />

enca<strong>de</strong>rnação!<br />

Enca<strong>de</strong>rnados, ou melhor—empallados —<br />

precisa essa sucia!<br />

CARTA DO PORTO<br />

i <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> i8g5.<br />

fim, dicidi-me a dizer a v. ex. a a verda<strong>de</strong> inteira.<br />

Amo...<br />

— V. Ex. a ama?...<br />

Sophia <strong>de</strong>teve-se também perturbada e<br />

palpitante.<br />

— Amo Maria como um louco, e venho<br />

pedir a v. ex. a a sua mão.<br />

Sophia recuou vivamente, levando a mão<br />

ao coração como para impedir que saltasse<br />

em pedaços.<br />

— Maria! — murmurou d'um modo inconsciente<br />

?<br />

E teve que apoiar-se ás costas d'uma ca<strong>de</strong>ira,<br />

sentindo-se <strong>de</strong>sfallecer.<br />

— Sim continuou o amante sem dar<br />

conta <strong>de</strong> nada.—Já sei que Maria é mui joven,<br />

mas precisamente a sua juventu<strong>de</strong> e alegria<br />

é que mais me tem impressionado. Juro<br />

a v. ex. a que a farei ditosa, e que serei para<br />

v. ex. a um irmão cheio <strong>de</strong> abnegação.<br />

Mas Sophia não o escutava: sentia na alma<br />

um enorme vácuo, e em vão luctava por pôr<br />

em or<strong>de</strong>m as suas i<strong>de</strong>ias. Todos os seus sonhos<br />

<strong>de</strong> ventura se haviam <strong>de</strong>svanecido n'um<br />

instante!<br />

Por fim pô<strong>de</strong> fallar.<br />

— Será preciso consultar minha irmã.. <<br />

e fal-o-hei: volte v. ex. a esta noite.<br />

A pobre rapariga sentiu necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

ficar só.<br />

— Ah! menina, v. ex. a Não estou ainda completamente restabelecido.<br />

Mas esta inércia dos portuguezes<br />

em frente dos <strong>de</strong>cretos, que lhes cortam as<br />

garantias, faz vibrar os nervos dos mais pacíficos.<br />

Quem ha ahi d'entre os liberaes e republicanos,<br />

que possa ler sem pasmo a reforma<br />

da camara dos pares, subtraindo á soberania<br />

da nação o elemento electivo ?!<br />

Não são sufficientes os cem pares vitalícios<br />

nomeados pelo rei, cercêam-se ainda á<br />

soberania popular os cincoenta pares electivos.<br />

E isto ainda po<strong>de</strong>ria passar sem reparo<br />

: por que, afinal, todos são eleitos pela<br />

fórma que os governos querem: o peor é<br />

que d'ora ávante os ministros da constituição<br />

ficam com o direito <strong>de</strong> enviar ás camaras<br />

homens por si, munidos <strong>de</strong> palavriado, para<br />

entrarem na discussão dos projectos.<br />

E' o artigo 4.<br />

é tão boa, que me<br />

<strong>de</strong>ixaria matar por si.<br />

O quê!—disse a rapariga forçando-se<br />

por sorrir — não seria melhor meio <strong>de</strong> casar<br />

com Maria.<br />

Logo que ficou só, <strong>de</strong>ixou-se cahir n'uma<br />

ca<strong>de</strong>ira verda<strong>de</strong>iramente transtornada. Que<br />

cruelda<strong>de</strong> a <strong>de</strong> Henrique! Mas porque amára<br />

Maria e a ella não? Não era joven, não era<br />

formosa ainda? Porque ha <strong>de</strong> ser tão differente,<br />

o <strong>de</strong>stino das pessoas?...<br />

O seu pensamento <strong>de</strong>teve-se repentinamente.<br />

Seria possível que tivera ciúmes <strong>de</strong><br />

sua irmã? Não era natural que aquelles dois<br />

jovens se amassem?... porque, indubitavelmente,<br />

Maria <strong>de</strong>via amar também Henrique.<br />

E vendo-se n'um espelho, Sophia observou<br />

que a sua tez havia perdido a frescura,<br />

que o seu olhar era triste e profundo, que<br />

entre os negros cabellos que lhe cahiam sobre<br />

a fronte viam-se algumas cãs... Desviou<br />

os olhos do espelho e fixou-os no retrato <strong>de</strong><br />

sua Mãe; então cahiu <strong>de</strong> joelhos e com as<br />

mãos levantadas para ella, recordou-se instantaneamente<br />

da promessa feita á moribunda<br />

e tão heroicamente cumprida.<br />

I l l<br />

Sentiu ruidos <strong>de</strong> passos; era Maria que<br />

regressava. Então levantou-se doida, e, sentando-se<br />

na sua ca<strong>de</strong>irinha <strong>de</strong> costura, continuou<br />

o trabalho.<br />

A sua resolução estava tomada, encontrando<br />

até um goso infinito no sacrificio que<br />

ia realisar.<br />

— Sabes o que me disse Henrique? —<br />

perguntou a irmã.— Pois disse-me que te<br />

troava, pediu-me a tua mão.<br />

0 da reforma da camara dos<br />

pares, que acaba <strong>de</strong> implantar em Portugal<br />

esse lindo systema.<br />

Nem os <strong>de</strong>putados, nem os pares, nem os<br />

ministros são sufficientes para discutir as<br />

leis... as leis... que forem projectadas; precisam<br />

<strong>de</strong> dar homens por si! quem serão estes<br />

d'entre os funccionarios superiores ?!<br />

Maior concentração, centralisação, e realeza,<br />

já não pô<strong>de</strong> haver.<br />

Para que seriam as luctas, as conquistas<br />

liberaes, se os <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes dos conquistadores<br />

<strong>de</strong>stroem a ban<strong>de</strong>ira revolucionaria, que<br />

os guiou ao combate, e á victoria ?! que o<br />

diga o ecco das palavras <strong>de</strong> Passos Manoel,<br />

e <strong>de</strong> tantos outros, que luctaram em beneficio<br />

da patria.<br />

Agora no meio <strong>de</strong> tudo isto um silencio<br />

sepulchral, e um <strong>de</strong>svio uniforme para cousas<br />

que nada tem <strong>de</strong> util para o paiz. Muito<br />

palavriado, muitos artigos; e nada mais.<br />

Parece, que os portuguezes estão como<br />

os rifenhos, embrulhados nas longas saias ás<br />

portas da cida<strong>de</strong>, esperando que a provi<strong>de</strong>ncia<br />

lhes <strong>de</strong>pare melhor sorte.<br />

Bem fez o nosso Magalhães Lima em assistir<br />

ao congresso internacional da imprensa<br />

em Bordéus ; on<strong>de</strong> se discutiram as bases<br />

para que o jornalismo tenha por base o ensino<br />

profissional, e os conhecimentos <strong>de</strong> economia<br />

politica e social.<br />

Ahi se disse, que muitos jornalistas são<br />

d'uma ignorancia, e versatilida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> causar<br />

espanto : e que outros são apenas maitreschanteurs.<br />

Quando pois o jornalismo fôr o que <strong>de</strong>ve<br />

ser, e se <strong>de</strong>cidir a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a patria, o povo<br />

portugue\, com recta e sã consciência, nenhum<br />

ministro se atreverá a propôr um só<br />

<strong>de</strong>creto ao rei, um só projecto em cortes,<br />

que tenha por fim cercear as liberda<strong>de</strong>s, e<br />

fazer retrogradar o povo portuguez ao tempo<br />

do absolutismo, quando tem obrigação <strong>de</strong> o<br />

guiar no caminho do progresso e da conquista<br />

<strong>de</strong> novos horisontes da liberda<strong>de</strong>.<br />

— Como <strong>de</strong>vem saber falleceu o pae do<br />

nosso amigo, Xavier Esteves. Era um soldado<br />

fiel.<br />

Ao nosso amigo reiteramos sentidos pezames.<br />

LOPES DA GAMA»<br />

Correspondência balnear<br />

Espinho, 3o <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> i8g5.<br />

Na minha anterior correspondência, fatiando<br />

da recita promovida pelas senhoras<br />

em beneficio da Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Soccorros Mutuos<br />

d'esta agradavel praia, esqueceu-me dizer,<br />

que tinham sido o actor Simões, pae da<br />

insigne actriz Lucinda Simões e o sr. dr.<br />

Emygdio Garcia, os ensaiadores da pane<br />

dramatica do espectáculo, e que foi <strong>de</strong>vido<br />

aos seus esforços, intelligente direcção e<br />

muito boa vonta<strong>de</strong>, que os distinctos amadores<br />

alcançaram um tão notorio e brilhante<br />

triumpho.<br />

O actor Simões, um velho <strong>de</strong> setenta<br />

annos, com o vigor dos novos, então foi<br />

verda<strong>de</strong>iramente incansavel, pena foi que não<br />

po<strong>de</strong>sse assistir até ao dia da recita, pois<br />

teria uma estrepitosa ovação ao seu talento<br />

e aptidão scenica.<br />

As pessoas que entraram na recita e suas<br />

famílias, tencionam fazer um gran<strong>de</strong> pic-nic,<br />

para solemnisarem a festa <strong>de</strong> carida<strong>de</strong>, que<br />

ellas tão gentilmente realisaram animadas<br />

pela philantropia e amiza<strong>de</strong> aos <strong>de</strong>sprotegidos<br />

da fortuna.<br />

Ren<strong>de</strong>u approximadamente 40026000 réis,<br />

dos quaes em breve a direcção da Socieda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Soccorros Mutuos será embolsada, logo<br />

que se liqui<strong>de</strong>m e organisem as contas.<br />

•<br />

Têm retirado immensas famílias, em<br />

compensação têm chegado outras da província;<br />

como as vindimas estão quasi concluídas,<br />

a população dos campos vêm sempre<br />

n'esta epocha para a praia, epocha em que<br />

nós, os das cida<strong>de</strong>s regressamos ao seio das<br />

famílias, levando muitas vezes sauda<strong>de</strong>s d'uma<br />

cara bonita ou d'uns olhos seductores, que<br />

<strong>de</strong> vez em quando nos acco<strong>de</strong> á imaginação<br />

n'uma noite invernosa sentados á lareira ou<br />

á banca do estudo <strong>de</strong>ante d'uma sebenta <strong>de</strong><br />

respeito.<br />

Na Assemblêa dança-se muito menos; nos<br />

cafés nota-se menos animação, musica já não<br />

ha, o tercetto foi-se para o Porto, <strong>de</strong>ixando<br />

sauda<strong>de</strong>s a todos que apreciam musica quando<br />

bem executada; as roletas muito menos concorridas;<br />

diz-se por cá que ganharam bons<br />

contos <strong>de</strong> réis este anno; dos banhistas só<br />

meia dúzia se po<strong>de</strong>rão gabar <strong>de</strong> ter ganho,<br />

os outros per<strong>de</strong>ram sempre e muitas vezes<br />

mais do que podiam e <strong>de</strong>viam.<br />

Até á semana.<br />

GABIRU.<br />

A nossa riqueza<br />

Continuam a sair para o extrangeiro gran<strong>de</strong>s<br />

remessas d^iro, o que prova que a crise<br />

economica que tem estado latente vae augmentando.<br />

O nosso collega o Tempo, que com<br />

dupla razão não <strong>de</strong>ixa o lord Hintze, intrujão-mór<br />

das finanças, e que preten<strong>de</strong> mostrar<br />

ao paiz gran<strong>de</strong>s felicida<strong>de</strong>s, dá-lhe a nota do<br />

oiro saido ha dias <strong>de</strong> Lisboa:<br />

«Foram <strong>de</strong>spachadas na alfan<strong>de</strong>ga para seguir<br />

para Londres: no Thames, 1 caixa com 4:000<br />

libras sterlinas pelo sr. A. J. da Silva e i caixa<br />

com 1:860 libras pela Companhia <strong>de</strong> Estamparia<br />

em Alcantara, e 110 London i caixa com 215 libras<br />

sterlinas, 4:1041000 róis em ouro, moeda americana,<br />

5001000 réis em ouro, moeda hespanhola,<br />

260$000 réis em ouro, moeda argentina, 7o0$000<br />

réis em ouro, moeda allemã, 184H000 réis em<br />

ouro, moeda portugueza, e 260$000 réis <strong>de</strong> ouro<br />

em barra, pelo Credit Franc-Portugais.»<br />

Bem se vê que está passada a crise. Só<br />

<strong>de</strong> quem não tem vergonha.<br />

Uma festa que nos envergonha<br />

O povo portuguez continúa dando signaes<br />

<strong>de</strong> imbecilida<strong>de</strong>. Triste é confessal-o!<br />

No meio do maior enthusiasmo, ao som<br />

do hymno da Carta, aos vivas á liberda<strong>de</strong> e<br />

ao rei, alguns concelhos estão festejando<br />

estrondosamente, segundo dizem os jornaes,<br />

inclusive o Século, o seu engran<strong>de</strong>cimento<br />

territorial á custa da extorsão que se fez aos<br />

povos visinhos, a quem o arbítrio dos dictadores<br />

usurpou a autonomia e as suas tradições.<br />

Comquanto a terra on<strong>de</strong> nascemos nos<br />

mereça maior consi<strong>de</strong>ração e respeito que as<br />

outras, não <strong>de</strong>vemos comtudo vangloriarmonos<br />

do rebaixamento dos outros, quando foram<br />

injustamente expoliados.<br />

Dizemos estas palavras para que lhe aproveitem<br />

<strong>de</strong> futuro, e se emen<strong>de</strong>m, se ainda é<br />

tempo.<br />

Os povos como os indivíduos, nem <strong>de</strong>vem<br />

locupletar-se á jactura alheia, mais do que vergonhosa,<br />

in<strong>de</strong>cente.<br />

O extrangeiro já nos <strong>de</strong>ve consi<strong>de</strong>rar bem<br />

ordinários e imbecis.<br />

Não lhe <strong>de</strong>mos agora motivo <strong>de</strong> nos chamar<br />

pulhas sem critério nem vergonha.<br />

Como nos repugna dizer estas verda<strong>de</strong>s!<br />

A que estado chegámos!<br />

X X X V I I I<br />

E' o que vale ao paiz<br />

n'esta real rapioca<br />

não gastar uma <strong>de</strong> X —<br />

nosso rei — na paparóca.<br />

Os reis das outras nações<br />

dizem que vão <strong>de</strong>cretar<br />

muitas mais contribuições<br />

p'ra lhes darem <strong>de</strong> jantar!...<br />

Mesmo comendo <strong>de</strong> graça<br />

(tenho esta i<strong>de</strong>ia aziaga),<br />

préga o governo a pirraça<br />

e o Zé povinho é quem paga.<br />

'stou a vêr um bom empalmo,<br />

que <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> tantas fainas,<br />

paga com lingua <strong>de</strong> palmo<br />

o paiz — as comezainas!<br />

No percurso da viagem ao<br />

extrangeiro o sr. D. Carlos hospedar-se-ha<br />

nos palacios reaes<br />

<strong>de</strong> Italia, Allemanha, Inglaterra<br />

e Hespanha.<br />

EVa -Dique.<br />

Assumptos <strong>de</strong> interesse local<br />

Abertura «ia <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

Realisou-se, no dia primeiro, com as cerimonias<br />

e pragmaticas do velho ritual académico.<br />

Com a affirmação theologica da missa e<br />

da invocação do Divino Espirito Santo e<br />

com o, não menos theologico e retrogrado,<br />

juramento dos lentes, inaugurou os seus<br />

trabalhos o nosso primeiro estabelecimento<br />

scientifico.<br />

Latim e canto-chão, invocação do sobrenatural,<br />

prisão da consciência aos mysterios<br />

e dogmas da religião ofikial, obediencia passiva<br />

e fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> incondicional ás instituições<br />

vigentes e á or<strong>de</strong>m politica estabelecida,'são<br />

óptimas garantias, penhor seguro <strong>de</strong> progresso<br />

intellectual e aperfeiçoamento scientifico,<br />

para <strong>de</strong>vidamente orientar o professorado<br />

na direcção que <strong>de</strong>ve dar no seu ensino,<br />

para disciplinar mentalmente e educar<br />

a briosa mocida<strong>de</strong> académica, afim <strong>de</strong> que o<br />

seu estudo seja intellectualmente productivo,<br />

moral e socialmente proveitoso á Patria e á<br />

Humanida<strong>de</strong>.<br />

E' certo, porém, e d'isso po<strong>de</strong>mos estar<br />

seguros que tal solemnida<strong>de</strong> religiosa não<br />

passa d'uma velharia persistente, d'uma tradição<br />

medieval hoje sem valor, sem significação<br />

e até sem prestigio; e em quanto<br />

ao juramento, é, como o juramento da Carta<br />

pelo rei e pelos seus ministros, uma impertinente<br />

formalida<strong>de</strong> bureaucratica, tão ridícula<br />

como inútil.<br />

•<br />

A concorrência <strong>de</strong> lentes foi diminuta;<br />

a capella estava quasi <strong>de</strong>serta; não havia<br />

espectadores, já não ha curiosos.<br />

Raream os afficcionados d'estas festas e<br />

cerimonias, em que os papas e os reis envolveram,<br />

neutras eras, os estabelecimentos<br />

scientificos.<br />

Estudantes nem um só! A festa passou-se<br />

em família, com ausência <strong>de</strong> muitos dos seus<br />

membros, que se <strong>de</strong>ixaram ficar socegados<br />

no seio talvez d'outra família, que lhes <strong>de</strong>ve<br />

ser mais cara e agradavel, respirando os ares<br />

pátrios e vivificadores da sua terra natal, ou<br />

veraneando por essas praias para revigorar<br />

as forças quebrantadas pelo estudo, ou por<br />

essas estancias <strong>de</strong> aguas medicinaes para<br />

curar as dispepsias e outras enfermida<strong>de</strong>s<br />

adquiridas por muitos mezes <strong>de</strong> aturado esforço<br />

intellectual e vida se<strong>de</strong>ntaria, consagrada<br />

ao magistério.<br />

Além do sr. reitor, secretario, be<strong>de</strong>is,<br />

guarda-mór, archeiros e <strong>de</strong> menos, talvez, da<br />

terça parte do corpo docente, nem viva<br />

alma!<br />

Graças á caturrice do Conselho Superior<br />

<strong>de</strong> Instrucção Publica e á prosapia auctoritaria<br />

do sr. ministro do reino, que não quizeram<br />

auctorisar a mudança da festa para o<br />

dia 16, como era razoavel, economico e até<br />

politico; porque maior esplendor e força<br />

adquiriam com isso as instituições, que <strong>de</strong><br />

taes festas vivem, e d'ellas tiram a sua maior<br />

forca.<br />

»<br />

A cousa porém explica-se: o sr. ministro<br />

do reino não soffre do estomago, nem dos<br />

fígados, nem dos intestinos por efféito <strong>de</strong><br />

aturados esforços intellectuaes e fadigosos<br />

estudos; soffre dos queixos; não é dispeptico,<br />

é nervoso; não tem hemorrhoi<strong>de</strong>s nem<br />

hepatites, tem hysterimo chronico, com crises<br />

agudas perigosíssimas, com accessos terríveis,<br />

com monomanias estapafúrdias.<br />

Agora <strong>de</strong>u lhe para andar <strong>de</strong> ponta com<br />

a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito, na qual sua ex. a é<br />

bacharel, e do qual foi um musico, dizem<br />

- que não inteiramente <strong>de</strong>safinado.


1>KJ-I:tssoií I>O P O V O — 1.° ANNO Quinta feira, 3 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895 — N.° <strong>45</strong><br />

Dr. Lopes da Gaina<br />

Com intimo regosijo publicámos hoje a<br />

Carta do Porto, do nosso illustrado correspon<strong>de</strong>nte,<br />

sr. dr. Francisco Lopes <strong>de</strong> Sousa<br />

Gama, um distincto jurisconsulto e convicto<br />

republicano.<br />

E tanto maior o nosso jubilo quanto vemos<br />

a sua <strong>de</strong>dicação pelo nosso jornal, que<br />

muito se honra com a sua collaboração.<br />

Não pou<strong>de</strong> o sr. dr. Lopes da Gama,<br />

apezar dos seus pa<strong>de</strong>cimentos que o fizeram<br />

retirar do nosso lado e dos seus trabalhos da<br />

advocacia — <strong>de</strong>ixar sem protesto o acto <strong>de</strong><br />

dictadura da reforma da camara dos pares a<br />

qual supprime o direito das gentes, violando<br />

as disposições da Carta com a audacia própria<br />

<strong>de</strong> quem per<strong>de</strong>u <strong>de</strong> todo a dignida<strong>de</strong> e<br />

a honra.<br />

E' energico o protesto que publicamos<br />

hoje na Carta do Porto, e bem revela a<br />

indignação do illustre republicano.<br />

O fornecimento <strong>de</strong> carne<br />

A camara vae novamente pôr a concurso<br />

o fornecimento <strong>de</strong> carnes ver<strong>de</strong>s, estabelecendo,<br />

pelo que foi resolvido em sessão, tres<br />

cathegorias para a venda da vacca.<br />

Está <strong>de</strong>monstrado que esse processo <strong>de</strong><br />

venda ha <strong>de</strong> prejudicar o publico e dar logar<br />

a abuso§ constantes, que a eamara <strong>de</strong>pois<br />

não po<strong>de</strong>rá reprimir, nem evitar.<br />

Se para este resultado — as tres cathegorias<br />

— a camara, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> muito matutar e<br />

estudar tantos dias, só viu como única medida<br />

razoavel a adoptar, essa das cathegorias, dá<br />

<strong>de</strong> si má i<strong>de</strong>ia, pois qua na primeira arrematação<br />

foi ella retirada por se conhecer as<br />

portas falsas que dariam logar a que o consumidor<br />

po<strong>de</strong>sse ser logrado.<br />

Salvo se acamara está disposta a quebrar<br />

a sua attitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> principio, para se converter<br />

em protectora inconsciente d'algum amigalhote<br />

encoberto!<br />

Vejam se têm olhos <strong>de</strong> ver, e se cabe no<br />

bestunto d'algum dos birrentos, que as vendas<br />

por cathegorias é um disparate, n'uma terra<br />

que está acostumada a fornecer-se <strong>de</strong> carne<br />

para cozer, bife, assado, etc., sem varieda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> preços — a não ser em condições muito<br />

especiaes — e que não enten<strong>de</strong> <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> vacca nem conhece a diíferença entre a<br />

i. a , 2. a e 3. a classe.<br />

As serviçaes que fazem as compras po<strong>de</strong>m<br />

muito bem ser ílludidas e em vez <strong>de</strong> lhe<br />

darem carne <strong>de</strong> primeira classe ser ella <strong>de</strong><br />

segunda e pelo preço da <strong>de</strong> primeira.<br />

E' nossa opinião que o arrematante ha<br />

<strong>de</strong> estimar bem o fornecimento da carne<br />

pelas tres cathegorias.<br />

Assim o consumidor que agora paga<br />

um lalo <strong>de</strong> vacca para assar ou para um<br />

bife por 280 réis, <strong>de</strong>pois tem <strong>de</strong> o pagar por<br />

35o ou 400 réis!<br />

E aqui está a meada que a camara anda<br />

a tecer, com a alteração que faz no edital<br />

para a segunda arrematação que vae ser annunciada.<br />

Pô<strong>de</strong> limpar as mãos á pare<strong>de</strong>.<br />

Dissertações<br />

Para as ca<strong>de</strong>iras vagas na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Direito, vão imprimir as suas dissertações,<br />

ossrs. drs. Affonso Costa e Teixeira d'Abreu.<br />

Versam sobre os assumptos:—a do sr.<br />

dr. Costa: Commentario ao codigo penal<br />

portugue— a do sr. dr. Abreu: Das servidões,<br />

segunda parte.<br />

Folhetim— «Defensor do Povo»<br />

O C0RS4RI0 PORTIGUZ<br />

ROMANCE MARÍTIMO<br />

ORIGINAL DE<br />

CAPITULO III<br />

A <strong>de</strong>spedida<br />

D. Carlota ouvia e ficava como absorvida<br />

n'uma profunda meditação.<br />

Os dias foram passando e os mezes, uns<br />

após dos outros, sem acontecimentos notáveis.<br />

A fragata S. Sebastião estava ancorada<br />

em frente da cida<strong>de</strong>, esperando que <strong>de</strong> Portugal<br />

viesse or<strong>de</strong>m para seguir novo <strong>de</strong>stino.<br />

Tinham <strong>de</strong>corrido oito mezes. A casa<br />

do <strong>de</strong>sembargador era frequentada pela socieda<strong>de</strong><br />

mais escolhida do Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

em attenção á sua posição social e á belleza<br />

<strong>de</strong> suas rilhas, que realmente eram muito<br />

amaveis.<br />

D. A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong> tornava-se notável pelo seu<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

Pelo ministério do reino foram enviadas<br />

á reitoria, officios que <strong>de</strong>terminavam o seguinte<br />

:<br />

1. a Que é auctorisada matricula provisória<br />

aos estudantes, que frequentaram annos<br />

anteriores, com a clausula <strong>de</strong> se submetterem<br />

aos exames <strong>de</strong> inglez e grego, visto estar <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

do conselho superior <strong>de</strong> instrucção<br />

publica a consulta sobre se esse additamento,<br />

em face da ultima reforma, se <strong>de</strong>ve consi<strong>de</strong>rar<br />

dispensa absoluta.<br />

2. a Que haja a maxima cautella nas informações,<br />

que o prelado <strong>de</strong>r sobre os requerimentos<br />

<strong>de</strong> portarias para frequencia <strong>de</strong><br />

sciencias naturaes, pois que o sr. ministro do<br />

reino resolveu não fazer concessão alguma <strong>de</strong><br />

fórma a tornar, pelo horário, incompatíveis<br />

os estudos das diversas ca<strong>de</strong>iras.<br />

N'estes dois officios transparece bem ao<br />

vivo a pata do rinchão que se empina na<br />

grosseria <strong>de</strong> recommendar : — e que haja a<br />

maxima cautella nas informações que o prelado<br />

<strong>de</strong>r, etc. — para cair logo no coice da<br />

<strong>de</strong>claração pimpona: — que uresolveu não fa-<br />

\er concessão <strong>de</strong> fórma a tornar, pelo horario,<br />

incompatíveis os estudos das diversas ca<strong>de</strong>iras.»<br />

Não faz concessões o pudico Messalino<br />

Theatro Príncipe Real<br />

E inaugurada a presente epocha theatra<br />

no dia 16 do corrente e Francisco Lucas, o<br />

incansavel emprezario abre com chave d'oiro<br />

dando nos a companhia italiana, já nossa conhecida,<br />

<strong>de</strong> que faz parte a notável actriz<br />

Dora Lambertini, essa adoravel creança que<br />

tanto admirámos pelo seu talento.<br />

Damos o elenco da companhia:<br />

Actrizes—Dora Lambertini, Ida Lambertini,<br />

Maria Colombo, Maria Richelli, Amalia<br />

Santo, Rosina Satriano, Jiulia <strong>de</strong> Santis e<br />

Anna Sabatini.<br />

Actores — Giorgio Lambertini, Cav. Raffaelle<br />

Lambertini, Angelo Richelli, Oreste<br />

Zappata, Achile Lambertini, Victorino Lambertini.<br />

Maestro — Geovanni Polila.<br />

Para a estreia foi escolhida a Cavallaria<br />

Rusticana, que nos dizem ter um <strong>de</strong>sempenho<br />

á altura dos dotes artísticos da companhia.<br />

E escusado encarecer o seu mérito para<br />

que o publico concorra ao theatro a appiaudir<br />

artistas tão completos.<br />

É <strong>de</strong> jnstiça<br />

A classe dos empregados do commercio<br />

<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> voltam a trabalhar no sentido <strong>de</strong><br />

obter dos patrões o encerramento geral dos<br />

estabelecimentos aos domingos e dias santificados.<br />

Para isso será nomeada uma commissão<br />

incumbida <strong>de</strong> promover este melhoramento<br />

para a classe, que julgamos muito justo e que<br />

por certo não prejudicará nem os patrões, nem<br />

o publico que <strong>de</strong> tar<strong>de</strong> não pensam em compras,<br />

mas <strong>de</strong> gozar.<br />

Boa acção<br />

Foi mandado recolher no Asylo <strong>de</strong> Cegos,<br />

em Celias, o infeliz cabouqueiro, que por<br />

<strong>de</strong>sastre em serviço n'aquelle edifício, ficára<br />

quasi cego.<br />

A proposta foi do sr. vice-presi<strong>de</strong>nte, sr.<br />

dr. Ruben d'Almeida e o pobre trabalhador<br />

vae ser observado e tratado pelo medico do<br />

partido.<br />

talento e espirito; D. Carlota pela sua belleza<br />

e génio con<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte; e todos que a<br />

contemplassem duvidariam, quando se lhe<br />

dissesse:<br />

«Esta joven já proclamou o assassínio!<br />

Já foi repeilente, intratavel e incapaz <strong>de</strong> conciliar<br />

uma affeição!»<br />

Todos, ao examinar aquellas feições bellas<br />

e regulares, aquelle gemo dócil e inoflensivo,<br />

diriam:<br />

«E' falso! Não pô<strong>de</strong> ser! As linhas regulares<br />

d'aquella fronte serena estão em harmonia<br />

com os impulsos d'um coração bem<br />

formado! Aquelle rosto melancolico e sympathico,<br />

nunca podia ser a estampa d'um<br />

mau pensamento; e aquelles lábios tão bellos<br />

ainda não pronunciaram palavras contra<br />

a lógica e a razão!<br />

«Oh! Não! Alli nunca se albergou uma<br />

alma que não fosse bem formada. ..»<br />

Esta seria a opinião <strong>de</strong> todos ao analysaram<br />

D. Carlota, e só acreditariam ao constar-lhes<br />

a sua loucura! Loucura promovida<br />

por um mysticismo exaltado, e por um fanatismo<br />

hypocrita e criminoso.<br />

A casa do <strong>de</strong>sembargador Antonio Pereira<br />

<strong>de</strong> Vasconceilos era pois, como dissemos,<br />

o centro dé reunião da primeira socieda<strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a aristocracia dos pergaminhos<br />

até á do dinheiro e á do talento.<br />

Entre o numero d'estas pessoas, duas<br />

eram as mais assíduas: e se ,os leitores <strong>de</strong>se-<br />

Roeio <strong>de</strong> Santa Clara<br />

Muito brevemente vae ser posta á praça<br />

a terraplenagem do vasto rocio <strong>de</strong> Santa<br />

Clara.<br />

E' uma obra <strong>de</strong> primeira necessida<strong>de</strong> e<br />

um valioso beneficio aos habitantes <strong>de</strong> Santa<br />

Clara, victimas <strong>de</strong> constantes innundações,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o rio Mon<strong>de</strong>go trasbor<strong>de</strong>, o que<br />

succe<strong>de</strong> muitas vezes no anno.<br />

Estamos convencidos que todos os moradores<br />

coadjuvarão em tudo a camara, <strong>de</strong><br />

fórma a atten<strong>de</strong>r-se á maior economia e á<br />

commodida<strong>de</strong> dos habitantes, que muito lucram<br />

com o alteamento d^quelle populoso<br />

bairro.<br />

«<br />

Mestres d'obras<br />

Fizeram segunda feira exame para mestres<br />

d'obras, ossrs Francisco Antonio Meira,<br />

José dos Santos Marques, Antonio Pedro e<br />

Benjamim Ventura, ficando plenamente approvados.<br />

Além d'estes senhores concorreram também<br />

outros mestres <strong>de</strong> que daremos noticia.<br />

O jury foi composto dos srs. engenheiro<br />

Franco Frazão, presi<strong>de</strong>nte; conductores Mattos<br />

Cid e Máximo, vogaes.<br />

Boa reforma<br />

A estrada <strong>de</strong> Santa Clara, além da ponte,<br />

está tendo um magnifico melhoramento: a<br />

construcção <strong>de</strong> passeios lateraes ao longo da<br />

estrada até ás casas que estão d^m e outro<br />

lado.<br />

E' um bom serviço que se faz, pois que<br />

em tempo chuvoso o caminho fica intransitável<br />

pelas lamas augmentadas pelo muito<br />

transito, principalmente quando coinci<strong>de</strong> com<br />

a feira <strong>de</strong> gado, que se faz a 23 <strong>de</strong> cada<br />

mez.<br />

Assim já o transeunte que tiver <strong>de</strong> passar<br />

por alli não é incommodado <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> se<br />

atular no comprido lamaceiro que sempre<br />

se fórma.<br />

c-<br />

Notas <strong>de</strong> carteira<br />

Regressou da praia <strong>de</strong> Espinho a esta cida<strong>de</strong><br />

com sua ex. ma familia, o sr. dr. Joaquim<br />

Augusto <strong>de</strong> Sousa Refoios, distincto professor<br />

da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>.<br />

•<br />

O sr. dr. João dos Santos Jacob, que tem<br />

estado em Luso, regressou também a esta cida<strong>de</strong>.<br />

•<br />

Deve em breve chegar a esta cida<strong>de</strong> com<br />

sua ex. ma familia, o distincto escriptor Alberto<br />

Pimentel, um dos membros da commissão<br />

<strong>de</strong> monumentos.<br />

Tenciona visitar <strong>Coimbra</strong> e seus pittorescos<br />

arrabal<strong>de</strong>s e colher alguns apontamentos<br />

para um livro que prepara e que virá á luz<br />

da publicida<strong>de</strong> em breve.<br />

•<br />

O sr. Albino Caetano da Silva, proprietário<br />

da acreditada Typographia Auxiliar <strong>de</strong><br />

Escriptorio, está já n'esta cida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> regresso<br />

<strong>de</strong> Espinho, on<strong>de</strong> esteve a banhos.<br />

•<br />

Encontra-se já na Covilhã á testa <strong>de</strong> sua<br />

importante fabrica <strong>de</strong> lanifícios, o sr. Januario<br />

da Costa Ratto, acreditado industrial, que<br />

esteve na Figueira da Foz a uso <strong>de</strong> banhos,<br />

com sua ex. ma familia.<br />

am saber quem são, dir-lhe-hemos que era<br />

o sr. xManuel José Fernan<strong>de</strong>s, po<strong>de</strong>roso capitalista,<br />

e o sr. D. Francisco Antonio <strong>de</strong> Sarmento<br />

e Castro, fidalgo da mais pura aristocracia,<br />

que contava muitos avós nobres, longos<br />

e empoeirados pergaminhos, muitas commendas,<br />

e não sei que mais brazões exquisitos...<br />

O sr. D. Francisco Antonio <strong>de</strong> Sarmento<br />

e Castro era pois uma nullida<strong>de</strong>, mas cynico<br />

e <strong>de</strong>vasso; e como tinha tanto <strong>de</strong> insolente<br />

como <strong>de</strong> ignorante, nada o distinguia entre<br />

,*ente séria.<br />

Quanto ao sr. Manuel José Fernan<strong>de</strong>s<br />

era um honrado filho do povo, que pelo seu<br />

trabalho, honestida<strong>de</strong> e intelligencia reunira<br />

uma fortuna colossal em prédios e numerário.<br />

D. Francisco <strong>de</strong> Sarmento e Castro pertencia<br />

a uma família distincta, mas na sua<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> filho segundo não dispunha <strong>de</strong><br />

meios alguns; e como aquella alma <strong>de</strong> príncipe<br />

tinha a pobreza d'um proletário, atirou-se<br />

aos vícios para adquirir dinheiro!<br />

Frequentou os lupanares do jogo mais<br />

immundos, contrahiu dividas e commetteu<br />

vilezas; e finalmente percorreu a escola do<br />

crime, levado pelo instincto do mal e por<br />

uma educação corrupta.<br />

Os seus parentes, não po<strong>de</strong>ndo supportar<br />

um similhante procedimento, que compromettia<br />

os seus pergaminhos, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> o sal-<br />

•<br />

Já regressou da Figueira da Foz a Ancião<br />

com sua ex. ma familia, o sr. dr. Alberto David,<br />

digníssimo conservador n'aquella comarca.<br />

•<br />

Regressou <strong>de</strong> Espinho, com sua familia,<br />

o sr. Lepierre, distincto professor na Escola<br />

Brotero.<br />

Também se encontra já n'esta cida<strong>de</strong> com<br />

sua ex. ma familia, <strong>de</strong> regresso da Figueira da<br />

Foz, on<strong>de</strong> esteve a banhos, o distincto advogado<br />

o sr. dr. Eduardo Vieira.<br />

•<br />

Encontra-se já n'esta cida<strong>de</strong> o nosso amigo<br />

e collaborador, o sr. Manuel Augusto Granjo,<br />

alumno do terceiro anno <strong>de</strong> Direito, que se não<br />

faça <strong>de</strong>morar com os seus bellos escriptos.<br />

•<br />

O ex. mo sr. dr. Daniel Ferreira <strong>de</strong> Mattos,<br />

distincto professor da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, já<br />

regressou da Granja com sua ex. ma familia,<br />

on<strong>de</strong> foi passar o mez <strong>de</strong> setembro.<br />

•<br />

O nosso amigo Augusto Nunes dos Santos,<br />

acreditado industrial d^sta cida<strong>de</strong>, já<br />

regressou da Figueira da Foz com sua familia,<br />

on<strong>de</strong> esteve a uso <strong>de</strong> banhos, durante o<br />

mez <strong>de</strong> setembro.<br />

•<br />

E' esperado n'esta cida<strong>de</strong> o sr. Antonio<br />

Guilhermino Furtado, cunhado do sr. dr.<br />

Emygdio Garcia e José Fernan<strong>de</strong>s Montanha,<br />

muito digno empregado da Escóla Central<br />

<strong>de</strong> Agricultura Moraes Soares.<br />

•<br />

Já regressou a <strong>Coimbra</strong> o sr. Manoel da<br />

Silva Rocha Ferreira, solicitador d^sta comarca.<br />

Veiu acompanhado <strong>de</strong> sua ex. ma esposa e<br />

filhos, Francisco Rocha e Guilherme Rocha.<br />

Hospitaes da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

O movimento dos doentes <strong>de</strong> ambos os<br />

sexos, no mez <strong>de</strong> setembro findo, foi o seguinte<br />

:<br />

Ficaram existindo em 3i d^gosto 3i5<br />

Entraram em setembro ig5<br />

Total 510<br />

Sahiram iy3<br />

Falleceram 14 187<br />

Ficaram existindo em 1 d'outubro.... §23<br />

O movimento do Banco durante o mez<br />

passado foi <strong>de</strong> 710 consultantes.<br />

A GRANEL<br />

Foi distribuído no Tribunal do Commercio o requerimento<br />

em que o nosso collega sr. Alves Corrêa pe<strong>de</strong><br />

sejam annulladas as <strong>de</strong>liberações da ultima assembleia<br />

dos accionistas da Vanguarda, e lhe seja restituída a<br />

gerencia do mesmo jornal.<br />

•<br />

Não se enten<strong>de</strong> com o conselheiro sr. José Luciano<br />

<strong>de</strong> Castro a doutrina do artigo 3.° da reforma da camara<br />

dos pares, porque o Banco <strong>de</strong> Credito Predial<br />

Portuguez lia tres annos que <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ter privilegio :<br />

mas com os srs. Barros Gomes, Bocage e outros.<br />

•<br />

Uma americana dispôz em testamento para ssr enterrada<br />

com todas as jóias no valor <strong>de</strong> 9 contos.<br />

varem <strong>de</strong> repetidos crimes, mandaram-n'o<br />

para o Brazil como provedor da alfan<strong>de</strong>ga<br />

do Rio <strong>de</strong> Janeiro! escusado é dizer aos leitores<br />

a maneira por que aquelle estabelecimento<br />

era administrado e os rendimentos do<br />

estado !...<br />

D. Francisco <strong>de</strong> Sarmento, como actualmente<br />

dispunha <strong>de</strong> muito dinheiro, já não<br />

ferrava calotes, porém continuava a ser insolente<br />

e a alimentar todos os vicios que o tornavam<br />

<strong>de</strong>sprezível.<br />

Este nobre fidalgo nutriu uma paixão vioenta<br />

por D. Carlota; e como não podia comprimir<br />

os seus <strong>de</strong>sejos, a todos os tornava<br />

patentes.<br />

A malaventurada donzella supportava paciente<br />

as suas impertinências; e <strong>de</strong>sabafava<br />

chorando sobre a sua <strong>de</strong>sventura.<br />

D. Francisco travára relações com Caros,<br />

e <strong>de</strong>vassando-lhe o amor que <strong>de</strong>dicava<br />

a D. A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong>, disse-lhe um dia em que o<br />

encontrou no jardim:<br />

— Senhor Carios, quero <strong>de</strong>ver-lhe um favor.<br />

— Diga, sr. D. Francisco, lhe respon<strong>de</strong>u<br />

elle.<br />

— O senhor não ignora o muito que amo<br />

D. Carlota! Oh ! como ella é formosa ! Creio<br />

que não serei feliz sem a possuir...<br />

Carlos olhou para elle admirado, e disse<br />

interiormente:<br />

(Continua.}


I ^ E F E N S O R D O P o Y o — 1-° ANN O Quinta feira, 3 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895 — N.° <strong>45</strong><br />

Associação <strong>de</strong> soccorros mutuos<br />

DOS<br />

ARTISTAS DE COIMBRA<br />

Está aberta a matricula para a admissão<br />

dos alumnos que <strong>de</strong>sejem frequentar<br />

a aula nocturna d'instrucção primaria<br />

d'esta associação, até ao dia 12 do corrente<br />

das 7 ás 9 horas da tar<strong>de</strong>.<br />

A. aula começa a funccionar no proximo<br />

dia 15; e para ser admittido é<br />

preciso que o alumno seja socio, ou<br />

apresentado por socio no pleno goso dos<br />

seus direitos.<br />

<strong>Coimbra</strong>, 1 d'oulubro <strong>de</strong> 1895.<br />

O secretario da direcção,<br />

Antonio Dias Themido.<br />

AERENDâ-S£<br />

Do S. Miguel <strong>de</strong> 1895 em <strong>de</strong>anle a<br />

casa n.° i, na rua das Colchas: tem<br />

muito boas commodida<strong>de</strong>s, e a loja n.°<br />

10 da mesma casa; a tratar com José<br />

Luiz Martins d'Araujo, na rua do Viscon<strong>de</strong><br />

da Luz, 90 a 92.<br />

ARREMATAÇÃO<br />

8. a publicação<br />

No dia i3 do proximo mez <strong>de</strong><br />

outubro pelas 11 horas da manhã,<br />

á porta do Tribunal <strong>de</strong> Justiça<br />

d^sta comarca, se ha <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r á<br />

venda e arremação em hasta publica,<br />

<strong>de</strong> todas as dividas activas, do commerciante<br />

que foi d'esta cida<strong>de</strong>, Antonio<br />

Corrêa da Costa, na importância<br />

<strong>de</strong> i:i3òjtt>n5 réis, como<br />

consta da relação junta ao processo<br />

<strong>de</strong> fallencia do mesmo commerciante,<br />

e são postas em praça com 90 °/0<br />

<strong>de</strong> abatimento do seu valor, ou seja<br />

pela quantia <strong>de</strong> ii3$5ii réis sendo<br />

entregues a quem maior lanço offerecer<br />

além d'esta quantia.<br />

Verifiquei a exactidão.<br />

O juiz presi<strong>de</strong>nte,<br />

Neves e Castro.<br />

Introducção e SVIathematica<br />

LUIZ MARIA ROSETTE,<br />

alumno da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, conlinúa<br />

a leccionar estas disciplinas.<br />

Praça 9 <strong>de</strong> IHaio, n.° 39-1.°<br />

PADARIA LUSITANA<br />

(SYSTEMA FRANCEZ)<br />

DE<br />

DOMINGOS MIRANDA<br />

9 Pão fino, o melhor que se encontra,<br />

pelo syitema francez,<br />

todos os dias, pela manhã e á noite, a<br />

25 réis cada dois pães.<br />

COLLEGIO CORPO DE DEUS<br />

158— Rua Corpo <strong>de</strong> Deus —160<br />

Director o bacharel em direito<br />

FABRÍCIO A. M. PIMENTEL<br />

Já creado ha 9 annos, acaba <strong>de</strong><br />

passar por completa transformação, este<br />

collegio, adre<strong>de</strong> a nova reforma, ficando<br />

nas seguintes condições hygienicas: Óptimas<br />

vistas, jardim <strong>de</strong> recreio, aulas espaçosas<br />

e boa luz, comportando maior<br />

numero que o exigido, 10 quartos para<br />

crianças e 6 para adultos, ficando estes<br />

completamente isemptos (Taquelles, inclusivé<br />

ás refeições.<br />

Lecciona-se o curso completo dos<br />

lyceus, para o que tem um habilissimo<br />

corpo docente, incluindo n'elle o nosso<br />

amigo sr. Antonio M. Cardoso, regendo a<br />

ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> francez, já <strong>de</strong> ha muito conhecido.<br />

Recebera-se alumnos externos,<br />

semi-internos e internos, facultando-se a<br />

estes últimos a frequencia no lyceu.<br />

O horário e dias <strong>de</strong>signados para as<br />

differentes ca<strong>de</strong>iras ainda se não assentou<br />

o que, feito, será publicado internamente<br />

por edital. Quem preten<strong>de</strong>r mais esclarecimentos<br />

dirija-se ao professor e director<br />

do collegio.<br />

R E C L A M E S E A N N U N C I O S<br />

ESTABELECIMENTO<br />

DE<br />

IEHBAGII, TIPAS E àiis DE FOGO<br />

DE<br />

JOÃO GOMES MOREIKA<br />

C O I M B R A .<br />

5o * RUA DE FERREIRA BORGES * 52<br />

(EM FRENTE DO AUCO D^ALMEDINA I<br />

Ferragens para construcções: ^ eguaU aos ^lIsÍm*e Porto.<br />

Pnonsnone • ^ err0 e arame P r 'e' ra qualida<strong>de</strong> com gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>scontos.<br />

® ' Sj ' —Aviso aos proprietários e mestres d'obras.<br />

p iji • , Cutilaria nacional e estrangeira dos melhores auctores. Espe-<br />

UJlliana . Cialida<strong>de</strong> em cutilaria Rodgers.<br />

r • _ . Crystofle, metal branco, cabo d'ebano e marfim, completo<br />

raqueiros. sortido em faqueiros e outros artigos <strong>de</strong> Guimarães.<br />

I nnrac innlp7ac rlpfpppn - Esmaltadaeeslan,ia(,a > ferro A 8 ate LOUÇaS ingiezdô, US ICl l U -<br />

> serviço<br />

completo para mesa, lavatorio e cozinha.<br />

p- 1 Ioglez e Cabo Mon<strong>de</strong>go, as melhores qualida<strong>de</strong>s que se em-<br />

LlIIlclllUÒ. pregam em construcções hydrau-licas.<br />

Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito da Companhia Cabo Mon<strong>de</strong>go. —Aviso<br />

Cal Hydraulica: aos proprietários e mestres d'obras<br />

Alvaia<strong>de</strong>s, oleos, agua-raz, crés, gesso, vernizes,<br />

Tintas para pinturas: e muitas outras tintas e artigos para pintores.<br />

Armão rio fnnn» Carabinas <strong>de</strong> repetição <strong>de</strong> 12 e 15 tiros, revolvers<br />

ArmaS Q8 loyu. espingardas para caça, os melhores systemas.<br />

n- . Ban<strong>de</strong>jas, oleados, papel para forrar casas, moinhos e torradores<br />

tJIVerSOS . para café, machinas para moer carne, balanças <strong>de</strong> todos os<br />

systemas. — Re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> arame, zinco e chumbo em folha, ferro zincado,<br />

arame <strong>de</strong> todas as qualida<strong>de</strong>s.<br />

Flor+riridfldo p nntira A ' seacia da casa Ramos & Silva ' <strong>de</strong> Lisl,oa '<br />

LlGt/U lUUauc d upllba constructores <strong>de</strong> pára-raios, campainhas eléctricas,<br />

oculos e lunetas e todos os mais apparelhos concernentes.<br />

Pastilhas electro-chimicas, a 50 réis). ,.<br />

Brilhante Belge, a 160 réis j ind,s s era lodas as casas<br />

P'<br />

I MACHINAS<br />

i i r a - E R<br />

Estabelecimento <strong>de</strong> fazendas brancas<br />

ARTIGOS DE NOVIDADE<br />

ALFAIATARIA MODERNA<br />

DE<br />

josé luís mm <strong>de</strong> mm<br />

90, Rua do Yiscon<strong>de</strong> da Loz 92 —COIMBRA<br />

6 O mais antigo estabelecimento n'esta cida<strong>de</strong>, com as verda<strong>de</strong>iras machinas<br />

Singer, on<strong>de</strong> se encontra sempre um verda<strong>de</strong>iro sortido em machinas<br />

<strong>de</strong> costura para alfaiate, sapateiro e costureira, com os últimos aperfeiçoamentos,<br />

garantindo-se ao comprador o bom trabalho da machina pelo espaço <strong>de</strong> 10<br />

annos.<br />

Recebe-se qualquer machina usada em troca <strong>de</strong> novas, transporte grátis<br />

para os compradores <strong>de</strong> fúra da terra e outras garantias. Ensina-se <strong>de</strong> graça,<br />

tanto no mesmo <strong>de</strong>posito como em casa do comprador.<br />

Yen<strong>de</strong>m-se a prazo ou prompto pagamento cora gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>scanto.<br />

Concerta-se qualquer machina mesmo que não seja Singer com a maxima<br />

promptidão.<br />

ESTAÇÃO BE INVERNO<br />

Acaba <strong>de</strong> chegar um gran<strong>de</strong> sortido em casimiras próprias para inverno.<br />

Fatos feitos completos com bons forros a 6$500, 7$000, 8$000 réis e mais<br />

preços, capas e batinas preços sem competencia, varinos <strong>de</strong> boa catrapianha<br />

com forro e sem elle <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 5(5000 réis para cima, garante-se qualquer obra<br />

feita n'esta alfaiateria, dão-se amostras a quem as pedir.<br />

Tem esta casa dois bons contramestres, <strong>de</strong>ixando-se ao freguez a preferencia<br />

<strong>de</strong> optar.<br />

Sempre bonito sortido <strong>de</strong> chilas, chailes, lenços <strong>de</strong> seda, ditos <strong>de</strong> Escócia,<br />

caraisaria e gravatas muito baratas.<br />

Yen<strong>de</strong>-se oleo, agulhas troçai e sabão <strong>de</strong> seda, e toda a qualquer peça<br />

solta para machinas.<br />

Alugam-se e ven<strong>de</strong>m-se Bi-cycletas.<br />

J0A0 RODRIGUES BRAGA<br />

SUCCESSOR<br />

17, ADRO DE CIMA, 20 — (Atraz <strong>de</strong> S. Bartholomeu)<br />

2 Armazém <strong>de</strong> fazendas <strong>de</strong> algodão, lã e seda. Yendas por junto e a retalho.<br />

Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> pannos crús. — Faz-se <strong>de</strong>sconto nas compras para<br />

reven<strong>de</strong>r.<br />

Completo sortido <strong>de</strong> coroas e bouquets, fúnebres e <strong>de</strong> gala. Fitas <strong>de</strong><br />

faille, moiré glacé e setim, em todas as cores e larguras. Eças douradas para<br />

adultos e creanças.<br />

Continua a encarregar-se <strong>de</strong> funeraes completos, armações fúnebres e<br />

trasladações, tanto n'esta cida<strong>de</strong> como fóra.<br />

RUA SÁ DA BANDEIRA<br />

W M S ^ S W I V W&t<br />

CO I M B R A<br />

Director—ALBERTO PESSOA<br />

Bacharel formado em philosophia<br />

Este novo collegio d'ensino primário<br />

e secundário, on<strong>de</strong> se admittem alumnos<br />

internos, semi-internos e externos, abrirse-ha<br />

no dia 14 d'outubro proximo.<br />

A relação do pessoal docente, o regulamento<br />

da Escóla, e quaesquer informações<br />

po<strong>de</strong>m ser pedidas ao director.<br />

niw<br />

100, Rna Ferreira Borges, 100<br />

31 Pauta para rolos <strong>de</strong> imprensa<br />

<strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong> e preço<br />

modico.<br />

Ariuns


^LIVIXO 1.° IV. 0 4 6<br />

Defensor<br />

A que estado chegamos!<br />

Ha um phenomeno social contemporâneo,<br />

extraordinário para o nosso tempo,<br />

anormal para os nossos dias, patente aos<br />

olhos <strong>de</strong> todo o mundo, que lodo o mundo<br />

vê, todo o mundo observa, sem que pessoa<br />

alguma corra perigo <strong>de</strong> se enganar ou <strong>de</strong><br />

se illudir.<br />

Portugal é a única, entre todas as nações<br />

da Europa, que se <strong>de</strong>ixa arrastar para o<br />

absolutismo, para o peor dos absolutismos<br />

— o absolutismo lheocralico.<br />

Portugal é presa <strong>de</strong> meia dúzia <strong>de</strong> especuladores<br />

traiçoeiros.<br />

Têm elles, <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> com os representantes<br />

da monarchia e com os agentes<br />

da reacção clerical, o exclusivo da politica.<br />

Consocios da realeza e do jesuitismo,<br />

tomaram para si, a empreilada do po<strong>de</strong>r e<br />

do governo; adjudicaram-se, a si proprios e<br />

em praça particular, o monopolio da administração<br />

publica; só para si, no intuito<br />

e no interesse dos seus gosos e das suas<br />

paixões egoístas, exploram, disfructam, ou<br />

antes loucamente estragam, e dissipam o<br />

patrimonio do Estado; põem e dispõem a<br />

seu alvedrio e a capricho dos haveres e recursos<br />

da Nação, da qual audaciosamente<br />

se apo<strong>de</strong>raram, arrogantemente affirmam ser<br />

e se <strong>de</strong>claram únicos senhores e possuidores,<br />

proprietários e dominadores absolutos 1<br />

O Povo portuguez tolera, a Nação portugueza<br />

soffre essa meia dúzia <strong>de</strong> homens,<br />

obe<strong>de</strong>ce a um tal governo, que, juntamente<br />

com o rei e em nome d J elle, ousadamente<br />

affronta os direitos sagrados <strong>de</strong> homens<br />

livres, <strong>de</strong> cidadãos honrados e laboriosos,<br />

calca as leis, illu<strong>de</strong>, quando não offen<strong>de</strong><br />

gravemente a justiça, mente <strong>de</strong>scaradamente<br />

quando promette, e caloteia cynicamente<br />

a consciência nacional, todas as vezes que<br />

esta lhe pe<strong>de</strong> o cumprimento da sua palavra,<br />

a satisfação dos seus solemnes compromissos.<br />

E é assim que o Povo portuguez se <strong>de</strong>ixa<br />

explorar, illudir, opprimir algemado,<br />

como se fôra um imbecil, um idiota, um<br />

covar<strong>de</strong>, que a tudo se sugeita, que tudo<br />

consente sem reagir; como se fôra um escravo<br />

que treme e se acurva <strong>de</strong>baixo do<br />

azorrague do seu estúpido e brutal senhor;<br />

como se fôra um martyr, lançado ás feras,<br />

que, já sem esperança <strong>de</strong> salvação n'este<br />

mundo, se resigna a morrer sob o cutello<br />

do algoz, que se levanta a cada momento,<br />

ameaçador e terrível, para o exterminar,<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> o haver torturado <strong>de</strong> mil modos<br />

e horrivelmente mutilado.<br />

N'essas investidas ferozes, em assaltos<br />

<strong>de</strong> brutal arremesso já lhe foram arrebatadas<br />

as mais preciosas liberda<strong>de</strong>s, os mais<br />

sagrados direitos:<br />

— a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> imprensa.<br />

— a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> reunião.<br />

— a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> associação.<br />

— a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino.<br />

— a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> locomoção.<br />

Já lhe foram usurpadas pelo monstro<br />

governamental:<br />

—as liberda<strong>de</strong>s e as franquias municipaes.<br />

— as liberda<strong>de</strong>s e as garantias parlamentares.<br />

—Não somente suspensa <strong>de</strong> facto, foi<br />

legalmente supprimida a Constituição e substituída<br />

por arbitrarias e volunlarias or<strong>de</strong>nanças<br />

reaes, pelos <strong>de</strong>cretos omnipotentes<br />

da mais odiosa dicíadura.<br />

—>0 vampiro fiscal suga os últimos<br />

recursos, e por completo arrebata o patrimonio<br />

do Estado e dos particulares, o fruclo<br />

do seu trabalho, do seu incessante e amargurado<br />

labutar quotidiano.<br />

—Já cá estão com força, e com toda a<br />

força abalam, e minam o <strong>de</strong>rrocado edifício<br />

liberal bandos <strong>de</strong> jesuítas, legiões <strong>de</strong> reaccionários.<br />

—Virão os fra<strong>de</strong>s <strong>de</strong> todas as or<strong>de</strong>ns;<br />

e, com elles, a inquisição, todas as fúrias assoladoras<br />

da intolerância politico-religiosa.<br />

—Amanhã, abrir-se-hão as masmorras;<br />

levanlar-se-ha a forca, reslabelecer-se-hão<br />

o confisco, a tortura, a marca <strong>de</strong> ferro quente,<br />

a perseguição anonyma, a <strong>de</strong>vassa clan<strong>de</strong>stina.<br />

. . o inferno !<br />

A que estado chegámos!<br />

Que <strong>de</strong>sgraçado futuro nos preparam o<br />

rei e os seus <strong>de</strong>salmados ministros, os tenebrosos<br />

sectários da reacção e do jesuitismo,<br />

colligados e triumphantes !<br />

Pela patria<br />

Ainda ha pouco os nossos soldados caiam<br />

no campo <strong>de</strong> batalha em combate peia integrida<strong>de</strong><br />

da patria, nos territorios africanos e<br />

já hoje se annuncia a perda <strong>de</strong> mais valorosos<br />

militares e mortos no combate <strong>de</strong> Manipor<br />

os seguintes officiaes:<br />

Eduardo Ignacio Camara, capitão do exercito;<br />

Antonio Men<strong>de</strong>s da Silva, tenente da<br />

guarnição da província; Adolpho Correia <strong>de</strong><br />

Bettencourt, i<strong>de</strong>m; Julio Licio Lagos, i<strong>de</strong>m;<br />

Acácio Bartholomeu da Silva Flores, alferes<br />

da guarnição.<br />

Em quanto se per<strong>de</strong>m tanta vida ao serviço<br />

da patria, o governo entrega ao extrangeiro<br />

as melhores possessões d'Africa, e o<br />

sr. D. Carlos visita o imperador da Ailemanba,<br />

que ainda ha pouco enxovalhára a nação<br />

portugueza, apeando a nossa ban<strong>de</strong>ira<br />

dos territorios <strong>de</strong> Keonga.<br />

E ninguém lhe pediu contas !<br />

O protesto do papa<br />

Leão XIII não se pou<strong>de</strong> conformar com<br />

as solemnida<strong>de</strong>s em honra da liberda<strong>de</strong>, que<br />

se fizeram em Roma, nas suas barbas.<br />

Cegou-o o explendor das festas, o ruido<br />

do enthusiasmo por uma causa santificada<br />

pelas bênçãos do povo que valem bem mais<br />

que as bênçãos dos papas !<br />

Não quer ter a resignação do Christo,<br />

nem a paciência <strong>de</strong> Job e diz-se que approvára<br />

a nota diplomatica, protestando contra<br />

a occupação <strong>de</strong> Roma, nota que será dirigida<br />

ás potencias.<br />

Atfirma-se mais que essa nota foi imposta<br />

pelo partido intransigente, que se agita na<br />

organisação <strong>de</strong> festas catholicas, peregrinações,<br />

etc., com o fim <strong>de</strong> consolar o pontífice<br />

das festas liberaes que acabam <strong>de</strong> realisar-se<br />

na capital. E a Itaha a tremer.<br />

Deus lhes dê juizo !...<br />

A contas...<br />

O sr. bispo <strong>de</strong> Bethesaida foi chamado a<br />

Roma a toda a pressa.<br />

Ha quem diga — o Século, por exemplo<br />

— que o facto se liga com o <strong>de</strong>crescimento<br />

dos rendimentos da Bula, que nestes últimos<br />

annos tem havido em algumas dioceses.<br />

A não ser que se prove que já não ha<br />

tolos que paguem, com a compra da Bula, a<br />

abstinência <strong>de</strong> carne na quaresma, ha no caso<br />

encrava<strong>de</strong>lla.<br />

Seja tudo por amor do proximo!<br />

Importação <strong>de</strong> fra<strong>de</strong>s<br />

Não quiz ficar atraz do governo fr. Zé<br />

dos curações. Não importou elle o petit-maitre<br />

do Luizinho Soveral, o calcinhas, para ministro<br />

dos estrangeiros? Pois também elle fez<br />

<strong>de</strong>spachar <strong>de</strong> Hespanha dois fra<strong>de</strong>s para dirigirem<br />

o seminário <strong>de</strong> Santa Clara que pertence<br />

á mitra.<br />

E passaram na Hespanha — sem rebate!<br />

Povo<br />

COIMBRA —Domingo, 6 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895<br />

VAMOS ANDANDO<br />

O governo entrou, franca e abertamente,<br />

no caminho do mais atroz e nefasto absolutismo.<br />

Já não ha duvidas possíveis: a verda<strong>de</strong><br />

nua e crua impõe-se; os seus mais insignificantes<br />

actos <strong>de</strong>nunciam-no, a cada momento,<br />

perante a opinião publica.<br />

O rei é tudo para os nossos conspícuos<br />

governantes; o povo nenhuma consi<strong>de</strong>ração<br />

e respeito lhes merece; os seus protestos são<br />

<strong>de</strong>sprezados, as suas queixas escarnecidas.<br />

Na sua obra reaccionaria e retrograda,<br />

continua impunemente a atropellar as leis, a<br />

fazer da constituição lettra morta, e, o que<br />

é peor, a perverter os costumes, a arruinar<br />

a moralida<strong>de</strong> <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> haver arruinado a<br />

fazenda.<br />

Os homens honestos e <strong>de</strong> sentimentos liberaes<br />

e <strong>de</strong>mocráticos <strong>de</strong>vem estar plenamente<br />

convencidos <strong>de</strong> que a lucta, <strong>de</strong>ntro da legalida<strong>de</strong><br />

e á sombra das instituições vigentes,<br />

é inútil, é <strong>de</strong> nenhuns resultados práticos.<br />

A monarchia, corroída pela lepra da immoralida<strong>de</strong><br />

e da corrupção, tornou-se incompatível<br />

com os interesses da Patria, com os<br />

interesses do Povo portuguez.<br />

O rei e os seus ministros são os primeiros<br />

a contrariar os sentimentos liberaes, e a<br />

lançar na maior anarchia a governação publica.<br />

Vendo fugir-lhes o terreno em que se appoiam<br />

e temendo per<strong>de</strong>l-o <strong>de</strong> todo, não recuam<br />

ante qualquer arbitrarieda<strong>de</strong>, ante qualquer<br />

violência, para suffocar os irados clamores,<br />

que <strong>de</strong> toda a parte irrompem, e ameaçam<br />

o throno, periclitante, em que o mais<br />

insignificante dos braganças se senta ainda,<br />

para nossa <strong>de</strong>sgraça e opprobrio.<br />

Quando soar a hora da justiça final e o<br />

ajuste <strong>de</strong> contas se fizer, toda essa turba <strong>de</strong><br />

fâmulos interessados e <strong>de</strong> bajuladores indignos,<br />

será expulsa, escorraçada para bem<br />

longe, d'on<strong>de</strong> nem sequer d'eiles nos chegue<br />

o menor rumor.<br />

Pe<strong>de</strong>-o a justiça; pe<strong>de</strong>-o o patriotismo e<br />

os mais legítimos e imprescindíveis direitos<br />

<strong>de</strong> cidadão portuguez.<br />

Que lhes importa a elles que o povo não<br />

possa pagar mais, que os impostos sejam<br />

exaggeradissimos, que a fome torture os <strong>de</strong>sgraçados<br />

e <strong>de</strong>sprotegidos d'este paiz, outr'ora<br />

<strong>de</strong> valentes, hoje <strong>de</strong> cobar<strong>de</strong>s ?!<br />

O que elles querem, esses prodigos, que<br />

tantos milhares <strong>de</strong> contos nos têm custado,<br />

é que se lhe, satisfaçam todos os caprichos,<br />

todas as loucuras.<br />

Dinheiro e recursos para manifestações<br />

<strong>de</strong> regosijo, vivorio, eleições sempre ha <strong>de</strong><br />

haver; a teta inexaurível do thesouro publico<br />

sempre ha <strong>de</strong> <strong>de</strong>itar; é questão <strong>de</strong><br />

espremel-a com arte e geito.<br />

Supprimiu este governo <strong>de</strong> doidos maus<br />

todas as regalias populares; <strong>de</strong>struiu os municípios;<br />

anniquillou a representação nacional,<br />

transformando-a n'uma cousa mesquinha,<br />

irrisória, que nada representa, a não<br />

ser a audacia do governo e a indifferença<br />

pelo povo.<br />

Vamos pois andando...<br />

O probresinho<br />

Os jornalistas catholicos italianos <strong>de</strong>spicaram-se,<br />

e em surra ás manifestações da<br />

realeza o director do jornal religioso, Á Italia<br />

Real, entregou a Leão xni restos do melhor<br />

<strong>de</strong> 25:ooo liras, offerecidas ao santo Padre<br />

como symbolo dos vinte e cinco annos <strong>de</strong>corridos<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a proclamação da sua infallibilida<strong>de</strong>.<br />

O sr. Bonetti, correspon<strong>de</strong>nte romano da<br />

Italia Real, pediu ao papa a sua benção para<br />

um jornalista liberal. Leão XIII re'cusou-a,<br />

dizendo:<br />

— Não o abençoo, afim <strong>de</strong> que continue<br />

a combater-nos!<br />

Dizendo alguém que os adversarios do<br />

papado fallavam <strong>de</strong> conciliação, o pontífice<br />

respon<strong>de</strong>u:<br />

— Muito bem, que reconheçam todos os<br />

direitos do papa.<br />

E tanta pobreza e tanta miséria por esse<br />

mundo fôra, para se ir entregar a um capitalista<br />

rios <strong>de</strong> dinheiro.<br />

Estão no inferno a ar<strong>de</strong>r esses almas<br />

damnadas.<br />

Que infamia <strong>de</strong> homem!...<br />

È claro que se trata d'esse nojento João<br />

Franco, e é o Século que lhe <strong>de</strong>nuncia os<br />

instinctos perversos d'essa basta-féra tão perigosa,<br />

que ainda é ministro, com os ossos<br />

inteiros.<br />

Leiam, leiam :<br />

«Era tal a preoccupação do sr. ministro do<br />

. reino era dar imraediata execução á reforma administrativa<br />

do distrieto <strong>de</strong> Lisboa, que no dia 1 <strong>de</strong><br />

madrugada, antes <strong>de</strong> ser conhecido esse importante<br />

<strong>de</strong>creto, já a força publica acompanhava a mudança<br />

dos archivos dos concelhos extinctos. Assim<br />

nol-o assegura pessoa que viu, ás 3 horas da madrugada,<br />

uma força <strong>de</strong> 40 praças <strong>de</strong> cavallaria na<br />

estrada <strong>de</strong> Oeiras.»<br />

Não ha maior patife, nem homem mais<br />

odiento se encontra. Dava um sicário nos<br />

tempos <strong>de</strong> João Brandão!<br />

O lbico Auer<br />

Consta que já foi intentado processo judicial,<br />

como cúmplices <strong>de</strong> contrafacção do Bico<br />

Auer, contra algumas casas na Figueira da<br />

Foz, que usam um bico vendido pelos srs.<br />

Nusse & Bastos do Porto. A esta ultima<br />

casa já foram também feitos dois arrestos<br />

judiciaes, e correm contra ella dois processos.<br />

Um outro processo, intentado pela Companhia<br />

proprietária do privilegio do Bico<br />

Auer, <strong>de</strong>nominada: Société Anonyme pour<br />

l'Incan<strong>de</strong>scence par le ga% (Systema Auer) au<br />

Portugal e cuja Agencia Geral é em Lisboa,<br />

13, largo do Corpo Santo, contra o contrafactor<br />

Paul Lambert, <strong>de</strong> Lisboa, já <strong>de</strong>u logar<br />

a diversos julgamentos a favor, o ultimo em<br />

21 <strong>de</strong> agosto, proximo passado, e cujo theor<br />

é bem claro, como se pô<strong>de</strong> vêr pelo seguinte<br />

extracto do accordão do Tribunal da Relação<br />

<strong>de</strong> Lisboa:<br />

Accordão em conferencia na Relação.<br />

Conhecendo <strong>de</strong> novo do presente aggravó <strong>de</strong><br />

petição, em conformida<strong>de</strong> da <strong>de</strong>cisão proferida<br />

pelo Supremo Tribunal <strong>de</strong> Justiça no<br />

venerando accordão <strong>de</strong> folhas noventa e duas<br />

verso.<br />

Consi<strong>de</strong>rando que, pelo novo exame dos<br />

autos me mostram suííicientemente justificados<br />

os requisitos e fundamentos legaes para<br />

po<strong>de</strong>r ser <strong>de</strong>cretado o arresto requerido por<br />

parte da aggravada: Société Anonyme pour<br />

VIncan<strong>de</strong>scence par le ga\ (Systeme Auer) au<br />

Portugal contra o aggravante Paul Lambert,<br />

isto é, primeiro: ser a mesma aggravada<br />

proprietária do exclusivo d» invento<br />

<strong>de</strong>nominado BICO AUER; segundo:<br />

fundada suspeita <strong>de</strong> contrafacção do<br />

objecto do referido invento.<br />

Visto o disposto do artigo 637. 0 do Codigo<br />

civil, artigo 5i.° do <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> i5 <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1894, e nos artigos 363.° e<br />

365.° do Código do processo civil. Não se<br />

fez aggravo do aggravante no <strong>de</strong>spacho <strong>de</strong><br />

que recorreu, e por isso lhe negam provimento,<br />

confirmando o <strong>de</strong>spacho recorrido:<br />

custas pelo aggravante.<br />

Lisboa, 21 dagosto <strong>de</strong> 1895.—(ass.) os<br />

Juizes: Fonseca —Pimentel—F. da Cunha.<br />

Eis os nomes dos compradores dos bicos<br />

<strong>de</strong> contrafacção na Figueira da Foz que foram<br />

remettidos a Juizo:<br />

Costa «fc C. a .<br />

Adriano Mias Barata Salgueiro.<br />

Galvão «fc jfEegquita (Casino Mon<strong>de</strong>go).<br />

Manoel Santos.<br />

Proprietário do Café Atelantieo.<br />

Sotero Simões.<br />

Pharmacia Novaes.<br />

Uavid.<br />

Hotel Castella.<br />

O que é para admirar, é que haja quem<br />

acceite <strong>de</strong> bom grado, <strong>de</strong> se submetter a<br />

<strong>de</strong>sgostos, meommodos, e talvez coisa peior,<br />

na esperança <strong>de</strong> beneficiar uns miseráveis<br />

tostões que os contrafactores recebem a menos<br />

na occasião da venda dos bicos imitados.<br />

Se os incautos compradores tivessem reflectido<br />

por um momento que seja, <strong>de</strong>certo teriam<br />

<strong>de</strong>scoberto que teem tudo a per<strong>de</strong>r e<br />

nada a ganhar, em se metterem n'uma questão<br />

com a Société Anonyme pour ilncan<strong>de</strong>scence<br />

par le ga% (.Systema Auer) au Portugal,<br />

que está <strong>de</strong>cididíssima a fazer respeitar<br />

os seus legítimos direitos, custe o que custar,<br />

doa a quem doer.


I > K F K X S O I Í R»o P o v o - 1 .<br />

QUESTÕES ORGANICAS<br />

0 registro civil<br />

O registro civil obrigatorio para nasci<br />

mentos (concorda-se), com a faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

iniciação religiosa do recem-nascido, tolera-se.<br />

O mesmo se po<strong>de</strong>rá dizer do registro<br />

civil obrigatorio para casamentos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

que cada qual pô<strong>de</strong> ir á egreja fazer abençoar<br />

pelo padre a sua união conjugal.<br />

Os catholicos são um pouco recalcitrantes,<br />

porque, habituados hereditariamente, por<br />

uma longa historia <strong>de</strong> intolerância sectaria,<br />

a verem a sua Egreja subordinando o Estado,<br />

constituía, <strong>de</strong> facto, uma theocracia, custalhes<br />

a comprehen<strong>de</strong>r uma diversa or<strong>de</strong>m <strong>de</strong><br />

coisas, na qual o Estado, assumindo, <strong>de</strong> facto,<br />

a soberania, em nome do povo, colloque<br />

o Direito Civil, não acima, mas in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

do Direito Canonico, do qual para nada<br />

quer saber.<br />

A única coisa comtudo que os pô<strong>de</strong> magoar,<br />

e em que nós não <strong>de</strong>vemos pensar, a<br />

fim <strong>de</strong> não parecer que queiramos subordinar<br />

a Egreja ao Estado, quando só o reconhecimento<br />

reciproco da liberda<strong>de</strong> plena nos<br />

convém, é a preoccupação nutrida por algumas<br />

escolas revolucionarias <strong>de</strong> exigir que o<br />

registro civil anteceda a cerimonia religiosa.<br />

O Estado não se <strong>de</strong>ve importar com essa<br />

fértil priorida<strong>de</strong>. O que <strong>de</strong>ve é <strong>de</strong>sconhecer<br />

a cerimonia religiosa, e dar apenas valida<strong>de</strong><br />

civil ao registro civil.<br />

•<br />

Ha porém uma coisa que, a um tempo,<br />

assusta e irrita o espirito timorato dos fieis:<br />

é o fallar-se-lhes no registro civil obrigatorio<br />

dos obitos.<br />

E' uma questão <strong>de</strong> pieda<strong>de</strong> cultual susci<br />

tada por uma má orientação, propositadamente<br />

dada aos espíritos pelo tartufismo clerical.<br />

Quê! pois os nossos mortos hão <strong>de</strong> ser<br />

enterrados sem as orações do ritual!... Quê!<br />

pois os nossos mortos hão <strong>de</strong> ser enterrados<br />

em terra profana, como se fossem pagãos!...<br />

Não, boa gente sincera ! não!<br />

Verda<strong>de</strong> seja que nós, segurando-nos ás<br />

presumidas verda<strong>de</strong>s da vossa fé, vos po<strong>de</strong>ríamos<br />

respon<strong>de</strong>r que toda a terra é sagrada,<br />

pois que toda ella sahiu das mãos <strong>de</strong> Deus<br />

no acto da creação, e que Jesus, nos Evangelhos,<br />

a representa produzindo os mesmos<br />

fructos da benção para os samaritanas, como<br />

para os ju<strong>de</strong>us, como para os pagãos.<br />

Mas não queremos discutir as vossas superstições,<br />

quando um homem da nomeada<br />

do padre Gaume as sustenta, qual elle faz no<br />

Lemiterio no século XIX, dizendo que as aspersões<br />

e rezas lithurgicas livram as campas<br />

dos fieis <strong>de</strong> serem profanadas pelos espíritos<br />

maus.<br />

Assim, pois, respeitaremos a vossa superstição,<br />

cre<strong>de</strong>! as vossas campas po<strong>de</strong>rão<br />

liberrimamente ser abençoadas pelo padre.<br />

Simplesmente, pois que os cemiterios não são<br />

da Egreja, mas sim dos municípios, e os municípios<br />

abrangem a <strong>de</strong>ntro dos seus muros<br />

protectores, homens <strong>de</strong> todas as crenças, os<br />

cemiterios não serão mais benzidos.' E o<br />

padre que vos accompanhar á ultima morada,<br />

esse padre, que toma sobre os hombros a<br />

piedosa tarefa <strong>de</strong> vos fazer ingressar no céu,<br />

que se encarregue também <strong>de</strong> vos <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r<br />

as cinzas <strong>de</strong> todos os attentados diabolicos,<br />

expulsando <strong>de</strong> lá Satanaz e os seus anjos, á<br />

força <strong>de</strong> aspersões e <strong>de</strong> rezas.<br />

Não, gente boa e crente! o registro civil<br />

obrigatorio para obitos não quer por fórma<br />

alguma dizer que nós outros livres-pensadores,<br />

vamos invadir as Camaras mortuarias,<br />

on<strong>de</strong> os vossos mortos queridos esperam a<br />

hora solemne da benção sacerdotal que lhes<br />

ha <strong>de</strong> abrir as portas da misericórdia <strong>de</strong> Deus,<br />

para roubarmos <strong>de</strong> lá o cadaver, privando-o<br />

d^ssa benção.<br />

Não. Ninguém perturbará a vossa pieda<strong>de</strong><br />

cultual para com os vossos mortos.<br />

Collocae-os sob a égi<strong>de</strong> do crucifixo; circundae-o<br />

<strong>de</strong> lumes; aspergi-o <strong>de</strong> agua benta;<br />

rezae por sua alma. Venha o padre levantar<br />

o cadaver; leve-o para a Egreja; encommen<strong>de</strong>-o<br />

a Deus segundo as praxes do ritual;<br />

acompanhe-o ao cemiterio; santifique-lhe a<br />

terra do sepulcro; entregue-o á paz <strong>de</strong> Deus.<br />

Tudo isso se fará em plena liberda<strong>de</strong>.<br />

Simplesmente, o cadaver não será lançado<br />

á terra sem que seja mostrado ao guarda do<br />

cemiterio uma guia chancellada pela administração<br />

civil, pela qual se prove que vós<br />

participastes ao Estado, a ausência, para<br />

sempre, d'um dos seus cidadãos.<br />

O que em nada oflen<strong>de</strong>rá a vossa fé, nem<br />

a vossa pieda<strong>de</strong> pelos mortos.<br />

•<br />

Assim entendidos, oh! crentes! já vê<strong>de</strong>s<br />

que o registro civil obrigatorio não é esse<br />

monstro <strong>de</strong> sete cabeças que os padres, ignorantes<br />

ou perversos, têm por costumes pintar-vos..«<br />

1 ANNO Domingo, 6 <strong>de</strong> outubro &e 1895 — N. 8 46<br />

Fiel, pois, a estes princípios, se eu tivesse<br />

logar em cortes, apresentaria o seguinte :<br />

Projecto <strong>de</strong> lei<br />

Consi<strong>de</strong>rando que a morte d'um cidadão<br />

interessa tanto ao Estado embora em sentido<br />

inverso, como o nascimento d'um cidadão;<br />

Consi<strong>de</strong>rando que o movimento <strong>de</strong> população<br />

é <strong>de</strong> interesse exclusivo do Estado;<br />

Consi<strong>de</strong>rando, além d'isso, que, sendo os<br />

cemiterios sustentados pela contribuição <strong>de</strong><br />

todos os munícipes d'um município, sem differenciação<br />

das suas crenças religiosas:<br />

Art.° i.° E' obrigatorio para todos os<br />

casos <strong>de</strong> obito darem os sobreviventes a participação,<br />

por escripto, á administração civil<br />

da occorrencia d'esse obito, afim <strong>de</strong> que a administração<br />

o faça convenientemente registrar.<br />

ÚNICO. O chefe <strong>de</strong> família, ou quem<br />

suas vezes faça, que não cumpra este <strong>de</strong>ver<br />

antes <strong>de</strong> passadas 24 horas sobre a verificação<br />

do obito, attestada por medico á escolha,<br />

soffrerá pena <strong>de</strong> prisão até um mez, e multa<br />

até dois mezes.<br />

| único. A certidão <strong>de</strong> obito, passada<br />

pelo facultativo, acompanhará a participação<br />

do mesmo obito.<br />

Art. 2. c São secularisados todos os cemiterios<br />

do paiz, acabando-se por conseguinte<br />

com a odiosa distincção, post mortem, entre<br />

fieis e infiéis.<br />

| único. Aos crentes <strong>de</strong> todas as religiões<br />

será mantida a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazerem<br />

realisar as suas cerimonias cultuaes, tanto<br />

para a benção do sepulcro, como para a encommendação<br />

da alma do finado.<br />

Art. 3.° Fica revogada toda a legislação<br />

em contrario.<br />

Pasteur<br />

HELIODORO SALGADO.<br />

Finou-se este eminente homem <strong>de</strong> scíencia,<br />

um dos maiores benemeritos da humanida<strong>de</strong>,<br />

o salvador <strong>de</strong> tantas vidas, o egregio<br />

Pasteur, o ancião mais universal do mundo,<br />

cujo nome reboava em toda a parte, todas as<br />

boccas o pronunciavam, todos os corações<br />

pulsavam por elle.<br />

Gran<strong>de</strong> homem! Gran<strong>de</strong> astro da sciencia!<br />

Quantos filhos queridos salvas-te a mães<br />

extremosas, e a quantas creanças salvas-te<br />

da orphanda<strong>de</strong>!<br />

São por milhares as vidas que pelo mundo<br />

estão espalhadas e que morreriam em atrozes<br />

e dolorosas ancias e estortores, victimas<br />

da hydrophobia, envenenadas pelo terrível<br />

mal que era a morte inevitável, se não fosse<br />

o incomparável Pasteur, esse santo do século<br />

xix, que pela sua perseverança no estudo,<br />

assiduida<strong>de</strong> no trabalho, conseguiu combater<br />

o virus da raiva.<br />

A humanida<strong>de</strong> está <strong>de</strong> luto!<br />

Per<strong>de</strong>u a França um gran<strong>de</strong> homem da<br />

sciencia, um vulto proeminente.<br />

Filho d'um mo<strong>de</strong>sto curtidor <strong>de</strong> Arbois,<br />

entrou na vida tendo apenas por patrimonio<br />

a sua intelligencia excepcional, o amor ao<br />

trabalho, e a teimosia e tenacida<strong>de</strong> dos montanheses<br />

da sua província.<br />

— Ah ! — dizia-lhe ás vezes o pae — Se<br />

tu po<strong>de</strong>sses um dia vir a ser professor no<br />

coilegio <strong>de</strong> Arbois, eu seria o homem mais<br />

feliz d'este mundo!<br />

Se, já quando moravam em Dôle e que o<br />

filho tinha só dois annos, este pae se embalava<br />

em taes sonhos <strong>de</strong> futuro, que diria elle<br />

se lhe predissessem que cincoenta e oito annos<br />

<strong>de</strong>pois, na fachada da pequenina casa da rua<br />

dos Curtidores — <strong>de</strong>ante do filho vivo, coberto<br />

<strong>de</strong> honrarias, coberto <strong>de</strong> gloria, levado<br />

n^m cortejo triumphal pela cida<strong>de</strong> emban<strong>de</strong>irada<br />

—se collocaria uma placa com estas<br />

palavras escriptas em lettras d'ouro:<br />

AQUI NASCEU LUIZ PASTEUR<br />

A 29 DE DEZEMBRO DE 1822<br />

Pasteur era um patriota, e tinha o diploma<br />

<strong>de</strong> membro correspon<strong>de</strong>nte da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

<strong>de</strong> Bonn. Por occasião da guerra <strong>de</strong> 70 os<br />

prussianos bombar<strong>de</strong>aram o Museu e o Jardim<br />

das Plantas, Pasteur, indignado, reenviára<br />

para Bonn o tal diploma. Passados dias recebia<br />

uma carta com estes dizeres:<br />

«A <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Bonn envia a mr.<br />

Pasteur a expressão do seu mais profundo<br />

<strong>de</strong>sprezo».<br />

A sua morte foi sentidissima, e os seus<br />

funeraes concorridissimos; tendo o caracter<br />

nacional.<br />

A viuva do illustre extincto participou ao<br />

governo que não po<strong>de</strong>ria acce<strong>de</strong>r á entrada<br />

do cadaver <strong>de</strong> seu marido para o Pantheon,<br />

visto que elle manifestára sempre <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong><br />

repousar junto ao seu laboratorio da rua Dutot.<br />

De toda a parte e todas as classes enviam<br />

pezames e coroas. Os funeraes realisaram-sehontem<br />

na egreja <strong>de</strong> Notre-Dame. Era<br />

çnorme a multidãoj que fazia parte do cortejo.<br />

Sciencias, lettras e artes<br />

A. GALOPE<br />

Noite.<br />

Os dois amantes, por entre o estralejante<br />

ruido <strong>de</strong> ramos quebrados e <strong>de</strong> pedras rebo<br />

lando, voavam a toda a brida.<br />

Os seus cavallos, pela encosta da serra<br />

no rápido <strong>de</strong>clive da estrada.<br />

Era vertiginosa a fuga, e, comtudo, ape<br />

zar da velocida<strong>de</strong> que levavam, nem um só<br />

instante iam calados.<br />

— Alcançar-nos-hão? dizia elle.<br />

— O que será <strong>de</strong> nós! dizia ella.<br />

— Se nos matarem tanto melhor 1<br />

— Oh! sim, que nos matem!<br />

Não, não nos matarão.<br />

— Porque?<br />

— Elles bem sabem que viver sem ti...<br />

— Que horror!. ..<br />

— Será ainda mais cruel que viver longe<br />

<strong>de</strong> ti...<br />

— Oh! morreremos juntos!<br />

— E teu marido ha <strong>de</strong> poupar-nos.<br />

— Ai <strong>de</strong> nós!<br />

— E a ti, porque te ama!<br />

— Eu <strong>de</strong>testo-o!<br />

E a mim, porque me o<strong>de</strong>ia!<br />

No meio do redrobrar da phantastica carreira<br />

calam-se um instante.<br />

— Tens a certeza, continuou ella, que nos<br />

não resta a menor esperança?<br />

— Nenhuma.<br />

— Nem um refugio ?<br />

— Nem um refugio.<br />

— E po<strong>de</strong>ríamos viver separados?<br />

— Nunca!<br />

— Pois bem, morramos!<br />

— Ah! exclama elle, é o meu ar<strong>de</strong>nte<br />

<strong>de</strong>sejo.<br />

— Escuta. Ao fim d'esta estrada...<br />

— Abre-se enorme, horrível, o abysmo.<br />

— Crava as esporas !<br />

— Sim.<br />

— Depressa... mais <strong>de</strong>pressa!,..<br />

— Sim.<br />

— E afundar-nos-hemos ambos...<br />

— Depois do teu <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iro beijo?.. .<br />

— Eil-o!<br />

— Na morte.<br />

Então o amante precipita-se com o cor<br />

cel no abysmo.<br />

Porém, ella, hábil amazona, esticando<br />

violentamente as re<strong>de</strong>as, suspen<strong>de</strong> o seu Cavallo<br />

na orla mesmo do precipício e, <strong>de</strong>bruçada,<br />

sob a si<strong>de</strong>ria reverberação das estrellas,<br />

comtempla, a sorrir, o misero que<br />

vae batendo <strong>de</strong> fraga em fraga, e que lhe<br />

esten<strong>de</strong> convulsamente os braços dilacerados<br />

CATULLE MENDES.<br />

Lourenço Marques<br />

O reinadio Ennes com o seu estado e o<br />

seu exercito está dando <strong>de</strong> si trista i<strong>de</strong>ia, pois<br />

o Gongunhana, que elle tivera na mão, passoulhe<br />

o pé e anda a urdir emboscadas ás tropas<br />

portuguezas.<br />

Não valeram <strong>de</strong> nada ao Ennes vice-rei,<br />

os presentes com que mfmoseou o soba<br />

Gongunhana, pois constava em Ressano Garcia,<br />

estação fronteira, junto á portella do Incomati,<br />

que o Gungunhana, comquanto flanqueado<br />

ao oriente pelas tropas portuguezas,<br />

procurava attrahil-as a uma bem planeada<br />

emboscada, estando para isso em communicação<br />

em Magatos, o celebre revoltoso do<br />

Transvaal, para naturalmente este lhe fornecer<br />

mantimentos e munições.<br />

Dizia-se também que o commandante Mousinho<br />

d'Albuquerque, que fôra a Manjacase,<br />

resi<strong>de</strong>ncía do Gungunhana, recebera or<strong>de</strong>m<br />

em 24 <strong>de</strong> agosto para se retirar com a sua<br />

escolta.<br />

E aqui está o esterco que está fazendo<br />

n'aquella possessão o Ennes, vice-rei — a 5o<br />

mil réis por dia!...<br />

Protestos<br />

Continuam as manifestações <strong>de</strong> protesto<br />

escripto contra a extincção' <strong>de</strong> comarcas e<br />

concelhos a que o sardanapalo do João<br />

Franco respon<strong>de</strong>, <strong>de</strong>cretando em outros districtos<br />

a annexação d'uns para outros concelhos,<br />

embora os que soflrem o golpe <strong>de</strong>struidor<br />

estejam em melhor condições económicas.<br />

Diz-se que a reforma administrativa se<br />

fizera para assegurar a maioria no parlamento<br />

e que muitos concelhos e comarcas escaparam,<br />

por se chegarem a accordo com o governo.<br />

Em quanto o povo fizer protestos em papel,<br />

hão <strong>de</strong> ir-lhe indo chegandoa roupa ao<br />

corpo — e sem dar pio.<br />

Ha protestos tão persuasivos!.,.<br />

CARTA DE LISBOA<br />

4 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 18g5<br />

Sahiu D. Carlos a viajar pelo extrangeiro<br />

e temos a regencia do reino nas mãos <strong>de</strong> D.<br />

Amélia.<br />

O jesuitismo exhulta radiante pelo seu<br />

triumpho.<br />

Ninguém como os sectários <strong>de</strong> Santo Ignacio<br />

para hábeis negociações. ..<br />

Bem achada a phrase appendice coccal,<br />

applicada pelo nosso collega da Folha do<br />

Povo á futura camara legislativa.<br />

As funcções dos dois orgãos são perfeitamente<br />

idênticas.<br />

Para dar um correctivo severo aos indígenas<br />

indianos que trucidaram os nossos officiaes<br />

em Timor, foi mandada a toda a préssa<br />

a canhoneira Bengo, guarnecida com Se praças<br />

<strong>de</strong> marinha militar!...<br />

Um vaso <strong>de</strong> guerra a esphacelar-se, com<br />

tres dúzias <strong>de</strong> homens doentes, para se baterem<br />

com a gente do regulo <strong>de</strong> Alias!...<br />

E' o cumulo da idiotice! E' mais uma<br />

<strong>de</strong>saforada sandice das muitas que formam<br />

a tristíssima historia do gabinete Fervilha<br />

& C. a ...<br />

Se não po<strong>de</strong>m luctar com os indígenas<br />

indianos ou africanos; <strong>de</strong>ixem-se ficar em<br />

casa, <strong>de</strong>ixem-nos nos seus domínios, porque<br />

aquillo é d'elles e não exponham aos olhos<br />

<strong>de</strong> extranhos essas misérias, essas vergonhas,<br />

que são o diploma da inépcia, do <strong>de</strong>sleixo, e<br />

da falta <strong>de</strong> senso commum...<br />

Se os dinheiros do paiz não chegam para<br />

mais do que para distribuir por afilhados e<br />

amigos, distribuam tudo isso a seu bel-prazer,<br />

mas não nos façam passar por mais vergonhas<br />

e aviltamentos.<br />

Façam todas as tolices, que quizerem emquanto<br />

teem tempo, porque é tal a cobardia<br />

e inércia do povo portuguez, que antevemos<br />

uma ruína inevitável e próxima.<br />

Está nos paroxismos...<br />

E'fartar, villanagem, como dizia Almeida<br />

Garrett...<br />

*<br />

•<br />

Outra: — O transporte que vae ser fretado<br />

para levar mais tropas para Timor, é o<br />

que vem trazer os expedicionários a Lisboa.<br />

De Inhambane ao mar da China o minimo<br />

tempo a gastar é <strong>de</strong> mez e meio, <strong>de</strong> fórma<br />

que só alli voltará d'aqui a mais <strong>de</strong> 3 me\es,<br />

justamente na occasião em que as paludosas<br />

mais atacam os europeus!.. .<br />

Será o tempo preciso para lá ficarem os<br />

homens da expedição dizimados pelas febres<br />

!...<br />

Não será tudo isto feito propositadamente<br />

?<br />

Se nao e parece-o...<br />

x x x i z x :<br />

No dia <strong>de</strong> sexta feira,<br />

sem barulho e sem um grito,<br />

houve na estrada da Beira<br />

escandaloso conflicto!...<br />

Da sombrinha levantada,<br />

uma dama muito a peito<br />

aggrediu á chapellada<br />

um conhecido sujeito.<br />

— «Seu patife, mariolão,»<br />

(e bordoada outra vez)<br />

— «E' p'ra não ser fanfarrão..<br />

gabar-se do que não fez.»<br />

Um policia todo lesto<br />

p'ra dama logo correu...<br />

mas o sportman fez um gesto<br />

e o policia — obe<strong>de</strong>ceu !...<br />

ARMANDO VIVALDO.<br />

IPra -Dique.<br />

Assumptos <strong>de</strong> interesse local<br />

Bispo Con<strong>de</strong><br />

No proximo numero continuaremos a anaysar<br />

a carta, que o sr. Bispo Con<strong>de</strong> dirigiu<br />

ao rei, a proposito dos acontecimentos <strong>de</strong> 3o<br />

<strong>de</strong> julho.<br />

«A União»<br />

Festejou o seu i.° anniversaric este semanario<br />

lisbonense, orgão dos panificadores<br />

portuguezes, e que tem prestado á classe<br />

relevantes serviços.<br />

Publicou um supplemento, solemnisando<br />

a entrada do 2. 0 anno <strong>de</strong> publicação, numa<br />

vistosa impressão a duas cores.<br />

Receba as nossas felicitações pelo seu<br />

anniversario e que um futuro' prospero lhe<br />

dê prosperida<strong>de</strong>s e fortuna.


X>eféivsoi4 r»o P o v o — 1.° ANNO Domingo, 6 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895— N.° 46<br />

Aulas nocturnas<br />

Para o ensino <strong>de</strong> instrucção primaria está<br />

aberta a matricula na sala da Associação dos<br />

Artistas, todos os dias, das 7 horas da noite<br />

ás 9, terminando no dia 12 do corrente.<br />

Serão admittidos os filhos <strong>de</strong> socios e<br />

outros alumnos que esses apresentem, quando<br />

no goso dos seus direitos.<br />

As aulas principiam a funccionar no<br />

dia i5.<br />

O professor d'esta escola, sr. João da<br />

Costa Mello, que é incansavel no aperfeiçoamento<br />

do ensino, e <strong>de</strong>seja dar-lhe o maior<br />

<strong>de</strong>senvolvimento tem dado todos os annos<br />

um curso <strong>de</strong> ensino para adultos, <strong>de</strong>pois da<br />

aula dos menores, o qual tem sido aproveitado<br />

com vantagem pelos poucos que alli<br />

tem ido instruir-se.<br />

Temos na classe operaria <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />

infelizmente, muitos analphabetos, que vivem<br />

na ignorancia, por seu <strong>de</strong>sleixo e incúria bem<br />

con<strong>de</strong>mnaveis, quando lhe era fácil apren<strong>de</strong>rem<br />

a ler e escrever nas aulas nocturnas da<br />

Associação dos Artistas.<br />

E não se diga que é falta <strong>de</strong> meios o que<br />

obsta a não cursarem aquella escola, nem<br />

que o trabalho lhes impe<strong>de</strong> <strong>de</strong> o fazer; porque<br />

o ensino é gratuito e as aulas <strong>de</strong> adultos<br />

principiam ás 8 horas da noite, <strong>de</strong>pois dos<br />

serões.<br />

Bom será — para beneficio proprio — que<br />

os operários analphabetos se façam matricular<br />

nas aulas <strong>de</strong> instrucção primaria da Associação<br />

dos Artistas, dando ao espirito a<br />

esmola da instrucção tão indispensável ao<br />

homem.<br />

Reitor do lyceu<br />

Tomou posse na sexta feira da reitoria do<br />

lyceu <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, o eminente homem <strong>de</strong><br />

sciencia e lente <strong>de</strong> Philosophia na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>,<br />

o sr. dr. Antonio José Gonçalves Guimarães.<br />

O sr. dr. Raymundo da Motta pediu a<br />

<strong>de</strong>missão e com isso muito lucrou aquelle<br />

instituto <strong>de</strong> ensino, que estava completamente<br />

abandonado, se não alguma coisa mais, o<br />

que se po<strong>de</strong>ria verificar proce<strong>de</strong>ndo-se a uma<br />

rigorosa syndicancia.<br />

E é o que fará o novo reitor, caracter<br />

impolluto, e honrado cidadão, que por certo<br />

não quererá ficar responsável pelo que possa<br />

ter havido <strong>de</strong> irregular e <strong>de</strong> complicado,<br />

como é notorio.<br />

Temos a certeza que s. ex. a ao tomar<br />

posse do seu cargo ha <strong>de</strong> fazer <strong>de</strong>sapparecer<br />

das pare<strong>de</strong>s dos corredores e escadas o<br />

amontoado <strong>de</strong> obscenida<strong>de</strong>s escriptas e <strong>de</strong>senhadas,<br />

que o con<strong>de</strong>mnavel <strong>de</strong>sprezo, do<br />

reitor <strong>de</strong>mittido, pelas queixas da imprensa,<br />

conservou sempre, a attestar o seu <strong>de</strong>sprendimento<br />

pelo asseio e <strong>de</strong>cencia do lyceu <strong>de</strong><br />

<strong>Coimbra</strong>, convertido em latrina publica, o<br />

que bem comprovava a sua incapacida<strong>de</strong><br />

moral.<br />

Escoles <strong>de</strong> Commercio<br />

O sr. ministro das obras publicas <strong>de</strong>sejando<br />

dar incremento ao ensino elementar<br />

do commercio, vae crear escolas em <strong>Coimbra</strong>,<br />

on<strong>de</strong> a sua falta era muito sensivel e na<br />

Figueira da Foz.<br />

O plano <strong>de</strong> organisação das nossas escolas<br />

será semelhante ao da Escola do Porto<br />

agora creada.<br />

A gran<strong>de</strong> vantagem <strong>de</strong>stas escolas, para<br />

os que se <strong>de</strong>dicam á carreira commercial é<br />

importantíssima.<br />

17 Folhetim—«Defensor do Povo»<br />

0 CORSÁRIO PORTUGUEZ<br />

ROMANCE MARÍTIMO<br />

ORIGINAL DE<br />

m u fc^mw*<br />

CAPITULO III<br />

A <strong>de</strong>spedida<br />

— Este homem, se não é tolo, é cynico;<br />

dito isto, proseguiu em voz alta :<br />

— Não sei porque vossa excellencia me<br />

faz essa <strong>de</strong>claração! No entretanto, se ama<br />

tanto a senhora D. Carlota, case com ella...<br />

D. Francisco ficou admirado, e respon<strong>de</strong>u<br />

:<br />

—Ora essa! Eu! Um fidalgo da mais nobre<br />

prosapia havia <strong>de</strong> ir casar com a filha <strong>de</strong> um<br />

beca, que tem parentes plebeus! Nada, não<br />

senhor, eu quero possuil-a, mas por outro<br />

ineio... Pois não será melhor?...<br />

—Não sei, senhor D. Francisco, não me<br />

consulte porque não lhe posso dar conselho,<br />

Os cães raivosos<br />

Não quer o sr. commissario <strong>de</strong> policia<br />

ouvir os nossos rogos, quanto a exigir dos<br />

donos dos cães o acamo e dar caça aos animaes<br />

vadios, que por ahi vagueiam pelas ruas<br />

da cida<strong>de</strong>.<br />

Se se tivessem dado provi<strong>de</strong>ncias não seria<br />

preciso que um guarda da policia fosse<br />

para Lisboa, para apresentar a exame, no<br />

instituto bactereologico, a cabeça d'um cão<br />

que havia mordido em seis pessoas, incluindo<br />

o mesmo guarda. Ignora-se se o animal estava<br />

hydrophobo.<br />

Noya lythographia<br />

O sr. Joaquim Bento La<strong>de</strong>ira, acaba <strong>de</strong><br />

montar n'esta cida<strong>de</strong> uma lythographia com<br />

machina e prélo <strong>de</strong> impressão para o serviço<br />

<strong>de</strong> lições e correlativos.<br />

Tem pessoal habilitado, dirigindo a lythographia<br />

um hábil artista <strong>de</strong> Lisboa, o que é<br />

garantia segura para a perfeição do trabalho.<br />

Foi offerecido, gratuitamente, pelo sr.<br />

Joaquim La<strong>de</strong>ira á direcção da benemerita<br />

socieda<strong>de</strong> Philantropico-aca<strong>de</strong>mica, os exemplares<br />

das lições que alli forem impressos,<br />

aos estudantes subsidiados pela Philantropica.<br />

E' um acto digno <strong>de</strong> louvor.<br />

Desastres<br />

Joaquim Bogalho, pedreiro, das Casas<br />

Novas, andava a escavar n'uma pare<strong>de</strong> da<br />

sachristia da Sé Velha, afim <strong>de</strong> abrir communicação<br />

com o claustro do edifício, on<strong>de</strong> está a<br />

imprensa da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> e que ficou agora<br />

proprieda<strong>de</strong> d'aquella egreja, como o fôra<br />

em tempos.<br />

A imprevidência do operário em collocar<br />

a escada em cima <strong>de</strong> duas pipas <strong>de</strong> cimento,<br />

vasias, e sobre ellas trabalhar no rompimento<br />

da pare<strong>de</strong>, <strong>de</strong>u logar a que as pipas não supportassem<br />

o peso, e que elle caisse da escada,<br />

soffrendo gran<strong>de</strong>s contusões nas costas.<br />

Não quiz recolher ao hospital e <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> friccionado foi acompanhado, á noite, a<br />

casa, por dois operários que o amparavam,<br />

pois que difficilmente se arrastava.<br />

—Em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>sastres <strong>de</strong>ram entrada<br />

no hospital da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> :<br />

Joaquim Simões, das Torres, um pequenito<br />

d^ns quatro annos, a quem passou<br />

um carro <strong>de</strong> bois pela mão esquerda, esmagando-lh'a.<br />

— Maximiano Ferreira, trabalhador nas<br />

minas do Zorro, na estrada <strong>de</strong> Penacova,<br />

proximo das Torres, teve a infelicida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

fazer um golpe n'um pé, quando estava apparelhando<br />

alguma ma<strong>de</strong>ira.<br />

O ferimento foi <strong>de</strong>vido a ter-lhe escapado<br />

machado quando a partia.<br />

— Fracturou o braço esquerdo, Antonio<br />

Simões <strong>de</strong> Sousa, por se haver tombado,<br />

para o lado em que ia, a carrada <strong>de</strong> matto<br />

que uns bois puchavam ao carro. Tem algumas<br />

contusões pelo corpo, ficando maltratado.<br />

Notabilida<strong>de</strong> artística<br />

Consta-nos que o sr. Eugénio Pastor,<br />

emprezario, anda tratando <strong>de</strong> contractar o<br />

celebre trágico Novelli, que está causando o<br />

maior enthusiasmo no publico do Porto, para<br />

vir a esta cida<strong>de</strong> dar tres recitas <strong>de</strong> assignatura.<br />

Os jornaes são unanimes em lhe dirigir<br />

os maiores elogios, consi<strong>de</strong>rando o gran<strong>de</strong><br />

actor uma notabilida<strong>de</strong>.<br />

ajuda, nem favor! Eu penso porém por uma<br />

outra maneira.<br />

—Podéra não, o senhor não é nobre! Sei<br />

que ama D. A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong>, e pô<strong>de</strong> casar com ella<br />

sem prejuízo da sua nobreza, porque a não<br />

tem.<br />

Carlos pasmou em face <strong>de</strong> tamanha insolência<br />

:<br />

—Que está para ahi a dizer? Pois vossa<br />

excellencia julga que a nobreza está n'uns<br />

pergaminhos bolorentos, adquiridos como herança,<br />

sem préstimo nem merecimento?<br />

«A nobreza está nas virtu<strong>de</strong>s individuaes,<br />

na gran<strong>de</strong>za da alma e no talento, e nunca<br />

nos <strong>de</strong>vassos, ignorantes, repassados <strong>de</strong> vícios,<br />

sem crenças nem moral! Vossa excellencia<br />

insultou-me; e a não respeitar a casa<br />

on<strong>de</strong> estou, aqui mesmo lhe pediria explicações.<br />

><br />

D. Francisco era cobar<strong>de</strong> e mal educado<br />

e, ao ouvir as palavras <strong>de</strong> Carlos, disse comsigo:<br />

—Estes malditos vilões pren<strong>de</strong>m-se com<br />

tantas ninharias!... Aborrecem, porque tudo<br />

para eiles é honra! Vamos tental-o com o<br />

interesse.. . As vezes ce<strong>de</strong>m...<br />

— Senhor Carlos, proseguiu elle com o<br />

maior sangue frio, eu não quero insultal-o.<br />

Mas vamos a um accordo... Por exemplo,<br />

o senhor ama D. A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong>, e insta com ella<br />

para me facilitar uma entrevista com sua<br />

irmã... Verda<strong>de</strong> é que eu não quero casar<br />

Mestres d'ot>ras<br />

Damos hoje mais completo o resultado<br />

dos exames para mestres d'obras que se fez<br />

perante o jury, composto dos srs.: Antonio<br />

Franco Frazão, engenheiro, presi<strong>de</strong>nte; Augusto<br />

<strong>de</strong> Mattos Cid e João Antonio Máximo,<br />

conductores, vogaes.<br />

Fizeram exames recebendo approvação<br />

os concorrentes, srs:<br />

Francisco Antonio Meira, estucador.<br />

José dos Santos Marques, carpinteiro.<br />

Abilio Augusto Vieira, carpinteiro.<br />

José Pedro <strong>de</strong> Jesus, pedreiro.<br />

Joaquim Augusto La<strong>de</strong>iro, lavrante.<br />

Ficaram seis addiados, faltando um.<br />

Scena <strong>de</strong> pugilato<br />

Antes <strong>de</strong> hontem na estrada da Beira,<br />

quando um cavalheiro, muito conhecido e temido,<br />

d'esta cida<strong>de</strong>, se preparava para ir dar<br />

um passeio a cavallo, foi insultado e <strong>de</strong>pois<br />

aggredido por uma dama que usa chapéu!<br />

Um policia que estava proximo quiz pren<strong>de</strong>r<br />

a terrível senhora, mas <strong>de</strong>sistiu d'isso a<br />

um gesto do aggredido.<br />

Diz-se que razões particulares <strong>de</strong>ram causa<br />

áquella scena, que muita gente presenciou e<br />

que em <strong>Coimbra</strong> tanto se tem fallado e falia<br />

ainda.<br />

Exames<br />

O sr. Antonio Candido Leitão, filho do<br />

nosso amigo sr. José Duarte dWlmeida Lei-<br />

provado.<br />

Damos os nossos parabéns ao pae do intelligente<br />

estudante, a quem falta apenas o<br />

exame <strong>de</strong> litteratura para ter o curso completo<br />

dos lyceus.<br />

•<br />

Luiz José da Motta, filho do digno e zeloso<br />

chefe da policia d'esta cida<strong>de</strong>, Cesar José<br />

da Motta, fez exame <strong>de</strong> mathematica (4. 0 anno)<br />

ficando approvado.<br />

Ao nosso amigo os nossos parabéns sinceros<br />

pela satisfação <strong>de</strong> ver os seus esforços<br />

coroados dum tão bom êxito.<br />

•<br />

Na quinta feira fez exame, ficando approvado,<br />

o intelligente menino do nosso amigo,<br />

sr. Joaquim Monteiro <strong>de</strong> Figueiredo, digno<br />

conductor das obras da camara municipal.<br />

Recebam os paes os nossos parabéns.<br />

Apoplexia<br />

Trabalhava n'uma proprieda<strong>de</strong> proximo<br />

da cerca <strong>de</strong> Sant'Anna, João dos Santos,<br />

quando foi accommettido duma apoplexia<br />

quasi fulminante.<br />

Como não estava pessoa alguma n'aquelle<br />

local que o po<strong>de</strong>sse soccorrer, ficou estendido<br />

no chão, e só quando uma mulher que passava,<br />

<strong>de</strong>parou com aquelle horrível espectáculo<br />

e gritou por soccorro, chamando um<br />

policia, é que o infeliz foi conduzido ao hospital,<br />

morrendo pouco tempo <strong>de</strong>pois.<br />

Commemora^ão<br />

Como o anno passado a camara municipal<br />

mandou celebrar uma solemne commemoração,<br />

na capella do Cemiterio, no dia 2<br />

<strong>de</strong> novembro, consagrado á recordação dos<br />

mortos, este anno <strong>de</strong>liberou que se* fizesse<br />

egual solemnida<strong>de</strong> fúnebre.<br />

com ella, mas posso assegurar-lhe um futuro<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za...<br />

Carlos mudava <strong>de</strong> cor e tremia visivelmente;<br />

não podia porém fallar, porque a cólera<br />

tomava-lhe a voz.<br />

D. Francisco proseguiu:<br />

— Sim, senhor Carlos, posso garantir a<br />

D. Carlota um futuro brilhante, e ao senhor,<br />

em troca do serviço que me presta, uma<br />

<strong>de</strong>cidida protecção na corte, por intervenção<br />

do con<strong>de</strong> <strong>de</strong>... que é meu pae !<br />

Carlos já não podia suífocar a sua indignação.<br />

—Basta, senhor D. Francisco, basta! Não<br />

prosiga... Cale-se! disse elle avançando, com<br />

os caoellos arripiados e as feições <strong>de</strong>mudadas.<br />

Cale-se, aliás flagello-lhe essa fronte <strong>de</strong>svergonhada<br />

com um açoite!... Retire-se! porque,<br />

se receio manchar as mãos assentando-lh'as<br />

nas faces, outro tanto não succe<strong>de</strong>rá aos bicos<br />

dos meus sapatos!<br />

Ao dizer isto porém, impellido por uma<br />

potencia superior, agarrou com a força <strong>de</strong> um<br />

Hercules n'um braço do nobre fidalgo, e impeliindo-o<br />

com violência, fustigou-o com a<br />

ponta do pé<br />

D. Francisco <strong>de</strong> Sarmento era cobar<strong>de</strong>,<br />

e como tinha uma gran<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ração pelo<br />

seu aristocrático vulto, retirou-se pru<strong>de</strong>ntemente,<br />

para não irem a mais os <strong>de</strong>sacatos <strong>de</strong><br />

um plebeu. Mas aquella alma pervertida jurou<br />

Notas <strong>de</strong> carteira<br />

Regressou da Figueira da Foz, o sr. dr.<br />

Luiz dos Santos Viegas, em companhia <strong>de</strong><br />

sua ex. ma familia.<br />

O sr. José Simoes, conceituado industrial<br />

d'esta cida<strong>de</strong> também já regressou da Figueira<br />

com sua familia, on<strong>de</strong> esteve a banhos.<br />

De regresso da Figueira da Foz, já está<br />

n'esta cida<strong>de</strong> com sua familia o bemquisto<br />

industrial o sr. Antonio Marques da Silva<br />

Eloy.<br />

•<br />

Foi para a Figueira, com sua ex. ma familia,<br />

o nosso amigo o sr. Domingos Cardoso.<br />

•<br />

O sr: José Augusto Corrêa <strong>de</strong> Brito, e<br />

sua ex. ma familia foram para a bella praia da<br />

Figueira durante o mez corrente.<br />

Regressou a esta cida<strong>de</strong>, da Figueira da<br />

Foz com sua ex. ma familia on<strong>de</strong> esteve durante<br />

o mez <strong>de</strong> setembro, o sr. José Maria<br />

Casimiro d'Abreu.<br />

Está já n'esta cida<strong>de</strong> com sua ex. m * familia,<br />

<strong>de</strong> regresso <strong>de</strong> Luso on<strong>de</strong> foi passar as<br />

ferias o sr. dr. Augusto Cymbron.<br />

tão, fez exame <strong>de</strong> latim (6.° anno) ficando ap- Da Figueira da Foz, regressou a esta cida<strong>de</strong><br />

com sua ex. raa familia o sr. dr. Francisco<br />

Miranda da Costa Lobo, distincto professor<br />

<strong>de</strong> Mathematica da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>.<br />

Em companhia <strong>de</strong> suas duas extremosas<br />

filhas, regressou do Rio <strong>de</strong> Janeiro, o sr. dr.<br />

Antonio Gomes da Silva Sanches, que veio<br />

a esta cida<strong>de</strong> tratar <strong>de</strong> seus negocios.<br />

Encontra-se hospedado no acreditado —<br />

Hotel Commercio.<br />

Hospitaes da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

Foi approvado pelo ministério do reino,<br />

o orçamento supplementar dos hospitaes da<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> para o anno economico<br />

<strong>de</strong> 1895-1896.<br />

Cemiterio da Conchada<br />

Como se vê da estatística semanal da<br />

mortalida<strong>de</strong> em <strong>Coimbra</strong>, na semana finda<br />

em 29 só se fez o seguinte enterramento :<br />

João, filho <strong>de</strong> José Pedro Cor<strong>de</strong>iro e Rosa da Conceição,<br />

<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, com 6 ânuos <strong>de</strong> eda<strong>de</strong>. Falleceu<br />

no dia 26.<br />

A GRANEL<br />

0 sr. Ferreira d'Almeida ficou auctorisado, sob sua<br />

proposta, a mandar construir um cruzador e dois torpe<strong>de</strong>iros<br />

dalto mar. 0 couraçado será <strong>de</strong>nominado<br />

Hei <strong>de</strong> Portugal. Estes navios <strong>de</strong>verão custar 1'600<br />

contos.<br />

•<br />

Da prisão <strong>de</strong> O<strong>de</strong>ssa fugiram, uns vinte presos.<br />

Desappareceu também o director da ca<strong>de</strong>ia. Parece<br />

que auxiliou a evasão, recebendo ao que se diz, somma<br />

importantissima.<br />

•<br />

Foi adjudicado á Companhia do Papel do Prado o<br />

fornecimento <strong>de</strong> papel para sellar.<br />

vingar-se, já que a coragem lhe faltava para<br />

a <strong>de</strong>saffronta.<br />

Carlos ratirou-se, e ao chegar a bordo<br />

soube que no prazo <strong>de</strong> oito dias, <strong>de</strong>viam seguir<br />

viagem para Portugal.<br />

D. A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong> não soube do conflicto havido<br />

entre Carlos e o fidalgo; e quando elle lhe<br />

participou a sua breve partida, sofireu resignada<br />

as dores moraes, que a ausência <strong>de</strong><br />

um ente amado causa nas almas sensíveis.<br />

O dia da fatal separação chegou finalmente,<br />

e dolorosa foi a <strong>de</strong>spedida.<br />

Carlos jurou um eterno amor a D. A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong>!<br />

... Um casto beijo na fronte foi o penhor<br />

que reciprocamente trocaram. Elle parecia<br />

não po<strong>de</strong>r afastar-se da donzella, que tanto<br />

amava, mas eram duas horas da tar<strong>de</strong> e a<br />

fragata levantava ferro ás quatro.<br />

Fez um esforço sobrehumano, e o seu<br />

<strong>de</strong>ver <strong>de</strong> militar suffocou as dores que lhe<br />

atrophiavam o coração! Beijou a pela ultima<br />

vez, abraçou D. Carlota, correu como louco<br />

para o caes, e embarcou.<br />

Pobre mancebo! N'aquelle coração aon<strong>de</strong><br />

as virtu<strong>de</strong>s cívicas pollulavam e as esperanças<br />

floriam, existia a magua <strong>de</strong> uma cruel separação!<br />

A fragata ás quatro horas suspen<strong>de</strong>u ferro<br />

e partiu em gavias e joanetes; e como o vento<br />

era <strong>de</strong> feição, fendia as aguas com gran<strong>de</strong><br />

velocida<strong>de</strong>.<br />

(Continua.)


DEFENSOR r>o P o v o - 1 . ° A N N O Domingo, 6 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895—N.° 46<br />

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DE<br />

FAZENDAS BEANCAS<br />

DE<br />

MANUEL CARVALHO<br />

29 —Largo do Príncipe D. Carlos —31<br />

Encontra o publico o que ha <strong>de</strong> melhor era fazendas brancas e um completo<br />

sortido das recentes novida<strong>de</strong>s para a estação <strong>de</strong> verão e que esta casa<br />

ven<strong>de</strong> por preços baratíssimos.<br />

As verda<strong>de</strong>iras itiachiiias <strong>de</strong> costura<br />

para costureiras, alfaiates e sapateiros, ven<strong>de</strong>m-se no novo<br />

<strong>de</strong>posito em condições, sem duvida, mais vantajosas do Uli<br />

que em qualquer outra casa <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, Porto, ou Lisboa, apresentando sempre<br />

ao comprador um sortido <strong>de</strong> todos os mo<strong>de</strong>los que a mesma Companhia fabrica.<br />

Tendas a prestações <strong>de</strong> ãOO réis semanaes. A dinheiro,<br />

com gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>scontos.<br />

ENSINO GRÁTIS, no <strong>de</strong>posito ou em casa do comprador.<br />

Na mesma casa executa-se com a maxima perfeição qualquer concerto em<br />

machinas <strong>de</strong> costura, seja qual fôr o auctor, tendo para isso officina montada.<br />

Ao comprador <strong>de</strong> cada machina será offerecido, como brin<strong>de</strong>, um objecto<br />

<strong>de</strong> valor. Dão-se calalogos illustrados, grátis.<br />

Ven<strong>de</strong>-se oleo, agulhas, carros d'algodão, torçaes e peças soltas para todas<br />

as machinas.<br />

JOÃO RODRIGUES BRAGA<br />

SUCCESSOR<br />

17, ADRO DE CIMA, 20 — (Atraz <strong>de</strong> S. Bartholomeu)<br />

2 Armazém <strong>de</strong> fazendas <strong>de</strong> algodão, lã e seda. Vendas por junto e a retalho.<br />

Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> pannos crús. — Faz-se <strong>de</strong>sconto nas compras para<br />

reven<strong>de</strong>r.<br />

Complçto sortido <strong>de</strong> coroas e bouquets, fúnebres e <strong>de</strong> gala. Fitas <strong>de</strong><br />

faille, moiré glacé e selim, em todas as cores e larguras. Eças douradas para<br />

adultos e creanças.<br />

Continua a encarregar-se <strong>de</strong> funeraes completos, armações fúnebres e<br />

trasladações, tanto n'esta cida<strong>de</strong> como fóra.<br />

29<br />

B I C O A T J E H ,<br />

Por <strong>de</strong>spacho do meritissimo juiz presi<strong>de</strong>nte do<br />

tribunal do commercio do Porto e a requeri-<br />

mento da Empreza do BICO AUER, foram arrestados<br />

judicialmente, em casa dos srs. Nusse & Bastos,<br />

rua <strong>de</strong> Passos Manoel n.° 14 e rua d'Alegria n.° 867,<br />

daquella cida<strong>de</strong>, os bicos <strong>de</strong> contrafacção que estes<br />

srs. tentavam introduzir <strong>de</strong>baixo do nome <strong>de</strong> bico<br />

Invencível, bem como apparelhos e matérias primas<br />

que serviam para a sua fabricação.<br />

E' sabido que os arrestos judiciaes, só se con-<br />

ce<strong>de</strong>m <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> maduríssimo exame dos documentos<br />

justificativos dos direitos dos auctores, inquirição<br />

<strong>de</strong> testemunhas e <strong>de</strong>posito e avultada caução, que<br />

no caso actual, foi arbitrada em tres contos <strong>de</strong> réis.<br />

Bastará isto para esclarecer os incautos compradores<br />

<strong>de</strong> bicos <strong>de</strong> contrafacção, adquiridos baratos?<br />

Essa barateza constitue para os srs. compradores<br />

um prejuizo completo por lhes faltar fornecedor<br />

<strong>de</strong> mangas.<br />

Saiu cara, infelizmente, a economia imaginada.<br />

Venda <strong>de</strong> casas ao Calhabé<br />

Ven<strong>de</strong>m-se duas moradas <strong>de</strong> casas<br />

juntas, sitas ao Calhabé, freguezia da Sé<br />

Nova.<br />

Trata-se no estabelecimento <strong>de</strong> José<br />

Possidoniodos Reis, na Estrada da Beira.<br />

No mesmo estabelecimento se encontram<br />

á vencia todas as ferramentas para<br />

construcções <strong>de</strong> estradas e agricultura.<br />

Também se encontra um bom sortido<br />

<strong>de</strong> charruas <strong>de</strong> diversos números e fogões<br />

<strong>de</strong> vários tamanhos.<br />

Encarrega-se <strong>de</strong> toda a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

obra, pertencente a serralheria.<br />

josé rossisoszo m uns<br />

ESTRADA DA BEIRA<br />

COIMBRA<br />

ARRENDA-SE<br />

Do S. Miguel <strong>de</strong> 1895 em <strong>de</strong>ante a<br />

casa n.° 1, na rua das Colchas: tem<br />

muito boas commodida<strong>de</strong>s, e a loja n.°<br />

10 da mesma casa; a tratar com José<br />

Luiz Martins d'Araujo, na rua do Viscon<strong>de</strong><br />

da Luz, 90 a 92.<br />

Vinho <strong>de</strong> mesa sem composição<br />

14 Ven<strong>de</strong>-se no Café Commercio,<br />

rua do Viscon<strong>de</strong> da Luz, a 110<br />

e 120 o litro.<br />

Vinho do Porto, a 240 e 300 réis o<br />

litro.<br />

Gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vinho <strong>de</strong> Car-<br />

cavellos, Bucellas, Colares, etc., cognac<br />

Martell legitimo, e muitas outras bebidas<br />

tanto estrangeiras como nacionaes. Preços<br />

excessivamente baratos.<br />

Deposito <strong>de</strong> enxofre e sulphato <strong>de</strong><br />

cobre, cora gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconto para reven<strong>de</strong>r.<br />

Pulverisadores Fígaro pelos preços<br />

do Porto, sem <strong>de</strong>speza <strong>de</strong> transporte,<br />

Encontra-se na mercearia do proprietário<br />

do mesmo Café, rua do Corvo, n. 08<br />

9 e 11.<br />

A. Marques da Silva.<br />

16<br />

Pftw m m\<br />

CÀSSLUIBSIfiO<br />

Escadas <strong>de</strong> S. Thiago n.° 2<br />

COIMBRA<br />

Ciran<strong>de</strong> sortimento <strong>de</strong> cabelleiras<br />

para anjos, thealros, etc.<br />

COMPANHIA DE SEGUROS<br />

FIDELIDADE<br />

FUNDADA EM 1835<br />

SEDE EM LISBOA<br />

Capital réis 1.344:000^000<br />

Fundo <strong>de</strong> reserva 203:000$000<br />

10 Es*» companhia, a mais po<strong>de</strong>rosa<br />

<strong>de</strong> Portugal, toma seguros contra<br />

o risco <strong>de</strong> fogo ou raio, sobre prédios,<br />

mobílias ou estabelecimentos, assim<br />

como seguros marítimos. Agente em<br />

<strong>Coimbra</strong>—Basilio Augusto Xavier <strong>de</strong><br />

Andra<strong>de</strong>, rua Martins <strong>de</strong> Carvalho, n.°<br />

<strong>45</strong>, ou na do Viscon<strong>de</strong> da Luz, n.° 86.<br />

VIOLEIRO<br />

Augusto Nunes dos Santos, (successor<br />

<strong>de</strong> Antonio dos Santos), premiado<br />

na exposição districtal <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> em<br />

1884 com a medalha <strong>de</strong> prata, e na <strong>de</strong><br />

Lisboa <strong>de</strong> 1890.<br />

Com officina mais acreditada d'esta<br />

arte participa que faz toda a qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> instrumentos <strong>de</strong> corda concernente á<br />

sua arte; assim como os concertos com<br />

a maxima perfeição, como tem provado<br />

lia muitos annos.<br />

lambera ven<strong>de</strong> cordas <strong>de</strong> todas as<br />

qualida<strong>de</strong>s.<br />

Preços muito resumidos.<br />

Rua Direita, 16 e 18 —<strong>Coimbra</strong>.<br />

JLHETES DE VISIíí<br />

Impressões rapidas<br />

Typos mo<strong>de</strong>rnos e preços diversos<br />

Typ. Operaria * <strong>Coimbra</strong><br />

100, Rua Ferreira Borges, 100<br />

31 Pasta para rolos <strong>de</strong> im-<br />

prensa <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong> e preço<br />

raodico.<br />

Armai <strong>de</strong> diversos systemas,<br />

revolvers e munições <strong>de</strong> caça.<br />

Faqueiros e colheres d'electro<br />

pinte, qualida<strong>de</strong> garantida.<br />

Tinta e tella para pintura a<br />

oleo, pincéis e artigos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho.<br />

Mallus para viagem, carteiras<br />

e sarças <strong>de</strong> mão para senhora.<br />

Oleados <strong>de</strong> borracha para<br />

cama e outras qualida<strong>de</strong>s para mesa e<br />

forrar casas.<br />

Transparentes e stores <strong>de</strong><br />

ma<strong>de</strong>ira, rolos authomaticos para os<br />

mesmos.<br />

Perfumaria ingleza e sabonetes,<br />

pó d'arroz, pentes e escovas.<br />

Dentifrico do dr. Kousset,<br />

pó, para <strong>de</strong>ntes da socieda<strong>de</strong> hygienica.<br />

Bensolina para tirar nodoas,<br />

o melhor preparado, não prejudica a roupa.<br />

Lunetas, binoculos, brinquedos para<br />

creança, capachos d'arame e gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong><br />

em miu<strong>de</strong>zas.<br />

RUA SÁ DA BANDEIRA<br />

COIMBRA<br />

Director—ALBERTO PESSOA<br />

Bacharel formado em philosophia<br />

Este novo collegio d'ensino primário<br />

e secundário, on<strong>de</strong> se admittem alumnos<br />

internos, semi-internos e externos, abrirse-ha<br />

no dia 14 d'outubro prós imo.<br />

A relação do pessoal doceote, o regulamento<br />

da Escola, e quaesquer informações<br />

po<strong>de</strong>m ser pedidas ao director.<br />

PADARIA<br />

Arrenda-se uma padaria na rua das<br />

Sollas n.° 40, um dos melhores sitios <strong>de</strong><br />

<strong>Coimbra</strong> para aquelle negocio.<br />

Para tractar Praça do Commercio 92<br />

AOS PH0T06RAPH0S<br />

2 — R. do Viscon<strong>de</strong> da Luz — 6<br />

Ha sempre um bom sortido <strong>de</strong> artigos<br />

para pbotographia, que ven<strong>de</strong><br />

por preços commodos.<br />

COLLECÇÃO PAULO DE KOCK<br />

Obras publicadas<br />

O Coitadinho, 1 vol. 480 pag 600<br />

Zizina, 1. vol. illustrado 600<br />

O Homem dos Tres Calções, 1 vol.<br />

illustrado '. 600<br />

Irmão Jaçques, 2 vol. illustrados.. 800<br />

No prelo<br />

A Irmã Anna, 2 vol.<br />

Para qualquer d'estas obras acceitam-se<br />

assignaturas em <strong>Coimbra</strong> na<br />

Agencia <strong>de</strong> Hegocios Universitários<br />

<strong>de</strong> A. <strong>de</strong> Paula e Silva, rua do Infante<br />

D. Augusto.<br />

Toda a correspondência a José Cunha,<br />

T. <strong>de</strong> S. Sebastião, 3.—Lisboa.<br />

LOJA DA CHINA<br />

Chás pretos e ver<strong>de</strong>s<br />

Especialida<strong>de</strong>s<br />

Rua Ferreira Borges, 5<br />

Completo sortido <strong>de</strong> productos para<br />

sopas, molhos, pimentinhos do Brazil,<br />

cacau Van Ilouterfs e Epps com e sem leite,<br />

farinha imperial chineza, conservas da<br />

fabrica <strong>de</strong> Antonio Rodrigues Pinto, leques,<br />

ventarolas, crepons, abat-jours a<br />

40 réis, novida<strong>de</strong>, latinhas para chá e<br />

café, etc., etc.<br />

Introducção e Hflathematica<br />

LUIZ MARIA ROSETTE,<br />

alumno da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, continua<br />

a leccionar estas disciplinas.<br />

Praça S <strong>de</strong> Maio, n.° 39-1.°<br />

Deposito da Fabrica Nacional<br />

DE<br />

DE<br />

josé mnm n c m s sira<br />

COIMBRA<br />

128 —RDA FERREIRA BORGES —130<br />

HT'este <strong>de</strong>posito, regularmente montado, se acham á venda por junto e a<br />

retalho, todos os productos d'aquella fabrica a mais antiga <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />

on<strong>de</strong> se recebem quaesquer encommendas pelos preços e condições eguaes aos<br />

da fabrica.<br />

Publica-se ás quintas feiras e domingos 2 D O<br />

I D E F E I T S O E z JORNAL REPUBLICANO<br />

EDITOR — Adolpho da Costa Marques<br />

Redacção e administração—Largo da Freiria, 14, proximo á rua dos Sapateiros<br />

Anno . .<br />

Semestre .<br />

Trimestre.<br />

Com estampilha<br />

CONDIÇOES DE ASSIGNATURA<br />

(PAGA ADIANTADA)<br />

2$700<br />

1$350<br />

680<br />

Anno . .<br />

Semestre .<br />

Trimestre.<br />

Sem estampilha<br />

2$400<br />

1$200<br />

600<br />

AUnHUflíCIOS: — Cada linha, 40 réis; repetição, 20 réis; contracto<br />

especial para annuncios permanentes.<br />

LIVftOS: — Annunciamse gratuitamente quando se receba um<br />

exemplar.<br />

Impresso na Typographia Operaria — <strong>Coimbra</strong>


A N N O 1.<br />

Defen<br />

OS ÚLTIMOS RECURSOS<br />

A VÍAGEM DO REI<br />

El-rei D. Carlos <strong>de</strong> Bragança e os seus<br />

ministros esgotaram já lodos os recursos,<br />

ainda os mais extraordinários e <strong>de</strong>sesperados<br />

esforços para escorar o arruinado tlirono<br />

e as <strong>de</strong>smanlelladas instituições da velha<br />

monarchia, para sustentar, por mais<br />

algum tempo, a vida altribulada, arrastar,<br />

envolvida na mortalha <strong>de</strong> um absolutismo,<br />

torpemente restaurado, a existência, artificial<br />

e miserável, da realeza constitucional<br />

agonisante.<br />

Escandalosos abusos, illegalida<strong>de</strong>s monstruosas,<br />

atrozes e revoltantes violências,<br />

barbaras expoliações têm sido por elles postas<br />

em pratica.<br />

De tudo têm lançado mão; a tudo quanto<br />

ha <strong>de</strong> mais insolente e oppressivo, <strong>de</strong> baixo<br />

e ignóbil, injusto, immoral e perverso têm<br />

recorrido o rei <strong>de</strong> Portugal e os seus ministros,<br />

validos ineptos e maus, que entrincheirando-se<br />

na mais odiosa das dicladuras<br />

liberticidas, aleivosamente sacrificam os sagrados<br />

direitos do Povo aos privilégios caducos<br />

e ás prerogalivas obsoletas e prescriplas<br />

da realeza, os interesses da Nação, o<br />

bem estar e a honra da Patria ás conveniências<br />

pessoaes, ás vaida<strong>de</strong>s impostoras e ás<br />

arrogancias balofas <strong>de</strong> uma dynastia <strong>de</strong><br />

pérfidos e ambiciosos velhacos, <strong>de</strong> especuladores<br />

impudicos.<br />

•<br />

Ao mesmo tempo que o rei e os seus<br />

ministros veem esgotados lodos os seus recursos,<br />

baldados lodos os seus esforços<br />

para inteiramente escravisar o Povo e subjugar<br />

a Nação, veem lambem e, se não veem,<br />

presenlem que a paciência popular se vae<br />

esgotando, e que essa especie <strong>de</strong> resignação<br />

nacional, <strong>de</strong> que se têm prevalecido e <strong>de</strong> que<br />

tanto alar<strong>de</strong>iam e mofam, está prestes a<br />

<strong>de</strong>sapparecer, e a ser substituída pela mais<br />

legitima e severa das reivindicações.<br />

Sim. Não tendará que o Povo <strong>de</strong>veras<br />

se insurja, e erga a toda a allura da dignida<strong>de</strong><br />

nacional, a toda a nobre gran<strong>de</strong>za do<br />

seu brioso e tradicional civismo, para,<br />

obe<strong>de</strong>cendo aos impulsos da consciência pu-<br />

blicajuslamenle indignada por tantas affrotilas,<br />

por tantos <strong>de</strong>sastres criminosamente<br />

promovidos e infamemente realisados pelos<br />

governos da monarchia oppressora, castigar<br />

como é justo e elles merecem, os traiçoeiros<br />

causadores da sua mina, os infames promotores<br />

das suas <strong>de</strong>sgraças e humilhações.<br />

Sim. Não tardará que o Povo se levante<br />

para recuperar a sua soberania usurpada,<br />

para rehaver as suas liberda<strong>de</strong>s tão<br />

aleivosamente, primeiro, amesquinhadas e,<br />

por fim, quasi totalmente suppnmidas.<br />

O Povo não tardará em <strong>de</strong>spedaçar o<br />

cadaver do absolutismo galvanisado; em<br />

lançar por terra e polverisar o carunchoso<br />

throno, no qual se assenlára D. Miguel;<br />

em esmagar e exterminar a reacção, favorecida<br />

e em nossos dias reanimada pela<br />

protecção do rei, avigorada nas suas forças,<br />

cada vez mais ousada nas suas diabólicas<br />

preterições <strong>de</strong> retrocesso pelo apoio, occulto<br />

e ostensivo, que lhe dispensam os ministros<br />

e conselheiros da corôa.<br />

Não tardará que o Povo se levante, se<br />

tanlo fôr preciso com as armas na mão, para<br />

recuperar as liberda<strong>de</strong>s e as franquias municipaes,<br />

<strong>de</strong>spoticamente arrancadas pelapre^<br />

potencia governamental <strong>de</strong> uma concentradora<br />

dictadura, a mais ousada e insolente<br />

<strong>de</strong> quantas a nossa historia constitucional<br />

legisla.<br />

A revolução, a revolução popular armada,<br />

a revolução reivindicadora, a revolução<br />

fulminante, a revolução republicana!<br />

Eis a terrível ameaça, eis o perigo imminente<br />

que impen<strong>de</strong> sobre a pessoa do<br />

rei, que para a revolução nunca foi sagrado<br />

nem inviolável, e sobre os seus ministros.<br />

E' essa a terrível ameaça, o perigo imminente,<br />

que dia e noite os sobresalla e<br />

atormenta, vendo fugir-lhes <strong>de</strong>baixo dos<br />

pés o solo da patria, faltar-lhes o ar, apagar-se-lhes<br />

a luz, como aquelles que se <strong>de</strong>batem<br />

nas vascas angustiosas <strong>de</strong> uma triste<br />

e vergonhosa morte.<br />

Elles, rei e ministros, já não têm, fallam-lhes<br />

inteiramente as sympathias, a confiança,<br />

o respeito e. até, o medo, o terror<br />

dos povos.<br />

Para elles só existe o mais cruel e affronloso<br />

dos sentimentos — a indifferença.<br />

Dentro em pouco, irromperão, em explosões<br />

tremendas, as manifestações do odio,<br />

tanto mais fundo e impetuoso, quanto mais<br />

abafado e comprimido; virão as justas rivindicações<br />

da vingança, tanto mais severa e<br />

inflexível, quanto mais justificada e legitima.<br />

Sim, a revolução contra a monarchia,<br />

a revolução contra a dictadura absolutista,<br />

contra a reacção, a revolução para vingar<br />

tantas affronlas, para reparar tantos damnos<br />

e prejuízos nacionaes, vae rebentar em<br />

todo o paiz, congregar, amotinarem em um<br />

í-ó grilo <strong>de</strong> guerra, em um sobrado <strong>de</strong> extermínio<br />

as multidões nas cida<strong>de</strong>s e nos campos;<br />

e ao fogo e aos golpes da revolução,<br />

libertadora e vingadora, cairá o Ihrono, fundir-se-hão<br />

os diamantes da corôa, feito em<br />

liras, será reduzida a cinzas o velho e rôlo<br />

manto da realeza, gasta e prostituída capa<br />

<strong>de</strong> tantas iniquida<strong>de</strong>s.<br />

E' o mêdo á revolução, o terror da vingança<br />

que obrigam, dizem, el-rei, o sr.<br />

D. Carlos <strong>de</strong> Bragança, por conselho dos<br />

seus ministros a ir ao extrangeiro mendigar<br />

o barbaro e repugnantíssimo expediente<br />

d'uma intervenção politica, armada,<br />

se tanlo fôr preciso, para conter a revolução<br />

. - .<br />

Eis o seu ultimo recurso!<br />

v<br />

Eleições<br />

A comedia que o governo vae pôr em<br />

scena, escolhendo <strong>de</strong>putados a geito que o<br />

absolvam dos seus crimes, está marcada para<br />

jo <strong>de</strong> novembro.<br />

Não inspira este acto o menor interesse<br />

ao paiz, que ficará indifferente perante a infamia<br />

do governo: coarctar a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

voto ao povo, para se livrar <strong>de</strong> que a urna<br />

proteste contra os seus actos <strong>de</strong> puro absolutismo.<br />

Já se sabe o que ha <strong>de</strong> ser o parlamento<br />

da próxima legislatura:—uma manada <strong>de</strong> carneiros,<br />

mettidos no redil, ás or<strong>de</strong>ns do cacete<br />

do pastor.<br />

E todos a estrumar...<br />

•<br />

Por um <strong>de</strong>creto no Diário do Governo a<br />

eleição das camaras municipaes será feitas<br />

no dia 8 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro proximo, e a das juntas<br />

<strong>de</strong> parochias no dia 22 do mesmo mez,<br />

as quaes corporações hão <strong>de</strong> servir no triennio<br />

<strong>de</strong> 1896-1897, fazendo-se no terceiro domingo<br />

do mez <strong>de</strong> janeiro, do anno proximo,<br />

a eleição das commissões districtaes.<br />

«As Novida<strong>de</strong>s»<br />

Assumiu á direcção d'este jornal o sr.<br />

Emygdio Navarro, pela saida do sr. Barbosa<br />

Golen.<br />

Parece que a substituição é motivada pela<br />

exigencia do sr. João Franco, que se <strong>de</strong>sgostava<br />

da <strong>de</strong>feza, que alli se fazia ao governo.<br />

E' preciso fazer a vonta<strong>de</strong> ao tio ministro,<br />

porque — quem dá.,,<br />

Povo<br />

COIMBRA —Quinta feira, 10 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895<br />

.A.S E L E I Ç Õ E S<br />

Essa reforma eleitoral, que para ahi está,<br />

tem a única vantagem <strong>de</strong> garantir aos nossos<br />

preclaros governantes a approvação <strong>de</strong><br />

todas as reformas, por mais injustas, immoraes<br />

e anti-patrioticas que sejam.<br />

Embora as eleições entre nós fossem uma<br />

comedia ignóbil, uma perfeita burla, em todo<br />

o caso, apezar <strong>de</strong> todas as falsificações e<br />

chapeladas, os republicanos sempre conse-<br />

guiam fazer eccoar no seio do parlamento a<br />

voz altiva e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte das gran<strong>de</strong>s reclamações<br />

populares, e os progressistas sempre<br />

po<strong>de</strong>riam fazer recuar o gabinete n'um ou<br />

outro acto, valenao-se da sua força numérica,<br />

o que ás vezes fazia abortar uma votação favoravel<br />

ao governo.<br />

Comquanto os governos dispozessem <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong>s maiorias, na maior parte dos seus<br />

membros ignorantes, capazes <strong>de</strong> votar tudo<br />

quer bom ou mau, o pesa<strong>de</strong>llo constante <strong>de</strong><br />

todos os governos era ainda assim o parlamento;<br />

temiam, apezar <strong>de</strong> toda a sua coragem<br />

e força, a fiscalisação constante das opposições<br />

parlamentares.<br />

Foi esta a razão principal por que o actual<br />

governo inaugurou, logo <strong>de</strong> principio, a mais<br />

odiosa das dictaduras, e reformou a camara<br />

dos pares, tornando-a um corpo conservador<br />

e palaciano ao serviço d'elle e da corôa.<br />

Quando porém precisava <strong>de</strong> que o bill <strong>de</strong><br />

in<strong>de</strong>mnida<strong>de</strong> fosse votado, e que a força das<br />

circumstancias tornou impreterível a convocação<br />

dos collegios eleitoraes, saiu-se d'esta<br />

dificulda<strong>de</strong> publicando uma reforma, que<br />

converte a representação nacional em um joguete<br />

nas mãos, pouco escrupulosas, dos ministros<br />

do rei, dos partidarios da corrupção<br />

e do absolutismo.<br />

Alguns monarchicos, os progressistas por<br />

exemplo, procuram attenuar as responsabilida<strong>de</strong>s<br />

da corôa n^sla <strong>de</strong>gringola<strong>de</strong> politica,<br />

economica, financeira, administrativa, etc.<br />

Ora como o rei em tudo tem consentido,<br />

e dá o seu mais <strong>de</strong>cidido apoio a João<br />

Franco e illustres collegas, é culpado, mais<br />

que culpado, é o primeiro responsável.<br />

Quando em 1826 os esforços dos reaccionários<br />

e jesuítas fizeram substituir a constituição<br />

liberal e <strong>de</strong>mocratica <strong>de</strong> 1822 por um<br />

codigo <strong>de</strong> leis um pouco mais reaccionário e<br />

retrogrado, os liberaes queixaram-se energicamente,<br />

e protestaram por todo o paiz.<br />

Hoje, passados 70 annos, o codigo <strong>de</strong><br />

leis, que para aquelles tempos era consi<strong>de</strong>rado<br />

retrogrado, é pelos nossos legisladores<br />

d'hoje consi<strong>de</strong>rado liberal <strong>de</strong> mais, prejudicialissimo<br />

para a or<strong>de</strong>m interna do paiz e<br />

tranquilida<strong>de</strong> social!<br />

Os nossos protestos limitaram-se á lucta<br />

pela imprensa, a comícios e reuniões, á vista<br />

da auctorida<strong>de</strong>; e, por isso nenhum resultado<br />

proveitoso <strong>de</strong>ram.<br />

Nós só confiamos em protestos que cheirem<br />

a fumo e a polvora.<br />

D'outros protestos estamos fartos até aos<br />

olhos, e até já cheiram mal.<br />

Premio <strong>de</strong> consolação<br />

O sr. dr. Cabral Moncada, a rica prenda<br />

do procurador régio na Boa Hora, que tantos<br />

serviços tem prestado aos gatunos <strong>de</strong> alta<br />

gerarchia, pentea-se para procurador geral da<br />

corôa, e o governo não está fóra d'isso, porque<br />

é homem com quem se pô<strong>de</strong> contar.<br />

Elle bem procura coisa que faça papo e<br />

o tire da piolheira do tribunal.<br />

O que não procura é o processo nyasseiro,<br />

que o tem a sete chaves, porque accusa<br />

<strong>de</strong> larapios a conhecida firma Arroyo, Centeno<br />

& C. a !<br />

E' <strong>de</strong> bom coracão.<br />

><br />

MM<br />

Movimento republicano<br />

Vae fundar-se em Belmonte um centro<br />

republicano, ao qual presidirá o sr. Antonio<br />

Vaz Barreiros.<br />

•<br />

Em Coura, vae brevemente começar-se a<br />

publicar um jornal republicano.<br />

•<br />

Vae apparecer em Lisboa um novo diário<br />

republicano que será intitulado o Debate, em<br />

substituição da Batalha, <strong>de</strong>baixo da direcção<br />

do ar. Feio Terenas.<br />

Sciencias, lettras e artes<br />

0 CASAMENTO DO PAPAGAIO<br />

PAULO BOUHOMME<br />

VERSÃO LIVRE<br />

CONTO<br />

D'esta vez, Octavia, já não posso mais!...<br />

Dá-me d'ahi os meus sapatos, o meu casaco<br />

e o meu chapéu,.. Vou procurar o commissario<br />

<strong>de</strong> policia !.. .<br />

Quem fazia esta <strong>de</strong>claração com um gesto<br />

exasperado e entrando como um furacão no<br />

quarto da mulher, era o sr. Galoubet, advogado<br />

nos auditorios <strong>de</strong> Paris. Tinha <strong>de</strong> pé<br />

os últimos cabellos que povoavam o seu craneo<br />

luzidio, tremulas as mãos, injectados os<br />

olhos.<br />

— Não; não ha memoria, continuou elle,<br />

d'um animal tão <strong>de</strong>sastrosamente insupportavel.<br />

Já cinco vezes, ouves tu, cinco vezes,<br />

principiei a <strong>de</strong>corar o meu discurso e, por<br />

causa d^sse maldito papagaio, não fui capaz<br />

ainda <strong>de</strong> reter uma palavra !<br />

— Então, menino, socega! implorou a sr. a<br />

Galoubet, uma boa burgueza fresca como<br />

uma papoula com a sua touca matutina.<br />

Pó<strong>de</strong>s ter a certeza <strong>de</strong> que te faz mal essa<br />

zanga!<br />

— Pouco me importa ! respon<strong>de</strong>u o advogado<br />

com um tom furibundo. Ou me livram<br />

d'esse papagaio; ou eu faço por ahi alguma<br />

<strong>de</strong>sgraça, estrangulo-o !...<br />

Nervosamente, apertou o casaco, calçou<br />

os sapatos, pôz o chapéu na cabeça e, batendo<br />

muito com os tacões, dirigiu-se para a<br />

porta.<br />

— Pelo amor <strong>de</strong> Deus não vás, murmurou<br />

a mulher, juntando as mãos. Ao menos,<br />

meu amigo, domina-te na presença do sr.<br />

commissario. Não te <strong>de</strong>ixes arrebatar pelo<br />

teu génio impetuoso !. ..<br />

Honorina, a filha, também interveio, mas<br />

nada conseguiu. A única resposta do advogado<br />

foi fechar bruscamente a porta, <strong>de</strong>scer<br />

precipitadamente as escadas e subir a rua, a<br />

caminho do commissariado.<br />

Os donos do papagaio eram uns ven<strong>de</strong>dores<br />

<strong>de</strong> calçado que moravam no fundo do<br />

pateo, em frente do gabinete <strong>de</strong> trabalho do<br />

sr. Galoubet. O animalejo soltava a todo<br />

o instante gritos agudos, lancinantes, os <strong>de</strong>sagradaveis<br />

gritos d\im papagaio que parece<br />

ter prazer em exasperar a paciência <strong>de</strong> quem<br />

o ouve. Por varias vezes o sr. Galoubet<br />

tentou enten<strong>de</strong>r-se com os donos da prenda,<br />

mas nunca pou<strong>de</strong> conseguir a suppressão nem<br />

mesmo o affastamento do irritante animal.<br />

Como contava que tinha por seu lado toda<br />

a justiça, o sr. Galoubet resolvera-se por fim<br />

a expor a sua queixa no commissariado, muito<br />

longe <strong>de</strong> suppôr que o esperava uma tremenda<br />

<strong>de</strong>cepção. O grave magistrado policial <strong>de</strong>clarou<br />

que o mal não tinha remedio:<br />

— O papagaio grita <strong>de</strong>pois das <strong>de</strong>z horas<br />

da noute?<br />

Perguntou elle.<br />

— Não, senhor, respon<strong>de</strong>u consternadíssimo<br />

o advogado, mas juro-lhe que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as<br />

seis horas da manhã até ás seis da tar<strong>de</strong>, o<br />

maldito não se cala um instante.<br />

O commissario fez com os braços um<br />

gesto <strong>de</strong>monstrativo da sua incompetência<br />

no assumpto e concluiu :<br />

— Des<strong>de</strong> o momento em que o barulho<br />

é <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> casa e antes das <strong>de</strong>z horas da<br />

noite, nada posso fazer.<br />

O rosto do sr. Galoubet congestionou-se.<br />

— Mas então, senhor, chamo aos tribunaes<br />

o meu visinho! exclamou elle, porque<br />

eu preso-me <strong>de</strong> conhecer a lei!<br />

— Perfeitamente, opinou o commissario,<br />

chame-o aos tribunaes.<br />

— Assim o farei e vou immediatamente<br />

a casa d'um procurador!<br />

— Está no seu direito.<br />

E, comprimentando o commissario, Galoubet<br />

sahiu todo nervoso.<br />

A família esperava-o com impaciência.<br />

A primeira pessoa que lhe sahiu ao encontro<br />

foi a filha.<br />

Então ? perguntou ella, que disse o commissario<br />

?<br />

E logo em seguida a mãe :<br />

— Então sempre nos veremos livres do<br />

papagaio ?<br />

— Parece que sim, soprou o sr. Galoubet,<br />

limpando a testa coberta <strong>de</strong> suor. O papa»


I> KFENSOK DO Povo — 1 ° ANNO<br />

gaio ha <strong>de</strong> <strong>de</strong>sapparecer, mas pelos meios<br />

legaes...<br />

As duas mulheres soltaram um suspiro<br />

<strong>de</strong> allivio.<br />

— E o commissario vem ahi?, perguntou<br />

a filha.<br />

— Não, respon<strong>de</strong>u gravemente o sr. Galoubet,<br />

quem tem <strong>de</strong> vir é um procurador.<br />

— Um procurador ? perguntaram espantadas<br />

as duas mulheres.<br />

— Tal e qual. Resta-me o serviço <strong>de</strong><br />

constatar <strong>de</strong> auditu a barulheira que faz esse<br />

maldito.<br />

Ouviu-se um brusco toque <strong>de</strong> campainha.<br />

A creada foi abrir a momentos appareceu<br />

um homem ainda novo, alto, magro, quasi<br />

elegante. Era o procurador Rapinault, successor<br />

<strong>de</strong> seu pae.<br />

Feitos os comprimentos do estylo, disselhe<br />

o sr. Galoubet, com o mais amavel dos<br />

sorrisos:<br />

— Vamos para o gabinete; não ha<strong>de</strong> estar<br />

lá muito tempo para constatar...<br />

(Continua.)<br />

n D e c l a , r a , ç a , o<br />

Em advertencia aos reparos <strong>de</strong>spertados<br />

pela fórma inverosímil, como se encontra<br />

restaurado o tumulo do bispo D. Estevão<br />

Annes, na egreja da SéYelba, <strong>de</strong>claro:<br />

— que nenhuma especie <strong>de</strong> cooperação<br />

prestei a essa obra; e que os trabalhos alli<br />

realisados <strong>de</strong>s<strong>de</strong> princípios <strong>de</strong> julho ultimo<br />

são da livre iniciativa e exclusiva responsabilida<strong>de</strong><br />

da direcção lechnica.<br />

Em quanto as criticas se exerceram em<br />

família, entendi manler-me em paciente e<br />

generoso silencio, aguardando a cada momento<br />

uma reconsi<strong>de</strong>ração que se me afigurava<br />

necessaria; agora, porém que as<br />

censuras se estão repercutindo nos jornaes<br />

<strong>de</strong> fóra <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, seria incomprehendida<br />

e inadmissível essa altitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> cumplicida<strong>de</strong>.<br />

, O resto virá a seu tempo.<br />

<strong>Coimbra</strong>, — X — 95.<br />

Fogo <strong>de</strong> vistas<br />

A. GONÇALVES.<br />

Os ministeriaes <strong>de</strong>itam fogo porque as<br />

receitas aduaneiras do mez <strong>de</strong> setembro findo,<br />

comparadas com as do mesmo mez do anno<br />

<strong>de</strong> 1895, dão um augmento <strong>de</strong> 2i5 contos!<br />

De matar o <strong>de</strong>ficit!<br />

Ora um paiz importador nunca pô<strong>de</strong> prosperar,<br />

pois que vae ao extrangeiro comprar<br />

os artigos manufactureiros para os ven<strong>de</strong>r<br />

nos seus estabelecimentos.<br />

Entram contos <strong>de</strong> réis para os cofres das<br />

alfan<strong>de</strong>gas; mas saem barra fóra milhares <strong>de</strong><br />

libras que o commercio envia para as casas<br />

commerciaes extrangeiras!<br />

On<strong>de</strong> estão as prosperida<strong>de</strong>s?<br />

Santas almas!<br />

O rev. José Lopes, parocho encommendado<br />

da freguezia <strong>de</strong> Ratos, do concelho <strong>de</strong><br />

Povoa do Varzim, foi pronunciado, com<br />

admissão <strong>de</strong> fiança, por insultar o sr. José<br />

da Silva da mesma freguezia, que havia instaurado<br />

um processo contra uma sua irmã.<br />

Vê-se que o padre e a mana são almas<br />

en<strong>de</strong>moninhadas, e que um e outro não cumprem<br />

o preceito evangelico — Amar o proximo<br />

como a nós mesmo.<br />

Que o sr. juiz lh'o ensine, applicando-lhes,<br />

o castigo que a lei estabelece para quem não<br />

respeita a sua posição e dá escandalo publico.<br />

Se é verda<strong>de</strong>iro o boato,<br />

o paiz 'stá arranjado;<br />

que el-rei fizera o contracto,<br />

ir-nos a Hespanha ao costado!<br />

Isso é historia ó invento,<br />

(palavras do meu compadre)<br />

quem faz O levantamento<br />

son las ninas <strong>de</strong> su madre!...<br />

-jm^<br />

E' laracha, são graçolas!<br />

Se el-rei fez cambalachos<br />

d'accordo — foi co'as hespanholas.<br />

pois já não gosta dos machos.<br />

—<br />

Não passa <strong>de</strong> patarata<br />

(digo-te aqui em segredo)<br />

em D. Carlos —é bravata.<br />

Sabes tu?—quem tem... tem medo!...<br />

Fra-Diaue»<br />

O ELEVADOR<br />

Tem sido incansavel o concessionário do<br />

elevador, sr. Raul Mesnier Ponsard, no trabalho<br />

insano <strong>de</strong> promover a subscripção <strong>de</strong><br />

acções para a realisação d'este utilíssimo<br />

melhoramento.<br />

No entanto os habitantes <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

não têm correspondido até hoje, como se<br />

esperava, aos esforços da empreza, mostrando,<br />

os que melhor podiam prestar o seu<br />

auxilio monetário, uma bem injusta indifferença<br />

pelo elevador.<br />

E' a má sorte que persegue esta cida<strong>de</strong>,<br />

a quem a politica tem prejudicado nos seus<br />

mais altos interesses, se bem que os seus<br />

habitantes muito têm contribuído para a situação<br />

<strong>de</strong>sgraçada em que se vive, pois não<br />

apparece urna iniciativa particular, nem official,<br />

dando-nos a cida<strong>de</strong> da Figueira da Foz,<br />

exemplos bem frizantes do quanto trabalha<br />

para o progresso e <strong>de</strong>senvolvimento da sua<br />

terra.<br />

Subscriptores <strong>de</strong> 10 a 501000 réis<br />

A. Armando da Silva, (Lisboa).<br />

Abel Augusto Campos <strong>de</strong> Paiva, (Lisboa).<br />

A<strong>de</strong>lino Augusto Ferrão Castello Branco<br />

Adriano Murteira<br />

Adrião Forjaz<br />

Agostinho R. <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong><br />

Albano Gomes Paes<br />

Alberto Vianna<br />

Alberto Pessoa<br />

Alberto Carlos <strong>de</strong> Moura<br />

Albino dos Santos Nogueira Lobo<br />

Antonio José Dantas Guimarães<br />

Antonio Julio <strong>de</strong> Campos<br />

Antonio Maria Antunes<br />

Antonio Maria <strong>de</strong> Oliveira e Silva, (Montemor)<br />

D. Antonio Pessoa <strong>de</strong> Amorim, (Lisboa)<br />

Antonio <strong>de</strong> Sousa, (Évora)<br />

Antonio Serrão Franco, (Lisboa)<br />

Dr. Arthur Eduardo Manso Preio<br />

Augusto Maria <strong>de</strong> Quadros<br />

Augusto Pereira Coutinho<br />

Augusto da Silva Teixeira<br />

Augusto Vieira <strong>de</strong> Campos<br />

Aureliano José dos Santos Viegas<br />

Bento Joaquim La<strong>de</strong>ira<br />

Bernardo Moniz da Maia, (Lisboa)<br />

Camillo Augusto Rebocho<br />

Carlos Alberto Me<strong>de</strong>iros Greno<br />

Cesar Augusto Pereira Cal<strong>de</strong>ira<br />

Cesar Augusto da Rocha Freitas<br />

Domingos Cardoso e esposa<br />

Eduardo Lopes <strong>de</strong> Macedo<br />

Dr. Eduardo Jesus Teixeira<br />

Francisco <strong>de</strong> Campos Saturnino, (Lisboa)<br />

Francisco Vieira <strong>de</strong> Campos<br />

Francisco Vieira<br />

Francisco Borges<br />

Francisco da Fonseca<br />

Francisco Gorjão Henriques Coutinho (Abrigada)<br />

Francisco José da Costa<br />

Dr. Francisco Manso Preto<br />

Francisco Maria <strong>de</strong> Sousa Nazareth<br />

Francisco Perfeito <strong>de</strong> Magalhães, (Lisboa)<br />

Dr. Francisco Rodrigues dos Santos Nazareth<br />

Francisco dos Santos Almeida<br />

Gaspar Rastos dos Santos<br />

Dr. Guilherme Alves Moreira<br />

Guilherme Barreiros Cardoso, (Lisboa)<br />

Guilhermino <strong>de</strong> Barros<br />

Jacintho <strong>de</strong> Freitas Morna<br />

Januario Damasceno Ratto<br />

Jayme Lopes Lobo<br />

João Antonio da Cunha<br />

João Augusto dos Santos Trincão<br />

João Rorges<br />

Dr. João Jacintho da Silva Corrêa<br />

João Luiz Gonçalves<br />

João Marques Anthero<br />

João <strong>de</strong> Menezes<br />

João dos Santos Jacob<br />

João Serrão<br />

João Simões Rarrico<br />

João Vieira<br />

Rev. Joaquim Antonio <strong>de</strong> Oliveira<br />

Joaquim Antonio Rouzado, (Arroyollos)<br />

Joaquim Antunes Borges <strong>de</strong> Carvalho, (Lisboa).<br />

Joaquim A. S. da Nativida<strong>de</strong><br />

Joaquim Augusto Rodrigues<br />

Joaquim da Costa Coutinho<br />

Joaquim Ferreira Rodrigues <strong>de</strong> Figueiredo<br />

Joaquim Gaspar <strong>de</strong> Mattos<br />

Joaquim Maria <strong>de</strong> Almeida<br />

Joaquim Maria Monteiro <strong>de</strong> Figueiredo<br />

Joaquim Simões Barrico<br />

Joíé A<strong>de</strong>lino Serrasqueiro<br />

José Antonio Dias Pereira<br />

José Braz Simões <strong>de</strong> Sousa, (Évora)<br />

José Bruno <strong>de</strong> Cabedo<br />

José Corrêa Lemos<br />

.José Diogo Pires<br />

José Guilherme dos Santos<br />

José Levy da Silva Saturnino, CEvora)<br />

José Macedo Souto Maior<br />

José Manso <strong>de</strong> Carvalho<br />

José Maria <strong>de</strong> Carvalho<br />

José Maria da Costa, (Dafundo)<br />

José Maria Ferraz<br />

José Marques Pinto<br />

Julio Cesar Bom <strong>de</strong> Sousa<br />

Julio Machado Feliciano<br />

Julio Pereira Alves, (Lisboa)<br />

M. m0 Luize Estatemiller, (Lisboa)<br />

D. Maria Francisca Sameiro Perdigão, (Évora)<br />

Manuel Duarte <strong>de</strong> Almeida, (Évora)<br />

Manuel da Fonseca Callisto<br />

Manuel Gorjão Henriques Coutinho, (Abrigada)<br />

Manuel José Telles<br />

Manuel Paes da Silva<br />

Manuel Villaça da Fonseca<br />

Mário da Silva Gayo<br />

Nuno Gorjão Henriques Coutinho, (Abrigada)<br />

Dr. Pessoa Pinheiro<br />

Quaresma & C. a , (Lisboa)<br />

Raphael Gorjão Henriques Coutinho, (Abrigada)<br />

D. Maria Urbana Monteiro Soares <strong>de</strong> Albergaria<br />

João Rodrigues Paixão<br />

Antonio Nunes Corrêa<br />

Augusto Men<strong>de</strong>s Simões <strong>de</strong> Castro<br />

Francisco Gonçalves <strong>de</strong> Lemos<br />

Augusto Barbosa<br />

Rev. Bernardo Antonio <strong>de</strong> Madureira<br />

José Joaquim dos Beis Leitão<br />

Dr. Francisco Miranda da Costa Lobo<br />

Subscriptores <strong>de</strong> 1001000 réis<br />

Adriano Marques<br />

Anselmo Vieira <strong>de</strong> Campos<br />

Antonio Franco Frazão<br />

Anthero A. d'Araujo Pinto<br />

Antonio Maria Pimenta<br />

Apolínio A. d'Araujo Pinto<br />

Augusto da Cruz Machado<br />

Augusto Ferreira, (Lisboa)<br />

Cassiano Ribeiro<br />

Eduardo Tavares <strong>de</strong> Mello<br />

Francisco d'Almeida Quadros<br />

Ignacio Miranda<br />

José Miranda<br />

Jayíne <strong>de</strong> Sá Esteves Abranches<br />

João A. d'Araujo Pinto<br />

João Theophilo da Costa Gôa<br />

Joaquim José Vidal Mourinha<br />

Joaquim Justiniano Ferreira Lobo<br />

José Antonio Ribeiro Guimarães<br />

José Doria<br />

José Fernan<strong>de</strong>s Ferreira<br />

José Lourenço da Costa<br />

José Maria das Neves Rebello Velloso (Ançã)<br />

Luiza Maria<br />

Manuel José da Costa Soares<br />

Ruben Augusto A. <strong>de</strong> Araujo Pinto<br />

Santos & Brito<br />

Francisco Gouvêa<br />

Subscriptor <strong>de</strong> 1501000<br />

A. Guerra Junqueiro, (Porto)<br />

Subscriptores <strong>de</strong> 2001000<br />

Luiz Ernesto Beinaud, (Lisboa)<br />

Julio Gama, (Porto)<br />

D. Maria Augusta Coutinho<br />

Subscriptores <strong>de</strong> 2501000<br />

Adolpho Greno, (Lisboa)<br />

Antonio Gomes Neto, (Lisboa)<br />

Antonio José da Costa<br />

A. Schroter, (Lisboa)<br />

Francisco <strong>de</strong> Sousa Araujo<br />

Henrique <strong>de</strong> Barros Gomes, (Lisboa)<br />

João Alexandrino <strong>de</strong> Sousa Queiroga, (Lisboa)<br />

Jorge <strong>de</strong> San<strong>de</strong> Mexia Ayres <strong>de</strong> Campos<br />

José Luiz Pereira Crespo, (Lisboa)<br />

M. A. Rodrigues da Silva<br />

Manuel Rento <strong>de</strong> Quadros<br />

Pedro <strong>de</strong> San<strong>de</strong> Mexia Ayres <strong>de</strong> Campos<br />

Subscriptores <strong>de</strong> 5001000 réis<br />

D. Maria <strong>de</strong> San<strong>de</strong> Mexia Ayres <strong>de</strong> Campos<br />

João Henrique Ulrick, (Lisboa)<br />

João Corrêa Mexia Ayres <strong>de</strong> Campos<br />

Francisco Ribeiro da Cunha<br />

Subscriptores <strong>de</strong> 1: reis<br />

José Alves <strong>de</strong> Oliveira<br />

João Evangelista da Silva Saturnino<br />

Rev. José Simões Dias<br />

Dr. Luiz Pereira da Costa<br />

D. Maria Amélia <strong>de</strong> San<strong>de</strong> Mexia Ayres <strong>de</strong> Campos<br />

Raul Mesnier <strong>de</strong> Ponsard<br />

Vicente Augusto Ferreira Rocha<br />

Subscriptor <strong>de</strong> 2:0001000 réis<br />

Empreza Industrial Portugueza, Santo Amaro, (Lisboa)<br />

Subscriptor <strong>de</strong> 2:500|000 réis<br />

João Maria Corrêa Ayres <strong>de</strong> Campos<br />

Qualquer observação a fazer a esta relação<br />

<strong>de</strong>ve ser dirigida ao sr. Mesnier <strong>de</strong> Ponsard,<br />

na Imprensa Académica, na rua da<br />

Sophia, das 12 ás 3 horas da tar<strong>de</strong>.<br />

Total d'esta subscripção<br />

Dos subscriptores até<br />

» » <strong>de</strong><br />

501000<br />

1000000<br />

3:7600000<br />

2:8000000<br />

» » » 1301000 1500000<br />

» » » 2001000 600;3000<br />

2301000 3:0000000<br />

» » » 5000000 2:0000000<br />

1:0000000 7:0000000<br />

2:01100000 â:000$000<br />

» » » 2:5000000 2:5000000<br />

23:8100000<br />

Para <strong>45</strong>:0000000<br />

Falta 21:1900000<br />

Publicámos a lista acima para que se<br />

avalie dos brios da maioria d'uma população,<br />

que — informada por toda a imprensa, unanime<br />

em <strong>de</strong>monstrar o bom êxito que teria<br />

o elevador — se recusa a prestar o seu auxilio.<br />

E ahi tem o nosso consi<strong>de</strong>rado collega—<br />

Resistencia — a resposta á sua pergunta:<br />

Para quê?<br />

Demissão arbitraria<br />

O Liberal, da Povoa do Varzim, relata<br />

que o distribuidor supra-numerario dos correios<br />

e telegraphos fôra <strong>de</strong>mittido.<br />

Era este empregado cumpridor dos seus<br />

<strong>de</strong>veres, gosando as sympathias <strong>de</strong> muitos, pelas<br />

suas boas qualida<strong>de</strong>s, causando porisso<br />

impressão a violência com que se proce<strong>de</strong>u<br />

para com elle.<br />

Mas a causa é outra: —o <strong>de</strong>mittido é<br />

editor do Liberal, um jornal que não é passador<br />

<strong>de</strong> culpas e sabe pôr os pontos nos ii;<br />

tendo além d'isso o <strong>de</strong>feito <strong>de</strong> con<strong>de</strong>mnar os<br />

actos do governo.<br />

Ora como isto não agrada aos serventuários<br />

e lacaios da politica regeneradora que<br />

recebem a gorjeta dos seus serviços á causa<br />

nefanda que o infame ministério estabeleceu<br />

— por isso se <strong>de</strong>mittiu um empregado zeloso<br />

e um homem honrado.<br />

Que tudo se paga nesta vida!<br />

Quinta feira, 10 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895 —N.° 47<br />

Assumptos <strong>de</strong> interesse locai<br />

TJniver sid a<strong>de</strong><br />

O jury dos differentes annos da Faculda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Direito ficará assim constituído no<br />

proximo anno lectivo:<br />

anno — Drs. Guilherme Alves Moreira<br />

e Avelino Callisto.<br />

2° anno.— Drs. Fre<strong>de</strong>rico Laranjo Fernan<strong>de</strong>s<br />

Vaz e Nunes Geral<strong>de</strong>s.<br />

3.° anno.— Drs. Assis Teixeira, Lopes<br />

Praça e Guimarães Pedrosa.<br />

4." anno.— Drs. Emygdio Garcia, Chaves<br />

e Castro e Fernan<strong>de</strong>s Vaz.<br />

5." anno.— Drs. Paiva e Pitta, Henriques<br />

da Silva e Manuel Dias da Silva.<br />

O sr. dr. Avelino Callisto accumulará no<br />

t.° anno a ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> direito romano.<br />

O sr. dr. Fernan<strong>de</strong>s Vaz accumulará no<br />

4. 0 anno a ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> direito civil.<br />

Logo que terminarem os concursos, assumirão<br />

a regencia d'estas ca<strong>de</strong>iras os candidatos<br />

srs. drs. AfFonso Costa, Arthur Montenegro<br />

e Teixeira d'Abreu.<br />

Gymnasio <strong>de</strong> Cohnbra<br />

Em breve será installada, no seu novo<br />

edifício, esta utilíssima instituição, que o sr.<br />

Alvaro Esteves Castanheira mandou construir<br />

na estrada da Beira, e on<strong>de</strong> vae installar,<br />

ao rez do chão, a sua importante fabrica<br />

<strong>de</strong> lacres e tintas.<br />

O andar nobre ficou com espaçosas sn!as,<br />

e o salão <strong>de</strong> gymnastica me<strong>de</strong> <strong>de</strong> cumprimento<br />

i5 metros por 9 <strong>de</strong> largo. Explendido.<br />

Um pouco acanhado o ultimo pavimento,<br />

sendo sensível a escassez <strong>de</strong> luz; mas esta<br />

falta e outras, com certeza, o sr. Alvaro Castanheira<br />

remediará <strong>de</strong>pois, visto que agora o<br />

acabamento do edifício se fez <strong>de</strong> afogadilho<br />

para que o Gymnasio, sem casa, se po<strong>de</strong>sse<br />

installar breve.<br />

Está o Gymnasio nas condições <strong>de</strong> entrar<br />

agora n'uma epocha <strong>de</strong> prosperida<strong>de</strong> e engran<strong>de</strong>cimento,<br />

se a sua direcção promover<br />

e trabalhar para o conseguir, o que é fácil se<br />

não lhe faltar a coadjuvação e auxilio dos<br />

socios, que é o principal elemento.<br />

Relevantes serviços conta esta sympathica<br />

aggremiação á mocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, promovendo-lhe<br />

o seu <strong>de</strong>senvolvimento physico.<br />

E agora que ha salas especiaes para os<br />

exercícios da gymnastica, esgrima, e outros<br />

divertimentos, o Gymnasio <strong>de</strong>ve attrair ao<br />

seu grémio a concorrência <strong>de</strong> todas as classes,<br />

pois lhe pô<strong>de</strong> offerecer os melhores passatempos<br />

em recreios hygienicos e em alegre convivência.<br />

Trata-se <strong>de</strong> inaugurar brevemente as classes<br />

<strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> gymnastica, para adultos e<br />

creanças, on<strong>de</strong> os chefes <strong>de</strong> família obterão o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento physico <strong>de</strong> seus filhos.<br />

Por occasião da abertura official do Gymnasio<br />

haverá uma explendida soireé musical e<br />

dançante para os socios e suas ex. maS famílias.<br />

Deve ser uma festa <strong>de</strong> intimo enthusiasmo.<br />

Diplomas<br />

No domingo reunida a assemblêa geral<br />

e por proposta da mesa foram conferidos diplomas<br />

: <strong>de</strong> socio benemerito ao sr. dr. Antonio<br />

Augusto da Costa Simões, reitor da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>;—e<br />

<strong>de</strong> socios honorários: os srs. dr.<br />

Joaquim Rodrigues Davim, nosso collega <strong>de</strong><br />

redacção; conego Alves Men<strong>de</strong>s; dr. Abel<br />

<strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>; e Libanio Baptista Ferreira.<br />

Esta proposta foi approvada por unanimida<strong>de</strong>.<br />

Aos contx-ibnlutes<br />

Termina hoje o prazo para as reclarrações<br />

sobre a contribuição <strong>de</strong> renda <strong>de</strong> casas e<br />

sumptuaria; porisso os contribuintes que ainda<br />

tiverem <strong>de</strong> reclamar; <strong>de</strong>verão fazel-o ainda<br />

hoje, porque d'outra fórma sujeitam-se a pagar<br />

as suas collectas pelo preço, que os informadores<br />

d'aquellas contribuições os mandaram<br />

inscrever nas competentes matrizes.<br />

Jornalista oatholico<br />

O sr. Abúndio da Silva, bacharel em<br />

theologia e antigo redactor da Or<strong>de</strong>m, veio<br />

este anno matricu!ar-se no primeiro anno<br />

juridico, sendo subsidiado pelo sr. D. Miguel<br />

<strong>de</strong> Bragança.<br />

E um rapaz <strong>de</strong> talento e muito estudioso.<br />

Aos estudantes<br />

O sr. secretario da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> não au*<br />

ctorisa, que os alumnos que requereram á<br />

matricula geral, assignem o termo <strong>de</strong> encerramento<br />

<strong>de</strong> matricula, além do dia i3 até áa<br />

tres horas da tar<strong>de</strong>.<br />

Prevenimos d'ísto os interessados.


DEFENSOR I>O POVO<br />

Falta d© espaço<br />

Ainda hoje somos obrigados, bem a nosso<br />

pesar, a retirar o artigo sobre a carta, que o<br />

sr. bispo con<strong>de</strong> dirigiu ao rei, a proposito dos<br />

acontecimentos do dia 3o <strong>de</strong> julho:<br />

Que os nossos leitores nos relevem a<br />

falta.<br />

Egualmente nos vemos na necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

não publicar hoje um artigo sobre a—Arrematação<br />

da carne.<br />

*<br />

Exigências <strong>de</strong> fisco<br />

Informam-nos <strong>de</strong> que teem sido numerosos<br />

os recursos apresentados na repartição<br />

<strong>de</strong> fazenda d'este concelho, contra o excessivo<br />

augmento exigido no preço das avenças do<br />

real d'agua, pelos empregados da guarda fiscal.<br />

Em vista da crise por que está passando<br />

o commercio d^sta cida<strong>de</strong> e que ameaça<br />

prolongar-se in<strong>de</strong>finidamente, similhantes exigências,<br />

além <strong>de</strong> serem infundadas, são <strong>de</strong><br />

todo o ponto asnaticas.<br />

E a justiça <strong>de</strong> Fafe tão quietinha!<br />

Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Yalenças<br />

Tem estado n'esta cida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> veiu acompanhar<br />

seu filho á matricula do primeiro<br />

anno da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito, o iliustre titular,<br />

presi<strong>de</strong>nte honorário da Associação dos<br />

Artistas, a quem s. ex. a tem prestado assignalados<br />

benefícios.<br />

Esteve hospedado no Gran<strong>de</strong> Hotel Mon<strong>de</strong>go—<br />

ao Caes — on<strong>de</strong> recebeu a visita dos<br />

seus numerosos amigos.e admiradores.<br />

Revista litteraria e artística<br />

Nos princípios <strong>de</strong> novembro apparecerá<br />

n'esta cida<strong>de</strong> uma importante revista litteraria<br />

e artística nacional e extrangeira, collaborada<br />

por eminentes escriptores portuguezes,<br />

francezes e allemães.<br />

O primeiro numero conterá o seguinte<br />

summario:<br />

Poesia, por João <strong>de</strong> Deus; Critica artística,<br />

por Joaquim <strong>de</strong> Vasconcellos; Apologo,<br />

poesia, por D. Leopoldo Cano; Tod in Achren,<br />

(a agonia no trigal), poesia pelo barão <strong>de</strong> Liliencron;<br />

Das grtine Wnn<strong>de</strong>r (o milagre ver<strong>de</strong>),<br />

poesia <strong>de</strong> Otto Julins Bierbaum; Gabrile <strong>de</strong><br />

Annua\io, estudo critico por Vitterio Pica;<br />

Laudience du Prince Amour, poesia por Lionel<br />

<strong>de</strong>s Rieux; uma poesia, por Briun Gaubast;<br />

Paul Verlaine, estudo critico por Charles<br />

Maurice; dois contos, por Jules Renard e<br />

Paul Verlaine, etc.'<br />

O muito distincto poeta conimbricense,<br />

sr. Eugénio <strong>de</strong> Castro, acompanha as poesias<br />

allemães com uma versão portugueza.<br />

Os <strong>de</strong>senhos estão entregues á competência<br />

artística do sr. Antonio Augusto Gonçalves,<br />

director e professor da Escola Brotero<br />

e a gravura ao sr. Emile Yock, também professor.<br />

•g-—•—<br />

Nomeação<br />

Foi nomeado professor interino <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho<br />

do lyceu d^sta cida<strong>de</strong>, o sr. Antonio<br />

Augusto Gonçalves, iliustre director da escóla<br />

industrial Brotero.<br />

São tantas as provas <strong>de</strong> competencia que<br />

o nosso amigo Antonio Augusto Gonçalves<br />

tem dado, e o publico <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> tem por<br />

elle tanta estima e respeito, que nenhuma<br />

nomeação seria mais bem recebida e acceite.<br />

18 Folhetim—«Defensor do Povo»<br />

0 CORSÁRIO PORTUGIEZ<br />

ROMANCE MARÍTIMO<br />

ORIGINAL DE<br />

W S ® %% VfeWU^<br />

CAPITULO III<br />

A <strong>de</strong>spedida<br />

Calote aos jornaleiros<br />

O pessoal jornaleiro da escola central <strong>de</strong><br />

agricultura — Moraes Sarmento — está sem<br />

receber os seus salarios ha sete quinzenas!<br />

Imagine-se quantas privações terão passado<br />

esses <strong>de</strong>sgraçados, a trabalharem dia a<br />

dia, para se verem sem recursos para o seu<br />

sustento e <strong>de</strong> suas famílias.<br />

E' uma barbarida<strong>de</strong> este <strong>de</strong>sleixo dos<br />

funccionarios públicos graduados, que pagos<br />

em dia, e muitas vezes a<strong>de</strong>antadamente, não<br />

se importam <strong>de</strong> dar expediente ás respectivas<br />

folhas para o pagamento dos salarios aos que<br />

o ganham com tantas fadigas.<br />

Pedíamos, por isso, ao sr. director da<br />

repartição competente, sr. Elvino <strong>de</strong> Brito<br />

provi<strong>de</strong>nceie no sentido <strong>de</strong> ser pago aos jor-<br />

naleiros as sete quinzenas que se lhes <strong>de</strong>vem.<br />

Sabemos que quem tem protegido essa<br />

pobre gente é o pessoal superior da escóla<br />

agrícola, adiantando-lhe algum dinheiro para<br />

não morrerem <strong>de</strong> fome.<br />

Chega-se á <strong>de</strong>sgraça n'este paiz, dos que<br />

trabalham, não só não receberem a insignificante<br />

diaria que lh'es arbitram, mas ainda<br />

terem <strong>de</strong> soflrer privações pela <strong>de</strong>mora d^sse<br />

pagamento, como se fosse uma esmola que<br />

se lhe déssem.<br />

Confiámos <strong>de</strong> que se darão provi<strong>de</strong>ncias<br />

e que o sr. Elvino <strong>de</strong> Brito atten<strong>de</strong>rá ao<br />

nosso justo pedido.<br />

Homenagem a Pasteur<br />

O sr. director e pessoal do laboratorio <strong>de</strong><br />

microbiologia da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />

enviaram ao instituto Pasteur, este telegramma:<br />

Professear Duclaux—Instituto «Pasteur»<br />

— Paris. — Directeur et personnel Laboratoire<br />

<strong>de</strong> Microbiologie Université Coimbre<br />

prennent part <strong>de</strong>uil qui frappe la science dans<br />

la personne Pasteur. — Dr. Lui\ Pereira da<br />

Costa. — Charles Lepierre.<br />

Carlos, á ré, não afastava os olhos d^m<br />

O naufragio<br />

mirante que lhe ficava a SE.: acenava com<br />

um lenço branco, dois lhe correspondiam; e Deixemos D. A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong> entregue á sole-<br />

então um profundo gemido lhe saía do peito. da<strong>de</strong> e á dôr, pela separação <strong>de</strong> Carlos, e<br />

Este movimento foi por muitas vezes repe- sigamol-o na sua viagem e n'outros acontecitido,<br />

até que um gran<strong>de</strong> espaço lh'o roubou mentos, que muito influíram no seu futuro.<br />

á vista e aos dois lenços brancos que tantas Mas antes <strong>de</strong> nos occuparmos d'elle, bom<br />

vezes viu agitar!<br />

será que digamos aos leitores o que frei Ro-<br />

Estava só! Só, entre o céu e o mar, enzendo ficou fazendo no Brazil, mais o senhor<br />

tre a sauda<strong>de</strong> e o isolamento, entre a duvida D. Francisco Antonio <strong>de</strong> Sarmento e Castro.<br />

e a esperança!<br />

Frei Rozendo, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> <strong>de</strong>sembarcar,<br />

Triste condição é a da vida humana, em occupou-se exclusivamente <strong>de</strong> reaiisar uma<br />

que a ventura é um mytho, a esperança uma vingança digna d'aquella alma hypocrita e<br />

auvida e a duvida um martyrio! Realida<strong>de</strong> traiçoeira.<br />

SÓ ha na morte, fria e implacavel!<br />

jurou vingar-se <strong>de</strong> Carlos^ e do <strong>de</strong>sembar-<br />


D e f e n s o r r>o P o v o — 1.° A N N O Quinta feira, 10 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895—N.° 47<br />

C0LLE6I0 ACADÉMICO<br />

(ENSINO PRIMÁRIO)<br />

Está aberta <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1 <strong>de</strong> outubro a aula<br />

<strong>de</strong> ensino primário d'este collegio, regida<br />

por José Falcão Ribeiro, Justino José Correia<br />

e Pompeu Faria <strong>de</strong> Castro, professores<br />

legalmente habilitados.<br />

A partir do mesmo dia, a qualquer<br />

hora, se recebem matriculas, tanto para<br />

'esta aula como para as <strong>de</strong> instrucção secundaria,<br />

que posteriormente serão abertas.<br />

Recebem-se alumnos internos, semiinternos<br />

e externos.<br />

Garanle-se um ensino proficuo com a<br />

mais completa organisação e com a assiduida<strong>de</strong><br />

no trabalho que caracterisa os<br />

professores.<br />

Fornecer-se-ha papel, tinta, pennas,<br />

giz e lápis gratuitamente a todos os alumnos,<br />

bem como um ca<strong>de</strong>rno para notas<br />

diárias <strong>de</strong> frequencia e aproveitamento.<br />

A l. a classe dividir-se-ha em dois grupos<br />

: um leccionado pelo methodo <strong>de</strong> João<br />

<strong>de</strong> Deus e outro pelo <strong>de</strong> Simões Lopes,<br />

á escolha das famílias dos alumnos.<br />

As creanças <strong>de</strong> muito pouca ida<strong>de</strong><br />

terão entrada e aula em separado.<br />

Preços: l. a classe SOO réis; — 2. a<br />

1$200 réis; —3 a 1$500 réis.<br />

<strong>Coimbra</strong>, rua dos Coutinhos, 27.<br />

DE<br />

COIMBRA<br />

J. F. Ribeiro<br />

Des<strong>de</strong> a publicação d'este annuncio,<br />

até ao dia 13 do corrente, em casa do<br />

sr. Francisco Rorges, na rua do Viscon<strong>de</strong><br />

da Luz, n.° 4, está aberta a matricula<br />

para a leccionação das seguintes disciplinas<br />

: Francez, Escripluração commerciul<br />

e Calligraphia (aperfeiçoamento <strong>de</strong> lettra).<br />

As aulas abrem no dia 15 e só po<strong>de</strong>rão<br />

ser frequentadas pelos srs. associados.<br />

O secretario,<br />

Augusto Gonçalves e Silva.<br />

Aos amadores <strong>de</strong> vinho ver<strong>de</strong><br />

2[ Continua a ler esta especialida<strong>de</strong><br />

José Monteiro dos Santos, com estabelecimento<br />

<strong>de</strong> fazendas brancas na<br />

rua dos Sapateiros n.° 87 — 61.<br />

Caixa do eorreio<br />

COLLEGIO CORPO DE DEUS<br />

158 — Rua Corpo <strong>de</strong> Deus —160<br />

Director o bacharel em direito<br />

FABRÍCIO A. M. PIMENTEL<br />

Já creado ha 9 annos, acaba <strong>de</strong><br />

passar por completa transformação, este<br />

collegio, adre<strong>de</strong> a nova reforma, ficando<br />

nas seguintes condições hygienicas: Óptimas<br />

vistas, jardim <strong>de</strong> recreio, aulas espaçosas<br />

e boa luz, comportando maior<br />

numero que o exigido, 10 quartos para<br />

crianças e 6 para adultos, ficando estes<br />

completamente isemptos d'aquelles, inclusive<br />

ás refeições.<br />

Leccioua-se o curso completo dos<br />

l.yceus, para o que tem um habilissimo<br />

corpo docente, incluindo n'elle o nosso<br />

amigo sr. Antonio M. Cardoso, regendo a<br />

ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> francez, já <strong>de</strong> ha muito conhecido.<br />

Recebem-se alumnos externos,<br />

semi-internos e internos, facultando-se a<br />

estes últimos a frequencia no lyceu.<br />

O horário e dias <strong>de</strong>signados para as<br />

differentes ca<strong>de</strong>iras ainda se não assentou<br />

o que, feito, será publicado internamente<br />

por edital. Quem preten<strong>de</strong>r mais esclarecimentos<br />

dirija-se ao professor e director<br />

do collegio.<br />

VINHO VERDE<br />

Especialida<strong>de</strong> em vinho ver<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Amarante.<br />

Ven<strong>de</strong>-se engarrafado e ao litro na<br />

mim POBTWMZA<br />

Rua Martins <strong>de</strong> Carvalho<br />

Antiga rua das Figueirinhas<br />

R E C L A M E S E A N N U N C I O S<br />

JOÃO RODRIGUES BRAGA<br />

SUCCESSOR<br />

17, ADRO DE CIMA, 20 — (Atraz <strong>de</strong> S. Bartholomeu)<br />

2 Armazém <strong>de</strong> fazendas <strong>de</strong> algodão, lã e seda. Vendas por junto e a retalho.<br />

Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> pannos crus. — Faz-se <strong>de</strong>sconto nas compras para<br />

reven<strong>de</strong>r.<br />

Completo sortido <strong>de</strong> coroas e houquets, fúnebres e <strong>de</strong> gala. Fitas <strong>de</strong><br />

faille, moiré glacé e setim, em todas as cores e larguras. Eças douradas para<br />

adultos e creanças.<br />

Continua a encarregar-se <strong>de</strong> funeraes completos, armações fúnebres e<br />

trasladações, tanto n'esta cida<strong>de</strong> como fóra.<br />

1HAIM,<br />

Ferrage<br />

ESTABELECIMENTO<br />

DE<br />

W I tf<br />

E til<br />

DE<br />

JOÃO GOMES MOREIRA<br />

COIMBRA<br />

5o * RUA DE FERREIRA BORGES * 5a<br />

(EM FRENTE DO ARCO DALMEDINA I<br />

nÇ nana rnnstrnrrriíiç- Gran<strong>de</strong> sortido que ven<strong>de</strong> por pre "<br />

lio pai a buiidii uuyuco. ços eguaes aos <strong>de</strong> Lisboa e Porto.<br />

n De ferro e arame primeira qualida<strong>de</strong> com gran<strong>de</strong>s gr{ <strong>de</strong>scontos.<br />

* legdyeilò. —Avisô aos proprietários e mestres dobras<br />

p j.j| • , Cutilaria nacional e estrangeira dos melhores auctores. EspebUUlGi<br />

!a . cialida<strong>de</strong> em cutilaria Rodgers.<br />

r 0j_ ç . Crystofle, metal branco, cabo d'ebano e marfim, completo<br />

raljlieiros . sortido era faqueiros e outros artigos <strong>de</strong> Guimarães.<br />

I mirao innIo7ae rloforrn"<br />

LQU^db lliyicZdò, UB 1 erro.<br />

Esmaltadaeestanhada, ferroAgate, serviço<br />

completo para mesa, lavatorio e cozinha.<br />

p: a Inglez e Cabo Mon<strong>de</strong>go, as melhores qualida<strong>de</strong>s que se em-<br />

UiniciilUb. pregam em construcções hydraulicas.<br />

Pnl Hwrípnnlioa • Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito da Companhia Cabo Mon<strong>de</strong>go.—Aviso<br />

udl 0|UI dllílUd. aos proprietários e mestres d'obras.<br />

Tintnt? nana nin+iipne • Alvaia<strong>de</strong>s, oleos, agua-raz, crés, gesso, vernizes,<br />

illllaa para pifllliras. e muitas outras tintas e artigos para pintores.<br />

ílrmnc rio fnnn' Carabinas <strong>de</strong> repetição <strong>de</strong> 12 e 15 tiros, revolvers<br />

HlRiaS Qv ÍOyU. espingardas para caça, os melhores systemas.<br />

!"|j . Ban<strong>de</strong>jas, oleados, papel para forrar casas, moinhos e torradores<br />

w-IVciSOS • para café, machinas para moer carne, balanças <strong>de</strong> todos os<br />

systemas. — Re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> arame, zinco e chumbo em folha, ferro zincado,<br />

arame <strong>de</strong> todas as qualida<strong>de</strong>s.<br />

FlprtririHarip P nntira A S ENCIA da casa Ramos & Silva - <strong>de</strong> Lisboa '<br />

l-ICtll iUUCSUG C upiiua constructores <strong>de</strong> pára-raios, campainhas eléctricas,<br />

oculos e lunetas e todos os mais apparelhos concernentes.<br />

Pastilhas electro-chimicas, a 50 réis).<br />

Brilhante Belge, a 160 réis J '" dls P e » sa s em lodas as casas<br />

GO DEPOSITO DI MACHINAS<br />

Estabelecimento <strong>de</strong> fazendas brancas<br />

ARTIGOS DE NOVIDADE<br />

ALFAIATARIA MODERNA<br />

DE<br />

josé luís mim is mm<br />

90, Rua do Viscon<strong>de</strong> da Luz 92 —COIMBRA<br />

6 O mais antigo estabelecimento n'esta cida<strong>de</strong>, com as verda<strong>de</strong>iras machinas<br />

Singer, on<strong>de</strong> se encontra sempre um verda<strong>de</strong>iro sortido em machinas<br />

<strong>de</strong> costura para alfaiate, sapateiro e costureira, com os últimos aperfeiçoamentos,<br />

garanlindo-se ao comprador o bom trabalho da machina pelo espaço <strong>de</strong> 10<br />

annos.<br />

Recebe-se qualquer machina usada em troca <strong>de</strong> novas, transporte grátis<br />

para os compradores <strong>de</strong> fúra da terra e outras garantias. Ensina-se <strong>de</strong> graça,<br />

tanto no mesmo <strong>de</strong>posito como em casa do comprador.<br />

Ven<strong>de</strong>m-se a prazo ou prompto pagamento com gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>scanto.<br />

Concerta-se qualquer machina mesmo que não seja Singer com a maxima<br />

promptidão.<br />

ESTAÇÃO DE INVERNO<br />

Acaba <strong>de</strong> chegar um gran<strong>de</strong> sortido em casimiras próprias para inverno.<br />

Fatos feitos completos com bons forros a 6$500, 7$000, 8$000 réis e mais<br />

preços, capas e batinas preços sem competencia, varinos <strong>de</strong> boa calrapianha<br />

com forro e sem elle <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 5(5(000 réis para cima, garante-se qualquer obra<br />

feita n'esta alfaiateria, dão-se amostras a quem as pedir.<br />

Tem esta casa dois bons contramestres, <strong>de</strong>ixando-se ao freguez a preferencia<br />

<strong>de</strong> optar.<br />

Sempre bonito sortido <strong>de</strong> chitas, chailes, lenços <strong>de</strong> seda, ditos <strong>de</strong> Escócia,<br />

camisaria e gravatas muito baratas.<br />

Ven<strong>de</strong>-se oleo, agulhas troçai e sabão <strong>de</strong> seda, e toda a qualquer peça<br />

solta para machinas.<br />

Alu^am-se e ven<strong>de</strong>m-se Bi-eyeletas.<br />

Venda <strong>de</strong> casas ao Calhabé<br />

Ven<strong>de</strong>iii-«e duas moradas <strong>de</strong> casas<br />

juntas, sitas ao Calhabé, freguezia da Sé<br />

Nova.<br />

Trata-se no estabelecimento <strong>de</strong> José<br />

Possidonio dos Reis, na Estrada da Beira.<br />

No mesmo estabelecimento se encontram<br />

á venda todas as ferramentas para<br />

construcções <strong>de</strong> estradas e agricultura.<br />

Também se encontra um bom sortido<br />

<strong>de</strong> charruas <strong>de</strong> diversos números e fogões<br />

<strong>de</strong> vários tamanhos.<br />

Encarrega-se <strong>de</strong> toda a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

obra, pertencente a serralheria.<br />

josé Fossiooirio m m:<br />

ESTRADA DA BEIRA<br />

COIMBRA<br />

PADARIA LUSITANA<br />

(SYSTEMA FRANCEZ)<br />

DE<br />

DOMINGOS MIRANDA<br />

w&tà® «em**,<br />

9 Pão fino, o melhor que se encontra,<br />

pelo systema francez,<br />

todos os dias, pela manhã e á noite, a<br />

25 réis cada dois pães.<br />

RUA SÁ DA BANDEIRA<br />

1 I W 8 %% WSIj<br />

C O I M B R A<br />

Director—ALBERTO PESSOA<br />

Bacharel formado era philosophia<br />

Este novo collegio d'ensino primário<br />

e secundário, on<strong>de</strong> se admittem alumnos<br />

internos, semi-internos e externos, abrirse-ha<br />

no dia 14 d'outubro proximo.<br />

A relação do pessoal docente, o regulamento<br />

da Escola, e quaesquer informações<br />

po<strong>de</strong>m ser pedidas ao director.<br />

(Antigo Paço do Con<strong>de</strong>)<br />

KTeste bem conhecido hotel, um<br />

dos mais antigos e bem conceituados<br />

<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, continúa o seu<br />

proprietário as boas tradições da casa,<br />

recebendo os seus hospe<strong>de</strong>s com as<br />

attenções <strong>de</strong>vidas e proporcionando-lhes<br />

todas as commodida<strong>de</strong>s possíveis, a fim<br />

<strong>de</strong> correspon<strong>de</strong>r sempre ao favor que<br />

o publico lhe tem dispensado.<br />

Fornecem-se para fóra e por preços<br />

commodos jantares e outras quaesquer<br />

refeições.<br />

ARMAZÉM DE MERCEARIA<br />

DIO<br />

MARQUES MANSO, SOBRINHO<br />

RUA DO CEGO — COIMBRA<br />

Esta casa, montada com o maior acceio, convida os seus ex. mos freguezes a<br />

visitarem o seu estabelecimento, on<strong>de</strong> encontrarão á venda :<br />

Assucares finíssimos, refinados com o maior esmero, chás, cafés <strong>de</strong> S. Thomé<br />

e Cabo Ver<strong>de</strong>, chocolates hespanhol, francez e suisso, completo sortido em bolachas<br />

nacionaes e inglezas, e muitos outros artigos que ven<strong>de</strong> a preços resumidíssimos.<br />

Único <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> Yinhos da Real Companhia Vinícola<br />

Vinhos a torno a ISO e ««O réis o litro.<br />

Manteiga «ie Pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Coura e JVaudufe.<br />

E ven<strong>de</strong> a ta® réis o kdo, massas alimentícias <strong>de</strong> todas as qualida<strong>de</strong>s, que<br />

as outras casas ven<strong>de</strong>m a ISO réis.<br />

JOSÉ FIGUEIREDO & C. A<br />

2 5 M O K T T ^ A R K O I O — 3 3<br />

[MC<br />

N'este <strong>de</strong>posito encontra-se um variado e escolhido sorlimenlo <strong>de</strong><br />

drogas, productos chimicos e pliarmaceuticos, ele., etc.<br />

Bteposfto exclusivo cm Coianbi-a das perfumarias hygienicas<br />

e antisep<strong>de</strong>as «le Bordéus.<br />

Egualmenle se ven<strong>de</strong>m tinias e vernizes das principaes fabricas.<br />

Garante-se a boa qualida<strong>de</strong> dos artigos vendidos n'esle <strong>de</strong>posito, assim<br />

como modicida<strong>de</strong> em preços.<br />

Publica-se ás quintas feiras e domingos<br />

JDO<br />

—?r~i<br />

P O V O<br />

D b f e i t s o r JORNAL REPUBLICANO<br />

EDITOR — Adolplio da Costa Marques<br />

Redacção e administração—Largo da Freiria, 14, proximo á rua dos Sapateiros<br />

Anno . .<br />

Semestre .<br />

Trimestre.<br />

Com estampilha<br />

CONDIÇÕES DE ASSIGNATURA<br />

(PAGA ADIANTADA)<br />

2$700<br />

1)1350<br />

680<br />

Anno . .<br />

Semestre .<br />

Trimestre.<br />

Sem estampilha<br />

2$400<br />

10200<br />

600<br />

ANNUNCIOS:— Cada linha, 40 réis; repetição, 20 réis; contracto<br />

especial para annuncios permanentes.<br />

LI¥ROS: — Annunciam-se gratuitamente quando se receba um<br />

exemplar.<br />

Impressa na lypographia Operaria — <strong>Coimbra</strong>


_<br />

A N N O 1.° IV. 0 4 8<br />

Defensor<br />

OS ÚLTIMOS RECURSOS<br />

A VIAGEM DO REI<br />

ii<br />

Anda o rei <strong>de</strong> Portugal em viagem <strong>de</strong><br />

recreio pelo extrangeiro; e a avaliar pela<br />

numerosa e brilhante comitiva, ricas e luzidas<br />

equipagens, em viagem <strong>de</strong> recreio e<br />

ostentação.<br />

Não viaja em mo<strong>de</strong>sto incognito o duque<br />

<strong>de</strong> Bragança. E' o proprio rei <strong>de</strong> Portugal,<br />

em toda a sua magesta<strong>de</strong>, que visita<br />

os principaes Estados da Europa, como se<br />

fôra o monarcha po<strong>de</strong>roso <strong>de</strong> uma nação<br />

opulenta e florescente.<br />

São-lhe por toda a parte feitas magnificas<br />

recepções ofíiciaes, com todas as formalida<strong>de</strong>s<br />

e apparatosas etiquetas da mais<br />

requintada pragmatica palaciana, segundo<br />

o eslylo usado nas differenles côrtes.<br />

Em sua honra celebram as cida<strong>de</strong>s, por<br />

on<strong>de</strong> passa, ruidosas festas <strong>de</strong> homenagem,<br />

<strong>de</strong>vida á sua alta posição e calhegoria social,<br />

como <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> sympathia e<br />

respeito pelo Povo Portuguez, do qual elle.<br />

o rei, se appellida soberano chefe, protector<br />

<strong>de</strong>svelado.<br />

E todavia esse Povo vive <strong>de</strong>scontente,<br />

vive amargurado; lamenta o seu angustioso<br />

presente, e treme sobresallado pelo futuro<br />

duvidoso e triste que se lhe antolha.<br />

E todavia esse Povo parece não amar<br />

os seus governantes, não estimar os seus<br />

dirigentes, aborrecer as instituições, olhar<br />

a politica e o mundo ofíicial com a indifferença<br />

do <strong>de</strong>sprezo, com a <strong>de</strong>scrença dos <strong>de</strong>senganos.<br />

E todavia a Nação Portugueza atravessa<br />

a mais cruel e angustiosa das crises; <strong>de</strong>bate-se<br />

em uma situação politica, economica<br />

e moral mesquinha, dolorosa, allerradora.<br />

Cobre a face envergonhada do espectáculo<br />

triste e ignominioso, que as suas<br />

penosas condições <strong>de</strong> existencia actual offerecem<br />

aos olhos <strong>de</strong> todo o mundo civilisado,<br />

em que ella, a pobre Nação Portugueza, é<br />

urna singular e <strong>de</strong>plorável excepção.<br />

E todavia a Nação Portugueza escon<strong>de</strong><br />

a face envergonada das humilhações e dos<br />

vexames, por que tem passado, dos insultos<br />

que tem cuspido a sua outr'ora gloriosa<br />

e immaculada ban<strong>de</strong>ira, principalmente no<br />

Ultramar.<br />

Sem recursos que lhe possam garantir<br />

melhor futuro, sem esperenças <strong>de</strong> salvação,<br />

retrogradando em vez <strong>de</strong> progredir, tudo<br />

supporta resignada, sem ler ao menos a liberda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> se queixar, forças para reagir<br />

conlra a adversida<strong>de</strong>, para sustar a sua <strong>de</strong>cadência,<br />

evitar a sua total ruina.<br />

Mas o rei viaja com ostentação; mas o<br />

rei anda pelas côrtes exlrangeiras banqueteando-se<br />

lautamente, recebendo homenagens<br />

e <strong>de</strong>monstrações <strong>de</strong> regosijo e applauso.<br />

E ainda bem que assim succe<strong>de</strong>, para<br />

el-rei que tanto gosa, para o seu povo que<br />

tem a gloria <strong>de</strong> vêr o seu chefe tão magnificamente<br />

festejado e ruidosamente applaudido.<br />

•<br />

Propalaram, porém, os maldizentes, affirmaram<br />

lodos ou quasi todos os jornaes da<br />

opposição ao actual governo, repetiram e<br />

insinuaram alguns periodicos <strong>de</strong> Hespanha<br />

— que o rei <strong>de</strong> Portugal fôra ao extrangeiro<br />

mendigar o barbaro e repugnantíssimo<br />

expediente <strong>de</strong> uma intervenção politica;—<br />

que o mesmo rei fôra pedir aos<br />

parentes, amigos e visinhos, o que não tem,<br />

o que não podia haver em sua casa.<br />

Baldado seria o esforço, ignóbil, sordido<br />

e, para mais, inútil semelhante recurso,<br />

que a razão con<strong>de</strong>mna, o direito repelle, a<br />

justiça <strong>de</strong>spreza, e a humanida<strong>de</strong> amaldiçoaria.<br />

Nós porém não acreditamos em tal:<br />

não suppomos el-rei capaz <strong>de</strong> Ião feia acção.<br />

Não cremos, e cathegoricamente negamos<br />

que tão grave e pon<strong>de</strong>rosa commissão<br />

diplomatica seja, ou possa ou <strong>de</strong>va ser <strong>de</strong>sempenhada<br />

por el-rei, o qual sagrado e inviolável<br />

pela Carta, é, <strong>de</strong>ve ser lambem<br />

sancto na sua consciência, puro, puríssimo<br />

nas suas intenções, generoso e gran<strong>de</strong> em<br />

seus nobilíssimos feitos, em todos os aclos<br />

da sua vida, publica e particular.<br />

El-rei viaja no extrangeiro simplesmente<br />

para espairecer, para se divertir— *Le roi<br />

samuse.»<br />

El-rei viaja n'esla doce e aprazível quadra<br />

do outomno, como qualquer fidalgo<br />

abastado ou rico burguez, enfastiado do<br />

seu affanoso labutar quotidiano, aborrecido<br />

<strong>de</strong> ver sempre os mesmos silios, as mesmas<br />

caras e <strong>de</strong> tratar das mesmas cousas.<br />

El-rei- foi viajar para, <strong>de</strong> algum modo,<br />

suavisar as fundas magoas que dilaceram o<br />

coração seu <strong>de</strong> magnanimo principp, que assim<br />

vê a Patria querida a braços com a miséria,<br />

com o <strong>de</strong>scredito, com a vergonha,<br />

em Ião arriscado lance <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r o brilho<br />

<strong>de</strong> suas glorias já embaciado, e a gran<strong>de</strong>za<br />

histórica do seu renome <strong>de</strong>véras compro<br />

mellido durante o actual reinado.<br />

El-rei viaja para se alliviar, por alguns<br />

dias, do pesado encargo da governação pu-<br />

blica; para se <strong>de</strong>sanojar do tédio que lhe<br />

<strong>de</strong>vem ler provocado a politica tortuosa, a<br />

ruinosa administração, o labyrinlho financeiro<br />

incomprehensivel e a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m moral.<br />

em que os seus ministros e em nome<br />

d'elle, lançaram a Nação <strong>de</strong>quee//eé o digno<br />

chefe, o supremo e soberano magistrado.<br />

El-rei aborrecido da politica nacional,<br />

não foi ao extrangeiro tratar <strong>de</strong> politica;<br />

muito menos conspirar conlra as liberda<strong>de</strong>s<br />

do seu povo, que elle, sobre tudo e todos,<br />

ama e preza.<br />

El-rei foi repousar o espirito, já fatigado<br />

<strong>de</strong> tantas impressões dolorosas. Foi<br />

vêr se lá fora po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>sanuviar a alma<br />

cheia <strong>de</strong> tristezas, amargurada ante o quadro<br />

<strong>de</strong>véras sombrio e aíílictivo das misérias<br />

e <strong>de</strong>sgraças da Patria querida, <strong>de</strong> cuja<br />

liberda<strong>de</strong> elle, o rei, é o mais seguro penhor,<br />

e ella, a monarchia o baluarte inexpugnável.<br />

Não foi pedir soccorro foi procurar allivios;<br />

não foi buscar auxílios, foi em <strong>de</strong>-<br />

manda <strong>de</strong> consolações; não foi conspirar,<br />

foi diverlir-se.<br />

E <strong>de</strong>pois é natural, naturalíssimo que<br />

o rei siga o exemplo do seu Povo; faça o<br />

mesmo que elle pratica, mais e melhor, em<br />

tudo e por tudo, do que elle; finalmente<br />

adopte a mesma norma <strong>de</strong> vida.<br />

E' agora que a população das cida<strong>de</strong>s,<br />

em gran<strong>de</strong> massa e <strong>de</strong> todas as classes,<br />

abastadas, ricos, remediados e pobres, recolhem<br />

dos campos, das praias, das estancias<br />

d'agoas, este anno como nunca repletas a<br />

<strong>de</strong>itar fóra, frequentadas por milhares e<br />

milhares <strong>de</strong> famílias, é natural, é naturalíssimo,<br />

que el-rei faça o mesmo que o seu Povo.<br />

E* justo que el-rei, que, durante quasi<br />

lodo esse verão ar<strong>de</strong>nte, e sob a influencia<br />

incommoda d'um calor tropical aspliyxianle<br />

e no meio d'um estúpido aborrecimento <strong>de</strong><br />

morrer, se conservou em Lisboa, firme no<br />

seu posto, estudando, meditando sobre os<br />

<strong>de</strong>stinos da Patria, sem levantar mão do<br />

leme governativo, dirigiuio elle proprio os<br />

negocios públicos, é justo que el-rei faça<br />

lambem a sua passeiata, a sua digressão,<br />

tenha as suas ferias, como premio do seu<br />

bom serviço, e para consolo do seu insano<br />

labutar <strong>de</strong> tantos mezes.<br />

do Povo<br />

COIMBRA —Domingo, 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895<br />

Os reis <strong>de</strong>vem pensar como o seu Povo,<br />

fazer o que o seu Povo faz, dizer o que<br />

o seu povo diz:<br />

«Tristezas não pagam dividas.»<br />

«Quem vier que feche a porta.»<br />

E por fim <strong>de</strong> contas.. .<br />

«Maria vae com as outras.»<br />

Uma violência do governo<br />

O distincto ofíicial da armada e antigo<br />

lente da Escola Naval, sr. José Nunes da<br />

Matta, foi reprehendido, em or<strong>de</strong>m da armada,<br />

pelo sr. ministro da marinha.<br />

O facto que <strong>de</strong>u motivo a mais esta vingança<br />

do sr, Ferreira d'Almeida, foi uma<br />

energica carta, publicada no Século e <strong>de</strong>pois<br />

transcripta em muitos outros jornaes, em que<br />

se fazia uma critica justíssima ás rancorosas<br />

medidas do sr. ministro da marinha, que<br />

mais uma vez mostrou o seu temperamento<br />

vingativo.<br />

Uma reprehensão, dadá por um tal ministro<br />

e por tal motivo em vez <strong>de</strong> <strong>de</strong>shonrar<br />

o iilustre ofíicial, honra-o muitissimo.<br />

índia<br />

Para acalmar a enorme excitação que lavra<br />

na índia portugueza, vae em breves dias<br />

partir para aquelias longínquas paragens uma<br />

numerosa expedição militar, commandada pelo<br />

distincto major Francisco Augusto Martins <strong>de</strong><br />

Carvalho. Que nenhuns benefícios trará, a não<br />

ser a <strong>de</strong>speza inútil <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s sommas <strong>de</strong><br />

dinheiro e o sacrifício <strong>de</strong> muitas vidas preciosas,<br />

estamos nós certos.<br />

Vamos pagando a péssima administração,<br />

que os nossos governantes tem seguido e os<br />

successivos erros, que os nossos <strong>de</strong>spoticos<br />

governadores d'além-mar têm praticado, nas<br />

nossas quasi <strong>de</strong>simadas colonias.<br />

•••«<br />

Cuba<br />

A Hespanha continua fazendo os mais<br />

inauditos esforços para vencer a florescente<br />

ilha <strong>de</strong> Cuba, que no seu incontestável direito<br />

pugna, com as armas na mão, pela sua<br />

autonomia e completa in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia.<br />

A causa dos insurrectos é extremamente<br />

sympatica.<br />

Governados durante séculos pela Hespanha,<br />

nunca os seus habitantes gozaram a liberda<strong>de</strong><br />

e as regalias, a que tem jus um povo<br />

livre e <strong>de</strong> sentimentos <strong>de</strong>mocráticos.<br />

Não attingidos ainda pelo indifferentismo<br />

cobar<strong>de</strong>, que minou a antiga e tradiccional<br />

energia portugueza, luctam pela patria, pela<br />

Republica em fim !<br />

Nós continuaremos á mercê dos caprichos<br />

do rei e dos ministros e a caminhar para<br />

a mais vergonhosa ruina.<br />

Quer queiram, quer não queiram, os hespanhoes,<br />

mais tar<strong>de</strong> ou mais cedo e cremos<br />

que ha <strong>de</strong> ser muito breve, Cuba ha <strong>de</strong> seguir<br />

a evolução histórica e social, que <strong>de</strong>u a<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia e com ella a civilisação aos<br />

Estados Unidos da America do Norte e ao<br />

Brazil.<br />

Esta é a verda<strong>de</strong> indistructivel.<br />

A QUESTÃO RELIGIOSA<br />

CARTA DO SR. BISPO COIE A SUA M1GESTADE EL-REI<br />

Feitas algumas consi<strong>de</strong>rações prévias,<br />

vamos agora entrar, a fundo,' no exame e<br />

contestação, solemne e cathegorica, <strong>de</strong> cada<br />

um dos cerebrinos articulados do famoso,<br />

mas inepto, libello accusa.torio, que o venerando<br />

prelado veio, em publico e raso, offerecer<br />

perante o throno <strong>de</strong> sua illustrada e<br />

patriótica magesta<strong>de</strong>, contra os liberaes, e<br />

das formulas e provi<strong>de</strong>ncias, <strong>de</strong> prevenção, repressão<br />

e penalida<strong>de</strong> caustica, com as quaes<br />

o mesmo reverendíssimo senhor pe<strong>de</strong> que<br />

sejam castigados os, suppostos, inimigos da<br />

religião e do solio augusto <strong>de</strong> sua illustrada<br />

e patriótica magesta<strong>de</strong>.<br />

Viram já os leitores, pela transcripção<br />

d'esta meritória peça <strong>de</strong> sciencia, bom senso<br />

e litteratura amena, com que folego e ancia<br />

abocca sua ex. a , e faz soar, em sons atroadores<br />

que põem medo, como aquella trom-<br />

beta <strong>de</strong> Jericó, <strong>de</strong> que reza a Bíblia, ou aquelle<br />

medonho clarim <strong>de</strong> guerra, <strong>de</strong> que nos falia<br />

Camões, a buzina reaccionaria, poron<strong>de</strong> afina<br />

a vo\ do episcopado, e que já se fez ouvir<br />

também na epistola, ao mesmo tempo lamentosa<br />

e feroz, com a qual houve por bem,<br />

em sua alta sabedoria e exemplar carida<strong>de</strong>,<br />

mimosear-nos o sr. arcebispo <strong>de</strong> Évora, que,<br />

logo após o bispo <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, se dignou<br />

brindar-nos e divertir-nos com a mesma<br />

lenga-lenga, composta no mesmo baixo cantochão,<br />

mas com picados e agudos para variar.<br />

..<br />

Ora pois.<br />

Começa sua ex. a n'estes termos:<br />

•<br />

«1.° Restituir Deus e o ensino da doutrina<br />

ehristã ás escolas <strong>de</strong> instrucçao primaria principalmente.»<br />

Qual é a escola <strong>de</strong> instrucçao primaria,<br />

ex. mo senhor, qual é a escola em todo o continente,<br />

ilhas e ultramar d'estes venturosos<br />

reinos e domínios <strong>de</strong> sua illustrada e patriótica<br />

magesta<strong>de</strong>, da qual escola Deus tenha<br />

sido apartado, proscripto, <strong>de</strong>sthronado, para<br />

haver <strong>de</strong> ser alli restituído?<br />

Um exemplo, um único exemplo, uma só<br />

<strong>de</strong>nuncia nos basta, um caso único <strong>de</strong> tão<br />

horrendo e sacriiego attentado.<br />

Ao menos na sua diocese, que sua ex. a<br />

reverendíssima <strong>de</strong>ve conhecer perfeitamente,<br />

no rebanho e no redil.<br />

Por nossa parte, francamente o confessámos,<br />

e cathegoiicamente o <strong>de</strong>claramos: Não<br />

ha uma única escola primaria, secundaria e<br />

ainda superior, da qual tenham sido banidos<br />

e <strong>de</strong>sterrados Deus e o ensino da doutrina<br />

ehristã.<br />

Pelo contrario; nós sabemos, todo o<br />

mundo sabe, e por isso sua ex. a também e<br />

o seu clero, que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as escolas elementares<br />

até á <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os lyceus até<br />

á aca<strong>de</strong>mia real das sciencias, Deus e a<br />

doutrina ehristã occupam o primeiro logar,<br />

teern o logar <strong>de</strong> honra, subordinam todo o<br />

nosso ensino publico e particular, toda a<br />

nossa educação intellectual e moral, mais<br />

theologica do que metaphysica, muito mais<br />

theologica e metaphysica do que positiva.<br />

Sua ex. a sabe-o muito bem, tão bem como<br />

nós; se diz o contrario, é porque assim o<br />

quer, e assim lhe convém.<br />

E' pois falso o asserto, inútil o remedio.<br />

Não ha mister <strong>de</strong> restituir Deus e o ensino<br />

da doutrina ehristã ás escolas,' principalmente<br />

primarias.<br />

Lá os teem todas\ sempre-os tiveram todas;<br />

nunca <strong>de</strong>ixaram todas <strong>de</strong> os lá ter, e...<br />

em alta dóse.<br />

Se isto é bom ou mau, não queremos<br />

agora saber nem discutir com sua ex. a reverendíssima.<br />

E': é um facto, um facto real e positivo.<br />

E' pois mentirosa a asserção; <strong>de</strong>snecessário,<br />

inútil o remedio.<br />

•<br />

Não ha em Portugal, não ha, reverendíssimo<br />

Senhor Bispo Con<strong>de</strong>, não ha uma só escola<br />

n'este afortunado reino e seus domínios,<br />

na qual Deus não tenha o seu augusto solio, a<br />

qual Deus não presida, e sobre ellas não espalhe<br />

os divinos effluvios da sua graça infinita.<br />

Em todas, absolutamente em todas as escolas<br />

<strong>de</strong> instrucção primaria, elementares,<br />

complementares e normaes, se ensina, com<br />

sincero fervor religioso, a doutrina ehristã.<br />

Po<strong>de</strong>rá, sua ex. a , verificar esta incontestável<br />

verda<strong>de</strong> examinando toda a nossa legislação,<br />

organica e regulamentar sobre instrucção<br />

primaria, os programmas e compêndios,<br />

oflicialmente e extra-ofiicialmente, adoptados,<br />

assistindo aos exames e concursos <strong>de</strong><br />

admissão ao magistério; e, se quizer dar-se<br />

ao trabalho <strong>de</strong> visitar todas as escolas ao<br />

menos as da sua vasta diocese, achará Deus<br />

e a doutrina ehristã, em alta dóse, na pratica<br />

ordinaria do ensino quotidiano, em exercícios<br />

escolares semanaes e extraordinários sobre o<br />

mesmo assumpto, precedidos <strong>de</strong> orações a<br />

Deus e invocação do Divino Espirito.'<br />

Já vê, por tanto, sua ex. a reverendíssima,<br />

que se enganou, que o enganaram os seus<br />

informadores ofíiciaes e oficiosos.<br />

Iiludido na sua boa fé, levado talvez das<br />

suas melhores intenções, sua ex. a <strong>de</strong>ixou-se<br />

arrastar na onda, e veio sem o saber, sem<br />

o pensar, sem reflectir enganar os outros,<br />

sobresaltar as consciências piedosas, alarmar<br />

o publico religioso com a sua impertinente<br />

epistola ad Regem pro <strong>de</strong>o%


DEFENSOR DO PQVO — 1<br />

DE VOLTA<br />

Vão apparecendo as andorinhas...<br />

Depois d'um algido e triste inverno, após<br />

uma epocha triste, fria, inactiva, morta, sem<br />

vida que a movimente, nem factos que a enthusiasmem,<br />

todos os olhares se dirigem finalmente<br />

para um ponto d'on<strong>de</strong> vêm a esperança<br />

e a alegria, d'on<strong>de</strong> vêm os sorrisos da<br />

primavera e as primícias <strong>de</strong> um fecundo<br />

outomno. ..<br />

E' d^lli, dos lados da «Estação» d'on<strong>de</strong><br />

vem surgindo diariamente essa reboada d'almas,<br />

feitas <strong>de</strong> luz e sonho, que hão <strong>de</strong> povoar<br />

durante nove ou <strong>de</strong>z mezes esta formosa<br />

<strong>Coimbra</strong>. Como ao acabar do inverno,<br />

ao pôr d'esse sol baço <strong>de</strong> tres mezes, todas<br />

as vistas se erguem para o céu a ver as<br />

nuncias do bem, as mensageiras das rosas e<br />

dos perfumes, da fecundação e dos fructos,<br />

também em <strong>Coimbra</strong>, após uma epocha<br />

quasi <strong>de</strong> lucto, em que muitas portas estão<br />

fechadas e muitas ruas estão <strong>de</strong>sertas, em<br />

que muitas almas estão sem o seu par, e<br />

muitos corações opprimidos pela sauda<strong>de</strong>,<br />

todos os olhos, assim negros, aveludados e<br />

meigos como são, se dirigem para o norte e<br />

para o sul, prescrutando os primeiros núncios<br />

da bôa-nova.<br />

E elles já vão apparecendo por ahi: as<br />

pontas das suas capas são negras como as<br />

azas da andorinha, mas também a sua alma<br />

é pura como o collo da «ave da primavera»,<br />

De terras longiqnas on<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixaram os seus<br />

ninhos e talvez os seus amores, cá vem elles<br />

apezar d'isso, ó formosas <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, requestar-vos<br />

com os seus olhares e encantar-vos<br />

com as suas graças. Quantos d'elles apezar<br />

do carinho <strong>de</strong> suas familias e da sympathia<br />

dos seus conterrâneos, <strong>de</strong>sejariam já <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

ha muito estar ao abrigo dos vossos olhares<br />

e sob o meigo e fascinante encanto da vossa<br />

formusura...<br />

Que o diga eu gentil pérola do Mon<strong>de</strong>go,<br />

mais elegante do que os lyrios e mais mo<strong>de</strong>sta<br />

do que as violetas, mais alegre do que<br />

os cravos e mais perfumada do que as magnólias,<br />

que o diga eu, minha formosíssima<br />

Judiai...<br />

Quantas vezes, a essa hora melancholica<br />

da tar<strong>de</strong> em que as aves se escon<strong>de</strong>m e as<br />

estrellas apparecem, em que as almas simples<br />

rezam á Virgem Maria e os arvoredos se<br />

pacificam mais, saindo <strong>de</strong> todas as coisas um<br />

ar <strong>de</strong> mansidão e um bafejo <strong>de</strong> carinho,<br />

quantas vezes eu me lembrei <strong>de</strong> ti, vestida<br />

côr <strong>de</strong> rosa, encostada ao peitoril da tua<br />

janella, com os anneis do teu cabello em <strong>de</strong>salinho<br />

a emoldurarem ricamente o rosto<br />

mais fino e doce que os meus olhos têm<br />

contemplado ! Quantas vezes, quantas vezes!...<br />

E por mim julgo eu os outros, porque<br />

n'esta eda<strong>de</strong> e n^ste viver da juventu<strong>de</strong> em<br />

que as mãos se apertam francamente, sem<br />

odios nem rancores, sem invejas, nem pensamentos<br />

reservados, as almas são todas<br />

irmãs, ha em todas a mesma sincerida<strong>de</strong> e o<br />

mesmo frescor.<br />

Por isso tenho eu razão dizendo que muitas<br />

almas estão sem o seu par e muitos corações<br />

opprimidos pela sauda<strong>de</strong>, dizendo e<br />

affirmando que muitos d'esses lábios frescos<br />

que por ahi ha sorriem <strong>de</strong> intima alegria com<br />

o apparecimento das primeiras andorinhas.<br />

Bem sabem as donas d'estes lábios que o<br />

«amor d'um estudante também dura mais do<br />

que uma hora» porque é muitas vezes eterno.<br />

O melhor das melhores almas que tem existido<br />

em Portugal aqui vol-o têm <strong>de</strong>ixado,<br />

minhas encantadoras ingratas.<br />

Não digaes pois que só dura uma hora.<br />

Dizei que<br />

0 amor d'um estudante<br />

E' da côr das estrellas<br />

Brilha como um diamante<br />

Que cega todas as bellas.<br />

<strong>Coimbra</strong>, 1895. A. G.<br />

CARTA DE LISBOA<br />

io <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> i8g5<br />

Le roi s'amusel...<br />

E o mais curioso é que o Século diz que<br />

«o presi<strong>de</strong>nte Faure está encantado com<br />

elle» e que todas as pessoas, com quem o<br />

sr. D. Carlos tratou, o acharam sympathico<br />

e distincto».<br />

E diz isto o Século III...<br />

Ainda mais: — Elie, o rei, atravessou os<br />

salões pelo braço <strong>de</strong> madame Faure...<br />

Que importante noticia!...<br />

•<br />

Falleceu o argentario Manuel Antonio <strong>de</strong><br />

Seixas, <strong>de</strong>ixando uma fortuna <strong>de</strong> 10:000<br />

contos.<br />

.° ANNO<br />

Na caixa forte tinha 4:000 contos em I<br />

libras sterlinas.<br />

Diz o Século, que elle tinha rasgos extraordinários.<br />

Bem se vê, pelo activo da fortuna!...<br />

Em compensação centenares <strong>de</strong> familias<br />

vêem-se em serias difficulda<strong>de</strong>s, e muitos indivíduos<br />

morrem por ahi á mingua em mansardas<br />

infectas...<br />

Quem tem rasgos extraordinários e um<br />

coração bem formado nunca po<strong>de</strong>rá accumular<br />

uma fortuna <strong>de</strong> 10:000 contos <strong>de</strong> réis...<br />

Quantas lagrimas- enxugariam tão avultados<br />

capitaes!...<br />

O partido socialista em Lisboa tem tomado<br />

um incremento notável.<br />

São importantíssimos os trabalhos para<br />

o proximo plebiscito eleitoral.<br />

O alcance d'este acto é acisadissimo, assim<br />

o elemento operário lhe corresponda.<br />

Somos refractários ao elogio; mas os dirigentes<br />

do partido com o nosso amigo Gneco<br />

á frente, têm nestes últimos tempos produzido<br />

factos, que revelam gran<strong>de</strong> orientação e<br />

gran<strong>de</strong> tino.<br />

Se, a par d'estas medidas, elles fossem<br />

doutrinando as massas com perseverança e<br />

acerto, caminhariam na vanguarda dos partidos,<br />

que actualmente militam e os socialistas<br />

ganhariam um gran<strong>de</strong> predomínio e importância.<br />

No dia 10 <strong>de</strong> novembro é o concurso da<br />

associação dos Atiradores Civis.<br />

Já um gran<strong>de</strong> grupo se anda instruindo<br />

na carreira <strong>de</strong> tiro da guarnição <strong>de</strong> Lisboa,<br />

on<strong>de</strong> se têm manifestado hábeis atiradores,<br />

entre elles os nossos amigos Ivens Ferraz,<br />

Rodrigues, Pa<strong>de</strong>sca, Agostinho <strong>de</strong> Sousa e<br />

Pery <strong>de</strong> Lin<strong>de</strong>.<br />

Promette ser uma festa <strong>de</strong>slumbrante.<br />

Dispensávamos a presença da magesta<strong>de</strong><br />

a esse acto puramente civil.<br />

Na associação ha tres grupos muito habilitados—<br />

Esgrimistas <strong>de</strong> sabre e florete — Esgrimistas<br />

<strong>de</strong> bayoneta e um pelotão <strong>de</strong> atiradores<br />

civis organisados militarmente.<br />

Tudo instruído <strong>de</strong>baixo da direcção dos<br />

srs. alferes José Pires e 2. 0 sargento Oliveira,<br />

dois incansaveis e <strong>de</strong>dicadíssimos professores<br />

<strong>de</strong> armas e gymnastica militar.<br />

• • •<br />

ARMANDO VIVALDO.<br />

Correspondência balnear<br />

Espinho, 12 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> i8g5.<br />

Está quasi a tocar o seu termo a epocha<br />

balnear; começou a <strong>de</strong>bandada geral para as<br />

cida<strong>de</strong>s.<br />

Durante principalmente os dois mezes,<br />

agosto e setembro, quem tivesse paciência<br />

para ler as nossas <strong>de</strong>spretenciosas chronicas,<br />

certificar-se-hia <strong>de</strong> que em Espinho, uma das<br />

praias mais concorridas e animadas do nosso<br />

vasto e formoso litoral, houve um sem numero<br />

<strong>de</strong> divertimentos, mais que sufficientes<br />

para os numerosíssimos banhistas passarem<br />

alegremente o tempo, esquecendo o bulício<br />

atroador das cida<strong>de</strong>s, as canceiras do trabalho<br />

e a monotonia da vida ordinaria.<br />

O homem, porém, é essencialmente aficionado<br />

á vida urbana.<br />

Ainda quando alguma mulher bonita e<br />

elegante o subjugue, não sente prazer em se<br />

<strong>de</strong>morar na praia; o campo enfastia-o; a cida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>slumbra-o; é mais palaciano do que<br />

bucolico.<br />

Logo que o mez d'outubro se approxima,<br />

annunciando o tristonho inverno, e as arvores<br />

começam a <strong>de</strong>spir a amarellecida folhagem,<br />

sente a necessida<strong>de</strong> indomável <strong>de</strong> voltar<br />

aos gran<strong>de</strong>s centros.<br />

Ao ver passar o comboio, olha-o com inveja,<br />

soffre infinitas sauda<strong>de</strong>s; o seu maior<br />

<strong>de</strong>sejo seria tomar logar n'elle e correr, correr,<br />

voar!<br />

E' esta a razão porque os comboios são<br />

esperados com tanta ancieda<strong>de</strong>, olhados com<br />

tanto interesse, á sua passagem, pela multidão<br />

que se acotovela nas gares.<br />

Muitas vezes é por vaida<strong>de</strong>. As senhoras<br />

<strong>de</strong>sejam ostentar as suas mais garridas<br />

toilettes, serem admiradas pelos rapazes, e<br />

por isso aproveitam aquelle protexto para saírem<br />

e se pavonearem pelas ruas.<br />

Outras vezes, então, é para combater a<br />

nostalgia que lhes vae na alma, apagar sauda<strong>de</strong>s<br />

que se calam e escon<strong>de</strong>m no mais recondito<br />

do coração...<br />

•<br />

Dois mezes se passaram no maior enthusiasmo.<br />

O mez d^gosto foi aquelle, em que as<br />

gentillissimas hespanholas nos <strong>de</strong>slumbraram<br />

com o brilho dos seus olhos formosíssimos,<br />

com a gentileza da sua figura donairosa; o<br />

mez <strong>de</strong> setembro aquelle em que ellas partiram<br />

para o seu paiz, levando presos aos seus<br />

O po<strong>de</strong>r fascinador das ninas era tal,<br />

que não raro era verem-se scenas <strong>de</strong> ciúmes:<br />

os jornaes chegaram até a fallarem <strong>de</strong><br />

um casal <strong>de</strong> pombinhos, já bastante durasios,<br />

a quem a pérola branca, a hespanhola maia<br />

seductora que vimos em Espinho, lançou na<br />

maior <strong>de</strong>sarmonia e <strong>de</strong>sasocego...<br />

O marido tinha sessenta annos e ella, a<br />

ciumenta, o seu meio século bem puchados.<br />

Já viram coisa mais poética e ao mesmo<br />

tempo mais cómica ?<br />

O ciúme aos sessenta annos!<br />

Disseram-me que elle passou um verda<strong>de</strong>iro<br />

tormento por causa d'ella; felizmente<br />

no principio <strong>de</strong> setembro a terrível rival da<br />

tyranica Julieta partiu para a sua patria, acabando<br />

para felicida<strong>de</strong> do apaixonado Romeu<br />

os ralhos e... etc.<br />

D'ahi o improviso d'um critico <strong>de</strong> má<br />

morte:<br />

Os olhos da senorita<br />

Eram sinistros fataes;<br />

Só <strong>de</strong> vel-a, estremeciam<br />

Baluartes conjugaes I<br />

Porém como é fogaz o seu amor. Como<br />

ellas passados dias partem fatalmente para<br />

o seu paiz, e não mais voltam n'aquelle anno!<br />

O amor mesmo que <strong>de</strong>sponte não offerece<br />

perigo; é um amor resignado, attenuado.<br />

O fogo <strong>de</strong> um tal amor nunca ultrapassa<br />

as raias do romantismo; vae-se extinguindo<br />

successivamente com as fronteiras, e <strong>de</strong> todo<br />

morre com a triste solidão da ausência.<br />

Nós ainda nos lembramos d'ella, mas se<br />

ella está tão longe!. ..<br />

•<br />

As praias são um bem para a saú<strong>de</strong> e<br />

um remedio infallivel para as meninas novas<br />

e solteiras.<br />

Os papás nunca <strong>de</strong>vem <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> as frequentar;<br />

é alli, n'aquella intima convivência,<br />

que o amor <strong>de</strong>sponta, e impelle até as re<strong>de</strong>s<br />

do hymineu.<br />

Nós, emquanto po<strong>de</strong>rmos, faremos a apologia<br />

das praias.<br />

A mocida<strong>de</strong> ha <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cer-nos intimamente,<br />

e concordará estou certo.<br />

A's praias, A's praias!<br />

Em agosto proximo lá estaremos.<br />

CARTA DO PORTO<br />

GABIRU.<br />

11 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> i8g5.<br />

Não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser engraçada a tarefa conjectural,<br />

que por ahi corre mundo na imprensa<br />

e fóra d'ella sobre os motivos da<br />

viagem <strong>de</strong> el-rei, o sr. D. Carlos primeiro <strong>de</strong><br />

Portugal, pelas côrtes da Europa.<br />

O que eu lhes posso asseverar é que elle<br />

não diz o que vae fazer; e faz muito bem,<br />

para que não lhe aconteça como áquelles que<br />

dizem tudo o que fazem, e até o que nunca<br />

tiveram tenção <strong>de</strong> fazer. Na America os americanos<br />

estavam persuadidos <strong>de</strong> que os estrangeiros,<br />

seus hospe<strong>de</strong>s, se limitavam ao<br />

seu commercio sob a protecção das leis da<br />

gran<strong>de</strong> republica; pois enganaram-se: <strong>de</strong>scubriu-se,<br />

que cá, e lá, muitos se intrometteram<br />

na guerra civil braziléira com o intuito<br />

d'uma restauração monarchica ou imperialista:<br />

aquillo é que era guardar segredo!<br />

Meus amigos: sabem o que lhes vou dizer?<br />

é que tenho momentos <strong>de</strong> me envergonhar,<br />

<strong>de</strong> que, entre os partidos, que se dizem<br />

avançados, haja tanta fraqueza, tanta necessida<strong>de</strong><br />

! Bem dizia Fontes Pereira <strong>de</strong> Mello<br />

— Deixem-os faliar e gritar d vonta<strong>de</strong>, comtanto<br />

que não façam cousa alguma.<br />

Todos gritam, ralham, commentam, censuram;<br />

mas nem um só movimento, que<br />

<strong>de</strong>monstre caracter, pondunor, energia, patriotismo,<br />

para que não os incommo<strong>de</strong>m nos<br />

seus gosos, no seu egoísmo!<br />

E dizem, qne a propaganda <strong>de</strong>mocratica,<br />

ou patriótica, está feita ?!<br />

Domingo, 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895 — N.° 48<br />

encantos alguns corações mais sensíveis, pe- O rei pô<strong>de</strong> ir para on<strong>de</strong> quizer, e assidacitos<br />

d'alma arrancados aos nossos comgnar os <strong>de</strong>cretos que lhe agradarem; pô<strong>de</strong> ir<br />

patriotas, iberistas n'este particular até ao viajar, e tratar <strong>de</strong> allianças em seu proveito;<br />

exaggero.<br />

e é bem feito. Todos esses senhores que<br />

E quem não havia <strong>de</strong> se <strong>de</strong>ixar fascinar ? — para ahi se dizem chefes <strong>de</strong> partidos militantes<br />

<strong>de</strong>vem ter uma gran<strong>de</strong> confiança nos seus<br />

Vendo aquelle pas-<strong>de</strong>-quatre<br />

Honra e gloria <strong>de</strong> Castella<br />

Até o João Pinto Ribeiro<br />

Viria dansar com ella.<br />

exercitos, para os <strong>de</strong>ixarem dormir eternamente<br />

com as armas ensarilhadas, emquanto<br />

elles andam por Lisboa, e lá por fóra, á cata<br />

da espiga. E on<strong>de</strong> está, e para on<strong>de</strong> vae a<br />

As hespanholas vem a Portugal para rou- patria?<br />

bar os olhares, os sorrisos, emfim o coração Eu se fosse rei, em face do que se está<br />

dos lusitanos.<br />

passando em Portugal, que parece um enor-<br />

As nossas gentis patrícias têm por ellas me sepulcro, ro<strong>de</strong>ado <strong>de</strong> jardins, e <strong>de</strong> praias,<br />

certa emulação; e, comtudo, não são menos também iria pela Europa visitar os meus<br />

formosas; menos graciosas talvez e menos parentes coroados, eis e ultramontanos, para<br />

<strong>de</strong>senvoltas sem duvida, são todavia<br />

<strong>de</strong>licadas e constantes no amor.<br />

Eu estou com aquelle que dizia:<br />

mais vêr bem o terreno a trilhar; e também<br />

saber respon<strong>de</strong>r aos meus ministros ou<br />

calado.<br />

para<br />

ficar<br />

Alta, forte, boas côres,<br />

Lindos olhos. Afinal<br />

Eu e certos patriotas<br />

Votamos por Portugal.<br />

Julgarão os directores d'essas gentes <strong>de</strong><br />

todas as greys, que os Portuguezes engolem<br />

tudo quanto lhes <strong>de</strong>itam?!<br />

Tenho uma esperança parodoxal: quando<br />

tudo tiver emigrado <strong>de</strong> Portugal é que teremos<br />

homens <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>, austeros, valentes,<br />

e <strong>de</strong> sã consciência, que não atraiçoem a<br />

patria os seus concidadãos.<br />

— Está <strong>de</strong> lucto o sr. dr. Furtado <strong>de</strong>ntas,<br />

muito digno e sábio juiz da Relação,<br />

pelo passamento <strong>de</strong> sua virtuosa esposa. Tem<br />

softrido este digno magistrado as maiores<br />

<strong>de</strong>sventuras; como foi esta, e a da perda <strong>de</strong><br />

um extremoso filho, que os jornaes noticiaram<br />

largamente no anno passado.<br />

nBC SK. 3E<br />

Honra ao mérito I Ao maestro,<br />

portento no sol e dá /...<br />

Tens da musica o gran<strong>de</strong> estro!<br />

Orgulho <strong>de</strong> Figueiró III...<br />

0 Hymno do João Franco<br />

é dos hymnos — o primeiro,<br />

mette a todos num tamanco...<br />

'stá composto p'ra gaiteiro I<br />

0 Franco enthusiasmado,<br />

já que o Rorges não quer bago<br />

vae pois ser con<strong>de</strong>corado<br />

co'a grã-cruz <strong>de</strong> S. Thiago.<br />

Mando vir a partitura,<br />

antes que o João me rache,<br />

pois qUi>ro ter a ventura<br />

<strong>de</strong> a ouvir tocar á altura,<br />

pelos machos <strong>de</strong> Sernache 1...<br />

LOPES DA GAMA.<br />

0 hábil regente, regenerador<br />

e maestro, sr. A. M. Borges, <strong>de</strong><br />

Figueiró dos Vinhos, fez um —<br />

Hymno João Franco. Por gratidão<br />

o ministro vae agracial-o<br />

com a grã-cruz da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> S.<br />

Thiago.<br />

IPra-Uique.<br />

—<br />

A ARREMATAÇÃO DA CARNE<br />

A camara municipal fez publico, por meio<br />

d'um edital, as condições estabelecidas para<br />

o novo concurso — que finda a 17 <strong>de</strong> outubro—da<br />

arrematação das carnes ver<strong>de</strong>s d'este<br />

concelho.<br />

Lemos o edital com o cuidado que nos<br />

tem <strong>de</strong>spertado esta questão <strong>de</strong> interesse publico<br />

e notámos — com franqueza— uma <strong>de</strong>ficiência<br />

con<strong>de</strong>mnavel, que mais parece um<br />

proposito <strong>de</strong> proteger os marchantes, do que<br />

o publico.<br />

E isto não é uma affirmação gratuita,<br />

pois que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o principio que se tratou<br />

d'esta questão, tem-se dado taes voltas que<br />

em todas se tem mostrado uma certa transigência,<br />

favoravel a quem concorrer.<br />

Relembremos :<br />

Na primeira arrematação especialisava-se<br />

a carne <strong>de</strong> vacca em i. a e 5. a classe, com<br />

uma reducção <strong>de</strong> 25 réis em kilo, a qual era<br />

compensada no augmento do preço do car.<br />

neiro, ovelha, cabra, etc., como se <strong>de</strong>monstrou<br />

n'este jornal.<br />

Não approvou a camara municipal esta<br />

proposta porque teve quem préviamente a<br />

avisasse do logro, e porisso <strong>de</strong>cidiu pôr novamente<br />

em praça a arrematação do fornecimento<br />

das carnes ver<strong>de</strong>s. Esse edital, contém<br />

diversas disposições preventivas e penaes<br />

a que não vale a pena referir.<br />

Pervaleceu a birra. São duas as quali Ja<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> vacca, por esta fórma :<br />

Vacca«— Lombo sem osso nem sebo, pojadouro<br />

i<strong>de</strong>m.<br />

Toda à^ outra carne com osso, bem como<br />

a lingaa.<br />

Carne da cabeça.<br />

VltcIIa:— Preço geral.<br />

A carne da cabeça — que a camara junta<br />

com o lombo, pojadouro, e com a carne, osso


DEFENSOR r>o P o v o —<br />

e lingua — é a chamada carne das cestas que<br />

se ven<strong>de</strong> ao kilo entre 160 e 180 réis! Pois<br />

esta carne passa a ven<strong>de</strong>r-se nos talhos —<br />

por obra e graça da camara! — e o consumidor<br />

ha <strong>de</strong> pagal-a por maior preço.<br />

Nunca se viu tanto disparate!<br />

•<br />

A camara municipal só quiz tratar <strong>de</strong> assegurar<br />

a reducção <strong>de</strong> preços<br />

á carne <strong>de</strong> vacca e vitella<br />

por serem <strong>de</strong> beneficio proprio, e uma regalia<br />

para o consumidor rico e remediado — tal<br />

qual os srs. vereadores.<br />

Não se importaram com as classes medias—<br />

nem principalmente — com as classes<br />

indigentes.<br />

Foi supprimido da arrematação<br />

o carneiro a ovelha, cabra,<br />

borrego ou capado,<br />

toucinho (carne <strong>de</strong> porco).<br />

Prova a <strong>de</strong>dicação que as edilida<strong>de</strong>s têm<br />

pelos interesses dos seus municipes, os mais<br />

necessitados.<br />

•<br />

Como todos sabem—só a camara o ignora<br />

— as rezes miúdas são o principal alimento<br />

das classes menos abastadas; por este motivo<br />

se impunha o <strong>de</strong>ver moral <strong>de</strong> olharem pela<br />

sua sorte e garantir-lhes ao menos os preços<br />

actuaes.<br />

Mas nada se fez em beneficio dos <strong>de</strong>sprotegidos.<br />

E não havemos <strong>de</strong> dizer, que a questão<br />

do fornecimento das carnes ver<strong>de</strong>s nos parece<br />

uma in<strong>de</strong>corosa comedia, representada<br />

pela maioria da camara, que estabeleceu<br />

condições <strong>de</strong> tal or<strong>de</strong>m, que <strong>de</strong>ixa sempre<br />

aberta uma porta falsa por on<strong>de</strong> entra o<br />

fornecedor, na mira <strong>de</strong> um bom arranjo.<br />

Outra coisa não é a exclusão das carnes<br />

ver<strong>de</strong>s das rezes miúdas — que ámanhã,<br />

<strong>de</strong>pois da arrematação dada, po<strong>de</strong>m subir<br />

<strong>de</strong> preço, como pó<strong>de</strong>m também subir as<br />

chamadas roupas, que são:—fressura, bofe,<br />

coração, jigado, dobrada, tripa, baço, coalheira,<br />

todas as miu<strong>de</strong>zas dos animaes que<br />

são o alimento favorito dos sem fortuna!<br />

A abastança dos srs. vereadores, não os<br />

fez lembrar <strong>de</strong> que a maioria dos seus municipes<br />

pouco ou nada lucra com o baixar-se<br />

<strong>de</strong> preço, somente a vacca e a vitella!<br />

Os operários, na sua maioria, mesmo que<br />

a vacca <strong>de</strong>sça a 200 réis, não a compram nem<br />

a comem, porque o minguado salario lhe não<br />

chega para isso. Quando doentes, e suas<br />

famílias são os caldos <strong>de</strong> carneiro a sua<br />

dieta, e com saú<strong>de</strong>, não passam da fressura,<br />

dobrada, etc., pela sua barateza relativa.<br />

Pois na camara municipal, apezar da estarem<br />

homens, que, por experiencia própria,<br />

se <strong>de</strong>viam recordar <strong>de</strong> antigos tempos, em<br />

que a infelicida<strong>de</strong> e a <strong>de</strong>sventura os perseguiu<br />

— nem por isso se lembraram <strong>de</strong> incluir<br />

na arrematação das carnes ver<strong>de</strong>s, as diversas<br />

qualida<strong>de</strong>s com que se alimentam as classes<br />

pobres.<br />

Serão ellas as victimas da usura interesseira<br />

do fornecedor: — que a diminuir no<br />

preço da vacca — augmentar d o preço do<br />

carneiro !<br />

•<br />

E' preciso que se seja muito cego para<br />

não querer ver que basta um pequeno augmento<br />

<strong>de</strong> 10 réis em cada kilo, nas carnes<br />

das rezes miúdas e nas chamadas roupas,<br />

19 Folhetim—«Defensor do Povo»<br />

0 C0RS4RI0 PORTIGIEZ<br />

ROMANCE MARÍTIMO<br />

ORIGINAL DE<br />

s m s i wwi® i m u m<br />

CAPITU!,© IV<br />

O naufragio<br />

Passemos agora a occupar-nos <strong>de</strong> Carlos,<br />

que chegou a Portugal, a bordo da fragata<br />

S. Sebastião, sem inci<strong>de</strong>nte notável.<br />

A fortuna protegia-o, e d'esta vez era com<br />

justiça.<br />

Ó commandante da fragata era, como<br />

dissémos, um honrado marinheiro; e quando<br />

apresentou o seu relatorio, recommendou<br />

tanto os serviços prestados pelo mancebo,<br />

que foi elogiado na or<strong>de</strong>m da armada, e promovido<br />

a segundo tenente.<br />

Trez mezes <strong>de</strong>pois foi nomeado commandante<br />

do bergantim Santo Antonio, e seguiu<br />

viagem para os Açores, levando a bordo um<br />

l.° ANNO<br />

para o fornecedor ficar em melhores condi- !<br />

coes do que está presentemente, com a vacca<br />

a 280 réis!<br />

Não se faça a camara mais ignorante, e<br />

não finja <strong>de</strong>sconhecer o accordo que existe<br />

ha muitos annos, entre os ven<strong>de</strong>dores <strong>de</strong> carnes<br />

ver<strong>de</strong>s. Unidos por um indissolúvel syndicato,<br />

os preços tem-se conservado intactos,<br />

sem se estabelecer concorrência, reinando<br />

sempre a santa harmonia, nas diversas companhias.<br />

Mas, porque motivo appareceu uma proposta<br />

na primeira arrematação, estabelecendo<br />

o preço do carneiro, cabra, etc. — e agora,<br />

na segunda, a camara não incluiu essas especiarias.<br />

Porque só a vacca e a vitella lhes faz<br />

papo?!. ..<br />

Isto não é sério, quando o <strong>de</strong>via ser para<br />

<strong>de</strong>coro da camara municipal, que anda a jogar,<br />

nesta questão, com pau <strong>de</strong> dois bicos.<br />

Bem dissémos nós, e outros collegas, que<br />

a camara andava a tecer enriçada meada. ..<br />

Assim foi; e bem confirmada está a afirmativa,<br />

no edital, em que é annunciado o fornecimento<br />

<strong>de</strong> carnes ver<strong>de</strong>s, e on<strong>de</strong> só figura<br />

a carne e a vitella,<br />

<strong>de</strong>ixando campo largo ao fornecedor que<br />

pô<strong>de</strong>—á sua vonta<strong>de</strong>! — augmentar o preço<br />

das rezes miúdas que ficaram fóra da arrematação.<br />

Depois se se lhe diz que andam feitos...<br />

Assumptos <strong>de</strong> interesse local<br />

Elevador<br />

O sr. Mesnier Ponsard, concessionário<br />

do elevador, mandou distribuir peia cida<strong>de</strong>,<br />

aos domicílios, boletins para a inscripção <strong>de</strong><br />

acções da companhia do Caminho <strong>de</strong> ferro<br />

funicular <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, com o fim <strong>de</strong> reaiisar<br />

o restante da emissão — 21:19056000. réis —<br />

para a constituição da companhia.<br />

Mas ainda esta tentativa lhe não <strong>de</strong>u resultado<br />

e o incansavel trabalhador sr. Mesnier,<br />

soffreu a <strong>de</strong>cepção da maioria da cida<strong>de</strong><br />

lhe negar o seu auxilio, tendo alguns dos seus<br />

habitantes recebido com maneiras bruscas —<br />

e mais alguma coisa — o encarregado da distribuição.<br />

Felizmente porém, consta-nos que os mais<br />

influentes na fundação da companhia dobraram<br />

as suas subscripções, <strong>de</strong> modo que hoje<br />

a sua constituição está apenas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da<br />

cifra <strong>de</strong> seis contos <strong>de</strong> réis!<br />

Só nos falta vêr que a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

<strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> cobrir esta pequena importancia,<br />

que seiscentas pessoas perfaziam, suppondo<br />

que cada uma só tomasse uma acção.<br />

Mais uma vez — em nome dos interesses<br />

d^sta terra sempre <strong>de</strong>sprezada por todos —<br />

rogamos aos nossos patrícios o dobrarem a<br />

subscripção, a fim <strong>de</strong> que <strong>Coimbra</strong> seja dotada<br />

com melhoramento tão importante, que<br />

esperamos garanta aos seus accionistas um<br />

divi<strong>de</strong>ndo rasoavel, como já foi <strong>de</strong>monstrado.<br />

Os cavalheiros que <strong>de</strong>sejarem subscrever<br />

n'este sentido, terão apenas o incommodo <strong>de</strong><br />

dirigirem as suas <strong>de</strong>clarações até ao dia 25<br />

do corrente, para assim os concessionários<br />

resolverem <strong>de</strong>finitivamente se abandonam a<br />

empreza, ou proseguem nos trabalhos <strong>de</strong> organisação<br />

da companhia e construcção do<br />

caminho <strong>de</strong> ferro fanicular.<br />

Brevemente publicaremos a lista dos subscriptores<br />

que concorreram ás redacções dos<br />

jornaes <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />

<strong>de</strong>stacamento <strong>de</strong> soldados para a ilha <strong>de</strong><br />

S. Miguel.<br />

Na volta para o continente avistou um<br />

brigue francez, que lhe <strong>de</strong>u caça.<br />

Carlos era um brioso mancebo, e disse<br />

para João Traquete, que, com elle, na qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> mestre, se tinha embarcado:<br />

— João! Vês aquelle bello navio, que<br />

<strong>de</strong>ita seis milhas por hora ?<br />

— Vejo sim, senhor! E' um brigue <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> força, que sem duvida nos dá caça.<br />

— Pois não importa, respon<strong>de</strong>u Carlos ;<br />

vamos ao seu encontro... fugir é vergonha:<br />

apita para as gavias.<br />

João apitou e Carlos proseguiu.<br />

— Rapazes, aquelle brigue tem maiores<br />

posses <strong>de</strong> que o nosso bergantim; e corno<br />

nos caça, é vergonha fugir-lhe; vamos procural-o...<br />

E que diabo vale aquillo para marinheiros<br />

portuguezes ?<br />

«Vamos, bota fóra cutellos e varredouras!<br />

Larga, caça e iça sobres! O' do leme,<br />

contro mais! Cheio todo! Tudo ligeiro ! A<br />

postos, que são francezes! Icem a ban<strong>de</strong>ira<br />

e firmem-n'a com um tiro <strong>de</strong> peça.»<br />

Carlos era estimado <strong>de</strong> todos, e comquanto<br />

conhecessem que era uma loucura ir ao encontro<br />

d'um inimigo mais forte, a manobra<br />

effectuou-se promptamente.<br />

O commandante do brigue francez, porém,<br />

ao ver os movimentos do bergantim<br />

portuguez, admirou-se e mandou laFgar joa-<br />

Nomeação<br />

O nosso amigo, sr. José Antonio dos<br />

Santos, um estudioso alumno da Escola Brotero,<br />

pela sua intelligencia e <strong>de</strong>dicação ao<br />

trabalho, mereceu que o conselho da escola<br />

industrial Brotero, o propozesse para o logar<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>corião das aulas <strong>de</strong> chimica e physica,<br />

o que foi unanimemente resolvido.<br />

E' a justa recompensa que se dá a um<br />

persistente trabalhador, que, pelo seu expontâneo<br />

esforço tem sabido granjear a estima<br />

<strong>de</strong> todos que o conhecem e lhe avaliam as<br />

boas qualida<strong>de</strong>s cívicas.<br />

Parabéns <strong>de</strong> amigo.<br />

Abúndio da Silva<br />

Para esclarecimento á noticia que dêmos<br />

d'este illustrado académico, publicamos —<br />

como se nos pe<strong>de</strong> — a carta que nos foi enviada<br />

por s. ex. a .<br />

•<br />

Sr. redactor—Rogo a v. a fineza <strong>de</strong> publicar<br />

no conceituado Defensor do Povo a<br />

seguinte rectificação á noticia que a meu respeito<br />

foi publicada no ultimo numero d'este<br />

jornal.<br />

E' verda<strong>de</strong> que recebo um subsidio para<br />

custear a minha formatura em direito, graças<br />

á fidalga generosida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma iliustre personagem,<br />

cujo nome me é vedado revelar; mas<br />

não do Senhor Dom Miguel Segundo, como<br />

v. noticiou. E para que esta rectificação não<br />

dê logar a um mal entendido, consinta v. que<br />

eu <strong>de</strong>clare que o único fim da formatura que<br />

enceto, é collocar-me em melhores e mais<br />

vantajosas condições para eu continuar in<strong>de</strong>fezamente<br />

no caminho das reivindicações patrias<br />

e na <strong>de</strong>feza do i<strong>de</strong>al legitimista, ao qual<br />

consagro toda a minha activida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>dicação<br />

e ao qual não recusarei nunca <strong>de</strong> maiores<br />

sacrifícios.<br />

Agra<strong>de</strong>ço extremamente penhorado as<br />

phrases amigas e lisongeiras com que v. se<br />

referiu á minha pobre individualida<strong>de</strong>, e pela<br />

publicação d'esta carta me confesso<br />

De v. etc.<br />

<strong>Coimbra</strong>, 11-10-95.<br />

Abúndio da Silva.<br />

Lyceu <strong>de</strong> Lisboa<br />

Pela exoneração do sr. dr. Silva Amado<br />

do cargo <strong>de</strong> reitor do lyceu <strong>de</strong> Lisboa, foi<br />

nomeado para o mesmo logar o sr. dr. José<br />

Maria Rodrigues, ornamento distinctissimo<br />

da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Theologia da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>.<br />

O erudito professor é também o bibliothecario<br />

do importante archivo d'este estabecimento,<br />

e que possue rarida<strong>de</strong>s bibliographicas,<br />

e que tem merecido a s. ex. a especial cuidado,<br />

pondo-as a salvo da rapina. — reformou<br />

por completo o serviço interno e a sua<br />

activida<strong>de</strong> prodigiosa encetou a catalogação<br />

dos livros que andavam dispersos.<br />

E' para sentir a sua retirada <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />

pois que será diííicil encontrar um funccionario<br />

com tanta competencia e tanta <strong>de</strong>dicação<br />

por um estabelecimento que não só<br />

precisa d'uma direcção intelligente, mas d'uma<br />

assidua activida<strong>de</strong> e vigilancia.<br />

E tudo isso havia actualmente.<br />

Novas collocações<br />

Os escrivães <strong>de</strong> fazenda dos extinctos<br />

concelhos <strong>de</strong> Poiares e Midões, srs. Alfredo<br />

<strong>de</strong> Figueiredo Queiroz e Antonio da Cunha<br />

Gouvêa foram mandados fazer serviço na<br />

repartição <strong>de</strong> fazenda d'este districto.<br />

netes e metter o leme <strong>de</strong> ló: poz-se neutra<br />

amura e procurou a prôa do navio portuguez.<br />

Carlos observou com olhos <strong>de</strong> lynce esta<br />

manobra; <strong>de</strong>ixou-o passar a rastejar por sotavento,<br />

e <strong>de</strong>u a voz <strong>de</strong> fogo.<br />

O bergantim cobriu-se <strong>de</strong> fumo e duas<br />

balas <strong>de</strong> coxia foram quebrar o leme do brigue<br />

inimigo.<br />

O commandante francez não <strong>de</strong>sanimou;<br />

mas no fim d'um fogo <strong>de</strong> vinte e cinco minutos<br />

arreiou ban<strong>de</strong>ira, em vista das avarias<br />

que recebera !<br />

Uma hora <strong>de</strong>pois seguia o bergantim Santo<br />

Antonio, para as costas <strong>de</strong> Portugal, levando<br />

a presa a reboque.<br />

Na côrte causou gran<strong>de</strong> admiração este<br />

facto, e Carlos foi mais uma vez elogiado na<br />

or<strong>de</strong>m da armada, e promovido a primeiro<br />

tenente por distineção.<br />

O joven recebeu com satisfação a noticia;<br />

quanto a seu pae agra<strong>de</strong>cia a Deus a<br />

ventura que a seu filho dispensava.<br />

Carlos lembrava-se <strong>de</strong> D. A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong>, e<br />

extranhava não lhe escrever; e quantas vezes<br />

pensava elle em D. Carlota, sem po<strong>de</strong>r<br />

explicar a causa !<br />

A imagem <strong>de</strong> D. A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong> não lhe <strong>de</strong>sapparecia<br />

um momento da i<strong>de</strong>ia, mas a <strong>de</strong><br />

D. Carlota surgia a seu lado, bella e sympathica<br />

como os sonhos da poesia l<br />

Domingo, 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895—N.° 48<br />

Regimento 33<br />

O regimento <strong>de</strong> infanteria 23 está quasi<br />

reduzido aos officiaes, sargentos e banda.<br />

A cada instante estão partindo contingentes<br />

para reforçarem outros regimentos;<br />

agora forneceu um para infanteria 3, com<br />

<strong>de</strong>stino á índia.<br />

Logo que os mancebos ultimamente apurados<br />

tenham a instrucção necessaria, levarão<br />

com certeza o mesmo caminho.<br />

Este senhor Festas está a pedir...<br />

Exame<br />

No lyceu d'esta cida<strong>de</strong>, fez exame <strong>de</strong><br />

francez, o menino Fernando Marques Pinto,<br />

filho do sr. José Marques Pinto, proprietário<br />

do gran<strong>de</strong> Café Central.<br />

Ao sr, José Marques Pinto e a sua ex. ma<br />

esposa, sinceros parabéns.<br />

Escola industrial Brotero<br />

As matriculas para o anno <strong>de</strong> i8g5 a<br />

1896 foram a seguintes:<br />

Arithmetica e geometria elementar, 18—<br />

<strong>de</strong>senho geral elementar, 318 — <strong>de</strong>senho ornamental,<br />

3o — <strong>de</strong>senho architectonico, 17—<br />

<strong>de</strong>senho mechanico, 5 — physica e mechanica<br />

industrial, 18 — chimica industrial, <strong>45</strong><br />

— total 351.<br />

Diplomas<br />

Por proposta do nosso amigo e patrício,<br />

sr. Julião Veiga, actualmente <strong>de</strong> resi<strong>de</strong>ncia<br />

na capital da gran<strong>de</strong> republica do Brazil, a<br />

directoria do Retiro litterario portugue\,<br />

conferiu ao <strong>de</strong>cano dos jornalistas portuguezes,<br />

sr. Joaquim Martins <strong>de</strong> Carvalho, o diploma<br />

<strong>de</strong> socio correspon<strong>de</strong>nte.<br />

— Também o sr. dr. Zeferino Candido<br />

propoz se conferisse egual diploma ao iliustre<br />

professor da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, sr. dr. Bernardino<br />

Machado.<br />

Centro Commercio e Industria<br />

E' a nova associação que se <strong>de</strong>sligou do<br />

Grupo musical Abel Elyseu e que inaugurou<br />

os seus bailes havendo hor.tem concorrida<br />

reunião, reunindo hoje novamente as famílias<br />

dos seus socios.<br />

A sala está <strong>de</strong>corada com singeleza, e<br />

muito gosto.<br />

Carteira da policia<br />

Prisão<br />

Foram hontem presos pelo chefe da i. a<br />

esquadra, Antonio Francisco, Thomé dos<br />

Santos Capeilo e Manuel Simões Ramos,<br />

todos do concelho <strong>de</strong> Cantanhe<strong>de</strong>, os primeiros<br />

dois por se apresentarem no governo<br />

civil com documentos em nome d'outros a<br />

solicitarem passaportes, e o terceiro como<br />

engajador e ser quem os apresentava para<br />

aquelle fim.<br />

Este ultimo ainda ia compromettendo<br />

também o negociante <strong>de</strong> Cantanhe<strong>de</strong>, José<br />

Rodrigues da Cunha, a quem pediu n^sta<br />

cida<strong>de</strong> para a seu rogo assigar um termo <strong>de</strong><br />

consentimento n'um cartorio, em que aquelle<br />

Ramos se apresentava como pae d'um dos<br />

rapazes engajados, cujo termo se não chegou<br />

a lavrar.<br />

Vão ser enviados para Cantanhe<strong>de</strong>.<br />

Porque seria que Carlos não podia pensar<br />

em D. A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong>, sem associar aos seus<br />

pensamentos um sentimento <strong>de</strong> terna affeição<br />

por D. Carlota ?<br />

Seria amor? Não, porque o amor não é<br />

elástico como a consciência d'alguns políticos!<br />

O coração marca um limite ao amor: e<br />

quando é verda<strong>de</strong>iro, não o pô<strong>de</strong> esten<strong>de</strong>r<br />

além duma entida<strong>de</strong>.<br />

D. Carlota, pela sua parte, não se lembrava<br />

menos <strong>de</strong> Carlos, e experimentava lenitivo,<br />

quando podia fallar n'elle; mas sabendo<br />

o amor que a sua irmã o ligava, contrahia no<br />

peito essa terna affeição que tanto lh'o cruciava<br />

! Suspirava e soffria.<br />

Os mezes e os annos foram correndo,<br />

sem inci<strong>de</strong>ntes notáveis. Havia perto <strong>de</strong><br />

tres annos que Carlos tinha voltado do Brazil,<br />

e pela falta <strong>de</strong> cartas ignorava o que por<br />

lá ia.<br />

Estamos em 1798. Carlos gozava a reputação<br />

<strong>de</strong> ser um bom official, o que não<br />

era favor.<br />

Entre o numero <strong>de</strong> officiaes <strong>de</strong> marinha,<br />

que mais se impunham, propalando os seus<br />

serviços e alta capacida<strong>de</strong>, o sr. D. Luiz <strong>de</strong><br />

Sarmento, era o que a todos excedia. Verda<strong>de</strong><br />

é, que, segundo a opinião dum distincto<br />

escriptor d'esta terra, a modéstia é capa<br />

dos tolos.<br />

(Gontima.)


DEFENSOR DO PQVO — 1.° ANNO Domingo, 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895 — N.° 48<br />

R E C L A M E S E A N N U N C I O S<br />

5 RÉIS POR HORA<br />

E' o consumo GARANTIDO do<br />

BICO AUEE.<br />

Os outros bicos ordinários consomem<br />

no mesmo tempo 12 a 20 réis.<br />

Encommendas a JOSÉ MARQUES LADEIRA<br />

COIMBRA<br />

99, Rua do Viscon<strong>de</strong> da Luz, 103<br />

NDVO DEPOSITO DAS MACHINAS DE COSTURA<br />

I 1 T G E E ,<br />

ESTABELECIMENTO<br />

DE<br />

FAZENDAS BRANCAS<br />

DE<br />

MANUEL CARVALHO<br />

29 —Largo do Príncipe D. Carlos —31<br />

Encontra o publico o que lia <strong>de</strong> melhor em fazendas brancas e um completo<br />

sortido das recentes novida<strong>de</strong>s para a estação <strong>de</strong> verão e que esta casa<br />

ven<strong>de</strong> por preços baratíssimos.<br />

K E I Í<br />

As verda<strong>de</strong>iras machinas <strong>de</strong> costura<br />

para costureiras, alfaiates e sapateiros, ven<strong>de</strong>m-se no novo<br />

<strong>de</strong>posito em condições, sem duvida, mais vantajosas do<br />

que em qualquer outra casa <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, Porto, ou Lisboa, apresentando sempre<br />

ao comprador um sortido <strong>de</strong> todos os mo<strong>de</strong>los que a mesma Companhia fabrica.<br />

Vendas a prestações <strong>de</strong> ãOI) réis semanaes. A dinheiro,<br />

com gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>scontos.<br />

ENSINO GRÁTIS, no <strong>de</strong>posito ou em casa do comprador.<br />

Na mesma casa executa-se com a maxima perfeição qualquer concerto em<br />

machinas <strong>de</strong> costura, seja qual fôr o auctor, tendo para isso officina montada.<br />

Ao comprador <strong>de</strong> cada machina será oITerecido, como brin<strong>de</strong>, um objecto<br />

<strong>de</strong> valor. Dão-se catalogos illustrados, grátis.<br />

Ven<strong>de</strong>-se oleo, agulhas, carros d'algodão, torçaes e peças soltas para todas<br />

as machinas.<br />

29<br />

Por <strong>de</strong>spacho do meritissimo juiz presi<strong>de</strong>nte do<br />

tribunal do commercio do Porto e a requeri-<br />

mento da Empreza do BICO AUER, foram arrestados<br />

judicialmente, em casa dos srs. Nusse & Bastos,<br />

rua <strong>de</strong> Passos Manoel n.° 14 e rua d'Alegria n.° 867,<br />

d'aquella cida<strong>de</strong>, os bicos <strong>de</strong> contrafacção que estes<br />

srs. tentavam introduzir <strong>de</strong>baixo do nome <strong>de</strong> bico<br />

Invencível, bem como apparelhos e matérias primas<br />

que serviam para a sua fabricação.<br />

E' sabido que os arrestos judiciaes, só se conce<strong>de</strong>m<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> maduríssimo exame dos documen-<br />

tos justificativos dos direitos dos auctores, inquirição<br />

<strong>de</strong> testemunhas e <strong>de</strong>posito e avultada caução, que<br />

no caso actual, foi arbitrada em tres contos <strong>de</strong> réis.<br />

Bastará isto para esclarecer os incautos compradores<br />

<strong>de</strong> bicos <strong>de</strong> contrafacção, adquiridos baratos?<br />

Essa barateza constitue para os srs. compradores<br />

um prejuizo completo por lhes faltar fornecedor<br />

<strong>de</strong> mangas.<br />

Saiu cara, infelizmente, a economia imaginada.<br />

JOÃO RODRIGUES BRAGA<br />

SUCCESSOR<br />

17, ADRO DE CIMA, 20 — (Atraz <strong>de</strong> S. Bartholomeu)<br />

2 Armazém <strong>de</strong> fazendas <strong>de</strong> algodão, lã e seda. Vendas por junto e a retalho.<br />

Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> pannos crús. — Faz-se <strong>de</strong>sconto nas compras para<br />

reven<strong>de</strong>r.<br />

Completo sortido <strong>de</strong> coroas e bouquets, fúnebres e <strong>de</strong> gala. Fitas <strong>de</strong><br />

faille, moiré glacé e setim, em todas as cores e larguras. Eças douradas para<br />

adultos e creanças.<br />

Continúa a encarregar-se <strong>de</strong> funeraes completos, armações fúnebres e<br />

trasladações, tanto n'esta cida<strong>de</strong> como fóra.<br />

FOGÕES U U GOSINHA<br />

Na officina <strong>de</strong> serralharia <strong>de</strong> José<br />

Dias Ferreira, encontram-se á venda magníficos<br />

fogões <strong>de</strong> fogo circular, novos, e<br />

<strong>de</strong> todos os tamanhos.<br />

Responsabilisa-se pela sua construcção<br />

e regular funccionamento. Preços<br />

modicos.<br />

11— Rua dos Militares—13<br />

COIMBRA<br />

Aos photographos amadores<br />

Ven<strong>de</strong>-se muito em conta, uma objectiva<br />

<strong>de</strong> Dellmeyer, rapida, rectilínea,<br />

por 13X18.<br />

Neves, Irmãos<br />

Rua Ferreira Borges, 100<br />

JULIÃO A. D'ALMEIDA & C. a<br />

20—Rua <strong>de</strong> Sargento Mór—24<br />

COIMBRA<br />

13 Sí'este antigo estabelecimento cobrem-se<br />

<strong>de</strong> novo guarda-soes,<br />

com boas sedas <strong>de</strong> fabrico porluguez.<br />

Preços os mai« baratos.<br />

Também tem lãsinhas finas e outras<br />

fazendas para coberturas baratas.<br />

No mesmo estabelecimento ven<strong>de</strong>mse<br />

magnificas armações para guarda-soes,<br />

o que ha <strong>de</strong> mais mo<strong>de</strong>rno.<br />

COLLEGIO ACADÉMICO<br />

(ENSINO PRIMÁRIO)<br />

E^tá aberta <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1 <strong>de</strong> outubro a aula<br />

<strong>de</strong> ensino primário d'este collegio, regida<br />

por José Falcão Ribeiro, Justino José Correia<br />

e Pompeu Faria <strong>de</strong> Castro, professores<br />

legalmente habilitados.<br />

A parlir do mesmo dia, a qualquer<br />

hora, se recebem matriculas, tanto para<br />

esta aula como para as <strong>de</strong> instrueção secundaria,<br />

que posteriormente serão abertas.<br />

Recebem-se alumnos internos, semiinternos<br />

e externos.<br />

Garante-se um ensino profícuo com a<br />

mais completa organisação e com a assiduida<strong>de</strong><br />

no trabalho que caracterisa os<br />

professores.<br />

Fornecer-se-ha papel, tinta, pennas,<br />

giz e lápis gratuitamente a todos os alumnos,<br />

hera como um ca<strong>de</strong>rno para notas<br />

diarias <strong>de</strong> frequeneia e aproveitamento.<br />

A l. a classe dividir-se-ha era dois grupos<br />

: um leccionado pelo metliodo <strong>de</strong> João<br />

<strong>de</strong> Deus e outro pelo <strong>de</strong> Simões Lopes,<br />

á escolha das familias dos alumnos.<br />

As creanças <strong>de</strong> muito pouca ida<strong>de</strong><br />

terão entrada e aula em separado.<br />

Preços: l. a classe SOO réis; — 2. a<br />

réis; —3 a 1$500 réis.<br />

<strong>Coimbra</strong>, rua dos Coulinhos, 27.<br />

líl<br />

J. F. Ribeiro<br />

r<br />

100, Rua Ferreira Borges, 100<br />

31 Pasta para rolos <strong>de</strong> imprensa<br />

<strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong> e preço<br />

modico.<br />

Armas <strong>de</strong> diversos systemas,<br />

revolvers e munições <strong>de</strong> caça.<br />

Faqueiros e colheres d'electro<br />

pinte, qualida<strong>de</strong> garantida.<br />

Tinta e te!la para pintura a<br />

oleo, pincéis e artigos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho.<br />

Uallas para viagem, carteiras<br />

e saccas <strong>de</strong> mão para senhora.<br />

Oleados <strong>de</strong> borracha para<br />

cama e outras qualida<strong>de</strong>s para mesa e<br />

forrar casas.<br />

Transparentes e stores <strong>de</strong><br />

ma<strong>de</strong>ira, rolos aulhomaticos para os<br />

mesmos.<br />

Perfumaria Ingleza e sabonetes,<br />

pó d'arroz, pentes e escovas.<br />

Dentifrico do dr. Kousset,<br />

pó, para <strong>de</strong>ntes da socieda<strong>de</strong> hygienica.<br />

Bensolina para tirar nodoas,<br />

o melhor preparado, não prejudica a roupa.<br />

Lunetas, biooculos, brinquedos para<br />

creança, capachos d'arame e gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong><br />

em miu<strong>de</strong>zas.<br />

COMPANHIA DE SEGUROS<br />

F I D E L I D A D E<br />

FUNDADA EM 1835<br />

SÉDE EM LISBOA<br />

Capital réis 1.344:000$000<br />

Fundo <strong>de</strong> reserva 203:<br />

10 Esta companhia, a mais po<strong>de</strong>rosa<br />

<strong>de</strong> Portugal, toma seguros contra<br />

o risco <strong>de</strong> fogo ou raio, sobre prédios,<br />

mobílias ou estabelecimentos, assim<br />

como seguros marítimos. Agente em<br />

<strong>Coimbra</strong> —Basilio Augusto Xavier <strong>de</strong><br />

Andra<strong>de</strong>, rua Martins <strong>de</strong> Carvalho, n 0<br />

43, ou na do Viscon<strong>de</strong> da Luz, n.° 86.<br />

LOJA DA CHINA<br />

Chás pretos e ver<strong>de</strong>s<br />

Especialida<strong>de</strong>s<br />

Rua Ferreira Borges, 5<br />

Completo sortido <strong>de</strong> produclos para<br />

sopas, molhos, pimentinhos do Brazil,<br />

cacau Van llouten^s e Epps com e sem leite,<br />

farinha imperial chineza, conservas da<br />

fabrica <strong>de</strong> Antonio Rodrigues Pinto, leques,<br />

ventarolas, crepons, abat-jours a<br />

40 réis, novida<strong>de</strong>, latinhas para chá e<br />

café, etc., etc.<br />

A R R E M D A - S I 2<br />

Do S. Miguel <strong>de</strong> 1895 em <strong>de</strong>anle a<br />

casa n.° 1, na rua das Colchas: tem<br />

muito boas commodida<strong>de</strong>s, e a loja n.°<br />

10 da mesma casa; a tratar com José<br />

Luiz Martins d'Araujo, na rua do Viscon<strong>de</strong><br />

da Luz, 90 a 92.<br />

Introducção e íVlathematisa<br />

LUIZ MARIA ROSETTE,<br />

alumno da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, conlinúa<br />

a leccionar estas disciplinas.<br />

Praça 8 <strong>de</strong> ITIaio, n.° 89-1.°<br />

V I O L E I R O<br />

Augusto Nunes dos Santos, (successor<br />

<strong>de</strong> Antonio dos Santos), premiado<br />

ua exposição districtal <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> em<br />

1884 com a medalha <strong>de</strong> prata, e na <strong>de</strong><br />

Lisboa <strong>de</strong> 1890.<br />

Com officina mais acreditada d'esta<br />

arte participa que faz toda a qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> instrumentos <strong>de</strong> corda concernente á<br />

sua arte; assim como os concertos cora<br />

a maxima perfeição, como tera provado<br />

ha muitos annos.<br />

Também ven<strong>de</strong> cordas <strong>de</strong> todas as<br />

qualida<strong>de</strong>s.<br />

Preços muito resumidos.<br />

Rua Direita, 16 e 18 — <strong>Coimbra</strong>.<br />

Deposito da Fabrica Nacional<br />

DE<br />

B I T O<br />

DE<br />

joss rnmim u mz s senbq<br />

COIMBRA<br />

128 —RDA FERREIRA BORGES —130<br />

JV'este <strong>de</strong>posito, regularmente montado, se acham á venda por junto e a<br />

retalho, todos os productos d'aquella fabrica a mais antiga <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />

on<strong>de</strong> se recebem quaesquer encommendas pelos preços e condições eguaes aos<br />

da fabrica.<br />

ARMAZÉM DE MERCEARIA<br />

D15<br />

MARQUES MANSO, SOBRINHO<br />

RUA DO CEGO — COIMBRA<br />

Esta casa, montada com o maior acceio, convida os seus ex. raos freguezos a<br />

visitarem o seu estabelecimento, on<strong>de</strong> encontrarão á venda :<br />

Assucares finíssimos, refinados com o maior esmero, chás, cafés <strong>de</strong> S. Thoraé<br />

e Cabo Ver<strong>de</strong>, chocolates hespanhol, francez e suisso, completo sortido em bolachas<br />

nacionaes e inglezas, e muitos outros artigos que ven<strong>de</strong> a preços resumidíssimos.<br />

Único <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> vinhos da Real Companhia Yinicola<br />

Vinhos a torno a ISO e ISO réis o litro.<br />

manteiga <strong>de</strong> Pare<strong>de</strong>s «le Coura e UTaudufe.<br />

E ven<strong>de</strong> a tao réis o kilo, massas alimentícias <strong>de</strong> todas as qualida<strong>de</strong>s, que<br />

as outras casas ven<strong>de</strong>m a ieo réis.<br />

Publica-se ás quintas feiras e domingos i \<br />

IDO POVO<br />

J J B F B 1 T S O R<br />

EDITOR — Adolpho da Costa Marques<br />

JORNAL REPUBLICANO<br />

Redacção e administração—Largo da Freiria, 14, proximo á rua dos Sapateiros<br />

Anno . .<br />

Semestre .<br />

Trimestre.<br />

Com estampilha<br />

CONDIÇOES DE ASSIGNATURA<br />

(PAGA ADIANTADA)<br />

2$700<br />

1^350<br />

680<br />

Anno . .<br />

Semestre .<br />

Trimestre.<br />

Sem estampilha<br />

2$400<br />

1$200<br />

000<br />

AWWUJÍCIOS:— Cada linha, 40 réis; repetição, 20 réis; contracto<br />

especial para annuncios permanentes.<br />

LIVROS: — Annunciam-se gratuitamente quando se receba um<br />

exemplar.<br />

Impresso na Typographia Operaria — <strong>Coimbra</strong>


A T V N O 1.° IV. 0 4 9<br />

DefensõF do P - ovo<br />

A camara dos pares<br />

Se a ferocida<strong>de</strong> inepta caraclerisa os<br />

actos do governo, a imbecilida<strong>de</strong> esteril<br />

<strong>de</strong>fine os processos da opposição aos mesmos<br />

actos, por parte d'aquelles grupos que,<br />

<strong>de</strong>ntro da monarchia, llie dispulam as vantagens<br />

e as glorias do po<strong>de</strong>r.<br />

Nem os po<strong>de</strong>rosos recursos da boa critica,<br />

nem os golpes certeiros da justiça e<br />

do bom senso apparecem ou, ao menos, repontam<br />

na imprensa opposicionista, que,<br />

quasi sempre, apparentemente con<strong>de</strong>mna e<br />

amaldiçôa as <strong>de</strong>sorientadas reformas, e melhor<br />

diríamos estouvados <strong>de</strong>svarios, com que<br />

nas columnas compactas do Diário do Governo,<br />

dia a dia, engorda a monstruosa dictadura.<br />

Gomo se esliveramos em 1814 e em<br />

1830 na França, ou em epochas approximadas<br />

na Hespanha e em Portugal, a opposição,<br />

principalmente nos arraiaes monarchicos,<br />

refugia-se no esmoronado reducto<br />

da ultima reforma do pariato.<br />

Ha bons sessenta annos, ha cincoenta<br />

e ainda ha trinta discutiam os publicistas,<br />

e ralhavam os políticos sobre as razões, os<br />

motivos, os pretextos finalmente, que podiam<br />

justificar, nas monarchias representativas,<br />

a exislencia <strong>de</strong> uma camara alta, <strong>de</strong><br />

uma segunda camara arislocratica <strong>de</strong> mol<strong>de</strong>s<br />

tradicionaes, <strong>de</strong> Índole e feição conservadoras,<br />

a qual fizesse equilíbrio á camara<br />

baixa, corrigisse ou pelo menos allenuasse<br />

as precipitações revolucionarias e os<br />

rasgos enthusiaslas da mo<strong>de</strong>rna <strong>de</strong>mocracia,<br />

enxertada nos velhos muros dos <strong>de</strong>rrocados<br />

castellos feudaes.<br />

Sustentaram uns—que a par dos elementos<br />

populares <strong>de</strong> representação das classes<br />

inferiores, que a revolução tinha chamado á<br />

direcção e gerencia dos altos interesses públicos,<br />

<strong>de</strong>via existir uma instituição representativa<br />

dos elementos tradicionaes e hisloricos,<br />

a representação das classes aristocralicas<br />

e conservadoras, do alto clero, da<br />

nobreza, da gran<strong>de</strong> e pequena burguezia,<br />

afidalgadas pelas graças e mercês da nova<br />

monarchia constitucional, liberal e também<br />

representativa.<br />

Aventavam outros,—que ao lado das<br />

cegas preoccupações parlidarias e da po-<br />

litica apaixonada dos novos i<strong>de</strong>iaes <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>,<br />

egualda<strong>de</strong> e fraternida<strong>de</strong>, que a<br />

revolução havia lançado no mercado das<br />

gran<strong>de</strong>s i<strong>de</strong>ias e dos generosos princípios<br />

da soberania popular, do suffragio universal<br />

e da emancipação economica, forçoso<br />

era dar ingresso e collocar em posição,<br />

senão prepon<strong>de</strong>rante e sobranceira, ao menos<br />

em condições <strong>de</strong> lucta e com as mes-<br />

mas garantias, a gran<strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>, a<br />

gran<strong>de</strong> cullura, o commercio, o capital e<br />

as emprezas induslriaes <strong>de</strong> maior vulto.<br />

Finalmente teimavam outros, e talvez<br />

com mais razão e coherencia, — que uma<br />

camara alta, que uma assetnblêa <strong>de</strong> pares<br />

era um accessorio, um apanagio necessário<br />

nas monarchias, um elemento <strong>de</strong> pon<strong>de</strong>ração<br />

para cobrir a corôa e os seus privilégios, e<br />

não <strong>de</strong>ixar a realeza ao <strong>de</strong>semparo e o<br />

llirono exposto ás oscilações ou ás commoções<br />

violentas, as contingências, muitas vezes<br />

imprevistas, <strong>de</strong> uma politica revolucionaria,<br />

aventureira e, não raras vezes, insidiosa nos<br />

seus processos, inexorável nas suas arremettidas<br />

contra o velho edifício social, por<br />

ella, e com razão e justiça, abalado nos seus<br />

fundamentos, meio <strong>de</strong>rrocado na sua fabrica<br />

secular.<br />

•<br />

De lodos estes argumentos se sei viram<br />

em França, em Hespanha, em Portugal, em<br />

toda a parte os architectos <strong>de</strong> regimen mo-<br />

narchico-constitucional-representativo; e á<br />

sombra d'uns e d'outros argumentos e pretextos<br />

formaram, consliluiram, teem modificado<br />

e reformado a chamada camara<br />

dos pares, a assemblêa dos próceres, que,<br />

em Portugal e ultimamente, eram recrutados<br />

a sabor partidario em todas as classes, sendo<br />

difficil dizer o que é e o que representa hoje<br />

uma tal instituição.<br />

A discussão, que ainda <strong>de</strong>pois do estabelecimento<br />

da Republica, sem saber porque<br />

nem para que, se renovára em França<br />

para a constituição do senado, resurge<br />

agora em Portugal a proposito da reforma<br />

feita pelo actual governo, que, por expediente<br />

<strong>de</strong> politica parlidaria e <strong>de</strong> occasião,<br />

amputou á camara alta os membros electivos,<br />

que outros, os progressistas, lambem por ex-<br />

pediente partidario e manobra <strong>de</strong> occasião,<br />

lá fizeram introduzir.<br />

Pela nossa parle poríamos termo á discussão,<br />

por <strong>de</strong>mais impertinente e massadora,<br />

e dariamos ao problema, que lanto<br />

tem preoccupado os espíritos, dividido as<br />

opiniões e <strong>de</strong>sorientado as cabeças, uma<br />

única solução:<br />

—A abolição completa do pariato como<br />

instituição inútil e anachronica, Ião inútil e<br />

anachronica como a própria monarchia, e<br />

como ella contraria á liberda<strong>de</strong> e ao progresso<br />

das nações, ao bem estar e á felicida<strong>de</strong><br />

dos povos.<br />

—<br />

Santo sudário<br />

O bem estar da nação portugueza afere-se<br />

e gradua-se pelas melhores das felicida<strong>de</strong>s —<br />

como apregoa o governo aos quatro ventos<br />

pois nunca o paiz, viveu mais cheio <strong>de</strong> venturas<br />

e prosperida<strong>de</strong>s do que agora.<br />

O peor <strong>de</strong> tudo são os acontecimentos<br />

que se vêm precipitando e nos accusam d'estes<br />

factos, a que a Vanguarda se refere nos<br />

edificantes períodos que seguem :<br />

«No 2.° bairro <strong>de</strong> Lisboa ha a fazer<br />

4:000 execuções fiscaea por falta <strong>de</strong> pagamento<br />

da contribuição <strong>de</strong> renda <strong>de</strong> casa.<br />

«No tribunal do commercio foram protestadas<br />

em setembro tít letras.<br />

«No proximo leilão <strong>de</strong> penhores do monte*<br />

pio geral, serão vendidos l:fi33 objectos<br />

«le oiro e prata, por falta <strong>de</strong> pagamento<br />

<strong>de</strong> juros.<br />

tComtudo o governo acha prospera a situação<br />

e não faltam correspon<strong>de</strong>ntes lame-<br />

chas para o espalharem pelo mundo.»<br />

E tem elles muita razão — ás carradas.<br />

Para o governo é que o paiz está prospero.<br />

Em paz e ás moscas o tem <strong>de</strong>ixado o<br />

povo!<br />

Por emquanto...<br />

Embrulhada<br />

Dizia-se que o sr. padre Senna Freitas<br />

não podia ser <strong>de</strong>putado, pois se havia naturalisado<br />

cidadão brazileiro.<br />

Os jesuítas caíram das nuvens, porém,<br />

affirma-se que o sr. padre Senna Freitas vae<br />

provar em como é portuguez.<br />

Sulbscripção nacional<br />

Foi <strong>de</strong>cidido em sessão presidida pelo sr.<br />

con<strong>de</strong> <strong>de</strong> S. Januario, começar-se por estes<br />

dias ás experiencias officiaes sobre a construcção<br />

e andamento das canhoneiras Diogo<br />

Cão e Pedro d'Anaia, antes <strong>de</strong> serem entregues<br />

ao ministério da marinha.<br />

Recebeu da Guiné, o sr. duque <strong>de</strong> Palmella,<br />

a totalida<strong>de</strong> da subscripção a favor da<br />

<strong>de</strong>feza nacional, alli promovida pela benemerita<br />

officialida<strong>de</strong>.<br />

O Adamastor, em construcçuo no arsenal<br />

<strong>de</strong> Leorne, vae progredindo segundo noticias<br />

recebidas.<br />

E a camara municipal <strong>de</strong> Lisboa, ainda<br />

em divida em mais <strong>de</strong> tres contos—e sem se<br />

ralar!...<br />

Não falta <strong>de</strong>scaro.<br />

N'este paiz tudo se piwa...<br />

COIMBRA —Quinta feira, 17 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895<br />

A VIAGEM REAL<br />

El-rei partiu para o extrangeiro <strong>de</strong> visita<br />

a differentes cortes da Europa, em viagem<br />

politica, dizem uns, em viagem <strong>de</strong> recreio,<br />

affirmam outros. O que é certo é que el-rei<br />

partiu. Os jornaes do extrangeiro trazemnos<br />

cada dia noticias das manifestações <strong>de</strong><br />

sympathia <strong>de</strong> que D. Carlos tem sido alvo.<br />

Como nos tempos do Venturoso, chegam mensagens<br />

das mais remotas plagas a tributar ao<br />

rei <strong>de</strong> Portugal as mais subidas honras e a<br />

solicitar <strong>de</strong> mãos postas a sua respeitável alliança.<br />

Os mais po<strong>de</strong>rosos protentados da Euroda<br />

tremem das intenções d'el-rei na sua visita<br />

pelas differentes capitaes. A Hespanha<br />

apressa-se a saudar o gran<strong>de</strong> rei d'esta po<strong>de</strong>rosa<br />

nação; S. Sebastião é o foco para<br />

on<strong>de</strong> convergem todas as attenções dos nossos<br />

visinhos. Sua magesta<strong>de</strong> fi<strong>de</strong>líssima é<br />

aguardado por Canovas <strong>de</strong>i Castilho e duque<br />

<strong>de</strong> Tetuan, ambos <strong>de</strong>corados <strong>de</strong> granscruzes<br />

da or<strong>de</strong>m portugueza da Torre e Espada.<br />

O hymno portuguez é assoprado em<br />

todas as bandas militares. O cruzador Isla<br />

<strong>de</strong> Lu\en e as baterias do Castello <strong>de</strong> S. Sebastião<br />

salvam festivamente.<br />

Milhares <strong>de</strong> foguetes esrralejam e os sinos<br />

andam n'uiria fona.<br />

E 1 assim que se saúda o gran<strong>de</strong> monarcha<br />

duma nação po<strong>de</strong>rosa.<br />

Estas manifestações d'uma nação visinha<br />

e amiga, nYim tempo em que tanto se falia<br />

na ruptura da paz europêa, em que a França<br />

lança olhos ainda esperançados para a Alsacia-Lorena,<br />

fazendo tudo prever alguma<br />

gran<strong>de</strong> commoção politica, <strong>de</strong>ixam seriamente<br />

embaraçados os governos dos paizes<br />

que tem peso na balança da Europa.<br />

Assentou-se ainda que el-rei ia offerecer<br />

generosamente ao governo <strong>de</strong> Canovas as<br />

couraças dos nossos vasos <strong>de</strong> guerra e a espada<br />

e competente braço do nosso Pimentel<br />

Pinto para <strong>de</strong>cidir a triste situação da ilha<br />

<strong>de</strong> Cuba. Ou talvez pôr á disposição do<br />

presi<strong>de</strong>nte da Republica Franceza alguns dos<br />

nossos mais aguerridos regimentos para restabelecer<br />

a or<strong>de</strong>m em Madagascar.<br />

Isto não se confirma, entretanto, e permanece<br />

na obscurida<strong>de</strong> o fim da viagem do<br />

rei D. Carlos.<br />

•<br />

A explicação damol-a nós. Sua magesta<strong>de</strong><br />

el-rei que é d'um paiz que atravessa<br />

um mar <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong>s, senhor cTum governo<br />

que tem levantado a publica administração ao<br />

zenith da gran<strong>de</strong>za, acclamado, una voce, pelo<br />

seu povo, abençoado effusívamente por todas<br />

as classes do seu paiz, vae como exemplo<br />

d^m gran<strong>de</strong> rei animar com a sua presença<br />

o fomento da prosperida<strong>de</strong> dos outros Estados.<br />

Faliam para ahi os invejosos do esplendor<br />

da corôa <strong>de</strong> Portugal, em que esta<br />

viagem importa ao thesouro publico sommas<br />

avultadas.<br />

Que é isso, porém, para um paiz aventurado,<br />

quando da viagem real po<strong>de</strong>m advir<br />

incalculáveis riquezas, não para nós que as<br />

não precisámos, mas aos outros paizes que<br />

<strong>de</strong> longe seguem com ávidos olhos a marcha<br />

do nosso <strong>de</strong>senvolvimento constante? Pela<br />

humanida<strong>de</strong>. Nós fomos sempre para a gran<strong>de</strong>za<br />

dos outros.<br />

Que o diga a Inglaterra, que o diga a<br />

Allemanha, a própria França e mesmo a<br />

Hespanha.<br />

•<br />

El-rei recebe no momento actual as cortezias<br />

do duque <strong>de</strong> Chartres e os cumprimentos<br />

<strong>de</strong> Felix Faure. Um gran<strong>de</strong> banquete<br />

offerecido pelo presi<strong>de</strong>nte da gran<strong>de</strong> Republica<br />

é a <strong>de</strong>monstração festiva das boas relações<br />

entre os dois paizes. Para nada faltar<br />

a sua magesta<strong>de</strong> fi<strong>de</strong>líssima tem havido explendidas<br />

caçadas.<br />

Cá no velho reino cresce dia a dia a riqueza.<br />

Quando el-rei chegar encontrará tudo<br />

augmentado. Vejamos o que dizem os factos:<br />

— Nada menos <strong>de</strong> I:632 objectos d'ouro<br />

e prata vão ser postos em leilão por não terem<br />

sido pagos os juros no monte pio geral.<br />

E do Porto referem para o Século a próxima<br />

abertura duma failencia importante.<br />

— Embarcaram no Danube, com <strong>de</strong>stino<br />

ao Brazil 5ò5 emigrantes.<br />

Partiu também para America o vapor<br />

Cordovan, levando 25o emigrantes. Do Porto<br />

seguiram no mez <strong>de</strong> setembro mais i:6oo<br />

emigrantes. E hontem chegaram a Lisboa<br />

mais 200 emigrantes acompanhados <strong>de</strong> família.<br />

— A Vanguarda noticia a suspensão <strong>de</strong><br />

pagamentos por uma casa importante <strong>de</strong> Lisboa.<br />

Lá fóra periclitam as nossas cousas na<br />

índia e na Africa<br />

De Timor não ha noticias seguras, continuando<br />

a insurreição.<br />

Não havia, pois, quadra mais opportuna<br />

para a viagam cPel-rei. Assim o enten<strong>de</strong>u o<br />

governo. Assim o enten<strong>de</strong>riam as cortes,<br />

se cortes houvesse n'este paiz. Nós também<br />

somos <strong>de</strong> parecer que sua magesta<strong>de</strong> vá correndo<br />

mundo.<br />

•••<br />

Tumultos em Cadiz<br />

O elemento clerical por toda a parte preten<strong>de</strong><br />

dominar, e esta attitu<strong>de</strong> aggressiva em<br />

querer impôr-se tem-lhe valido graves <strong>de</strong>sforços<br />

da ira popular.<br />

No domingo, 13, em Cadiz, uma procissão<br />

foi apupada com assobios, e arremessos <strong>de</strong><br />

pedras, e o mesmo fizeram ao bispo e clero.<br />

A procissão dispersou cm confusão, refugiando-se<br />

os <strong>de</strong>votos carolas n'uma egreja. Houve<br />

feridos e contusos, conseguindo as auctorída<strong>de</strong>s<br />

restabelecer a or<strong>de</strong>m.<br />

Apezar d 1 este acontecimento parece que<br />

o bispo teima em fazer mais procissões, o<br />

que é uma provocação, que lhe pô<strong>de</strong> ficar<br />

muito cara.<br />

Os catholicos <strong>de</strong>viam só celebrar as suas<br />

solemnida<strong>de</strong>s nos templos, e não nas ruas,<br />

on<strong>de</strong> estão sujeitos a soffrer os protestos do<br />

povo que vê n'essas manifestações reaccionarias<br />

um réprobo lançado ás facções liberaes.<br />

Outros tempos, outros costumes.<br />

Pergunta sem resposta<br />

De vez em quando os thuribularios do<br />

ministério, no seu mister <strong>de</strong> jver tudo que<br />

relacione com o governo, côr <strong>de</strong> rosa, afíirmaram<br />

que não havia <strong>de</strong>ficit.<br />

Mas o Diário Popular que sabe bem o<br />

nome aos bois, dá-lhes este raspanço:<br />

«Em 3 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1894 a circulação das notas<br />

do Banco <strong>de</strong> Portugal era <strong>de</strong> 51.699:980^000<br />

réis; em 2 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895 subiu a 53.188:9361000<br />

réis.<br />

«Logo augmentou 3.588:956^000 réis.<br />

iErn 3 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1894 a coou corrente<br />

<strong>de</strong>vedora ao thesouro era <strong>de</strong> 12.021:90'».$000 réis;<br />

em 2 <strong>de</strong> outubro d'este anno subia a 16 178:793^1000<br />

réis.<br />

«Augmento da divida 4.156:889^000 réis; porém,<br />

como o credito da Junta do Credito Publico<br />

estava n'este anno em mais <strong>de</strong> 617:960^000 réis,<br />

vê-se que o augmento real da divida do thesouro<br />

ao Banco foi 3.538:9291000 róis, apenas 49:9731000<br />

réis diferente do augmento da circulação.<br />

«Mas se já não temos <strong>de</strong>ficit, porque pediu o<br />

thesouro mais dinheiro emprestado ao Banco ?<br />

«Eis o casol»<br />

Pontapeados <strong>de</strong> todos — a fazer callos —<br />

e sem emenda!. ..<br />

>.94<br />

Appello<br />

Contra o silencio do governo, ácerca dos<br />

acontecimentos que se têm dado nas nossas<br />

possessões, se insurge o Diário Popular,<br />

que, com justa indignação e competência no<br />

assumpto, o governo torna responsável pelas<br />

perdas dos nossos soldados e officiaes, pelos<br />

<strong>de</strong>sperdícios <strong>de</strong> contos <strong>de</strong> réis, sem nada se<br />

obter, e pelas victimas das febres que se têm<br />

inutilisado nas hospitas terras africanas, sem<br />

resultados para a nação.<br />

E pergunta:<br />

«Será tão <strong>de</strong>sprezível este paiz, tão abatido este<br />

povo, que não mereça ao menos algumas palavras<br />

<strong>de</strong> explicação sobre o modo como teem sido sacrificadas<br />

as vidas e as saú<strong>de</strong>s dos seus filhos e dos<br />

seus irmãos, ou <strong>de</strong> como jem sido esbanjado em<br />

loucas aventuras, para não dizer p.eior, os suados<br />

productos do imposto.<br />

«Po<strong>de</strong>rá, mas triste i<strong>de</strong>ia ha <strong>de</strong> fazer-se da nação,<br />

que a proposito dos seus mais sagrados interesses<br />

lanto tolera, que já exce<strong>de</strong> os limites da paciência.»<br />

Pô<strong>de</strong> tudo o governo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que a paciência<br />

popular é inexgotavel, e não se sae ás<br />

provocações constantes, que á cara lhe atira<br />

esse governo <strong>de</strong> bandidos, o qual já se atreveu<br />

a <strong>de</strong>cretar o golpe <strong>de</strong> estado.<br />

E não se rebenta um Diabo assim. •


DEFENSOR DQ POVO-1.' ANNO Quinta feira, 17 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895 — N.° 49<br />

LIBERDADE RELIGIOSA<br />

Interrompo, por hoje, a série das questões<br />

organicas, para dar logar a uma pequena polemica<br />

<strong>de</strong> duplo caracter politico-religioso<br />

com os meus collegas do campo ultramontano:<br />

A Or<strong>de</strong>m, A Palavra e O Correio Nacional,<br />

que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os acontecimentos do dia<br />

3o <strong>de</strong> julho em Lisboa, não cessam <strong>de</strong> pedir,<br />

<strong>de</strong> mãos postas, ao governo liberal do sr.<br />

D. Carlos Coburgo uma perseguiçãosinha<br />

religiosa, movida contra os que na imprensa<br />

ou em assemblêas publicas ousem confessar-se<br />

dissi<strong>de</strong>ntes do dogma catholico, e tentem<br />

justificar a sua dissidência.<br />

Noutro jornal (A Batalha) respondi eu já<br />

ao zelo seraphico da Or<strong>de</strong>m. Esta resposta<br />

não é pois individualmente en<strong>de</strong>reçada a este<br />

ou áquelle jornal: é a todos quantos formam<br />

na mesma fileira da intolerância sectaria.<br />

Notam os mo<strong>de</strong>rnos exegetes que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

o principio do Christianismo, que na Egreja<br />

se estabeleceram duas correntes contradictorias,<br />

e essencialmente irreconciliáveis; a corrente<br />

judaica, representada por S. Pedro; e<br />

a corrente cosmopolita, representada por S.<br />

Paulo.<br />

Na vida ainda dos dois apostolos, por<br />

vezes a dissidência estalou em bem significativas<br />

disputas.<br />

S. Pedro, espirito estreito, acanhado, nacionalista,<br />

não vendo horisontes mais vastos<br />

que os <strong>de</strong> Jerusalem, adstricto ás fórmulas e<br />

praticas tradicionaes, sem nunca ter logrado<br />

comprehen<strong>de</strong>r o que havia <strong>de</strong> societário, <strong>de</strong><br />

fraternal e expansivo na doutrina do mestre,<br />

eternamente jungido á Lei, representou, na<br />

nascente Egreja, a revivescencia da synagoga.<br />

S. Paulo, espirito culto, como uma educação<br />

que po<strong>de</strong>ríamos chamar humanista,<br />

acceitou do Christianismo exactameate a doutrina<br />

cosmopolita, e foi assim que se fez o<br />

apostolo dos gentios; prégando a graça, é facto,<br />

mas tornando-a accessivel a todos, e fa-<br />

zendo consistir a condição capita! para a salvação<br />

na carida<strong>de</strong>, no amor.<br />

(Continua)<br />

Uma vingança<br />

HELIODORO SALGADO.<br />

Começa a sair semanalmente em Lisboa,<br />

sob a direcção do nosso dilecto amigo e illustre<br />

escriptor, sr. Heliodoro Salgado, intemerato<br />

apostolo da <strong>de</strong>mocracia, pertinaz propagandista<br />

anti-jesuitico reaccionário, este antigo<br />

diário.<br />

E' soldado vigilante que não <strong>de</strong>ixa empolgar<br />

á reacção a supremacia das suas doutrinas<br />

liberaes.<br />

Preparae as lombadas — ó vós que nos<br />

ouvis.<br />

O CASAMENTO DO PAPAGAIO<br />

PAULO BOUHOMME<br />

VERSÃO LIVKE<br />

CONTO<br />

(CONCLUSÃO)<br />

Eram dois homens <strong>de</strong> fôro contra um papagaio.<br />

A vantagem <strong>de</strong>via ser incontestavelmente<br />

d'elles.<br />

Mas, por uma inexplicável fatalida<strong>de</strong>, apenas<br />

o sr. Rapinault entrou no gabinete, calou-se<br />

o papagaio. Parecia que tinha advinhado<br />

a tempesta<strong>de</strong> que lhe pairava sobre a<br />

cabeça. No pateo o silencio era profundo.<br />

Um bocado <strong>de</strong> paciência, rosnou o sr.<br />

Galoubet; vae já ouvir.. .<br />

Abriu a janella, convidou o procurador a<br />

approximar-se, e, apontando-lhe com o <strong>de</strong>do<br />

o poleiro do papagaio, pendurado na pare<strong>de</strong><br />

exterior, perguntou :<br />

— Vê ? Lá está elle...<br />

— Vejo sim... vejo.<br />

E durante alguns minutos os dois homens<br />

examinaram o papagaio que, surprehendido<br />

com aquella inesperada apparição poz-se a<br />

miral-os curiosamente com os olhos luzentes,<br />

afiando o bico, mas ironicamente mudo. De<br />

quando em quando fazia exercícios, pendurando-se<br />

pelo bico no poleiro, mas retomava<br />

logo a posição habitual, sempre calado.<br />

O sr. Galoubet; que estava furioso, não<br />

Até que um dia Honorina disse ao procurador<br />

:<br />

— Eu entendo que só o senhor acharia<br />

o meio <strong>de</strong> nos livrar d'este medonho tyranno.<br />

..<br />

E <strong>de</strong>u ás suas palavras uma uncção particular<br />

e quasi um tom <strong>de</strong> supplica.<br />

Pois não, minha senhora, respon<strong>de</strong>u galantemente<br />

o sr. Rapinault, certamente que<br />

ha um meio <strong>de</strong> eu ouvir os gritos do papagaio.<br />

— Um meio ! Qual ? Diga, diga <strong>de</strong> pressa<br />

!...<br />

O moço procurador, <strong>de</strong>cididamente subjugado<br />

pelos encantos <strong>de</strong> Honorina, cofiou o<br />

bigo<strong>de</strong> e <strong>de</strong>pois disse pausadamente :<br />

— O meio era se o papá e a mamã consentissem<br />

que eu viesse aqui muitas vezes...<br />

— Mas o papá não <strong>de</strong>seja outra coisa !<br />

Respon<strong>de</strong>u ingenuamente a rapariga.<br />

— Elle, talvez, mas v. ex. a será da mesma<br />

opinião ?<br />

Não me atrevo a esperar...<br />

E Honorina que comprehen<strong>de</strong>ra as meias<br />

palavras do sr. Rapinault, corou até á raiz<br />

dos cabellos... O sonho <strong>de</strong> Honorina não<br />

era casar com um procurador, mas a mamã<br />

soube levar a questão como um diplomata<br />

consummado. Esse casamento era a salvação<br />

do pae, a quem o papagaio acabaria por en-<br />

louquecer. E a galante rapariga <strong>de</strong>ixou-se<br />

convencer.<br />

— Aos meus braços, sr. Rapinault, disse<br />

no dia seguinte o advogado ao futuro genro.<br />

Dou-lhe a minha filha, mas com uma condição<br />

!<br />

— Bem sei... o papagaio, respon<strong>de</strong>u radiante<br />

o procurador.<br />

Pô<strong>de</strong> contar commigo.<br />

E tres semanas mais tar<strong>de</strong> os Galoubet<br />

celebravam com um gran<strong>de</strong> jantar os esposaes<br />

da sua querida Honorina. Mas vinte e<br />

quatro horas <strong>de</strong>pois trouxeram-lhe uma noticia<br />

que os <strong>de</strong>ixou estupefactos: o papagaio<br />

tinha morrido <strong>de</strong> repente !<br />

A preparar o salmão para o jantar a cosinheira<br />

tinha <strong>de</strong>ixado cahir, por falta <strong>de</strong> cautella<br />

alguns ramitos <strong>de</strong> salsa sobre a gaiola<br />

do papagaio, que se <strong>de</strong>u pressa em comel-os .<br />

A Egreja catholica, da qual esses jornalistas<br />

são conspícuos apologistas, alguns <strong>de</strong><br />

incontestável talento e <strong>de</strong> incontestada sciencia,<br />

como o sr. dr. Silva Ramos e o padre<br />

Senna Freitas, foi sempre intolerante porque,<br />

pelo dogma que lhe serve <strong>de</strong> base, como a<br />

todas as religiões reveladas; ella nega a mais<br />

fundamental das liberda<strong>de</strong>s: a liberda<strong>de</strong> moral.<br />

Ha um livro que a seita tem em gran<strong>de</strong><br />

conta, no qual esta negação passa das simples<br />

individualida<strong>de</strong>s isoladas para as collectivida<strong>de</strong>s<br />

sociaes: é o Discurso sobre a Historia<br />

Universal, <strong>de</strong> Bossuet. A historia da<br />

Assyria, a da Babylonia, a da Pérsia, a <strong>de</strong><br />

Roma, não é um escandalo <strong>de</strong> factos mais<br />

ou menos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da vonta<strong>de</strong> individual<br />

dos seus apparentes promotores: nada d'isso.<br />

Dada a quéda do primeiro par, no E<strong>de</strong>n, e<br />

a promessa d'um re<strong>de</strong>mptor divino ao Adão<br />

peccador, todos esses factos não são mais <strong>de</strong><br />

que scenas preparatórias do gran<strong>de</strong> drama<br />

da re<strong>de</strong>mpção. Deus, o contra-regra, prepara<br />

as scenas e marca as entradas: o homem<br />

executa.<br />

O homem passa pois a ser um automato<br />

nas mãos <strong>de</strong> Deus, movendo-se sem consciência<br />

alguma do seu <strong>de</strong>stino. Ha um povo<br />

eleito para a realisação do gran<strong>de</strong> mysterio<br />

re<strong>de</strong>mptorista; o povo judaico; eleito apezar<br />

<strong>de</strong> tudo, apezar das suas quédas, das suas<br />

apostasias; eleito pela vonta<strong>de</strong> soberana <strong>de</strong><br />

Deus, que conce<strong>de</strong> gratuitamente a graça a<br />

quem muito bem lhe apraz, ao passo que,<br />

para os per<strong>de</strong>r, endurece o coração dos infiéis,<br />

evitando assim que elles se convertam.<br />

E 1 O actual governo é essencialmente vinga-<br />

Galoubet como homem pratico ainda se<br />

tivo; não per<strong>de</strong> a menor occasião <strong>de</strong> evi<strong>de</strong>n-<br />

lembrou <strong>de</strong> romper o projecto <strong>de</strong> casamento.<br />

ciar os seus instinctos rancorosos.<br />

Mas reconsi<strong>de</strong>rou e não fez mal porque o sr.<br />

Nunca se esquece d'aquelles que uma vez<br />

Rapinault sahiu um excellente marido.<br />

o <strong>de</strong>sprezaram. Senão vejamos:<br />

E Honorina, que foi a mais feliz das mu-<br />

Criticámos ha pouco uma violência do sr.<br />

ministro da marinha contra um brioso oficial<br />

da nossa armada, antigo lente da Escola<br />

Naval e um perfeito caracter como homem<br />

e um escrupoloso cumpridor dos seus <strong>de</strong>veres<br />

na sua qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> militar e funccionario<br />

publico.<br />

lheres, <strong>de</strong>veu a ventura <strong>de</strong> toda a sua vida á<br />

visinhança d'um papagaio!<br />

G.<br />

Commissão <strong>de</strong> resistencia<br />

Agora temos outra violência para criti-<br />

Esta commissão que vae resistindo aos<br />

car, praticada pelo sr. João Franco, mais re-<br />

encontrões do governo, que não faz caso das<br />

pugnante ainda do que a primeira, pelo fim<br />

suas palavras, pois «que obras não se veem,<br />

que teve em vista e pelos resultados preju-<br />

reuniu a capitulo para <strong>de</strong>liberar... entreter<br />

diciaes que trouxe aos estudantes da Escola<br />

a <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong>.<br />

Medica <strong>de</strong> Lisboa.<br />

se pou<strong>de</strong> conter:<br />

Por isso o Queiroz Ribeiro passou as pa-<br />

Historiemos o facto que é <strong>de</strong>veras curioso — E' muito exclamou elle, com os lábios lhetas — e na resistencia ao venha a nós faz<br />

e symptomatico.<br />

trémulos e as mãos crispadas; parece que o um figurão.<br />

Os estudantes <strong>de</strong> Medicina pediram ao está a fazer <strong>de</strong> proposito!<br />

sr. ministro do reino a concessão <strong>de</strong> porta- — E' curioso, realmente, observou o prorias<br />

para repetirem o exame <strong>de</strong> passagem curador, porque, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que eu cheguei, ainda<br />

d'anno, como é praxe ha muito tempo, e não <strong>de</strong>u um pio.<br />

Que os tempos estão bicudissimos — seus<br />

pedaços <strong>de</strong> patiforios.<br />

dispensa do exame <strong>de</strong> allemão até ao fim do E esperaram ainda <strong>de</strong>bruçados no peitoril<br />

actual anno lectivo, obrigando-se a apresen- da janella. O procurador fazia todas as di- Rei Antonio, o Bergeret<br />

tarem antes do acto a certidão <strong>de</strong> approvaligencias para não romper á gargalhada.<br />

Este Ínclito comilão —a 5o mil réis por<br />

ção d'aquella lingua. Foram <strong>de</strong>sattendidos — E diabolico! exclamou afinal o sr. Ga- dia — não larga aquella macaca que o tem<br />

nas suas pretenções.<br />

loubet. E' capaz <strong>de</strong> não abrir bico em todo acompanhado, constante e teimosa, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />

A razão da má vonta<strong>de</strong> do sr. João Franco o dia... Pois bem!... Não o quero <strong>de</strong>- elle se metteu a tralhão, a commandar excr-<br />

contra os estudantes da Escola Medica <strong>de</strong> morar mais tempo. O sr. tem como eu os citos. O que elle vale como funccionario e o<br />

Lisboa é a lembrança da celebre parodia á seus momentos contados. Peço-lhe apenas seu prestigio como cabo <strong>de</strong> guerra, dil-o o sr.<br />

burlesca exhibição das forças da guarda pre- que torne cá em momento mais opportuno. bispo <strong>de</strong> Moçambique e relata-o o nosso coltoriana,<br />

na Avenida da Liberda<strong>de</strong>.<br />

O procurador mostrou-se um homem <strong>de</strong>lega a Vanguarda:<br />

O sr. ministro João Franco quiz ver se licadíssimo. Ao <strong>de</strong>spedir-se affirmou, todo<br />

obrigava os estudantes a implorar a benevo- amavel:<br />

«O sr. bispo <strong>de</strong> Moçambique conversou bastante<br />

lência regia, a irem submissos e supplican- — Ao primeiro signal, cá estou n^im com o sr. Ferreira d'Alineida sobre os azares da<br />

guerra sustentada contra o Gungunhana pelas trotes<br />

ante sua magesta<strong>de</strong>, o rei D. Carlos, coa- prompto!...<br />

pas do rei Antonio.<br />

gidos pela força das circumstancias e pelo Todos em casa do advogado, a mulher,<br />

«O príncipe da egreja ó <strong>de</strong> opinião que as tro-<br />

<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> obstarem á perda d^m anno. a filha, a creada, até o porteiro receberam pas alli <strong>de</strong>stacadas seriam <strong>de</strong>mais, se o combate<br />

Proce<strong>de</strong>u exactamente como quando os or<strong>de</strong>m para ir a casa do sr. Rapinault ape- fosse em campo raso; mas que são insufficientes<br />

na actual conjunctura, porque o Gungunhana tem<br />

verda<strong>de</strong> que, assim, a tolerancia <strong>de</strong>ve- briosos académicos <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> lhe pediram nas o papagaio recomeçasse. Succe<strong>de</strong>u isso por seu lado as diíílculda<strong>de</strong>s que o terreno apreria<br />

impôr-se, pois que o homem não tem culpa um feriado para se <strong>de</strong>morarem mais por um muitas vezes; o animal gritava, assobiava, senta, o clima, e até o estado sanitario das nossas<br />

<strong>de</strong> que Deus, nos seus secretos e insondáveis dia na capital, então em galas para festejar o ensur<strong>de</strong>cia toda a respeitável familia, mas tropas.»<br />

<strong>de</strong>sígnios, o tenha votado irremediavelmente anniversario natalício do glorioso poeta João apenas o sr. Rapinault chegava esbaforido,<br />

a uma perdição eterna, e bem lhe bastará <strong>de</strong> Deus.<br />

chamado pela criada ou pelo porteiro, recahia Em que mãos caíram os pobres soldados<br />

esta <strong>de</strong>sgraça...<br />

Procurou explorar a favor do paço, mas no seu mutismo, com gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sespero do que estão em Lourenço Marques.<br />

Mas não, respon<strong>de</strong>-se: o fiel, o eleito, d'essa vez foi corrido. Os estudantes 'da Uni- advogado, da mulher e da filha, que já não sa- E tudo a custar-nos o melhor <strong>de</strong> um conto<br />

pondo o seu coração <strong>de</strong> accordo com a vonversida<strong>de</strong> preferiram voltar immediatamente biam que fazer para conjurar o perigo, por- e quinhentos por me\!...<br />

ta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus, <strong>de</strong>ve odiar os réprobos, perse- ás suas aulas a rojarem-se aos pés do moque o sr. Galoubet ameaçava dar em doido!<br />

guil-os, exterminal-os, abominal-os, só pornarcha, implorando o favor, o enorme favor Afinal foi resolvido convidar o procuraque<br />

Deus os abomina ! Ha mesmo um theo- <strong>de</strong> um feriado!<br />

dor para um almoço. Só por arte do diabo Descoberta importante<br />

logo <strong>de</strong> seita que affirma que, no céu, os jus- Ainda que os estudantes <strong>de</strong> Lisboa resol- ,é que o papagaio <strong>de</strong>ixaria <strong>de</strong> gritar durante<br />

tos, gozam com os tormentos soffridos pelos vam em vista da recusa, recorrer á benevo- a refeição. Elle acceitou, mas, por cumulo O nosso amigo e collega — A Liberda<strong>de</strong>,<br />

con<strong>de</strong>mnados no inferno!<br />

lencia regia, nem por isso ficarão sendo me- <strong>de</strong> fatalida<strong>de</strong>, cahiu um gran<strong>de</strong> aguaceiro <strong>de</strong> Vizeu, dr. Maximiano d'Aragão, um cu-<br />

Quão longe está esta doutrina impia d'aquelnos liberaes, antes pelo contrario, cada vez os justamente á hora marcada, e os donos do rioso investigador e iliustradissimo auctor da<br />

les meigos idyllios do Christo nos Evange- seus princípios e i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong>mocráticas se radi- papagaio retiraram-no da janella. Era mais importante obra Vi^eu, acaba <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir no<br />

lhos!...carão<br />

mais nos seus espíritos alevantados, uma <strong>de</strong>speza sem proveito! Procurou-se ou- archivo da Sé, d'aquella cida<strong>de</strong>, um docu-<br />

•<br />

tendo agora a animal-as a indignação profuntro meio. Se se po<strong>de</strong>sse fazer engulir ao mento assás importante e que diz respeito<br />

da, o nojo contra os especuladores palacianos. papagaio uma pilula envenenada, arsénico ou aos tão discutidos quadros do celebre pintor<br />

A attitu<strong>de</strong> dos jornaes catholicos, n'este<br />

E' preciso que os senhores do governo mesmo salsa que tem a proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> alte- portuguez Vasco Fernan<strong>de</strong>s (Grão-vasco).<br />

momento, não offerece, pois, novida<strong>de</strong> al-<br />

saibam, que um estudante nunca perdoou a rar a saú<strong>de</strong> aos galinaceos! Mas a maneira O documento tem a data <strong>de</strong> 1607 (63<br />

guma; nem sob o ponto <strong>de</strong> vista doutrinário,<br />

quem lhe faça per<strong>de</strong>r um anno <strong>de</strong> estudo. <strong>de</strong> introduzir na gaiola a pilula, o arsénico annos <strong>de</strong>pois da morte <strong>de</strong> Vasco Fernan<strong>de</strong>s);<br />

nem sob o ponto <strong>de</strong> vista das tradições.<br />

Rico ou pobre, e muito principalmente po- ou a salsa? E <strong>de</strong>pois, se tudo se <strong>de</strong>scobrisse, e já os pintores d^quella epocha diziam que<br />

Sem recuarmos mais longe, bastará remonbre,<br />

o seu <strong>de</strong>sejo é concluir a formatura, que era certo um processo por perdas e damnos. se não podia fazer quadro idêntico, tão bom,<br />

tarmo-nos aos tempos, para sempre omino-<br />

muitas vezes é feita á custa dos maiores sa-<br />

tão perfeito, e bem acabado (diz o mesmo<br />

sos, do tyranno D. Miguel. Periodicos infacrifícios<br />

e privações.<br />

documento).<br />

mes, cuja só <strong>de</strong>nominação basta a <strong>de</strong>nunciar-<br />

Explorar com a fraqueza dos outros foi<br />

Esta <strong>de</strong>scoberta constitue um dos maiolhe<br />

o caracter, ahi viam a luz publica, dirigi-<br />

sempre cobardia; o ministro que imaginou<br />

res títulos <strong>de</strong> gloria a que tem jus o seu<br />

dos por sacerdotes do altar, taes como: A<br />

levar os estudantes a fazerem profissão <strong>de</strong> fé<br />

auctor; a sua explanação vae elevar a um<br />

Besta esfolada, do padre José Agostinho <strong>de</strong><br />

monarchica ante o solio augusto <strong>de</strong> sua ma-<br />

extraordinário realce o '3.° volume da monu-<br />

Macedo; O Mastigoforo, do padre Fortunato<br />

gesta<strong>de</strong> fi<strong>de</strong>líssima, bem o sabe, bem o <strong>de</strong>ve<br />

mental obra— Vi\eu, que se encontra á venda<br />

<strong>de</strong> S. Boaventura; O Cacete, do padre Fran-<br />

comprehen<strong>de</strong>r.<br />

em todas as livrarias, o que constitue um<br />

cisco Recreio; etc. Publicavam esses perio-<br />

Quiz vingar-se, vingou-se; é quanto bas-<br />

trabalho d'investigação, <strong>de</strong>véras interessante<br />

dicos as maiores infamias contra os liberaes,<br />

tou. Que lhe importa a justiça do pedido?<br />

e valioso.<br />

todos alcunhados <strong>de</strong> pedreiros-livres e ma-<br />

Ninguém lhe irá pedir contas..'. Mas hão <strong>de</strong><br />

çons, e não cessavam <strong>de</strong> pedir ao governo<br />

pedir-lh'as, mais cedo ou mais tar<strong>de</strong>.<br />

que se <strong>de</strong>ixasse <strong>de</strong> branduras para com os<br />

liberaes. Imagine-se as branduras do go-<br />

Então talvez o ministro vingativo e ranverno<br />

d'aquella besta-féra que se chamou o<br />

coroso se arrependa dos seus actos, das suas<br />

con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Basto!<br />

propotencias e inqualificáveis arbitrarieda<strong>de</strong>s.<br />

XLII<br />

•<br />

E a dizerem que a cida<strong>de</strong><br />

«A Batalha»<br />

não tem na vereação,<br />

gente <strong>de</strong> zelo e bonda<strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong> extrema <strong>de</strong>dicação!<br />

Ern meneios d'ameaça,<br />

a mostrar que não ha medo,<br />

conseguiu salvar, na praça<br />

do Commercio — o arvoredo !<br />

Foi este caso, á tardinha :<br />

'stavamos nós na palrata<br />

e um vereador se avisinha...<br />

Vê que a ave inda esgravata,<br />

e ahi vae o sr. Barata<br />

a perseguir a gallinha.<br />

BYa-Dique»


1 >JI:I I^SOTÍ » o P o v o — 1.° ANNO Quinta feira, 17 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895— N.° 49<br />

RECORDANDO...<br />

O Centro commercio e industria, abriu a<br />

sua vasta sala, no sabbado, inaugurando as<br />

reuniões familiares, com um baile, muito concorrido,<br />

e em constante animação.<br />

A sala embellezada com singelleza, palmas<br />

e colgaduras, aos tufos, seguram braçadas<br />

<strong>de</strong> flores, quadros <strong>de</strong> boas oleographias,<br />

espelhos e os tres lustres a illuminarem com<br />

profusão. Ao fundo plantas ornamentaes.. .<br />

Ouve-se o piano, annunciando o começo<br />

do baile. Todos se levantam e na escolha<br />

dos pares se revelam — as sympathias.<br />

Morenas e loiras, <strong>de</strong> rostinhos galantes e<br />

olhos que cegavam, brilhando como pyrilampos,<br />

numa <strong>de</strong>senvoltura graciosa nos volteados<br />

da valsa, eram o enlevo dos namora<strong>de</strong>iros<br />

<strong>de</strong> officio e o encanto dos felizes — os eleitos<br />

do coração.<br />

E cresceu-nos o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> fazer <strong>de</strong> tanto<br />

par, uma gran<strong>de</strong> roda, saracoteando-se ao<br />

canto do Vira e do Malhão, do Estalado...<br />

e <strong>de</strong> tanta coisa bonita...<br />

Defeitos!<br />

•<br />

No domingo, sessão solemne, commemorativa<br />

do primeiro anniversario d'aquella aggremiação,<br />

que parece entrar em vida calma.<br />

O sr. presi<strong>de</strong>nte, David Parada, convidou<br />

a presidir áquella sessão, o sr. Antonio<br />

José Garcia, que acceitou, agra<strong>de</strong>cendo, nomeando<br />

secretários os srs. Francisco Augusto<br />

Rocha e José Bento.<br />

Constituída a mesa, explicou o sr. presi<strong>de</strong>nte<br />

o fim d'aquella sessão, e fez votos pela<br />

prosperida<strong>de</strong> <strong>de</strong> associação tão auspiciosa.<br />

A reacção e os jesuítas não lhe ficaram a <strong>de</strong>ver<br />

favores, <strong>de</strong>monstrando a necessida<strong>de</strong> do<br />

operário se educar e instruir. Fez judiciosas<br />

consi<strong>de</strong>rações sobre a situação da classe trabalhadora<br />

e não tratou muito bem os po<strong>de</strong>res<br />

públicos; enalteceu as associações, pela<br />

sua influencia benefica. A sua palestra teve<br />

bom acolhimento pela simplicida<strong>de</strong> da exposição<br />

e dicção clara. Foi applaudido.<br />

Convidou <strong>de</strong>pois o sr. José Antonio dos<br />

Santos a tomar a palavra que a <strong>de</strong>legou no<br />

sr. Delphim Gomes, que foi verboso na sua<br />

exposição e tratou o assumpto — utilida<strong>de</strong><br />

d'aquella associação e instrucção do operário<br />

— cujos themas <strong>de</strong>senvolveu com proficiência,<br />

<strong>de</strong>ixando agradado os que o ouviram, que<br />

lhe <strong>de</strong>ram palmas, antes e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> fallar.<br />

Seguiu-se então o sr. José Antonio dos<br />

Santos, muito mo<strong>de</strong>sto, e muito breve. Quiz<br />

<strong>de</strong>sculpar, em parte, o operário por não se<br />

entregar mais ao estudo: «que o cançaço do<br />

trabalho durante o dia não <strong>de</strong>ixa á noite.. .<br />

etc.»—não se lembrando que elle, operário<br />

como é, e assíduo trabalhador — <strong>de</strong>pois do<br />

cançaço da oiíicina — tem frequentado algumas<br />

das disciplinas professadas na escóla<br />

industrial Brotero, e com tanta intelligencia<br />

e assiduida<strong>de</strong>, que lhe valeu ser nomeado ha<br />

dias <strong>de</strong>corião nas aulas <strong>de</strong> chimica e physica.<br />

Mas saiba o sr. Santos, que o cançaço do<br />

trabalho não obsta a que operários analphabetos<br />

troquem a Escóla primaria, por theatradas,<br />

e a Cartilha Maternal, por papeis <strong>de</strong><br />

personagens mysticos.<br />

Reatando: — Afóra este senão, filho da<br />

sua bonda<strong>de</strong> <strong>de</strong> passador <strong>de</strong> culpas, o nosso<br />

amigo estreiou-se com vantagem, e a sua<br />

palestra teve phrases d'um colorido leve e<br />

muito afinado.<br />

Não lhe faltaram applausos e a sessão<br />

terminou, congratulando-se todos pelo bom<br />

êxito da festa.<br />

Folhetim—«Defensor do Povo»<br />

0 CORSÁRIO PORTIGIEZ<br />

ROMANCE MARÍTIMO<br />

ORIGINAL DE<br />

CAPITULO IV<br />

O naufragio<br />

O sr. D. Luiz <strong>de</strong> Sarmento era capitão<br />

<strong>de</strong> mar e guerra. Nada porém o recommendava<br />

por ser ignorante; sendo porém protegido<br />

pelo con<strong>de</strong> <strong>de</strong>..., s.eu parente, e ministro<br />

da marinha, era chamado ás commissões<br />

mais importantes; embora não levasse para<br />

bordo os gran<strong>de</strong>s dotes, que em terra o ministro<br />

lhe achava.<br />

D. Luiz <strong>de</strong> Sarmento era pois como<br />

muitos que para ahi temos, que escon<strong>de</strong>m a<br />

sua inépcia <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> muitos titulos balofos.<br />

Um dia encontrou Carlos no arsenal, e<br />

perguntou-lhe:<br />

— O senhor não esteve no Brazil ?<br />

•<br />

À dança! Á dança! E o sympathico pianista—o<br />

Sampaio—annuncia no teclado uma<br />

valsa.<br />

Tudo se agita e engatilham-se os pedidos.<br />

Sorrisos <strong>de</strong> annuencia, braço ao par e unidos,<br />

a mirarem-se, os felizes, e iá iam ellas,<br />

ligeiras como gazellas, alegres como bando<br />

<strong>de</strong> andorinhas, em vertiginosos redopios.<br />

E tudo é feliz!...<br />

E o Sampaio, muito amavel, executou<br />

com pericia, uma Melage, com — valsas, polkas,<br />

ma\urkas, pas<strong>de</strong>-quatre— e ninguém<br />

cança! — e ha palmas ao pianista, pela innovação<br />

alli.<br />

Ao final, dança-se uma valsa — a vapor —<br />

foi uma vingança do Sampaio, para fazer dispersar.<br />

E tudo se agita em impetuosas voltas<br />

<strong>de</strong> roda — ninguém quer ficar vencido! —<br />

e no auge da confusão o piano, pára. ..<br />

E tudo <strong>de</strong>bandou, a caminho <strong>de</strong> repouso.<br />

Eram 2 horas da noite.<br />

...<br />

«O Debate»<br />

Lembranças aos meus dois pares.<br />

É o novo diário, dirigido pelo intemerato<br />

republicano, sr. Feio Terenas, vigoroso jornalista<br />

que vem <strong>de</strong> ha muitos annos trabalhando<br />

e luctando pela causa popular e princípios<br />

<strong>de</strong>mocráticos.<br />

Será a sentinella vigilante contra as hostes<br />

jesuíticas e reaccionarias, contra os déspotas<br />

<strong>de</strong> D. Miguel e os janizaros <strong>de</strong> D. Carlos.<br />

O seu primeiro artigo é vibrante, energico,<br />

exaltando o povo francez <strong>de</strong> 1848 que<br />

aos gritos <strong>de</strong> — Viva a Republica ! — <strong>de</strong>rrotara<br />

um throno. O Debate <strong>de</strong>ve ser bem acceite<br />

pelo paiz, pois <strong>de</strong>sfralda, com enthusiasmo<br />

e convicção o labaro da emancipação<br />

da patria.<br />

Saudamol-o.<br />

Assumptos <strong>de</strong> interesse locai<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

Com a solemnida<strong>de</strong> dos annos anteriores<br />

fez-se hontem a distribuição dos prémios aos<br />

estudantes, que mais se distinguiram durante<br />

o findo anno lectivo.<br />

A vasta sala dos capellos offerecia um<br />

aspecto magestoso.<br />

A aca<strong>de</strong>mia em gran<strong>de</strong> numero acotovelava-se,<br />

<strong>de</strong>sejando uns contemplar as damas<br />

que enchiam a teia e as tribunas fazendo<br />

realçar nas suas toilettes claras os seus rostos<br />

formosos: outros gosando o espectáculo<br />

que ante os seus olhos se <strong>de</strong>senrolava.<br />

A este numero pertenciam quasi exclusivamente<br />

os novatos, para quem o que viam<br />

era novida<strong>de</strong>, e os interessados e suas famílias,<br />

e alguns mais, mas pouquíssimos.<br />

O calor era asphixiante.<br />

Coube ao sr. dr. Luiz Maria da Silva<br />

Ramos a vez <strong>de</strong> recitar a tradicional oração<br />

<strong>de</strong> sapientia.<br />

O sábio <strong>de</strong>cano da faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> theologia,<br />

em voz firme e bem timbrada, pronunciou<br />

o seu discurso exaltando a theologia como<br />

sciencia racional e progressiva e muito principalmente<br />

pelo impulso inicial e fecundo<br />

auxilio, que ella, na Eda<strong>de</strong> Media, prestou ás<br />

outras sciencias, procurando filiar nos trabalhos<br />

theologicos e dos sábios naturalistas<br />

— Estive, sim senhor, servi na fragata<br />

S. Sebastião.<br />

E' isso mesmo, respon<strong>de</strong>u elle com certa<br />

insolência; voltou-íhe as costas, e retirou-se.<br />

O appellido <strong>de</strong> Sarmento não era para Carlos<br />

<strong>de</strong> bom agouro, pelo que tratou <strong>de</strong> indagar<br />

quem era este senhor D. Luiz, e pelas<br />

informações que teve soube, que era irmão<br />

mais velho <strong>de</strong> D. Francisco <strong>de</strong> Sarmento e<br />

Castro, que os leitores já conhecem.<br />

Carlos notou, que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a pergunta que<br />

lhe fizera D. Luiz, o ministro, que sempre o<br />

recebia com distincção, passou a tratal-o<br />

com indifferença e a <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ral-o! Mas<br />

elle cumpria com o seu <strong>de</strong>ver; <strong>de</strong>ixava passar<br />

os aguaceiros, e esperava por melhor<br />

tempo.<br />

Seis mezes <strong>de</strong>pois d'este acontecimento,<br />

foi nomeado immediato da fragata Senhora<br />

da Conceição, <strong>de</strong> que era commandante D.<br />

Luiz <strong>de</strong> Sarmento!<br />

Carlos, ao receber a or<strong>de</strong>m não ficou<br />

satisfeito, porém não quiz eximir-se ao serviço,<br />

conscio <strong>de</strong> que quem cumpre com o<br />

seu <strong>de</strong>ver, nada tem a receiar.<br />

João Traquete não o abandonava, e acompanhou-o<br />

na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mestre, logar que<br />

já occupára no bergantim Santo Antonio.<br />

No dia 23 <strong>de</strong> março a fragata suspen<strong>de</strong>u o<br />

ferro e seguiu sem novida<strong>de</strong>, até <strong>de</strong>itar a barra<br />

fóra. A sua missão era cruzar no estreito <strong>de</strong><br />

c.<br />

christãos as gran<strong>de</strong>s e extraordinarias <strong>de</strong>scobertas<br />

scientificas dos tempos mo<strong>de</strong>rnos.<br />

Poz bem em relevo os serviços prestados<br />

á sciencia, á patria e á <strong>Universida<strong>de</strong></strong> pela<br />

faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> theologia, insinuando a insufficiencia<br />

dos seminários para ministrarem ao<br />

theoiogo os conhecimentos e os recursos indispensáveis<br />

aos altos estudos theologicos em<br />

nossos dias, e para a solução <strong>de</strong> questões<br />

d'uma gravida<strong>de</strong> e transcendência incalculáveis.<br />

Do discurso do digno prelado da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>,<br />

nada po<strong>de</strong>mos dizer porque não ouvimos<br />

uma única phrase, e cremos que ninguém<br />

ouviu.<br />

Demais, muitos lentes, mais <strong>de</strong> trinta,<br />

muitas senhoras, muitas pessoas estranhas<br />

ao elemento académico, muitas capas e batinas<br />

novas e pela primeira vez vestidas, algumas<br />

piadas soltas aqui e acolá aos novatos,<br />

que compromettidos, a maior parte das vezes,<br />

coravam <strong>de</strong>ante dos veteranos como a pudica<br />

donzella <strong>de</strong>baixo do influxo do olhar petulante<br />

e pertinaz dos leões da galanteria.<br />

A' porta ferrea gritos estri<strong>de</strong>ntes, assobios,<br />

encontrões, etc., uma inferneira diabólica,<br />

própria <strong>de</strong> rapazes novos e alegres.<br />

o<br />

Tlieatro príncipe real<br />

Foi hontem a inauguraçãa da presente<br />

época theatral, e coube á companhia lyricodramatica,<br />

dirigida pela actriz Dora Lambertini,<br />

as honras da estreia.<br />

Representou-se a Cavallaria Rusticana,<br />

em que Dora Lambertini, essa adorável<br />

creança <strong>de</strong> ha annos, que nós applaudimos<br />

em triumpho, tem o papel do personagem<br />

mais importante e on<strong>de</strong> revelia o seu pujante<br />

talento. Foi magistral o <strong>de</strong>sempenho no seu<br />

papel <strong>de</strong> Santuzza, o que lhe valeu uma<br />

ovação estrondosa.<br />

Giorgio, <strong>de</strong> 6 annos, mostra na sua eda<strong>de</strong>,<br />

que éfilho <strong>de</strong> peixe. Muito gracioso na<br />

cançoneta—Uh! Lá-ldl—que a encantadora<br />

Dora dizia, da outra vez, com innocente malícia<br />

e infinita graça. Pois o pequenito Giorgio<br />

se lhe não ganha a palma, não <strong>de</strong>smerece<br />

em nada a sympathica irmã.<br />

A festa <strong>de</strong> minha mãe é um <strong>de</strong>licioso<br />

vau<strong>de</strong>ville, em 1 acto, em que ainda o Giorgiosito<br />

faz maravilhas n'um personagemsinho<br />

muito comico, saindo-se bem na scena do disfarce.<br />

Deram-lbe muitas palmas.<br />

Terminou a recita pela phantasia musical<br />

cantada pela actriz Dora Lambertini — A<br />

francesa — que foi bisada, pela distincção<br />

como a executou, tendo muitas chamadas e<br />

freneticos applausos.<br />

A aca<strong>de</strong>mia cantou também, respon<strong>de</strong>ndo<br />

em côro aos couplets, o que fez rir a gentil<br />

Dora.<br />

Hoje ha outra recita e não damos o programma<br />

por falta <strong>de</strong> prospecto.<br />

Foi numerosa a concorrência.<br />

Os ourinoes<br />

Des<strong>de</strong> que retiraram o ourinol da praça<br />

do Commercio, o recanto das pare<strong>de</strong>s da casa<br />

da Misericórdia e da egreja <strong>de</strong> S. Thiago, é<br />

um fóco <strong>de</strong> acido úrico que exhala mau cheiro<br />

e está salitrando a pare<strong>de</strong> da egreja.<br />

Além d'isso alli não ha policia que evite<br />

isso e outros casos que alli se dão.<br />

Também o ourinol ao fundo da rua Martins<br />

<strong>de</strong> Carvalho se encontra em péssimas<br />

condições <strong>de</strong> asseio, estando entupida a canalisação,<br />

o que faz escorrer as ourinas para<br />

a praça 8 <strong>de</strong> Maio, produzindo cheiros insupportaveis.<br />

Gibraltar, e obstar á saída dos argelinos<br />

para o Oceano. João não gostava da cara<br />

do commandante, e muito menos ficon sympathisando<br />

com elle, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ver a maneira<br />

pouco <strong>de</strong>licada porque recebeu o immediato.<br />

D. Luiz era altivo e mal educado; a todos<br />

tratava com aspereza, pelo que não tinha<br />

sympathias na tripulação.<br />

Carlos era o contrario, conciliava os seus<br />

<strong>de</strong>veres <strong>de</strong> oflicial com os da boa educação,<br />

e por todos era estimado.<br />

Oito dias <strong>de</strong>correram sem haver novida<strong>de</strong>;<br />

o mar conservava-se bom, e se alguns<br />

salceiros rebentavam pela proa, não eram <strong>de</strong><br />

cuidado.<br />

O nono dia, porém, amanheceu terrível:<br />

o vento soprava rijo do sueste, e o mar levantava<br />

gran<strong>de</strong>s vagas, que galgando o portaló<br />

<strong>de</strong> bombordo, saíam por estibordo. O<br />

horisonte estava medonho e em completa<br />

cerração. Os aguaceiros eram fortes; e assim<br />

se conservou o tempo até ás quatro horas,<br />

em que o temporal augmentou com violência.<br />

0 pratico, em vista do escarcéu,<br />

disse para João Traquete:<br />

— Mestre João, porque não diz ao senhor<br />

immediato, que lembre ao commandante que<br />

bom seria arribar?<br />

— Diga-lh'o vossê; o nosso immediato<br />

sabe mais do mar a dormir que o comman-<br />

Norato<br />

Concluiu os preparatórios e está matriculado<br />

já no i.° anno jurídico, o nosso bom<br />

amigo, Lindorphe <strong>de</strong> Macedo.<br />

E' um rapaz intelligente e trabalhador<br />

a quem o futuro reserva um logar brilhante<br />

nas lettras, e que agora, nos bancos da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>,<br />

não <strong>de</strong>ixará <strong>de</strong> se evi<strong>de</strong>nciar.<br />

Nós que o estimamos e temos por elle<br />

muita sympathia, damos esta agradavel nova<br />

cheios <strong>de</strong> intima alegria e contentamento.<br />

Os nossos parabéns ao novato.<br />

Rectificação<br />

Por lapso, dissémos fazer exame um filho<br />

do nosso amigo, sr. José Marques Pinto, proprietário<br />

do Café Central. Este nosso amigo<br />

não tem menino. O engano foi <strong>de</strong>vido á<br />

precipitação, <strong>de</strong> se não reparar que o sr. José<br />

Marques Pinto é um cavalheiro da Figueira,<br />

que veiu a esta cida<strong>de</strong> com seu filho e que<br />

fez exame.<br />

«O Cardai»<br />

E um semanario litterario, noticioso e recreativo,<br />

<strong>de</strong> pequeno formato, que se publica<br />

em Pombal e se diz o ecco da al<strong>de</strong>ia.<br />

Não é politico, combate ou elogia o governo,<br />

segundo a norma do seu proce<strong>de</strong>r.—<br />

Luz e progresso é a sua divisa.<br />

Que Deus o <strong>de</strong>ixe crear para bem e os<br />

leitores sejâtn muitos.<br />

- —<br />

A revolta da Índia<br />

Telegramma <strong>de</strong> Bombaim, <strong>de</strong> i5, enviado<br />

ao Século, <strong>de</strong> hontem: — Noticias officiaes dizem<br />

ter terminado completamente a revolta<br />

<strong>de</strong> Goa.<br />

As auctorida<strong>de</strong>s conce<strong>de</strong>ram indulto aos<br />

revoltosos, que entregaram as armas na terça<br />

feira, sendo licenciados e postos em liberda<strong>de</strong>.<br />

COMMUMCADO<br />

«Ex. mo sr. presi<strong>de</strong>nte da camara municipal <strong>de</strong><br />

<strong>Coimbra</strong> — 0 abaixo assignado para íins convenientes,<br />

precisa que v. ex. a , por certidão, lhe<br />

man<strong>de</strong> passar o que consta — no respectivo livro<br />

da matricula dos cocheiros — da carta passada<br />

a Annibal Travassos d'esta cida<strong>de</strong>, e em que data<br />

foi; e liem assim se João da Cruz, <strong>de</strong> Arganil,<br />

está matiiculado como cocheiro. — E. R. M.—<br />

<strong>Coimbra</strong>, 2 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895. —José Pereira<br />

Serrano.»<br />

«Passe. — <strong>Coimbra</strong>, 2 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895—<br />

0 vice-presi<strong>de</strong>nte, Araujo Pinto.»<br />

«Eduardo Oliveira Lopes Macedo, primeiroofficial<br />

da secretaria da camara municipal <strong>de</strong><br />

<strong>Coimbra</strong>, servindo <strong>de</strong> secretario da mesma camara:<br />

Certifico que dos registros existentes n'esta secretaria,<br />

consta que a Annibal Travassos, d'esta cida<strong>de</strong>,<br />

foi conferido em vinte <strong>de</strong> junho do corrente<br />

anno o competente alvará para po<strong>de</strong>r exercer a<br />

arte <strong>de</strong> cocheiro neste concelho, por virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

exame a que o mesmo individuo se sujeitou, segundo<br />

se vê da nota lançada na guia expedida por<br />

esta secretaria em <strong>de</strong>senove do referido mez; não<br />

constando dos mesmos registros que tivesse sido<br />

conferido egual alvará ao individuo apontado no<br />

requerimento retró João da Cruz. Por verda<strong>de</strong> se<br />

passou a presente. Secretaria da camara municipal<br />

<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, 3 doulubro <strong>de</strong> 1895 (e cinco).<br />

— Eduardo Oliveira Lopes Macedo.»<br />

dante acordado; já lhe fez algumas observações;<br />

e sabe o que elle lhe respon<strong>de</strong>u: «Que<br />

quem tem medo, compra um cão!» O nosso<br />

immediato saiu, e não lhe respon<strong>de</strong>u nada, e<br />

d:sse-me :<br />

«O commandante mandou conservar no<br />

rumo do norte, estando nós entre a Ponte<br />

da Europa e a mina <strong>de</strong> Ceuta! O homem<br />

está doido, ou quer o navio encalhado! Mas<br />

guarda isto para ti e não digas nada á marinhagem.»<br />

O pratico respon<strong>de</strong>u:<br />

— Mas então o que será <strong>de</strong> nós! E' verda<strong>de</strong><br />

que o commandante mandou ás oito<br />

horas proseguir no rumo do norte e continuar<br />

a bordada com pouco panno; mas o<br />

vento é muito, e a fragata não aguenta a<br />

véla gran<strong>de</strong> na amura.<br />

O temporal crescia e a fragata rolava<br />

mais do que seguia. A's tres horas da madrugada<br />

o oflicial <strong>de</strong> quarto dirigiu-se á camara<br />

e perguntou:<br />

— Senhor commandante, quer virar antes<br />

do quarto rendido ou na occasião que toda<br />

a gente estiver em cima?<br />

— Não senhor, respon<strong>de</strong>u elle com insolência,<br />

os senhores são uns medrosos incorrigíveis.<br />

.. como segue o tempo?<br />

(Continúa.)


DEFENSOR I>O IP OVO — 1.° ANNO<br />

COLLECÇÃO PAULO DE KOCK<br />

Obras publicadas<br />

O Coitadinho, 1 vol. 480 pag<br />

Zizina, 1. vol. illustrado<br />

O Homem dos Tres Calções, 1 vol.<br />

illustrado<br />

Irmão Jacques, 2 vol. illustrados. .<br />

3STo prelo<br />

.4 Irmã Anna, 2 vol.<br />

600<br />

600<br />

600<br />

800<br />

Para qualquer d'estas obras acceitam-se<br />

assignaturas era <strong>Coimbra</strong> na<br />

Agencia <strong>de</strong> Negocios Universitários<br />

Venda <strong>de</strong> casas ao Calhabé<br />

Ven


PÍ. 0 5 0<br />

Defensor<br />

Itica e aiist<br />

A sabia politica e a boa administração<br />

das nossas vastas e ricas províncias ultramarinas<br />

está reduzida, por parte do actual<br />

governo, a méros expedientes <strong>de</strong> occasião.<br />

Tem-se limitado a sua activida<strong>de</strong>, dirigente<br />

e previ<strong>de</strong>nte, a organisar, á pressa e<br />

<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nadamente, uma ou outra expedição<br />

militar insuficientíssima para reprimir a<br />

revolta do gentio e castigar os revoltosos,<br />

com pesadíssimos encargos para o thesouro<br />

publico, doloroso e, para mais, inútil sacrifício<br />

<strong>de</strong> muitas vidas, sem resultado algum<br />

pratico, que possa garantir a or<strong>de</strong>m e a segurança<br />

em nossas colonias, a sua conservação<br />

e futuro <strong>de</strong>senvolvimento agrícola e<br />

commercial.<br />

E' certo que a pacificação çTaqtiellàs<br />

regiões e a sujeição dos rebel<strong>de</strong>s ao nosso<br />

domínio economico e soberania politica é<br />

condição primaria, indispensável á manutenção<br />

e progresso do nosso patrimonio colonial.<br />

Isso porém não basta.<br />

Ha muito tempo que os governos <strong>de</strong><br />

Portugal <strong>de</strong>viam ler cuidadosamente estudado,<br />

e posto em execução um syslema regular<br />

e aperfeiçoado <strong>de</strong> sabia politica e boa<br />

administração, por meio do qual, promovendo<br />

e realisando, d'um modo efficaz e<br />

proveitoso, a prosperida<strong>de</strong> das nossas provincias<br />

ultramarinas da Africa e na índia,<br />

evitasse a revolta dos indígenas, e contivesse<br />

no <strong>de</strong>vido respeito as ávidas nações<br />

da Europa, nomeadamente a Inglaterra, que<br />

não recua <strong>de</strong>anle dos meios mais baixos e<br />

dos mais ignóbeis expedientes, para nos<br />

expoliar e chamar a si o que é nosso, muito<br />

nosso, e só a nós <strong>de</strong> facto e por direito pertence.<br />

Votadas, porém, ao abandono, a um<br />

quasi syslematico <strong>de</strong>sprezo, as nossas possessões,<br />

que são parte integrante e valiosa<br />

do territorio portuguez, penhor da nossa<br />

imporlancia internacional, esquecidos, mal<br />

tratados em lodo o sentido os seus habitantes,<br />

que em gran<strong>de</strong> parte são cidadãos portuguezes,<br />

e como laes <strong>de</strong>viam ser havidos e<br />

tratados, não é para estranhar que os indígenas<br />

e os proprios colonos se revoltem, e<br />

que as outras nações, invocando o principio<br />

da expropriação por utilida<strong>de</strong> publica, os<br />

direitos da humanida<strong>de</strong>, os interesses e<br />

aspirações da civilisação, nos espoliem, e<br />

<strong>de</strong>sapossem do que por ignorancia. incúria<br />

e <strong>de</strong>sleixo é em nosso po<strong>de</strong>r improductivo,<br />

prejudicando assim as conveniências e lesando<br />

os direitos <strong>de</strong> outros, que na Africa e<br />

na índia são nossos visinhos e também possuidores<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s e po<strong>de</strong>rosas extensões<br />

<strong>de</strong> lerritorio, que elles utilmente aproveitam,<br />

sabiamente governam e administram.<br />

Ao passo que oulras nações tem adiantado<br />

e feito progredir notavelmente as suas<br />

colonias, e d'ellas sabido tirar abundantes<br />

recursos, adquirir cada anno maior força e<br />

predomínio entre as outras nações da Europa<br />

e gran<strong>de</strong> prestigio em todo o mundo,<br />

Portugal, que já foi a maior e mais opulenta<br />

das potencias coloniaes, vê largamente cerceado<br />

e consi<strong>de</strong>ravelmente reduzido o seu<br />

patrimonio colonial; as suas possessões<br />

ultramarinas somente representam, para o<br />

oulr'ora po<strong>de</strong>roso senhor do Oriente, uma<br />

velha <strong>de</strong>coração histórica, uma dispendiosa<br />

ostentação <strong>de</strong> fidalgo arruinado, origem <strong>de</strong><br />

confliclos, vexames e humilhações vergonhosas.<br />

Servem ainda para mais alguma cousa:<br />

— São um attestado permanente da<br />

incapacida<strong>de</strong> dos noss0s governantes, e<br />

um monumento secular e já agora eterno<br />

para, sem duvida, attestar ao mundo a nossa<br />

antiga'virilida<strong>de</strong> e gran<strong>de</strong>za, mas também<br />

a inépcia, a cobardia, a imbecilida<strong>de</strong>, a<br />

inércia <strong>de</strong> um povo, que se <strong>de</strong>ixa roubar e<br />

escarnecer, <strong>de</strong>ntro e fóra do seu paiz.<br />

O brio do exercito<br />

Tem causado funda impressão o energico<br />

artigo editorial — O brio do exercito — que<br />

o Tempo publicou no seu numero <strong>de</strong> quinta<br />

feira, da penna do respeitável general, sr.<br />

Camara Leme.<br />

E' um protesto violento saído da energia<br />

d'um velho portuguez, com serviços relevantes<br />

á patria, seu leal servidor, que vem<br />

em <strong>de</strong>feza dos brios do nosso exercito, conspurcados<br />

por esses infames dictadores, aos<br />

quaes accusa <strong>de</strong> manterem em Lourenço Marques<br />

— como réprobo ao exercito — um commissario<br />

régio, investido do mais alto grau<br />

hierarchico militar!<br />

Não fugiremos á tentação <strong>de</strong> transcrever<br />

doeste brilhante artigo, alguns períodos, já<br />

que o não po<strong>de</strong>mos dar na integra por falta<br />

<strong>de</strong> espaço.<br />

Começa por estas enthusiastas palavras:<br />

«Foi sempre a honra a mais valiosa moeda com que<br />

se galardoaram feitos <strong>de</strong> armas e annos consumidos<br />

por acampamentos e bivaques, com sacrifício da própria<br />

vida. Ainda hoje o é, e sel-o-ha sempre, porque<br />

a religião das ban<strong>de</strong>iras impõe como primeiro <strong>de</strong>ver a<br />

abnegação heróica e o <strong>de</strong>sprendimento <strong>de</strong> toda a commodida<strong>de</strong><br />

pessoal.<br />

«Trata-se <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a ban<strong>de</strong>ira que tem por iemma<br />

as quinas, a cruz e a espada, essa ban<strong>de</strong>ira boje tão humilhada<br />

e tão heróica outr'ora, <strong>de</strong>sfraldada com assombro<br />

nos confins do mundo. Organisam-se forças do<br />

exercito da inetropole, e nem ura único soldado se recusa<br />

a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a sua patria, affrontando os perigos do<br />

clima, não inferiores aos do inimigo que vae combater.<br />

«O governo, porém, submette ás or<strong>de</strong>ns d'um commissario<br />

régio, embora cavalheiro <strong>de</strong> reconhecida iilustração,<br />

a quem investe do mais alto gráo biefarchico<br />

militar, officiaes <strong>de</strong> patentes superiores e encanecidos<br />

no serviço I Fére a dignida<strong>de</strong> d'uma classe que abdica<br />

da vonta<strong>de</strong> pela disciplina, da conservação pelo perigo,<br />

do interesse pela modicida<strong>de</strong>, quasi pobreza, da sua<br />

pagai<br />

«Nobre exemplo <strong>de</strong> disciplina, tão pouco apreciado,<br />

<strong>de</strong>plorável contraste do <strong>de</strong>ver.<br />

«Quando na nossa riquíssima possessão <strong>de</strong> Moçambique<br />

se reclamava um militar <strong>de</strong> patente superior,<br />

bravo e intelligente, para dirigir a melindrosa politica<br />

internacional e as operações militares d'aquella preciosa<br />

pérola da corôa portugueza, o governo usurpador<br />

<strong>de</strong> todas a regalias constitucionaes, exercendo a mais<br />

nefasta dictadura com manifestos intuitos autocratas,<br />

conserva, n'esta grave conjunctura, em Lourenço Marques,<br />

um funccionario alheio á nobre profissão das armas,<br />

com or<strong>de</strong>nado <strong>de</strong> príncipe, ferindo assim o <strong>de</strong>coro<br />

dos officiaes do exercito portuguez I<br />

«E o sr. ministro da guerra, a quem estão confiados<br />

os <strong>de</strong>stinos do exercito, a sua honra e a sua dignida<strong>de</strong>,<br />

ainda está nos conselhos da corôa 11!<br />

«Mas o sr. ministro da guerra continua a gastar os<br />

dinheiros do paiz em manobras inúteis, em reformas e<br />

promoções dispendiosas, preoceupando-se pouco com<br />

os brios do exercito, e o sr. Ennes, aliás distincto escriptor<br />

e dramaturgo, conserva-se em Lourenço Marques,<br />

como se fosse rei d'aquelia possessão.<br />

«Oxalá que não venha <strong>de</strong> la com apontamentos para<br />

uma tragedia tétrica, intitulada: A perda <strong>de</strong> Moçambique<br />

ou a humdhaçao <strong>de</strong> Portugal.<br />

E termina por esta <strong>de</strong>claração patriótica:<br />

«Eu que tenho sempre pugnado pelos interesses legítimos<br />

do exercito na imprensa e no parlamento, ainda<br />

tenho voz, comquanto débil, e penna comquanto mal<br />

aparada, para continuar com energia na brecha, pugnando<br />

pela honra offendida do exercito portuguez.»<br />

Portuguez <strong>de</strong> lei — d'antes quebrar que<br />

torcer — ha <strong>de</strong> cumprir a sua palavra.<br />

Que não é palavra <strong>de</strong> rei!...<br />

•©


DEFENSOR DO PQVO — 1.° ANNO<br />

LIBERDADE RELIGIOSA<br />

(CONCLUSÃO)<br />

Ora, Egreja <strong>de</strong> Roma, que se pronuncia<br />

<strong>de</strong> ter tido S Pedro como o primeiro dos<br />

seus pontífices, não tendo coragem para anathematisar<br />

S. Pedro, obtivera todavia esse<br />

espirito fraternal e universalista da sua doutrina,<br />

e agarra-se a S. Pedro, representante<br />

<strong>de</strong> toda a intolerância do Velho Testamento.<br />

Assim se explica como todas as heresias,<br />

ao separarem-se <strong>de</strong> Roma, vão sempre procurar<br />

em S. Paulo a doutrina que lhe hão <strong>de</strong><br />

oppôr.<br />

O catholicismo segue S. Pedro, pontífice<br />

da nova synagoga; o protestantismo segue<br />

S. Paulo, o apostolo do Christinaismo universalista.<br />

Ora o exame vagaroso e reflectido dos<br />

Evangelhos dá razão a S. Paulo contra S.<br />

Pedro, ás heresias contra o catholicismo, ao<br />

espirito da liberda<strong>de</strong> contra a intolerância<br />

sectaria.<br />

Assim não nos <strong>de</strong>ve maravilhar que, ao<br />

passo que os catholicos faliam ainda em perseguições<br />

odientas, como se houvéramos regressado<br />

aos tempos medievaes, o príncipe<br />

<strong>de</strong> Bismarck, o homem da força, o homem<br />

da guerra, tivesse <strong>de</strong>clarado terminantemente,<br />

no parlamento germânico, em 16 <strong>de</strong> março<br />

<strong>de</strong> 1875, que havia <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r sempre a liberda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> consciência dos allemães.<br />

Verda<strong>de</strong> seja que Bismarck se contradisse,<br />

quando ao passo que <strong>de</strong>fendia a liberda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> consciência em matéria religiosa — como<br />

faz todo o christão não papista — elle calcava<br />

aos pés a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consciência em<br />

matéria politica, perseguindo sem trégua os<br />

socialistas. Mas, por agora, é da liberda<strong>de</strong><br />

religiosa que estou tratando...<br />

•<br />

Não receiem os reaccionários que a liberda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>genere em licença. A licença não é<br />

mais que o resultado da compressão. Se o<br />

pensamento politico soffre peias, <strong>de</strong>sperte o<br />

pensamento religioso, ou melhor, anti-religioso.<br />

Se é esta que preten<strong>de</strong>m coarctar,<br />

ievanta-se o pensamento politico. As apreciações<br />

são exaggeradas, violentas. Se por<br />

acaso não <strong>de</strong>ixam analysar as theorias, o<br />

combate volve-se então contra as pessoas,<br />

n'um <strong>de</strong>plorável excesso <strong>de</strong> linguagem.<br />

Dae liberda<strong>de</strong> a cada qual <strong>de</strong> dizer e escrever<br />

o que quizer. Rodrigues Sampaio<br />

cria que a liberda<strong>de</strong> tivesse a força verda<strong>de</strong>ira<br />

em si mesmo.<br />

Espera já uma objecção; das mais eloquentes<br />

porque não se engalana <strong>de</strong> theorias<br />

abstractas, mas surge com toda a crueza<br />

dos factos. Hão <strong>de</strong> fallar-me nos, já acima<br />

referidos, acontecimentos do dia 3o <strong>de</strong> julho<br />

ultimo.<br />

Mas que querem os catholicos ?... Desconhecerão<br />

elles por ventura o proloquio que<br />

diz que — quem semeia ventos colhe tempesta<strong>de</strong>s<br />

?...<br />

Ora os catholicos semearam duas especies<br />

<strong>de</strong> ventos, <strong>de</strong> que resulta para elles,<br />

agora uma só especie <strong>de</strong> tormenta.<br />

Nos seus tempos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>rio, prégaram e<br />

praticaram a intolerância por largos annos,<br />

por séculos. O habito inveterado torna-se<br />

instincto pela hereditarieda<strong>de</strong>. De fórma que,<br />

emquanto o povo não reagir por uma sã disciplina<br />

mental contra o habito adquirido, por<br />

herança, da intolerância, elle, ou no sentido<br />

catholico ou no sentido anti-catholico, será<br />

intolerante.<br />

Os catholicos pagaram em 3o <strong>de</strong> julho<br />

uma parcella minima da sua divida histórica,<br />

e oxalá não paguem mais!<br />

Por outro lado, aquelles que se emanciparam<br />

do dogma catholico, mas que conhecem,<br />

mais ou menos a historia sangrenta do<br />

catholicismo intolerante, temendo da possibilida<strong>de</strong><br />

d'um regresso a tão abominado passado,<br />

tornam-se facilmente ferozes na <strong>de</strong>feza<br />

das liberda<strong>de</strong>s conquistadas.<br />

E ahi têm as duas especies <strong>de</strong> causas dos<br />

acontecimentos <strong>de</strong> 3o <strong>de</strong> julho.<br />

•<br />

E hão <strong>de</strong> confessar os catholicos que a<br />

linguagem dos seus jornaes, cheia <strong>de</strong> odio,<br />

prenhe <strong>de</strong> ameaças, respirando sempre intolerância,<br />

não é <strong>de</strong> mol<strong>de</strong> a pacificar os espíritos,<br />

antes, dia a dia, mais os exacerba.<br />

E tenho dito.<br />

HELIODORO SALGADO.<br />

ESMOLA<br />

Pedimos com instancia uma esmola para<br />

uma pobre familia, privada <strong>de</strong> lodos os recursos<br />

e a braços com uma Irisle sorte.<br />

Bem merecido é qualquer auxilio que<br />

se lhe conceda.<br />

N'esla redacção se recebe qualquer donativo.<br />

O RETRATO OVAL<br />

(De Edgar Poe)<br />

O Castello em que o meu creado quiz penetrar<br />

a toda a força, para não me <strong>de</strong>ixar<br />

passar a noite ao ar livre assim tão melindrosamente<br />

doente como estava, tinha a gran<strong>de</strong>za<br />

melancholica dos velhos solares dos<br />

Apenninos- Com as suas ameias <strong>de</strong>smoronadas<br />

e as suas torres em ruina, este Castello<br />

fazia lembrar os romances da senhora <strong>de</strong><br />

Radcliffe.<br />

Os donos tinham-n'o abandonado sem<br />

duvida havia ainda pouco tempo. Installámo-nos<br />

n'um dos compartimentos mais pequenos<br />

e mais simplesmente mobilados, situados<br />

em uma aza do edifício. A <strong>de</strong>coração<br />

<strong>de</strong>ste compartimento era antiga e rica.<br />

Sobre as tapeçarias que cobriam todas as<br />

pare<strong>de</strong>s alternavam-se tropheus heráldicos <strong>de</strong><br />

toda a especie com quadros mo<strong>de</strong>rnos em<br />

molduras <strong>de</strong> oiro finamente cinzeladas. Na<br />

febre do meu <strong>de</strong>lírio, tomei um vivo interesse<br />

por estes quadros que estavam suspensos<br />

não só nas faces principaes das pare<strong>de</strong>s, mas<br />

ainda em uma multidão <strong>de</strong> cantos formados<br />

pela estranha architectura do castello; or<strong>de</strong>nei<br />

também a Pedro que fechasse todas as<br />

janellas, que accen<strong>de</strong>sse um gran<strong>de</strong> can<strong>de</strong>labro<br />

<strong>de</strong> varias luzes que estava collocado á<br />

minha cabeceira e que abrisse completamente<br />

os cortinados do meu leito que eram <strong>de</strong> veludo<br />

com franjas <strong>de</strong> pratas. D^ste modo,<br />

podia eu, em caso <strong>de</strong> insomnia, distrahir-me<br />

com o espectáculo d'estes quadros, lendo simultaneamente<br />

um pequeno volume que tinha<br />

encontrado <strong>de</strong>baixo do travesseiro e que<br />

continha mui <strong>de</strong>talhamente a apreciação <strong>de</strong><br />

cada um d'elles.<br />

Li muito, contemplando sempre com<br />

gran<strong>de</strong> pieda<strong>de</strong> aquellas formosas telas. As<br />

horas corriam-me rapidas em tão gloriosa<br />

companhia e bem <strong>de</strong>pressa soou a meia noite.<br />

Importunado pela posição do candalabro<br />

e não querendo <strong>de</strong>spertar o creado, fiz o esforço<br />

<strong>de</strong> esten<strong>de</strong>r um braço e colloquei a luz<br />

<strong>de</strong> fórma que alumiasse bem o meu livro.<br />

Mas fui indubitavelmente pouco hábil n'este<br />

serviço, porque os raios da luz cahiram sobre<br />

um canto da sala que uma columna do leito<br />

tinha até ahi coberto <strong>de</strong> sombra. Divizei<br />

então uma tela que me tinha escapado completamente<br />

a principio. Era um retrato <strong>de</strong><br />

mulher ainda nova, mas já feita e quasi senhora.<br />

Depois <strong>de</strong> o contemplar rapidamente,<br />

fecharam-se-me os olhos <strong>de</strong> repente sem saber<br />

porquê. Emquanto tive os olhos assim<br />

fechados, quiz dar razão a mim mesmo do<br />

motivo porque os fechava ; mas a minha conclusão<br />

foi apenas um movimento involuntário<br />

para <strong>de</strong>pois pensar melhor, para me certificar<br />

que os meus olhos não tinham sido<br />

enganados, para acalmar o meu espirito e<br />

preparar-me assim para um exame mais frio<br />

e mais seguro. Passados pois alguns minutos<br />

fixei <strong>de</strong> novo o quadro com muita attenção.<br />

D'esta vez não podia enganar-me ácerca<br />

da niti<strong>de</strong>z do meu olhar, porque o primeiro<br />

raio <strong>de</strong> luz cahido sobre a tela afastou completamente<br />

o sonhador entorpecimento dos<br />

meus sentidos, chamando-me á vida real.<br />

Era, como já disse, um retrato <strong>de</strong> mulher,<br />

uma simples cabeça, sustentada por<br />

dois formosos hombros, <strong>de</strong>senhado tudo no<br />

estylo <strong>de</strong> vinhetas.<br />

. Reconhecia-se immediatamente a maneira<br />

<strong>de</strong> Sully nas suas melhores composições. Os<br />

braços, o pescoço, os anneis do cabello fundiam-se<br />

harmoniosamente com a sombra vaga<br />

que servia <strong>de</strong> fundo á tela.<br />

A muldura oval estava dourada e cinzelada<br />

no gosto mourisco.<br />

(Continua)<br />

AUGUSTO GRANJO.<br />

• • •<br />

O rei não tem medo!<br />

Nem tem que ter, quem tem por si as<br />

armas da guarda pretoriana; quem tem a<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>l-o os milhares <strong>de</strong> servidores, que<br />

com elle têm exhaurido as riquezas publicas,<br />

que com elle têm attentado contra as liberda<strong>de</strong>s.<br />

..<br />

Já não é da mesma opinião a Provinda,<br />

da invicta cida<strong>de</strong>, que tem fóros <strong>de</strong> baluarte<br />

da liberda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> rebeldia ás instituições.<br />

Ouçamol-a:<br />

«Os dietadores espalham que o rei não lem<br />

medo <strong>de</strong> uma revolta, porque tem muito que comer,<br />

se % exilado. Ha muito que isto se assevera<br />

frequentemente. E na verda<strong>de</strong>, os acontecimentos<br />

parecem dar razão a estes boatos.<br />

«Convençam-se todos <strong>de</strong> que a revolução ha <strong>de</strong><br />

vir e muito breve, porque este estado <strong>de</strong> coisas<br />

não pô<strong>de</strong> manter-se. E uma revolução que agora<br />

rebente não será uma simples revolta que só produza<br />

o effeito <strong>de</strong> se mudar <strong>de</strong> um regimen <strong>de</strong>spotieo<br />

para outro regimen liberal.»<br />

São os exemplos que a historia nos tem<br />

dado.<br />

Porque nem sempre os favos tem mel!...<br />

CARTA DE LISBOA<br />

18 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> i8g5<br />

E' evi<strong>de</strong>ntíssimo que a viajata real obe<strong>de</strong>ce<br />

a planos políticos.<br />

A intenção, transparece claramente.<br />

Mais um disparate do grutesco gabinete,<br />

que para ahi tem usado e abusado do po<strong>de</strong>r<br />

discrecionario.<br />

As consequências são bem visíveis e as<br />

dificulda<strong>de</strong>s em que o monarcha se vê actualmente,<br />

não são tão fáceis <strong>de</strong> remediar como<br />

parece.<br />

Pois que? Se ha no extrangeiro negocios<br />

<strong>de</strong> alta diplomacia a tractar, não é aos governos<br />

e seus representantes que compete<br />

resolvel-os e harmonisal-os?<br />

Pobre monarchia, que chegou ao ponto<br />

<strong>de</strong> ser mandado em commissão fóra do paiz,<br />

por <strong>de</strong>terminação dos seus ministros, para<br />

aplanar difficulda<strong>de</strong>s que elles, os déspotas<br />

fim <strong>de</strong> século, não pó<strong>de</strong>m ou não sabem resolver!.<br />

..<br />

Se o rei encontrou obstáculos sérios, na<br />

visita ao rei <strong>de</strong> Italia e ao papa-rei, não os<br />

encontrará <strong>de</strong>certo menos sérios, na visita ao<br />

Imperador <strong>de</strong> Allemanha...<br />

Os resultados <strong>de</strong> tão pouca acisada or<strong>de</strong>m,<br />

estão sendo muito bem apreciados pelas imprensas<br />

hespanhola, italiana, belga e allemã,<br />

on<strong>de</strong> o nome portuguez é <strong>de</strong>sapiedadamente<br />

melindrado e rebaixado.<br />

Pois imaginam estes tartufos que as questões<br />

internacionaes se tractam tão fácil e<br />

levianamente, como tem tratado e regulado as<br />

mais insignificantes pen<strong>de</strong>ncias internas?!...<br />

Não calculam aquellas medianas intelligencias,<br />

que o proprio paiz tem notado sempre<br />

a sua falta <strong>de</strong> tino governativo, e que se<br />

tem tolerado tanto abuso, tanto disparate, é<br />

porque se encontra n'um período <strong>de</strong> transição,<br />

e que espera anciosamente a hora da<br />

revogação <strong>de</strong> tão elevado numero <strong>de</strong> monstruosida<strong>de</strong>s,<br />

e que no extrangeiro não se<br />

subordinam, nem acceitam sem reparo, lições<br />

<strong>de</strong> qualquer entida<strong>de</strong> vulgar, nem mesmo<br />

simples indicações, sem que ellas sejam o<br />

producto <strong>de</strong> estudos <strong>de</strong> valor e <strong>de</strong> combinações<br />

habilmente preparadas?!.. .<br />

Suppõem esses homens que no extrangeiro<br />

não são bem conhecidas as mediocrida<strong>de</strong>s<br />

que, por <strong>de</strong>sgraça nossa, governam os<br />

<strong>de</strong>stinos portuguezes ?!.. .<br />

Se as instituições perigam, se ellas agonisam,<br />

que o agra<strong>de</strong>çam aquelles que prepararam<br />

a antecipação da sua ruina.<br />

Se, ao menos, a ruina fosse apenas das<br />

instituições, insignificante era o prejuízo.<br />

O gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sastre, o gran<strong>de</strong> mal, é que<br />

elles arrastam na sua quéda o prestigio portuguez,<br />

o seu credito externo e as nossas<br />

regalias, implantadas á custa <strong>de</strong> tantos sacrifícios<br />

e <strong>de</strong> tanto sangue <strong>de</strong>rramado. ..<br />

Em todo o caso o monarcha que se entenda<br />

com Rampolla e Crispi e mais tar<strong>de</strong>,<br />

com Faure e Guilherme II!!...<br />

O paiz cá está esperando anciosamente<br />

pela hora do ajuste <strong>de</strong> contas, que <strong>de</strong>ve ser<br />

terrível...<br />

Pena é que não seja tão rápido, como é<br />

nosso anceio...<br />

ARMANDO VIVALDO.<br />

A in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia <strong>de</strong> Cuba<br />

Apezar das muitas noticias oíliciaes que<br />

Martinez Campos faz expedir para a Europa,<br />

dando sempre victorias ás suas tropas, um<br />

telegramma <strong>de</strong> Cayo-Hueso e dirigido á junta<br />

central pela assemblêa reunida em Antón<br />

<strong>de</strong> Puerto Príncipe, participa que <strong>de</strong>pois<br />

d'approvar a constituição e as leis organicas<br />

da Republica, sem discussões, proclamou-se<br />

com gran<strong>de</strong> enthusiasmo a in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia da<br />

ilha, fazendo-se as seguintes nomeações:<br />

Conselho <strong>de</strong> ministros — Presi<strong>de</strong>nte, Salvador<br />

Cisneiros, <strong>de</strong> Puerto Príncipe — vicepresi<strong>de</strong>nte,<br />

Bartolomé Massó, <strong>de</strong> Manzanillo<br />

— guerra, Carlos Roloft, <strong>de</strong> Santa Clara, e<br />

sub-secretario, Mário Menocal, <strong>de</strong> Matanzas<br />

— estado, Rafael Portuondo, <strong>de</strong> Santiago<br />

<strong>de</strong> Cuba, e sub-secretario, Fermín Dominguez,<br />

da Habana — thesouro, Severo Pina,<br />

<strong>de</strong> Sancti Spíritus, e sub-secretario, Joaquim<br />

Castillo, <strong>de</strong> Santiago — interior, Santiago Salinares,<br />

<strong>de</strong> Remedios, e sub-secretario, Carlos<br />

Dubois, <strong>de</strong> Baracoa.<br />

Organisou-se em seguida o exercito, nomeando<br />

general em chefe a Máximo Gómez;<br />

tenente-general Antonio Maceo e generaes a<br />

José Maceo, Serafin Sánchez, Capote, Massó<br />

e o torto Rodriguez. Maceo mandará em<br />

Santiago, Guantánamo e Baracoa; Sánchez<br />

em Las Villas; Capote em Las Tunas e Guaymara;<br />

Massó em Manzanillo, Bayamo e Holguín;<br />

Rodriguez no Camaguey.<br />

Resolveu-se, por ultimo, que era necessário<br />

espalhar a insurreição por Matanzas, dirigindo-se<br />

alli Gómez e Antonio Maceo com<br />

os seus chefes <strong>de</strong> estado maior Periquito<br />

Pérez e Enrique Brook.<br />

Domingo, 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895 — N.° 48<br />

ELEVADOR<br />

Publicamos em seguida a relação dos<br />

subscriptores <strong>de</strong> io a 17 do corrente".<br />

Subscriptores até 501000 réis<br />

A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong> Men<strong>de</strong>s <strong>Coimbra</strong><br />

Adriano Rocha<br />

Albino Gonçalves da Silva Garcia<br />

Antonio Augusto da Silva<br />

Antonio Gonçalves da Silva Garcia<br />

Antonio Jacob Júnior<br />

Antonio José Garcia<br />

Antonio dos Santos Borges<br />

Augusto Coutinho<br />

Augusto Lopes da Costa Pereira<br />

Bertha Braga<br />

Bertha Gama Lobo<br />

Carlos Gama Lobo<br />

Deolinda Duarte Martins d'Araujo<br />

Dulce Gonçalves da Silva Garcia<br />

Ignacia Martins Ribeiro<br />

Joaquim Men<strong>de</strong>s <strong>Coimbra</strong><br />

José da Costa Rainha<br />

José d'01iveira<br />

José Monteiro Pinto Ramos<br />

José dos Santos Marques<br />

Josephina da Conceição Martins Ribeiro<br />

Luiz Augusto Teixeira<br />

Manuel Emygdio Garcia (Doutor)<br />

Manuel José Fernan<strong>de</strong>s Costa<br />

Manuel dos Santos Apostolos Júnior<br />

Maria da Conceição Martins Ribeiro<br />

Maria José Duarte Martins Ribeiro<br />

Mário Augusto Martins d'Araujo<br />

Mário Martins Ribeiro<br />

Margarida Gonçalves da Silva Garcia<br />

Rosa Martins Ribeiro<br />

Subscriptores <strong>de</strong> 50$000 réis<br />

A. s.<br />

Annibal <strong>de</strong> Lima & Irmão<br />

Domingos Antonio Simões da Silva<br />

Felismina Gama Lobo<br />

Francisco d'Almeida Ancór<br />

Germano Augusto Pires<br />

Guilherme Augusto Rocha<br />

João Yieira da Silva Lima<br />

José Augusto Borges d'01iveira<br />

José Francisco da Cruz<br />

José Maria Men<strong>de</strong>s d'Abreu<br />

José Marques Pinto<br />

José Tavares da Costa<br />

Luiza Tavares Martins<br />

Subscriptores <strong>de</strong> 1001000 réis<br />

Augusto Eduardo Ferreira Barbosa (Dr.)<br />

Bernardo Augusto <strong>de</strong> Madureira (Doutor)<br />

Cassianno Augusto Martins Bibeiro<br />

Dulce <strong>de</strong> Castro Martins Alves<br />

Francisco Rodrigues Nazareth<br />

Francisco Yieira <strong>de</strong> Carvalho<br />

João Caetano da Silva Pinto<br />

José Antonio Lucas<br />

José Augusto Quintans Lima<br />

José Bruno Cabedo d Almeida A. e Lencastre (Doutor)<br />

José Cal<strong>de</strong>ira da Silva<br />

Manuel d'Almeida Cabral<br />

Total d'esta subscripção<br />

Dos subscriptores até 500000 4800000 -<br />

» <strong>de</strong> 501000 7000000<br />

» * <strong>de</strong> 1000000 1:2000000<br />

2:3800000 •<br />

Para 6:1900000 '<br />

Falta 3:8100000<br />

Este capital foi obtido nas seguintes<br />

redacções dos jornaes:<br />

Or<strong>de</strong>m 100000<br />

Tribuno Popular 500000<br />

Commercio <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> 700000<br />

Resistencia 2500000<br />

Districto <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> 2500000;<br />

Defensor do Povo 9800000 i<br />

Na casa commercial do sr. José Antonio<br />

Lucas 7700000<br />

Continúa-se a receber nas redacções a subscripção,<br />

bem como na casa do sr' José Antonio<br />

Lucas, á praça do Commereio, e no<br />

consultorio medico do sr. dr. Vicente Rocha,<br />

rua <strong>de</strong> Ferreira Borges.<br />

•••<br />

Cartas na mesa...<br />

O diário hespanhol—Las dominicales <strong>de</strong>i<br />

Libre Pensamiento — não estão com meias<br />

medidas e claramente dizem para que o sr.<br />

D. Carlos saiu do seu paiz e porque anda a<br />

mendigar pelas côrtes extrangeiras, auxilio e<br />

protecção.<br />

Sem papas na lingua, como vereis :<br />

«Foi <strong>de</strong>clarada a dictadura em Portugal.<br />

«Os mantenedores das leis voltai am contra ella<br />

as suas armas. -j i<br />

«Estes factos não se realisam senão quando os<br />

que exercem o po<strong>de</strong>r estão em opposição aberta<br />

com a opinião do povo.<br />

«Assim, comprehen<strong>de</strong>-se que o Bragança, repellido<br />

pela opinião portugueza, haja saido a procurar<br />

no extrangeiro, para se manter, um apoio<br />

que no seu paiz lhe falta.<br />

«A mais evi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>monstração da fraqueza<br />

das instituições portuguezas é esse assalto ás leis<br />

e essa viagem do rei.<br />

«Depois <strong>de</strong> taes actos <strong>de</strong> bandidismo politico,<br />

é inevitável: vêem as revoluções.<br />

«Saudamos com jubilo a próxima revolução<br />

portugueza.»<br />

Todos veem esta situação, menos a monarchia,<br />

menos os ministros.<br />

Uns cegos <strong>de</strong> entendimento l


DEFENSOR r>o P0vo — 1.° ANNO<br />

X L I I I<br />

Estou farto d'arrelias,<br />

hoje — Triaga — não faço.<br />

A culpa é toda do Frias':<br />

— «Bem vé que ha falta <strong>de</strong> espaço»!<br />

••4<br />

Triste anniversario<br />

Fra-Uique.<br />

Passou sexta feira o 78. 0 anniversario que<br />

o gran<strong>de</strong> patriota, general Gomes Freire<br />

d'Andra<strong>de</strong> foi executado na torre <strong>de</strong> S. Julião,<br />

por or<strong>de</strong>m do assassino Beresford, o<br />

general inglez, a quem D. João vi, o monarcha<br />

mais poltrão <strong>de</strong> que reza a historia, entregara<br />

po<strong>de</strong>res <strong>de</strong>scripcionarios.<br />

Não foi permittido ao heroe, morrer fuzilado,<br />

como era seu <strong>de</strong>sejo; o carrasco inglez,<br />

quiz ainda insultal-o na morte, mandando-o<br />

enforcar.<br />

No entanto a revolução <strong>de</strong> 1820, vingou<br />

a sua memoria, e Beresford foi intimado a<br />

sair <strong>de</strong> Portugal quando regressava do Brazil<br />

e pretendia assumir as funcções <strong>de</strong> general<br />

do exercito portuguez.<br />

E ainda hoje a Inglaterra é a Jiel alliada!<br />

Vergonhoso opprobio!<br />

Assumptos <strong>de</strong> interesse local<br />

Elevador<br />

Temos finalmente esperanças <strong>de</strong> que a<br />

continuar o pouco <strong>de</strong> enthusiásmo, que se<br />

está notando na cida<strong>de</strong>, e os <strong>de</strong>sejos que se<br />

mostram pela realisação <strong>de</strong>ste melhoramento,<br />

teremos em breve constituída a companhia e<br />

as obras principiadas.<br />

O auxilio benefico que <strong>de</strong>ram alguns accionistas,<br />

a quem cabem os maiores elogios,<br />

dobrando as suas acções, animou os medrosos<br />

e incitou os indifferentes, pois bastantes<br />

inscripções se têm feito, concorrendo indivíduos<br />

<strong>de</strong> todas as classes.<br />

Está-se produzindo no espirito publico<br />

uma certa confiança pela empreza e a estabelecer-se<br />

por toda a parte uma pronunciada<br />

sympathia, que muito nos regosija, por vermos<br />

que se faz justiça ao sr. Raul Mesnier,<br />

o incansavel e constante trabalhador, energicoe<br />

corajoso, pois que apesar das contrarieda<strong>de</strong>s<br />

que tem tido, não <strong>de</strong>sanimou e soube,<br />

com persistência, esconjurar a indifferença<br />

publica, que esteve a trucidar-lhe a sua iniciativa<br />

por alguns annos.<br />

Cabe aqui o ditado: — Quem porfia, sempre<br />

alcanca.<br />

•<br />

Para elucidar os nossos leitores, quanto<br />

ás vantagens que offerecem aos accionistas as<br />

acções <strong>de</strong> 25o$ooo réis, diremos que dão<br />

ellas pasáagem vitalícia e gratuita no elevador,<br />

subsistindo para com her<strong>de</strong>iros ou compradores.<br />

Estas acções são pagas por uma só<br />

vez.<br />

E', como se vê, <strong>de</strong> vantagem superior<br />

para os que têm necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> subir todos<br />

os dias ao bairro alto, esta commodida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

fazerem as ascenções que quizerem, sem incommodos<br />

<strong>de</strong> bilhetes e <strong>de</strong> pagas.<br />

Os empregados públicos que estiverem<br />

nas condições <strong>de</strong> obter uma acção <strong>de</strong>ste<br />

preço, além do divi<strong>de</strong>ndo que receberão, têm<br />

a mais o interesse <strong>de</strong> viajarem gratuitamente<br />

no elevador.<br />

21 Folhetim—«Defensor do Povo»<br />

0 CORSÁRIO PORTIGIEZ<br />

ROMANCE MARÍTIMO<br />

ORIGINAL DE<br />

CAPITULO IV<br />

O naufragio<br />

—Mau, muito mau, commandante, quando<br />

os aguaceiros caem, nem eu sei como as<br />

gavias ficam inteiras! A fragata adorna, e<br />

o pratico diz que é preciso virar quanto<br />

antes, porque abate muito, e po<strong>de</strong>mos ficar<br />

ensacados.<br />

— Deixe fallar o pratico, que é um parvo,<br />

e o senhor não sabe nada d'isto! Quanto<br />

<strong>de</strong>ita a fragata?<br />

— Tres milhas.<br />

— Pois bem, prosiga na bordada, e <strong>de</strong>ixe<br />

o resto por minha conta.<br />

O official retirou-se indignado, e veiu<br />

para a coberta, aon<strong>de</strong> a marinhagem já fatiava<br />

muito por conhecer o perigo.<br />

Esta redacção continúa a receber as assignaturas<br />

dos indivíduos que queiram contribuir<br />

para um melhoramento tão importante,<br />

que, sem duvida, ha <strong>de</strong> <strong>de</strong>smentir com factos,<br />

os receios que a principio foram a causa <strong>de</strong><br />

se ter addiado o seu funccionamento.<br />

Oxalá que o elevador seja o ponto <strong>de</strong><br />

partida para que esta cida<strong>de</strong> encontre, nos<br />

seus habitantes o estimulo e a <strong>de</strong>dicação precisa<br />

a po<strong>de</strong>rem dar-lhes os melhoramentos<br />

indispensáveis, e a levantal-a na importancia<br />

material que <strong>de</strong>ve ter, quem se pavoneia <strong>de</strong><br />

terceira cida<strong>de</strong> do reino.<br />

São estes, os nossos votos — estas, as<br />

nossas aspirações.<br />

E que todos os conimbricenses d'ellas compartilhem.<br />

•<br />

Logo que possamos dispor <strong>de</strong> espaço,<br />

daremos umas notas circumstanciadas e elucidativas,<br />

ácerca da <strong>de</strong>speza necessaria para<br />

a exploração do caminho <strong>de</strong> ferro funicular,<br />

em plano inclinado, <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>; além <strong>de</strong><br />

outras disposições <strong>de</strong> caracter administrativo,<br />

que mais hão <strong>de</strong> convencer os nossos leitores<br />

e o publico das vantagens do elevador,<br />

e da previ<strong>de</strong>ncia do sr. Mesnier, que soube<br />

evitar que a administração da companhia se<br />

converta em provento e conezia <strong>de</strong> futuros<br />

directores.<br />

Premio «Sousa Pinto»<br />

Este acto <strong>de</strong> benemerencia, que commemora<br />

o nome iliustre d^ste eminente professor<br />

e honrado cidadão, iniciado por sua extremosa<br />

filha, senhora <strong>de</strong> altos sentimentos<br />

civicos — está merecendo os louvores <strong>de</strong> todos,<br />

quem tão nobremente consagra a memoria<br />

<strong>de</strong> seu iliustre pae.<br />

Decidiu a direcção da socieda<strong>de</strong> Philantropico-Aca<strong>de</strong>mica,<br />

encarregada <strong>de</strong> cumprir<br />

esta doação, conce<strong>de</strong>r o premio Sousa Pinto<br />

— ao laureado estudante <strong>de</strong> medicina, sr,<br />

Jayme Corrêa <strong>de</strong> Sousa, que no ultimo anno<br />

lectivo obteve classificação superior. Também<br />

a Philantropica lhe estabeleceu um subsidio<br />

mensal.<br />

Os estudantes protegidos, este anno, para<br />

pagamento <strong>de</strong> matriculas e propinas, são os<br />

srs.: — Albino Joaquim Gomes e Sergio Augusto<br />

Parreira, do i.° anno <strong>de</strong> medicina; Manuel<br />

Augusto d'Andra<strong>de</strong>, do 2.°anno <strong>de</strong> theologia;<br />

e Alfredo Moraes d^lmeida, do 3."<br />

anno da mesma faculda<strong>de</strong>.<br />

Foi approvado, que em nome da aca<strong>de</strong><br />

mia <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> — por ser a única socieda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> estudantes constituída — se enviasse uma<br />

mensagem <strong>de</strong> pezames á viuva do gran<strong>de</strong><br />

sábio, sr. Pasteur.<br />

«Sá, <strong>de</strong> Miranda e a sua obra»<br />

Apparecerá brevemente um estudo biographico<br />

e critico do redactor do Repórter,<br />

sr. Décio Carneiro (Decar), commemorando<br />

o 4. 0 centenário do notável poeta conimbricense,<br />

Sá <strong>de</strong> Miranda, que introduziu e propagou<br />

a escóla classico-italeina em Portugal.<br />

Esta obra constará <strong>de</strong> 800 paginas, em<br />

4. 0 francez e magnifico papel, sendo o seu<br />

preço <strong>de</strong> 400 réis.<br />

Tuna académica<br />

Em breve <strong>de</strong>ve começar os trabalhos <strong>de</strong><br />

reconstituição da antiga é applaudida Tuna<br />

académica que o anno passado tanto nos <strong>de</strong>liciou<br />

com os seus concertos.<br />

O pratico, ao vêr o oflicial, perguntoulhe:<br />

— Então que or<strong>de</strong>nou o commandante ?<br />

— Uma tolice; mandou proseguir na bordada.<br />

O jxibre homem ficou aterrado e foi procurar<br />

Carlos:<br />

— Então, senhor immediato, o que me<br />

diz?<br />

— Nada o commandante teima, e eu já<br />

he observei o que tínhamos a fazer, não<br />

quiz acceitar as minhas i<strong>de</strong>ias; a responsabilida<strong>de</strong><br />

é d'elle.<br />

— Mas, senhor, redarguiu elle, torcendo<br />

as mãos com <strong>de</strong>sespero, attenda vossa mercê,<br />

que estamos entre a vida e a morte! Entre<br />

o abysmo e a salvação! Se não mudámos<br />

<strong>de</strong> rumo, estamos perdidos.<br />

João Traquete approximou-se <strong>de</strong> Carlos<br />

e disse-lhe:<br />

— Eu não me importa morrer, mas ir<br />

assim para o charco é que não tem geito.<br />

Aquelles pobres diabos apontou para a tribulação,<br />

não sabem nada, senão já tinham<br />

atirado com o commandante pelo portalô<br />

fóra. Quem diz, senhor Carlos?<br />

— Digo que és mestre marinheiro, e tens<br />

obrigação <strong>de</strong> sustentar a disciplina.<br />

João encolheu os hombros e retirou-se,<br />

dizendo:<br />

— Sempre o mesmo! Sempre escravo do<br />

seu <strong>de</strong>ver?<br />

Cumprimento<br />

Pelo nosso prezado collega — O Povo da<br />

Figueira sabemos que o extremoso pae do<br />

energico redactor d^quella folha republicana,<br />

sr. Ama<strong>de</strong>u Sanches Barretto está completamente<br />

restabelecido do <strong>de</strong>sastre succedido na<br />

linha ferrea <strong>de</strong> oeste.<br />

Muito nos regosija o facto, e ainda que<br />

tardiamente, vimos apresentar-lhe os nossos<br />

cumprimentos.<br />

- O<br />

O lyceu <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

Por muito tempo a imprensa fez as suas<br />

reclamações contra o estado <strong>de</strong>gradante em<br />

que se encontravam as pare<strong>de</strong>s do lyceu<br />

on<strong>de</strong> a <strong>de</strong>pravação <strong>de</strong> garotos estava impressa<br />

em obscenida<strong>de</strong>s; mas é certo, que, apesar<br />

dos seus esforços, só ha um mez as pare<strong>de</strong>s<br />

foram caiadas, <strong>de</strong>sapparecendo aquella vergonha,<br />

que esteve a attestar bem frizantemente,<br />

a incúria e o <strong>de</strong>sleixo da reitoria<br />

passada.<br />

Outro tanto não succe<strong>de</strong> agora; o novo<br />

reitor já requisitou policia ao sr. commissario,<br />

para terminar com os abusos <strong>de</strong> toda a<br />

casta que alli se praticavam e evitar que a<br />

garotada prosiga na obra <strong>de</strong> immoralida<strong>de</strong>.<br />

Fazem o serviço <strong>de</strong> policia ao lyceu, tres<br />

guardas, que hão <strong>de</strong> conter os díscolos, acabando<br />

o divertimento das troças aos caloiros,<br />

que se fazia todos os annos, no meio da<br />

maior indifferença do antigo director d'aquelle<br />

estabelecimento.<br />

Honra seja feita ao sr. dr. Pereira Guimarães,<br />

que em breves dias conseguiu manter<br />

a disciplina no lyceu, que ha tantos annos<br />

era lettra morta.<br />

Triste<br />

E <strong>de</strong>veras para sentir que alguns académicos<br />

não <strong>de</strong>ixem <strong>de</strong> continuar com as tradicionaes<br />

troupes, para que não nos vejamos,<br />

como hoje, obrigados a reclamar provi<strong>de</strong>ncias<br />

ao sr. reitor e ao sr. commissario <strong>de</strong><br />

policia, que, segundo nos consta, já está inteirado<br />

do que se passou.<br />

Realmente, o caso ultimamente succedido<br />

é para lastimar, pois temos uma <strong>de</strong>sgraça<br />

mais a accrescentar ás muitas, que já tem<br />

havido com tal brinca<strong>de</strong>ira e que todos os<br />

annos acontecem no meio da indifferença das<br />

auctorida<strong>de</strong>s, tanto académicas como'civis.<br />

N'uma das noites passadas o sr. padre<br />

Motta, alumno laureado ao 3.° anno <strong>de</strong> mathematica,<br />

seguia acompanhado dum novato<br />

quando foram suprehendidos por uma troupe.<br />

Não sabemos bem o que se passou mas<br />

o resultado foi o sr. padre Motta receber<br />

uma valente mocada na cabeça.<br />

Isto que <strong>de</strong>ixamos dito é bastante para<br />

que as auctorida<strong>de</strong>s competentes, informadas<br />

do assumpto, se compenetrem do seu <strong>de</strong>ver.<br />

Theatro príncipe real<br />

Continuam a merecer a sympathia do<br />

publico os espectáculos da companhia lyricodramatica,<br />

dirigida pela distincta actriz Dora<br />

Lambertini.<br />

Hoje teremos a celebre operetta, em 3<br />

actos, M. elle Nitouche.<br />

Agouramos uma enchente e muitas palmas<br />

aos dois irmãos Giorgio Lambertini,<br />

uma intelligente e interessante creanca e á<br />

gentil Dora.<br />

A operetta M. elle Nitouche é muito engraçada<br />

e a musica é alegre, tendo também<br />

situações <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> effeito.<br />

Eram quatro horas da madrugada, o temporal<br />

não abrandava; o vento assobiava pelo<br />

arvoredo e a fragata gemia; os trovões eram<br />

medonhos, e toda a marinhagem estava aterrada.<br />

A sentinella da camara assim que a ampulheta<br />

acabou, disse em voz alta:<br />

— Acabou-se a ampulheta! Cabo <strong>de</strong><br />

quarto, são oito.<br />

O cabo disse para o official:<br />

— São oito, senhor tenente.<br />

— Toque, respon<strong>de</strong>u elle, ronda! São<br />

oito, corra o sino.<br />

O sino tocou, e toda a gente veiu para cima.<br />

Nesta occasião porém o official <strong>de</strong> quarto<br />

e o pratico insistiram para se mudar <strong>de</strong><br />

rumo; Carlos foi á camara ter com o commandante.<br />

— Boas noites, senhor commandante.<br />

— Boas noites, senhor immediato, respon<strong>de</strong>u<br />

elle bruscamente.<br />

— Commandante, o pratico diz que <strong>de</strong>vemos<br />

virar ao sul, quando não, encalhamos.<br />

— Ora essa, senhor immediato! Pois<br />

também o senhor tem medo?<br />

— Eu não tenho medo, respon<strong>de</strong>u elle,<br />

mas affrontar o mar com o tempo que está,<br />

é temerida<strong>de</strong>... E nós somos responsáveis<br />

pelas vidas dos súbditos <strong>de</strong> sua magesta<strong>de</strong> e<br />

pela sua fragata...<br />

— Não lhe admitto conselhos, dê-os a<br />

quem lh'os pedir. Aon<strong>de</strong> está a proa ?<br />

Domingo, 20 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895— N.° 50<br />

Associação dos Artistas<br />

Terminaram as matriculas para as aulas<br />

nocturnas d^sta socieda<strong>de</strong>, inscrevendo-se os<br />

seguintes alumnos :<br />

Menores <strong>de</strong> 8 a i5 annos io3<br />

Adultos <strong>de</strong> 16 a 20 annos 26<br />

Ditos <strong>de</strong> 20 a 3o annos 12<br />

Ditos <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 3o annos 8<br />

149<br />

O professor, sr. João da Costa Mello, é<br />

incansavel no ensino e no anno lectivo ultimo<br />

preparou para exame <strong>de</strong> instrucção primaria<br />

no lyceu d'esta cida<strong>de</strong>, os seguintes examinandos<br />

que frequentaram esta aula:<br />

Luiz Duarte Craveiro, <strong>de</strong> 10 annos.<br />

José Rodrigues Marques, <strong>de</strong> i3 annos.<br />

José Alves dos Santos, <strong>de</strong> 23 annos.<br />

José Augusto da Cunha, <strong>de</strong> 35 annos.<br />

Arrematação da carne<br />

Os marchantes fizeram gréve e não houve<br />

concorrentes á arrematação das carnes ver<strong>de</strong>s,<br />

porisso que a camara municipal resolveu<br />

em sessão estabelecer talhos municipaes para<br />

as vendas ao publico.<br />

A resolução não podia ser outra; bom<br />

será que a camara a mantenha e não se dê<br />

com osjalhos, o que se está dando com a<br />

concessão do matadouro.<br />

Havemos <strong>de</strong> fallar no assumpto para o<br />

proximo numero.<br />

Bitoliothecario<br />

Foi nomeado provisoriamente para o logar<br />

<strong>de</strong> bibliothecario da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, o sr.<br />

dr. Francisco Martins, professor da faculda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Theologia, vago pela ausência do<br />

sr. dr. José Maria Rodrigues, que foi tomar<br />

posse do logar <strong>de</strong> reitor do lyceu <strong>de</strong> Lisboa.<br />

Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina<br />

Foram distribuídas vagas aos novos lentes<br />

<strong>de</strong> medicina da seguinte fórma: ao sr.<br />

dr. Lucio Martins da Rocha a <strong>de</strong> pathologia<br />

interna —ao sr. dr. Francisco Basto a <strong>de</strong><br />

physiologia especial.<br />

Nova associação<br />

Reuniram-se alguns constructores civis<br />

para organisarem uma associacão <strong>de</strong> soccorros<br />

aos operários, inutilisados'pelos aci<strong>de</strong>ntes<br />

do trabalho.<br />

A reunião foi nas salas do Grémio Operário<br />

e oxalá que consigam levar a bom<br />

termo os seus esforços, dignos <strong>de</strong> todos os<br />

louvores.<br />

Queixa<br />

Somos informados por um bilhete postal<br />

<strong>de</strong> que um conhecido mestre d'obras, por<br />

questões <strong>de</strong> familia, bater.a nYim seu aprendiz<br />

<strong>de</strong> carpinteiro, filho do sr. Sebastião <strong>de</strong><br />

Mattos.<br />

Pe<strong>de</strong>m-nos para lembrarmos a esse senhor<br />

que não só a lei protege os menores, não<br />

permittindo castigos corporaes, mas que a<br />

moralida<strong>de</strong> d'um chefe <strong>de</strong> familia obriga a<br />

não espancar filhos d'outrem, <strong>de</strong>mais quando<br />

o rapaz não foi castigado por faltas ou erros<br />

no trabalho.<br />

Carlos teve <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> o esganar, mas<br />

conteve-se e respon<strong>de</strong>u-lhe:<br />

— Está a noroeste, quarta <strong>de</strong> éste.<br />

— Quanto <strong>de</strong>ita a fragata?<br />

— Tres milhas, é como se estivesse <strong>de</strong><br />

capa.<br />

— Então não tenha medo, senhor immediato,<br />

prosiga na mesma amura, porque ainda<br />

nos resta muito que correr.<br />

Carlos, que conhecia o perigo, ficou como<br />

fulminado, e esteve para lhe queimar os miolos<br />

ou pen<strong>de</strong>l o e tomar o commando do<br />

navio; mas era um acto <strong>de</strong> insubordinação,<br />

que não podia praticar.<br />

A tripulação guardava profundo silencio,<br />

e a fragata <strong>de</strong>scaía visivelmente.<br />

0( pratico passeava na coberta como<br />

louco! Chegou á amurada e <strong>de</strong>brucou-se na<br />

occasião em que as nuvens, rasgando-se,<br />

pareciam uma cratera. Ao clarão do relampago,<br />

porém, conheceu que a fragata ía encalhar,<br />

retirou-se, e bradou com exaltação<br />

febril do <strong>de</strong>sespero:<br />

— Vira! Vira <strong>de</strong> rumo que encalhamos!<br />

Não teve tempo para dizer mais. Um<br />

choque violento, um estrondo sinistro e pavoroso<br />

se ouviu. A fragata adornou a sotavento!<br />

A ma<strong>de</strong>ira estalou, os cabos quebraram,<br />

e a tripulação ajoelhou pedindo misericórdia<br />

!<br />

f Continua.)


DEFENSOR DO PQVO — 1.° ANNO<br />

R E C L A M E S E A N N U N C I O S<br />

5 RÉIS POR HORA<br />

E' o consumo GARANTIDO do<br />

BICO AUER.<br />

Os outros bicos ordinários consomem<br />

no mesmo tempo 12 a 20 réis.<br />

Encommendas a JOSÉ MARQUES LADEIRA<br />

COIMBRA<br />

99, Rua do Viscon<strong>de</strong> da Luz, 103<br />

JOÃO RODRIGUES BRAGA<br />

SUCCESSOR<br />

17, ADRO DE CIMA, 20 — (Atraz <strong>de</strong> S. Bartholomeu)<br />

2 Armazém <strong>de</strong> fazendas <strong>de</strong> algodão, lã e seda. Yendas por junto e a retalho.<br />

Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> pannos crús. — Faz-se <strong>de</strong>sconto nas compras para<br />

reven<strong>de</strong>r.<br />

Completo sortido <strong>de</strong> coroas e bouquets, fúnebres e <strong>de</strong> gala. Fitas <strong>de</strong><br />

faille, moiré glacé e setím, em todas as cores e larguras. Eças douradas para<br />

adultos e creanças.<br />

Continua a encarregar-se <strong>de</strong> funeraes completos, armações fúnebres e<br />

trasladações, tanto n'esta cida<strong>de</strong> como fóra.<br />

NOVO DEPOSITO DAS MAQUINAS DE GOSTIIBA<br />

I ^ T G - E I R ,<br />

ESTABELECIMENTO<br />

DE<br />

FAZENDAS BRANCAS<br />

DE<br />

MANUEL CARVALHO<br />

29 —Largo do Príncipe D. Carlos —31<br />

Encontra o publico o que ha <strong>de</strong> melhor em fazendas brancas e um completo<br />

sortido das recentes novida<strong>de</strong>s para a estação <strong>de</strong> verão e que esta casa<br />

ven<strong>de</strong> por preços baratíssimos.<br />

Ais verda<strong>de</strong>iras machinas <strong>de</strong> costura<br />

para costureiras, alfaiates e sapateiros, ven<strong>de</strong>m-se no novo<br />

<strong>de</strong>posito em condições, sem duvida, mais vantajosas do<br />

que em qualquer outra casa <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, Porto, ou Lisboa, apresentando sempre<br />

ao comprador um sortido <strong>de</strong> todos os mo<strong>de</strong>los que a mesma Companhia fabrica.<br />

Vendas a prestações <strong>de</strong> aOO réis lemanaefu. A dinheiro,<br />

com gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>scontos.<br />

ENSINO GRÁTIS, no <strong>de</strong>posito ou em casa do comprador.<br />

Na mesma casa executa-se com a maxima perfeição qualquer concerto em<br />

machinas <strong>de</strong> costura, seja qual fôr o auctor, tendo para isso officina montada.<br />

Ao comprador <strong>de</strong> cada machina será offerecído, como brin<strong>de</strong>, um objecto<br />

<strong>de</strong> valor. Dão-se catalogos illustrados, grátis.<br />

Ven<strong>de</strong>-se oleo, agulhas, carros d'algodão, torçaes e peças soltas para todas<br />

as machinas.<br />

B I C O A U E U<br />

29 Por <strong>de</strong>spacho do meritissimo juiz presi<strong>de</strong>nte do<br />

tribunal do commercio do Porto e a requerimento<br />

da Empreza do BICO AUER, foram arrestados<br />

judicialmente, em casa dos srs. Nusse & Bastos,<br />

rua <strong>de</strong> Passos Manoel n.° 14 e rua d'Alegria n.° 867,<br />

d'aquella cida<strong>de</strong>, os bicos <strong>de</strong> contrafacção que estes<br />

srs. tentavam introduzir <strong>de</strong>baixo do nome <strong>de</strong> bico<br />

Invencível, bem como apparelhos e matérias primas<br />

que serviam para a sua fabricação.<br />

E' sabido que os arrestos judiciaes, só se conce<strong>de</strong>m<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> maduríssimo exame dos documen-<br />

tos justificativos dos direitos dos auctores, inquirição<br />

<strong>de</strong> testemunhas e <strong>de</strong>posito e avultada caução, que<br />

no caso actual, foi arbitrada em tres contos <strong>de</strong> réis.<br />

Bastará isto para esclarecer os incautos compradores<br />

<strong>de</strong> bicos <strong>de</strong> contrafacção, adquiridos baratos?<br />

Essa barateza constitue para os srs. compradores<br />

um prejuízo completo por lhes faltar fornecedor<br />

<strong>de</strong> mangas.<br />

Saiu cara, infelizmente, a economia imaginada.<br />

». niEEIRO OSORIO<br />

ALFAIATE<br />

185, l.°—R. Ferreira Borges—185, 1."<br />

Participa aos seus freguezes que<br />

recebeu o sortimento <strong>de</strong> fazendas para a<br />

estação <strong>de</strong> inverno, e por preços baratos<br />

para competir com qualquer outra casa.<br />

COLIMO ACADÉMICO<br />

(ENSINO PRIMÁRIO)<br />

Está aberta <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1 <strong>de</strong> outubro a aula<br />

<strong>de</strong> ensino primário d'este collegio, regida<br />

por José Falcão Ribeiro, Justino José Correia<br />

e Pompeu Faria <strong>de</strong> Castro, professores<br />

legalmente habilitados.<br />

A partir do mesmo dia, a qualquer<br />

hora, se recebem matriculas, tanto para<br />

esta aula como para as <strong>de</strong> instrucção secundaria,<br />

que posteriormente serão abertas.<br />

Recebem-se alumnos internos, semiinternos<br />

e externos.<br />

Garante-se um ensino profícuo com a<br />

mais completa organisação e com a assiduida<strong>de</strong><br />

no trabalho que caracterisa os<br />

professores.<br />

Fornecer-se-ha papel, tinta, pennas,<br />

giz e lápis gratuitamente a todos os alum-<br />

nos, bem como um ca<strong>de</strong>rno para notas<br />

diárias <strong>de</strong> frequencia e aproveitamento.<br />

A l. a classe dividir-se-ha em dois grupos<br />

: um leccionado pelo metliodo <strong>de</strong> João<br />

<strong>de</strong> Deus e outro pelo <strong>de</strong> Simões Lopes,<br />

á escolha das famílias dos alumnos.<br />

As creanças <strong>de</strong> muito pouca ida<strong>de</strong><br />

lerão entrada e aula em separado.<br />

Preços: 1.® classe 500 réis; — 2- a<br />

réis; — 3 a 1$500 réis.<br />

<strong>Coimbra</strong>, rua dos Coutinhos, 27.<br />

J. F. Ribeiro.<br />

FOGÕES PARA COSINHA<br />

Na officina <strong>de</strong> serralharia <strong>de</strong> José<br />

Dias Ferreira, encontram-se á venda magníficos<br />

fogões <strong>de</strong> fogo circular, novos, e<br />

<strong>de</strong> todos os tamanhos.<br />

Responsabilisa-se pela sua construcção<br />

e regular funccionamento. Preços<br />

modicos.<br />

11 — Rua dos Militares — 13<br />

COIMBRA<br />

100, Rua Ferreira Borges, 100<br />

31 Pasta para rolos <strong>de</strong> imprensa<br />

<strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong> e preço<br />

modico.<br />

Armas <strong>de</strong> diversos systeinas,<br />

revolvers e munições <strong>de</strong> caça.<br />

Faqueiros e colheres d'e!eetro<br />

plate, qualida<strong>de</strong> garantida.<br />

Tinta e teila para pintura a<br />

oleo, pincéis e artigos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho.<br />

llallas para viagem, carteiras<br />

e saccas <strong>de</strong> mão para senhora.<br />

Oleados <strong>de</strong> borracha para<br />

cama e outras qualida<strong>de</strong>s para mesa e<br />

forrar casas.<br />

Transparentes e stores <strong>de</strong><br />

ma<strong>de</strong>ira, rolos authomaticos para os<br />

mesmos.<br />

Perfumaria ingleza e sabonetes,<br />

pó d'arroz, pentes e escovas.<br />

Dentifrico do dr. Kousset,<br />

pó, para <strong>de</strong>ntes da socieda<strong>de</strong> hygienica.<br />

Bensoliua para tirar nodoas,<br />

o melhor preparado, não prejudica a roupa.<br />

Lunetas, binoculos, brinquedos para<br />

creança, capachos d'arame e gran<strong>de</strong> va-<br />

rieda<strong>de</strong> em miu<strong>de</strong>zas.<br />

PADARIA LUSITANA<br />

(SYSTEMA FRANCEZ)<br />

DE<br />

DOMINGOS MIRANDA<br />

9 Pão fino, o melhor que se encontra,<br />

pelo systema francez,<br />

todos os dias, pela manhã e á noite, a<br />

réis cada dois pães.<br />

DQ Q<br />

No domingo 27 d'outubro pelas 10<br />

horas da manhã, nos armazéns do rocio<br />

2 — R. do Viscon<strong>de</strong> da Luz — 6<br />

Ha sempre um bom sortido <strong>de</strong> artigos<br />

para pbotographia, que ven<strong>de</strong><br />

por preços commodos.<br />

Domingo, 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895 — N.° 48<br />

Emigração para Minas Geraes<br />

(BRAZ1L)<br />

<strong>de</strong> Santa Clara, far-se-á leilão <strong>de</strong> 70<br />

dúzias <strong>de</strong> garrafas com vinho finíssimo e<br />

muito velho (em globo ou em lotes <strong>de</strong><br />

dúzia) que pertenciam á garrafeira do<br />

fallecido José Lopes Guimarães, d'esta<br />

cida<strong>de</strong>.<br />

JULIAO A. D'ALMEIDA & C. a<br />

36 Acceitam-se artistas e trabalhadores<br />

sem família, <strong>de</strong> 18 a ío<br />

annos, para serviço nas estradas <strong>de</strong> ferro<br />

—OESTE DE MINAS e OURO PRETO<br />

A MARIANNA.<br />

Os artistas <strong>de</strong>vem ser pedreiros, carpinteiros,<br />

marceneiros, canteiros, cabouqueiros,<br />

serradores, ferreiros, serralh"iros,<br />

limadores, cal<strong>de</strong>ireiros, machinistas.<br />

torneiros, pintores <strong>de</strong> locomotivas, foguis-<br />

20—Rua <strong>de</strong> Sargento Mor—24 tas, fabricantes <strong>de</strong> telha, tijolo e cal, e<br />

COIMBRA<br />

latoeiros; <strong>de</strong>verão provar que exercem<br />

a respectiva profissão por meio do talão<br />

13 Weste antigo estabelecimento co-<br />

da contribuição industrial ou attestado <strong>de</strong><br />

brem-se <strong>de</strong> novo guarda-soes,<br />

mestre technico.<br />

com boas sedas <strong>de</strong> fabrico portuguez.<br />

Egualmente seacceitam trabalhadores<br />

Preços os mais baratos.<br />

ou artistas com família, legalmente con-<br />

Também tem lãsiuhas finas e outras<br />

stituída.<br />

fazendas para coberturas baratas.<br />

Garante-se passagem gratuita <strong>de</strong> Lis-<br />

No mesmo estabelecimento ven<strong>de</strong>mboa<br />

ou Leixões, até ao local dos trabase<br />

magnificas armações para guarda-soes,<br />

lhos.<br />

o que ha <strong>de</strong> mais mo<strong>de</strong>rno.<br />

Acceitam-se agentes <strong>de</strong> província,<br />

garantindo sua serieda<strong>de</strong>.<br />

Escriptorio central <strong>de</strong> informações—<br />

Lisboa—Travessados Remolares, 28, 1.°<br />

Antonio Gomes da Silva Sanches.<br />

O correspon<strong>de</strong>nte no districto <strong>de</strong><br />

<strong>Coimbra</strong>, Antonio Jorge Rodrigues, rua<br />

da Sotta, n. 9 31.<br />

ARMAZÉM DE MERCEARIA<br />

D15<br />

MARQUES MANSO, SOBRINHO<br />

RUA. DO CEGO —COIMBRA<br />

Esta casa, montada com o maior acceio, convida os seus ex. mos freguezes a<br />

visitarem o seu estabelecimento, on<strong>de</strong> encontrarão á venda :<br />

Assucares finíssimos, refinados com o maior esmero, chás, cafés <strong>de</strong> S. Thomé<br />

e Cabo Ver<strong>de</strong>, chocolates hespanhol, francez e suisso, completo sortido em bolachas<br />

nacionaes e inglezas, e muitos outros artigos que ven<strong>de</strong> a preços resumidíssimos.<br />

Único <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> vinhos da Real Companhia Yinicola<br />

Vinhos a torno a (30 e tSO réis o litro.<br />

Manteiga <strong>de</strong> Pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Coura e IVandufe.<br />

E ven<strong>de</strong> a t»o réis o kilo, massas alimentícias <strong>de</strong> todas as qualida<strong>de</strong>s, que<br />

as outras casas ven<strong>de</strong>m a ieo réis.<br />

Deposito da Fabrica Nacional<br />

DE<br />

M L Á C H I S 1 B I S C O I T O S<br />

DE<br />

JOSÉ FRANCISCO DA GRUZ S GENRO<br />

COIMBRA<br />

128-RDA FERREIRA BORGES-130<br />

aí'este <strong>de</strong>posito, regularmente montado, se acham á venda por junto e a<br />

retalho, todos os productos d'aquella fabrica a mais antiga <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />

on<strong>de</strong> se recebem quaesquer encommendas pelos preços e condições eguaes aos<br />

da fabrica.<br />

Publica-se ás quintas feiras e domingos I D O ZEF^CD~V"0<br />

D E F E N S O R jornal republicano<br />

EDITOR — Adolpho da Costa Marques<br />

Redacção e administração—Largo da Freiria, 14, proximo á rua dos Sapateiros<br />

Anno . .<br />

Semestre .<br />

Trimestre.<br />

Com estampilha<br />

CONDIÇOES DE ASSIGNATURA<br />

(PAGA ADIANTADA)<br />

2$700<br />

1$350<br />

680<br />

Anno . .<br />

Semestre .<br />

Trimestre.<br />

Sem estampilha<br />

20400<br />

U200<br />

AWWUJiCIOS:— Cada linha, 40 réis; repetição, 20 réis; contracto<br />

especial para annuncios permanentes.<br />

LIVROS: — Annunciam-se gratuitamente quando se receba um<br />

exemplar.<br />

Impresso na Typographía Operaria — <strong>Coimbra</strong><br />

fiOO


_A.TYINTO 1. S I<br />

Defensor<br />

Em pe paiz estamos?<br />

Se avaliarmos pela calmaria em que se<br />

<strong>de</strong>ixam amolecer governantes e governados,<br />

se alten<strong>de</strong>rmos á frouxa ou quasi<br />

nulla activida<strong>de</strong> que os ministros do sr. D.<br />

Carlos manifestam em Ioda a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong><br />

condições <strong>de</strong> existencia e relações da vida<br />

social, bem po<strong>de</strong>ríamos dizer que Portugal,<br />

entre as nações da Europa, é o mais feliz e<br />

venturoso dos Estados; vive na mais commoda,<br />

regalada e auspiciosa situação politica<br />

e ecofiomica, e que, no continente, nas<br />

ilhas e no ultramar, tudo são venturas,<br />

todos estão, physica e moralmente, podres<br />

<strong>de</strong> ricos e, para mais, cobertos <strong>de</strong> gloria.<br />

E todavia é bem ao contrario <strong>de</strong> tudo<br />

isso.<br />

Nunca Portugal <strong>de</strong>sceu tão baixo na<br />

politica, e luctou com tantas e tão gran<strong>de</strong>s<br />

difficulda<strong>de</strong>s economicas e financeiras; nunca<br />

a sua dignida<strong>de</strong> foi mais affrontada, e o<br />

seu nome mais enxovalhado.<br />

Para <strong>de</strong>monstração, publica e solemne,<br />

da nossa <strong>de</strong>sorganisação e rebaixamento<br />

politico, estão os partidos do rei ou antes o<br />

partido d'el-rei nos ensaios e preparativos<br />

<strong>de</strong> uma baixa comedia, cuja representação<br />

se approxima,— é a comedia eleitoral, em<br />

que a troupe regeneradora tomou para si os<br />

principaes papeis, distribuindo aos primeiros<br />

actores <strong>de</strong> pequenas e reles companhias ambulantes,<br />

na capital e nas provincias, os papeis<br />

secundários e um gran<strong>de</strong> numero <strong>de</strong><br />

comparsas para encherem a scena e tornarem-na<br />

apparalosa, sem prejudicar o <strong>de</strong>sempenho<br />

e o exilo, a que miram os últimos<br />

emprezarios da realeza, agentes commissionados<br />

pelo elemento conservador e retrogrado,<br />

que tomou conta, e arrematou para<br />

si o barracão e o tablado da nossa pantagruelica<br />

politica.<br />

Se dirigimos aos nossas vistas, e assestámos<br />

a nossa critica para a vida administrativa<br />

do paiz, encontiâmos:<br />

A snppressão violenta e immotivada <strong>de</strong><br />

alguns concelhos e comarcas, o magro e<br />

rotineiro expediente das repartições publi-<br />

cas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as secretarias <strong>de</strong> Estado até ás<br />

juntas <strong>de</strong> parochia, e a imbecilida<strong>de</strong> bureaucralica<br />

dos gran<strong>de</strong>s e pequenos funccionarios<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> os ministros até aos cabos<br />

<strong>de</strong> policia.<br />

Uma verda<strong>de</strong>ira miséria! A mais affrontosa<br />

das vergonhas!<br />

Vivemos sem leis organicas; á mercê <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>cretos, regulamentos e or<strong>de</strong>ns, que só<br />

servem para <strong>de</strong>nunciar, mais ainda, provar<br />

até á evi<strong>de</strong>ncia a <strong>de</strong>sorientação e volubili<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> governantes ineptos e mal intencionados.<br />

Pelo que respeita ás nossas colonias, já<br />

o dissémos em o nosso anterior artigo, contentam-se<br />

os ministros do sr. D. Carlos em<br />

organisar, sem pensamento, sem systema,<br />

sem condições, ainda as mais indispensáveis<br />

a emprehendimenlos <strong>de</strong> tamanha importância<br />

e responsabilida<strong>de</strong>, espectáculos<br />

divertidos e bem pouco edificantes, nos quaes<br />

se exibem scenas tão tristes e ao mesmo<br />

tempo burlescas, como aquelia que a insen-<br />

satez e a irritabilida<strong>de</strong> nervosa do sr. ministro<br />

da marinha ha pouco provocou, por<br />

occasião do embarque das tropas enviadas á<br />

índia, commandadas, honorariamente, pelo<br />

sr. infante D. Affonso.<br />

Mais <strong>de</strong>solador ainda, mais <strong>de</strong>plorável<br />

que a politica, a administração, a <strong>de</strong>feza,<br />

numa palavra o governo das nossas colonias,<br />

se offerece o estado <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nte, miserável<br />

e <strong>de</strong>gradante, a que se vê reduzido o<br />

nosso brioso exercito.<br />

Não tem elle d'isso a culpa; e por isso<br />

não pesa a responsabilida<strong>de</strong> do estado pre-<br />

cário e vergonhoso, pelo menos abatido e<br />

mesquinho, a que se vê reduzida a <strong>de</strong>feza<br />

nacional, sobre os officiaes e soldados, aos<br />

quaes está confiada a integrida<strong>de</strong> do nosso<br />

territorio, a honra e a dignida<strong>de</strong> da Patria.<br />

São aquelles illustrados e valentes; e<br />

não faltam aos cidadãos portuguezes, que<br />

cerram as fileiras do exercito, coragem e<br />

patriotismo.<br />

A falta, porém, da necessaria instrucção,<br />

<strong>de</strong> armamentos, aprestes, <strong>de</strong> lodo o material<br />

<strong>de</strong> guerra, que dão ás forças militares as<br />

condições materiaes e externas <strong>de</strong> aproreitar<br />

aquellas preciosas qualida<strong>de</strong>s e gran<strong>de</strong>s<br />

virtu<strong>de</strong>s, se não annulla inteiramente, tira<br />

uma gran<strong>de</strong> parte da força moral, e quebra<br />

os generosos sentimentos que sempre<br />

animaram, e ainda hoje e apezar <strong>de</strong> tudo<br />

distinguem, e enobrecem o exercito portuguez.<br />

Quando haverá em Portugal instituições,<br />

leis e governos que provi<strong>de</strong>nceiem,<br />

altendam, e garantam <strong>de</strong>vidamente os gran<strong>de</strong>s<br />

interesses nacionaes?<br />

Nós só temos uma resposta:<br />

Quando a monarchia <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> existir,<br />

e a Republica, chamando á direcção e gerencia<br />

dos negocios públicos homens competentes<br />

e honrados, substituir, inteira e<br />

completamente, as instituições, as leis e os<br />

processos <strong>de</strong> politica e administração.<br />

•••<br />

A imprensa e a viagem á Italia<br />

Está <strong>de</strong>cidido que o sr. D. Carlos não irá<br />

a Roma visitar seu tio Humberto, para não<br />

<strong>de</strong>sagradar ao papa.<br />

Esta resolução está provocando <strong>de</strong> parte<br />

da imprensa italiana, palavras azedas, <strong>de</strong>sagradaveis,<br />

taes como estas, da Tribuna,<br />

n'este periodo:<br />

«Que ninguém na Italia, particularmente, <strong>de</strong>seja<br />

a visita, mas que o rei Carlos teria feito melhor<br />

em se não fiar tanto no respeito do Vaticano<br />

pelo direito divino, pois, a julgar pela sua politica<br />

em França, elle seria o primeiro a gritar : Viva a<br />

Republica portugueza, por muitos annos e bons, se<br />

o ensejo se désse.»<br />

E por este diapasão afinam todos os jornaes,<br />

como a In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia Belga, que <strong>de</strong>clara<br />

na revista politica que é inútil dissimular,<br />

pois que a <strong>de</strong>sistencia da visita do rei<br />

D. Carlos, ao rei Humberto, em Roma é um<br />

cheque formidável para a politica italiana.<br />

E accrescenta :<br />

«O muito catholico D. Carlos julgara que po<strong>de</strong>ria<br />

visitar o tio em Roma: mas <strong>de</strong>pois da recente<br />

carta <strong>de</strong> Leão XIII ao car<strong>de</strong>al Rampolla, ácerca das<br />

festas <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> setembro, era evi<strong>de</strong>nte que essa visita<br />

não se podia conciliar com os seus <strong>de</strong>veres <strong>de</strong><br />

súbdito fiel da egreja.»<br />

Em que situação tão difficil se encontra<br />

o rei <strong>de</strong> Portugal, mercê dos seus caprichos<br />

e <strong>de</strong>sejos e da precipitação com que saiu em<br />

viagem politica, sem aplanar terreno, sem<br />

sondar as estações diplomáticas.<br />

Porisso o Populo Romano, da Italia, peremptoriamente<br />

affirma que Humberto não<br />

quiz prestar-se a um jogo, que teria toda a<br />

apparencia d'uma capitulação perante o Vaticano,<br />

e que formulou categoricamente a sua<br />

resposta n'estes termos: nOu em Roma, ou<br />

então em parte alguma.»<br />

O que se <strong>de</strong>prehen<strong>de</strong> que a Italia se consi<strong>de</strong>ra<br />

offendida, pela attitu<strong>de</strong> do sr. D. Carlos<br />

em frente da imposição do Vaticano, que<br />

pretendia que o Quirinal capitulasse!<br />

O Commercio <strong>de</strong> Portugal, em face dos<br />

acontecimentos, chama uma vergonha nacio-<br />

nal á viagem do rei. e affirma que o paiz e<br />

o sr. D. Carlos foram humilhados e affrontados.<br />

E' o povo, o único, que sente esbrazearlhe<br />

as faces as vergonhas porque está passando<br />

Portugal, on<strong>de</strong> nas esquinas <strong>de</strong> Paris<br />

estão cartazes em nosso <strong>de</strong>scredito, fazendo-se<br />

larga distribuição <strong>de</strong> protestos dos portadores<br />

da divida a quem foram reduzidos os juros.<br />

O sr. D. Carlos, entretido com as festas<br />

e as caçadas, nem ouve as censuras da<br />

imprensa franceza, contra as manifestações<br />

que lhe fazem os reaccionários e miguelistas,<br />

aparentados com os reis expulsos da França.<br />

O que nos dará mais a monarchia í<br />

do Povo<br />

COIMBRA—Quinta feira, 24 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895<br />

A QUESTÃO RELIGIOSA<br />

CARTA DO SR. BISPO CONDE A SUA MAGESTADE EL-REI<br />

v i<br />

Em todas as escolas, elementares e complementares,<br />

<strong>de</strong> Instrucção primaria se ensina,<br />

ou, melhor diremos, faz-se <strong>de</strong>corar<br />

materialmente o resumo da Historia Sagrada,<br />

isto é da Biblia, com bem duvidoso proveito<br />

para a educação moral, orientação e cultura<br />

intellectual da infancia; e também em todas<br />

ellas se manda apren<strong>de</strong>r <strong>de</strong> cór e repetir<br />

diariamente o cathecismo da doutrina christã,<br />

pelo menos a sufficiente para preparar as<br />

creanças a receber a primeira communhão.<br />

Contra esta pratica <strong>de</strong>vera antes sua ex. a<br />

protestar; porque o Estado inva<strong>de</strong> manifesmente,<br />

com ella, e usurpa os direitos e também<br />

os <strong>de</strong>veres da Egreja e dos seus altos<br />

e baixos ministros.<br />

O facto porém é este:<br />

O Estado encarrega-se do ensino religioso,<br />

legal e oficialmente encarrega os seus<br />

professores <strong>de</strong> ensinar a Historia Sagrada, o<br />

resumo do velho e do novo Testamento, e a<br />

doutrina christã.<br />

Que mais po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sejar, que mais preten<strong>de</strong>,<br />

e quer sua ex. a ?<br />

Que as creanças vão, aos sabbados, em<br />

jejum natural para a aula a fim <strong>de</strong> se habituarem<br />

a cumprir o preceito da abstinência?!<br />

Que sejam submettidas a exercidos religiosos;<br />

que rezem em commum e em voz<br />

alta, <strong>de</strong> mãos postas e erguidas, durante<br />

toda a manhã ou toda a tar<strong>de</strong> ou todo o<br />

dia ?!!<br />

Que se arrastem <strong>de</strong> joelhos em uma penosa<br />

via sacra, pelo menos, semanal; que<br />

se açoitem com disciplinas, e tomem posições<br />

forçadas e violentas, contrariando assim os<br />

mais elementares preceitos da hygiene e do<br />

bom senso?!!!<br />

Estranha interpretação seria essa das<br />

adoraveis palavras do divino Meatre, quando<br />

chamava a si as creancinhas Sinite párvulos<br />

ad me venire!...<br />

TValgumas escolas sabemos, e <strong>de</strong> quasi todasas<br />

que são sustentadas pelo beaterio, dirigidas<br />

e governadas por jesuítas, lazaristas,<br />

irmãs e irmãsinhas <strong>de</strong>... coisas varias, on<strong>de</strong><br />

o espirito reaccionário, a superstição e o<br />

fanatismo imperam, e a ignorancia feroz<br />

domina, nas quaes, <strong>de</strong>sgraçadamente, se praticam<br />

taes e tão estúpidas barbarida<strong>de</strong>s; nas<br />

quaes ás innocentes ceranças <strong>de</strong> um e outro<br />

sexo, atrophiadas na alma e no corpo, são<br />

brutalmente infligidos tão barbaros castigos;<br />

e muitas <strong>de</strong>lias atormentadas com tão <strong>de</strong>vastadores<br />

softrimentos, que algumas, após<br />

doloroso e prolongado martyrio, succumbem!<br />

Orçam por este mo<strong>de</strong>lo as virtu<strong>de</strong>s christãs<br />

do ensino congreganista, são d'esta laia<br />

a maior parte das escolas clericaes <strong>de</strong>generadas.<br />

Se é por isso, se é para o evitar, damos<br />

razão ao sr. bispo; eccôa em nossa alma,<br />

repercute-se em nossa consciência a vo\ do<br />

episcopado, quando <strong>de</strong>seja e pe<strong>de</strong> que o Estado,<br />

e não a Egreja, tome para si o <strong>de</strong>ver<br />

e o encargo do ensino religioso, e que o professorado<br />

secular e não o clero, ensinem o<br />

cathecismo da doutrina christã ás creanças e<br />

aos adultos.<br />

A' parte esta horrorosa e repugnantissima<br />

excepção, aflrontosa para Aquelle Divino<br />

Mestre, que tanto amou e com tanto amor<br />

chamou a si as creancinhas, não sabemos<br />

que haja em Portugal uma única escola,<br />

publica ou particular, á qual Deus não assista,<br />

em que Deus não seja invocado, adorado e<br />

a sua doutrina acolhida como alimento moral<br />

do espirito, como balsamo consolador,<br />

como pharol divinal <strong>de</strong> esperança, como arrebol<br />

<strong>de</strong> auspicioso futuro n'esta e... na<br />

outra vida.<br />

Não sabemos <strong>de</strong> uma só escola, mais<br />

ainda, <strong>de</strong> uma única familia, do seio da qual<br />

a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Deus e sua doutrina tenham sido<br />

banidas, on<strong>de</strong> Deus tenha sido <strong>de</strong>strhonado<br />

da consciência dos mestres e dos paes e da<br />

alma puríssima das creanças.<br />

Se, por acaso, ha, se pô<strong>de</strong> haver um ou<br />

mais exemplos em contrario, resta saber <strong>de</strong><br />

quem é a culpa !..,<br />

A farçada eleitoral<br />

A companhia burlesca da gran-pepineira<br />

monarchica vae representar uma peça <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> espectáculo, abrindo-se já uma agencia<br />

no ministério do reino — á laia <strong>de</strong> amas<br />

<strong>de</strong> leite — para a inscripção dos espectadores<br />

que hão <strong>de</strong> applaudir a peça.<br />

E um completo pago<strong>de</strong> as eleições. Um<br />

jornal da Guarda diz que as candidaturas a<br />

<strong>de</strong>putados, são <strong>de</strong> tal natureza e <strong>de</strong> tal ridículo,<br />

que é <strong>de</strong> estalar as presilhas — a rir!<br />

Campeia a veniaga<br />

Não se tem publicado no Diário do Governo<br />

as listas nominaes dos cidadãos portuguezes<br />

fallecidos no Brazil, acontecendo exactamente<br />

o contrario com aquelles que morrem<br />

nas nossas possessões d'Africa.<br />

A falta <strong>de</strong> publicação é uma falcatrua indigna,<br />

um roubo infamante que se faz ás famílias<br />

dos fallecidos. Leiam:<br />

#<br />

«A razão d'isto ninguém a <strong>de</strong>u ainda ao certo,<br />

mas afíirma-se que taes relações se não publicam,<br />

porque a companhia liquidadora <strong>de</strong> heranças no<br />

Brazil, estabelecida em Lisboa, não <strong>de</strong>ixa, afim <strong>de</strong><br />

,nas provincias se não ter conhecimento <strong>de</strong> taes fallecimentos<br />

e a companhia po<strong>de</strong>r ir sem perigo <strong>de</strong><br />

concorrentes, tratar com os her<strong>de</strong>iros a liquidação<br />

das heranças, quer dizer —a compra d'ellas por<br />

insignificantes quantias, graças á ignorancia dos<br />

interessados por não terem tempo <strong>de</strong> consultar advogados<br />

e <strong>de</strong> colher as informações necessarias.»<br />

Nem o Diário do Governo escapa á venalida<strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong> que se faz profissão n'este paiz!<br />

As eleições<br />

Já se indigitam os <strong>de</strong>putados pelo Porto.<br />

Tudo gente sustentada pelas migalhas do<br />

governo. A presi<strong>de</strong>ncia da camara será dada<br />

ao sr. Wenceslau <strong>de</strong> Lima, façanhudo governamental.<br />

Continuam os esforços para arranjar opposição<br />

progressista, convidando-se o sr. dr.<br />

Manuel Antonio Moreira Júnior, que repelliu<br />

nobremente a candidatura em Montemor.<br />

Pelo que se vê é um parlamento <strong>de</strong> carneirada<br />

mansa, mais submissos que os <strong>de</strong><br />

Parnugio.<br />

>.«4<br />

Commissão <strong>de</strong> resistencia<br />

' Des<strong>de</strong> que o fadista João Franco abriu<br />

a naifa da dictadura, e anavalhou a autonomia<br />

<strong>de</strong> muita população, com direitos adquiridos:<br />

a esse homem, a esse governo, a essas<br />

instituições não se lhe <strong>de</strong>ve oppôr o protesto<br />

da representação!<br />

Ora, quando o faia do ministério do reino,<br />

<strong>de</strong>clarou — em escovinhas <strong>de</strong> valentaço<br />

— que não attendia a representações e estava<br />

prompto para acceitar qualquer provocação<br />

do paiz —é claro que <strong>de</strong>u a enten<strong>de</strong>r aos<br />

protestantes o caminho que <strong>de</strong>vem seguir.<br />

E <strong>de</strong>pois veremos em que dão as fanfar-<br />

ronadas do fadislão!<br />

A expedição á índia<br />

As ultimas noticias recebidas d'esta possessão<br />

não são animadoras, e para aquellas<br />

longiquas paragens seguiu na terça feira, do<br />

Tejo, a bordo do Zaire — vapor fretado! —<br />

a expedição militar que vae combater para<br />

assegurar, em Gôa, os direitos da nação<br />

portugueza, e manter o prestigio que o nome<br />

portuguez sempre sustentou na índia.<br />

Foi <strong>de</strong> enthusiasmo — como sempre — a<br />

partida da expedição. Muitas saudações, aos<br />

valentes militares, á patria e ao exercito,<br />

porém, o mais commovente, o mais sincero<br />

foram as lagrimas das mães, os abraços dos<br />

filhos, na lembrança <strong>de</strong> que não os tornarão<br />

a vêr.<br />

Foi nomeado commandante da expedição<br />

o sr. D. Affonso, cujos aposentos no vapor<br />

Zaire, se compõem: <strong>de</strong> cinco camarotes <strong>de</strong> i. a<br />

classe; quarto <strong>de</strong> vestir, quarto <strong>de</strong> cama,<br />

casa <strong>de</strong> banho, retrete e gabinete <strong>de</strong> leitura.<br />

Como as outras mães a sr. a D. Maria Pia,<br />

foi assistir ao bota-fóra do vapor, tendo a<br />

felicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r visitar os alojamentos <strong>de</strong><br />

seu filho, com aquelle cuidado e disvello que<br />

também teriam as <strong>de</strong>sventuradas da sorte,<br />

que só da terra po<strong>de</strong>ram enviar, aos seus,<br />

dolorosas sauda<strong>de</strong>s.


DEFENSOR DO POVO — 1.° ANNO Quinta feira, 24 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895— N.° 51<br />

Á Hespanha e os Estados Unidos<br />

A Hespanha, a quem tantos males afligem<br />

actualmente, está, pelas imprudências<br />

do governo conservador do sr. Canovas, arriscada<br />

a ver-se a braços com uma gravíssima<br />

questão internacional.<br />

O governo hespanhol e a sua imprensa<br />

andam muito preoccupados; temem que os<br />

Estados Unidos <strong>de</strong>clarem belligerantes os insurrectos<br />

<strong>de</strong> Cuba.<br />

As republicas americanas, nomeadamente<br />

os Estados Unidos, se não protegem oficialmente<br />

os revolucionários cubanos, pelo menos<br />

prestam-lhes valiosíssimo auxilio na lucta<br />

em que ha mezes andam empenhados com a<br />

metropole, que por seu lado invida todos os<br />

esforços para os manter agrilhoados á tutella<br />

e exploração do seu domínio.<br />

A gran<strong>de</strong> sympathia dos Estados Unidos<br />

pela causa dos revolucionários <strong>de</strong> Cuba manifesta-se<br />

claramente.<br />

Em quasi todo o vasto territorio da gran<strong>de</strong><br />

Republica foram creados numerosos centros<br />

<strong>de</strong> recrutamento, aos quaes aco<strong>de</strong>m os indivíduos,<br />

que preten<strong>de</strong>m incorporar-se nas fileiras<br />

dos insurrectos, sem que as auctorida<strong>de</strong>s<br />

obstem a isso.<br />

Alli organisam-se subscripções para soccorrer<br />

os feridos, comprar munições e apetrechos<br />

<strong>de</strong> guerra, sendo transportados sem<br />

o menor perigo em barcos, os quaes galhardamente<br />

conduzem, muitas vezes, expedições<br />

filibusteiras aos portos da formosa ilha <strong>de</strong><br />

Cuba.<br />

Quando acontece serem apresados os navios<br />

pelos hespanhoes, estes dão todas as satisfações<br />

aos norte-americanos e os barcos, a<br />

sua tripulação e os insurrectos que conduziam<br />

a bordo são entregues ás auctorida<strong>de</strong>s<br />

da gran<strong>de</strong> Republica. .. Isto mostra a falta<br />

<strong>de</strong> tino com que têm sido dirigidos os negocios<br />

<strong>de</strong> Cuba.<br />

Ainda ha pouco os Estados Unidos reclamaram<br />

o pagamento immediato da chamada<br />

in<strong>de</strong>mnisação Móra, pagando-a logo a Hespanha<br />

sem a menor resistencia, apezar <strong>de</strong> se<br />

dizer que era injusta, e não serem favoraveis<br />

as circumstancias do thesouro.<br />

No meio da indiflerença das auctorida<strong>de</strong>s<br />

norte-americanas a<strong>de</strong>stram-se publicamente<br />

os expedicionários partidarios do separatismo<br />

no exercício com armas <strong>de</strong> fogo e no manejo<br />

da macheie, arma muito usada pelos cubanos.<br />

Estes e outros factos são suficientes para<br />

evi<strong>de</strong>nciar ofervoritismo, que os Estados Unidos<br />

dispensam aos separatistas <strong>de</strong> Cuba.<br />

A Hespanha olha com uma cólera concentrada<br />

a politica da Republica americana,<br />

e o sr. Canovas <strong>de</strong>i Castillo parece, segundo<br />

se <strong>de</strong>prehen<strong>de</strong> da leitura dos jornaes hespanhoes,<br />

disposto a resolver pouco pacificamente<br />

as questões internacionaes levantadas<br />

pela revolucção <strong>de</strong> Cuba, que aos homens<br />

públicos <strong>de</strong> visinha Hespanha tantos cuidados<br />

está merecendo e <strong>de</strong>spezas está causando.<br />

A maneira fanfarrona, como os jornaes se<br />

exprimem, dá idêa <strong>de</strong> que a diplomacia não<br />

será bastante para conduzir a bom termo as<br />

questões pen<strong>de</strong>ntes entre a Hespanha e as<br />

republicas da America.<br />

A tradiccional altivez hespanhola cresce<br />

com a resistencia e os obstáculos; as ameaças<br />

encobertas dos Estados Unidos têm exaltado<br />

muito os espíritos; e dizem que o auxilio moral<br />

e material prestado aos insurrectos <strong>de</strong><br />

Cuba dará o único resultado <strong>de</strong> tornar maior<br />

e mais completo o triumpho para as armas<br />

hespanholas.<br />

Entretanto, os soldados em operações na<br />

gran<strong>de</strong> Antilha expõem a vida longe da patria<br />

n'uma campanha on<strong>de</strong>, além dos perigos<br />

que naturalmente surgem, até a própria natureza<br />

lhes é adversa.<br />

Pela leitura que temos feito dos jornaes<br />

extrangeiros, temos visto que ultimamente<br />

reina um gran<strong>de</strong> e <strong>de</strong>susado movimento nos<br />

centros militares dos Estados Unidos.<br />

O general Nelson, milijar <strong>de</strong> enorme prestigio,<br />

acaba <strong>de</strong> ser nomeado commandante do<br />

exercito norte-americano; esta nomeação, pela<br />

precipitação com que foi feita e pela pessoa<br />

em quem recahiu, tem sido muito notada e<br />

produzido sensação nos centros políticos.<br />

Todo o pessoal militar foi mudado, tendo-se<br />

em vista substituir no commando dos<br />

differentes corpos do exercito, os homens<br />

mais velhos por outros mais jovens.<br />

Em virtu<strong>de</strong> da lei das reservas ultimamente<br />

votada e approvada, os norte-americanos<br />

po<strong>de</strong>rão, d'um momento para o outro,<br />

apresentar um formidável exercito.<br />

Nos arsenaes trabalha-se noite e dia, como<br />

em vesperas <strong>de</strong> <strong>de</strong>clarar guerra a uma potencia<br />

europeia.<br />

Todos os dias são entregues na capital<br />

da União petições individuaes e collectivas<br />

rogando não só o reconhecimento da qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> belligerantes aos insurrectos, mas<br />

até para os Estados Unidos fazerem sua a<br />

causa dos inimigos do domínio hespanhol.<br />

N'estes últimos dias tem havido numerosas<br />

conferencias entre os ministros ácerca <strong>de</strong><br />

questões internacionaes, sendo tomadas medidas<br />

a que se attribuem muita importancia<br />

e sobre as quaes se guarda gran<strong>de</strong> sigillo nas<br />

regiões officiaes.<br />

Estes factos anormaes fazem-nos prever<br />

para breve um conflicto, naturalmente com<br />

os Estados Unidos, que mais se têm evi<strong>de</strong>nciado<br />

como protectores dos que luctam contra<br />

a Hespanha pela in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia e pelas<br />

liberda<strong>de</strong>s.<br />

Um <strong>de</strong>sastre para as armas hespanholas<br />

no presente momento, seria <strong>de</strong> resultados incalculáveis,<br />

que por certo se haviam <strong>de</strong> reflectir<br />

nas outras nações, principalmente, se,<br />

como é <strong>de</strong> suppôr, as instituições monarchicas<br />

fossem sacrificadas, com o que havia tudo<br />

a lucrar e nada a per<strong>de</strong>r.<br />

— — —<br />

O RETRATO OVAL<br />

(De Edgar Poe)<br />

(CONCLUSÃO)<br />

Eu estava certamente em presença d'uma<br />

incomparável obra prima. E no entanto parecia-me<br />

que a emoção extraordinaria <strong>de</strong> que<br />

eu estava possuído não provinha nem do talento<br />

do artista, nem da immortavel belleza<br />

do retrato. Muito menos podia eu pensar<br />

que a minha imaginação, <strong>de</strong>svairada por um<br />

meio somno tivesse tomado aquella cabeça,<br />

pela cabeça d'uma verda<strong>de</strong>ira mulher em<br />

carne e osso, os <strong>de</strong>talhes do <strong>de</strong>senho, o estylo<br />

das vinhetas e a magnificência da moldura<br />

doirada teriam immediatamente dissipado<br />

o meu erro e <strong>de</strong>struído a minha illusão<br />

<strong>de</strong>masiadamente rapida. Absorvido por completo<br />

n'estas reflexões, fiquei seguramente mais<br />

d'uma hora com os olhos fitos no retrato, terminando<br />

finalmente por <strong>de</strong>scobrir o segredo<br />

da emoção que me tinha causado. O encanto<br />

do retrato estava n'uma expressão vital, absolutamente<br />

a<strong>de</strong>quada á própria vida; esta expressão<br />

que a principio me tinha feito estremecer<br />

acabou por me confundir.<br />

Voltei então a pôr o can<strong>de</strong>labro na sua<br />

posição primitiva com um respeito misturado<br />

<strong>de</strong> pavor. O quadro voltou á sombra e eu<br />

retomei vivamente o livro que continha a lenda<br />

<strong>de</strong> todas aquellas telas e li então a extranha e<br />

vaga historia que vou narrar:<br />

Era uma donzella, dotada d'uma rara belleza,<br />

que não possuia menos alegria do que<br />

encantos. Maidito seja o dia em que ella<br />

viu, amou e <strong>de</strong>sposou o pintor! Elle, trabalhador<br />

apaixonado e austero, tendo feito da<br />

arte a sua verda<strong>de</strong>ira mulher; ella, amavel e<br />

amorosa, feita <strong>de</strong> luz e <strong>de</strong> sorrisos, amando<br />

e acariciando todas as coisas menos a arte,<br />

sua rival; odiando a palheta, os pincéis, tudo<br />

a que a privava do amor do seu bem amado.<br />

Gran<strong>de</strong> foi o seu espanto quando um dia o<br />

pintor exprimiu o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> fazer o seu retrato<br />

! Mas ella era sobretudo humil<strong>de</strong> e obediente—<br />

durante longas semanas ella se collocou<br />

com doçura <strong>de</strong>ante do seu marido para<br />

a retratar, na sombria e alta sala da torre<br />

on<strong>de</strong> a luz cahia muito pallida, do tecto sobre<br />

a téla. Quando a seu marido, punha<br />

toda a sua gloria n'este retrato que ia fazendo<br />

pouco e pouco diariamente.<br />

Era um homem extranhamente apaixonado,<br />

assaltado incessantemente por profundas<br />

e extraordinarias phantasias; não se servia<br />

d'outra luz, senão da que cahia tristemente<br />

n'esta torre isolada que, como todos<br />

lhe notavam ia arruinando lentamente a saú<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> sua mulher. Mas ella sorria sempre, sem<br />

uma lastima, não querendo perturbar o prazer<br />

que o artista sentia no seu trabalho, visto<br />

elle estar pintando, noite e dia aquella que o<br />

amava tanto, mas que por esta razão se ia<br />

tornando cada vez mais languida e fraca.<br />

As visitas fallavam em voz baixa da semelhança<br />

maravilhosa do retrato como uma<br />

prova dupla do génio do artista e do seu<br />

amor por sua mulher.<br />

Mas, com o tempo, com a tarefa estivesse<br />

quasi no fim, não se admittia ninguém <strong>de</strong>ntro<br />

da torre. Absorvido na sua obra o pintor<br />

não tirava os olhos do seu retrato nem<br />

mesmo para ver o mo<strong>de</strong>lo. Não queria ver<br />

que as cores que estendia sobre a tela eram<br />

tiradas das faces d'aquella que se collocava<br />

<strong>de</strong>ante <strong>de</strong> si para ser retratada. Passadas<br />

algumas semanas, não restando já para terminar<br />

a obra mais do que uma côr branda<br />

e transparente sobre os olhos e uma ultima<br />

pincelada sobre a bôcca, o espirito da formosa<br />

mulher palpitava ainda como uma chamma<br />

<strong>de</strong> lampada.<br />

Deu-lhe então a ultima pincelada sobre<br />

a bôcca e essa côr branca e transparente sobre<br />

os olhos.<br />

Durante um minuto o artista susteve-se<br />

em extase <strong>de</strong>ante do seu retrato, <strong>de</strong>pois torpou-se<br />

subitamente pallido, tremeu, e gritou<br />

com uma voz vibrante: Na verda<strong>de</strong> é a<br />

própria vida !<br />

Voltou-se então para ver a sua bem-amada.<br />

Mas ella estava morta!<br />

<strong>Coimbra</strong>, 1893. AUGUSTO GRANJO.<br />

CARTA DO PORTO<br />

20 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> itfg5.<br />

Quem é o dono das uvas? Prohibe-se no<br />

Porto, segundo os <strong>de</strong>cretos <strong>de</strong> sua magesta<strong>de</strong>,<br />

que os proprietários das ramadas vendam<br />

ou dêem as uvas a outrem para fabricar<br />

vinho! o proprietário, ou o arrendatario<br />

dos prédios, tem <strong>de</strong> engulir as uvas todas,<br />

ou tem <strong>de</strong> fazer vinho <strong>de</strong>lias, ou tem <strong>de</strong> as<br />

<strong>de</strong>ixar apodrecer nas vi<strong>de</strong>iras: quem será<br />

pois o dono ?<br />

Vin<strong>de</strong> trazer a Portugal os vossos capitaes<br />

para comprar prédios, e aformosear outros,<br />

ó capitalista! Depois queixam se da<br />

emigração, e da falta <strong>de</strong> cambiaes do Brazil:<br />

quem é que quer viver na escravidão?!<br />

— Também não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser engraçada<br />

a noticia em certos jornaes, <strong>de</strong> que este anno<br />

vão ser propostos para a próxima eleição <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>putados, catholicos ás côrtes !! De fórma<br />

que os <strong>de</strong>putados das côrtes passadas não<br />

eram catholicos. Dêem-lhes outro nome, sem<br />

offensa dos nobres <strong>de</strong>putados que tantas carradas<br />

<strong>de</strong> leis e regulamentos tem mandado<br />

fazer.<br />

— Mas, sobretudo, o que tem mais sal é<br />

a projectada representação d'alguns académicos<br />

<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, ao governo, ou ao parlamento,<br />

para que favoreçam a classe dos bacharéis<br />

formados em direito, com os melhores<br />

cargos públicos mediante concurso, visto<br />

que estão sendo providos n'elles pessoas sem<br />

habilitações litterarias!<br />

Parece impossível, que do seio d'uma aca<strong>de</strong>mia,<br />

que sempre foi respeitada com a sua<br />

universida<strong>de</strong> em todo o mundo, saia a publico<br />

uma pretensão <strong>de</strong>ssas. O que os bacharéis<br />

<strong>de</strong>vem fazer todos é orientarem-se<br />

no bem da patria, no trabalho intelligente e<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente orientado, e no <strong>de</strong>sprezo<br />

<strong>de</strong> tudo aquillo que <strong>de</strong>grada o homem da<br />

sciencia até ao nível do ignorante, <strong>de</strong>ixando-se<br />

guiar por vis interesses, e por figuras<br />

<strong>de</strong> rhetorica.<br />

Felix Faure não é um simples bacharel,<br />

nem é da terra dos bacharéis; é um industrial<br />

e commerciante honrado, e intelligente,<br />

e com um tino tão reconhecido, que até o<br />

sr. D. Carlos se julga satisfeito na sua com<br />

panhia: pois meus senhores, a tal respeito<br />

<strong>de</strong> os governos guardarem os empregos para<br />

os bacharéis, Deus os favoreça, que agora<br />

não pô<strong>de</strong> ser; e bem sabem a razão porquê.<br />

Ainda não estão satisfeitos com o monopolio,<br />

que tem tido ha meio século dos logares<br />

públicos em certas'-familias, venha mais<br />

esse !<br />

O mal não está no coração d'esses jovens<br />

<strong>de</strong>sprevenidos, está na ambição d'aquelles que<br />

tudo querem sem gran<strong>de</strong> trabalho: pois, meus<br />

caros, trabalhem sempre, e procurem novos<br />

horisontes, que ainda os ha, abrindo os olhos.<br />

Ao passo que se enviam para <strong>Coimbra</strong> milhares<br />

<strong>de</strong> futuros bacharéis, corta-se á maior<br />

parte dos portuguezes o meio <strong>de</strong> terem o<br />

curso <strong>de</strong> primeiras lettras !!<br />

«O Paiz»<br />

LOPES DA GAMA.<br />

No dia i.° <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong>ve apparecer<br />

em Lisboa este novo jornal republicano. E'<br />

seu director o nosso collega e <strong>de</strong>stemido jornalista,<br />

Alves Corrêa.<br />

O Pai\— tendo á frente o antigo redactor<br />

da Vanguarda — ha <strong>de</strong> ser um combatente<br />

energico pelo i<strong>de</strong>al <strong>de</strong>mocrático, um<br />

<strong>de</strong>fensor strenuo da verda<strong>de</strong> e da justiça,<br />

como será também o propagandista anti-reaccionario,<br />

b inimigo confesso do jesuitismo.<br />

O seu passado, <strong>de</strong> forte resistencia contra<br />

o existente, <strong>de</strong> lucta tenaz contra a <strong>de</strong>vassidão<br />

politica e <strong>de</strong>pravação moral das instituições,<br />

são sobeja garantia <strong>de</strong> que O Pai\<br />

será o ecco da opinião publica, o porta-voz,<br />

que <strong>de</strong>nunciará os gran<strong>de</strong>s criminosos, com<br />

temerida<strong>de</strong>, e sem hesitações perante a quadrilha<br />

dos luvas brancas, que tem feito da<br />

nação um verda<strong>de</strong>iro pinhal dAzambuja,<br />

on<strong>de</strong> se está pedindo ao contribuinte a bolsa<br />

ou a vida...<br />

Será isto O Pai\, porque é isto o seu<br />

director, Alves Corrêa.<br />

Tem o novo diário o concurso valioso dos<br />

antigos accionistas da empreza da Vanguarda,<br />

os ex. mo * srs. drs. José Jacintho Nunes, Ignacio<br />

<strong>de</strong> Magalhães Basto, José Ferreira Gonçalves,<br />

Delphim Pereira da Costa, Francisco<br />

Pinto Balsemão e João <strong>de</strong> Moraes Carvella,<br />

— que abandonaram a empreza d'esse jornal,<br />

além da cooperação também valiosa dos<br />

ex-redactores d'essa folha os ex. mos srs. Antonio<br />

<strong>de</strong> França Borges, Antonio dos Reis e<br />

Sousa, Carlos Callixto e Marcellino Monteiro,<br />

que, como os accionistas acima referidos,<br />

saíram da Vanguarda, ficando redactores<br />

effectivos do Pai\.<br />

O Pai\ será effectivamente collaborado<br />

por muitos dos principaes escriptores republicanos<br />

portuguezes, estando já assegurada<br />

a collaboração dos e^. raos srs. dr. Theophilo<br />

Braga, dr. Duarte Leite, dr. José Jacintho<br />

Nunes, dr. Guilherme Moreira, dr. Horácio<br />

Ferrari, dr. Antonio José dAlmeida, Antonio<br />

Augusto Gonçalves, dr. José Benevi<strong>de</strong>s,<br />

dr. João <strong>de</strong> Menezes, José Sampaio (Bruno)<br />

dr. Fialho <strong>de</strong> Almeida e Guerra Junqueiro.<br />

Espera-se ainda que outros republicanos<br />

illustres collaborem n'este novo jornal, que<br />

assim, com tão valiosos, cooperadores, tem<br />

assegurada uma orientação superior.<br />

O ELEWJLDOR<br />

Continuamos a publicar a relação dos subscriptorés,<br />

para que o publico <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />

que ainda não subscreveu, tenha conhecimento<br />

do que falta para completar o capital<br />

preciso.<br />

Subscriptores até 50$000 réis<br />

Antonio Nunes Corrêa<br />

Augusto Henriques<br />

Augusto Gonçalves e Silva<br />

Augusto Men<strong>de</strong>s Simões <strong>de</strong> Castro (Dr.)<br />

Benjamim Ventura<br />

Emilia Gonçalves da Silva<br />

Francisco Alves Ma<strong>de</strong>ira Júnior<br />

Francisco Gonçalves <strong>de</strong> Lemos<br />

Francisco Villaça da Fonseca<br />

João Augusto Machado<br />

Joaquim Miranda<br />

Jorge da Silveira Moraes<br />

Julio Augusto Henriques (Doutor)<br />

Manuel Illydio dos Santos<br />

Manuel Rodrigues Braga<br />

Subscriptores <strong>de</strong> 501000 réis<br />

Alberto Carlos <strong>de</strong> Moura<br />

Antonio Maria <strong>de</strong> Sousa Bastos (Dr.)<br />

Gonçalo Nazareth<br />

Hugo <strong>de</strong> Castro e Brito<br />

Julio A. Henriques (Doutor)<br />

Manuel Teixeira da Cunha<br />

Subscriptores <strong>de</strong> 1001000 réis<br />

Carlos <strong>de</strong> Oliveira (Dr.)<br />

Antonio Dias Themido<br />

João Teixeira Soares <strong>de</strong> Brito<br />

Subscriptores <strong>de</strong> 2001000<br />

D. Dulce <strong>de</strong> Castro Martins Alves<br />

D. Laura <strong>de</strong> Castro Martins Alves <strong>de</strong> Brito<br />

Total d'esta subscripção<br />

Dos subscriptores até 50$000<br />

» » <strong>de</strong> 5011000<br />

» >< <strong>de</strong> 1001000<br />

» » <strong>de</strong> 200$000<br />

Para o que faltava.<br />

26011000<br />

300^000<br />

300$000<br />

400^000<br />

Falta 1:930^000<br />

Este capital foi obtido nestes termos:<br />

No consultorio do sr. dr. Vicente Rocha 740$000<br />

Nos boletins ao domicilio 520^000<br />

X L I V<br />

Diz-se pr'a ahi, com <strong>de</strong>sdoiro,<br />

e é verda<strong>de</strong>, não são petas,<br />

que não se faz Matadoiro<br />

por causa <strong>de</strong> dois Jaquetas I<br />

Não querem que os camaristas<br />

satisfaçam seu intento<br />

e lhe chamem altruístas,<br />

por tão bom melhoramento.<br />

Os Judas são d'alto bordo!<br />

Sabem quem faz propaganda,<br />

em <strong>de</strong>saforado aceordo*?...<br />

E o Hermano e o Miranda 111<br />

Pra -Dique.<br />

Assumptos <strong>de</strong> interesse local<br />

A.lvitre<br />

Em conversa <strong>de</strong> amigos foi apresntado ao<br />

sr. conselheiro Julio <strong>de</strong> Vilhena — actualmente<br />

n'esta cida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> veio acompanhar seu filho<br />

João, que vem cursar a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> — o seguinte<br />

alvitre, para ser proposto ao governo:<br />

Transferir a agencia do Banco <strong>de</strong> Portugal<br />

do bairro alto para a baixa, aproveitando<br />

o edifício on<strong>de</strong> agora está installada a<br />

ca<strong>de</strong>ia, para esse fim, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> feitas as<br />

obras indispensáveis.<br />

Para a ca<strong>de</strong>ia seria <strong>de</strong>stinada a Penitenciaria,<br />

que jaz ha muito abandonada, <strong>de</strong>teriorando-se<br />

por o <strong>de</strong>sleixo do governo e pela<br />

incúria das auctorida<strong>de</strong>s competentes.<br />

O commercio teria tudo a lucrar, poupando<br />

a enorme caminhada ao Governo Civil,<br />

que não só está em local pouco proprio,<br />

mas além d'isso, não tem as commodida<strong>de</strong>s<br />

que eram para <strong>de</strong>sejar e são precisas a um<br />

estabelecimento <strong>de</strong> tal or<strong>de</strong>m.<br />

Que o sr. conselheiro Julio <strong>de</strong> Vilhena se<br />

não esqueça do seu alvitre.


BEFENSOB DO POVO-1. 1 ANNO Quinta feira, 24 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895 — N . ° 51<br />

Arrematação das carnes<br />

Como dissémos não concorreu nenhum<br />

marchante á nova arrematação annunciada<br />

por edital, e á gréve respon<strong>de</strong>u a camara<br />

tomando sobre si o exclusivo da venda,<br />

abrindo quatro talhos na cida<strong>de</strong>: — um no<br />

bairro alto, outro na praça do Commercio e<br />

dois no mercado.<br />

Depois do que se havia passado entre a<br />

camara e os marchantes, não se podia resolver<br />

outra coisa, se bem que combatamos o<br />

monopolismo, pois é um travão á liberda<strong>de</strong><br />

do commercio, que se quer expansivo.<br />

Mas á camara assistia-lhe o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> ser<br />

energica, e não transigir. Deve-se precaver,<br />

pois que na sua mão está evitar alguma cilada<br />

que se premedite e que a população<br />

soffra as consequências d'uma vingança.<br />

Não pô<strong>de</strong> a camara — nem <strong>de</strong>ve — adiar<br />

por muitas semanas o estabelecimento dos<br />

seus talhos, como não <strong>de</strong>ve limitar-se somente<br />

a dois talhos no mercado, pois que é gran<strong>de</strong><br />

o consumo e muitíssima a concorrência todos<br />

os dias <strong>de</strong> manhã.<br />

E 1 preciso que n'este assumpto se proceda<br />

cautellosamente e não se <strong>de</strong>ixe arrastar a<br />

influencias que po<strong>de</strong>m levar a camara a uma<br />

vergonhosa transigência.<br />

Veremos os resultados.<br />

o<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

Em congregação da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direto<br />

foi resolvido representar ao governo pedindo<br />

o <strong>de</strong>sdobramento do curso do primeiro anno<br />

jurídico.<br />

E' <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> vantagem para os alumnos<br />

a obtenção d'este pedido, porque serão mais<br />

vezes chamados, e os professores po<strong>de</strong>rão<br />

formar um conceito mais seguro da sua intelligencia<br />

e applicação.<br />

As faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Mathematica e Phylosophia<br />

também representaram ao governo no<br />

mesmo sentido, pela gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

alumnos que contam os primeiros annos das<br />

respectivas faculda<strong>de</strong>s.<br />

As arruaças<br />

Parece, que em virtu<strong>de</strong> das gran<strong>de</strong>s troças<br />

nos geraes e mais corredores da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>,<br />

se pensa em ser transferida as aulas<br />

dos novatos para hora differente da dos veteranos.<br />

O sr. guarda-mór recebeu or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> reprimir<br />

energicamente as arruaças.<br />

Era conveniente essa transferencia, para<br />

evitar dissabores aos turbulentos mancebos.<br />

Dá esperanças<br />

Francisco Sineiro, <strong>de</strong> 14 annos vibrou<br />

uma naifada na cabeça duma rapariguita <strong>de</strong><br />

7 annos, chamada Zélia <strong>de</strong> Mattos.<br />

O heroe dá esperanças...<br />

Tnna Académica<br />

Reuniu segunda feira a Tuna Académica,<br />

para tratar <strong>de</strong> vários assumptos, entre os<br />

quaes são dos seguintes :<br />

Nomear os cargos <strong>de</strong> presi<strong>de</strong>nte, vicepresi<strong>de</strong>nte<br />

e thesoureiro, actualmente vagos.<br />

Abrir inscripção para prehencher as vagas<br />

<strong>de</strong> membros executantes.<br />

Marcar o dia para o primeiro ensaio.<br />

A resolução d'estes importantes assumptos<br />

ficou pen<strong>de</strong>nte d'outra reunião, que será<br />

convocada para muito breve.<br />

Folhetim—«Defensor do Povo»<br />

0 CORSÁRIO PORTIGIEZ<br />

ROMANCE MARÍTIMO<br />

ORIGINAL DE<br />

CAPITULO IV<br />

O naufrágio<br />

O abalo foi gran<strong>de</strong>, mas maior foi o que<br />

se lhe seguiu! As vagas atiraram com a fragata<br />

para cima das pedras, arrancaram-lhe<br />

os mastaréus e vergas <strong>de</strong> joanetes, que foram<br />

arremessados pela borda!<br />

O navio estava aberto, e a agua entravalhe<br />

até á braçola da escotilha gran<strong>de</strong>! Tudo<br />

era confusão e gritaria.<br />

A fragata porém escon<strong>de</strong>u-se <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong><br />

agua, e apenas lhe ficou <strong>de</strong>sembaraçado o<br />

castello <strong>de</strong> proa.<br />

Momentos <strong>de</strong>pois, fragmentos dispersos<br />

e membros <strong>de</strong>spedaçados é quanto se via ao<br />

cimo da agua. Era a consequência fatal da<br />

estulta pretensão d'um nobre fidalgo.<br />

Actos <strong>de</strong> benemerencia<br />

O sr. Cal<strong>de</strong>ira da Silva, eximio cirurgião<br />

<strong>de</strong>ntista, n'esta cida<strong>de</strong>, pelas suas excellentes<br />

qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cavalheiro, pela sua bonda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> coração e principalmente pela sua pericia<br />

como profissional, tem merecido as publicas<br />

sympathias d'uma cida<strong>de</strong> e o que é mais, a<br />

gratidão e reconhecimento da pobreza e da<br />

indigência, a quem elle presta os seus soccorros<br />

gratuitamente, afora as corporações, a<br />

quem offereceu os serviços, e as quaes em<br />

seguida enumeramos:<br />

Asylo da Mendicida<strong>de</strong>.<br />

Asylo da Infancia Desvalida.<br />

Orphãos <strong>de</strong> ambos os sexos <strong>de</strong> Santa<br />

Casa da Misericórdia.<br />

Subsidiados da Socieda<strong>de</strong> Philantropico-<br />

Aca<strong>de</strong>mica.<br />

Presos da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Santa Cruz.<br />

Ordinandos pobres do Seminário.<br />

Cabos e soldados do 23.<br />

De todas estas corporações recebeu o<br />

nosso amigo, officios <strong>de</strong> recepção, nos quaes<br />

se agra<strong>de</strong>cia, louvando a generosa offerta, e<br />

acceitando-a com reconhecimento.<br />

As duas corporações — Associação dos<br />

Artistas e policias civis — é que parece prescindiram<br />

dos serviços do sr. Cal<strong>de</strong>ira da Silva,<br />

dispensando-lhe o seu benemerito auxilio em<br />

beneficio dos seus socios e dos guardas, pois<br />

que lhes foi feito o mesmo offerecimento e<br />

nunca avisaram a sua recepção.<br />

Estas indifferenças são compensadas por<br />

documentos <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ração superior, não só<br />

pelas corporações conimbricenses, que acima<br />

Presi<strong>de</strong>nte da camara<br />

Na quinta feira reassumiu a presi<strong>de</strong>ncia<br />

da camara, o sr. dr. Ayres <strong>de</strong> Campos,<br />

dirigindo os trabalhos da sessão d'esse dia.<br />

Foi cumprimentado pelos seus collegas,<br />

que o felicitaram pelo seu completo restabelecimento;<br />

e por outros seus amigos.<br />

Km cárcere privado<br />

Dois agentes policiaes d'esta cida<strong>de</strong> dirigiram-se<br />

a Rios Frios freguezia <strong>de</strong> Vil <strong>de</strong><br />

Mattos, para darem liberda<strong>de</strong> a Maria Rosa,<br />

<strong>de</strong> 80 annos, que um sobrinho da mesma,<br />

conservava reclusa em sua casa, ao que se<br />

dizia, ha muito tempo.<br />

A infeliz foi encontrada morta e completamente<br />

abandonada apenas dpis gatos estavam<br />

velando o cadaver.<br />

Pelo exame medico a que vae proce<strong>de</strong>r-se<br />

averiguar-se-á se houve ou não criminalida<strong>de</strong>.<br />

O sr. commissario <strong>de</strong> policia já communicou<br />

este estranho acontecimento ao <strong>de</strong>legado<br />

do ministério publico em vista das<br />

suspeitas <strong>de</strong> ter havido crime.<br />

N'este sinistro morreram duzentas e tantas<br />

pessoas, e salvaram-se apenas cento e<br />

vinte, incluindo o commandante, João Traquete<br />

e o immediato!<br />

Um mez <strong>de</strong>pois d'este doloroso acontecimento<br />

respondiam a conselho <strong>de</strong> guerra o<br />

commandante e o immediato, que cumprira<br />

com o seu <strong>de</strong>ver; mas como não era fidalgo,<br />

e sobre elle pesava a vingança do senhor D.<br />

Francisco <strong>de</strong> Sarmento e Castro, foi con<strong>de</strong>mnado<br />

a ser exautorado <strong>de</strong> todas as suas<br />

honras por tres annos, emquanto que o único<br />

criminoso era absolvido, ficando com a sua<br />

conducta illibada!... E quando o con<strong>de</strong> <strong>de</strong>...,<br />

ministro da marinha, <strong>de</strong>u parte ao príncipe<br />

regente do sinistro, disse-lhe:<br />

— Meu senhor, per<strong>de</strong>u-se a fragata Senhora<br />

da Conceição, e tem vossa alteza real<br />

duzentos súbditos <strong>de</strong> menos e um excellente<br />

vaso <strong>de</strong> guerra, mas resta-lhe a consolação,<br />

que se salvou o commandante, que é o melhor<br />

official da marinha portugueza.<br />

CAPITULO V<br />

Fidalgo e plebeu<br />

Carlos, ao ser-lhe intimada a sentença,<br />

ficou aterrado! Nunca acreditára em tamanha<br />

injustiça, e n'esse mesmo dia pediu a sua<br />

<strong>de</strong>missão.<br />

Aggresísào<br />

Consta que estão sendo instaurados processos<br />

civis e académicos contra os troupistas,<br />

que n'uma das noites passadas tiveram<br />

o mau gosto <strong>de</strong> aggredir o sr. padre Motta,<br />

ainda retido no leito.<br />

E' necessário applicar-lhes um correctivo<br />

energico que os faça arrepen<strong>de</strong>r por uma<br />

vez e para <strong>de</strong> futuro evitar estes lamentaveis<br />

acontecimentos. Lamentamos.<br />

Partido medico<br />

Foi provido no partido medico, creado<br />

pela camara municipal, o sr. dr. Vicente<br />

Rocha clinico distincto e muito estimado, e<br />

único candidato a esse logar.<br />

Como já dissémos, e repetimos, a creaçao<br />

d'este partido era bem dispensado, pois que<br />

o concelho <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> tem clínicos <strong>de</strong> partido<br />

que prestam os seus serviços nas freguezias<br />

ruraes.<br />

Além d 1 isso a cida<strong>de</strong> tem o sufficiente<br />

em soccorros médicos e não ha <strong>de</strong> ser o<br />

cilnico da camara que ha <strong>de</strong> ser chamado<br />

pelas classes pobres, ou remediadas, pois<br />

que têm a Santa Casa da Misericórdia que<br />

Domingo, 27 do corrente, realisar-se-ha<br />

com toda a pompa na freguezia <strong>de</strong> Castello<br />

Viegas, uma solemne festivida<strong>de</strong> em honra<br />

<strong>de</strong> Nossa Senhora da Pieda<strong>de</strong>, imagem que<br />

a essa freguezia foi offerecida pelo sr. Jorge<br />

da Silveira Moraes, commerciante n'esta cida<strong>de</strong>.<br />

A ; s oito horas da manhã, <strong>de</strong>pois da<br />

benção do ritual, será a imagem conduzida<br />

processionalmente da ermida <strong>de</strong> S. Pedro<br />

para a egreja, on<strong>de</strong> será cantada a ladainha.<br />

Ao meio dia missa solemne a gran<strong>de</strong><br />

instrumental subindo ao Evangelho ao púlpito<br />

o distincto orador sagrado rev. Alfredo<br />

Augusto do Amaral, digníssimo prior em<br />

Santo Antonio dos Olivaes.<br />

A's quatro horas da tar<strong>de</strong> solemne te-<strong>de</strong>um<br />

e procissão terminando com a benção do<br />

Santíssimo Sacramento. A' noite arraial,<br />

balão e queimar-se-ha um vistoso fogo <strong>de</strong><br />

artificio. Abrilhantará a festivida<strong>de</strong> a bem<br />

conceituada philarmonica <strong>de</strong> Taveiro.<br />

Melhoramento importante<br />

Os bombeiros voluntários vão comprar<br />

um breach para facilitar a saída do material<br />

em casos <strong>de</strong> incêndio fóra da cida<strong>de</strong>.<br />

Seu pae supportou corajoso a triste noticia,<br />

e procurou animal-o, aconselhando-lhe<br />

prudência e resignação.<br />

— Pae, respon<strong>de</strong>u-lhe o pobre mancebo<br />

com o coração ulcerado pela dôr, acceito os<br />

seus conselhos, que são judiciosos! Terei<br />

coragem e resignação; mas hei <strong>de</strong> vingar-me<br />

d'esta injustiça ! Infames, que assim me roubaram<br />

o futuro e as doces esperanças que<br />

alimentava! Já não tenho dragonas, mas<br />

conservo a minha espada e disponho <strong>de</strong> coragem<br />

!<br />

«Em oito dias partirei para Inglaterra,<br />

compro um navio, tiro, carta <strong>de</strong> corso, e<br />

d'ora ávante farei guerra <strong>de</strong> extermínio aos<br />

francezes e aos nobres <strong>de</strong>vassos que, com<br />

um pé sobre os filhos do povo, tentam esmagal-os!<br />

«Mas esmagados serão elles, porque tempo<br />

virá em que os povos hão <strong>de</strong> acordar e sacudir<br />

as odiosas algemas, que a nobreza, auxiliada<br />

pelo po<strong>de</strong>r theocratico, lhes lançou.<br />

O doutor Antonio dos Anjos estava abatido<br />

e soffría ao ver a exaltação <strong>de</strong> seu filho;<br />

e para o afastar da i<strong>de</strong>ia em que estava <strong>de</strong><br />

se vingar; disse-lhe;<br />

— Carlos, para que te resentes dos nobres<br />

? Não vejo n'elles culpa alguma da injustiça<br />

que te fizeram. ..<br />

— Meu pae, respon<strong>de</strong>u o joven, é nobre<br />

sua i<strong>de</strong>ia em querer afastar-me d'uma lucta<br />

perigosa; mas quer saber as causas por que<br />

Uma ladra<br />

Deu-se parte para juizo contra Antónia <strong>de</strong><br />

Jesus, moradora proximo ao Senhor dos Afflictos,<br />

por ter furtado algumas roupas, a Rita<br />

<strong>de</strong> Jesus, resi<strong>de</strong>nte na quinta da Sapato.<br />

Carteira da policia<br />

Qaeixa <strong>de</strong> i - oul>0<br />

Maria <strong>de</strong> Jesus, arrendataria da quinta<br />

do Camazão, em Coselhas, queixou-se na 2. a<br />

esquadra do seguinte:<br />

Que ao regressar da cida<strong>de</strong>, para on<strong>de</strong><br />

tinha vindo em companhia <strong>de</strong> sua filha, encontrára<br />

a porta arrombada e a falta <strong>de</strong><br />

240^000 réis em ouro, prata e papel, além<br />

d'um medalhão, um par <strong>de</strong> brincos, duas<br />

cruzes, um cordão, um fio <strong>de</strong> contas, tudo<br />

d'oiro, no valor <strong>de</strong> 36$ooo réis.<br />

A policia anda em averiguações.<br />

C OMMUNICAD 0<br />

lhes dá esses soccorros e os remedios.<br />

Sr. redactor do Defensor do Povo; peço a v.<br />

Antes <strong>de</strong> sabermos quem lograria o lo- a publicação da carta inclusa, que enviei ao<br />

gar fizemos as nossas consi<strong>de</strong>rações e hoje redactor do Operário <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />

repetimol-a, pois vemos na creação d'este Agra<strong>de</strong>cendo, creia-me seu amigo, J. Simões Paes.<br />

partido e no seu prehenchimento uma <strong>de</strong>speza<br />

supérflua, que aggrava os cofres do municí-<br />

Bombeiros Voluntários<br />

pio, seja clinico o sr. dr. Vicente Rocha, ou Sr. redactor — No ultimo numero do seu<br />

outro qualquer.<br />

semanario, em uma noticia ácerca d'uma missa<br />

relacionamos, mas por outras do Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, a quem o sr. Cal<strong>de</strong>ira da Silva pres-<br />

Não é questão <strong>de</strong> homens — saibam.<br />

Em crear encargos e em servir amigos,<br />

em suffragio da alma d'um ministro <strong>de</strong> estado<br />

recentemente extincto, lê-se o seguinte:<br />

tou os seus serviços gratuitamente, como era se lava a camara em agua <strong>de</strong> rosas — os «Nem ao menos alli foram (como é da praxe<br />

á Caixa <strong>de</strong> soccorros <strong>de</strong> D. Pedro v, que lhe seus erros e a sua banalida<strong>de</strong> manifestada na n'estas palacoadas) as corporações da cida<strong>de</strong>.»<br />

mereceu um diploma honroso, ao Asylo <strong>de</strong> administração municipal está em todos os Permitta-me que em nome da corporação dos<br />

meninos <strong>de</strong>svalidos, a quem o fallecido impe- actos da sua gerencia.<br />

bombeiros voluntários, <strong>de</strong> que eu sou commanrador,<br />

que era o presi<strong>de</strong>nte d'aquella casa <strong>de</strong> Felizmente que vão <strong>de</strong>ixar em breve es-<br />

beneficencia, lhe conce<strong>de</strong>ra o titulo honorifico sas ca<strong>de</strong>iras, on<strong>de</strong> alguns, não <strong>de</strong>veriam sen-<br />

<strong>de</strong> cirurgião-<strong>de</strong>ntista da casa imperial, — e tar-se, sem ter dado provas da sua compe-<br />

assim a tantas outras corporações.<br />

tência intellectual — pelo menos.<br />

dante, proteste contra a ironia <strong>de</strong>s<strong>de</strong>nhosa que<br />

resalta d'esse commentario.<br />

Não me indigno só por ver assim menosprezada<br />

unia aggremiaçào que tem por fim exclusivo,<br />

Actos <strong>de</strong>stes não <strong>de</strong>vem ficar olvidados, Que nunca os nossos olhos viram tanta<br />

e aos informes d'um nosso amigo, <strong>de</strong>vemos inépcia; tão falhos <strong>de</strong> bom senso, sem ini-<br />

o ter tido occasião para fazer justiça aos ciativa, subjugando os acisados e os sensatos<br />

méritos profissionaes do sr. Cal<strong>de</strong>ira da Silva — os poucos que ha por lá.<br />

e á acção benefica que tem espalhado pelas<br />

sem a mínima recompensa, arriscar a vida dos<br />

seus membros para salvar a vida e a fazenda em<br />

occasiões <strong>de</strong> incêndios; mas também me revolto,<br />

com duplicada energia, por vêr que n'um jornal,<br />

que se diz <strong>de</strong>fensor das classes trabalhadoras, se<br />

classes pobres e corporações <strong>de</strong> beneficencia.<br />

Honra lhe seja dada.<br />

Festivida<strong>de</strong><br />

estampam allusões aggressivas d'um punhado <strong>de</strong><br />

rapazes operários, que, pela sua coragem philantropia<br />

e abnegação, bem merecem da sua classe<br />

por serem nma honra e uma gloria para ella!<br />

N'outro tempo, quando a frente da corporação<br />

estava um ou outro especulador e aventureiro,<br />

podia suppôr-se, não sem fundado motivo, que ella<br />

seria arrastada a ridículos por quem tinha só em<br />

mira collocar em fóco a sua individualida<strong>de</strong>...<br />

Mas hoje não.<br />

Toda a cida<strong>de</strong> conhece que a actual direcção<br />

não quer <strong>de</strong>sviar a associação para espectaculosas<br />

exhibições.<br />

isto não quer dizer no entanto, que os bombeiros<br />

voluntários não tomem <strong>de</strong> futuro parte em<br />

qualquer <strong>de</strong>monstração festiva ou fúnebre em<br />

honra d'alguem, que directa ou indirectamente lhes<br />

tenha dispensado os seus serviços e a sua protecção.<br />

Creio que v., sr. redactor, não teve em vista<br />

melindrar esta corporação. Faço lhe essa justiça.<br />

Mas por isso mesmo, communicando-lhe a magua<br />

<strong>de</strong> que eu e os meus camaradas nos achamos<br />

possuídos, v. <strong>de</strong>ve congratular-se por lhe se otTerecer<br />

ensejo <strong>de</strong> explicar ou retirar as palavras,<br />

que irreflectidamente lhe saíram dos bicos da<br />

penna.<br />

<strong>Coimbra</strong>, 16 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895.<br />

0 commandante — José Simões Paes,<br />

me revolto contra elles? Leia... leia, e verá<br />

que tenho razão.<br />

Entregou a seu pae uma carta, concebida<br />

nos seguintes termos :<br />

«Ao senhor tenente Carlos Augusto dos<br />

Anjos :<br />

«Um fidalgo nunca <strong>de</strong>ixa impune uma<br />

affronte! Não quiz acceitar a minha protecção<br />

em troca d'um pequeno serviço, receba<br />

as provas do meu resentimento pela sua<br />

solencia !... Os meus parentes e amigo V s,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que lhe constou que o senhor pozera<br />

mãos sacrílegas n'um fidalgo, juraram vingança,<br />

e como appareceu o ensejo, estou vingado.<br />

»<br />

O doutor Antonio dos Anjos ficou como<br />

fulminado, e perguntou a seu filho:<br />

— Mas que significa isto? Don<strong>de</strong> parte<br />

esta perseguição e quaes as causas ?<br />

— Eu lhe digo, meu pae; tinha muita intimida<strong>de</strong><br />

em casa do nosso amigo <strong>de</strong>sembargador<br />

Vasconcellos, on<strong>de</strong> ia muitas vezes um<br />

tal D. Francisco Antonio <strong>de</strong> Sarmento e Castro,<br />

filho d'uma casa titular; este fidalgo <strong>de</strong>vasso<br />

e miserável, nutriu um amor criminoso<br />

por D. Carlota, filha mais nova d'aquelle magistrado,<br />

e teve a audacia <strong>de</strong> me propor um<br />

negocio tão infame como o seu caracter.<br />

Pediu-me protecção, para lhe obter uma entrevista<br />

com a pobre menina, para a raptar<br />

e fazel-a sua amante!<br />

(Continua.)


DEFENSOR R>o P o v o — 1 . ° A N N O<br />

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O Coitadinho, 1 vol. 480 pag<br />

Zizina, 1. vol. illustrado<br />

O Homem dos Tres Calções, 1 vol.<br />

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Irmão Jacques, 2 vol. illustrados. .<br />

No prelo<br />

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<strong>de</strong> A. <strong>de</strong> Paula e Silva, rua do Infante<br />

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Toda a correspondência a José Cunha,<br />

T. <strong>de</strong> S. Sebastião, 3. — Lisboa.<br />

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christal, globos, tubos <strong>de</strong> chumbo, ferro<br />

e borracha, e torneiras <strong>de</strong> todas as qualida<strong>de</strong>s.<br />

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<strong>de</strong> chumbo e ferro.<br />

Gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> em campainhas eléctricas.<br />

A ECONOMIA DO BICO AUEU<br />

O gasto máximo <strong>de</strong> um BICO AUER,<br />

trabalhando com a sua maior força, é <strong>de</strong><br />

5 réis por cada hora<br />

retirando-se toda a inslallação em <strong>Coimbra</strong><br />

e na Figueira da Foz, caso não <strong>de</strong>r<br />

resultado.<br />

99 — RUA DO VISCONDE DA LUZ — 101<br />

COIMBRA<br />

Venda <strong>de</strong> casas ao Calhabé<br />

Ven<strong>de</strong>m-se duas moradas <strong>de</strong> casas<br />

juntas, sitas ao Calhabé, freguezia da Sé<br />

Nova.<br />

Trata-se no estabelecimento <strong>de</strong> José<br />

Possidonio dos Reis, na Estrada da Beira.<br />

No mesmo estabelecimento se encontram<br />

á venda todas as ferramentas para<br />

construcções <strong>de</strong> estradas e agricultura.<br />

Também se encontra um bom sortido<br />

<strong>de</strong> charruas <strong>de</strong> diversos números e fogões<br />

<strong>de</strong> vários tamanhos.<br />

Encarrega-se <strong>de</strong> toda a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

obra, pertencente a serralheria.<br />

JOSE POSSMIO DOS HEIS<br />

ESTRADA DA BEIRA<br />

COIMBRA.<br />

M. RIBEIRO OSORIO<br />

ALFAIATE<br />

185, 1."—R. Ferreira Borges—185, 1."<br />

Participa aos seus freguezes que<br />

recebeu o sortimento <strong>de</strong> fazendas para a<br />

estação <strong>de</strong> inverno, e por preços baratos<br />

para competir com qualquer outra casa.<br />

1T0 DA COMI<br />

CAIEL1EIBE1B0<br />

Escadas <strong>de</strong> S. Thiago n.° 2<br />

COIMBRA<br />

JQ Ciran<strong>de</strong> sortimento <strong>de</strong> cabelleiras<br />

para anjos, theatros, etc.<br />

ARRENDA-SE<br />

Do S. Miguel <strong>de</strong> 1895 em <strong>de</strong>ante a<br />

casa n.° 1, na rua das Colchas: tem<br />

muito boas commodida<strong>de</strong>s, e a loja n.°<br />

10 da mesma casa; a tratar com José<br />

Luiz Martins d'Araujo, na rua do Yiscon<strong>de</strong><br />

da Luz, 90 a 92.<br />

\<br />

RECLAMES E ANNUNCIOS<br />

DI MACHINAS<br />

Estabelecimento <strong>de</strong> fazendas brancas<br />

ARTIGOS DE NOVIDADE<br />

ALFAIATARIA MODERNA<br />

DE<br />

JOSÉ LUIS MARTINS SE ARAUJO<br />

90, Rua do Yiscon<strong>de</strong> da Luz 92 —COIMBRA<br />

6 O mais antigo estabelecimento n'esta cida<strong>de</strong>, com as verda<strong>de</strong>iras machinas<br />

Singer, on<strong>de</strong> se encontra sempre um verda<strong>de</strong>iro sortido em machinas<br />

<strong>de</strong> costura para alfaiate, sapateiro e costureira, com os últimos aperfeiçoamentos,<br />

garantindo-se ao comprador o bom trabalho da machina pelo espaço <strong>de</strong> 10<br />

annos.<br />

Recebe-se qualquer machina usada em troca <strong>de</strong> novas, transporte grátis<br />

para os compradores <strong>de</strong> fúra da terra e outras garantias. Ensina-se <strong>de</strong> graça,<br />

tanto no mesmo <strong>de</strong>posito como em casa do comprador.<br />

Yen<strong>de</strong>m-se a prazo ou prompto pagamento com gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>scanto.<br />

Concerta-se qualquer machina mesmo que não seja Singer com a maxima<br />

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Acaba <strong>de</strong> chegar um gran<strong>de</strong> sortido em casimiras próprias para inverno.<br />

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com forro e sem elle <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 5$000 réis para cima, garante-se qualquer obra<br />

feita n'esta alfaiateria, dão-se amostras a quem as pedir.<br />

Tem esta casa dois bons contramestres, <strong>de</strong>ixando-sé ao freguez a preferencia<br />

<strong>de</strong> optar.<br />

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camisaria e gravatas muito baratas.<br />

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KWUMI TIRAS E ARMAS DE IOGO<br />

DE<br />

JOÃO GOMES MOREIRA<br />

COIMBRA<br />

5o * RUA DE FERREIRA BORGES * 52<br />

(EM FRENTE DO ARCO D^ALMEDINA I<br />

Ferragens para construcções: J ^ í ^ n S í r S E :<br />

Prpfiariprr" ^ err0 e arame P rirBe ' ra qualida<strong>de</strong> com gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>scontos,<br />

í I cydycllo. —Aviso aos proprietários e mestres d'obras.<br />

rutilaria • Cutilaria nacional e estrangeira dos melhores auctores. EspeuUllIdl<br />

Id . cialida<strong>de</strong> em cutilaria Rodgers.<br />

Faniipirnc • Gr y stoflfi > raelal l,ranc °. cabo d'ebano e marfim, completo<br />

raljUcll Uò . sortido em faqueiros e outros artigos <strong>de</strong> Guimarães.<br />

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JORNAL REPUBLICANO<br />

EDITOR — Adolpho da Costa Marques<br />

Redacção e administração—Largo da Freiria, 14, proximo á rua dos Sapateiros<br />

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MVROS: — Annunciam-se gratuitamente quando se receba um<br />

exemplar.<br />

Impresso na Typographia Operaria — <strong>Coimbra</strong>


.AJXIVO 1.°<br />

Defensor<br />

Ultimo estado da questão<br />

Conlinúa o actual governo da monarchia<br />

a sua obra <strong>de</strong>molidora.<br />

Vão <strong>de</strong>sapparecendo, uma a uma, as<br />

garantias <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> politica e civil.<br />

Somem-se cm um insondável pego <strong>de</strong><br />

retrocesso todos os elementos <strong>de</strong> progresso<br />

e civilisação, com rjue nos haviam dotado<br />

as i<strong>de</strong>ias e as revoluções <strong>de</strong>mocráticas.<br />

A sua mão grosseira, pesada, violenta<br />

vae esmagando lodos os dias, uma a uma,<br />

as liberda<strong>de</strong>s populares.<br />

A sua ignorancia atrevida e a sua inépcia<br />

arrogante argumentam a nossa <strong>de</strong>gradação<br />

politica, accrescenlam a nossa pobreza<br />

economica, cada vez mais compromettem e<br />

rebaixam o nosso credito, a nossa boa reputação.<br />

No dizer, e é possível que no conceito,<br />

dos exlrangeiros, nossos credores, somos<br />

um povo <strong>de</strong> caloleiros, uma quadrilha <strong>de</strong><br />

ladrões.<br />

Assim o propalam, e claramente o affirmam<br />

nas barbas auguslas, invioláveis e sagradas<br />

do rei D. Carlos, que o governo, na<br />

sua imprevidência habitual e característica<br />

e por uma levianda<strong>de</strong> imperdoável, mandou<br />

ou consentiu que fosse visitar os principaes<br />

Eslados da Europa.<br />

Depois <strong>de</strong> haver allraído sobre amonarcliia<br />

os odios e as maldições <strong>de</strong> um povo<br />

inteiro, e convertido a corôa em para raios<br />

das suas responsabilida<strong>de</strong>s tremendas, os<br />

ministros da realeza enviam o seu rei, que<br />

em todo o caso é o chefe politico e o supremo<br />

representante d'esta Nação <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nte<br />

e enxovalhada, em viagem aos paizes exlrangeiros,<br />

expondo o rei e na pessoa do<br />

rei a Nação ao ridículo a ás maiores affrontas,<br />

occasionando ao mesmo lempo <strong>de</strong>sinlelligencias<br />

e conflictos diplomáticos, que<br />

mais complicam, e aggravam a nossa <strong>de</strong>sgraçada<br />

situação politica, precarias e affliclivas<br />

circumslancias economicas.<br />

Que o rei <strong>de</strong> Portugal prosiga na sua<br />

viagem, que o governo persista nos seus<br />

malévolos e criminosos inlenlos O Povo<br />

portuguez saberá um dia, que não vem, que<br />

não po<strong>de</strong>rá"vir longe, repeli ir injurias e castigar<br />

a prolervia dos seus <strong>de</strong>salmados oppressores,<br />

operários da sua ruína e <strong>de</strong>scrédito.<br />

Que o rei caminhe, caminhe pelas côrtes<br />

da Europa, que seja recebido com pompas<br />

no Quirinal, e alcance a benção apostólica<br />

no Vaticano.<br />

Que a realeza gose e se divirta ou conspire,<br />

como dizem, contra a <strong>de</strong>mocracia nas<br />

côrtes <strong>de</strong> Inglaterra, Allemanlia e Áustria.<br />

Que o rei não tenha <strong>de</strong>scanço no seu<br />

corpo, nem socego no seu atlribulado espirito.<br />

Também as i<strong>de</strong>ias republicanas crescem,<br />

e se propagam, Iranquilla e mageslosamente<br />

avançam.<br />

Contra a realeza e contra as instituições<br />

monarchicas lambem conspiram a<br />

opinião publica e a consciência nacional, a<br />

razão livre e a vonta<strong>de</strong> soberana e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

<strong>de</strong> um Povo, nobre e altivo, cioso dos<br />

seus direitos, amante apaixonado da sua<br />

honra politica, da sua dignida<strong>de</strong> e civismo.<br />

•<br />

Baldado esforço, inútil recurso seria<br />

pois, quando ousassem tenlal-o os inimigos<br />

conjurados da <strong>de</strong>mocracia, adversarios implacáveis<br />

da republica, essa tal e Ião apregoada<br />

intervenção exlrangeira, para especar<br />

o Ihrono e sustentar nelle a realeza, para<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a monarchia, irremediavelmente<br />

con<strong>de</strong>mnada, dos golpes da revolução; —<br />

essa tal inlrevenção armada para reprimir e<br />

severamente castigar os justificados Ímpetos<br />

e dominar as justíssimas reivindicações <strong>de</strong><br />

um povo, que já fundamente aborrece a<br />

realeza e <strong>de</strong>testa os seus ministros, <strong>de</strong> um<br />

povo, que, mais dia menos dia, os ha <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>rribar e proscrever, <strong>de</strong> um povo, que<br />

elles, á fina força, querem continuar a opprimir<br />

e a esmagar impunemente.<br />

—<br />

O panno <strong>de</strong> amostra<br />

As folhas governamentaes botam foguetes<br />

e acen<strong>de</strong>m luminarias porque a Havas—<br />

muito conhecida pelas suas artes — publicou<br />

um telegramma on<strong>de</strong> se via as gran<strong>de</strong>s sympathias<br />

da imprensa itailana, pela <strong>de</strong>cisão do<br />

rei em não visitar a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Roma.<br />

O diabo é que esses fogos-fatuos <strong>de</strong>pressa<br />

se apagaram com o telegramma <strong>de</strong> Roma,<br />

do dia 22, publicado pelo — El Imparcial,<br />

tido e havido por insuspeito :<br />

«Quasi todos os jornaes, incluindo os da opposição,<br />

approvam a conducta do governo italiano, na<br />

questão do fracasso da viagem do rei <strong>de</strong> Portugal;<br />

condueta que dá a conhecer <strong>de</strong> uma maneira clara<br />

e explicita o telegramma da agencia Stefani cujo<br />

texto hontem cominunicámos.<br />

«Além <strong>de</strong> que a dignida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Italia impunha-se<br />

na resolução adoptada pelo ministério estabelecendo<br />

que a legação <strong>de</strong> Italia, em Lisboa, se limite<br />

ao <strong>de</strong>spacho dos negocios<br />

correntes, emquanto o governo portuguez<br />

não recobre a io<strong>de</strong>peu<strong>de</strong>ncia<br />

da sua politica.<br />

«La Tribuna, periodico geralmente bem informado,<br />

<strong>de</strong>clara hoje que o barão Blanc, ministro dos<br />

negocios extrangeiros <strong>de</strong> Italia, adoptará para com<br />

o sr. Vaseoncellos, representante portuguez na<br />

corte do Quirinal, a mesma conducta que o sr.<br />

Cariati, ministro italiano em Lisboa, ha <strong>de</strong> observar<br />

relativamente ao governb portuguez; isto é, limitar-se<br />

ao simples expediente».<br />

São d'este quilate as sympathias que se<br />

apregoam pelos jornaes italianos, que veem<br />

na resolução do rei <strong>de</strong> Portugal uma imposição<br />

do Vaticano a que ce<strong>de</strong>u a cobardia do<br />

governo portuguez, o poltrão mais inepto,<br />

que cobre a divinda<strong>de</strong>!<br />

De nada valeram as habilida<strong>de</strong>s do calcinhas,<br />

o dandy dos extrangeiros, que apanhou<br />

em cheio^do príncipe Cariati, encarregado dos<br />

negocios <strong>de</strong> Italia em Portugal, a seguinte<br />

<strong>de</strong>claração: — a que a legação <strong>de</strong> Italia se limitava<br />

ao <strong>de</strong>spacho dos negocios correntes,<br />

emquanto o governo portugue% não recobrar<br />

a in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia da sua politica.d<br />

E' com esta in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia e altivez que<br />

o governo italiano respon<strong>de</strong> á submissão vergonhosa<br />

d'um ministério, sem força moral<br />

para reagir aos manejos dos reaccionários,<br />

que se impozeram ao rei <strong>de</strong> Portugal, pondo<br />

em cheque seu tio Humberto.<br />

Falla-se que este conflicto será a quéda<br />

do governo.<br />

E' falso para isso seria preciso que houvessem<br />

sentimentos <strong>de</strong> nobreza, dotes <strong>de</strong> civismo,<br />

vergonha e pondonor, virtu<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sconhecidas<br />

por esses traidores do po<strong>de</strong>r que<br />

dominam o paiz, para o arrastarem ás maiores<br />

baixezas, ven<strong>de</strong>ndo a patria á Inglaterra,<br />

como o fez esse cynico ministro da fazenda,<br />

pelo tratado infamante <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> agosto...<br />

Gran<strong>de</strong>s culpas se tem a punir!<br />

Eterna vergonha<br />

O fanfarrão ministro da marinha, que<br />

<strong>de</strong>sembainhou a espada para aggredir os<br />

seus camaradas, anda em vergonhosa viasacra,<br />

a pedir a esmola do perdão. Assim o<br />

dá a enten<strong>de</strong>r nestas palavras o Diário Popular:—«Consta<br />

que o sr. ministro da marinha<br />

procurou ante-hontem á noite o sr. general<br />

Queiroz, commandante geral das guardas municipaes,<br />

afim <strong>de</strong> dar-lhe explicações ácerca<br />

dos <strong>de</strong>sagradaveis inci<strong>de</strong>ntes occorridos no<br />

arsenal da marinha.»<br />

Afirmando também a Tar<strong>de</strong> constar-lhe<br />

que o sr. ministro da marinha procurára para<br />

o mesmo fim o sr. general <strong>de</strong> divisão.<br />

Até um jornal que passa por orgão official<br />

do governo — <strong>de</strong>pois do Século — <strong>de</strong>nuncia<br />

a baixeza do ministro brigão!<br />

Parece que o general <strong>de</strong> divisão não quiz<br />

acceitar essas explicações, que foram impostas<br />

pelos ministros da guerra e reino.<br />

A fera, humil<strong>de</strong> ao castigo dos domadores!<br />

E tudo para ficar!..,<br />

do Povo<br />

COIMBRA —Domingo, 27 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895<br />

MATADOIRO<br />

Tem uma historia muito curiosa esta questão<br />

do matadoiro, ein que a camara se mostrou<br />

muito influída com este melhoramento,<br />

arrefecendo <strong>de</strong> enthusiasmo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que uns<br />

sornas começaram a nutrir caprichos, impedindo<br />

que numa sessão <strong>de</strong> ha dias se não<br />

adjudicasse ao syndicato <strong>de</strong> Lisboa, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

que não tinham havido outros concorrentes.<br />

Expliquemos minuciosamente os extranhos<br />

casos:<br />

No dia 20 d'agosto fechou se o concurso,<br />

aberto pela camara, por espaço <strong>de</strong> 20 dias,<br />

para a adjudicação da construcção e exploração<br />

<strong>de</strong> um matadoiro publico nesta cida<strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong>vendo os concorrentes, além <strong>de</strong> outras<br />

condições <strong>de</strong>terminadas no programma do<br />

concurso, levar os esgotos para a Ribeira <strong>de</strong><br />

Coselhas, por canalisação especial construída<br />

<strong>de</strong> sua conta, e bem assim abrir á sua custa,<br />

quatro avenidas <strong>de</strong> 20 metros <strong>de</strong> largura, em<br />

redor do edifício do matadoiro.<br />

Não appareceu nestas condições, concorrente<br />

algum e apenas a empreza já concessionaria,<br />

por <strong>de</strong>liberação camarada <strong>de</strong> 22 <strong>de</strong><br />

abril, officiou á camara mantendo os termos<br />

do seu pedido <strong>de</strong> concessão conforme noticiámos.<br />

A camara — embora todo o seu zelo pelos<br />

melhoramentos locaes e a boa disposição da<br />

cida<strong>de</strong>, em relação a este negocio — adormeceu<br />

sobre o assumpto, acordando ao cabo <strong>de</strong><br />

3o dias (19 <strong>de</strong> setembro), com a resolução <strong>de</strong><br />

annunciar novo concurso, no prazo <strong>de</strong> 20 dias<br />

nos mesmos termos da primitiva, mas dispensando<br />

os concorrentes da construcção do<br />

tal cano dos esgotos para Coselhas e da abertura<br />

das avenidas.<br />

Este novo concurso terminou no dia 19<br />

do corrente, e a camara veiu a reunir nesse<br />

dia, mas nem na sessão <strong>de</strong> quinta feira 17,<br />

se occupou d'este negocio.<br />

Tem a camara consumido sete me^es,—que<br />

tantos são os que <strong>de</strong>correm <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 19 d'abril,<br />

em que a Emprega Industrial fez em commandita<br />

o pedido <strong>de</strong> concessão, até—hoje sem<br />

avançar um palmo no caminho pratico e viável<br />

para a realisação d'este indispensável<br />

melhoramento.<br />

O nosso collega o Districto <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />

que tanto se louvaminhou com o zelo e atilado<br />

critério da camara, naquella concessão,<br />

quando ella foi tão discutida no collega—Tribuno<br />

Popular — não po<strong>de</strong>rá agora dar-nos a<br />

razão d^ste caminhar <strong>de</strong> caranguejo?<br />

Ninguém melhor que o illustrado co lega<br />

nos po<strong>de</strong>rá informar sobre este ponto, se<br />

ainda não mudou <strong>de</strong> opinião quanto á utilida<strong>de</strong><br />

do matadoiro, e quanto ao projecto<br />

apresentado pelos concessionários <strong>de</strong> Lisboa.<br />

Porque ainda o publico não sabe as vantagens<br />

superiores que a companhia constructora<br />

e exploradora do matadoiro oíferece<br />

sobre o actual. Em o sabendo, melhor apreciará<br />

o <strong>de</strong>sleixo da camara, neste assumpto,<br />

e quanto tem sido con<strong>de</strong>mnavel a sua indifferença,<br />

vendo ao mesmo tempo a injustiça dos<br />

louvores, que, á camara manicipal dirigiu<br />

em tempos, o collega do Districto <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />

Entraremos <strong>de</strong> vez, no assumpto, para o<br />

proximo numero, por quanto precisamos<br />

obter mais informações, a po<strong>de</strong>rmos assegurar<br />

aos nossos leitores, quanto é importante<br />

para <strong>Coimbra</strong> que se realisasse este<br />

melhoramento.<br />

Para que se possa fazer uma i<strong>de</strong>ia approximada<br />

do que seria esse grandioso edifício<br />

tanto externa, como internamente, visite o<br />

publico a — Papelaria Central — ao principio<br />

da rua do Viscon<strong>de</strong> da Luz, e <strong>de</strong>pois nos<br />

dirá o que merece a maioria da camara, com<br />

vereadores que andam a promover o adiamento<br />

da concessão, que, como dissemos, só<br />

falta ser adjudicada, pois que a empreza está<br />

habilitada a proce<strong>de</strong>r á obra immediatamente.<br />

Isto havia <strong>de</strong> ser na Figueira.<br />

E' que a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> jaquetas é <strong>de</strong> superior<br />

panno.<br />

Calote fra<strong>de</strong>sco<br />

Deu se principio aos processos contra as<br />

corporações religiosas em França, que se recusavam<br />

terminantemente a satisfazer o imposto<br />

<strong>de</strong> rendimento em divida.<br />

A congregação dos padres d^ssumpção<br />

que tem a sua sé<strong>de</strong> em Paris, na rua Francisco<br />

I, foi citada a pagar uns 80:000 francos.<br />

Os mesmos padres imprimem um jornal<br />

— A Cru\, <strong>de</strong> sua proprieda<strong>de</strong>.<br />

Também — A Verda<strong>de</strong> — jornal religioso<br />

tem calote e a cada um dos proprietários fo-<br />

I ram entregues citações, cujos nomes foram<br />

registados.<br />

Ora os padres nem á mão <strong>de</strong> Deus Padre,<br />

querem fazer o pagamento do imposto,<br />

e colligados recusa am-se formalmente. Em<br />

breve os surprehen<strong>de</strong>rá a penhora.<br />

E nem o padre santo lhes vale!...<br />

Tar<strong>de</strong> piaste!...<br />

1<br />

Fr. Zé dos Quraçóes reuniu ha dias, em<br />

S. Vicente, todo o clero do seu patriarchado<br />

para tratar <strong>de</strong> impedir quanto possa o enterramento<br />

civil. Não se importa nem com o<br />

casamento, nem com o baptisado.<br />

Boa alma! E 1 para livrar o morto das<br />

penas do inferno !.. .<br />

Quem não tem que fazer...<br />

Fallar alto!<br />

A Província, progressista portuense, fatiando<br />

da expedição da Índia, nota a falta do<br />

sr. D. Carlos ao seu embarque a bordo do<br />

Zaire, e diz assim :<br />

«Queríamos hoje ver alli no arsenal, <strong>de</strong>spedindo-se<br />

dos expedicionários, el-rei D. Carlos.<br />

Alli é que era o seu logar. Quando a patria está<br />

encarregada por tantas e tão terrivi is crises, por<br />

tantas e tão repetidas angustias, pensa-se oomo a<br />

rainha regente <strong>de</strong> Hespanha <strong>de</strong> quem ha pouco<br />

ainda lémos ter dito, a proposito da sua visita a<br />

Portugal, que não sairia do seu paiz emquanto o<br />

assoberbassem tão graves cuidados.»<br />

Bem se se importa o rei e o roque com<br />

esses centenares <strong>de</strong> valentes, que vão por<br />

esses mares em honrosa missão patriótica ?<br />

A quem doer a cabeça — que a aperte.<br />

XXII<br />

O preço dos paços<br />

Não nos custam os paços só o preço da<br />

lista civil. Elles levam-nos o ouro por muitos<br />

modos.<br />

Num dos últimos números do Diário Popular<br />

lê-se o seguinte :<br />

«O ministro das obras publicas vae mandar<br />

arranjar a rua do Cruzeiro em Ajuda,<br />

porque sua magesta<strong>de</strong> a rainha mostrou <strong>de</strong>sejos<br />

d'essa reconstrucção».<br />

Vejam como o ministro das obras publicas<br />

serve aos <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> sua magesta<strong>de</strong>.<br />

E' Lobo d'Avila a querer ter ascen<strong>de</strong>nte<br />

no paço, comprando ò favor real com os dinheiros<br />

da nação.<br />

Faz-se uma estrada não como melhoramento<br />

publico; mas como capricho particular<br />

!<br />

Quando o povo pe<strong>de</strong> que se melhore o<br />

transito, é surdo o governo; mas quando nos<br />

paços se mostram <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> uma estrada, o<br />

ministro é prompto em obe<strong>de</strong>cer!<br />

E dizem que o rei reina e não governa.<br />

Nós ao contrario vemos que não só governa<br />

o rei; mas governa a rainha também.<br />

Para as estradas que o povo pe<strong>de</strong>, não<br />

ha dinheiro; para aquellas que os reis <strong>de</strong>sejam,<br />

sobram os capitaes !<br />

E <strong>de</strong>ante <strong>de</strong> tantos exemplos dos paços,<br />

continuar-se-ha o povo a illudir com o phantasma<br />

da liberda<strong>de</strong> ?<br />

D'aqui para o futuro, quando o povo quizer<br />

estradas não requeira nem ao parlamento<br />

nem ás obras publicas; metta por empenho<br />

o paço, e estará servido. Depois <strong>de</strong> todos<br />

os caprichos da camarilha, digam-nos, se<br />

sabem:<br />

— Qual é o preço dos paços?


DEFENSOR DO POVO-1- 0 ANNO Domingo, 27 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895 — N.° 52<br />

Sciencias, lettras e artes<br />

.A.S G i ^ I ^ - I D ^ - S<br />

(Timotro Trin)<br />

VERSVO LIVRE DO HESPANHOL<br />

Ha alguns dias fui visitar D. Marquinhas,<br />

senhora dos seus cincoenta annos, bem puchados,<br />

casada, sem filhos, séria, grave e extremamente<br />

magra. Seu marido é o reverso<br />

da medalha; não só é summamente gordo,<br />

mas alegre e folgazão como poucos.<br />

O rendimento que disfructa este casal,<br />

ainda que não muito gran<strong>de</strong>, chega todavia<br />

para as necessida<strong>de</strong>s da vida; e os dois cônjuges<br />

seriam completamente felizes, se não<br />

fossem... as criadas. D. Marquinhas não<br />

arranja uma só que lhe agra<strong>de</strong>. Eis a historia<br />

das que têm tido até ao presente, como<br />

durante a visita me contaram.<br />

•<br />

A primeira creada que tivemos, começou<br />

D. Marquinhas, chamava-se Manuela. Era<br />

pallida pela manhã, e corada á tar<strong>de</strong>. Meu<br />

marido não extranhava que a rapariga mudasse<br />

tão rapidamente <strong>de</strong> côr. Dizia-me o<br />

tonto, para não lhe chamar cousa peor, que<br />

essa mudança era signal <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong>;<br />

gastava-se, porém, muito vinho, era uma<br />

cousa por maior!<br />

Eu punha signaes nas garrafas; encontrava<br />

os signaes, mas o vinho <strong>de</strong>sapparecia<br />

como por encanto!<br />

No entretanto, não encontrava meio <strong>de</strong><br />

lhe lançar as culpas; <strong>de</strong> tornar a Manuela<br />

responsável pelo <strong>de</strong>sfalque.<br />

Uma noite, porém, encontrei-a dansando<br />

no meio da cozinha, bebeda como um cacho.<br />

Immediatamente puz na rua aquella mulher,<br />

apezar dos rogos <strong>de</strong> meu marido, que<br />

a <strong>de</strong>sculpava...<br />

E' que os homens hão <strong>de</strong> ser sempre tolerantes<br />

com todas a-s mulheres, quando não<br />

sejam as suas.<br />

•<br />

A creada, que em seguida tomei, chamava-se<br />

Gregoria; era gailega, recem-chegada<br />

da terra; não bebia senão agua, e até á agua<br />

tinha embirração; era um castigo para ella lavar<br />

as chavenas, os pratos, os copos, etc.,<br />

e sobre tudo esfregar as mesas e o soalho da<br />

cozinha.<br />

Não podia ver Apolo, um gato que, renunciando<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua infanda, ás vaida<strong>de</strong>s<br />

do mundo, passava os dias inteiros <strong>de</strong>itado<br />

sobre a minha cama.<br />

Tudo se quebrava em casa; e cada vez<br />

que lhe perguntava por qualquer objecto que<br />

havia <strong>de</strong>sapparecido, respondia-me Gregoria<br />

invariavelmente:<br />

— Senhora, foi o gato, senhora.<br />

O gato quebrava vasos, pratos, panellas,<br />

copos, tudo emfim.<br />

Durante um mez que a tive em casa, não<br />

me <strong>de</strong>ixou a maldita na cozinha nem na sala<br />

<strong>de</strong> jantar peça alguma inteira.<br />

Além cfisto, e ainda por cima, tudo o que<br />

havia na dispensa diminuía a olhos vistos,<br />

prodigiosamente; biscoutos, chouriços, presunto,<br />

leite, queijo, ovos, tudo, tudo era <strong>de</strong>vorado<br />

pelo pobre e inoffensivo gato, que<br />

nunca se levantava <strong>de</strong> sobre a minha cama.<br />

Um bello dia apanhei-a, como se costuma<br />

dizer, com a bôcca na botija; estava bebendo<br />

um copo <strong>de</strong> leite, e vi que o quebrava logo<br />

em seguida.<br />

A maldita <strong>de</strong>struía assim por uma só vez<br />

o continente e o conteúdo.<br />

Não me convindo ter gato e gata <strong>de</strong>spedi<br />

a gata, e apregoei por toda a visinhança a<br />

innocencia do gato.<br />

•<br />

Depois da Gregoria ajustei uma rapariga<br />

forte, limpa, amavel; parecia, porém, da família<br />

<strong>de</strong> Jacob.<br />

Chamava-se Ramona, tinha pae, madrasta,<br />

avó e avô <strong>de</strong> pae, avó e avô da madrasta,<br />

avô e avó da mãe, irmãos, primos, tios, sobrinhos<br />

e um punhado <strong>de</strong> afilhados.<br />

Sempre tinha <strong>de</strong> visita na cozinha pelo<br />

menos, tres parentes seus.<br />

Tinha sempre algum que ficava a almoçar<br />

ou a jantar, e ás vezes, até a dormir.<br />

Em oito dias arrancaram-me os puchadores<br />

da campainha; em uma vez <strong>de</strong>ixaram-me<br />

sem roupa usada, tanto <strong>de</strong> meu marido como<br />

minha; pediam-m'a toda ou a levavam sem<br />

auctorisação. Emfim tive que mandar embora<br />

a Ramona, e resolvi tomar uma creada<br />

que fosse orphã <strong>de</strong> pae, mãe, e não tivesse<br />

nem avós, nem tios.<br />

•<br />

Maria Joanna era uma formosa biscainha<br />

muito arranjadinha, não tinha outro <strong>de</strong>feito<br />

senão <strong>de</strong>morar-se para ir <strong>de</strong> casa á loja da<br />

esquina; levava tanto tempo seguramente,<br />

como quem fosse <strong>de</strong> Madrid a Leganés.<br />

Encontrava quasi sempre um primoj se o po-<br />

bre rapaz coitado! não tinha outra familia<br />

além d'ella...<br />

Como não era má <strong>de</strong> todo, cozinhava regularmente,<br />

limpava o pó cada oito dias, e<br />

engommava menos mal as camisas para<br />

meu marido; disse-lhe, para evitar <strong>de</strong>moras,<br />

quando a mandava á rua, que consentia ao<br />

primo vir visital-a a minha casa, uma vez<br />

que fosse por pouco tempo.<br />

Veio o primo, com quem nunca fallei; notei<br />

porém, que o primo trazia umas vezes o<br />

uniforme <strong>de</strong> cavallaria, noutras o <strong>de</strong> artilheria,<br />

noutras o <strong>de</strong> engenheria e ainda noutras<br />

o <strong>de</strong> policia.<br />

Não <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> me <strong>de</strong>spertar curiosida<strong>de</strong><br />

aquelle soldado que pretencia a todas as armas.<br />

Cada dia era seu primo.<br />

Paguei-lhe a soldada; e disse-lhe que fosse<br />

para os primos.<br />

Resolvi então tomar uma creada <strong>de</strong> meia<br />

eda<strong>de</strong>, sizuda e que não fosse doida.<br />

•<br />

Minha filha — disse-lhe ao referir-me á<br />

Salvadora — não gosto <strong>de</strong> gente trapalhona<br />

e embusteira, quero que digam a verda<strong>de</strong> antes<br />

que seja contra mim.<br />

Não sabia eu que mulher tinha ao meu<br />

serviço. ..<br />

A maldita dizia a verda<strong>de</strong>: e uma das<br />

verda<strong>de</strong>s que ella dizia a toda a visinhança,<br />

era que eu era feia, que tinha brancas, que<br />

meu marido me <strong>de</strong>sprezava, que comíamos<br />

mal, etc.<br />

Em fim taes verda<strong>de</strong>s dizia a falla<strong>de</strong>ira<br />

da Salvadora, que me vi na necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

a <strong>de</strong>spedir, e quanto antes, para evitar que<br />

Madrid inteira soubesse uma serie <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>s,<br />

que a ninguém importam mas que não<br />

convinha que se soubessem.<br />

(Continua)<br />

Presagios!...<br />

GABIRU.<br />

Com ares <strong>de</strong> propheta e <strong>de</strong> quem lê no<br />

futuro, a Província presagia:<br />

«Todas as censuras, todos os commentarios<br />

<strong>de</strong>sfavoráveis são para a pessoa do rei, que o paiz<br />

aponta como o único culpado dos golpes d'estado<br />

que se lem dado durante a nefasta gerencia do<br />

actual governo. Lá fóra o sr. D. Carlos é consi<strong>de</strong>rado<br />

como rei <strong>de</strong> ladrões e como mantenedor<br />

<strong>de</strong> um governo <strong>de</strong> imbecis.<br />

«Estava escripto que os ministros actuaes, haviam<br />

<strong>de</strong> ser coveiros da monarchia.<br />

«Os fados tinham <strong>de</strong> se cumprir.»<br />

Pelo que se <strong>de</strong>prehen<strong>de</strong> que os ministros<br />

são os coveiros da monarchia. E quem serão<br />

os dos ministros e os dos outros?<br />

MM<br />

Entre Portugal e a Italia<br />

O conflicto que está latente entre as monarchias<br />

das duas nações, ainda é obra dos<br />

nefastos dictadores, que ha tres annos vem<br />

arrazando o paiz, lançando sobre elle a <strong>de</strong>shonra,<br />

o opprobio, escravisando-o á ambição<br />

da Inglaterra, que já o esmagou com a vergonha<br />

do ultimatum, que fez do actual presi<strong>de</strong>nte<br />

do conselho um traidor, corrido do<br />

parlamento!<br />

E é a nação pirata que vae ser visitada<br />

pelo rei <strong>de</strong> Portugal, como o vae ser a Allemanha,<br />

que não ha passados muitos mezes<br />

que em Keonga, se arreava a ban<strong>de</strong>ira portugueza,<br />

no meio d'um vergonhoso silencio<br />

da parte do nosso governo.<br />

E' grave o conflicto com a Italia e isso<br />

mesmo se nota nos telegrammas da Havas,<br />

que, se não dizem tudo quanto se passa, <strong>de</strong>ixam<br />

ver qual a attitu<strong>de</strong> do ministério italiano.<br />

O Imparcial, <strong>de</strong> Madrid, melhor informado,<br />

por noticiam expedidas pela Fabra, põe<br />

a questão claramente, publicando o seguinte<br />

telegramma <strong>de</strong> Roma em data <strong>de</strong> 21:<br />

«0 sr. Soveral <strong>de</strong>clarou ao encarregado <strong>de</strong> negocios<br />

da Italia, o sr. Cariati, que Portugal tinha<br />

manifestado espontaneamente a sua boa vonta<strong>de</strong>,<br />

annunciando ofíicial e publicamente, pelo representante<br />

portuguez, o sr. Carvalho e Vasconcellos,<br />

a sua intenção <strong>de</strong> visitar o Quirinal; mas<br />

que, <strong>de</strong>ante da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

S. S. Leão XIII fazer retirar o<br />

Núncio apostoIico <strong>de</strong> Lisboa e<br />

o perigo <strong>de</strong> complicação internas,<br />

talvez; mais graves, tivera<br />

que <strong>de</strong>sistir do projecto.<br />

«O sr. Cariati respon<strong>de</strong>u, conforme ás instrucções<br />

recebidas, que o governo italiano lamentava<br />

a ditticil situação em que<br />

o <strong>de</strong> Portugal <strong>de</strong>clarava encontrar-se,<br />

fazendo votos amigáveis<br />

por que recobre a in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia<br />

da sua politica. Emquanto<br />

isso uão succe<strong>de</strong>r, a legação<br />

<strong>de</strong> Italia em Lisboa limitai--se-ha<br />

a <strong>de</strong>spachar os negócios<br />

correntes.»<br />

E d'aqui se <strong>de</strong>prehen<strong>de</strong> que o sr. D.<br />

Carlos não foi a Roma, nem vae, por sub-<br />

missão ao papa, por temer a retirada do<br />

núncio <strong>de</strong> Lisboa!<br />

Óptimos serviços nos está prestando a viagem<br />

do rei, que nos vae trazendo a animadversão<br />

da Italia, — a patria <strong>de</strong> Victor Manuel,<br />

a patria <strong>de</strong> seu avô materno 1<br />

VL<br />

0 nosso chufe <strong>de</strong> estado,<br />

<strong>de</strong> Roma sempre se escapa<br />

já não é excommungado...<br />

fica compadre do papa I<br />

Que diria o padre Eterno I<br />

Anjo bento I Abrenuntio!<br />

Em morrendo ir p'ro inferno..<br />

e em vida ficar sem Núncio I<br />

Antes estar bem com Deus<br />

e do Diabo liberto!<br />

Vá p'ro pago<strong>de</strong>. Ora a<strong>de</strong>us I<br />

Man<strong>de</strong> á fava o tio Humberto!<br />

O papa é clemente<br />

(eu esta i<strong>de</strong>ia farisco)<br />

dá-lhe a benção, juntamente,<br />

as armas <strong>de</strong> S. Francisco.<br />

Fríi -Dique.<br />

Movimento republicano<br />

O sr. José Victorino <strong>de</strong> Mattos, um dos<br />

mais importantes proprietários <strong>de</strong> Borba e<br />

quarenta maior contribuinte d'aquelle concelho,<br />

dirigiu uma carta ao ex-<strong>de</strong>putado republicano,<br />

sr. Gomes da Silva, na qual lhe pe<strong>de</strong><br />

que faça saber ao directorio do partido republicano,<br />

que se filiou <strong>de</strong>finitivamente no<br />

gran<strong>de</strong> partido do povo e pelo povo.<br />

E' uma adhesão valiosa.<br />

Os republicanos do Porto disputam a<br />

eleição municipal.<br />

Como se sabe a abstenção é só quanto<br />

ás eleições <strong>de</strong> <strong>de</strong>putados.<br />

Em Braga reuniram-se na redacção do<br />

jornal republicano A Patria muitos membros<br />

do partido republicano bracarense.<br />

Tratou-se <strong>de</strong> assumotos eleitoraes.<br />

Os republicanos <strong>de</strong> Lisboa resolveram e<br />

muito bem, não disputarem as eleições camararias.<br />

Assumptos <strong>de</strong> interesse local<br />

Para a índia<br />

O Século rectifica um mal entendido dalguns<br />

jornaes, dizendo que o major, sr. Francisco<br />

Martins <strong>de</strong> Carvalho, filho do digno<br />

redactor do Conimbricense, fazia parte do<br />

corpo expedicionário. Não é assim...<br />

O sr. major foi convidado a tomar o cominando<br />

das forças da guarnição do estado da<br />

índia, que em virtu<strong>de</strong> da revolta têm <strong>de</strong> ser<br />

completamente reorganisadas.<br />

O convite é honroso para o illustre oflicial<br />

que em Lourenço Marques prestou relevantes<br />

serviços, combatendo com valentia os<br />

gentios do Gongunhana.<br />

Da Europa partem com elle dois capitães,<br />

srs. Júdice <strong>de</strong> artilheria e Men<strong>de</strong>s, d'infanteria,<br />

para o servirem, sob seu commando,<br />

nas forças militares da índia.<br />

Boa viagem, e que a felicida<strong>de</strong> lhe seja<br />

propicia e a victoria certa.<br />

Concerto vocal e musical<br />

Joaquim Tavares, o applaudido tenor portuguez,<br />

trata <strong>de</strong> organisar, para o dia 6 <strong>de</strong><br />

novembro, no theatro Príncipe Real, um explendido<br />

concerto vocal e instrumental, sendo<br />

coadjuvado por distinctos artistas e amadores,<br />

que abrilhantarão esta festa artística.<br />

O programma é escolhido, as melhores<br />

operas, dos mais notáveis maestros italianos,<br />

francezes e allemães, serão cantadas pelo reputado<br />

tenor, Joaquim Tavares — que tem<br />

recebido no extrangeiro, e ultimamente no<br />

Porto, as maiores manifestações <strong>de</strong> agrado<br />

— e pelas cantoras, a celebre Brambilla e a<br />

distincta Fassine.<br />

Artistas <strong>de</strong> reconhecido mérito e também<br />

amadores farão a parte musical, e um sexteto<br />

executará magníficos trechos musicaes.<br />

Como se vê é um sarau attrahente, por<br />

artistas <strong>de</strong> nome, como são Tavares, Brambilla<br />

e Fassine, que bem merecem o auxilio<br />

do publico.<br />

Brevemente se distribuirá o programma.<br />

Dissertações<br />

Os dois candidatos a conclusões magnas<br />

na faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> mathematica já distribuíram<br />

pelos professores as suas dissertações.<br />

A do sr. Santos Lucas, intitula-se — Transformações<br />

<strong>de</strong> contacto; a do sr. Silva Bastos<br />

— Sobre a equação <strong>de</strong> Laplace a ires variaveis.<br />

E' em novembro que irão a actos maiores.<br />

Casa Havaneza<br />

No seu genero, a Casa Havanesa, é a primeira<br />

<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, porque o seu proprietário,<br />

sr. Adriano Marques, que prima em ter<br />

á venda os melhores artigos em bijouterias,<br />

manda vir do extangeiro o que ha <strong>de</strong> mais<br />

mo<strong>de</strong>rnas manufacturas <strong>de</strong>corativas.<br />

Recebeu ha dias uma escolhida collecção<br />

<strong>de</strong> toalhas <strong>de</strong> mesa e <strong>de</strong> mão, que são uma<br />

completa novida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> matizadas cores, formando<br />

bonitos <strong>de</strong>senhos.<br />

As toalhas <strong>de</strong> mesa são <strong>de</strong> linho e as <strong>de</strong><br />

mãos <strong>de</strong> algodão felpudo.<br />

A escolha revela o apurado gosto do sr.<br />

Adriano, que tem, no seu estabelecimento,<br />

os mais mo<strong>de</strong>rnos artigos <strong>de</strong>corativos para<br />

salas, escriptorios, toilettes, etc. — porisso<br />

mesmo que a collecção das toalhas está quasi<br />

vendida.<br />

Be<strong>de</strong>l em theologia<br />

Foi nomeado para be<strong>de</strong>l da faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

theologia, o sr. Francisco Lopes <strong>de</strong> Lima<br />

Macedo, empregado interino na bibliotheca<br />

da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, on<strong>de</strong> sempre foi estimado,<br />

pelos seus dotes <strong>de</strong> empregado cumpridor.<br />

Regosija-nos esta nomeação, se bem que<br />

soubemos da cilada que se lhe preparava,<br />

mas que felizmente os seus superiores inutisaram,<br />

fazendo-lbe justiça ao seu caracter e<br />

ao seu porte, preferindo-o, e obtendo-lhe a<br />

sua nomeação.<br />

Muitos parabéns—e sinceros.<br />

Hospício districtal<br />

Durante o mez <strong>de</strong> setembro findo, o hospício<br />

dos expostos abandonados teve o seguinte<br />

movimento:<br />

Existiam no primeiro dia, 27 expostos do<br />

sexo masculino e 40 do feminino ; 14 <strong>de</strong>svalidos<br />

do sexo masculino e 7 do feminino.<br />

Entraram, até 3o do mesmo mez; 3 <strong>de</strong>svalidos<br />

do sexo masculino.<br />

Foi reclamado: 1 <strong>de</strong>svalido do sexo masculino.<br />

Falleceu: 1 <strong>de</strong>svalido do sexo masculino.<br />

lnterdtcção<br />

Foi requerido exame <strong>de</strong> sanida<strong>de</strong> a Maria<br />

da Encarnação Rebello, em virtu<strong>de</strong> d'um<br />

processo <strong>de</strong> interdicção que corre nos tribunaes<br />

d esta cida<strong>de</strong>.<br />

Os peritos, srs. drs. Augusto Rocha, Annibal<br />

Maia e João Jacintho, que proce<strong>de</strong>ram<br />

ao exame foram concor<strong>de</strong>s em julgal-a incapaz<br />

<strong>de</strong> administrar a sua pessoa e bens.<br />

Em presença d^sta <strong>de</strong>claração o conselho<br />

<strong>de</strong> familia vae tomar conta do espolio<br />

que ella herdou por morte <strong>de</strong> seu pae, João<br />

<strong>de</strong> Sousa Rebello.<br />

Medico<br />

O nosso bom amigo sr. dr. Hirminio<br />

Soares Machado, distincto medico <strong>de</strong> partido<br />

em Verri<strong>de</strong>, encontra-se nesta cida<strong>de</strong><br />

um pouco incommodado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

Desejamos-lhe promptas melhoras para<br />

que a sua falta se não torne sensível em Verri<strong>de</strong>,<br />

on<strong>de</strong> conta as maiores sympathias, pela<br />

sua <strong>de</strong>dicação e fino trato' social.<br />

«Salomé e outros poemas»<br />

E' o titulo <strong>de</strong> um novo trabalho litterario,<br />

e que o eminente poeta conimbricense, sr.<br />

Eugénio <strong>de</strong> Castro, vae expor á venda.<br />

Não ha muito que nos <strong>de</strong>u uma joia litteraria<br />

e já hoje o seu notável talento vêm<br />

enriquecer as lettras com mais outra, que<br />

nos dizem <strong>de</strong> subido valor.<br />

Festivida<strong>de</strong><br />

Na capellinha <strong>de</strong> Nossa Senhora da Esperança,<br />

que fica no alto <strong>de</strong> Santa Clara,<br />

fazem-lhe hoje gran<strong>de</strong> festa: missa cantada<br />

e tocada a instrumental, <strong>de</strong> manhã, e <strong>de</strong><br />

tar<strong>de</strong>, ás 4 horas, sermão pelo académico do<br />

2. 0 anno <strong>de</strong> direito, sr. padre Macario da<br />

Silva, cantando-se a ladainha. Arraial e arrematação<br />

<strong>de</strong> bolos.<br />

Cochicham-nos ao ouvido esta novida<strong>de</strong>:<br />

— que as tricaninhas do sitio, em honra <strong>de</strong><br />

Nossa Senhora, preparam uma gran<strong>de</strong> dança...<br />

e mais: que o Antonio Figo é o<br />

mandador. Elle assim será!<br />

Infame aggressâo<br />

Bernardo Corrêa, resi<strong>de</strong>nte no logar <strong>de</strong><br />

Monte-são, proximo <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, praticou o<br />

inqualificável crime <strong>de</strong> aggredir com pancadas,<br />

sua própria mãe!<br />

O meritissimo juiz sr. dr. Neves e Castro,<br />

por certo ha <strong>de</strong> castigar o malvado que<br />

tão barbaramente offen<strong>de</strong>u os mais rudimentares<br />

preceitos da moral.<br />

No commissariado <strong>de</strong> policia foi já lavrado<br />

o competente auto e enviado para o tribunal.


I > E E E N S O Í I i>o P o v o — l. e ANNO Domingo, 27 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895 — N.° 52<br />

Yarias noticias<br />

O sr. dr. Clemente <strong>de</strong> Carvalho, professor<br />

<strong>de</strong> philosophia no lyceu d'esta cida<strong>de</strong>,<br />

vae pedir a sua reforma.<br />

•<br />

Já regressou a <strong>Coimbra</strong> e reassumiu a<br />

gerencia da sua ca<strong>de</strong>ira, o sr. dr. Avelino<br />

Callixto.<br />

•<br />

Ainda enfermo o sr. dr. Ruben d'Ameida<br />

Araujo Pinto, que está residindo em Santo<br />

Antonio dos Olivaes.<br />

Desejamos-lhe um breve restabelecimento.<br />

O único candidato ao concurso dos dois<br />

logares para o professorado na faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

theologia, foi o sr. dr. Joaquim Men<strong>de</strong>s dos<br />

Remedios, laureado académico.<br />

Em cárcere privado<br />

A auctorida<strong>de</strong> judicial e os clínicos, srs.<br />

drs. Joaquim Martins Teixeira <strong>de</strong> Carvalho<br />

e Annibal Maia foram ha dias proce<strong>de</strong>r ao<br />

exame <strong>de</strong> Maria Rosa, a Rios-Frios, a quem<br />

uns sobrinhos seus her<strong>de</strong>iros, <strong>de</strong>ram a reclusão,<br />

conforme noticiámos em o numero<br />

passado.<br />

Diz-se que do exame que se fez ao cadaver<br />

se verificára que a morte foi natural, não<br />

apresentando vestígios <strong>de</strong> violência, comtudo<br />

a participação para juizo não é muito favoravel<br />

aos sobrinhos da fallecida.<br />

Boubo<br />

Os gatunos arrombaram numa das noites<br />

passadas uma porta da camara ecclesiastica,<br />

introduzindo-se por ella na secretaria,<br />

forçaram as gavetas d'uma mesa e roubaram<br />

uma quantia superior a 20HP000 réis, e <strong>de</strong>pois...<br />

evadiram-se.<br />

Ora como já este anno é a segunda proeza<br />

que alli acontece, parece-nos que ao sr. commissario<br />

<strong>de</strong> policia não seria diffictl <strong>de</strong>itar a<br />

mão aos criminosos.<br />

Sorteio <strong>de</strong> recrutas<br />

Foi <strong>de</strong>terminado que o sorteio dos recrutas<br />

inscriptos no recenseamento militar d'este<br />

anno, se faça no dia 7 <strong>de</strong> novembro proximo,<br />

nas salas dos paços do concelho.<br />

Divisão eleitoral<br />

Pela nova reforma administrativa a divisão<br />

eleitoral do districto <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> é a<br />

seguinte:<br />

As freguezias <strong>de</strong> S. Martinho e Pombeiro,<br />

do concelho <strong>de</strong> Arganil, ficam constituindo<br />

<strong>de</strong> per si uma assembleia eleitoral, com sé<strong>de</strong><br />

na ultima freguezia. As <strong>de</strong> Santo André e<br />

S.Miguel <strong>de</strong> Poiares, Louzã, uma assembleia<br />

â eleitoral, com sé<strong>de</strong> na freguezia <strong>de</strong> Poiares.<br />

* As <strong>de</strong> Penacova, Carvalho e Oliveira <strong>de</strong><br />

Cunhedo, concelho <strong>de</strong> Penacova, uma assembleia<br />

eleitoral, com sé<strong>de</strong> em Penacova. As<br />

<strong>de</strong> Santa Maria d'Arrifana, Friumes e S. José<br />

<strong>de</strong> Lavegadas, uma assembleia eleitoral, com<br />

sé<strong>de</strong> em Arrifana. As <strong>de</strong> Degracias, Redinha<br />

e Tapeus, concelho <strong>de</strong> Soure, uma assembleia<br />

eleitoral, com sé<strong>de</strong> em Degracias. As<br />

<strong>de</strong> Carapinheira, Covellos, Meda, Mouros,<br />

Mouronho, Para<strong>de</strong>lla, S. Paio, S. Pedro <strong>de</strong><br />

Alva, e Travanca ficam constituindo no concelho<br />

<strong>de</strong> Taboa uma assembleia eleitoral,<br />

com sé<strong>de</strong> em Carapinha.<br />

23 Folhetim—«Defensor do Povo»<br />

0 CORSÁRIO PORTIGIEZ<br />

ROMANCE MARÍTIMO<br />

ORIGINAL DE<br />

CAPITULO V<br />

Fidalgo e plebeu<br />

«Escusado é dizer que recusei indignado;<br />

e como insistiu, fustiguei-o com a ponta do<br />

pé, receiando sujar as minhas mãos naquellas<br />

faces <strong>de</strong>slavadas. Agora já sabe as causas e<br />

quem são os meus inimigos!<br />

— Homem, o mal está feito! Parte meu<br />

filho, parte para Inglarerra, para essa nação<br />

<strong>de</strong> homens livres, e aon<strong>de</strong> os fóros da consciência<br />

são respeitados.<br />

«Se a França não estivesse em guerra<br />

com o nosso paiz, aconselhava-te que fosses<br />

servir sob a sua gloriosa ban<strong>de</strong>ira. A ban<strong>de</strong>ira<br />

tricolor é um penhor <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>, é a<br />

gloria da França e <strong>de</strong> todas as nações que a<br />

adoptarem!<br />

«Mas a França está em guerra com Por-<br />

IVov:t disciplina<br />

Matriculou-se no primeiro anno da faculda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> mathematica, a sr. a D. Domitilla<br />

Hormezinda <strong>de</strong> Carvalho, que no ultimo anno<br />

lectivo concluiu distinctamente a sua formatura<br />

em philosophia.<br />

Sá <strong>de</strong> Miranda<br />

Foi <strong>de</strong>liberado pelo Instituto que a solemnisação<br />

que se projectava para commemorar<br />

o centenário do lyrico poeta conimbricense,<br />

Sá <strong>de</strong> Miranda fosse transferidas para<br />

março do anno proximo.<br />

Cemiterio da Conchada<br />

Na semana finda em 15, enterraram-se os seguintes<br />

cadaveres:<br />

Rosa, filha <strong>de</strong> Adolpho dos Santos Pereira e Emilia<br />

Maria da Conceição, <strong>de</strong> Bordalfo, <strong>de</strong> 5 annos. Falleceu<br />

no dia 8.<br />

Maria, filha <strong>de</strong> Alfredo Maria e Maria dos Prazeres,<br />

<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong> 28 mezes. Falleceu no dia 9.<br />

Virginia da Costa, filha <strong>de</strong> Francisco <strong>de</strong> Assis e<br />

Costa, e Joanna Maria, <strong>de</strong> Sernache, <strong>de</strong> 44 annos. Falleceu<br />

no dia li.<br />

Maria Justina Forte, filha <strong>de</strong> Francisco Forte e Theodoro<br />

<strong>de</strong> Jesus, <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong> 85 annos. Falleceu no<br />

dia 12.<br />

Total dos cadaveres enterrados n'este cemiterio —<br />

18:009.<br />

Na semana finda em 20 enterraram-se os seguintes<br />

cadaveres:<br />

Cidalina, filha <strong>de</strong> Joaquim Noronha da Silveira e<br />

Maria Ferreira da Cruz, <strong>de</strong> 18 mezes, <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />

Falleceu no dia 16.<br />

Theresa Emilia da Costa, filha <strong>de</strong> José Antonio, <strong>de</strong><br />

88 annos, <strong>de</strong> Passos <strong>de</strong> Gaiolo. Falleceu no dia 19.<br />

Total dos cadaveres enterrados neste cemiterio —<br />

18:014.<br />

A empreza d^ste theatro está animada<br />

dos maiores <strong>de</strong>sejos em proporcionar ao publico<br />

<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> bons espectáculos, contractando<br />

as melhores companhias.<br />

Nos dias 7 e 8 <strong>de</strong> novembro proximo, a<br />

companhia do theatro D. Alfonso, do Porto,<br />

vem dar duas recitas, por assignatura, das<br />

melhores peças do seu archivo.<br />

Como se verá pelo Elenco que segue, a<br />

companhia tem artistas <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m,<br />

e um pessoal numeroso.<br />

ELENCO<br />

Maestro e director:—Thomaz Del Negro.<br />

Director <strong>de</strong> scena:—Antonio dos Santos<br />

Pires.<br />

À B / I M S ^ J L S<br />

Merce<strong>de</strong>s Blasco, Claudina Medina <strong>de</strong><br />

Sousa, soprano; Encarnação Reis, Virgínia<br />

Nery, Maria Christina, Leopoldina Velloso,<br />

Maria da Conceição, Accacia Reis, Antonio<br />

José dos Santos (Santinhos), Virgilio <strong>de</strong> Sousa,<br />

barytono; Antonio dos Santos Pires, Santos<br />

Mello, Manuel dos Santos Oliveira, Caetano<br />

Reis, Augusto Torres, Antonio Monteiro,<br />

João Pinto Samora, Carvalho, José Pedro,<br />

Rocha.<br />

24 coristas d'ambos os sexos.<br />

22 professores d'orchestra.<br />

Ponto:—Luiz Reis; contra-regra:—Francisco<br />

Muscatt; machinista:—João Affonso.<br />

Scenograpliia <strong>de</strong> Eduardo Machado e<br />

Julio d 1 Assumpção.<br />

Cabelleireiro:—Lourenço Ribeiro.<br />

Guarda roupa, do real theatro <strong>de</strong> S.<br />

João.<br />

tugal, e tu não po<strong>de</strong>s combater os teus irmáos!<br />

Vae para Inglaterra, segue o teu <strong>de</strong>stino,<br />

e conta com o meu apoio.<br />

Carlos beijou a mão <strong>de</strong> seu pae e retirou-se<br />

com os olhos rasos <strong>de</strong> lagrimas. O<br />

pobre mancebo chorava o seu infortúnio e<br />

maldizia a ingratidão da côrte; lamentava o<br />

seu paiz, e uma dôr cruciante o finava, ao<br />

lembrar-se que era forçado a sair da mãe<br />

patria, que elle amava como filho.<br />

— A<strong>de</strong>us meu bello Portugal! dizia elle<br />

suspirando. A<strong>de</strong>us meus irmãos 1 A<strong>de</strong>us<br />

povo portuguez, povo <strong>de</strong> tantos brios e honrados<br />

com os mais nobres sacrifícios!<br />

«Povo <strong>de</strong> heroes! A tua historia é um<br />

padrão <strong>de</strong> gloria, que te honrará emquanto<br />

o mundo fôr mundo.<br />

«Ah!... Deixar eu este bello paiz, este<br />

solo que por tantas vezes tem sido regado<br />

com o sangue d'aquelles, que palmo a palmo<br />

o teem <strong>de</strong>fendido!<br />

«Ah! Portugal, que ficas entregue a um<br />

governo inepto e injusto !<br />

«Quando soará a hora da tua re<strong>de</strong>mpção?..<br />

Oh! A<strong>de</strong>us ! a<strong>de</strong>us nobre Portugal! a<strong>de</strong>us<br />

minha patria querida !<br />

Assim concluía o malaventurado moço ao<br />

lembrar-se, que em oito dias seguiria viagem<br />

para as costas da Inglaterra.<br />

Oito dias <strong>de</strong>pois eflectuou-se a sua partida,<br />

nada havia que o separasse <strong>de</strong> seu pae,<br />

que o estreitava nos braços soluçando.<br />

As peças escolhidas para estes dois espectáculos,<br />

são:<br />

Ai amazonas <strong>de</strong> formei, operetta<br />

em 2 actos; O cabo d'infnnteria, zarzuella<br />

em 1 acto e 4 quadros, musica do maestro<br />

Caballero; e o Capitão Lobis-Iioniem,<br />

operetta em 3 actos, original do fallecido<br />

escnptor Gervásio Lobato, verso do sr. Lopes<br />

Teixeira, musica <strong>de</strong> Thomaz Del Negro.<br />

Acha-se aberta a assignatura para estes<br />

dois espectáculos, nos estabelecimentos dos<br />

srs. Paula e Silva, Nova Havaneza, Papeia<br />

ria Central, rua do Viscon<strong>de</strong> da Luz, e no<br />

escriptorio do theatro.<br />

Avulso<br />

Camarotes 3$500<br />

Fauteuils 700<br />

Ca<strong>de</strong>iras 600<br />

Geral 250<br />

PREÇOS<br />

Por assignatura<br />

Camarotes<br />

Fauteuils 600<br />

Ca<strong>de</strong>iras 500<br />

Geral 200<br />

A pedido publicámos a felicitação que<br />

segue:<br />

A MENINA MARIA JOSÉ<br />

(NO DIA DO SEU ANNIVERSARIO NATALÍCIO)<br />

Mil versos, senhora, eu contar aqui<br />

Quizera neste dia,<br />

Quizera revelar-lhe que em mim sorria<br />

A mais doce alegria.<br />

Quizera ter o génio, o i<strong>de</strong>al<br />

Cheio d'inspiração<br />

Sincera saudação.<br />

P'ra enviar-llie neste dia festival.<br />

<strong>Coimbra</strong> — 95. OLÍMPIO DA CROZ.<br />

ESMOLA<br />

Pedimos com instancia uma esmola para<br />

uma pobre familia, privada <strong>de</strong> lodos os recursos<br />

e a braços com uma Iriste sorte.<br />

Bem merecido é qualquer auxilio que<br />

se lhe conceda.<br />

N'esta redacção se recebe qualquer donativo.<br />

A. J. A 100<br />

Anonymo J 00<br />

P. A. C 100<br />

J. M. M 500<br />

Total 800<br />

Livros e jornaes<br />

CSiialdim Paes—Por Silva Vianna—Agencia<br />

Universal <strong>de</strong> Publicações — editora. Rua da<br />

Victoria, 30, 1.° —Lisboa, 1898..<br />

E um esboço do perfil biographico <strong>de</strong> Gualdim<br />

Paes, o guerreiro audaz, combatendo contra os<br />

mouros nos exercitos christãos <strong>de</strong> D. Affonso Henriques,<br />

que o armara cavalleiro. E' muito curiosa<br />

a exposição da sua época histórica e está escripta<br />

a revellar muito estudo e muito trabalho.<br />

Tem um magnifico retrato do gran<strong>de</strong> vulto da<br />

historia patria e fecha por uma magnilica ptiologravura<br />

do atelier do photographo, Marinho, re-<br />

presentando a joia artística da janella do convento<br />

<strong>de</strong> Christo, cm Thomar.<br />

Agra<strong>de</strong>cidos aos editores pela offerta.<br />

— Meu pae, dizia o pobre mancebo com<br />

as faces innundadas, não chore, e dê-me a<br />

coragem que me falta para o abandonar!<br />

— Meu filho, meu pobre filho, que não<br />

tornarei a ver-te!<br />

Carlos já não podia soffrer mais: osculoua<br />

fronte com amor fervente, e correu como<br />

louco, bradando:<br />

— Malditos sejam os cobar<strong>de</strong>s que me<br />

roubaram á patria e a meu pae !<br />

Duas horas <strong>de</strong>pois um navio inglez passava<br />

em frente <strong>de</strong> Belem. A' ré ia um mancebo<br />

<strong>de</strong> physionomia sympathica, e todo vestido<br />

<strong>de</strong> preto. Em pé, junto á amurada,<br />

não afastava os olhos da terra, que triste<br />

abandonava!<br />

De momento a momento exhalava um<br />

longo e profundo gemido ! Grossas lagrimas<br />

lhe borbulhavam nos olhos. Era Carlos,<br />

que seguia viagem para as costas da Gran-<br />

Bretanha.<br />

Deixemos Carlos entregue á sua vida<br />

aventurosa, e vamos até ao Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

aon<strong>de</strong> se acha Antonio Pereira <strong>de</strong> Vasconcellos<br />

e suas filhas: frei Rozendo e o senhor<br />

D. Francisco Antonio <strong>de</strong> Sarmento e Castro.<br />

Os annos tinham <strong>de</strong>corrido sem inci<strong>de</strong>ntes<br />

notáveis para a familia do <strong>de</strong>sembargador.<br />

D. A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong>, durante quatro annos, apenas<br />

recebera duas cartas <strong>de</strong> Carlos, mas conservava-se-lhe<br />

fiel, e absolvia-o da falta <strong>de</strong><br />

\<br />

Em legitima <strong>de</strong>feza—Dr. Luiz Pereira da<br />

Costa—Imprensa Académica—<strong>Coimbra</strong>, 1895.<br />

E' um folheto <strong>de</strong> 15 paginas, no qual o illlistrado<br />

professor da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> das<br />

accusações que, num outro folheto, <strong>de</strong> que <strong>de</strong>mos<br />

lambem noticia, lhe fizera o seu iliustre collega,<br />

sr. dr. Joaquim Augusto <strong>de</strong> Sousa Refoios.<br />

Reconhecidos pela offerta.<br />

Ao sr. ministro do reino, conselheiro<br />

João Franco Castello Branco—Typographia<br />

Progresso — Elvas, 1895.<br />

E' um protesto violento dos habitantes do<br />

exlincto concelho <strong>de</strong> Monforte, contra a disparatada<br />

reforma administrativa, como lhe chamam.<br />

Por toda a parte aon<strong>de</strong> assentou a sua mão<br />

criminosa o infame dictador é vergastado com<br />

valentia, dizendo-lhe o povo <strong>de</strong> Monforte que<br />

todo o seu saber se cifra na arte <strong>de</strong> ganhar uma<br />

eleição, tendo como lemma a proposição celebre:<br />

«que os fins justificam os'meios.»<br />

Não é com palavras que se hão <strong>de</strong> esmagar<br />

os traidores estejam certos os protestantes.<br />

Agra<strong>de</strong>cidos pelo offerecimento.<br />

Jornal Hortico-Agricola—Proprieda<strong>de</strong> da<br />

real companhia Jlorticolo-agricola portuense —<br />

Redactor— J. Casimiro Barbosa. — N.* 31,<br />

3.° anno — Rua dos Fogueteiros, 5 — Porto.<br />

E' uma publicação mensal curiosíssima em<br />

assumptos agrícolas e floricultura. O agricultor<br />

tem neste jornal um bom guia e um seguro<br />

conselheiro.<br />

Distribue grátis, franco <strong>de</strong> porte a quem o<br />

solicitar, o catalogo geral e discriptivo.<br />

•<br />

Vi n li os e azeites — Inspecção e jiscalisação e<br />

venda d'esles artigos e penalida<strong>de</strong>s impostos<br />

aos trangressores—Typographia da Bibliotheca<br />

Popular <strong>de</strong> Legislação—l\ua da Atalaya, 183,<br />

1.° —Lisboa, 189o.<br />

Contém tudo que diz respeito sobre a fiscalisação<br />

<strong>de</strong> vinhos e azeites, o que é <strong>de</strong> absoluta<br />

necessida<strong>de</strong> a todos os viticultores, ven<strong>de</strong>dores<br />

<strong>de</strong> vinhos e <strong>de</strong> azeite, commissão respectiva e<br />

azeites.<br />

E' um folheto curioso e barato —100 réis,<br />

reunindo os <strong>de</strong>cretos <strong>de</strong> 1 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1894,<br />

regulamento <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> maio e <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 23 <strong>de</strong><br />

agosto <strong>de</strong> 1895, sendo a única edição que traz<br />

publicado o Reportorio do <strong>de</strong>creto e do regulamento<br />

acima citados.<br />

Agra<strong>de</strong>cemos.<br />

•<br />

G •••as dôs regedores e das Jnntas <strong>de</strong><br />

Parocliia. — Attribuições, direitos, obrigações,<br />

e disposições legues e <strong>de</strong> jurisprudência,<br />

que se lhes referem. — Typographia da Bibliotheca<br />

Popular <strong>de</strong> Legislação. — Lisboa 1895.<br />

E' importante a missão quer da individualida<strong>de</strong><br />

Regedor, quer da colleclivida<strong>de</strong> Junta, mas nem<br />

todos os cidadãos a quem são commettidas taes<br />

funeções conhecem a maneira.pratica <strong>de</strong> as <strong>de</strong>sempenhar.<br />

Eis ao que visa esta obra.<br />

Encontram-sc nella todas as <strong>de</strong>cisões dos tribunaes,<br />

<strong>de</strong>cretos, portarias, officios, e finalmente<br />

um copioso formulário, tanto para uso dos regedores,<br />

como das juntas <strong>de</strong> parocliia, incluindo<br />

mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> autos, officios, instrucções sobre escripturação,<br />

orçamentos e contabilida<strong>de</strong> das corporações<br />

parochiaes, etc.<br />

E' enifim, uma obra <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>iro interesse,<br />

e custa apenas 240 réis. Pedidos ao editor A. J.<br />

Rodrigues, rua da Atalaya, 183, 1.°, Lisboa.<br />

correspondência, atten<strong>de</strong>ndo á dificulda<strong>de</strong>,<br />

pela distancia. Constára-lhe todavia o seu<br />

nobre comportamento e a maneira por que<br />

fôra consi<strong>de</strong>rado; e a ultima carta que lhe<br />

escreveu, foi para o felicitar pelo seu adiantamento.<br />

Nada mais constava.<br />

D. Francisco continuava a frequentar a<br />

casa do <strong>de</strong>sembargador e a incommodar a<br />

pobre D. Carlota com as suas estultas pretensões.<br />

Quanto a Manuel José Fernan<strong>de</strong>s,<br />

também era bastante assiduo.<br />

Manuel José Fernan<strong>de</strong>s amava apaixonadamente<br />

D. A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong>, mas sabendo do amor<br />

que <strong>de</strong>dicava a Carlos, não se animava a<br />

fazer-lhe uma <strong>de</strong>claração.<br />

D. A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong> vivia triste e em completo<br />

isolamento, e a única pessoa com quem <strong>de</strong>sabafava<br />

era com sua irmã, que soffria em<br />

silencio as torturas d'um amor infeliz»<br />

CAPITUIitJ VI<br />

A vingança<br />

Estamos no anno <strong>de</strong> 1798. A ultima carta<br />

<strong>de</strong> Carlos, que D. A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong> recebera, era <strong>de</strong><br />

*797\ e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então nada mais soube a seu<br />

respeito. No dia 25 <strong>de</strong> junho, porém, constou<br />

que tinha chegado um navio <strong>de</strong> guerra vindo<br />

<strong>de</strong> Portugal. D. A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong> sobresaltou-se e<br />

esperou com impaciência o correio.<br />

(Continua.)


29<br />

D E F E N S O R DO P O V O — 1 . ° ANNO<br />

R E C L A M E S E A N N U N C I O S<br />

BICO AUER<br />

Por <strong>de</strong>spacho do meritissimo juiz presi<strong>de</strong>nte do<br />

tribunal do commercio do Porto e a requeri-<br />

mento da Empreza do BICO AUER., foram arrestados<br />

judicialmente, em casa dos srs. Nusse & Bastos,<br />

rua <strong>de</strong> Passos Manoel n.° 14 e rua d'Alegria n.° 867,<br />

d'aquella cida<strong>de</strong>, os bicos <strong>de</strong> contrafacção que estes<br />

srs. tentavam introduzir <strong>de</strong>baixo do nome <strong>de</strong> bico<br />

Invencível, bem como apparelhos e matérias primas<br />

que serviam para a sua fabricação.<br />

E' sabido que os arrestos judiciaes, só se con-<br />

ce<strong>de</strong>m <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> maduríssimo exame dos documentos<br />

justificativos dos direitos dos auctores, inquirição<br />

<strong>de</strong> testemunhas e <strong>de</strong>posito e avultada caução, que<br />

no caso actual, foi arbitrada em tres contos <strong>de</strong> réis.<br />

Bastará isto para esclarecer os incautos compradores<br />

<strong>de</strong> bicos <strong>de</strong> contrafacção, adquiridos baratos?<br />

Essa barateza constitue para os srs. compradores<br />

um prejuízo completo por lhes faltar fornecedor<br />

<strong>de</strong> mangas.<br />

Saiu cara, infelizmente, a economia imaginada.<br />

JOÃO RODRIGUES BRAGA<br />

SUCCESSOR<br />

17, ADRO DE CIMA, 20 — (Atroa <strong>de</strong> S. Bartholomeu)<br />

2 Armazém <strong>de</strong> fazendas <strong>de</strong> algodão, lã e seda. Vendas por jnnlo e a retalho.<br />

Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> pannos crús. — Faz-se <strong>de</strong>sconto nas compras para<br />

reven<strong>de</strong>r.<br />

Completo sortido <strong>de</strong> coroas e bouquets, fúnebres e <strong>de</strong> gala. Fitas <strong>de</strong><br />

faille, moiré glacé e selim, em todas as cores e larguras. Eças dourados para<br />

adultos e creanças.<br />

Continúa a encarregar-se <strong>de</strong> funeraes completos, armações fúnebres e<br />

trasladações, tanto n'esta cida<strong>de</strong> como fóra.<br />

NOVO DEPOSITO DAS MACHINAS DE GOSTOSA<br />

X ZfcTO-IEIR,<br />

ESTABELECIMENTO<br />

DE<br />

FAZENDAS BRANCAS<br />

DE<br />

MANUEL CARVALHO<br />

29 —Largo do Príncipe D. Carlos —31<br />

Encontra o publico o que lia <strong>de</strong> melhor em fazendas brancas e um completo<br />

sortido das recentes novida<strong>de</strong>s para a estação <strong>de</strong> verão e que esta casa<br />

ven<strong>de</strong> por preços baratíssimos.<br />

As verda<strong>de</strong>iras machinas <strong>de</strong> costura í]<br />

para costureiras, alfaiates e sapateiros, ven<strong>de</strong>m-se no novo \|j<br />

<strong>de</strong>posito em condições, sem duvida, mais vantajosas do Uli<br />

que em qualquer outra casa <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, Porto, ou Lisboa, apresentando sempre<br />

ao comprador um sortido <strong>de</strong> todos os mo<strong>de</strong>los que a mesma Companhia fabrica.<br />

Vendas a prestações <strong>de</strong> aOO réis eemanaes. A dinheiro,<br />

com gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>seontos.<br />

ENSINO GRÁTIS, no <strong>de</strong>posito ou em casa do comprador.<br />

Na mesma casa executa-se com a maxima perfeição qualquer concerto em<br />

machinas <strong>de</strong> costura, seja qual fôr o auctor, tendo para isso officina montada.<br />

Ao comprador <strong>de</strong> cada machina será offerecido, como brin<strong>de</strong>, um objecto<br />

<strong>de</strong> valor. Dão-se catalogos illustrados, grátis.<br />

Ven<strong>de</strong>-se oleo, agulhas, carros d'algodão, torçaes e peças soltas para todas<br />

as machinas.<br />

5<br />

BI-CYCLETAS CLEMENT<br />

Acabam <strong>de</strong> chegar á CA*A TIl.JIOKit, {|e Antonio José A.lves<br />

— rua do Viscon<strong>de</strong> da Luz — os últimos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> 1895, tanto para<br />

passeios como para corridas.<br />

Tendo a casa Clement resolvido este anno ven<strong>de</strong>r as suas machinas a preços<br />

certos, participou aos reven<strong>de</strong>dores que lhes era prohibido fazer vendas por outros<br />

preços que não sejam os que estão indicados no catalogo <strong>de</strong> 1895.<br />

N'estas condições são as machinas vendidas ao publico pelos mesmos preços,<br />

accrescendo unicamente os direitos <strong>de</strong> alfan<strong>de</strong>ga e mais <strong>de</strong>spezas Por<br />

esta fórma pô<strong>de</strong> qualquer individuo comprar hoje uma verda<strong>de</strong>ira Clement,<br />

mais ba rata do que qualquer outra marca ordinaria 11 !<br />

Unicamente á venda na Casa Memoria, rua do Viscon<strong>de</strong> da Luz, on<strong>de</strong> se<br />

encontram também as legitimas machinas <strong>de</strong> costura Memoria para familia,<br />

alfaiates e sapateiros.<br />

Ensino grátis em casa do comprador, ainda que seja a 8 léguas <strong>de</strong> distancia.<br />

Na mesma casa se ven<strong>de</strong> toda a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> instrumentos músicos e seus<br />

pertences — musicas para piano, e outros instrumentos, tudo a preços sem<br />

çompetencia.<br />

COLLEGIO ACADÉMICO<br />

(ENSINO PRIMÁRIO)<br />

E-tá aberta <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1 <strong>de</strong> outubro a aula<br />

<strong>de</strong> ensino primário d'este collegio, regida<br />

por José Falcão Ribeiro, Justino José Correia<br />

e Pompeu Faria <strong>de</strong> Castro, professores<br />

legalmente habilitados.<br />

A partir do mesmo dia, a qualquer<br />

hora, se recebem matriculas, tanto para<br />

esta aula como para as <strong>de</strong> instrucção secundaria,<br />

que posteriormente serão aberta*.<br />

Recebem-se alumnos internos, semiinternos<br />

e externos.<br />

Garante-se um ensino proticuo com a<br />

mais completa organisação e com a assiduida<strong>de</strong><br />

no trabalho que caracterisa os<br />

professores.<br />

Fornecer se-ha papel, tinta, pennas,<br />

giz e lápis gratuitamente a todos os alumnos,<br />

bem como 11111 ca<strong>de</strong>rno para notas<br />

diárias <strong>de</strong> frequencia e aproveitamento.<br />

à l. a classe dividir-se-ha em dois grupos<br />

: um leccionado pelo methodo <strong>de</strong> João<br />

<strong>de</strong> Deus e outro pelo <strong>de</strong> Simões Lopes,<br />

á escolha das familias dos alumnos.<br />

As creanças <strong>de</strong> muito pouca ida<strong>de</strong><br />

terão entrada e aula em separado.<br />

Preços: l. a classe 500 réis; — 2."<br />

reis; - reis.<br />

<strong>Coimbra</strong>, rua dos Coutinhos, 27.<br />

J. F. Ribeiro<br />

iltf<br />

I M O<br />

100, Rua Ferreira Borges, 100<br />

31 Pasta para rolos <strong>de</strong> imprensa<br />

<strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong> e preço<br />

modico.<br />

Armag <strong>de</strong> diversos systemas,<br />

revolvers e munições <strong>de</strong> caça.<br />

Faqueiros e colheres d'eleetro<br />

plate, qualida<strong>de</strong> garantida.<br />

Tinta e tella para pintura a<br />

oleo, pincéis e artigos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho.<br />

flallas para viagem, carteiras<br />

e sarças <strong>de</strong> mão para senhora.<br />

Oleados <strong>de</strong> borracha para<br />

cama e outras qualida<strong>de</strong>s para mesa e<br />

forrar casas.<br />

Transparentes e stores <strong>de</strong><br />

ma<strong>de</strong>ira, rolos authomaticos para os<br />

mesmos.<br />

Perfumaria ingleza e sabonetes,<br />

pó d'arroz, pentes e escovas.<br />

Dentifrico do dr. llousset,<br />

pó, para <strong>de</strong>ntes da socieda<strong>de</strong> hygienica.<br />

Bensolina para tirar nodoas,<br />

o melhor preparado, não prejudica a roupa.<br />

Lunetas, binoculos, brinquedos para<br />

creança, capachos d'arame e gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong><br />

em miu<strong>de</strong>zas.<br />

FOGÕES PADA G0SINHA<br />

Na officina <strong>de</strong> serralharia <strong>de</strong> José<br />

Dias Ferreira, encontramse á venda magníficos<br />

fogões <strong>de</strong> fogo circular, novos, e<br />

<strong>de</strong> todos os tamanhos.<br />

Responsabilisa-se pela sua construcção<br />

e regular funccionamento. Preços<br />

modicos.<br />

11 — Rua dos Militares — 13<br />

COIMBRA<br />

JULIÃO A. D'ALMEIDA & C. a<br />

20—Rua <strong>de</strong> Sargento Mór—24<br />

COIMBRA<br />

I3 I*r'este antigo estabelecimento co<br />

brem-se <strong>de</strong> novo guarda-soes,<br />

com boas sedas <strong>de</strong> fabrico portuguez.<br />

Preços os mai« baratos.<br />

lambem tem lãsinhas finas e outras<br />

fazendas para coberturas baratas.<br />

No mesmo estabelecimento ven<strong>de</strong>mse<br />

magnificas armações para guarda-soes,<br />

o que ha <strong>de</strong> mais mo<strong>de</strong>rno.<br />

M. niDEIRO OSORIO<br />

ALFAIATE<br />

185, l.°—R. Ferreira Borges—185, 1.°<br />

Participa aos seus freguezes que<br />

recebeu o sortimento <strong>de</strong> fazendas para a<br />

estação <strong>de</strong> inverno, e por preços baratos<br />

para competir com qualquer outra casa.<br />

Aos photographos amadores i<br />

Ven<strong>de</strong>-se muito em conta, uma obje- í<br />

VINHO VERDE<br />

cliva <strong>de</strong> Dellmever, rapida, rectilínea, 112 Especialida<strong>de</strong> em vinho<br />

por 13X18.<br />

ver<strong>de</strong><br />

d< ; Amarante.<br />

Neves, Irmãos<br />

Ven<strong>de</strong>-se engarrafado e ao litro na<br />

Rua Ferreira Borges, ÍOO<br />

m i M k PORTUGUESA<br />

Introducção e iathematica<br />

LUIZ MARIA ROSETTE,<br />

alumno da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, continua<br />

a leccionar estas disciplinas.<br />

Praça 8 <strong>de</strong> Maio, n.° 3 7-I. 0<br />

Vinho <strong>de</strong> mesa sem composição<br />

Ven<strong>de</strong>-se no Café Commercio,<br />

rua do Viscon<strong>de</strong> da Luz, a 110<br />

e 120 o litro.<br />

Vinho do Porto, a 240 e 300 réis o<br />

litro.<br />

Gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vinho <strong>de</strong> Carcavellos,<br />

Bucellas, Colares, etc., cognac<br />

Martell legitimo, e muitas outras bebidas<br />

tanto estrangeiras como nacionaes. Preços<br />

exçessivamente baratos.<br />

Deposito <strong>de</strong> enxofre e sulphato <strong>de</strong><br />

cobre, com gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconto para reven<strong>de</strong>r.<br />

Pulverisadores Figaro pelos preços<br />

do Porto, sem <strong>de</strong>speza <strong>de</strong> transporte.<br />

Encontra-se na mercearia do proprietário<br />

do mesmo Café, rua do Corvo, n. os<br />

9 e 11.<br />

A. Marques da Silva.<br />

COMPANHIA DE SEGUROS<br />

FIDELIDADE<br />

FUNDADA EM 1835<br />

SEDE EIM LISBOA<br />

Capital réis 1.344:000$000<br />

Fundo <strong>de</strong> reserva 203:000^000<br />

jO Esta companhia, a mais po<strong>de</strong>rosa<br />

<strong>de</strong> Portugal, toma seguros contra<br />

o risco <strong>de</strong> fogo ou raio, sobre prédios,<br />

mobílias ou estabelecimentos, assim<br />

como seguros marítimos. Agente em<br />

<strong>Coimbra</strong> —Basilio Augusto Xavier <strong>de</strong><br />

Andra<strong>de</strong>, rua Martins <strong>de</strong> Carvalho, n 0<br />

43, ou na do Viscon<strong>de</strong> da Luz, n.° 86.<br />

Rua Martins <strong>de</strong> Carvalho<br />

Antiga rua das Figueirinhas<br />

g S B<br />

No domingo 27 d'eutuhro pelas 10<br />

horas da manhã, nos armazéns do rocio<br />

<strong>de</strong> Santa Clara, far-se-á leilão <strong>de</strong> 70<br />

dúzias <strong>de</strong> garrafas com vinho finíssimo e<br />

muito velho (em globo ou em lotes <strong>de</strong><br />

dúzia) que pertenciam á garrafeira do<br />

fallecido José Lopes Guimarães, d'esta<br />

cida<strong>de</strong>.<br />

LOJA OA CHINA<br />

Chás pretos e ver<strong>de</strong>s<br />

Especialida<strong>de</strong>s<br />

Rua Ferreira Borges, 5<br />

Completo sortido <strong>de</strong> produclos para<br />

sopas, molhos, pinientinlios do Brazil,<br />

cacau Van Ilouten^s e Epps com e sem leite,<br />

farinha imperial chineza, conservas da<br />

fabrica <strong>de</strong> Antonio Rodrigues Pinto, leques,<br />

ventarolas, crepons, abat-jours a<br />

40 réis, novida<strong>de</strong>, latinhas para chá e<br />

café, etc., etc.<br />

(Antigo Paço do Con<strong>de</strong>)<br />

Weste bem conhecido hotel, um<br />

dos mais antigos e bem conceituados<br />

<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, continúa o seu<br />

proprietário as boas tradições da casa,<br />

recebendo os seus hospe<strong>de</strong>s com as<br />

attenções <strong>de</strong>vidas e proporcionando-lhes<br />

todas as commodida<strong>de</strong>s possíveis a fim<br />

<strong>de</strong> correspon<strong>de</strong>r sempre ao favor que<br />

o publico lhe tem dispensado.<br />

Fornecem-se para fóra e por preços<br />

comniodos jantares e outras quaesquer<br />

refeições.<br />

Deposito da Fabrica Nacional<br />

DE<br />

B O M C M S 1 B f ! « ? m<br />

DE<br />

JOSÉ FRANCISCO U CRUZ £ GENB0<br />

C O I M B R A<br />

128 —RDA FERREIRA BORGES —130<br />

»T'este <strong>de</strong>posito, regularmente montado, se acham á venda por junto e a<br />

retalho, todos os productos d'aquella fabrica a mais antiga <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />

on<strong>de</strong> se recebem quaesquer encouimendas pelos preços e condições eguaes aos<br />

da fabrica.<br />

Publica-se ás quintas feiras e domingos<br />

D e f e n s o r<br />

IDO P O V O<br />

EDITOR — Adolpho da Costa Marques<br />

JORNAL REPUBLICANO<br />

Redacção e administração—Largo da Freiria, 14, proximo á rua dos Sapateiros<br />

Com estampilha<br />

Anno 2$700<br />

Semestre 1$350<br />

Trimestre 680<br />

CONDIÇOES DE ASSIGNATURA<br />

(PAGA ADIANTADA)<br />

Anno . .<br />

Semestre .<br />

Trimestre.<br />

Sem estampilha<br />

2$400<br />

imoo<br />

«UO<br />

A Uí NUS CIOS:— Cada linha, 40 réis; repetição, 20 réis; contracto<br />

especial para annuncios permanentes.<br />

LIVROS: — Annunciamse gratuitamente quando se receba um<br />

exemplar.<br />

Impresso na Typographia Operaria — <strong>Coimbra</strong>


A I V N O 1.» IV. 0 5 3<br />

Defen COIMBRA<br />

Que po<strong>de</strong>mos fazer?<br />

One havemos <strong>de</strong> pedir?<br />

E' ta! e Ião profunda a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m politica,<br />

a <strong>de</strong>sorganisação administrativa, a miséria<br />

economica e a anarchia financeira, em<br />

que a monarchia e os seus ministros lançaram<br />

esta <strong>de</strong>sventurada nação, que a gente<br />

não sabe o que ha <strong>de</strong> pedir, nem se quer<br />

atina com que lia <strong>de</strong> dizer da nossa triste<br />

vida publica.<br />

As colonias são-nos lodos os dias roubadas,<br />

pedaço a pedaço; o pouco que nos<br />

<strong>de</strong>ixam e d'ellas ainda nos resta offerece<br />

um eslado penoso e <strong>de</strong>véras <strong>de</strong>solador; em<br />

algumas lavra ainda maior e mais intensa<br />

miséria do que na melropole; outras revoltam-se<br />

contra o nosso <strong>de</strong>sleixo, repeliem<br />

enfurecidas, e com razão, o estúpido e cruel<br />

abandono, a que as têm con<strong>de</strong>mnado, as<br />

vergonhas com que as têm enegrecido e<br />

rebaixado os seus barbaros e ignóbeis dominadores.<br />

\<br />

A metropole não tem recursos; falla-lhe<br />

o dinheiro, as forças para as soccorrer e<br />

lhes acudir; e já nem sequer gosa do prestigio<br />

indispensável para as fazer respeitar<br />

nos seus direitos, ella que o não tem,<br />

nem dignida<strong>de</strong>, nem pondonor para se fazer<br />

respeitar a si própria !<br />

Mandam-se para o ultramar levas <strong>de</strong><br />

soldados, troços do nosso exercito para<br />

conter os revoliosos e, como emphaticamenle<br />

se alar<strong>de</strong>a, para <strong>de</strong>saffrontar a ban<strong>de</strong>ira<br />

portugueza, vingar injurias e castigar<br />

os enxovalhos feitos á honra nacional,<br />

com um enormíssimo dispêndio <strong>de</strong><br />

vidas e dinheiro; e <strong>de</strong>ixam-se na mesma<br />

<strong>de</strong>plorável situação as nossas provincias<br />

ultramarinas, e nem, por distracção ao menos,<br />

se pensa em politica e administração<br />

colonial.<br />

Cada reforma que o governo opera, e<br />

com a qual affirma, prelenciosa e arrogantemente,<br />

levantar o paiz abatido, regenerar<br />

a nação no ultimo extremo da sua <strong>de</strong>cadência,<br />

reparar, ao menos em parle, os estragos<br />

da rapina, reconstruir a <strong>de</strong>smoronada Babel<br />

das nossas escalabradas finanças, cada uma<br />

e todas essas reformas salvadoras são <strong>de</strong>sastres<br />

monstruosos, que mais nos afundam<br />

na miséria, que mais nos rebaixam no <strong>de</strong>scrédito,<br />

e arrastam á total ruina.<br />

O acto mais insignificante, a medida<br />

mais vulgar e ordinaria <strong>de</strong> iniciativa e execução<br />

ministerial é um conlracenso, um<br />

disparate <strong>de</strong> tal or<strong>de</strong>m, que nas suas consequências<br />

cresce, e avulta, assume as proporções<br />

<strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sastre, que a<br />

ignorancia e a imprevidência dos governantes<br />

produzem ou occasionam.<br />

Os conflictos diplomáticos, as complicações<br />

officiaes e exlra-officiaes com os governos<br />

das outras nações sur<strong>de</strong>m a cada<br />

passo <strong>de</strong>baixo dos pés dos nossos tropegos<br />

governantes, <strong>de</strong>sorientados ministros e conselheiros<br />

da corôa, a qual ha muito tempo<br />

jaz sobre dourado almofadão <strong>de</strong> seda carmim,<br />

como objecto <strong>de</strong>stinado a figurar em<br />

uma exposição <strong>de</strong> velha arte politico-ornamenlal,<br />

la<strong>de</strong>ada pela famosa coslodia <strong>de</strong><br />

Belem e pelo celebre palium da Sé archiepiscopal<br />

<strong>de</strong> Braga.<br />

Vejam o que succe<strong>de</strong> com a viagem <strong>de</strong><br />

recreio do rei ás côrtes da Europa.<br />

Até nisto se revelou a falta <strong>de</strong> tino, a<br />

imprevidência característica dos conselheiros<br />

da corôa!<br />

Que lhes havemos <strong>de</strong>pois fazer nós os<br />

porluguezes?<br />

iNada,<br />

Que havemos <strong>de</strong> pedir?<br />

A quéda e a substituição do actual ministério?<br />

Para quê?<br />

Todos os ministérios da monarchia foram<br />

e hão <strong>de</strong> ser assim, e cada vez peores.<br />

A convocação do parlamento?<br />

Mas o que é, o que tem sido, o que<br />

po<strong>de</strong>rá vir a ser o parlamento?<br />

O mesmo que tem sido os outros: menos.<br />

muito tnenos talvez, se abaixo <strong>de</strong> zero<br />

ha quantida<strong>de</strong> apreciavel.<br />

Nós pedimos, pura e simplesmente, e<br />

com isso, por emquanto, nos contentamos:<br />

A quéda da monarchia.<br />

A abolição da realeza.<br />

O estabelecimento da Bepublica.<br />

De rachar!...<br />

De pé atraz a Italie, <strong>de</strong>sanca o governo<br />

com tal faria e insania que os <strong>de</strong>ixa a escorrer<br />

pús, que sangue já não corre naquellas<br />

artérias <strong>de</strong> lama.<br />

O que vale é que no meio d^ste <strong>de</strong>sancar,<br />

salva-se o nome da nação a quem se faz<br />

inteira justiça.<br />

E' como quem malha em centeio ver<strong>de</strong><br />

como ireis presencear ao lerem esses dois<br />

períodos:<br />

«Os ministros que <strong>de</strong>viam aconselhar o rei no<br />

seu interesse, não tiveram o inenor escrupulo em<br />

o lauçar na estrada que conduz os monarchas á<br />

sua perda e os prepara a mudarem um dia dos<br />

seus antigos palacios reaes para algum palacio,<br />

mais ou menos ricamente mobilado, mas alugado<br />

em terra <strong>de</strong> exilio. Mas d'on<strong>de</strong> saíram estes míseros<br />

ministros <strong>de</strong> Sua Magesta<strong>de</strong>, o rei <strong>de</strong> Portugal?<br />

Em que <strong>Universida<strong>de</strong></strong> ou em que instituto<br />

fizeram elles os seus exames? Está a instrucção<br />

publiea em Portugal tão atrazada que se pô<strong>de</strong><br />

ser ministro do iei sem mesmo se saber historia?<br />

«Por esse procedimento os <strong>de</strong>sgraçados conselheiros<br />

<strong>de</strong> D. Carlos provaram, que nem mesmo<br />

conhecem o a b c da historia e que a sua ignorancia<br />

exce<strong>de</strong> a que é toieravel nos homens que se<br />

chamam: homens do estado».<br />

Hein?! De primeira agua. Ainda ha<br />

verda<strong>de</strong>s no mundo, e bem se vê que a fama<br />

do governo longe sôa.<br />

Muito damnado ha <strong>de</strong> estar o Franco pela<br />

aftronta que os collegas receberam do Crispi,<br />

na <strong>de</strong>claração do embaixador italiano, em<br />

Lisboa.<br />

Manda vir o embaixador da Italia, ó farronca!<br />

Só brincas com o <strong>de</strong>sgraçado povo?<br />

Valente!<br />

Até o papa!<br />

Isto já não é Portugal <strong>de</strong> portuguezes, é<br />

<strong>de</strong> todos os que o não são.<br />

Bem aquinhoada a Inglaterra, a Bélgica,<br />

a Âllemanha, ultimamente, etc. Os papas<br />

paparam-nos galeões carregados <strong>de</strong> oiro e<br />

pedrarias que lhes mandavam os Braganças,<br />

em troca dos fanatismos, e das bênçãos —O<br />

que não custou o cognome <strong>de</strong> rei fi<strong>de</strong>líssimo,<br />

a graça <strong>de</strong> ser Nossa Senhora da Conceição<br />

a padroeira do reino e conquistas, e mais<br />

ratices!...<br />

Verda<strong>de</strong>iros a mais não ser, os períodos<br />

da Provinda que respigámos:<br />

«Já sabíamos que este paiz estava por conta da<br />

reacção religiosa (religiosa não dizemos bem, não<br />

insultemos a religião) por conta da reacção jesuítica.<br />

«Quem <strong>de</strong> facto manda á ultima hora neste<br />

paiz é o papa, por conta <strong>de</strong> sete imbecis, que a<br />

audacia, o favor, o bamburrio e o proprio idiotismo,<br />

içaram ao po<strong>de</strong>r, e que a nação, por uma longanimida<strong>de</strong><br />

já inexplicável e estupefaciente, consente<br />

ainda agora, para nosso eterno opprobio, nas iramundas<br />

secretarias do Terreiro do Paço.<br />

«Que vergonha, que miséria e que pobreza <strong>de</strong><br />

espirito I»<br />

E quem ha <strong>de</strong> dar leis, é quem está <strong>de</strong><br />

posse do throno, a educanda do Sacre Cceur,<br />

<strong>de</strong> Paris.<br />

Já não ha ministros, os chamados estadistas,<br />

da tempera d'aquelles que <strong>de</strong>ram fundo<br />

golpe na reacção e no jesuitismo.<br />

Essa raça <strong>de</strong> patriotas <strong>de</strong>generou. Ha<br />

Francos, Hintzes e o mais por ahi fóra, d'um<br />

cumprimento tal capaz <strong>de</strong> dar a volta ao<br />

inundo!<br />

—Quinta feira, 31 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895<br />

1 julgamento importante<br />

Realisou-se na semana passada a primeira<br />

audiência para julgamento do sr. Faustino<br />

da Fonseca, actual director da Vanguarda.<br />

A causa d'este julgamento foi haver o<br />

nosso collega publicado um energico artigo<br />

contra a commissão municipal <strong>de</strong> Lisboa, que<br />

provocou as suas fúrias e o levou perante<br />

as justiças <strong>de</strong> el-rei.<br />

A que, porém, um gran<strong>de</strong> uumero <strong>de</strong><br />

pessoas <strong>de</strong> todas as classes sociaes assistiram<br />

no tribunal da Boa Hora, não foi ao<br />

julgamento d'um jornalista, mas sim á autopsia<br />

das immoralida<strong>de</strong>s praticadas pela commissão<br />

municipal <strong>de</strong> Lisboa.<br />

As testemunhas <strong>de</strong> <strong>de</strong>feza foram o sr.<br />

dr. Eduardo <strong>de</strong> Ab eu, zeloso secretario da<br />

subscripção nacional, e os srs. drs. Leão <strong>de</strong><br />

Oliveira e Cupertino Ribeiro, membros <strong>de</strong>missionários<br />

da minoria republicana da referida<br />

camara.<br />

Todas as testemunhas tiveram para com o<br />

réo as mais lisongeiras referencias, e verberaram<br />

ácremente o insolito procedimento dos<br />

senhores vereadores, que fizeram sentar no<br />

banco dos réos, um jornalista intelligente<br />

honrado e trabalhador.<br />

A primeira testemunha <strong>de</strong> <strong>de</strong>feza a ser<br />

ouvida foi o antigo e prestigioso <strong>de</strong>putado<br />

republicano por Lisboa, que historiou <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

a sua origem a questão, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo o procedimento<br />

do austero jornalista e con<strong>de</strong>mnando<br />

o procedimento vingativo dos camaristas.<br />

Disse, que tendo sido encarregado ha<br />

tempos, <strong>de</strong> fazer entrar no cofre da subscripção<br />

nacional, numerosas quantias que estavam<br />

em <strong>de</strong>bito, dirigiu á camara municipal<br />

<strong>de</strong> Lisboa vários officios neste sentido, pedindo<br />

o pagamento <strong>de</strong> tres contos trezentos<br />

e tantos mil réis, resto dos cem contos com<br />

que ella prometteu concorrer para a subscripção<br />

nacional.<br />

A única resposta que obteve, foi sempre<br />

a mesma, o silencio—e por ultimo soube, que<br />

a verepção mandou inutilisar em auto <strong>de</strong> fé,<br />

o ultimo officio, que elle lhes dirigiu em termos<br />

vehementes, mas <strong>de</strong>licados.<br />

Ora a camara proce<strong>de</strong>ndo d'uma maneira<br />

tão pouco correcta, não só o offen<strong>de</strong>u a elle,<br />

mas mostrou bem claramente o seu pouco<br />

patriotismo e nenhuma educação.<br />

Este facto já suficiente para <strong>de</strong>spertar<br />

uma reprimenda na imprensa, ainda não assalariada,<br />

ou <strong>de</strong> duas caras, que pelo paiz<br />

já começou a florescer, mereceu a <strong>de</strong>vida censura<br />

do sr. Faustino da Fonseca, um rapaz<br />

cheio <strong>de</strong> vida, <strong>de</strong>cidido a sacrificar-se por um<br />

i<strong>de</strong>al e a <strong>de</strong>sontrar um correligionário das<br />

más creaçóes d'uns sabujos do sr. João Franco,<br />

d'uns ninguens, incapazes <strong>de</strong> se mecherem<br />

e tornarem conhecidos noutro paiz que não<br />

fosse o nosso.<br />

Seria impossível dar uma nota <strong>de</strong>senvolvida<br />

<strong>de</strong> tudo o que o sr. dr. Eduardo <strong>de</strong><br />

Abreu disse com aquella eloquencia e nobre<br />

impetuosida<strong>de</strong>, que tanto o caracterisa e distingue;<br />

falta-nos o espaço e o tempo.<br />

Não po<strong>de</strong>mos, comtudo furtar-nos á transcripção<br />

da parte do interrogatorio em que<br />

elle respon<strong>de</strong>u ao nosso amigo João <strong>de</strong> Menezes,<br />

advogado do réo, se tinha qualquer<br />

inimiza<strong>de</strong> com os membros da fanada vereação.<br />

O sr. dr. Eduardo <strong>de</strong> Abreu respon<strong>de</strong>u<br />

o seguinte, que é engraçado e ao mesmo<br />

tempo muito, muitíssimo significativo:<br />

Relações pesscaes só as tenho com o sr.<br />

Martinho Guimarães, que é membro da commissão<br />

executiva da subscripção nacional; <strong>de</strong><br />

vista só conheço o sr. con<strong>de</strong> do Restello;<br />

retratado nos rotulos do xarope e da farinha<br />

peitoral, que, apressou-se a dizer, nunca receitei<br />

aos meus clientes, por consi<strong>de</strong>rar drogas<br />

nocivas á saú<strong>de</strong> publica.<br />

Seguiu-se o sr. dr. Leão d"0!iveira, que<br />

entre outras cousas, dignas <strong>de</strong> registrar, disse,<br />

e provou, que acamara actual era uma corporação<br />

<strong>de</strong>shonesta, que não o dizia só alli,<br />

porque o havia já dito em plena sessão, e os<br />

srs. vereadores que querellaram do jornalista,<br />

não o querellaram então a elle, talvez por<br />

esquecimento ou singular <strong>de</strong>ferencia.<br />

Referiu-se também ao facto <strong>de</strong> serem arbitrariamente<br />

nomeados mais quarenta e nove<br />

empregados, com o caracter <strong>de</strong> temporários,<br />

sendo na sua maioria, netos, filhos, cunhados<br />

e afilhados <strong>de</strong> vereadores!<br />

A outra testemunha <strong>de</strong> <strong>de</strong>feza, o sr. Cupertino<br />

Ribeiro, não chegou a ser ouvido por<br />

estar a sala muito escura, e o sr. juiz marcar<br />

a continuação do julgamento para o dia 2 <strong>de</strong><br />

novembro.<br />

Era numerosíssima a concorrência do publico,<br />

notando-se muitos escriptores, médicos,<br />

commerciantes, industriaes, estudantes,<br />

etc.<br />

A impressão causada foi enorme; a situação<br />

em que os accusadores ficaram, não podia<br />

ser mais triste; nem ao menos lhe valeu<br />

a habilida<strong>de</strong> do sr. dr. Lopes Vieira!<br />

Já é azar!<br />

Comquanto o sr. juiz não pronunciasse o<br />

seu veredictum, o que po<strong>de</strong>mos affoitamente<br />

dizer é que, absolutorio ou con<strong>de</strong>mnatorio,<br />

a opinião publica absolveu o réo plenamente.<br />

Não será esta a ultima vez que nos havemos<br />

<strong>de</strong> referir a este julgamento; havemos<br />

<strong>de</strong> contar o que se passar na audiência final,<br />

que não <strong>de</strong>ve ser menos interessante e moralisador.<br />

Continua a macaca<br />

E' fatal; on<strong>de</strong> estiver o Hintze, está<br />

agoiro á porta e a má sorte em casa — tudo<br />

perdido! — Assim está o paiz.<br />

A macaca d^sse fúnebre homem, e <strong>de</strong>sastrado<br />

ministro, já <strong>de</strong>u que fallar á imprensa,<br />

que lhe pren<strong>de</strong>u por muito tempo á cauda, a<br />

lata do ridículo.<br />

Tudo o que tem acontecido <strong>de</strong> mau ao<br />

sr. D. Carlos é causa da macaca do sr. Hintze;<br />

a viagem sustida em Paris, é da macaca;<br />

as afflicções do monarcha, em França,<br />

sem saber para on<strong>de</strong> se havia <strong>de</strong> voltar<br />

se para o ti-ti, se para o santinho com tripas,<br />

é da macaca; o conflicto diplomático<br />

com a Italia, é da macaca, e ainda é da macaca<br />

o que está para acontecer na viagem a<br />

Londres.<br />

A opinião do UEtoile Belgs é que se<br />

prepara ao joven monarcha — v. g. — um<br />

novo <strong>de</strong>sastre.<br />

Quem dá a nova é o Correio da Noite,<br />

e diz que o referido jornal notando como os<br />

ministros portuguezes se mostram tão fracos<br />

— marca tres á preta, ó João! — quanto imprevi<strong>de</strong>ntes,<br />

e como el-rei se preoccupa pouco<br />

com este inci<strong>de</strong>nte, gosando em Paris —<br />

que atrevimento !— os ocios dos boulevards,<br />

ao referir-se á próxima viagem á tia Victoria<br />

— diz-nos:<br />

«E' em Londres que o (El Rei) espera um verda<strong>de</strong>iro<br />

<strong>de</strong>sapontamento que bem se po<strong>de</strong>ria ligar<br />

ao inci<strong>de</strong>nte do Quirinai. Em-vez


D E F E N S O R r»o P o v o — 1 . ° A N N O Quinta feira, 31 fa outubro <strong>de</strong> 1895 — N.° 53<br />

Sciencias, lettras e artes<br />

.A.S CRIADAS<br />

(Timotro Trin)<br />

VERSVO LIVRE DO HESPANH0L<br />

(CONCLUSÃO)<br />

A que tive, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Salvadora, era uma<br />

mulher muito callada; porém a infeliz chorava<br />

quando a mandava preparar o chocolate,<br />

gemia quando a mandava varrer, entristecia<br />

quando a mandava ás compras, o que a não<br />

impedia <strong>de</strong> roubar o mais que po<strong>de</strong>sse, e<br />

quando esfregava, chorava d'uma tal maneira<br />

que parecia lhe havia dado uma tareia.<br />

Meu marido disse-me:<br />

«Mulher, olha, parece-me que esta criada<br />

ha <strong>de</strong> provavelmente ser a rainha Artemisa,<br />

ou alguma princeza <strong>de</strong>sthronada.»<br />

Um dia resolvi-me, a perguntar-lhe, cançada<br />

<strong>de</strong> a vêr chorar tanto, porque razão<br />

se affligia áquelle ponto, o que lhe havia<br />

acontecido; então, ella em tom lugubre e para<br />

mais trágico coutou-me a seguinte historia e<br />

disse-me:<br />

«Senhora, choro porque não nasci para<br />

misteres tão baixos; a mim educaram-me<br />

como se educa uma senhora; melhorando o<br />

presente, e se não fossem os malditos caminhos<br />

<strong>de</strong> ferro, estava eu em minha casa<br />

como se fôra uma rainha,»<br />

«Mas que lhe fizeram os caminhos <strong>de</strong> ferro<br />

para assim se mostrar tão contraria a elles?»<br />

«O quê? Arruinaram meu pae, a mim e<br />

a toda a minha familia... Pois se as coisas<br />

não corressem assim não me teria a senhora<br />

como criada, nem outra qualquer; eu é que<br />

as teria, e não estaria reduzida a ter que<br />

me sujeitar a serviços... ai! nem posso fallar<br />

em tal, cada vez que me lembro... Eu<br />

<strong>de</strong>via até fazer por me esquecer d'isto, mas<br />

que quer a senhora, a gente sempre se lembra.<br />

.. Mas quem o havia <strong>de</strong> dizer?...<br />

«Então quem era o seu pae? Era capitalista,<br />

banqueiro, accionista?...»<br />

«Não, senhora; era conductor d'uma diligencia.»<br />

Puz na rua aquella victima do progresso,<br />

e tomei uma mulher idosa, apezar da opposição<br />

<strong>de</strong> meu marido que lhe não agradavam<br />

as velhas, começando por mim.<br />

A creada nova, era uma velhota encarquilhada,<br />

com o queixo retorcido, e que em<br />

casa mandava mais do que eu.<br />

Quando me via na cozinha começava a<br />

resmungar, e dizia-me que não queria estorvos,<br />

que ella bem sabia como as coisas se<br />

faziam, que não precisava <strong>de</strong> conselhos.<br />

Mandava a estrelar ovos para o almoço,<br />

e ella aquecia-os, porque dizia serem assim<br />

melhores; fazia quanto muito bem lhe parecia;<br />

sahia a todas as horas; tomava a melhor<br />

sopa, e comia, segundo as suas palavras,<br />

pouco mas a meudo, o caso era que não<br />

ficava nada, e a nós servia-nos o que ella<br />

<strong>de</strong>ixava.<br />

A meu marido chamava velho rabujento,<br />

e quando não tinha que fazer — que não<br />

tinha que fazer em todo o dia — vinha para<br />

o meu quarto, e tratava-me como <strong>de</strong> egual<br />

para egual, fallava mal das pessoas que frequentavam<br />

a casa; quiz matar o gato, todo<br />

o dia estava tomando remedios e aguas quentes<br />

para combater o flato, histerismo, rheumatismo,<br />

asthma e outros achaques.<br />

Um dia disse-me que lhe pozesse sanguesugas;<br />

tendo-me eu negado, foi ter com meu<br />

marido para que lh^as <strong>de</strong>itasse.<br />

Gomo não lhe fizemos a vonta<strong>de</strong>, chamou-nos<br />

<strong>de</strong>shumanos, ameaçou-nos com o<br />

mau olhado, com a justiça <strong>de</strong> Deus, e...<br />

tivemos que a pôr a andar.<br />

Tomámos por ultimo uma criada muito<br />

mo<strong>de</strong>sta, muito limpa, arranjadinha, que não<br />

tinha namorado algum, segundo ella dizia: a<br />

única cousa que pedia era que a <strong>de</strong>ixassem<br />

ir á egreja, <strong>de</strong>sejo muito natural e que <strong>de</strong>monstrava<br />

o grau <strong>de</strong> religiosida<strong>de</strong> da boa<br />

Suzana — era o seu nome.<br />

Todos os dias ia á missa das almas, pela<br />

manhãsinha, todas as tar<strong>de</strong>s á novena, ao<br />

miserere, emfim não podíamos contar com<br />

ella senão ás horas <strong>de</strong> comer: a comida,<br />

porém, estava sempre fria e <strong>de</strong>sconsolada...<br />

Quizemos mo<strong>de</strong>rar um pouco a sua <strong>de</strong>voção,<br />

e a maldita a todos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o porteiro<br />

até aos visinhos, ao merceeiro, ao taberneiro,<br />

e a todo o mundo, foi dizendo que éramos<br />

uma sucia <strong>de</strong> herejes.<br />

Estavamos para a <strong>de</strong>spedir, quando um<br />

dia foi um policia buscal-a, e lá a levou comsigo<br />

empan<strong>de</strong>irada. sem sabermos para on<strong>de</strong>,<br />

nem para quê.<br />

Soubemos <strong>de</strong>pois, que aquella mosquinha<br />

morta pertencia a uma quadrilha <strong>de</strong> larapios,<br />

e que com effeito ia ás egrejas, não para<br />

resar nem visitar santos, mas para revistar<br />

as algibeiras dos <strong>de</strong>votos, roubando limpamente<br />

o mais que podia. Em casa roubounos<br />

então entre outros objectos um relogio,<br />

tres colheres <strong>de</strong> prata, roupas e outras miu<strong>de</strong>zas.<br />

Foi esta a minha ultima creada, concluiu<br />

D. Marquinhas.—Agora não tenho nem quero<br />

nenhuma. Eu mesmo me sirvo, e meu marido<br />

diz que eu sou peor que todas ellas,<br />

que faço tudo mal; mas antes quero ouvir<br />

as recriminações do meu homem do que<br />

aturai as.<br />

Devo <strong>de</strong>clarar, antes <strong>de</strong> terminar este<br />

conto, que quando D. Marquinhas se casou,<br />

não era D. Marquinhas, mas só Marquinhas,<br />

porque era... a creada do andar <strong>de</strong> baixo<br />

da casa em que vivia seu esposo.<br />

Um ramo <strong>de</strong> flores<br />

GABIRU.<br />

Um pobre mineiro, inutilisado no trabalho,<br />

resi<strong>de</strong> em Paris em precarias circumstancias.<br />

Não tendo meios e não encontrando<br />

ninguém que lhe désse protecção; lembrou-se<br />

<strong>de</strong> ir á camara franceza e lançar<br />

para o meio da sala um ramo <strong>de</strong> flores e<br />

assim julgava po<strong>de</strong>r alcançar uma in<strong>de</strong>mnisação<br />

pelo <strong>de</strong>sastre que soffreu, inhibindo-o<br />

<strong>de</strong> ganhar o seu sustento.<br />

Por isso lembrou-se d'aquelle meio tão<br />

inoffensivo e dirigiu-se ao edifício das camara,<br />

havendo naquelle dia, 27 do corrente,<br />

sessão parlamentar.<br />

De repente do logar da tribuna, on<strong>de</strong><br />

Vaill ante lançára a bomba, o pobre arremessa<br />

um ramo <strong>de</strong> flores para a sala e grita: —<br />

Viva a patria! Viva a França!<br />

Tudo se levantou cheio <strong>de</strong> terror, suppondo-se<br />

ser uma bomba <strong>de</strong> dynamite; e<br />

quando os ânimos socegaram e o homem foi<br />

preso, souberam o que havia sido causa <strong>de</strong><br />

tantos sustos.<br />

Não se sabe se o homem foi feliz com a<br />

i<strong>de</strong>ia.<br />

EL-REI DIVERTE-SE<br />

Gran<strong>de</strong> «soirèe»<br />

«Da mesma fórma que não é <strong>de</strong> uso levar ás<br />

Folies Bregères, aos Ambassa<strong>de</strong>urs ou ao Jardin<br />

<strong>de</strong> Paris as senhoras da socieda<strong>de</strong>, lambem estes<br />

logares estão interdictos, ao que parece, aos chefes<br />

<strong>de</strong> Estado que, mesmo fóra dos seus paizes,<br />

têm <strong>de</strong> pautar uma gran<strong>de</strong> parte da sua vida pelas<br />

regras da meticulosa pragmatica. Assim é que<br />

po<strong>de</strong>ndo, assistir ás passagens mais escabrosas—<br />

e não são poucas nem pouco disfarçadas — das<br />

Demi-Vierges ou <strong>de</strong> qualquer peça do Palais<br />

Royai, é-lhes <strong>de</strong>feso comtudo ouvirem o reportorio<br />

picante da Yvette Guilberte, do Poliin e dos<br />

outros astros do Café concerto.<br />

«Se não fosse o Fígaro, que não quiz <strong>de</strong>ixar<br />

<strong>de</strong>smentir as tradições complacentes que fixou<br />

Beaumarchais, o rei <strong>de</strong> Portugal, apezar da sua<br />

longa estada em Paris, não lograria presencear<br />

um espectáculo em que estas notahilida<strong>de</strong>s caféconcertistas<br />

tomassem parte.<br />

«Assim, a redacção do Figaro, pelos seus redactores<br />

principaes os srs. F. <strong>de</strong> llodays e A. Périver,<br />

offereceu no dia 25, ao rei <strong>de</strong> Portugal,<br />

uma soirèe, cujo programma, cora raras excepções,<br />

mais <strong>de</strong> nomes do que <strong>de</strong> números, parecia feito<br />

para o Scala, ou para o Alcazer d Etè.<br />

«El-rei chegou ás lí horas da noite acompanhado<br />

do ministro portuguez e da sua comitiva,<br />

occupando toda a primeira fila <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>iras e ficando<br />

Sua Magesta<strong>de</strong> entre os dois redactores principaes<br />

do Figaro.<br />

«Uma orchestra tocou á chegada o hymno da<br />

Carta, que foi ouvido sentado, por isso que Sua<br />

Magesta<strong>de</strong> se sentou logo que chegou ao seu logar.<br />

«Entrou-se francamente no reportorio café-concerto.<br />

Gallipaux do Vau<strong>de</strong>ville, Polin do Scála,<br />

e Villé do Eldorado, escalaram resolutamente a<br />

pragmatica, tendo ainda assim sido muito conscienciosos<br />

nos números qiie escolheram.<br />

«Quem, porém, não teve contemplações com o<br />

régio hospe<strong>de</strong> do Figaro foi Yvette Guilbert. A<br />

rainha das cançonatistas exhibiu em tres das suas<br />

canções tudo o que o seu reportorio tem <strong>de</strong> mais<br />

salé-<br />

« Les ingénues e Les jeunes mariées fizeram rir<br />

el-rei convulsamente, com aquelle riso franco e<br />

sincero que Yvette, com o seu extraordinário modo<br />

<strong>de</strong> dizer e com a sua gesticulação ainda mais<br />

extraordinaria, sabe provocar.<br />

Yvette, sentindo-se gatée quiz dar como primeur<br />

ao auditorio especial que a escutava Les déhors du<br />

mariage. .. que ella disse com uma câlinerie cheia<br />

<strong>de</strong> malícia e que lhe valeu applausos unanimes e<br />

calorosos. Uma observação necessaria: no auditorio<br />

não havia senhoras...»<br />

E' do Diário <strong>de</strong> Noticias o que se acaba<br />

<strong>de</strong> lêr.<br />

Nem mais uma palavra.,.<br />

MATADOIRO<br />

Pelo actual matadoiro — aon<strong>de</strong> os marchantes<br />

pagam á camara apenas um direito<br />

<strong>de</strong> entrada e outro <strong>de</strong> pezagem, fazendo todos<br />

serviços com pessoal seu — cobra a camara<br />

<strong>de</strong> receita bruta annualmente em média<br />

i:200$000 réis.<br />

D'esta importancia tem-se a <strong>de</strong>duzir, como<br />

encargos do matadoiro:<br />

Ao veterenario 36o$>ooo réis<br />

Ao fiscal 1802&000 »<br />

A um policia i26$ooo »<br />

A um guarda io8$5oo »<br />

Para impressos, expedientes,<br />

reparos, conservação do<br />

pardieiro e material 200^000 »<br />

974$5OO »<br />

<strong>de</strong> modo que a receita liquida se reduz apenas<br />

á insignificância <strong>de</strong> 3oo$ooo réis o que<br />

é o melhor attestado <strong>de</strong> incúria, indolência e<br />

criminosa indifferença —senão ignorancia dos<br />

mais rudimentares princípios <strong>de</strong> administração<br />

municipal! — porquanto o matadouro da<br />

villa mais humil<strong>de</strong> d'este districto <strong>de</strong>ve ren<strong>de</strong>r<br />

quantia egual, senão superior — e não é<br />

a terceira cida<strong>de</strong> do reino.<br />

Os pretendidos concessionários do novo<br />

matadoiro dão á camara uma renda ou subvenção<br />

annual <strong>de</strong> um conto <strong>de</strong> réis, ficando<br />

<strong>de</strong> sua conta todas as <strong>de</strong>spezas que se relacionem<br />

com o matadoiro <strong>de</strong> modo que aquelle<br />

conto <strong>de</strong> réis, seja uma receita liquida e entregam<br />

á camara, no fim <strong>de</strong> 6b annos um<br />

magnifico edifício com todo o seu material,<br />

edifício que segundo o plano que vimos executado<br />

em tempo na Casa Havaneza e agora<br />

na Papelaria Central, realisará um dos primeiros<br />

estabelecimentos da Europa, no limite<br />

das suas dimensões e que nunca po<strong>de</strong>rá valer<br />

menos <strong>de</strong> trinta e seis contos <strong>de</strong> réis.<br />

Actualmente, a lavagem das tripas faz-se<br />

no rio, ou mesmo na praça, á vista <strong>de</strong> todos<br />

os transeuntes, a dobrada é lavada também<br />

e preparada grosseiramente em logares públicos—<br />

e a carne é conduzida para os talhos<br />

ás costas dos carregadores, porcos e immundos,<br />

ás vezes <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> chuva, mas sempre<br />

exposta á vista dos transeuntes.<br />

Pelo novo matadoiro, a lavagem das tripas<br />

e a preparação das dobradas é feita<br />

<strong>de</strong>ntro do matadoiro em, officinas especiaes,<br />

por processos mo<strong>de</strong>rnos, com abundancia <strong>de</strong><br />

agua e escrupuloso asseio — a carne é conduzida<br />

em carroças especiaes tapadas, com<br />

pessoal limpo e com a farda do matadoiro<br />

Ha uma tabella nova que <strong>de</strong> facto não<br />

tem comparação com a actual, que tem <strong>de</strong>pauperado<br />

a camara sem beneficio immediato<br />

do publico ; mas os marchantes fião tem mais<br />

encargo algum e os serviços e preparação das<br />

rezes são feitos com pericia, asseio, còmmodida<strong>de</strong><br />

e pelos processos mo<strong>de</strong>rnos. O publico<br />

em geral pô<strong>de</strong> utilisar-se com muita vanta-<br />

gem do matadoiro especialmente para a matança<br />

dos suínos como vamos <strong>de</strong>monstrar.<br />

Hoje um particular que <strong>de</strong>seje abater um<br />

porco em casa não dispen<strong>de</strong> menos <strong>de</strong> i$5oo<br />

réis, além <strong>de</strong> um incommodo e porcaria enorme<br />

durante a preparação do porco.<br />

Com o novo matadoiro, qualquer que o<br />

<strong>de</strong>seje utilisar avisa a administração d^quelle<br />

estabelecimento e esta manda-lhe a carroça<br />

a casa receber o porco vivo e traz lh'o a casa<br />

morto e limpo com o sangue e as tripas correspon<strong>de</strong>ntes<br />

(lavadas) por <strong>de</strong>smanchar, pela somma<br />

total <strong>de</strong> 460 réis, e <strong>de</strong>smanchado, 660 réis.<br />

O dono do porco po<strong>de</strong> assistir a todo o<br />

trabalho como está bem <strong>de</strong> ver.<br />

No actual matadoiro embora a capacida<strong>de</strong><br />

o muito zelo e circumspecção do veterinário,<br />

os serviços fazem-se, geralmente, sem or<strong>de</strong>m<br />

e como Deus quer e a camara <strong>de</strong>seja.<br />

Nas proximida<strong>de</strong>s da hora da matança,<br />

que <strong>de</strong> ordinário é das 2 ás 3 horas, é impossível,<br />

senão perigoso, e muito <strong>de</strong>sagradavel<br />

passar-senas immediações do matadoiro que,<br />

como todos sabemos fica á entrada do bairro<br />

novo <strong>de</strong> Santa Cruz — passeio predilecto e<br />

actualmente muito frequentado pelos moradores<br />

da cida<strong>de</strong> e seus visitantes, pois áquella<br />

hora, quem alli passar julga-se numa feira<br />

<strong>de</strong> gado, alli, um rebanho <strong>de</strong> ovelhas, acolá<br />

um outro <strong>de</strong> cabras, mais a<strong>de</strong>ante uma vitelinha,<br />

uns porcos, a vacca, etc., etc., — todos<br />

esperando a hora do sacrifício — as mulheres<br />

e homens do serviço estão <strong>de</strong>itados<br />

pelo chão em mangas <strong>de</strong> camisa com as selhas<br />

e alguidares ao lado, dando assim aos<br />

transeuntes um espectáculo bem triste.<br />

No novo matadoiro, todo murado e cercado<br />

<strong>de</strong> um jardim, os serviços e o seu pessoal<br />

obe<strong>de</strong>cem a uma or<strong>de</strong>m e a um regulamento,<br />

que nem <strong>de</strong> leve se torna suspeito (á<br />

visinhança) a que o edifício é <strong>de</strong>stinado a<br />

não ser pelo titulo.<br />

Mas este bem estar geral não convém á<br />

camara, antes prefere o stato quo.<br />

Nós também lhe não queremos mal por<br />

isso, mas os munícipes <strong>de</strong>veriam merecer-lhe<br />

mais alguma consi<strong>de</strong>ração.<br />

Conflicto luso-italiano<br />

Continua a imprensa das diversas nações<br />

da Europa a occupar-se da viagem do rei<br />

portuguez, apreciando e commentando-se<br />

o conflicto luso-italiano, a que <strong>de</strong>u causa a<br />

saída precipitada do reino ao sr. D. Carlos<br />

e a recusa <strong>de</strong> não ir á Italia quando estava,<br />

essa visita, no itenerario que publicaram primeiro<br />

os jornaes <strong>de</strong> Lisboa, que passam por<br />

beber dofino em informes e por aquelles que têm<br />

a honra e recebem o proveito <strong>de</strong> serem os<br />

thuribularios d'essa malta <strong>de</strong> energúmenos.<br />

E' enorme o numero <strong>de</strong> jornaes que se<br />

collocaram ao lado do governo italiano, applaudindo<br />

o procedimento do presi<strong>de</strong>nte do<br />

conselho, Cnspi, por não <strong>de</strong>ixar esmagar a<br />

Italia pelos ardis da seita negra ás or<strong>de</strong>ns do<br />

papa, nem pelas ameaças d'este, proce<strong>de</strong>ndo<br />

com energia e altivez ás suas imposições.<br />

São unisonos os brados, unanimes as<br />

opiniões do jornalismo da Italia una. Quasi<br />

todos escrevem obe<strong>de</strong>cendo á força da mesma<br />

i<strong>de</strong>ia, trabalhando para o mesmo fim e<br />

alvejando o mesmo ponto o qual é — combater<br />

os reaccionários, inutilisar os manejos<br />

do papa que preten<strong>de</strong> hostilisar o po<strong>de</strong>r real,<br />

que o <strong>de</strong>sthronou.<br />

Em telegramma, que publica o Corriere<br />

Della Sera, <strong>de</strong> Roma se affirma que a retirada<br />

do embaixador <strong>de</strong> Portugal é o primeiro<br />

<strong>de</strong> uma serie <strong>de</strong> actos, ten<strong>de</strong>ntes a dar<br />

á politica italiana um caracter manifestamente<br />

anti-clerical; publicando <strong>de</strong>pois um artigo <strong>de</strong>clarando<br />

impru<strong>de</strong>nte o procedimento do governo<br />

portuguez, que annunciou a visita do<br />

sr. D. Carlos á Italia sem prevêr, e quasi dando<br />

se ares <strong>de</strong> não saber as dificulda<strong>de</strong>s que<br />

ella podia originar.. .<br />

E com a attitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> quem está seguro<br />

das suas opiniões, vae a Tribuna, <strong>de</strong>clarando<br />

que applau<strong>de</strong> as <strong>de</strong>clarações do governo,<br />

mas que a dignida<strong>de</strong> da Italia impõe-lhe o<br />

<strong>de</strong>ver <strong>de</strong> não se <strong>de</strong>ixar — nunca! — acorrentar<br />

aos caprichos do Vaticano.<br />

Por estas harmonias, que o leitor está<br />

ouvindo, affirmam os outros jornaes italianos,<br />

que apodam o governo portuguez <strong>de</strong> ignorante<br />

e néscio, em tremendas sóvas, como<br />

por exemplo, a Opinione, a qual julga que<br />

com as instrucções dadas pelo governo italiano,<br />

o inci<strong>de</strong>nte pô<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>clarar-se esgotado,<br />

não <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> notar que o governo<br />

portuguez andou muito levianamente.<br />

Regalem-se os gran<strong>de</strong>s estadistas <strong>de</strong> meia<br />

tijella, com o que acabam <strong>de</strong> ouvir, mas<br />

apurem os sentidos que as melhores vae dizel-as<br />

a Riforma, que em tom altivo, falia<br />

com esta sobranceria que vereis. Rejubilando<br />

pela solução que teve o inci<strong>de</strong>nte, observa<br />

que se o governo portuguez virou <strong>de</strong> frente<br />

ante as ameaças do Vaticano, isso é questão<br />

com que a Italia nada tem. Affirma que é<br />

o Vaticano que recorre a ameaças para conservar<br />

longe do Quirinal os soberanos catholicos,<br />

empregando as armas da fé para fomentar<br />

discórdias nos estados catholicos, não<br />

hesitando mesmo ante a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

provocar a revolução nos estados da Europa,<br />

que querem conservar relações d'amiza<strong>de</strong> •<br />

com a Italia.<br />

Em mau serviço mata o ocio o santo padre,<br />

vigário <strong>de</strong> Christo na terra — em nome,<br />

que não em pessoa — pois que nunca houveram<br />

boccas que se abrissem para con<strong>de</strong>mnar<br />

o gran<strong>de</strong> Nazareno que só proclamou a<br />

revolução para emancipar os povos da escravidão<br />

dos tyrannós, e nunca para atear o<br />

odio das raças, nos estados da Europa.<br />

Pouco evangelico se mostra o Leão do<br />

Vaticano, esten<strong>de</strong>ndo as prezas da vingança<br />

aos que luctam pela liberda<strong>de</strong>. Faz recordar<br />

a fabula do — Mosquito e do leão...<br />

Fechar com chave d'oiro se diz das coisas<br />

que tem valor, e realmente é bem cabida a<br />

phrase, a um periodo d'um artigo da Italie<br />

com que terminamos, pois sendo este jornal<br />

mo<strong>de</strong>rado nas suas questões, escreve, a proposito<br />

do conflicto diplomático e da influencia<br />

do Vaticano, essas palavras, que vão transcriptas,<br />

on<strong>de</strong> salienta bem frisantemente<br />

este facto foistorico: que todos os soberanos,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> Napoleão 1 a Napoleão 111 encontraram<br />

a sua <strong>de</strong>sgraça nas suas ligações com o<br />

Vaticano, concluindo por esta phrase: «talvez<br />

um dia D. Carlos veja a Italia,<br />

•uas terá então um ex-aniepuito ao<br />

•eu titulo <strong>de</strong> rei, e MÓ a generonida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Humberto lhe po<strong>de</strong>rá mitigar um<br />

pouco a* amarguras do exílio.<br />

Não pó<strong>de</strong>m ser mais irónicas, nem mais<br />

escalpellantes as palavras do jornal Italie, já<br />

recordando a Leão XIII as infamias dos papados,<br />

e consi<strong>de</strong>rando perigosas para as testas<br />

coroadas as ligações do Vaticano, já presagiando<br />

ao sr. D. Carlos a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

um dia ainda ver a Italia, procurando na generosida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> seu tio o balsamo consolador<br />

<strong>de</strong> quem se vê na <strong>de</strong>sdita.<br />

Que não passam <strong>de</strong> parolas — dizem por<br />

cá os gran<strong>de</strong>s doutores do estado.<br />

Quem sabe lá?


XLVX<br />

Recordo com gran<strong>de</strong> mágua<br />

que lembrei, na occasião,<br />

á camara — a boa maneira<br />

<strong>de</strong> canalisar a agua,<br />

junto à mesma excavação<br />

do gaz, na Estrada da Beira.<br />

Acceitando os nossos planos,<br />

dava á valia mais largueza,<br />

po<strong>de</strong>ndo caber dois canos<br />

sem lhe dar gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>speza.<br />

Consta haver um camarista,<br />

homem finorio, sagaz;<br />

diz ser perigosa a rotura<br />

que se um dia dér no gaz...<br />

(olhem que eu sou fatalista)<br />

com a agua se misturai 1!...<br />

Fica á conta dos leitores<br />

dizerem, sem rabulice,<br />

qual é dos vereadores<br />

que disse tal bernardice ?<br />

A resposta ao meu pedido,<br />

quer-se em verso bem medido.<br />

Fra -Dique.<br />

N. B. As respostas não <strong>de</strong>vem exce<strong>de</strong>r á quintilha,<br />

e serão assignadas, para conhecimento d'esta redacção.<br />

Po<strong>de</strong>m fazer uso do pseudonymo.<br />

CARTAS UE LONGE<br />


I>EJFE]V S O R D O P 0 V O — 1.° ANNO<br />

COLLECÇÃO PAULO DE KOCK<br />

Obras publicadas<br />

0 Coitadinho, 1 vol. 480 pag<br />

Zizina, 1. vol. illustrado<br />

O Homem dos Tres Calções, 1 vol.<br />

illui-trado<br />

Irmão Jacques, 2 vol. illustrados..<br />

ISo prelo<br />

A Irmã Anna, 2 vol.<br />

600<br />

600<br />

600<br />

800<br />

Para qualquer d'estas obras acceitara-se<br />

assignaturas em <strong>Coimbra</strong> na<br />

Agencia <strong>de</strong> Negocios Universitários<br />

<strong>de</strong> A. <strong>de</strong> Paula e Silva, rua do Infante<br />

D. Augusto.<br />

Toda a correspondência a José Cunha,<br />

T. <strong>de</strong> S. Sebastião, 3. —Lisboa.<br />

Justino Antunes Barreira,<br />

participa aos seus numerosos freguezes<br />

que do dia 1.° <strong>de</strong> novembro do corrente<br />

anno em diante ven<strong>de</strong> as carnes nos seus<br />

talhos da praça <strong>de</strong> D Pedro v, com os<br />

n. os 15, 17 e 22, pelos preços abaixo<br />

mencionados.<br />

Lombo, pujadouro e alcatra sem<br />

osso<br />

Qualquer peça da perna com osso<br />

Assem da flôr e pá<br />

Assem magro, abas e peito Oro->so<br />

Costellas, prego <strong>de</strong>lgado, cachaço<br />

e carne innervada<br />

VITELLA<br />

420<br />

300<br />

280<br />

260<br />

220<br />

Perna, qualquer membro, pá e<br />

costelletas 320<br />

Peito e cachaço 280<br />

<strong>Coimbra</strong>, 29 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895.<br />

Justino Antunes Barreira.<br />

m PHOTOfiláPHS<br />

Productos chimicos, chapas allemãs,<br />

cartões em differentes generos, prensas,<br />

etc., etc.<br />

Preços <strong>de</strong> Lisboa.<br />

Mon?arroio 25 a 33 —COIMBRA<br />

Casa Installadora <strong>de</strong> Canalisações<br />

P^RA<br />

AGUA E GAZ<br />

GERENTE<br />

JOSÉ MARQUES LADEIRA<br />

Approvado e documentado por diversas<br />

companhias<br />

H'este estabelecimento encontramse<br />

á venda lodos os materiaes proprios<br />

pa/a canalisações <strong>de</strong> agua e gaz, taes<br />

cdnio : lustres, braços <strong>de</strong> bronze e <strong>de</strong><br />

christal, globos, tubos <strong>de</strong> chumbo, feiro<br />

e borracha, e torneiras <strong>de</strong> todas as qualida<strong>de</strong>s.<br />

Preços especiaes em torneiras e tubos<br />

<strong>de</strong> chumbo e ferro.<br />

Gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> em campainhas eléctricas.<br />

A ECONOMIA 20 BICO AUEB<br />

O gasto máximo <strong>de</strong> um BICO AUER,<br />

trabalhando com a sua maior força, é <strong>de</strong><br />

ã réis por cada hora<br />

retirando-se toda a installação em <strong>Coimbra</strong><br />

e na Figueira da Foz, caso não <strong>de</strong>r<br />

resultado.<br />

99 —RUA DO VISCONDE DA LUZ —101<br />

C O I M B R A<br />

JULIÃO A. D'ÂLMEIDA & C. a<br />

20—Rua <strong>de</strong> Sargento Mór—24<br />

COIMI RA<br />

£3 Sí'es antigo e ipbeJcc men o cobrem-se<br />

<strong>de</strong> novo guarda-soes,<br />

com boas sedas <strong>de</strong> febrico portuguez.<br />

Preços os mais bar.. :o\<br />

Também tem Lsinbas fr « e outras<br />

fazendas p^ra coherícr s b ,s.<br />

No me"mo esíabelc cinieii > ve id"use<br />

magnifc.s armações par.,ar o ,<br />

o que ha <strong>de</strong> mais mo<strong>de</strong>rno.<br />

R E C L A M E S E A N N U N C I O S<br />

í ^ i n S T O - I E I R<br />

I MACHINAS<br />

Estabelecimento <strong>de</strong> fazendas brancas<br />

ARTIGOS DE NOVIDADE<br />

ALFAIATARIA MODERNA<br />

DE<br />

JOSÉ LUÍS UABT1SS SE ARAUJO<br />

90, Rua do Yiscon<strong>de</strong> da Lnz 92 —COIMBRA<br />

6 O mais antigo estabelecimento n'esta cida<strong>de</strong>, com as verda<strong>de</strong>iras machinas<br />

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<strong>de</strong> costura para alfaiate, sapateiro e costureira, com os últimos aperfeiçoamentos,<br />

garantindo-se ao comprador o bom trabalho da machina pelo espaço <strong>de</strong> 10<br />

annos.<br />

Hecebe-se qualquer machina usada em troca <strong>de</strong> novas, transporte grátis<br />

para os compradores <strong>de</strong> fúra da terra e outras garantias. Ensina-se <strong>de</strong> graça,<br />

tanto no mesmo <strong>de</strong>posito como em casa do comprador.<br />

Ven<strong>de</strong>m-se a prazo ou promplo pagamento com gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>scanto.<br />

Concerta-se qualquer machina mesmo que não seja Singer com a maxima<br />

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feita n'esta alfaiateria, dão-se amostras a quem as pedir.<br />

Tem esta casa dois bons contramestres, <strong>de</strong>ixando-se ao freguez a preferencia<br />

<strong>de</strong> optar.<br />

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solta para machina?.<br />

Alugam-se e ven<strong>de</strong>m-se Bi-cyc9etas.<br />

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no mesmo tempo 12 a 20 réis.<br />

Encommendas a JOSÉ MARQUES LADEIRA<br />

Cantella com as contrafacções baratas (pe saem caras!<br />

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31 Patita para rii*og <strong>de</strong> imprensa<br />

<strong>de</strong> boa qu lid.;<strong>de</strong> e preço<br />

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revolvers e munições <strong>de</strong> c • .<br />

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oleo, pincéis e artigos <strong>de</strong> d- nho.<br />

fgalias para via


à N N O 1.<br />

Defensor<br />

LIÇÃO S K V E R A<br />

Se o sr. D. Carlos não fosse o primeiro<br />

e mais elevado representante official do<br />

Paiz, se o sr. D. Carlos não occupasse na<br />

hierarchia politica <strong>de</strong> Portugal o primeiro<br />

e supremo grau, não nos importaríamos que<br />

o rei viajasse, nem nos daríamos ao enfado<br />

<strong>de</strong> faliar nas peripecias da sua <strong>de</strong>sastrada<br />

e infeliz digressão ás côrtes extrangeiras.<br />

O sr. D. Carlos, liem ou mal, com merecimentos<br />

ou sem elles, é, por graça <strong>de</strong><br />

Deus e direito hereditário, o supremo magistrado<br />

da Nação Portugueza, e, por isso,<br />

ainda os actos da sua vida particular vêm<br />

refleelir-se na vida politica e moral da<br />

nação, na qual sua magesta<strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenha<br />

o principal papel e exerce as funcções <strong>de</strong><br />

chefe supremo.<br />

Deviam, pois, os ministros, conselheiros<br />

natos da corêa, guardas fieis e vigilantes<br />

da dignida<strong>de</strong> e da honra nacional, não<br />

ce<strong>de</strong>r aos caprichos do seu amo e senhor;<br />

e, quando fossem elles os auclores da lembrança<br />

e resolução da tal viajata, prever e<br />

acautelar o chefe politico do Estado <strong>de</strong><br />

quaesquer occorrencias <strong>de</strong>sagradaveis e offensivas<br />

da sua respeitabilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>coro,<br />

e, que é mais grave pondonoroso, da honra<br />

e dignida<strong>de</strong> da Nação.<br />

Não succe<strong>de</strong>u porem assim. Ou fosse<br />

subserviência aos <strong>de</strong>sejos inconsi<strong>de</strong>rados do<br />

monarcha, ou fosse por levianda<strong>de</strong> e irreflexãc,<br />

ou ainda por calculado expediente<br />

<strong>de</strong> astuciosa e traiçoeira politica, os ministros,<br />

sem pensar nas consequências, sem<br />

prever os resultados <strong>de</strong> mais uma aventura<br />

palaciana, vergonhosa para o respeito e<br />

prestigio das instituições e seriamente compromeltedora<br />

e <strong>de</strong>sastrada para o credito e<br />

brios do Povo Portuguez, <strong>de</strong>ixaram ir o rei<br />

ao exlrangeiro com todas as formalida<strong>de</strong>s<br />

e pragmalicas da sua elevada posição social,<br />

ro<strong>de</strong>ado <strong>de</strong> apparalo e da ostentação<br />

prop via do seu alto cargo e representação<br />

politica, expondo-o a <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rações e<br />

insu los, que.a não ser el-rei inconsciente<br />

ou alheio a sentimentos <strong>de</strong> vergonha e<br />

pondonor, o <strong>de</strong>vem ler profundamente magoado,<br />

dando occasião e pretexto para ser<br />

na pessoa d'el-rei <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rada e insultada<br />

a Nação Portugueza, que nenhuma<br />

culpa tem e, por isso, em nenhuma responsabilida<strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong> incorrer pelos caprichos<br />

do rei, pelas levianda<strong>de</strong>s e imprevi<strong>de</strong>ncias<br />

dos seus ministros.<br />

Entre as <strong>de</strong>monstrações <strong>de</strong> <strong>de</strong>sagrado,<br />

que tem sido muitas e punjenles, dadas ao<br />

rei <strong>de</strong> Portugal durante a sua viagem em<br />

côrtes extrangeiras, avulta uma que o <strong>de</strong>ve<br />

ler <strong>de</strong>véras impressionado pela sua moralisadora<br />

significação; — lição severa, merecido<br />

e juslo correctivo para um rei constitucional,<br />

que tem arbitrariamente calcado a<br />

Constituição, cassada, por actos revoltantes<br />

<strong>de</strong> uma insolente dicladura, as liberda<strong>de</strong>s<br />

populares e municipaes, zombado dos direitos<br />

individuaes dos cidadãos portuguezes,<br />

preterido, cynica e arrogantemente, as<br />

mais usuaes e indispensáveis formulas do<br />

syslema liberal representativo, faltando aos<br />

seus juramentos, e contribuído, directa e<br />

po<strong>de</strong>rosamente, para o rebaixamento politico<br />

e moral da Nação, a que presi<strong>de</strong>, para<br />

a miséria economica e para a ruína total<br />

<strong>de</strong> um Estado, que o tem por chefe, <strong>de</strong><br />

um Povo que anda cançaílo <strong>de</strong> trabalhar<br />

para o manter e á sua família, cançado <strong>de</strong><br />

pedir justiça e moralida<strong>de</strong> aos po<strong>de</strong>res públicos,<br />

que só lhe respon<strong>de</strong>m com prepotências<br />

e cada vez maiores vexames, que<br />

longe <strong>de</strong>oatten<strong>de</strong>r em suas queixas e representações,<br />

cada vez mais o opprimem, e<br />

insultam.<br />

—Em Iodas as festas e recepções ofjiciaes,<br />

que em honra do rei <strong>de</strong> Portugal se<br />

fizeram e com pompa celebraram na gran<strong>de</strong><br />

capital da França, os presi<strong>de</strong>ntes das duas<br />

casas do Parlamento abstiveram-.se <strong>de</strong> comparecer.<br />

Nem o presi<strong>de</strong>nte do senado, nem o<br />

presi<strong>de</strong>nte da camara dos <strong>de</strong>putados da<br />

Republica Franceza, compareceram ás festas<br />

e recepções celebradas em honra e homenagem<br />

do Rei <strong>de</strong> Portugal.<br />

Ninguém alli os vio; ninguém lá os enxergou.<br />

A sua falta, a sua ausência nas festas por<br />

certo não foi casual; nem incommodos <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> ou affazeres estorvaram os illuslres<br />

presi<strong>de</strong>ntes do Parlamenlo Francez <strong>de</strong> ir<br />

cumprimentar e prestar as <strong>de</strong>monstrações do<br />

seu respeito, ao menos por <strong>de</strong>licada corlezia,<br />

em cujos requintes ninguém por esse nf.ndo<br />

exce<strong>de</strong>, nem sequer eguala o Povo Francez,<br />

ao rei <strong>de</strong> Portugal.<br />

Quizeram, com a sua abstenção e ausência,<br />

os Presi<strong>de</strong>ntes do parlamento Francez,<br />

dar uma severa lição a esse chefe <strong>de</strong><br />

um Estado Constitucional, que menospreza<br />

e suspen<strong>de</strong> arbitrariamente a constituição,<br />

ao supremo funcciqnario publico <strong>de</strong> um Paiz,<br />

que se rege pelo syslema liberal representativo,<br />

mas que dissolve o Parlamento, annulla<br />

a Representação Nacional para com os seus<br />

ministros governar, vae para dois annos,<br />

em completa e <strong>de</strong>senfreada dicladura reaccionaria.<br />

Severa e bem merecida lição, que muito<br />

po<strong>de</strong>ria e <strong>de</strong>veria aproveitar a um rei e seus<br />

ministros, que, por indole e por habito, não<br />

fossem incorrigíveis.<br />

Infame comedia<br />

O ministério reúne para pôr á escolha o<br />

nome dos <strong>de</strong>putados e no ultimo conselho <strong>de</strong><br />

ministros, se bem que a lista não estava<br />

completa, dizem que muitos nomes foram ao<br />

conselho e que agradaram geralmente.<br />

Não fica por aqui o <strong>de</strong>scaro, porque os<br />

jornaes do governo fazem d'estas apreciações:<br />

*Parece-nos ser acertada a escolha d'este<br />

cavalheiro para representante da nação em<br />

côr l es.»<br />

Escolhidos a <strong>de</strong>do e approvados em publico!<br />

Nada admira, sendo governo a crapula <strong>de</strong><br />

homens que ahi estão prostituídos, a affrontarem<br />

tudo que é santo, tendo por mentor<br />

o odiento Jcão Franco, mais cynico que Judas,<br />

mais tratante e mais perverso que o foi<br />

Lopo Vaz, <strong>de</strong> execranda memoria.<br />

E será isto a camara popular, como lhe<br />

chamam...<br />

Um escarro saido <strong>de</strong> boccas pútridas e<br />

consciências prevertidas é que é. Nada se lhe<br />

pô<strong>de</strong> confrontar.<br />

As camaras que vão reunir-se — essas! —<br />

são a ultima expressão da escoria politica!<br />

Um prostíbulo!<br />

A tramóia do Nyassa<br />

Ainda estrebucha no lamaçal esta arriosca,<br />

d^n<strong>de</strong> sairam ladrões muitos conselheiros e<br />

titulares, altos trumphos da politica, que levam<br />

a vida em assaltos aos cofres públicos<br />

e ás companhias e bancos <strong>de</strong> credito.<br />

A caminho da Africa seguiu viagem um<br />

official superior do exercito, que pedira licença<br />

íllimitada, afim <strong>de</strong> ir exercer um logar <strong>de</strong><br />

commissão, representando um dos grupos do<br />

Nyassa, que andam em gambernas.<br />

Ao official <strong>de</strong>u-se intimação para regressar<br />

ao reino, ou estabelecer resi<strong>de</strong>ncia no paiz<br />

estrangeiro, como consta da licença.<br />

E o Moncada, aquelle rico <strong>de</strong>legado, virgem<br />

e martyr, a <strong>de</strong>ixal-os á solta.<br />

O Mineiro, no Limoeiro, já lhe per<strong>de</strong>u<br />

a esperança.<br />

Povo<br />

COIMBRA —Domingo, 3 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1895<br />

AS ELEIÇÕES POR DM OCULO<br />

Andam preoccupados os ministros com<br />

as próximas eleições. João Franco, como<br />

cabeça dirigente do ministério, celebra conferencias<br />

com os magnates regeneradores<br />

mais em evi<strong>de</strong>ncia; e diz-se, com quanto não<br />

seja ainda certo, ter organisada a lista dos<br />

<strong>de</strong>putados, que ha <strong>de</strong> levar á camara no meio<br />

da maior indifferença do povo, que não quer<br />

saber <strong>de</strong> eleições para nada.<br />

Diz o governo que a futura camara ha <strong>de</strong><br />

ser uma camara á inglesa; nem as camaras<br />

á francesa lhe servem já! Ora o que nos<br />

espanta é que o governo saiba <strong>de</strong> antemão o<br />

que ha <strong>de</strong> ser o parlamento. Se elle ha<strong>de</strong> sahir,<br />

no dizer da Tar<strong>de</strong>, orgão officioso do governo,<br />

muito superior ás memoráveis côrtes <strong>de</strong> 1820,<br />

como é que o povo, o qual se levantou em<br />

massa ao verbo elequente dos patriotas Fernan<strong>de</strong>s<br />

Thomaz e outros, nesse tempo <strong>de</strong> dignida<strong>de</strong><br />

e coragem nacional, não se entremette<br />

agora nessa lucta ridícula, que os governantes<br />

preparam para breve, e para o qual<br />

nem ao menos um homem <strong>de</strong> reconhecida<br />

capacida<strong>de</strong> e honra<strong>de</strong>z presta o seu nome<br />

a figurar nas listas, que hão <strong>de</strong> cahir nas<br />

urnas, não das mãos do povo que as sujaria,<br />

mas das mãos dos amigos das instituições,<br />

que nos arruinaram, e dos auxiliares dos senhores<br />

ministros, que nos compromettem o<br />

futuro, e nos <strong>de</strong>sgraçam ao presente.<br />

Decididamente, <strong>de</strong> duas uma: — ou o<br />

povo comprehen<strong>de</strong>u os seus <strong>de</strong>veres, e o seu<br />

silencio é precursor dWia <strong>de</strong>sforra, que nos<br />

rehabilite perante as outras nações, e afiaste<br />

para longe os escuros nevoeiros que parece<br />

quererem envolverem a nossa nacionalida<strong>de</strong> ;<br />

ou então é a cobardia que se apossou dos espíritos,<br />

é a criminosa paz pôdre em que nos<br />

<strong>de</strong>ixamos precipitar, quebrantados por tanto<br />

esforço inútil e esmagados por tantas violências<br />

consecutivas, e vinganças da força contra<br />

o direito.<br />

O governo, que na sua lei eleitoral tantos<br />

rancores mostrou contra os médicos e advogados,<br />

e quiz, para ver se illudia os espíritos,<br />

promover a representação das classes, está-<br />

Ihe soffrendo as consequências.<br />

Nas classes agrícola, commercial e industrial,<br />

que representam as forças vivas e productoras<br />

da nação, e podiam prestar ao governo<br />

o <strong>de</strong>sejado numero <strong>de</strong> <strong>de</strong>putados, que<br />

elle precisa necessariamente fazer eleger para<br />

cumprir o encargo que impru<strong>de</strong>ntemente lançou<br />

sobre os seus <strong>de</strong>slocados hombros, reina<br />

a maior <strong>de</strong>sconfiança contra o governo, que<br />

com as suas estúpidas reformas os prejudicou<br />

nos seus interesses; o odto á politica é<br />

geral, porque a consi<strong>de</strong>ram já o mal <strong>de</strong> que<br />

enfermou o paiz, o primeiro mal a <strong>de</strong>struir,<br />

<strong>de</strong>vendo merecer o <strong>de</strong>sprezo <strong>de</strong> todos quantos<br />

amem a patria e <strong>de</strong>sejem o seu levantamento,<br />

tanto moral, porque é sobre este<br />

ponto <strong>de</strong> vista que ella mais a tem prejudicado,<br />

como sobre o ponto <strong>de</strong> vista economico,<br />

financeiro e administrativo, porque só tem<br />

ella servido para enriquecer muitos que infamemente<br />

a exploraram em seu proveito, sem<br />

que os tribunaes lhes pedissem contas, ou as<br />

ca<strong>de</strong>ias se abrissem para as receber e castigar<br />

como <strong>de</strong>viam.<br />

Dizem os affectos ao governo que o advogado<br />

e o medico não <strong>de</strong>vem largar as suas<br />

profissões para se intrometterem nas pugnas<br />

parlamentares, e figurarem na politica activa.<br />

Confun<strong>de</strong>m advogados com bacharéis, consi<strong>de</strong>ram<br />

a candidatura <strong>de</strong> bacharel como diploma<br />

<strong>de</strong> brilho d família e como satisfação<br />

<strong>de</strong> vaida<strong>de</strong> paternal! I<br />

Talvez que se enganem os governantes<br />

nesta classificação; porque em geral os bacharéis<br />

e outros, que o não são, vêm á camara<br />

menos para dar brilho á família do que<br />

para entrar na politica, mina inexgotavel <strong>de</strong><br />

fama e proventos para a numerosa cohorte<br />

regeneradora, amparada nas graças e predilecção<br />

<strong>de</strong> sua magesta<strong>de</strong> o rei D. Carlos 1.<br />

De commerciantes e industriaes quer o<br />

governo formar a maioria do futuro parlamento;<br />

e, se elle po<strong>de</strong>sse fazer com que a representação<br />

das classes fosse levada a effeito,<br />

teria os nossos louvores, porque é uma das<br />

reformas que os <strong>de</strong>mocratas perfilham.<br />

Que po<strong>de</strong> valer, para representar a nação<br />

meia dúzia <strong>de</strong> sujeitos que se digam commerciantes<br />

ou industriaes, eivados dos mesmos<br />

vicios, e para os quaes o logar <strong>de</strong> <strong>de</strong>putado seja<br />

unicamente a satisfação d'uma vaida<strong>de</strong> balofa<br />

ou garantia d'uma especulação sórdida ?<br />

E' verda<strong>de</strong> que os advogados passam<br />

muitas vezes por palavrosos e sem auctorida<strong>de</strong>,<br />

a não ser na rabulice; mas nós, que<br />

nos interessamos sinceramente pelo bem do<br />

nosso paiz, antes nos queremos com elles do<br />

que com esses commerciantes e industriaes, nomeados<br />

pelo governo <strong>de</strong>putados para lhes fazer<br />

vomitar algumas palavras, no palacio <strong>de</strong><br />

S. Bento, em que sobresahirão por certo pela<br />

subserviente acquiescencia governamental.<br />

Contra os médicos também ha rancor na<br />

reforma; e com razão: parece-nos que o exercido<br />

da profissão medica é prejudicial ao<br />

paiz que elles querem <strong>de</strong>ixar morrer sem auxilio,<br />

dando assim razão áquelle sábio rei que<br />

prohibiu esta profissão humanitaria.<br />

São uns alhos estes <strong>de</strong>fensores do throno<br />

e da corrupção; honra lhes seja, que o porveito<br />

não ha <strong>de</strong> ser gran<strong>de</strong>.<br />

•••<br />

A viagem real<br />

Opinião d'um correspon<strong>de</strong>nte para o El<br />

Liberal: — «O rei <strong>de</strong> Portugal é d'uma solemnida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>corativa. Não di\ nada! Tudo o<br />

que tem a di\er, fa-lo com meneios da cabeça.<br />

Está divertindo — a viagem. O governo<br />

<strong>de</strong>ve estar lisonjeadissimo !...<br />

^ e l o - m r l n i i - o<br />

XXIII<br />

HORROR!<br />

O furor monarchico em Hespanha sacrificou<br />

ha pouco em Cuba quarenta e duas<br />

creanças!<br />

Oito dos adolescentes cairam na esplanada<br />

do Campo <strong>de</strong> la Punta; trinta e quatro<br />

arrastam ainda hoje em S. Lazaro os ferros<br />

<strong>de</strong>gradantes <strong>de</strong> forçados !<br />

Foi-lhes corpo <strong>de</strong> <strong>de</strong>licto o crime <strong>de</strong> <strong>de</strong>molição<br />

do tumulo <strong>de</strong> Castanõn.<br />

Mas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> assassinados os oito estudantes,<br />

e <strong>de</strong> infamados os trinta e quatro no<br />

aviltamento opprobrioso da grilheta, sabe-se<br />

que nem <strong>de</strong> leve foi perturbado o <strong>de</strong>scanço<br />

sepulchral <strong>de</strong> Castanõn, que o tumulo está<br />

intacto, e que dos oito mancebos assassinados<br />

em nome da revoltante arbitrarieda<strong>de</strong><br />

que os con<strong>de</strong>mnou á morte; um dos jovens,<br />

Verdugo, nem se achava na localida<strong>de</strong> em<br />

que se disse ter tido logar a supposta <strong>de</strong>molição,<br />

porque estava em Matanzas.<br />

Hero<strong>de</strong>s foi um monstro, <strong>de</strong>cretando a<br />

<strong>de</strong>golação dos innocentes; mas a monstruosida<strong>de</strong><br />

do seu crime comprehen<strong>de</strong>-se, embora<br />

horrorise, no interesse satanico que elle tinha<br />

em annullar o prophetisado rei dos ju<strong>de</strong>us !<br />

Mas os mo<strong>de</strong>rnos Hero<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Hespanha,<br />

que lucraram, que ganharam, que venceram,<br />

no fuzilamento dos innocentes cubanos, a<br />

quem julgaram e con<strong>de</strong>mnaram atribiliariamente,<br />

por um crime que não haviam commettido<br />

?<br />

Causa horror este cynismo cruel das monarchias,<br />

que espargem o sangue do povo,<br />

só por satisfação do instincto feroz d'essa<br />

raça selvagem, que parece nada ter <strong>de</strong> commum<br />

com a especie humana — os reis!<br />

Morreram oito creanças innocentes, rebentam<br />

<strong>de</strong> fadiga trinta e quatro, sob a acção<br />

pesada dos duros trabalhos dos forçados é o<br />

rei <strong>de</strong> Hespanha dorme <strong>de</strong>scançado no seu<br />

leito <strong>de</strong> rosas, erguido sobre o ataú<strong>de</strong> sinistro<br />

do general D. Juan Prim!<br />

Setenta <strong>de</strong>putados do Congresso hespanhol<br />

pediram já o «indulto» dos trinta e quatro<br />

innocentes; mas a injustiça monarchica<br />

ainda nem ao menos reparou a sua ferocida<strong>de</strong>,<br />

entregando ás familias dos con<strong>de</strong>mnados<br />

os cadaveres dos mortos, e os corpos<br />

quasi muribundos dos que arrastam injustamente<br />

nas galés as grilhetas <strong>de</strong> forçados!<br />

Oh! como as monarchias são oppressoras<br />

e ferozes !<br />

E quando ellas caem sob a acção <strong>de</strong>svairada<br />

do povo vencedor, qudxam-se então da<br />

injustiça popuiar, da cruelda<strong>de</strong> das multidões,<br />

da seivajeria das turbas.<br />

«Chacun á son tour.»<br />

Quem semeia ventos, colhe tempesta<strong>de</strong>s.<br />

Lamentamos todos os excessos populares;<br />

mas lamentamos ainda mais a ferocida<strong>de</strong><br />

dos reis, que assassinando os povos, os provocam<br />

á represalia nos dias em que elles ditam<br />

as leis, e esmagam a seus pés os reis<br />

e os déspotas!


DEFENSOR r>O POVO-1-° ANNO Domingo, 10 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1895 —N.° 56<br />

CARTA DE LISBOA<br />

3i <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> i8g5<br />

Está isto muito falho <strong>de</strong> noticias <strong>de</strong> sensação.<br />

' O que ha, está dito e <strong>de</strong>scripto por varias<br />

fórmas e feitios.<br />

Viajata real e suas consequências, resultado<br />

da brilhante fórma administrativa do<br />

primoroso gabinete Fervilha St C. a .<br />

A scena do Ferreira d'Almeida com o<br />

embarque das forças expediccionarias.<br />

A diplomacia do sr. <strong>de</strong> Soveral e a sua<br />

toilètte aprimorada. ..<br />

A crise <strong>de</strong>bellada, quando tudo vae redobrando<br />

<strong>de</strong> carestia, e as transacções se tornam<br />

difficilimas...<br />

A comedia eleitoral, a mais extraordinaria<br />

<strong>de</strong> que ha memoria nos nossos tempos,..<br />

Uma eleição fim <strong>de</strong> século. ..<br />

Por faltar em século lembrou-me um communicado<br />

ha dias publicado no Século, d'um<br />

maduro, que lamentava que tivesse havido<br />

tanta commiseração para com os vadios que<br />

foram mandados para a Africa por apupar a<br />

padralhada, e não houvesse ao menos duas<br />

palavras <strong>de</strong> elogio aos missionários, que foram<br />

evangelisar os negros.<br />

Lá que o homemsito tem razão, isso tem,<br />

mas que quer?<br />

Esses <strong>de</strong>sgraçados que foram <strong>de</strong>gredados<br />

pelo crime <strong>de</strong> não trabalharem, <strong>de</strong>viam<br />

exigir, que com elles fosse a maioria do clero,<br />

o qual pouco mais faz do que cousa nenhuma.<br />

Aquelles não tinham on<strong>de</strong> se empregar e<br />

estes acham mal empregado o tempo, que se<br />

consome com o trabalho.<br />

Se uns são gatunos d'alguma carteira ou<br />

d'alguma corrente <strong>de</strong> plaquet, uns miseros<br />

prejuízos materiaes; os outros são ladrões da<br />

honra, são uns bandidos que assaltam as famílias<br />

e lhes roubam o que ellas têm <strong>de</strong> mais<br />

caro — a innocencia das creanças, os affagos<br />

e as caricias que ellas lhes dispensam, e finalmente,<br />

o amor filial...<br />

Ladrões perigosos pela sua astúcia, porque<br />

se introduzem sobrepticiamente no seio<br />

das famílias, e lentamente vão lançando o<br />

germem do veneno...<br />

Aquelles pobres diabos lá foram, barra<br />

fóra, colonisar, a Africa, o que causou grave<br />

prejuizo á nossa policia, porque ficou prejudicada<br />

com a falta dos collegas.<br />

Os outros por cá ficaram á solta, com a<br />

protecção do segundo estado, e, pela moda,<br />

teem carta franca para fazerem o que quizerem,<br />

comtanto que os <strong>de</strong>ixem...<br />

Os paes, que se acautellem, dispensando-lhes<br />

os seus serviços espirituaes...<br />

Que seria dos cangalheiros, se lhes acabassem<br />

com a raça ?!. ..<br />

•<br />

As associações <strong>de</strong> soccorros mutuos vão<br />

levar volta.<br />

Imaginem que o Campos Henriques se<br />

lembrou <strong>de</strong> mandar perguntar ás associações<br />

qual era o seu estado financeiro, para d'aqui<br />

fazer uma reforma radical!...<br />

Também pergunta se sabem quando é<br />

que os seus estatutos sairam approvados!,..<br />

Que tal está o da rabeca ?!...<br />

São todos da mesma força.<br />

• • •<br />

ARMANDO VIVALDO.<br />

Prespectiva d'um arranjo<br />

Os jornaes <strong>de</strong> Lisboa <strong>de</strong>nunciam a falta<br />

<strong>de</strong> entrada na respectiva recebedoria, das<br />

quantias em <strong>de</strong>bito á fazenda nacional, pelos<br />

her<strong>de</strong>iros do fallecido sr. D. Fernando,<br />

não obstante haver findado o prazo d'esse<br />

pagamento.<br />

Quem não tem pago direitos d'alfan<strong>de</strong>ga,<br />

dos vestidos e rendas, mobílias e outros artigos<br />

que vêm do extrangeiro, não é extranhavel<br />

que queiram fazer o mesmo, com o pagamento<br />

dos direitos á fazenda nacional.<br />

Com razão se disse no parlamento — Estamos<br />

em crise <strong>de</strong> ladrões!<br />

A revolta da índia<br />

Parece que o relatorio da syndicancia da<br />

revolta da índia prova a connivencia d'officiaes<br />

no movimento. Confirmam assim as<br />

informações que primeiro vieram e foram<br />

<strong>de</strong>smentidas.<br />

Consta também que certo official andou<br />

unido aos nativos contra os europeus. O<br />

mesmo ofíicial tratava mal os soldados.<br />

Em a noite da revolta fechou-se com o<br />

official <strong>de</strong> inspecção na caserna da companhia<br />

e apezar <strong>de</strong> ter 3oo homens fieis, nem sequer<br />

auxiliou o administrador.<br />

Confesso traidor! Que a justiça e a lei<br />

sejam inexoráveis na con<strong>de</strong>mnação <strong>de</strong> crime<br />

{So repugnante, como é o <strong>de</strong> lesa-patria!<br />

Popularida<strong>de</strong> do governo<br />

A viagem d'el-rei se tem acarretado vergonhas<br />

e afírontas ao paiz, tem tornado por<br />

toda a parte, bem conhecido o valor dos<br />

gran<strong>de</strong>s estadistas que o sr. D. Carlos tem á<br />

frente da governação do Estado.<br />

A imprensa estrangeira não se cança, a<br />

proposito da viagem e do conflicto com a<br />

Italia, <strong>de</strong> os <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar, chamando-lhes ineptos,<br />

miseros ministros, ignorantes, <strong>de</strong>sgraçados<br />

conselheiros, <strong>de</strong>sconhecedores do », b,<br />

c da historia, estadistas <strong>de</strong> polichinello, que<br />

fazem do rei um manequim, expondo-o ás<br />

complicadas exigencias das côrtes estrangeiras,<br />

com quem se não tratou, diplomaticamente,<br />

essas visitas.<br />

E para cumulo <strong>de</strong> tudo isto, ainda um<br />

jornal francez, apreciando a situação creada<br />

e mantida por esses energúmenos dictadores,<br />

escreve estas palavras :<br />

«O joven rei <strong>de</strong> Sabóia não teve a <strong>de</strong>sgraça<br />

<strong>de</strong> ser ro<strong>de</strong>ado <strong>de</strong> minitros tão idiotas,<br />

como o <strong>de</strong>sventurado D. Carlos.»<br />

Idiotas! Para quem tem fumaças <strong>de</strong> espertalhões—<br />

é para alargar as ventas, arrebitar<br />

as orelhas, e alçar as mãos — <strong>de</strong> baixo...<br />

Idiotas!..., Idiotas!... E' <strong>de</strong> mais.<br />

Muita gente lh'o tem dito!<br />

Expedição <strong>de</strong> Moçambique<br />

São esperadas por estes dias em Lisboa,<br />

200 praças da expedição <strong>de</strong> Moçambique,<br />

que recolhem á metropole por motivo <strong>de</strong><br />

doenças.<br />

Estamos para vêr o enthusiasmo da recepção,<br />

quando esses valentes chegarem ao<br />

Tejo, a <strong>de</strong>sembarque.<br />

Ninguém se incommodará por certo, a ir<br />

esperal-os nem a saudar os valorosos soldados<br />

e ofíiciaes que vêm luctar pela integrida<strong>de</strong><br />

da patria e sua soberania, nas possessões<br />

portuguezas.<br />

Não terão um viva, nem um brado <strong>de</strong><br />

agra<strong>de</strong>cimento pela vida que arriscaram.<br />

Nem os ministros, nem o povo!<br />

Que não esqueça o <strong>de</strong>sprezo que se <strong>de</strong>u<br />

a uma leva <strong>de</strong> expedicionários que ha mezes<br />

regressaram da Africa, <strong>de</strong>sembarcando em<br />

Lisboa, on<strong>de</strong> não encontraram soccorros,<br />

tendo <strong>de</strong> se arrastar até ao hospital alguns,<br />

e outros irem em trens e em macas que bemfeitores<br />

pagaram.<br />

Ingratos como féras!<br />

•••«<br />

As lamas do Tejo<br />

Hersent, o concessionário das obras do<br />

porto <strong>de</strong> Lisboa e compadre <strong>de</strong> Emygdio<br />

Navarro, não está satisfeito com as exorbitantes<br />

quantias, como a ultima <strong>de</strong> 7:500 contos,<br />

com as quaes o governo lhe encheu as fauces<br />

<strong>de</strong>voradoras.<br />

Dizem que apresentára novas reclamações<br />

<strong>de</strong> in<strong>de</strong>mnisação, mas que o conselho superior<br />

<strong>de</strong> obras publicas e minas <strong>de</strong>satten<strong>de</strong>u<br />

as reclamações da empreza Hersent, por<br />

falta <strong>de</strong> fundamento, sendo <strong>de</strong> parecer que<br />

a mesma empreza é que é <strong>de</strong>vedora ao Estado,<br />

tendo <strong>de</strong> o in<strong>de</strong>mnisar.<br />

Veremos se o governo ce<strong>de</strong>rá á influencia<br />

das muitas amiza<strong>de</strong>s que conta o empreiteiro.<br />

Amigos <strong>de</strong> Hersent! Amigos que ficam<br />

caros ao paiz, e que apparecem ricos e po<strong>de</strong>rosos,<br />

quaes fidalgos nos seus solares.<br />

Bem vos lembraes do caso dos bonds...<br />

Mãos largas<br />

Pois não querem lá ver a generosida<strong>de</strong><br />

com que agora se sae a commissão municipal<br />

<strong>de</strong> Lisboa?<br />

Vae incluir no orçamento uma verba <strong>de</strong>stinada<br />

a um premio para o concurso <strong>de</strong> tiro<br />

civil!...<br />

Teem observado a patifaria do cachorro<br />

á Subscripção Nacional!?<br />

Pois consi<strong>de</strong>rem-se caloteados — os do<br />

tiro civil.<br />

••-«<br />

A cura da tysica<br />

Foi inaugurado em Roma o sexto congresso<br />

<strong>de</strong> medicina.<br />

Des<strong>de</strong> o principio do congresso que se<br />

sustentou uma acalorada discussão sobre a<br />

sorotherapia.<br />

Maragliano <strong>de</strong>senvolveu as leis da applicação<br />

da sorotherapia ao homem, indicando<br />

os resultados que tem obtido pelo seu methodo<br />

na cura da tuberculose.<br />

Indicou também em <strong>de</strong>talhe as matérias<br />

empregadas para vaccinar os animaes e os<br />

resultados que diversos médicos da Italia e<br />

dos outros paizes, obtiveram já sobre ug<br />

doentes. Alguns <strong>de</strong>sses doentes curados foram<br />

apresentados ao congresso. '<br />

O novo car<strong>de</strong>al<br />

Jacobini, o núncio apostolico em Lisboa,<br />

sempre abicha as esporas da victoria — recebendo<br />

em <strong>de</strong>zembro proximo, as honras <strong>de</strong><br />

car<strong>de</strong>al. — Caspité!<br />

E' o premio <strong>de</strong> consolação a quem teve<br />

manhas e artes <strong>de</strong> conseguir evitar que D.<br />

Carlos fosse a Roma.<br />

Quem mostrou gran<strong>de</strong>s recursos <strong>de</strong> estadista,<br />

foi o <strong>de</strong> Soveral, vê-se que é homem<br />

<strong>de</strong> primeira, para a arteirice — não se <strong>de</strong>ixa<br />

ir. — Tem <strong>de</strong>do para o mexerico diplomático.<br />

E a julgarem que o macaco a%ul só era<br />

eximio na pirueta! Entre cruzes e agua benta<br />

se viu o núncio Jacobini.<br />

Ia per<strong>de</strong>ndo o chapéu cardinalício que representa,<br />

no caso, as botas da gorjeta!<br />

Exercito <strong>de</strong> reformados<br />

Aquelle Festas Pinto foi um raio que<br />

caiu do ministério da guerra. A reforma dos<br />

ofíiciaes superiores foi uma re<strong>de</strong> varredoura<br />

nos cofres públicos. Dentro em poucos annos<br />

temos dois exercitos um dos reformados<br />

e outro dos effectivos.<br />

Diz-se que durante o anno ainda serão<br />

reformados, por attingirem o limite da eda<strong>de</strong>:<br />

g tenentes-coroneis, 5 majores e 2 capitães.<br />

E 1 uma insaciavel sanguesuga, que o paiz<br />

tem a sugar-lhe toda a seiva — a bolsa, fazenda<br />

e os filhos.<br />

E não ha soldados!<br />

Galopinagem tonsurai<br />

bentos padres da Felgueira, reuniram,<br />

não para curar das almas, mas para cavarem<br />

na vinha da politica e disporem os trabalhos<br />

<strong>de</strong> galopinagem, para as próximas<br />

eleições.<br />

Òs reaccionários — partido catholico —<br />

trabalham para a conquista das suas candidaturas,<br />

e servem-se do clero para a galopinagem<br />

nas freguezias ruraes.<br />

E assim se ganha o céo — dos lobos.<br />

K<br />

>•<<br />

Protecção aos operários<br />

O <strong>de</strong>putado Coutaut, disse ha dias no<br />

parlamento francez, que a Republica tinha<br />

o imperioso <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> dar protecção aos operários,<br />

procurando collocação aos sem trabalho.<br />

Obrigar todo o patrão <strong>de</strong> qualquer officina<br />

importante, que queira interromper o<br />

trabalho, a <strong>de</strong>clara-lo em uma participação á<br />

auctorida<strong>de</strong> administrativa, com a antece<strong>de</strong>ncia<br />

<strong>de</strong> 34 horas; <strong>de</strong>vendo a auctorida<strong>de</strong>, em<br />

taes casos, tomar as provi<strong>de</strong>ncias necessarias<br />

para que recomece o trabalho o mais breve<br />

possivel.<br />

Coutaut apresentou uma proposta neste<br />

sentido.<br />

Não ha confrontos possíveis com o parlamento<br />

portuguez, on<strong>de</strong> as suas questões<br />

são meramente politiqueiras, <strong>de</strong> exclusivo interesse<br />

dos bandos.<br />

Nada se lhe compara!<br />

O tratamento do cancro<br />

Na ultima sessão da Aca<strong>de</strong>mia das Sciencias,<br />

<strong>de</strong> Paris, o dr. Marey expôz as gran<strong>de</strong>s<br />

linhas d'uma nota dos drs. Hericourt e<br />

Richet, ácerca dos últimos resultados obtidos<br />

pelo methodo serotherapico, no tratamento<br />

do cancro.<br />

Sobresae d'esse trabalho que o methodo<br />

<strong>de</strong>u até aqui resultados apreciaveis. Na maior<br />

parte dos casos o tumor ce<strong>de</strong>u e tomou um<br />

melhor aspecto<br />

E' <strong>de</strong> notar — e para isso chamamos a<br />

attenção dos nossos leitores — que os drs.<br />

Hericourt e Richet não mencionam nenhuma<br />

cura: contentam-se em registrar e assignalar<br />

as melhoras que obtiveram pelo methodo<br />

serotherapico, cujos felizes resultados constituem<br />

o que se chama uma étape scientifica.<br />

••


DEFENSOR J>O Povo<br />

vivas ás promotoras do pic-nic as ex. mas<br />

sr. as D. Marianna Cymbron e D. Maria Ruas,<br />

que foram verda<strong>de</strong>iramente incasaveis em<br />

tornar agradavel e até encantadora aquella<br />

diversão. Não pu<strong>de</strong>mos também <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong><br />

especiaiisar o sr. Brito, um rapaz, que bem<br />

mostra ser da Beira, d'essa região em que a<br />

franqueza personifica a indole dos seus habitantes;<br />

foi elle que contribuiu para se fazer<br />

um magusto, e também lhe coube o pesado<br />

encargo <strong>de</strong> ornamentar, junctamente com o<br />

sr. Baptista e Montanha, a casa da quinta<br />

auxiliados por algumas gentis senhoras.<br />

A's cinco horas da tar<strong>de</strong> foi servido um<br />

fino e abundantíssimo lunch em uma vasta<br />

sala expressa e elegantemente adornada com<br />

arbustos e flores.<br />

O baile, que em seguida principiou, correu<br />

animadíssimo, dançando mais <strong>de</strong> vinte<br />

pares, sendo ás nove horas <strong>de</strong>licadamente servido<br />

o chá.<br />

Seria impossível dar uma nota exacta das<br />

senhoras e cavalheiros que concorreram a<br />

esta intima festa, a qual a todos ha <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar<br />

sauda<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> que em breve se repita.<br />

Entre outras, lembra-nos <strong>de</strong> ter visto as<br />

ex. mas familias dos srs. drs. Sousa Refoios,<br />

Emygdio Garcia, Cymbron, dr. Pessoa, dr.<br />

Raymundo da Motta, dr. Julio Teixeira, e<br />

as sr. as D. Maria Ruas e filha, D. Thereza<br />

Albano e filhas, D. Rosa Bobella, e os srs.<br />

Pedro Diniz, Brito, Alberto Moraes, Oliveira<br />

Monteiro, Ricardo Jardim, Jacintho Machado,<br />

Mourão, Il<strong>de</strong>fonso Silva, Caggigal, Pinheiro,<br />

etc., etc.; e muitas outras senhoras e<br />

cavalheiros <strong>de</strong> cujos nomes nos é impossível<br />

recordar na presente occasião.<br />

Finalmente foi uma festa agradabiilissima,<br />

cheia <strong>de</strong> alegria e <strong>de</strong> mocida<strong>de</strong>.<br />

Os nossos parabéns e o nosso profundo<br />

reconhecimento ás promotoras e promotores<br />

da sympathica festa, na qual reinou sempre<br />

a maior animação, sincera e expansiva alegria.<br />

i-^i<br />

Concerto vocal e instru.iiieii.tal<br />

E' na próxima quarta feira, que se realisa<br />

no theatro Pincipe Real, o sarau-concerto<br />

vocal e instrumental organisado pelo tenor<br />

Joaquim Tavares, que tem a coadjuva-lo artistas<br />

e amadores muito distinctos.<br />

Ha neste concerto <strong>de</strong> canto:<br />

Joaquim Tavares, tenor portuguez, a<br />

quem a imprensa <strong>de</strong> Lisboa e Porto dirigiu<br />

rasgados elogios ao cantor e ao artista, quando<br />

alli organisou alguns concertos. Tem a<br />

escóla <strong>de</strong> Milão e é muito consi<strong>de</strong>rado nos<br />

principaes theatros italianos, para on<strong>de</strong> tem<br />

obtido escriptura, merecendo applausos da<br />

imprensa <strong>de</strong> Italia.<br />

Elvira Brambilla, é uma cantora eximia,<br />

uma artista distincta, colhendo na sua<br />

carreira artística, os melhores loiros, a engrinaldarem-lhe<br />

o seu talento. Ace<strong>de</strong>u a tomar<br />

parte no sarau.<br />

Fe<strong>de</strong>rica Fassini, é uma agradavel menina,<br />

amadora, portugueza e filha <strong>de</strong> paes italianos,<br />

que a tiveram a educar em Milão,<br />

possuindo uma bella voz.<br />

Também um grupo <strong>de</strong> artistas-professores<br />

e artistas amadores d'esta cida<strong>de</strong> executam<br />

dois sextetos, em obsequio ao organísador<br />

do sarau, sr. Joaquim Tavares, que está<br />

muito congratulado por ver coliaborando na<br />

sua festa tanta individualida<strong>de</strong> artística, em<br />

evi<strong>de</strong>ncia, que por sem duvida hão <strong>de</strong> attrahir<br />

ao theatro gran<strong>de</strong> concorrência.<br />

O programma é variadíssimo e escolhido.<br />

Estão á venda os bilhetes nos logares do<br />

costume e na alta.<br />

Folhetim—«Defensor do Povo»<br />

0 CORSÁRIO PORTUGUEZ<br />

ROMANCE MARÍTIMO<br />

ORIGINAL DE<br />

CAPITULO VI<br />

A vingança<br />

«Nosso Senhor Jesus Christo morreu<br />

numa cruz para libertar os homens; mas<br />

aquelles que seguem a sua religião, vão buscar<br />

os negros ás suas terras, e em troca do<br />

baptismo dão-lhe a escravidão!... Oh! Isto<br />

é monstruoso, contrario ás leis da moral!<br />

«Eu já não tenho dinheiro para resgatar<br />

escravos, o Senhor bem o sabe, e ainda hoje<br />

chorei por causa duma pobre família!<br />

«Não ha ainda duas horas que dois negros,<br />

marido e mulher, com dois filhinhos,<br />

vieram pedir-me em nome <strong>de</strong> Jesus Christo<br />

que os salvasse, porque o seu senhor os tinha<br />

vendido, e que em oito dias partiam<br />

para o Maranhão.<br />

L.° ANNO<br />

Notas <strong>de</strong> carteira<br />

Ao sr. Antonio Joaquim Simoes David,<br />

digno escrivão e tabellião do juizo <strong>de</strong> direito<br />

da comarca <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, foram concedidos<br />

3o dias <strong>de</strong> licença.<br />

Que os gose sem incommodos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

é o nosso <strong>de</strong>sejo.<br />

•<br />

De regresso a esta cida<strong>de</strong>, o bom amigo,<br />

sr. Domingos Cardoso, com sua extremosa<br />

esposa, seu pae e família. Que os banhos da Figueira<br />

e o <strong>de</strong>scanço das fadigas do trabalho<br />

<strong>de</strong> todo um anno venham bem retemperadas<br />

para o continuo labutar.<br />

Caminho <strong>de</strong> ferro d'Arganil<br />

Foi prorogado por uma portaria, até 3i<br />

<strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1896, o prazo para a conclusão<br />

do ramal do caminho <strong>de</strong> ferro <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

a Arganil.<br />

Peor que as obras <strong>de</strong> Mafra.<br />

Concursos<br />

Foi <strong>de</strong>liberado e é ponto assente que não<br />

serão eífectuados, antes do Natal, os concursos<br />

para o preenchimento das ca<strong>de</strong>iras vagas<br />

na faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito da nossa <strong>Universida<strong>de</strong></strong>.<br />

O Ilhéo — gatnno<br />

Foi preso na sexta feira <strong>de</strong> manhã, nesta<br />

cida<strong>de</strong>, por um telegramma do commissario<br />

<strong>de</strong> policia do Porto, o celeberrimo gatuno,<br />

José Raymundo, o llhéo.<br />

E' um heroe na gatunice e dá sempre serviço<br />

á policia, <strong>de</strong> quem elle foge, como o<br />

diabo da cruz.<br />

Nomeações<br />

Foram nomeados contínuos, os srs. Augusto<br />

Diniz <strong>de</strong> Carvalho, para os geraes da<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong>, e Alvaro Julio Marques Perdigão,<br />

para a secretaria.<br />

A GRANEL<br />

Ainda esta semana será aberto concurso para o<br />

preenchimento <strong>de</strong> todas as vagas <strong>de</strong> professores d'ambos<br />

os sexos e para mais cem ca<strong>de</strong>iras que vão ser<br />

creadas. Dizem que serão mais <strong>de</strong> 150 os contemplados.<br />

•<br />

O rei D. Carlos é recebido na Prússia oíBcialmente<br />

como rei <strong>de</strong> Portugal.<br />

Sua Magesta<strong>de</strong> abandona o incognito <strong>de</strong> con<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Barcellos.<br />

Nestas circumstancias a sua visita tem <strong>de</strong> ser <strong>de</strong><br />

curta duração.<br />

•<br />

A commissão da Subscripão Nacional resolveu por<br />

unanimida<strong>de</strong>, entregar as canhoneiras ao ministro da<br />

marinha, assistindo a esse acto a <strong>de</strong>legação da commissão<br />

executiva, lavrando-se auto <strong>de</strong> entrega. A<br />

gran<strong>de</strong> solemnida<strong>de</strong> é reservada á entrega do cruzador.<br />

•<br />

Ainda não <strong>de</strong>ram entrada na respectiva recebedoria<br />

as quantias <strong>de</strong>vidas á fazenda nacional pelos her<strong>de</strong>iros<br />

do fallecido sr. D. Fernando, não obstante o praso para<br />

esse pagamento já ter findo ou estar proximo a findar.<br />

Os pobres, coitados, choravam lagrimas<br />

<strong>de</strong> sangue, e eu chorei com elles; como não<br />

tinha dinheiro, corri a casa do proprietário e<br />

comprei-lh'os, mediante uma letra que se<br />

vence em oito dias! Os <strong>de</strong>sgraçados estão<br />

livres, e Deus me dará os meios para pagar<br />

uma divida tão santa.<br />

Manuel José Fernan<strong>de</strong>s, oa ouvir estas<br />

palavras do virtuoso prelado, sentiu o coração<br />

oppresso, e duas lagrimas lhe rolaram<br />

pelas faces. Verda<strong>de</strong> é que elle tinha também<br />

muitos escravos, mas pela maneira por<br />

que os tratava e alimentava, era adorado por<br />

elles, que o consi<strong>de</strong>ravam como pae. E<br />

quando visitava alguma das suas plantações,<br />

vinham-no esperar ao caminho e apresentavam-lhe<br />

os filhos, porque <strong>de</strong> todos era padrinho.<br />

— Senhor bispo, as virtu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vossa excellencia<br />

reverendíssima são reconhecidas, e<br />

oxalá que todos lhe seguissem o exemplo.<br />

Agora vou pedir a vossa reverendíssima protecção,<br />

não para escravos, para uma familia<br />

po<strong>de</strong>rosa.<br />

Em seguida contou-lhe quanto se tinha<br />

passado entre D. Carlota e D. Francisco,<br />

acrescentando que mais uma traição se premeditava,<br />

e que era necessário prevenil-a.<br />

O bispo respon<strong>de</strong>u-lhe:<br />

— Meu caro amigo, eu já adivinhava isso<br />

mesmo! Sei que o <strong>de</strong>sditoso Carlos foi vi-<br />

•<br />

A policia <strong>de</strong> Lisboa anda em investigações que dizem<br />

respeito ao caso das notas falsas, <strong>de</strong>*scobertas ha<br />

tempo na Covilhã.<br />

•<br />

O governo hespanhol vae agraciar com o Tosão<br />

d'Oiro o presi<strong>de</strong>nte da Republica Franceza, mr. Felix<br />

Faure.<br />

•<br />

Vae respon<strong>de</strong>r em conselho <strong>de</strong> guerra o alferes<br />

Lemos, do corpo <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, que faltou ao embarque<br />

para Moçambique.<br />

•<br />

No julgamento do processo em Berlim, contra o<br />

jornal socialista Vorivaerts, Dierl foi con<strong>de</strong>mnado a<br />

seis mezes <strong>de</strong> prisão, Peunat a nove mezes e Randmahu<br />

a um anno<br />

ESMOLA<br />

Pedimos com instancia uma esmola para<br />

uma pobre familia, privada <strong>de</strong> lodos os recursos<br />

e a braços com uma triste sorte.<br />

Rem merecido é qualquer auxilio que<br />

se lhe conceda.<br />

N'esla redacção se recebe qualquer donativo.<br />

Transporte 800<br />

L. T 200<br />

X 500<br />

Somma 1$500<br />

Livros e jornaes<br />

Os albergues nocturnos <strong>de</strong> Lisbo —Associação<br />

<strong>de</strong> que é presi<strong>de</strong>nte S. M. el-rei o Sr.<br />

V. Carlos I — X — Typ. Barata & Sanches<br />

Lisboa, 1895.<br />

E' um succinto e bem <strong>de</strong>senvolvido relotorio<br />

dos annos <strong>de</strong> 1893 e 1894, on<strong>de</strong> estão traçados<br />

os serviços benemeritos que tão santa casa prestou<br />

aos <strong>de</strong>sabrigados nacionaes e extrangeiros,<br />

nestes dois annos.<br />

Na extensa exposição que a direcção faz a sua<br />

Albergados, nos dois annos:<br />

Portuguezes 4:078<br />

Extrangeiros 616<br />

~4769iT<br />

que se acolheram ao albergue; aos quaes se <strong>de</strong>u<br />

o subsequente numero <strong>de</strong><br />

Agasalhados, 110 mesmo período d'annos:<br />

Portuguezes 25:622<br />

Extrangeiros 2:420<br />

28:042<br />

sendo soccorrido com as seguintes refeições:<br />

Ceias nesses annos:<br />

Em 1893 9:656<br />

Em 1894 11:<strong>54</strong>8<br />

21:204<br />

Dos pobres que o albergue recolheu, 2:977<br />

não sabiam ler. Em 1893 — portuguezes, 1:353;<br />

extrangeiros, 82. Em 1894—portuguezes, í:444;<br />

extrangeiros, 98.<br />

ctima d'uma vingança <strong>de</strong> D. Francisco, que<br />

infelizmente está ligado com frei Rozendo,<br />

que pô<strong>de</strong> tudo na corte pelo confessor <strong>de</strong> sua<br />

magesta<strong>de</strong>, <strong>de</strong> quem é intimo amigo. Não<br />

me fio do governador geral. E' tão bom<br />

como elles !<br />

«Ah! Se ainda fosse governador o marquez<br />

<strong>de</strong> Santo Antonio, então sim, podia eu<br />

tudo, porque nelle teríamos apoio, como sempre<br />

encontrou a justiça e a boa moral; mas<br />

o actual é da intima confiança <strong>de</strong> D. Francisco<br />

<strong>de</strong> Sarmento.<br />

— Mas, senhor, nada se po<strong>de</strong>rá fazer?<br />

— Veremos; <strong>de</strong>ixe-me pensar neste nego-<br />

cio, e conte commigo.<br />

«Em oito dias parte um amigo meu para<br />

Portugal, e mando por elle uma carta ao<br />

marquez, que também pô<strong>de</strong> muito na côrte;<br />

o senhor conhece-o muito bem pelo nome,<br />

pois foi um dos governadores que mais serviços<br />

prestou ao commercio e á agricultura<br />

do Brazil; o seu governo é <strong>de</strong> grata recordação<br />

nesta terra.<br />

Manuel José Fernan<strong>de</strong>s, mais animado,<br />

<strong>de</strong>spediu-se do bispo e retirou-se; no dia seguinte<br />

recebia o santo prelado a seguinte<br />

carta:<br />

«Excellentissimo e reverendíssimo senhor:<br />

— Inclusa achará uma letra <strong>de</strong> vossa reverendíssima,<br />

sacada sobre a casa Cruz & C. a<br />

E' a importancia por que rasgatou a familia<br />

Domingo, 3 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1895—N.° <strong>54</strong><br />

Por esta pequena resenha elucidativa, pô<strong>de</strong><br />

bem avaliar-se quanto é <strong>de</strong> humanitaria a instiluição,<br />

que tão bem cumpre os preceitos do Evangelho—<br />

consolae os tristes que tão bem exerce a<br />

carida<strong>de</strong> — dae aos pobresinhos!<br />

Firma o relatorio que é um primor <strong>de</strong> <strong>de</strong>scripção<br />

e um trabalho <strong>de</strong> mericimento, um grupo <strong>de</strong><br />

benemeritos, generosas almas que espalham o bem a<br />

tantas mil pessoas párias sem abrigo, míseros sem<br />

lareira.<br />

Como relator <strong>de</strong>parou-se-nos o nome benemerito<br />

do sr. con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Valenças, que nos dá burilada<br />

plirase ao <strong>de</strong>screver-nos a miséria que alli se<br />

conforta, no aconchego do leito, no alimento do<br />

corpo, moralisando-se pela «obra perseverante e<br />

continuada do bem que alli se exerce».<br />

E terminamos fechando com o importante summario<br />

do relatorio:<br />

1.° — Prosperida<strong>de</strong> da Associação dos Albergues<br />

Nocturnos. Sua gerencia economica nos annos<br />

<strong>de</strong> 1893 e 1894. Receita e <strong>de</strong>speza da Associação;<br />

<strong>de</strong> que modo se distribuíram os rendimentos<br />

do Albergue:<br />

a) levou a capital — 9:687$180 réis;<br />

b) a 4:694 pobres <strong>de</strong>u 28:042 agasalhos e<br />

21:204 ceias;<br />

c) construiu dois novos andares no asylo nocturno;<br />

e nestes a sala <strong>de</strong> espera dos albergados;<br />

um gran<strong>de</strong> tanque para banhos e para escaldar<br />

as roupas dos pobres; unia estufa para as seccar;<br />

dois novos dormitorios para mulheres.<br />

2." — De que modo prestou outros serviços<br />

aos forasteiros pobres, e quaes os que fez á cida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Lisboa <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1881.<br />

3.° — Kellexões: — Albergados que não sabiam<br />

ler. A escóla da Associação. Sua policia<br />

disciplinar. A nossa carida<strong>de</strong>; hospedagem fraterna.<br />

Os mais <strong>de</strong>sgraçados pe<strong>de</strong>m maior compaixão.<br />

De como nossa religião tem sido a pratica<br />

do bem. A benelicencia em Lisboa. As senhoras<br />

portuguezas, e sua mo<strong>de</strong>sta e sublime<br />

carida<strong>de</strong> christã, sua incunsavel <strong>de</strong>dicação pelos<br />

pobres.<br />

4.° — Parecer da commissão revisora <strong>de</strong> contas.<br />

5.° — Mappas e documentos do relatorio <strong>de</strong><br />

1893 e 1894.<br />

Bem attesta o que ahi íica a <strong>de</strong>dicação sincera<br />

e assuida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sinteressada, que se nota em<br />

tanto trabalho e em tanta benemerencia, pelo pro-<br />

Novos sellos<br />

magesta<strong>de</strong>, e nos numerosos documentos que o ximo, que a má sorte arrastou á miséria.<br />

Começaram hontem a ven<strong>de</strong>r-se na esta- acompanliíim, já bem se avalia quantas mil almas Santa instituição<br />

ção telegrapho-postal, a nova emissão <strong>de</strong> sel- soffriam as privações do inverno, quantos <strong>de</strong>sgra- Penhor <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cimento a s. ex.<br />

los que fora annunciada.<br />

çados seriam viclima da sua miséria.<br />

Os antigos ainda são validos até fins <strong>de</strong> Daremos uma leve resenha dos mappas do mo-<br />

abril do proximo anno.<br />

vimento, correspon<strong>de</strong>ntes aos annos <strong>de</strong> 1893 e<br />

1894.<br />

a , pela amavel<br />

offerta.<br />

Julgamento da «Yangiiarda»<br />

Con<strong>de</strong>mnados<br />

Appellação da setença<br />

Terminou a audiência <strong>de</strong>pois dos <strong>de</strong>bates<br />

dos advogados: accusação, dr. Lopes Vieira,<br />

<strong>de</strong>feza, dr. João <strong>de</strong> Menezes, que fallaram<br />

duas vezes, terminando ás 3 horas e meia da<br />

tar<strong>de</strong>.<br />

A <strong>de</strong>feza do dr. João <strong>de</strong> Menezes foi brilhantíssima.<br />

Freneticamente abraçado pelos<br />

seus admiradores.<br />

Foi lida a sentença que con<strong>de</strong>mna Faustino<br />

da Fonseca, director da Vanguarda e o<br />

seu editor, Illydio Anali<strong>de</strong> da Costa, em tres<br />

mezes <strong>de</strong> prisão, em 5o$ooo réis <strong>de</strong> multa<br />

cada um d elles e nas custas e sellos do processo.<br />

Appellaram da <strong>de</strong>cisão dos tribunaes, prestando<br />

fiança e ficando em liberda<strong>de</strong>.<br />

O tribunal esteve sempre repleto <strong>de</strong> espectadores.<br />

escrava, e como sei que os seus recursos estão<br />

exhaustos, por serem o patrimonio dos<br />

pobres, remetto mais uma or<strong>de</strong>m para rece-<br />

ber da mesma casa dois contos <strong>de</strong> réis. Rogue<br />

por mim a Deus vossa reverendíssima,<br />

e creia-me seu amigo muito affeiçoado. —<br />

Manuel José Fernan<strong>de</strong>s.d<br />

O bispo exultou <strong>de</strong> alegria, e nesse mesmo<br />

dia gastou parte da quantia recebida,<br />

distribuindo-a pelos necessitados.<br />

Emquanto se passavam estes factos, em<br />

que as virtu<strong>de</strong>s pollulam; em casa <strong>de</strong> frei<br />

Rozendo outros tinham logar em condições<br />

tão oppostas, que repugnam.<br />

D. Francisco saiu furioso com as respostas<br />

<strong>de</strong> D. Carlota e foi procurar o fra<strong>de</strong>, que<br />

já tinha modificado as suas opiniões; e se em<br />

Portugal queria fazer santos e santas, no<br />

Brazil fazia escravos!<br />

Em nome, não sabemos <strong>de</strong> que missão<br />

evangelica, auferia importantes lucros; comprava<br />

proprieda<strong>de</strong>s e possuía um gran<strong>de</strong> numero<br />

<strong>de</strong> negros, que tratava peior, <strong>de</strong> que o<br />

Salvador tratou no templo os vendilhões.<br />

Frei Rozendo já não rezava hypocritamente,<br />

fazia usuras, e em vez <strong>de</strong> prometter<br />

o reino do céu aos incautos, dava o inferno<br />

aos pobres escravos, applicando-lhes o chicote<br />

com fervor evangelico!<br />

(Continua]*


DEFENSOR r>O POVO-1-° ANNO<br />

R E C L A M E S E A N N U N C I O S<br />

ESTABELECIMENTO<br />

DE<br />

TINTAS t km DE FOGO<br />

DE<br />

JOÃO GOMES MOREIRA<br />

C O I M B R A<br />

5o * RUA DE FERREIRA BORGES * 5a<br />

(EM FRENTE DO ANCO D J ALMEDINA I<br />

ConnofionP nono ennplnncrnae • Gran<strong>de</strong> sortido que ven<strong>de</strong> por prererragens<br />

para consirucçoes. ços eguaes aos <strong>de</strong> Lisboa e Porto.<br />

Pnonononc ^ err0 e arame P r i rae ' ra qualida<strong>de</strong> com gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>scontos,<br />

rregdyeilò. —Aviso aos proprietários e mestres dobras.<br />

Cutilaría • ^ ut '' ar ' a nac ' ona ' e estrangeira dos melhores auclores. Espe-<br />

8»-Largo do Príncipe D. Carlos —31<br />

Massa fallida <strong>de</strong> José Antão<br />

DA<br />

GESTOSA FUNDEIRA<br />

ARREMATAÇÃO<br />

1.° ANNUNCIO<br />

37 No dia i.° do proximo mez <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>zembro, por 11 horas da<br />

manhã, á porta do tribunal judicial<br />

d'esta cida<strong>de</strong>, pelo processo <strong>de</strong> fallencia<br />

que corre pelo cartorio do<br />

escrivão do tribunal do commercio<br />

d'esta cida<strong>de</strong>, José Lourenço da Costa,<br />

hão <strong>de</strong> ser vendidos a quem maior<br />

lanço offerecer sobre os valores respectivos,<br />

os bens pertencentes ao<br />

fallido José Antão, negociante que<br />

foi na Gestosa Fun<strong>de</strong>ira, freguezia<br />

<strong>de</strong> Castanheira <strong>de</strong> Pera, comarca <strong>de</strong><br />

Figueiró dos Vinhos, os quaes bens<br />

são os seguintes:<br />

partes d'uma casa <strong>de</strong> fiação e cardagem,<br />

com pisão, e castanheiros,<br />

no sitio das Sarnadas, no valor <strong>de</strong><br />

2:095^000 réis.<br />

São citados quaesquer credores<br />

incertos.<br />

Verifiquei a exactidão.<br />

SCO DAS<br />

Neves e Castro.<br />

Justino Antunes Barreira,<br />

participa aos seus numerosos freguezes<br />

que do dia 1.° <strong>de</strong> novembro do corrente<br />

anno em diante ven<strong>de</strong> as carnes nos seus<br />

talhos da praça <strong>de</strong> D. Pedro v, com os<br />

n. 0! 15, 17 e 22, pelos preços abaixo<br />

mencionados.<br />

Lombo, pujadouro e alcatra sem<br />

osso 420<br />

Qualquer peça da perna com osso 300<br />

Assem da flor e pá 280<br />

Assem magro, abas e peito grosso 260<br />

Costellas, prego <strong>de</strong>lgado, cachaço<br />

e carne innervada<br />

VITELLA.<br />

Domingo, 10 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1895 —N.° 56<br />

AOS PBOTOB3APBOS<br />

Productos chimicos, chapas allemãs,<br />

cartões em differentes generos, prensas,<br />

etc., etc.<br />

Preços <strong>de</strong> Lishoa.<br />

DROGARIA DE JOSÉ FIGUEIREDO & C. a<br />

Mon?arroio 25 a 33 —COIMBRA<br />

COMPANHIA DE SEGUROS<br />

F I D E L I D A D E<br />

FUNDADA EM Í83S<br />

SÉDE EM LISBOA<br />

Capital réis 1.344:000$000<br />

Fundo <strong>de</strong> reserva 203:000^000<br />

cialida<strong>de</strong> em cutilaria Rodgers.<br />

- .<br />

Faqu cirOo i<br />

Crystofle, metal branco, cabo d'ebano e marfim, completo<br />

sortido em faqueiros e outros artigos <strong>de</strong> Guimarães.<br />

I nnrae irmla7nc rio for>nn • ^ snia ' ta LOUÇúb lliyicZdo, Qc Icrl O.<br />

daeestanhada, ferroAgale, serviço<br />

completo para mesa, lavatório e cozinha.<br />

pi i Inglez e Cabo Mon<strong>de</strong>go, as melhores qualida<strong>de</strong>s que se emullllcllluò.<br />

pregam em construcções hydraulicas.<br />

Pai HwHrnnlira • bran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito da Companhia Cabo Mon<strong>de</strong>go. —Aviso<br />

Udl íiyUldUIILd. aos proprietários e mestres d'obras.<br />

Tintas nana nintnnac* ^' va ' a ^ es . óleos, agua-raz, crés, gesso, vernizes,<br />

• 111Lao para pHilUído. e muitas outras tintas e artigos para pintores.<br />

Armas Ho fnnn* Carabinas <strong>de</strong> repetição <strong>de</strong> 12 e 15 tiros, revolvers<br />

Hl Ilido UB IUyU. espingardas para caça, os melhores systemas.<br />

r»: , Ban<strong>de</strong>jas, oleados, papel para forrar casas, moinhos e torradores<br />

UIVclouo. para café) machinas para moer carne, balanças <strong>de</strong> todos os<br />

systemas. — Re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> arame, zinco e chumbo em folha, ferro zincado,<br />

arame <strong>de</strong> todas as qualida<strong>de</strong>s.<br />

Flpptririrlarlp p nntira A s encia da casa Ramos & Silva - <strong>de</strong> Lisl)oa Esta companhia, a mais po<strong>de</strong>rosa<br />

<strong>de</strong> Portugal, toma seguros con-<br />

Bens na freguezia <strong>de</strong> Castanheira<br />

<strong>de</strong> Pera.<br />

tra o risco <strong>de</strong> fogo ou raio, sobre prédios,<br />

mobílias ou estabelecimentos, assim<br />

como seguros marítimos. Agente em<br />

Uma terra <strong>de</strong> semeadura com<br />

vi<strong>de</strong>iras, oliveiras, castanheiros, pi-<br />

<strong>Coimbra</strong> —Basilio Augusto Xavier <strong>de</strong><br />

Andra<strong>de</strong>, rua Martins <strong>de</strong> Carvalho, n.°<br />

nhal e mato, atravessada pela estrada,<br />

<strong>45</strong>, ou na do Viscon<strong>de</strong> da Luz, n.° 86.<br />

com duas casas, uma para palheiro, Perna, qualquer membro, pá e<br />

e outra para eira, chamada o Nateiro, costelletas 320<br />

no valor <strong>de</strong> i:ooo$ooo réis. = Uma Peito e cachaço 280 Aos píiotographos amadores<br />

terra <strong>de</strong> semeadura com oliveiras,<br />

<strong>Coimbra</strong>, 29 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895.<br />

pinhal e arvores, atravessada pela<br />

Ven<strong>de</strong>-se muito em conta, uma obje-<br />

estrada, no sitio dos Escorreguinhos,<br />

Justino Antunes Barreira. ctiva <strong>de</strong> Dellmeyer, rapida, rectilínea,<br />

no valor <strong>de</strong> 200$000 réis. = Uma<br />

por 13X18.<br />

terra <strong>de</strong> semeadura <strong>de</strong> rega, com<br />

Neves, Irmãos<br />

oliveiras, no sitio da Relva do Fundo,<br />

no valor <strong>de</strong> oitenta mil réis —<br />

Rua Ferreira Borges, 100<br />

8o$ooo. = Uma sorte <strong>de</strong> terra <strong>de</strong> (Antigo Paço do Con<strong>de</strong>)<br />

rega com testada <strong>de</strong> mato, no sitio<br />

STeste bem conhecido hotel, um<br />

da Nogueira, no valor <strong>de</strong> <strong>de</strong>z mil réis<br />

dos mais antigos e bem con- PADARIA LUSITANA<br />

— io$ooo. = Uma terra <strong>de</strong> semeaceituados<br />

<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, continúa o seu<br />

dura com oliveiras, castanheiros e<br />

(SYSTEMA FRANCEZ)<br />

proprietário as boas tradições da casa,<br />

pinheiros, atavessada pela estrada,<br />

OE<br />

><br />

recebendo os seus hospe<strong>de</strong>s com as<br />

no sitio da Tapada do Meio, no valor<br />

LI Cl, li ilriuauc C upilUa constructores <strong>de</strong> pára-raios, campainhas elé-<br />

attenções <strong>de</strong>vidas e proporcionando-lhes DOMINGOS MIRANDA<br />

<strong>de</strong> 200J6000 réis. = Uma terra <strong>de</strong><br />

ctricas, oculos e lunetas e todos os mais apparelhos concernentes. semeadura <strong>de</strong> milho, no sitio da Ta-<br />

todas as commodida<strong>de</strong>s possíveis, a fim<br />

Pastilhas electro-chimicas, a 50 réisl. ,.<br />

pada do Meio, é <strong>de</strong> rega e tem o valor<br />

<strong>de</strong> correspon<strong>de</strong>r sempre ao favor que<br />

Brilhante Belge, a 160 réis j md.spensave.s em todas as casas <strong>de</strong> 5o$ooo. —Vinte e quatro casta-<br />

o publico ihe tem dispensado.<br />

9 PSo fino, o melhor que se enconnheiros<br />

e cinco carvalhos, com seu Fornecem-se para fóra e por preços tra, pelo systema francez,<br />

terreno, no sitio da Pontinha, no valor commodos jantares e outras quaesquer todos os dias, pela manhã e á noite, a<br />

<strong>de</strong> botiooo réis.—Sete castanheiros, refeições.<br />

25 réis cada dois pães.<br />

JOÃO RODRIGUES RRAGA uma carvalha, testada <strong>de</strong> pinheiros<br />

e mato, no sitio da Risca, no valor<br />

SUCCESSOR<br />

<strong>de</strong> 626000 réis = Nove castanheiros<br />

e oito carvalhas, no sitio da Risca,<br />

17, ADRO DE CIMA, 20 — (Atraz <strong>de</strong> S. Bartholomeu) no valor <strong>de</strong> io$ooo réis.=Uma sorte<br />

H<br />

<strong>de</strong> terra <strong>de</strong> milho com agua <strong>de</strong> rega,<br />

com uma parreira e tres larangeiras,<br />

Proprietário—Jorge da Silveira Moraes<br />

2 Armazém <strong>de</strong> fazendas <strong>de</strong> algodão, lã e seda. Yendas por junto e a retalho. no sitio da La<strong>de</strong>ira, no valor <strong>de</strong> réis<br />

Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> pannos crus. — Faz-se <strong>de</strong>sconto nas compras para<br />

3o$ooo, = Uma sorte <strong>de</strong> terra <strong>de</strong><br />

reven<strong>de</strong>r.<br />

mato, com um castanheiro, no sitio<br />

Completo sortido <strong>de</strong> coroas e houquets, fúnebres e <strong>de</strong> gala. Fitas <strong>de</strong><br />

do Torno, no valor <strong>de</strong> 5$ooo réis.<br />

faille, moiré glacé e setim, em todas as cores e larguras. Eças douradas para<br />

= Dois castanheiros e pinheiros, no<br />

adultos e creanças.<br />

sitio do Barreirinho, no valor <strong>de</strong> réis<br />

6$ooo. = Um souto <strong>de</strong> castanheiros<br />

Continua a encarregar-se <strong>de</strong> funeraes completos, armações fúnebres e<br />

e mato, no sitio da Carga da Lage,<br />

irasladações, tanto n'esta cida<strong>de</strong> como fóra.<br />

no valor <strong>de</strong> 4$5oo réis.=Uma sorte<br />

6, PRAÇA 8 DE MAIO, 7 — COIMBRA<br />

COROAS DE PLUMAS-ALTA NOVIDADE<br />

PREÇOS FIXOS<br />

4 Vrmta agencia se toma conta <strong>de</strong> funeraes<br />

completos, tanto na cida<strong>de</strong> como fóra.<br />

NOVO DEPOSITO DAS Mi ica IMS S GC OSTRA<br />

<strong>de</strong> terra <strong>de</strong> rega, no sitio da Varzea,<br />

no valor <strong>de</strong> looftooo réis. Uma<br />

morada <strong>de</strong> casas com loja e um andar,<br />

com cinco teares, no logar da<br />

Tem caixões feitos em todos os tamanhos e<br />

qualida<strong>de</strong>s. Encontra-se em <strong>de</strong>posito gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> coroas <strong>de</strong> plumas, violetas, seda<br />

vidrilhos, bouquets fúnebres e <strong>de</strong> gala, e todaa<br />

Gestosa Fun<strong>de</strong>ira, avaliada a casa em<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> flores soltas, preparos para as<br />

2oo$ooo, e os teares em <strong>45</strong>íí>ooo réis.<br />

mesmas, plantas para salas e flores para chapéus,<br />

= Uma morada <strong>de</strong> casas <strong>de</strong> habita-<br />

vindo tudo directamente <strong>de</strong> Allemanha, Paris e<br />

ESTABELECIMENTO<br />

DE<br />

FAZENDAS BRANCAS<br />

ção, com loja, pateo e um andar, na<br />

Gestosa Fun<strong>de</strong>ira, no valor <strong>de</strong> réis<br />

5oo$ooo. = Um olival atravessado<br />

pela estrada, no sitio do Curral Novo,<br />

no valor <strong>de</strong> 3o$ooo réis.=Um olivaí<br />

com um castanheiro, no sitio do Cur-<br />

mais procedências. Toma conta <strong>de</strong> mausoléus,<br />

signaes funerários, exhumações e trasladações<br />

em qualquer cemiterio.<br />

Publica-se ás quintas feiras e dominqos "Tr~><br />

MANUEL<br />

DE<br />

CARVALHO<br />

ral Novo, no valor <strong>de</strong>, 4o$ooo réis.<br />

==Um souto <strong>de</strong> castanheiros, carvalhos<br />

e pinheiros, no sitio do Valle do<br />

Cachopo, no valor <strong>de</strong> ioo$ooo réis.<br />

U E F E L S T S O B<br />

I D O P O V O<br />

JORNAL REPUBLICANO<br />

29 —Largo do Príncipe D. Carlos —31 = Um pinhal com um castanheiro,<br />

no sitio dos Santinhos, no valor <strong>de</strong><br />

EDITOR — Adolpho da Costa Marques<br />

Encontra o publico o que ha <strong>de</strong> melhor em fazendas brancas e um com- 5$ooo réis —Uma sorte <strong>de</strong> terra <strong>de</strong><br />

pleto sortido das recentes novida<strong>de</strong>s para a estação <strong>de</strong> verão e que esta casa regas, ás Vaccas Louras, no valor <strong>de</strong><br />

ven<strong>de</strong> por preços baratíssimos.<br />

3$5oo réis. = Uma sorte <strong>de</strong> terra Redacção e administração—Largo da Freiria, 14, proximo á rua dos Sapateiros<br />

com um castanheiro, duas carvalhas,<br />

As verda<strong>de</strong>iras machinas <strong>de</strong> costura<br />

pinheiros e mato, no sitio das Vaccas<br />

para costureiras, alfaiates e sapateiros, ven<strong>de</strong>m-se no novo<br />

Louras, no valor <strong>de</strong> io^ooo réis.<br />

<strong>de</strong>posito em condições, sem duvida, mais vantajosas do<br />

=Um souto <strong>de</strong> castanheiros com tes-<br />

que em qualquer outra casa <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, Porto, ou Lisboa, apresentando sempre tada <strong>de</strong> mato, no sitio do Valle do<br />

ao comprador um sortido <strong>de</strong> todos os mo<strong>de</strong>los que a mesma Companhia fabrica. Moinho, no valor <strong>de</strong> i5$ooo réis.<br />

CONDIÇOES DE ASSIGNATURA<br />

(PAGA ADIANTADA)<br />

Com estampilha<br />

Sem estampilha<br />

= Uma sorte <strong>de</strong> terra no sitio do<br />

Tendas a prestações <strong>de</strong> ãOO réis senianaes. A dinheiro,<br />

Anno<br />

Valle do Moinho, no valor <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<br />

eom gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>scontos.<br />

mil réis — io$ooo. = Uma sorte <strong>de</strong> Semestre<br />

2$700<br />

1$350<br />

Anno<br />

Semestre<br />

2$400<br />

10200<br />

terra <strong>de</strong> mato, com vi<strong>de</strong>iras, casta- Trimestre 680 Trimestre<br />

f>00<br />

ENSINO GRÁTIS, no <strong>de</strong>posito ou em casa do comprador.<br />

nheiros, oliveiras e pinheiros, no sitio<br />

Na mesma casa executa-se com a maxima perfeição qualquer concerto em<br />

da Abilheira, no valor <strong>de</strong> 3o$ooo réis.<br />

machinas <strong>de</strong> costura, seja qual fôr o auctor, tendo para isso oílicina montada.<br />

=Uma fabrica com testada <strong>de</strong> mato AWWUSíCJIOSi— Cada linha, 40 réis; repetição, 20 réis; contracto<br />

Ao comprador <strong>de</strong> cada machina será offerecido, como brin<strong>de</strong>, um objecto e pinheiros, com duas cardas, um especial para annuncios permanentes.<br />

<strong>de</strong> valor. Dão-se catalogos illustrados, grátis.<br />

lombo para rasgar lãs, e fiação, no<br />

Ven<strong>de</strong>-se oleo, agulhas, carros d'algodão, torçaes e peças soltas para todas<br />

LI¥ROlS: — Annunciam-se gratuitamente quando se receba um<br />

sitio da Abilheira, no valor <strong>de</strong> tres<br />

as machinas.<br />

exemplar.<br />

contos <strong>de</strong> réis — 3:ooo$ooo.= Cinco<br />

Impresso na Typographia Operaria — <strong>Coimbra</strong>

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