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45-54 - Universidade de Coimbra

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à N N O 1.<br />

Defensor<br />

LIÇÃO S K V E R A<br />

Se o sr. D. Carlos não fosse o primeiro<br />

e mais elevado representante official do<br />

Paiz, se o sr. D. Carlos não occupasse na<br />

hierarchia politica <strong>de</strong> Portugal o primeiro<br />

e supremo grau, não nos importaríamos que<br />

o rei viajasse, nem nos daríamos ao enfado<br />

<strong>de</strong> faliar nas peripecias da sua <strong>de</strong>sastrada<br />

e infeliz digressão ás côrtes extrangeiras.<br />

O sr. D. Carlos, liem ou mal, com merecimentos<br />

ou sem elles, é, por graça <strong>de</strong><br />

Deus e direito hereditário, o supremo magistrado<br />

da Nação Portugueza, e, por isso,<br />

ainda os actos da sua vida particular vêm<br />

refleelir-se na vida politica e moral da<br />

nação, na qual sua magesta<strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenha<br />

o principal papel e exerce as funcções <strong>de</strong><br />

chefe supremo.<br />

Deviam, pois, os ministros, conselheiros<br />

natos da corêa, guardas fieis e vigilantes<br />

da dignida<strong>de</strong> e da honra nacional, não<br />

ce<strong>de</strong>r aos caprichos do seu amo e senhor;<br />

e, quando fossem elles os auclores da lembrança<br />

e resolução da tal viajata, prever e<br />

acautelar o chefe politico do Estado <strong>de</strong><br />

quaesquer occorrencias <strong>de</strong>sagradaveis e offensivas<br />

da sua respeitabilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>coro,<br />

e, que é mais grave pondonoroso, da honra<br />

e dignida<strong>de</strong> da Nação.<br />

Não succe<strong>de</strong>u porem assim. Ou fosse<br />

subserviência aos <strong>de</strong>sejos inconsi<strong>de</strong>rados do<br />

monarcha, ou fosse por levianda<strong>de</strong> e irreflexãc,<br />

ou ainda por calculado expediente<br />

<strong>de</strong> astuciosa e traiçoeira politica, os ministros,<br />

sem pensar nas consequências, sem<br />

prever os resultados <strong>de</strong> mais uma aventura<br />

palaciana, vergonhosa para o respeito e<br />

prestigio das instituições e seriamente compromeltedora<br />

e <strong>de</strong>sastrada para o credito e<br />

brios do Povo Portuguez, <strong>de</strong>ixaram ir o rei<br />

ao exlrangeiro com todas as formalida<strong>de</strong>s<br />

e pragmalicas da sua elevada posição social,<br />

ro<strong>de</strong>ado <strong>de</strong> apparalo e da ostentação<br />

prop via do seu alto cargo e representação<br />

politica, expondo-o a <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rações e<br />

insu los, que.a não ser el-rei inconsciente<br />

ou alheio a sentimentos <strong>de</strong> vergonha e<br />

pondonor, o <strong>de</strong>vem ler profundamente magoado,<br />

dando occasião e pretexto para ser<br />

na pessoa d'el-rei <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rada e insultada<br />

a Nação Portugueza, que nenhuma<br />

culpa tem e, por isso, em nenhuma responsabilida<strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong> incorrer pelos caprichos<br />

do rei, pelas levianda<strong>de</strong>s e imprevi<strong>de</strong>ncias<br />

dos seus ministros.<br />

Entre as <strong>de</strong>monstrações <strong>de</strong> <strong>de</strong>sagrado,<br />

que tem sido muitas e punjenles, dadas ao<br />

rei <strong>de</strong> Portugal durante a sua viagem em<br />

côrtes extrangeiras, avulta uma que o <strong>de</strong>ve<br />

ler <strong>de</strong>véras impressionado pela sua moralisadora<br />

significação; — lição severa, merecido<br />

e juslo correctivo para um rei constitucional,<br />

que tem arbitrariamente calcado a<br />

Constituição, cassada, por actos revoltantes<br />

<strong>de</strong> uma insolente dicladura, as liberda<strong>de</strong>s<br />

populares e municipaes, zombado dos direitos<br />

individuaes dos cidadãos portuguezes,<br />

preterido, cynica e arrogantemente, as<br />

mais usuaes e indispensáveis formulas do<br />

syslema liberal representativo, faltando aos<br />

seus juramentos, e contribuído, directa e<br />

po<strong>de</strong>rosamente, para o rebaixamento politico<br />

e moral da Nação, a que presi<strong>de</strong>, para<br />

a miséria economica e para a ruína total<br />

<strong>de</strong> um Estado, que o tem por chefe, <strong>de</strong><br />

um Povo que anda cançaílo <strong>de</strong> trabalhar<br />

para o manter e á sua família, cançado <strong>de</strong><br />

pedir justiça e moralida<strong>de</strong> aos po<strong>de</strong>res públicos,<br />

que só lhe respon<strong>de</strong>m com prepotências<br />

e cada vez maiores vexames, que<br />

longe <strong>de</strong>oatten<strong>de</strong>r em suas queixas e representações,<br />

cada vez mais o opprimem, e<br />

insultam.<br />

—Em Iodas as festas e recepções ofjiciaes,<br />

que em honra do rei <strong>de</strong> Portugal se<br />

fizeram e com pompa celebraram na gran<strong>de</strong><br />

capital da França, os presi<strong>de</strong>ntes das duas<br />

casas do Parlamento abstiveram-.se <strong>de</strong> comparecer.<br />

Nem o presi<strong>de</strong>nte do senado, nem o<br />

presi<strong>de</strong>nte da camara dos <strong>de</strong>putados da<br />

Republica Franceza, compareceram ás festas<br />

e recepções celebradas em honra e homenagem<br />

do Rei <strong>de</strong> Portugal.<br />

Ninguém alli os vio; ninguém lá os enxergou.<br />

A sua falta, a sua ausência nas festas por<br />

certo não foi casual; nem incommodos <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> ou affazeres estorvaram os illuslres<br />

presi<strong>de</strong>ntes do Parlamenlo Francez <strong>de</strong> ir<br />

cumprimentar e prestar as <strong>de</strong>monstrações do<br />

seu respeito, ao menos por <strong>de</strong>licada corlezia,<br />

em cujos requintes ninguém por esse nf.ndo<br />

exce<strong>de</strong>, nem sequer eguala o Povo Francez,<br />

ao rei <strong>de</strong> Portugal.<br />

Quizeram, com a sua abstenção e ausência,<br />

os Presi<strong>de</strong>ntes do parlamento Francez,<br />

dar uma severa lição a esse chefe <strong>de</strong><br />

um Estado Constitucional, que menospreza<br />

e suspen<strong>de</strong> arbitrariamente a constituição,<br />

ao supremo funcciqnario publico <strong>de</strong> um Paiz,<br />

que se rege pelo syslema liberal representativo,<br />

mas que dissolve o Parlamento, annulla<br />

a Representação Nacional para com os seus<br />

ministros governar, vae para dois annos,<br />

em completa e <strong>de</strong>senfreada dicladura reaccionaria.<br />

Severa e bem merecida lição, que muito<br />

po<strong>de</strong>ria e <strong>de</strong>veria aproveitar a um rei e seus<br />

ministros, que, por indole e por habito, não<br />

fossem incorrigíveis.<br />

Infame comedia<br />

O ministério reúne para pôr á escolha o<br />

nome dos <strong>de</strong>putados e no ultimo conselho <strong>de</strong><br />

ministros, se bem que a lista não estava<br />

completa, dizem que muitos nomes foram ao<br />

conselho e que agradaram geralmente.<br />

Não fica por aqui o <strong>de</strong>scaro, porque os<br />

jornaes do governo fazem d'estas apreciações:<br />

*Parece-nos ser acertada a escolha d'este<br />

cavalheiro para representante da nação em<br />

côr l es.»<br />

Escolhidos a <strong>de</strong>do e approvados em publico!<br />

Nada admira, sendo governo a crapula <strong>de</strong><br />

homens que ahi estão prostituídos, a affrontarem<br />

tudo que é santo, tendo por mentor<br />

o odiento Jcão Franco, mais cynico que Judas,<br />

mais tratante e mais perverso que o foi<br />

Lopo Vaz, <strong>de</strong> execranda memoria.<br />

E será isto a camara popular, como lhe<br />

chamam...<br />

Um escarro saido <strong>de</strong> boccas pútridas e<br />

consciências prevertidas é que é. Nada se lhe<br />

pô<strong>de</strong> confrontar.<br />

As camaras que vão reunir-se — essas! —<br />

são a ultima expressão da escoria politica!<br />

Um prostíbulo!<br />

A tramóia do Nyassa<br />

Ainda estrebucha no lamaçal esta arriosca,<br />

d^n<strong>de</strong> sairam ladrões muitos conselheiros e<br />

titulares, altos trumphos da politica, que levam<br />

a vida em assaltos aos cofres públicos<br />

e ás companhias e bancos <strong>de</strong> credito.<br />

A caminho da Africa seguiu viagem um<br />

official superior do exercito, que pedira licença<br />

íllimitada, afim <strong>de</strong> ir exercer um logar <strong>de</strong><br />

commissão, representando um dos grupos do<br />

Nyassa, que andam em gambernas.<br />

Ao official <strong>de</strong>u-se intimação para regressar<br />

ao reino, ou estabelecer resi<strong>de</strong>ncia no paiz<br />

estrangeiro, como consta da licença.<br />

E o Moncada, aquelle rico <strong>de</strong>legado, virgem<br />

e martyr, a <strong>de</strong>ixal-os á solta.<br />

O Mineiro, no Limoeiro, já lhe per<strong>de</strong>u<br />

a esperança.<br />

Povo<br />

COIMBRA —Domingo, 3 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1895<br />

AS ELEIÇÕES POR DM OCULO<br />

Andam preoccupados os ministros com<br />

as próximas eleições. João Franco, como<br />

cabeça dirigente do ministério, celebra conferencias<br />

com os magnates regeneradores<br />

mais em evi<strong>de</strong>ncia; e diz-se, com quanto não<br />

seja ainda certo, ter organisada a lista dos<br />

<strong>de</strong>putados, que ha <strong>de</strong> levar á camara no meio<br />

da maior indifferença do povo, que não quer<br />

saber <strong>de</strong> eleições para nada.<br />

Diz o governo que a futura camara ha <strong>de</strong><br />

ser uma camara á inglesa; nem as camaras<br />

á francesa lhe servem já! Ora o que nos<br />

espanta é que o governo saiba <strong>de</strong> antemão o<br />

que ha <strong>de</strong> ser o parlamento. Se elle ha<strong>de</strong> sahir,<br />

no dizer da Tar<strong>de</strong>, orgão officioso do governo,<br />

muito superior ás memoráveis côrtes <strong>de</strong> 1820,<br />

como é que o povo, o qual se levantou em<br />

massa ao verbo elequente dos patriotas Fernan<strong>de</strong>s<br />

Thomaz e outros, nesse tempo <strong>de</strong> dignida<strong>de</strong><br />

e coragem nacional, não se entremette<br />

agora nessa lucta ridícula, que os governantes<br />

preparam para breve, e para o qual<br />

nem ao menos um homem <strong>de</strong> reconhecida<br />

capacida<strong>de</strong> e honra<strong>de</strong>z presta o seu nome<br />

a figurar nas listas, que hão <strong>de</strong> cahir nas<br />

urnas, não das mãos do povo que as sujaria,<br />

mas das mãos dos amigos das instituições,<br />

que nos arruinaram, e dos auxiliares dos senhores<br />

ministros, que nos compromettem o<br />

futuro, e nos <strong>de</strong>sgraçam ao presente.<br />

Decididamente, <strong>de</strong> duas uma: — ou o<br />

povo comprehen<strong>de</strong>u os seus <strong>de</strong>veres, e o seu<br />

silencio é precursor dWia <strong>de</strong>sforra, que nos<br />

rehabilite perante as outras nações, e afiaste<br />

para longe os escuros nevoeiros que parece<br />

quererem envolverem a nossa nacionalida<strong>de</strong> ;<br />

ou então é a cobardia que se apossou dos espíritos,<br />

é a criminosa paz pôdre em que nos<br />

<strong>de</strong>ixamos precipitar, quebrantados por tanto<br />

esforço inútil e esmagados por tantas violências<br />

consecutivas, e vinganças da força contra<br />

o direito.<br />

O governo, que na sua lei eleitoral tantos<br />

rancores mostrou contra os médicos e advogados,<br />

e quiz, para ver se illudia os espíritos,<br />

promover a representação das classes, está-<br />

Ihe soffrendo as consequências.<br />

Nas classes agrícola, commercial e industrial,<br />

que representam as forças vivas e productoras<br />

da nação, e podiam prestar ao governo<br />

o <strong>de</strong>sejado numero <strong>de</strong> <strong>de</strong>putados, que<br />

elle precisa necessariamente fazer eleger para<br />

cumprir o encargo que impru<strong>de</strong>ntemente lançou<br />

sobre os seus <strong>de</strong>slocados hombros, reina<br />

a maior <strong>de</strong>sconfiança contra o governo, que<br />

com as suas estúpidas reformas os prejudicou<br />

nos seus interesses; o odto á politica é<br />

geral, porque a consi<strong>de</strong>ram já o mal <strong>de</strong> que<br />

enfermou o paiz, o primeiro mal a <strong>de</strong>struir,<br />

<strong>de</strong>vendo merecer o <strong>de</strong>sprezo <strong>de</strong> todos quantos<br />

amem a patria e <strong>de</strong>sejem o seu levantamento,<br />

tanto moral, porque é sobre este<br />

ponto <strong>de</strong> vista que ella mais a tem prejudicado,<br />

como sobre o ponto <strong>de</strong> vista economico,<br />

financeiro e administrativo, porque só tem<br />

ella servido para enriquecer muitos que infamemente<br />

a exploraram em seu proveito, sem<br />

que os tribunaes lhes pedissem contas, ou as<br />

ca<strong>de</strong>ias se abrissem para as receber e castigar<br />

como <strong>de</strong>viam.<br />

Dizem os affectos ao governo que o advogado<br />

e o medico não <strong>de</strong>vem largar as suas<br />

profissões para se intrometterem nas pugnas<br />

parlamentares, e figurarem na politica activa.<br />

Confun<strong>de</strong>m advogados com bacharéis, consi<strong>de</strong>ram<br />

a candidatura <strong>de</strong> bacharel como diploma<br />

<strong>de</strong> brilho d família e como satisfação<br />

<strong>de</strong> vaida<strong>de</strong> paternal! I<br />

Talvez que se enganem os governantes<br />

nesta classificação; porque em geral os bacharéis<br />

e outros, que o não são, vêm á camara<br />

menos para dar brilho á família do que<br />

para entrar na politica, mina inexgotavel <strong>de</strong><br />

fama e proventos para a numerosa cohorte<br />

regeneradora, amparada nas graças e predilecção<br />

<strong>de</strong> sua magesta<strong>de</strong> o rei D. Carlos 1.<br />

De commerciantes e industriaes quer o<br />

governo formar a maioria do futuro parlamento;<br />

e, se elle po<strong>de</strong>sse fazer com que a representação<br />

das classes fosse levada a effeito,<br />

teria os nossos louvores, porque é uma das<br />

reformas que os <strong>de</strong>mocratas perfilham.<br />

Que po<strong>de</strong> valer, para representar a nação<br />

meia dúzia <strong>de</strong> sujeitos que se digam commerciantes<br />

ou industriaes, eivados dos mesmos<br />

vicios, e para os quaes o logar <strong>de</strong> <strong>de</strong>putado seja<br />

unicamente a satisfação d'uma vaida<strong>de</strong> balofa<br />

ou garantia d'uma especulação sórdida ?<br />

E' verda<strong>de</strong> que os advogados passam<br />

muitas vezes por palavrosos e sem auctorida<strong>de</strong>,<br />

a não ser na rabulice; mas nós, que<br />

nos interessamos sinceramente pelo bem do<br />

nosso paiz, antes nos queremos com elles do<br />

que com esses commerciantes e industriaes, nomeados<br />

pelo governo <strong>de</strong>putados para lhes fazer<br />

vomitar algumas palavras, no palacio <strong>de</strong><br />

S. Bento, em que sobresahirão por certo pela<br />

subserviente acquiescencia governamental.<br />

Contra os médicos também ha rancor na<br />

reforma; e com razão: parece-nos que o exercido<br />

da profissão medica é prejudicial ao<br />

paiz que elles querem <strong>de</strong>ixar morrer sem auxilio,<br />

dando assim razão áquelle sábio rei que<br />

prohibiu esta profissão humanitaria.<br />

São uns alhos estes <strong>de</strong>fensores do throno<br />

e da corrupção; honra lhes seja, que o porveito<br />

não ha <strong>de</strong> ser gran<strong>de</strong>.<br />

•••<br />

A viagem real<br />

Opinião d'um correspon<strong>de</strong>nte para o El<br />

Liberal: — «O rei <strong>de</strong> Portugal é d'uma solemnida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>corativa. Não di\ nada! Tudo o<br />

que tem a di\er, fa-lo com meneios da cabeça.<br />

Está divertindo — a viagem. O governo<br />

<strong>de</strong>ve estar lisonjeadissimo !...<br />

^ e l o - m r l n i i - o<br />

XXIII<br />

HORROR!<br />

O furor monarchico em Hespanha sacrificou<br />

ha pouco em Cuba quarenta e duas<br />

creanças!<br />

Oito dos adolescentes cairam na esplanada<br />

do Campo <strong>de</strong> la Punta; trinta e quatro<br />

arrastam ainda hoje em S. Lazaro os ferros<br />

<strong>de</strong>gradantes <strong>de</strong> forçados !<br />

Foi-lhes corpo <strong>de</strong> <strong>de</strong>licto o crime <strong>de</strong> <strong>de</strong>molição<br />

do tumulo <strong>de</strong> Castanõn.<br />

Mas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> assassinados os oito estudantes,<br />

e <strong>de</strong> infamados os trinta e quatro no<br />

aviltamento opprobrioso da grilheta, sabe-se<br />

que nem <strong>de</strong> leve foi perturbado o <strong>de</strong>scanço<br />

sepulchral <strong>de</strong> Castanõn, que o tumulo está<br />

intacto, e que dos oito mancebos assassinados<br />

em nome da revoltante arbitrarieda<strong>de</strong><br />

que os con<strong>de</strong>mnou á morte; um dos jovens,<br />

Verdugo, nem se achava na localida<strong>de</strong> em<br />

que se disse ter tido logar a supposta <strong>de</strong>molição,<br />

porque estava em Matanzas.<br />

Hero<strong>de</strong>s foi um monstro, <strong>de</strong>cretando a<br />

<strong>de</strong>golação dos innocentes; mas a monstruosida<strong>de</strong><br />

do seu crime comprehen<strong>de</strong>-se, embora<br />

horrorise, no interesse satanico que elle tinha<br />

em annullar o prophetisado rei dos ju<strong>de</strong>us !<br />

Mas os mo<strong>de</strong>rnos Hero<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Hespanha,<br />

que lucraram, que ganharam, que venceram,<br />

no fuzilamento dos innocentes cubanos, a<br />

quem julgaram e con<strong>de</strong>mnaram atribiliariamente,<br />

por um crime que não haviam commettido<br />

?<br />

Causa horror este cynismo cruel das monarchias,<br />

que espargem o sangue do povo,<br />

só por satisfação do instincto feroz d'essa<br />

raça selvagem, que parece nada ter <strong>de</strong> commum<br />

com a especie humana — os reis!<br />

Morreram oito creanças innocentes, rebentam<br />

<strong>de</strong> fadiga trinta e quatro, sob a acção<br />

pesada dos duros trabalhos dos forçados é o<br />

rei <strong>de</strong> Hespanha dorme <strong>de</strong>scançado no seu<br />

leito <strong>de</strong> rosas, erguido sobre o ataú<strong>de</strong> sinistro<br />

do general D. Juan Prim!<br />

Setenta <strong>de</strong>putados do Congresso hespanhol<br />

pediram já o «indulto» dos trinta e quatro<br />

innocentes; mas a injustiça monarchica<br />

ainda nem ao menos reparou a sua ferocida<strong>de</strong>,<br />

entregando ás familias dos con<strong>de</strong>mnados<br />

os cadaveres dos mortos, e os corpos<br />

quasi muribundos dos que arrastam injustamente<br />

nas galés as grilhetas <strong>de</strong> forçados!<br />

Oh! como as monarchias são oppressoras<br />

e ferozes !<br />

E quando ellas caem sob a acção <strong>de</strong>svairada<br />

do povo vencedor, qudxam-se então da<br />

injustiça popuiar, da cruelda<strong>de</strong> das multidões,<br />

da seivajeria das turbas.<br />

«Chacun á son tour.»<br />

Quem semeia ventos, colhe tempesta<strong>de</strong>s.<br />

Lamentamos todos os excessos populares;<br />

mas lamentamos ainda mais a ferocida<strong>de</strong><br />

dos reis, que assassinando os povos, os provocam<br />

á represalia nos dias em que elles ditam<br />

as leis, e esmagam a seus pés os reis<br />

e os déspotas!

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