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45-54 - Universidade de Coimbra

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J O e f e i v s o i * D O Poyo-1.' ANNO Quinta feira, 3 do outubro <strong>de</strong> 1895 -N.° <strong>45</strong><br />

Sciencías, lettras e artes<br />

A S D U A S IRMÃS<br />

C O N T O<br />

Traducção do hespanhol<br />

(CONCLUSÃO)<br />

Antes que sua irmã tivesse tempo <strong>de</strong> fazer<br />

a menor observação, tinha posto o chalé<br />

e pegado na caixa <strong>de</strong> castão em que levava<br />

as flores.<br />

— Até já — exclamou da porta, lançando<br />

um beijo a sua irmã.—A<strong>de</strong>us sr. Henrique.<br />

E sahiu como se urgira muito o que tinha<br />

que fazer, <strong>de</strong>ixando juntos o typographo e<br />

sua irmã Sophia; aquelle muito mais tranquillo,<br />

como se a presença da joven o preturbára,<br />

e esta comprehen<strong>de</strong>ndo que se tratava<br />

d'alguma cousa grave, alguma cousa que po<strong>de</strong>ria<br />

ser a realisação d'um sonho ha muito<br />

tempo acariciado.<br />

— Menina Sophia... — disse o mancebo<br />

logo que se acharam sós.—Irei direito ao<br />

assumpto, pois não sei fazer ro<strong>de</strong>ios e o coracão<br />

apressa-se muitíssimo.<br />

* Sophia levantou a vista e os seus olhares<br />

encontraram-se. Amava-a; não o podia duvidar.<br />

Emquanto ella, também o não podia<br />

dissimullar: havia tanto tempo que o amava<br />

também.<br />

Já me conhece v. ex. a — proseguiu Henrique.—<br />

Não tenho fortuna, mas sim algumas<br />

economias, as bastantes para montar<br />

casa e para as primeiras necessida<strong>de</strong>s. Sou<br />

orphão como v. ex. a , mas sou trabalhador e<br />

não tenho vicios. Creio, embora, que po<strong>de</strong>rei<br />

ser um bom marido.<br />

— Um marido ? — perguntou Sophia.<br />

— Já v. ex. a vê se sim ou não tem a minha<br />

felicida<strong>de</strong> nas suas mãos. Ao ver a v. ex. as<br />

tão honradas e tão laboriosas senti por v. ex. as<br />

viva amiza<strong>de</strong>.<br />

Este sentimento <strong>de</strong>u a vez a outro, e, em-<br />

— Que <strong>de</strong>vo respon<strong>de</strong>r-lhe ?<br />

Como Maria, tremula, não respon<strong>de</strong>ra;<br />

perguntou-lhe :<br />

— Amal-o ?<br />

Maria lançou-se nos braços <strong>de</strong> sua irmã,<br />

e quasi ao ouvido murmurou-lhe:<br />

Sim ! Sim !... mamã.<br />

Sophia estremeceu ao ouvir-lhe chamar<br />

mamã. N'aquelle momento^ esse era o único,<br />

seu verda<strong>de</strong>iro nome: elie representava a sua<br />

missão na terra. O seu sonho pessoal havia-se<br />

<strong>de</strong>svanecido: só lhe restava já fazer<br />

felizes áquelles dois amantes.<br />

Quando chegada a noite, Henrique chamou<br />

á porta <strong>de</strong> casá, entrelaçou as mãos dos<br />

dois jovens, e murmurou <strong>de</strong>pois, olhando para<br />

o retrato :<br />

— Estás contente, minha Mãe ? Jurei substituir-te<br />

junto <strong>de</strong> tua filha mais nova... tenho<br />

sabido cumprir o meu juramento!<br />

G.<br />

Para amigos...<br />

Lá vão para o extrangeiro dois bemaventurados<br />

a quem o governo <strong>de</strong>u a gorgeta <strong>de</strong><br />

chorudas commissões: Para Marselha, partiu<br />

um, que ninguém sabe a que cascas<br />

d'alho; o outro vae assistir á impressão d'uma<br />

carta geographica que se está preparando<br />

em Paris!<br />

Lembra-nos que ha annos — na febre <strong>de</strong><br />

sustentar vadios no extrangeiro — se fez a<br />

nomeação d'um medico que foi a Paris estudar<br />

enca<strong>de</strong>rnação!<br />

Enca<strong>de</strong>rnados, ou melhor—empallados —<br />

precisa essa sucia!<br />

CARTA DO PORTO<br />

i <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> i8g5.<br />

fim, dicidi-me a dizer a v. ex. a a verda<strong>de</strong> inteira.<br />

Amo...<br />

— V. Ex. a ama?...<br />

Sophia <strong>de</strong>teve-se também perturbada e<br />

palpitante.<br />

— Amo Maria como um louco, e venho<br />

pedir a v. ex. a a sua mão.<br />

Sophia recuou vivamente, levando a mão<br />

ao coração como para impedir que saltasse<br />

em pedaços.<br />

— Maria! — murmurou d'um modo inconsciente<br />

?<br />

E teve que apoiar-se ás costas d'uma ca<strong>de</strong>ira,<br />

sentindo-se <strong>de</strong>sfallecer.<br />

— Sim continuou o amante sem dar<br />

conta <strong>de</strong> nada.—Já sei que Maria é mui joven,<br />

mas precisamente a sua juventu<strong>de</strong> e alegria<br />

é que mais me tem impressionado. Juro<br />

a v. ex. a que a farei ditosa, e que serei para<br />

v. ex. a um irmão cheio <strong>de</strong> abnegação.<br />

Mas Sophia não o escutava: sentia na alma<br />

um enorme vácuo, e em vão luctava por pôr<br />

em or<strong>de</strong>m as suas i<strong>de</strong>ias. Todos os seus sonhos<br />

<strong>de</strong> ventura se haviam <strong>de</strong>svanecido n'um<br />

instante!<br />

Por fim pô<strong>de</strong> fallar.<br />

— Será preciso consultar minha irmã.. <<br />

e fal-o-hei: volte v. ex. a esta noite.<br />

A pobre rapariga sentiu necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

ficar só.<br />

— Ah! menina, v. ex. a Não estou ainda completamente restabelecido.<br />

Mas esta inércia dos portuguezes<br />

em frente dos <strong>de</strong>cretos, que lhes cortam as<br />

garantias, faz vibrar os nervos dos mais pacíficos.<br />

Quem ha ahi d'entre os liberaes e republicanos,<br />

que possa ler sem pasmo a reforma<br />

da camara dos pares, subtraindo á soberania<br />

da nação o elemento electivo ?!<br />

Não são sufficientes os cem pares vitalícios<br />

nomeados pelo rei, cercêam-se ainda á<br />

soberania popular os cincoenta pares electivos.<br />

E isto ainda po<strong>de</strong>ria passar sem reparo<br />

: por que, afinal, todos são eleitos pela<br />

fórma que os governos querem: o peor é<br />

que d'ora ávante os ministros da constituição<br />

ficam com o direito <strong>de</strong> enviar ás camaras<br />

homens por si, munidos <strong>de</strong> palavriado, para<br />

entrarem na discussão dos projectos.<br />

E' o artigo 4.<br />

é tão boa, que me<br />

<strong>de</strong>ixaria matar por si.<br />

O quê!—disse a rapariga forçando-se<br />

por sorrir — não seria melhor meio <strong>de</strong> casar<br />

com Maria.<br />

Logo que ficou só, <strong>de</strong>ixou-se cahir n'uma<br />

ca<strong>de</strong>ira verda<strong>de</strong>iramente transtornada. Que<br />

cruelda<strong>de</strong> a <strong>de</strong> Henrique! Mas porque amára<br />

Maria e a ella não? Não era joven, não era<br />

formosa ainda? Porque ha <strong>de</strong> ser tão differente,<br />

o <strong>de</strong>stino das pessoas?...<br />

O seu pensamento <strong>de</strong>teve-se repentinamente.<br />

Seria possível que tivera ciúmes <strong>de</strong><br />

sua irmã? Não era natural que aquelles dois<br />

jovens se amassem?... porque, indubitavelmente,<br />

Maria <strong>de</strong>via amar também Henrique.<br />

E vendo-se n'um espelho, Sophia observou<br />

que a sua tez havia perdido a frescura,<br />

que o seu olhar era triste e profundo, que<br />

entre os negros cabellos que lhe cahiam sobre<br />

a fronte viam-se algumas cãs... Desviou<br />

os olhos do espelho e fixou-os no retrato <strong>de</strong><br />

sua Mãe; então cahiu <strong>de</strong> joelhos e com as<br />

mãos levantadas para ella, recordou-se instantaneamente<br />

da promessa feita á moribunda<br />

e tão heroicamente cumprida.<br />

I l l<br />

Sentiu ruidos <strong>de</strong> passos; era Maria que<br />

regressava. Então levantou-se doida, e, sentando-se<br />

na sua ca<strong>de</strong>irinha <strong>de</strong> costura, continuou<br />

o trabalho.<br />

A sua resolução estava tomada, encontrando<br />

até um goso infinito no sacrificio que<br />

ia realisar.<br />

— Sabes o que me disse Henrique? —<br />

perguntou a irmã.— Pois disse-me que te<br />

troava, pediu-me a tua mão.<br />

0 da reforma da camara dos<br />

pares, que acaba <strong>de</strong> implantar em Portugal<br />

esse lindo systema.<br />

Nem os <strong>de</strong>putados, nem os pares, nem os<br />

ministros são sufficientes para discutir as<br />

leis... as leis... que forem projectadas; precisam<br />

<strong>de</strong> dar homens por si! quem serão estes<br />

d'entre os funccionarios superiores ?!<br />

Maior concentração, centralisação, e realeza,<br />

já não pô<strong>de</strong> haver.<br />

Para que seriam as luctas, as conquistas<br />

liberaes, se os <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes dos conquistadores<br />

<strong>de</strong>stroem a ban<strong>de</strong>ira revolucionaria, que<br />

os guiou ao combate, e á victoria ?! que o<br />

diga o ecco das palavras <strong>de</strong> Passos Manoel,<br />

e <strong>de</strong> tantos outros, que luctaram em beneficio<br />

da patria.<br />

Agora no meio <strong>de</strong> tudo isto um silencio<br />

sepulchral, e um <strong>de</strong>svio uniforme para cousas<br />

que nada tem <strong>de</strong> util para o paiz. Muito<br />

palavriado, muitos artigos; e nada mais.<br />

Parece, que os portuguezes estão como<br />

os rifenhos, embrulhados nas longas saias ás<br />

portas da cida<strong>de</strong>, esperando que a provi<strong>de</strong>ncia<br />

lhes <strong>de</strong>pare melhor sorte.<br />

Bem fez o nosso Magalhães Lima em assistir<br />

ao congresso internacional da imprensa<br />

em Bordéus ; on<strong>de</strong> se discutiram as bases<br />

para que o jornalismo tenha por base o ensino<br />

profissional, e os conhecimentos <strong>de</strong> economia<br />

politica e social.<br />

Ahi se disse, que muitos jornalistas são<br />

d'uma ignorancia, e versatilida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> causar<br />

espanto : e que outros são apenas maitreschanteurs.<br />

Quando pois o jornalismo fôr o que <strong>de</strong>ve<br />

ser, e se <strong>de</strong>cidir a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a patria, o povo<br />

portugue\, com recta e sã consciência, nenhum<br />

ministro se atreverá a propôr um só<br />

<strong>de</strong>creto ao rei, um só projecto em cortes,<br />

que tenha por fim cercear as liberda<strong>de</strong>s, e<br />

fazer retrogradar o povo portuguez ao tempo<br />

do absolutismo, quando tem obrigação <strong>de</strong> o<br />

guiar no caminho do progresso e da conquista<br />

<strong>de</strong> novos horisontes da liberda<strong>de</strong>.<br />

— Como <strong>de</strong>vem saber falleceu o pae do<br />

nosso amigo, Xavier Esteves. Era um soldado<br />

fiel.<br />

Ao nosso amigo reiteramos sentidos pezames.<br />

LOPES DA GAMA»<br />

Correspondência balnear<br />

Espinho, 3o <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> i8g5.<br />

Na minha anterior correspondência, fatiando<br />

da recita promovida pelas senhoras<br />

em beneficio da Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Soccorros Mutuos<br />

d'esta agradavel praia, esqueceu-me dizer,<br />

que tinham sido o actor Simões, pae da<br />

insigne actriz Lucinda Simões e o sr. dr.<br />

Emygdio Garcia, os ensaiadores da pane<br />

dramatica do espectáculo, e que foi <strong>de</strong>vido<br />

aos seus esforços, intelligente direcção e<br />

muito boa vonta<strong>de</strong>, que os distinctos amadores<br />

alcançaram um tão notorio e brilhante<br />

triumpho.<br />

O actor Simões, um velho <strong>de</strong> setenta<br />

annos, com o vigor dos novos, então foi<br />

verda<strong>de</strong>iramente incansavel, pena foi que não<br />

po<strong>de</strong>sse assistir até ao dia da recita, pois<br />

teria uma estrepitosa ovação ao seu talento<br />

e aptidão scenica.<br />

As pessoas que entraram na recita e suas<br />

famílias, tencionam fazer um gran<strong>de</strong> pic-nic,<br />

para solemnisarem a festa <strong>de</strong> carida<strong>de</strong>, que<br />

ellas tão gentilmente realisaram animadas<br />

pela philantropia e amiza<strong>de</strong> aos <strong>de</strong>sprotegidos<br />

da fortuna.<br />

Ren<strong>de</strong>u approximadamente 40026000 réis,<br />

dos quaes em breve a direcção da Socieda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Soccorros Mutuos será embolsada, logo<br />

que se liqui<strong>de</strong>m e organisem as contas.<br />

•<br />

Têm retirado immensas famílias, em<br />

compensação têm chegado outras da província;<br />

como as vindimas estão quasi concluídas,<br />

a população dos campos vêm sempre<br />

n'esta epocha para a praia, epocha em que<br />

nós, os das cida<strong>de</strong>s regressamos ao seio das<br />

famílias, levando muitas vezes sauda<strong>de</strong>s d'uma<br />

cara bonita ou d'uns olhos seductores, que<br />

<strong>de</strong> vez em quando nos acco<strong>de</strong> á imaginação<br />

n'uma noite invernosa sentados á lareira ou<br />

á banca do estudo <strong>de</strong>ante d'uma sebenta <strong>de</strong><br />

respeito.<br />

Na Assemblêa dança-se muito menos; nos<br />

cafés nota-se menos animação, musica já não<br />

ha, o tercetto foi-se para o Porto, <strong>de</strong>ixando<br />

sauda<strong>de</strong>s a todos que apreciam musica quando<br />

bem executada; as roletas muito menos concorridas;<br />

diz-se por cá que ganharam bons<br />

contos <strong>de</strong> réis este anno; dos banhistas só<br />

meia dúzia se po<strong>de</strong>rão gabar <strong>de</strong> ter ganho,<br />

os outros per<strong>de</strong>ram sempre e muitas vezes<br />

mais do que podiam e <strong>de</strong>viam.<br />

Até á semana.<br />

GABIRU.<br />

A nossa riqueza<br />

Continuam a sair para o extrangeiro gran<strong>de</strong>s<br />

remessas d^iro, o que prova que a crise<br />

economica que tem estado latente vae augmentando.<br />

O nosso collega o Tempo, que com<br />

dupla razão não <strong>de</strong>ixa o lord Hintze, intrujão-mór<br />

das finanças, e que preten<strong>de</strong> mostrar<br />

ao paiz gran<strong>de</strong>s felicida<strong>de</strong>s, dá-lhe a nota do<br />

oiro saido ha dias <strong>de</strong> Lisboa:<br />

«Foram <strong>de</strong>spachadas na alfan<strong>de</strong>ga para seguir<br />

para Londres: no Thames, 1 caixa com 4:000<br />

libras sterlinas pelo sr. A. J. da Silva e i caixa<br />

com 1:860 libras pela Companhia <strong>de</strong> Estamparia<br />

em Alcantara, e 110 London i caixa com 215 libras<br />

sterlinas, 4:1041000 róis em ouro, moeda americana,<br />

5001000 réis em ouro, moeda hespanhola,<br />

260$000 réis em ouro, moeda argentina, 7o0$000<br />

réis em ouro, moeda allemã, 184H000 réis em<br />

ouro, moeda portugueza, e 260$000 réis <strong>de</strong> ouro<br />

em barra, pelo Credit Franc-Portugais.»<br />

Bem se vê que está passada a crise. Só<br />

<strong>de</strong> quem não tem vergonha.<br />

Uma festa que nos envergonha<br />

O povo portuguez continúa dando signaes<br />

<strong>de</strong> imbecilida<strong>de</strong>. Triste é confessal-o!<br />

No meio do maior enthusiasmo, ao som<br />

do hymno da Carta, aos vivas á liberda<strong>de</strong> e<br />

ao rei, alguns concelhos estão festejando<br />

estrondosamente, segundo dizem os jornaes,<br />

inclusive o Século, o seu engran<strong>de</strong>cimento<br />

territorial á custa da extorsão que se fez aos<br />

povos visinhos, a quem o arbítrio dos dictadores<br />

usurpou a autonomia e as suas tradições.<br />

Comquanto a terra on<strong>de</strong> nascemos nos<br />

mereça maior consi<strong>de</strong>ração e respeito que as<br />

outras, não <strong>de</strong>vemos comtudo vangloriarmonos<br />

do rebaixamento dos outros, quando foram<br />

injustamente expoliados.<br />

Dizemos estas palavras para que lhe aproveitem<br />

<strong>de</strong> futuro, e se emen<strong>de</strong>m, se ainda é<br />

tempo.<br />

Os povos como os indivíduos, nem <strong>de</strong>vem<br />

locupletar-se á jactura alheia, mais do que vergonhosa,<br />

in<strong>de</strong>cente.<br />

O extrangeiro já nos <strong>de</strong>ve consi<strong>de</strong>rar bem<br />

ordinários e imbecis.<br />

Não lhe <strong>de</strong>mos agora motivo <strong>de</strong> nos chamar<br />

pulhas sem critério nem vergonha.<br />

Como nos repugna dizer estas verda<strong>de</strong>s!<br />

A que estado chegámos!<br />

X X X V I I I<br />

E' o que vale ao paiz<br />

n'esta real rapioca<br />

não gastar uma <strong>de</strong> X —<br />

nosso rei — na paparóca.<br />

Os reis das outras nações<br />

dizem que vão <strong>de</strong>cretar<br />

muitas mais contribuições<br />

p'ra lhes darem <strong>de</strong> jantar!...<br />

Mesmo comendo <strong>de</strong> graça<br />

(tenho esta i<strong>de</strong>ia aziaga),<br />

préga o governo a pirraça<br />

e o Zé povinho é quem paga.<br />

'stou a vêr um bom empalmo,<br />

que <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> tantas fainas,<br />

paga com lingua <strong>de</strong> palmo<br />

o paiz — as comezainas!<br />

No percurso da viagem ao<br />

extrangeiro o sr. D. Carlos hospedar-se-ha<br />

nos palacios reaes<br />

<strong>de</strong> Italia, Allemanha, Inglaterra<br />

e Hespanha.<br />

EVa -Dique.<br />

Assumptos <strong>de</strong> interesse local<br />

Abertura «ia <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

Realisou-se, no dia primeiro, com as cerimonias<br />

e pragmaticas do velho ritual académico.<br />

Com a affirmação theologica da missa e<br />

da invocação do Divino Espirito Santo e<br />

com o, não menos theologico e retrogrado,<br />

juramento dos lentes, inaugurou os seus<br />

trabalhos o nosso primeiro estabelecimento<br />

scientifico.<br />

Latim e canto-chão, invocação do sobrenatural,<br />

prisão da consciência aos mysterios<br />

e dogmas da religião ofikial, obediencia passiva<br />

e fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> incondicional ás instituições<br />

vigentes e á or<strong>de</strong>m politica estabelecida,'são<br />

óptimas garantias, penhor seguro <strong>de</strong> progresso<br />

intellectual e aperfeiçoamento scientifico,<br />

para <strong>de</strong>vidamente orientar o professorado<br />

na direcção que <strong>de</strong>ve dar no seu ensino,<br />

para disciplinar mentalmente e educar<br />

a briosa mocida<strong>de</strong> académica, afim <strong>de</strong> que o<br />

seu estudo seja intellectualmente productivo,<br />

moral e socialmente proveitoso á Patria e á<br />

Humanida<strong>de</strong>.<br />

E' certo, porém, e d'isso po<strong>de</strong>mos estar<br />

seguros que tal solemnida<strong>de</strong> religiosa não<br />

passa d'uma velharia persistente, d'uma tradição<br />

medieval hoje sem valor, sem significação<br />

e até sem prestigio; e em quanto<br />

ao juramento, é, como o juramento da Carta<br />

pelo rei e pelos seus ministros, uma impertinente<br />

formalida<strong>de</strong> bureaucratica, tão ridícula<br />

como inútil.<br />

•<br />

A concorrência <strong>de</strong> lentes foi diminuta;<br />

a capella estava quasi <strong>de</strong>serta; não havia<br />

espectadores, já não ha curiosos.<br />

Raream os afficcionados d'estas festas e<br />

cerimonias, em que os papas e os reis envolveram,<br />

neutras eras, os estabelecimentos<br />

scientificos.<br />

Estudantes nem um só! A festa passou-se<br />

em família, com ausência <strong>de</strong> muitos dos seus<br />

membros, que se <strong>de</strong>ixaram ficar socegados<br />

no seio talvez d'outra família, que lhes <strong>de</strong>ve<br />

ser mais cara e agradavel, respirando os ares<br />

pátrios e vivificadores da sua terra natal, ou<br />

veraneando por essas praias para revigorar<br />

as forças quebrantadas pelo estudo, ou por<br />

essas estancias <strong>de</strong> aguas medicinaes para<br />

curar as dispepsias e outras enfermida<strong>de</strong>s<br />

adquiridas por muitos mezes <strong>de</strong> aturado esforço<br />

intellectual e vida se<strong>de</strong>ntaria, consagrada<br />

ao magistério.<br />

Além do sr. reitor, secretario, be<strong>de</strong>is,<br />

guarda-mór, archeiros e <strong>de</strong> menos, talvez, da<br />

terça parte do corpo docente, nem viva<br />

alma!<br />

Graças á caturrice do Conselho Superior<br />

<strong>de</strong> Instrucção Publica e á prosapia auctoritaria<br />

do sr. ministro do reino, que não quizeram<br />

auctorisar a mudança da festa para o<br />

dia 16, como era razoavel, economico e até<br />

politico; porque maior esplendor e força<br />

adquiriam com isso as instituições, que <strong>de</strong><br />

taes festas vivem, e d'ellas tiram a sua maior<br />

forca.<br />

»<br />

A cousa porém explica-se: o sr. ministro<br />

do reino não soffre do estomago, nem dos<br />

fígados, nem dos intestinos por efféito <strong>de</strong><br />

aturados esforços intellectuaes e fadigosos<br />

estudos; soffre dos queixos; não é dispeptico,<br />

é nervoso; não tem hemorrhoi<strong>de</strong>s nem<br />

hepatites, tem hysterimo chronico, com crises<br />

agudas perigosíssimas, com accessos terríveis,<br />

com monomanias estapafúrdias.<br />

Agora <strong>de</strong>u lhe para andar <strong>de</strong> ponta com<br />

a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito, na qual sua ex. a é<br />

bacharel, e do qual foi um musico, dizem<br />

- que não inteiramente <strong>de</strong>safinado.

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